Arquivos Entrevistas - Página 15 de 28 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

"Não se pode deixar o Brasil sangrando com a inflação e o preço do combustível"

E ram mais de 19h, de uma sexta-feira, quando a reportagem da Algomais entrevistava o secretário da Fazenda do Estado Décio Padilha. Tem sido difícil achar um horário na sua agenda. Mas, tanto trabalho tem surtido bons resultados, como o fato de Pernambuco fechar 2021 com superávit de R$ 2 bilhões de resultado orçamentário e recuperar a capacidade de crédito, garantindo recursos para a retomada econômica. Ele também tem sido atuante na busca de soluções de abrangência nacional, que afetam os cofres públicos estaduais, como os constantes aumentos dos preços dos combustíveis e a reforma tributária. Atuação que pode levá-lo à presidência do Comsefaz (Comitê Nacional de Secretarias de Fazenda). Nesta entrevista a Cláudia Santos, Padilha detalha sua política fiscal exitosa, os desafios provocados pela pandemia e a situação macroeconômica do País. Ele também explica por que o ICMS não é o vilão dos aumentos dos combustíveis, como argumentam setores do Governo Federal. Pernambuco encerrou 2021 com equilíbrio entre receitas e despesas chegando ao menor endividamento dos últimos 30 anos. Como esse resultado foi possível? No início da gestão, em 2019, foi feito um diagnóstico da necessidade de se fazer um ajuste fiscal severo em virtude do ambiente macroeconômico que se avizinhava. Fizemos um corte de despesas de custeio da máquina entre 2019 e 2021 de R$ 1,4 bilhão. Fizemos uma revisão no programa de benefício fiscal que deu um ganho de 10% nas receitas. Implementamos programas de recuperação de crédito, dando oportunidade aos contribuintes de ficarem adimplentes. Com tudo isso, tivemos um crescimento de arrecadação em 2021 de 22% do ICMS, o que representa R$ 21,6 bilhões. Em 2019, apresentamos um plano para atingir a melhoria do rating fiscal do Estado, que era Capag (Capacidade de Pagamento) C e nossa meta era virar Capag B. Capag é a classificação de risco dos estados feita pelo Tesouro Nacional. Na medida em que o Estado melhora seu rating, por meio de equilíbrio fiscal, ele fica com o risco melhor para o mercado e volta a fazer operação de crédito. Nós chegamos à Capag B, depois desse esforço de cortar despesa, melhorar a receita e reorganizar toda a máquina pública. Foi um plano que demorou mais de dois anos e meio para atingir a meta e para alcançá-la trouxemos inovações na administração pública. Por exemplo, toda licitação de obra, licitação de contrato terceirizado, contratos, aditivos de contrato, passaram pela Câmara de Programação Financeira que verifica se há recurso para autorizar novas despesas ou até para expandir gasto. Foi a grande inovação que ajudou a atingir equilíbrio fiscal. Com isso, conseguimos melhorar de forma significativa o índice de endividamento do Estado, que é o menor dos últimos 30 anos. Esse índice é previsto pela lei de responsabilidade fiscal e estabelece que o Estado não pode se endividar mais do que 200% da sua receita corrente líquida. Como o dólar e a inflação impactam as finanças do Estado? Quando a inflação permanece alta por mais de seis meses, a população começa a consumir menos. Para os estados, isso é um fator decisivo na arrecadação do seu principal tributo porque o ICMS é 70%, em média, de toda a receita disponível. É um tributo cuja natureza é de consumo, depende das transações comerciais de produzir, distribuir, vender, ou seja, as cadeias de indústria, de atacado, de distribuição e de varejo. O ICMS incide em tudo, no relógio, na roupa, na ligação telefônica, no consumo de energia e de combustível. Se a inflação estiver elevada por muito tempo, como foi o caso em 2021 — e começamos 2022 com inflação alta e retração de consumo — isso se reflete nos registros de notas fiscais de entrada no Estado com uma menor circulação em todo o Brasil. O dólar alto também afeta muito, porque 51% do endividamento de Pernambuco e de outros Estados do Norte e Nordeste é em dólar, por causa dos empréstimos realizados junto aos bancos de fomento internacionais como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) e o Banco Mundial. Existe um efeito nefasto do dólar alto para a economia e, principalmente, para o pobre que é a inflação proveniente do maior problema emergencial que o Brasil tem hoje que é a questão dos combustíveis. Além da commodity, isto é o aumento do preço do diesel, gás de cozinha e da gasolina, o frete também fica mais elevado, porque 81% das cargas no País são transportadas por rodovias e os caminhões rodam com diesel. Mal começou o ano, a Petrobras aumentou em 8% o diesel, percentual maior que o IPCA previsto para 2022, que é de 5,44%. A Petrobras, há três anos, implantou a nova política de preço chamada PPI (Programa de Paridade de Importação) que é atrelada ao dólar e à cotação internacional do barril de petróleo bruto (Brent). A Petrobras importa 40% do petróleo e produz no Brasil 60%, mas o preço é 100% atrelado ao dólar. Quando o dólar aumenta, aumentam também o diesel e a gasolina, consequentemente, temos inflação. Como o senhor encara os argumentos de que os Estados teriam responsabilidade nesta situação em razão da tributação do ICMS? Essa questão tomou conotação política, o debate não é técnico, há muita desinformação. Num debate que nós, do Comsefaz (Comitê Nacional de Secretarias de Fazenda), tivemos com os governadores, eles nos orientaram a fazer um gesto para trazer a Petrobras para sentar à mesa, não só com o fórum de governadores e secretários, mas também com o Congresso Nacional e o Ministério da Economia. O objetivo seria encontrar democraticamente uma solução e não deixar o País sangrando como está. O único gesto que nos caberia foi o congelamento do PMPF, que é o preço médio ponderado de referência nas bombas. Ele é criado a partir de uma pesquisa feita a cada 15 dias pela ANP (Agência Nacional do Petróleo) e é a base de preços praticados para a cobrança do ICMS, porque a alíquota do tributo é a mesma há muitos anos. Por meio de um convênio aprovado no Confaz (Conselho

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"O consulado quer contribuir para as relações econômicas entre Japão e Pernambuco"

Quando Hiroaki Sano assumiu o consulado-geral do Japão no Recife, em 21 de agosto de 2020, teve que se adaptar à realidade pernambucana em plena pandemia, quando ainda vigoravam medidas restritivas mais rigorosas que as atuais. A crise da Covid-19 ainda o impede de promover algumas ações no trabalho mas, apesar disso, o cônsul-geral está cheio de planos. Seu foco principal tem sido estabelecer intercâmbios entre empresas japonesas e Pernambuco e os demais estados nordestinos. Nessa entrevista a Cláudia Santos, Hiroaki Sano afirma que elas têm interesse no Complexo de Suape, no Porto Digital e numa política de estabelecer aqui um cluster da cadeia de componentes automotivos. Também está nos planos do cônsul-geral divulgar a produção cultural contemporânea do Japão, aumentar o intercâmbio entre jovens japoneses e pernambucanos e contribuir com o Recife na prevenção dos deslizamentos de terra nos morros da cidade durante as chuvas. O Japão é país que sofre muito com desastres naturais e desenvolveu uma expertise na prevenção desses riscos. Quais são seus planos à frente do Consulado-Geral do Japão? O Consulado-Geral do Japão no Recife começou a funcionar em 1962, depois, nós o rebaixamos de consulado-geral para escritório, porque tivemos alguns problemas financeiros. Nós reabrimos o consulado-geral em 2018, porque queríamos fortalecer mais as relações especialmente econômicas entre Japão e Pernambuco e também com o Nordeste em geral, em razão da potencialidade econômica da região. Calculamos que mais de 220 mil nipo-brasileiros residam no Nordeste. Nós atuamos em sete estados, abarcando a região do Ceará à Bahia, onde moram 180 mil nipo-brasileiros. Este número é maior que a quantidade de nipo-brasileiros residentes no Paraná que tem uma representatividade grande no Brasil, depois de São Paulo. Por isso, queremos também promover mais intercâmbios pessoais entre o Japão e Pernambuco e os demais Estados do Nordeste. Que tipo de relação econômica com Pernambuco e o Nordeste interessaria ao Japão? O consulado gostaria de promover relações econômicas e comerciais entre Japão e Pernambuco. O governo japonês não poderia especificar qual seria a área de interesse, isso depende das empresas japonesas. Portanto, se as empresas japonesas quiserem fazer algum tipo de negócios aqui, nós gostaríamos de oferecer algum apoio. A Yazaki abriu uma fábrica em Bonito, a Musashi está instalada também aqui, e ambas produzem componentes automotivos. As empresas japonesas têm muito interesse na política do Governo do Estado para concentrar as fábricas de peças automotivas em Pernambuco. Isso atrairia muito as empresas japonesas desse setor porque Pernambuco já possui um bom esquema de fabricação de veículos. A Yazaki afirmou que os trabalhadores pernambucanos em Bonito têm capacitação e nível de educação, por isso, escolheu a cidade para implantar a fábrica. Algumas empresas japonesas disseram ter interesse no Porto de Suape. A Toyota, por exemplo, utiliza o porto para transportar os automóveis fabricados em São Paulo, que são descarregados aqui e distribuídos para o Nordeste. O mercado de Pernambuco e do Nordeste está crescendo muito rapidamente, neste sentido, a função do Porto de Suape é muito importante. Em 2011, 370 empresas japonesas tinham escritório ou fábrica no Brasil, mas a maioria se concentrava em São Paulo. Em 2021 esse número subiu para 650, quase duplicou durante 10 anos mas, ainda, a maior parte está em São Paulo. Não há muito conhecimento e informação sobre o Nordeste, apesar de a região apresentar muitas possibilidades. Por isso, o consulado gostaria de fazer algum tipo de intermediação entre empresas japonesas e empresas e/ ou agências governamentais de Pernambuco para fazer um encontro de negócios, juntamente com a Câmara de Comércio Japonesa, que fica sediada em São Paulo. Já existe de algo mais concreto neste sentido? Antes da pandemia, estávamos planejando uma visita de membros da Câmara de Comércio para o Porto de Pecém, no Ceará, e realizar este tipo de visita em Pernambuco também. Ou convidar pessoas do Governo do Estado para ir a São Paulo para terem encontros e explicar as possibilidades de Pernambuco. Eu gostaria de organizar esse tipo de evento mas, infelizmente, por causa da pandemia, tornou-se muito difícil porém estamos pensando nesse tipo de atividade. Uma empresa japonesa entrou em contato com outro estado, o Rio Grande do Norte, interessada na área de energia eólica. Com certeza, temos que pensar num equilíbrio entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental. O Japão precisa atuar mais nesse setor em Pernambuco também e penso na possibilidade de empresas japonesas e brasileiras atuarem juntas na área de energia renovável. Os governos do Japão e do Brasil têm conversado sobre o 5G. Essa área de TI também é muito importante e o Porto Digital tem atraído o interesse de empresas japonesas. Leia a entrevista completa na edição 191.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"Assim como o tráfico de drogas, o cibercrime virou um negócio ilegal muito profissional e estruturado".

Se algum empresário ou executivo ainda não priorizou a cibersegurança na sua empresa, é bom abrir o olho. Os cibercrimes têm se tornado cada vez mais frequentes e sua execução hoje em dia é muito sofisticada. Nada de adolescentes hackers fraudando computadores, mas verdadeiras quadrilhas, com integrantes que são profissionais especializados em diferentes tipos de fraudes, grande parte deles agindo no exterior. Muitos ataques digitais têm o poder de parar o sistema das organizações, que ficam dias sem faturar, vender e ligar os computadores. Para falar sobre esse cenário de riscos cibernéticos, Cláudia Santos conversou com Cristiano Lincoln Mattos, CEO da Tempest, uma das maiores empresas do Porto Digital, especializada em cibersegurança. A Tempest apresentou um crescimento de 40% no ano passado e possui na carteira de clientes grandes players dos setores financeiro, e-commerce, saúde, serviços e telecom. Esse desempenho, segundo Lincoln, é um reflexo do movimento das empresas que começam a se preocupar com a prevenção dos cibercrimes. “A cibersegurança, que era um assunto técnico, tem virado um tema de negócios”, constata o empresário, que explica nesta entrevista os principais tipos de crime, o impacto da Lei Geral de Proteção de Dados e analisa o megavazamento de dados de milhões de brasileiros, além do ciberataque ao Ministério da Saúde. Pesquisa da PWC, com 4.400 CEOs em todo o mundo, mostrou que para 50% deles os riscos cibernéticos estão entre as principais ameaças ao crescimento da empresa. Qual o motivo dessa preocupação? Essa pesquisa é interessante porque mostra que o assunto entrou na pauta dos CEOs, dos conselhos de administração etc. A cibersegurança, que era um assunto técnico, tem virado um tema de negócios, as pessoas estão procurando entender qual o impacto disso na estratégia das empresas. A pesquisa mostra como o mercado vem reconhecendo e dando importância ao tema. Por que isso acontece? O primeiro fundamento tem a ver com a digitalização da economia. Nos últimos cinco ou seis, especialmente nos últimos dois anos da pandemia, todos os negócios estão virando ou já viraram digitais. Quem não vendia online na pandemia passou a vender, quem não tinha trabalho remoto na pandemia passou a ter. Todos os negócios, em maior ou menor grau, estão passando por uma transformação digital, não só ao usar tecnologia dentro da empresa, mas também para vender para seus clientes, para ter uma relação com eles, para prover algum serviço. Todo esse ambiente também puxa problemas de segurança. São ameaças que podem ser vazamentos de dados, fraudes, ataques de extorsão, os chamados ransomware em que a empresa inteira para de funcionar a não ser que se pague o resgate. Quais são os principais cibercrimes de que as empresas podem ser vítimas? Existem três principais. O primeiro deles é o vazamento de dados sensíveis da empresa e aí podem ser de pessoas, financeiros, de clientes, há uma variedade. Esses dados são roubados de alguma forma, o que é um grande problema. Imagine o vazamento de dados de clientes de uma escola, uma faculdade, que tem milhares de alunos. Um outro tipo é uma situação chamada de ransomware. Especialmente na pandemia, a gente viu esse tipo de crime explodir de uma forma assustadora, tanto no mundo quanto no Brasil. São ataques feitos por profissionais, não se trata daquela lenda de um adolescente sendo hacker num fim de semana. Estamos falando de grupos criminosos extremamente sofisticados, cheios de recursos, em geral do Leste Europeu, mas também já começam a surgir alguns no Brasil. Eles invadem o ambiente digital das empresas, tomam o controle, roubam os dados e criptografam tudo. O efeito disso é o seguinte: você chega na segunda-feira para trabalhar e não consegue ligar nenhum computador da empresa, só aparece uma mensagem na telinha dizendo o seguinte: seus dados foram sequestrados, nenhum computador da empresa está funcionando, se você quiser reaver os dados tem que pagar, digamos R$ 5 milhões em bitcoin. E aí o caos está instaurado porque nada funciona: a empresa não fatura, o ponto de venda está parado. Esse tipo de ataque tem um impacto enorme e requer todo o processo de tentar recuperar o sistema. O terceiro está relacionado à área financeira e aí afeta mais quem vende online ou quem faz transações online. Então, imagine um e-commerce que pode ter um grande volume de fraude. Ou imagina um banco que foi fraudado por alguém que faz um PIX indevido para outra empresa ou para outra pessoa. Qual o impacto que a LGPD tem, principalmente nos casos de vazamento de dados? A lei força as empresas a tomarem precauções e medidas básicas de segurança. Existe uma série de providências no caso de haver um vazamento de dados: você é obrigado a notificar o ocorrido, não pode esconder debaixo do tapete, tem que avisar para o regulador, a ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados Pessoais), e também para os seus usuários, para a bolsa de valores etc. Além disso, se roubarem a base de dados dos seus clientes, isso já virou um problema de imagem da empresa junto a eles. Você vai ter também um problema jurídico e poderá se expor a um processo porque não seguiu a LGPD, você pode ter um problema regulatório, ser multado pela ANPD porque você não tomou as medidas básicas. É importante ressaltar que não é só a LGPD. Existem outras regulamentações de setores específicos. Por exemplo, no Banco Central há uma regulamentação de cibersegurança que todas as instituições financeiras do País têm que seguir, elas têm que implementar uma série de controles, não importa se é um grande banco ou uma corretora. Da mesma forma, o setor elétrico também deve seguir as regulamentações do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico). Esse aspecto da regulamentação tem acelerado o nosso mercado de segurança. Você falou que os hackers não correspondem à imagem do adolescente nerd atuando de forma amadora. Quem são esses criminosos? São grandes profissionais especializados em fraude digital, extorsão e vazamento de dados etc. Até uns 10, 15 anos atrás, ainda havia aquele perfil do curioso,

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"A literatura é um grito de dor"

Cinco anos após ter sido acometido por um AVC, depois de dois anos de pandemia e completando 75 anos em 2022, Raimundo Carrero segue produzindo e respirando literatura. A escrita e a leitura estão na sua rotina na sala de sua casa. Vários livros nas mesinhas ao lado da poltrona onde ele mergulha no seu universo ficcional, ao lado de quadros e lembranças da sua longa carreira. Com uma caminhada profissional assumindo os papéis de jornalista, professor, gestor público, autor de peças, contos e romances, ele retoma nos próximos dias a sua oficina de literatura, que é reconhecida nacionalmente. Foi nesse período de preparação dos encontros literários e da produção de um novo livro que ele conversou com Rafael Dantas sobre o momento cultural do País, sua trajetória e os planos que ainda fazem seus olhos brilhar. Entusiasmo, aliás, foi a palavra que ele, que é vencedor de alguns dos maiores prêmios da literatura brasileira, mais repetiu ao longo deste bate-papo sobre sua carreira, sobre o momento atual da literatura e sobre o projeto do que poderá ser seu último livro. No início da entrevista, entregamos para Carrero uma reprodução da sua primeira reportagem, de 24 de dezembro de 1969, no Diario de Pernambuco. Você lembra da sua primeira matéria assinada no Diario de Pernambuco? De cabeça é difícil. A primeira reportagem assinada foi essa aqui. Rapaz, onde é que você arrumou isso? Isso é muito importante para mim. Foi esta matéria que me fez entrar no Diario de Pernambuco. Dezembro de 1969. Eu estava estagiando. Você está me causando uma emoção incrível agora. Evaldo Costa (diretor do Arquivo Público de Pernambuco) lutou para localizar isso e não conseguiu. Quando você pensou em começar a escrever? Um dia eu decidi ser escritor. Eu já escrevia, mas decidi ser escritor. Quando eu era ainda adolescente, pensei: vou escrever contos. Mas o que é um conto? Fui na Companhia Editora Nacional, era a maior do Recife na época, na Rua Imperatriz. E me venderam Antes do Baile Verde, de Lygia Fagundes Telles. Eu comprei, fui para casa, comecei a ler, me entusiasmar e aquilo foi muito bom. Então, eu sempre fui muito ousado, quando comecei a ler mais e escrever. Como foi o seu começo no jornalismo? Um dia pensei: eu preciso trabalhar. Aí eu fiz um concurso na Companhia Brasileira de Vidros, era uma vaga especializada para contador e eu fui reprovado. Na ansiedade de entrar no mercado de trabalho, descobri que o Banorte periodicamente realizava uns concursos para atrair funcionários para o banco. Eu fiz e passei, mas no psicotécnico terminei reprovado. Na prova oral, a moça disse: “o senhor não tem espírito nenhum para bancário. Se o senhor quiser tentar, eu aprovo e o senhor entra. Mas…” Eu respondi que não queria um emprego para o resto da vida, mas para entrar no mercado de trabalho. Ela me disse para procurar outra coisa, deixou em aberto e perguntou: “Vá tentar a sua área de atividade. Qual é a sua área de atividade?”. Eu disse que gostava de escrever. Ela disse para eu procurar Ariano Suassuna, Hermilo Borba Filho… Daí comecei a achar que poderia ser jornalista. Como foram os primeiros passos no jornalismo? Eu me candidatei ao estágio no Jornal do Commercio. Era um estágio até bem-feito. Mas o JC estava entrando na primeira grande crise financeira da empresa e quase quebrou. Ainda assim, fiquei uns três meses. Quando terminou o período, estava aprovado, mas não tinha emprego. Desci a escada e fui ao Diario de Pernambuco. Também disseram que não tinha estágio. Mas mesmo assim, todos os dias eu ia para lá e ficava de meio-dia até umas 3 da tarde, conversando, ouvindo, sabendo como se fazia o jornal. E o Dr. Antônio Camelo chamou o chefe de reportagem, Ivancil Constantino, e mandou me dar uma pauta. Comecei a entrar em crise porque não conseguia trabalho, fazer estágio, nem escrever. Só publicavam umas coisinhas, bobagens. Eu pensei que estava ficando velho e não tinha feito nada, mas só tinha 20 anos. Mas na minha cabeça já era muito. Então apareceu a Santinha, em Alagoa Nova, uma criança que dizia que estava vendo Nossa Senhora. Como de candidato a estagiário você mergulhou nessa história? Na época, o Diário da Noite, que fazia umas matérias espetaculares, disse na manchete: Fanáticos sequestram a Santinha de Alagoa Nova. Aí o jornal começou a entrar em crise: vamos mandar alguém. Começou a ouvir os repórteres e ninguém quis. Daí me convidaram: “Você quer ir acompanhar essa história da santa? Não paga nada, não. Mas você abre o caminho”. Quando cheguei lá disseram que a Santinha não falava com ninguém. Fui na feira, comprei uma boneca bem grande e levei para ela. O jornal achou isso extraordinário. E foi manchete. Passei uma semana lá, uma semana fazendo matérias. A partir daí, eu já estava contratado, comecei a ser jornalista do Diário de Pernambuco. Cheguei no jornal em junho de 1969. E eu aproveitava e escrevia críticas literárias. Eu lia muito, na época, lia excessivamente para um rapaz que não tinha uma formação acadêmica, eu escrevia quatro a cinco artigos por semana. Geralmente as pessoas falam com o Carreiro escritor. Mas antes de falarmos de literatura, quem foi o Carrero jornalista? O Diario de Pernambuco se entusiasmava muito comigo porque apresentei uma massa de trabalho grande. Tinha uma disposição para o trabalho imensa, o que é uma coisa natural na minha vida. Eu sou entusiasmado e trabalhador. Não tinha nenhuma experiência de redação jornalística. Eu comprava na banca o Jornal do Brasil e a Última Hora, que eram os melhores jornais da época, acordava cedo no domingo, colocava os dois jornais na mesa e ia treinar. Ler o jornal, copiar o que eles faziam e criar como seria a minha redação. O jornal me pedia para fazer reportagens do dia a dia, o que se chama hoje Vida Urbana. Até que comecei a cobrir os setores de trânsito e telecomunicação. Isso em 1970. Às

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"A Rnest vai duplicar a movimentação de Suape e a Transertaneja vai triplicá-la"

No ano passado, Algomais entrevistou Roberto Gusmão, o presidente do Complexo de Suape que estava cheio de planos e enfrentando muitos desafios. Alguns foram concretizados e superados, como a Transertaneja, que será a primeira integração ferroviária do porto. Foi uma solução gerada num esforço conjunto de políticos e empresários, para o problema da Transnordestina cujas obras estavam inconclusas há anos. Mas outros obstáculos persistem, como a dificuldade em retomar a autonomia de Suape, cuja gestão hoje é federalizada. Apesar disso, o saldo tem sido positivo para o complexo portuário e industrial que teve um aumento no faturamento no ano passado de 14%, chegando a R$ 300 milhões. E as perspectivas também são promissoras com a aprovação do projeto BR do Mar que incentiva a cabotagem, a retomada das obras da refinaria e a implantação de um terminal de regaseificação, que vai permitir o aumento da concorrência no fornecimento de gás. A área industrial do complexo também promete investimentos estratégicos com a instalação de plantas de produção de hidrogênio verde. Os planos de Gusmão são ambiciosos: “Não queremos ser apenas um exportador de hidrogênio verde para combustível, queremos produzir aqui ingredientes para a atração da indústria verde no Complexo Industrial de Suape”. Confira a entrevista: O projeto da nova ferrovia ligando Piauí a Suape vai aproveitar algum trecho já construído da Transnordestina? Ela terá recursos públicos? Existia um projeto de lei no Senado, o PLS 261 (que trata de novos instrumentos de outorga para ferrovias em regime privado). Havia também uma medida provisória tratando do mesmo assunto. O Ministério da Infraestrutura, o Governo de Pernambuco e outros governos pressionaram para que o ministro Tarcísio de Freitas não aguardasse apenas a aprovação da lei. Por isso, foi feita uma medida provisória em praticamente igual teor ao do projeto de lei. Tanto o PL como a MP não limitam que os atores envolvidos possam conversar e, se for o caso, aproveitar trechos em compartilhamentos de qualquer empreendimento. O que a gente espera com o desfecho que conseguimos estabelecer — com muita ajuda do ministro da Infraestrutura, da grande mobilização que foi feita da bancada federal pernambucana e dos empresários — é que haja um entendimento que possa facilitar o tempo de execução da obra. Acontece o seguinte: o que define é a carga, não é o governo, não é o terminal. E a carga (no caso, a empresa Bemisa que construirá a ferrovia) colocou bem claro que Suape tem melhor condição de fazer esse escoamento. Achamos importante que a Transnordestina cumpra o que está no contrato que é terminar o trecho até Pecém (CE) e que tenhamos uma competição entre os portos de outras cargas envolvidas. Grande parte do trecho de Curral Novo (PI) até Salgueiro está pronto e se houver um entendimento seria interessante. Mas, de toda forma vai dar certo. Os recursos para a construção da ferrovia são 100% privados. Essa é a diferença do que é uma concessão pública e o que é uma autorização de outorga. A empresa vai construir a ferrovia independentemente da Transnordestina – que foi o que a gente batalhou sempre: sair desse imbróglio da Transnordestina. Trata-se de um projeto verticalizado da Bemisa que tem a mina de minério de ferro, a ferrovia e o terminal de minérios na Ilha de Cocaia. O ministro Tarcísio deu início ao processo de consulta pública para que a Ilha de Cocaia seja retirada da área do Porto Organizado de Suape, tornando viável a instalação de um terminal privado de minério de ferro. A ferrovia vai se chamar Transertaneja e será a primeira integração ferroviária em Suape, o que vai ser muito importante para Pernambuco, um empreendimento que promoverá uma mudança econômica, talvez maior que a instalação de Suape há 43 anos. As obras da segunda etapa da Refinaria Abreu e Lima serão retomadas. Qual o impacto disso para Suape e para o Estado? A refinaria foi projetada para processar 230 mil barris diários e só estava operando a 115 mil barris/dia. O investimento da Petrobrás é de quase US$ 1 bilhão e é extremamente importante porque dobra a movimentação de Suape e a Transertaneja vai triplicá-la, saindo de 25 milhões de toneladas por ano para 75 milhões a 80 milhões de toneladas/ano no médio a longo prazo. Então, consolidamos Suape como hub e como um dos três principais portos do Brasil. Como estão as negociações com a Qair para instalar a planta de hidrogênio verde em Suape? Temos um protocolo assinado não só com a Qair, mas também com seis outras empresas interessadas no hidrogênio verde. O Nordeste brasileiro e a Austrália são qualificados como regiões foco desse novo mercado. A Qair já tinha feito os projetos básicos para poder implantar parte da planta até 2026. Mas não queremos ser apenas um exportador de hidrogênio verde para combustível, queremos produzir aqui ingredientes para a atração da indústria verde no Complexo Industrial de Suape. A produção do hidrogênio se dá por meio da tecnologia da eletrólise da molécula de água separando o hidrogênio do oxigênio. A faísca da energia elétrica que produz a quebra da molécula pode vir do gás, originando o hidrogênio azul, ou do carvão (hidrogênio cinza). No caso do hidrogênio verde, a eletricidade pode ser originária de três fontes: solar, eólica ou hídrica, que é o que temos aqui no Nordeste, principalmente solar e eólica. O processo de eletrólise existe há mais de 80 anos, e pode produzir o hidrogênio, mas também o oxigênio. Temos aqui a fábrica da White Martins que produz esse gás, então poderemos ter uma oferta de oxigênio. Nós vimos a importância dele agora na pandemia. Quando ocorre a mistura do hidrogênio com o nitrogênio, tem-se a amônia. Somos importadores desse insumo, principalmente na parte de fertilizantes. Isso pode agregar valor não só à agricultura, mas também à indústria, já que a amônia é insumo na fabricação de produtos como biscoitos e lácteos. A chamada nova indústria verde, de emissão de carbono zero, é a que queremos atrair. Grande parte das empresas

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"A gente pretende transformar o Centro Histórico do Recife para diversos usos e atividades".

Durante muito tempo assistimos à deterioração do Centro do Recife. Imóveis abandonados, calçadas ocupadas de forma ilegal, assaltos e ruas vazias, principalmente à noite e fins de semana. De uns anos para cá, houve uma mobilização da sociedade civil, de empresários e do poder público para reverter esse cenário de decadência. Debates sobre alternativas para revitalizar a área onde o Recife nasceu ficaram cada vez mais frequentes e soluções, aos poucos, começam a ser implantadas. Faltava uma governança que congregasse todas essas ações e impulsionasse a melhoria da região, preservando seu rico patrimônio. Até que no final do ano passado, foi criado pela Prefeitura do Recife o Escritório de Gestão do Centro do Recife, chefiado por Ana Paula Vilaça. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela abordou as ações para executar o Recentro, um amplo programa que prevê o incentivo a moradias na região central e novos empreendimentos, além de estimular a tecnologia e a inovação. O objetivo é tornar o Centro “um lugar bom para morar, para investir e para viver”. Quais são seus planos à frente do Escritório de Gestão do Centro do Recife? Estou muito confiante de que o Programa Recentro vai colocar a área central do Recife em um novo patamar de desenvolvimento, combinando o estímulo à moradia com a chegada de novos empreendimentos privados e investimentos públicos, modificando o cenário atual e tornando o ambiente favorável para quem deseja investir e fixar moradia de longa duração no centro histórico de nossa cidade. Essa região que o Recentro engloba está no coração e no imaginário de todo morador do Recife. É lá que o comércio popular é pulsante, tem força. É lá que boa parte da atividade cultural da cidade se materializa. Onde encontramos os principais equipamentos turísticos e de lazer, sem falar no potencial econômico de ter o maior ecossistema de tecnologia e inovação às margens dos rios Capibaribe e Beberibe, com o Porto Digital. Diante de tudo isso, a expectativa é muito boa e, ouvindo os diversos setores com atuação nos bairros do Recife, São José e Santo Antônio, conseguiremos ao longo dos próximos meses estabelecer canais de diálogo e estruturar projetos para termos entregas concretas à população. Uma das propostas para o centro é o Corredor do Comércio, um projeto da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas). O que a senhora acha desse projeto e quais as chances de ser implantado? Com o passar dos anos e a presença cada vez maior dos shopping centers no dia a dia da população, o tradicional comércio de rua da cidade, aquele que remonta à nossa ideia de “vamos no Centro”, foi se perdendo com o tempo. Mas é lá no “Centro da cidade” que a gente, ainda hoje, encontra uma variedade muito grande de produtos, na maioria das vezes, com preços muito mais competitivos do que encontramos nos shoppings. Temos um polo comercial pujante que começa na Rua da Imperatriz, emendando com a Rua Nova e desembocando na Avenida Dantas Barreto. Nesse itinerário e no seu entorno, encontramos tradicionais lojas do Varejo. É que é importante a gente aglutinar ações, enquanto poder público municipal, para estimular o retorno dos consumidores à região, gerando emprego e renda e movimentando nossa economia. Dois problemas apontados pela CDL para a viabilidade do projeto são a segurança e a ocupação ilegal das calçadas. Quais as propostas para resolver essas dificuldades? A ideia de estimular a moradia e a ocupação desses bairros em todos os horários do dia e todos os dias da semana vai nos ajudar a resolver o gargalo da segurança pública. Isso porque, com as pessoas morando e vivendo o cotidiano nesses locais, a vigilância social, combinada com a atração de novas atividades econômicas, a exemplo de supermercados, farmácias, minimercados, restaurantes e várias atividades, provocam uma nova dinâmica e ativação do nosso Centro Histórico, restaurando a sensação de segurança na área. Leia a entrevista completa na edição 190.2: assine.algomais.com

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"Uma das coisas mais emocionantes da Usina de Arte é ver como as pessoas do local mudaram".

A arte salva. É o que preconizam expoentes de diversas modalidades artísticas. Um exemplo interessante dessa redenção aconteceu na Usina Santa Terezinha, desativada no final dos anos 1990, quando deixou sem perspectivas a comunidade de seis mil pessoas que moram no distrito da cidade de Água Preta, na Zona da Mata Sul, onde está localizada. Mas toda essa decadência foi ressignificada com a sua transformação em Usina de Arte. Renomados artistas plásticos fazem estadia no espaço e produzem obras que compõem o cenário do exuberante jardim botânico cultivado com espécies de várias localidades do mundo. Se a produção da monocultura da cana devastou a mata atlântica, agora, com o plantio do parque, até os jacarés e as tartarugas voltaram a frequentar a região. Do contato com o projeto, várias pessoas da comunidade tornaram-se microempreendedores de restaurantes, pesque-pague, guia de turísticos e de trilhas. A vivência com a arte fez também brotar dois artistas da região que têm obras expostas no parque. Oficinas são oferecidas aos alunos das seis escolas existentes dentro da usina com temas que vão da fotografia à operação de equipamentos numa fab lab (do inglês fabrication laboratory, laboratório de fabricação). Nesta conversa com Cláudia Santos, a presidente da Usina de Arte Bruna Pessoa de Queiroz, conta a história dessa metamorfose orquestrada por ela e o marido Ricardo, que contaram com o auxílio luxuoso de vários artistas. E, para aqueles que quiserem diversificar uma programação de verão que não seja só de praias, o parque artístico-botânico e o seu entorno reserva atrações que vão da arte contemporânea, trilhas, a banhos na barragem, entre outras diversões. Como surgiu a ideia da Usina de Arte? A Usina Santa Terezinha foi construída pelo coronel José Pessoa de Queiroz, bisavó do meu marido, Ricardo Pessoa de Queiroz, que passou a infância dele na usina. Como toda usina de cana, atravessou suas crises, teve vários percalços com o governo militar e a sua última moagem foi no final da década de 1990. E ficou fechada esse tempo todo. Sou prima do meu marido e quando começo a namorar com ele, queria muito conhecer a usina, porque era muito comentada na minha família. Mas para Ricardo era uma relação mais difícil de perda. A usina foi tomada da família até ser novamente recuperada e isso causava um certo trauma. Passou-se um tempo até reabrir a casa e começar a frequentá-la. As pessoas da comunidade local estavam diariamente lá pedindo para voltar a funcionar a usina. Não acreditávamos mais nesse caminho, depois de 20 anos. Começamos a pensar como isso poderia ser feito. Fizemos uma visita a Inhotim e nos apaixonamos pela proposta. Convidamos um artista, que tem muitas peças expostas lá, Hugo França para vir para usina. Ele vem e faz o primeiro trabalho e vira um grande amigo. Ele retornou em 2013, 2014 e 2015 e nos sugeriu que convidássemos outros artistas. Então, por diversos caminhos, chegamos ao nome de José Rufino, que é convidado a pensar uma obra para a usina. Ele termina virando nosso parceiro e nesse momento nasce o projeto sem muita formatação. Nesse mesmo ano, visitamos a SP-Arte, porque já que escolhemos esse caminho, fomos aprofundar os conhecimentos, e novamente Hugo nos apresenta a Fabio Delduque, realizador do Festival de Arte Serrinha, em Bragança Paulista (SP). Foi uma sinergia gigante porque esse festival é realizado numa antiga fazenda de café e somos uma fazenda de cana. Fábio ia sair numa itinerância com um grupo de artistas. Já estava certa uma viagem para a Ilha do Marajó (PA) e Serra da Moeda (MG) e estava faltando a conexão com o Nordeste. A primeira itinerância da Serrinha aconteceu aqui na usina em novembro de 2015. Foi muito mágico. Não havia público externo, apenas a comunidade e o grupo de artistas. Achamos que era importante incluir o cenário artístico local. Fizemos alguns convites para alguns artistas do Recife participarem. Foram seis dias numa imersão, realizamos oficinas, tivemos uma performance no final do festival com os alunos , a bailarina Lu Brites e Benjamim Taubkin tocando piano na instalação da antiga usina. Foi muito, muito bonito. No final desse festival formalizamos como a usina iria funcionar. Em janeiro de 2016 nos tornamos, oficialmente, uma associação. Mas digo que estreamos em 2015, quando já atuava na usina com um pensando mais voltado para a comunidade. A partir daí desenvolvemos diversas ações, convites para residências artísticas e elegemos vários projetos. Fale um pouco do museu de arte e por que a escolha pela contemporânea. Nós o chamamos de Parque Artístico Botânico, outros chamam de museu a céu aberto. A arte contemporânea é o que há de mais atual e é uma forma de comunicar um pensar artístico muito amplo. Encontramos nesse caminho uma ferramenta boa de troca. Os artistas estão muito permeáveis e se permitem trocar com a comunidade. Rufino foi o primeiro e foi muito mágico o período que ele passou em imersão. Ele foi curador do projeto durante alguns anos. Para nós, a participação da comunidade é muito importante. Passamos a convidar a artistas que tivessem a disponibilidade de ir à comunidade, trocar, entender, conversar, explicar um pouco do trabalho realizado. Tudo que fazemos parte de dentro da comunidade para fora. O artista é convidado a conhecer a usina, ele fica quanto tempo achar necessário, não temos um cronograma muito fixo para sua permanência. Depois ele retorna, pensa numa proposta que passa pelo conselho curatorial, o artista discute com o conselho e após a aprovação, esse artista começa a frequentar a usina para instalação dessa obra. Sempre realizamos aulas, conversas com a comunidade e, muitas vezes, a obra nasce dessa troca com o espaço, com a história e com as pessoas do lugar. E como é o Parque Botânico? Como se trata de um jardim botânico, temos plantas de todos os continentes. Ainda é um projeto, mas já fazemos parte da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, temos parcerias com jardins do País todo, recebemos biológicos do Kews Garden (do Reino Unido). Um dos

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"Pessoas consumistas voltaram a comprar com muita avidez"

Logo no início da pandemia, fizemos uma matéria na Algomais sobre o comportamento do consumidor e uma das principais fontes foi o consultor de branding e pesquisador Fernando Lima, do escritório de inteligência de marca änimä. Agora, às vésperas de a crise da Covid-19 completar dois anos, o que mudou? Ele deu algumas respostas surpreendentes nesta conversa com Cláudia Santos. Quem apostava que as pessoas ficariam mais solidárias após esse drama coletivo que vivemos, errou na previsão segundo o especialista. “Quem já tinha empatia ampliou muito essa sua visão empática, mas quem não tinha, não mudou muito, pelo contrário. Uma coisa que as pesquisas estão identificando é que as pessoas estão, de certa forma, até mais egoístas”. Já os consumistas, voltaram a comprar com intensidade, principalmente sapatos e roupa. Os impactos da COP 26 e do home office também são analisados pelo consultor de branding que tem detectado uma maior valorização das pessoas aos momentos de descanso. “Elas estão querendo aproveitar a vida e menos dispostas a se matar de trabalhar.” O que as mais recentes pesquisas apontam sobre o comportamento do consumidor após quase dois anos de pandemia? Nós, da änima, estamos fazendo pesquisas mas também lemos muito sobre outras pesquisas realizadas. A pandemia num primeiro momento assusta muito as pessoas, depois tem o poder de mudar hábitos e comportamento. Mas o que constatamos é que é importantíssimo ouvir as pessoas no início de pandemia quando surgem os medos, que têm a capacidade de impactar a ponto de mudar o comportamento e os hábitos. Mas é fundamental, num segundo momento, entender como essas mudanças de hábitos e comportamentos estavam se consolidando. E ao final da pandemia – tomara que seja este momento que vivemos agora – é importante pesquisar mais uma vez para saber o que permaneceu e o que foi embora. A pandemia teve uma jornada e é fundamental acompanhar essa jornada. Quem trabalha com pesquisa não pode olhar para ela como números absolutos, mas como um retrato que capta a realidade daquele momento, sob a perspectiva que as coisas mudam. Agora, respondendo a sua pergunta: nunca fizemos tanta pesquisa e isso significa que os clientes querem saber como o consumidor está pensando. Somadas as informações das nossas pesquisas com o que o mercado está dizendo detectamos que, assim como foi verificado nas primeiras pesquisas, aspectos relacionados à saúde e ao bem-estar permanecem. As pessoas estão mais preocupadas com a saúde, retornando ao médico, houve um aumento na realização dos exames. As pessoas querem entender o que está acontecendo com a saúde delas. Elas precisam se sentir mais protegidas e preparadas. A saúde inclusive hoje vive um outro momento. Passamos muitos tempo querendo curar a doença, depois passamos a aprender que é melhor se proteger da doença e agora aprendemos um item novo que é nos prepararmos para o futuro. Novas pandemias vêm por aí e novas cepas também podem vir e temos que estar preparados. Sobre aquelas questões mais comportamentais, ficou consolidado que quem já tinha empatia ampliou muito essa sua visão empática, mas quem não tinha, não mudou muito, pelo contrário. Uma coisa que as pesquisas estão identificando é que as pessoas estão, de certa forma, até mais egoístas. Observe o trânsito, as pessoas estão nervosas, querendo resolver a vida delas, querendo chegar logo em casa, não estão nem aí para o outro, para quem está no trânsito, para quem divide aquele espaço com elas. Estou fazendo duas pesquisas sobre o trânsito e a mobilidade. Todas as classes sociais falam da angústia que é encarar o trânsito hoje. As pessoas estão mais nervosas, mais ansiosas, e isso passa pelo individualismo e gera egoísmo. Então, quem não tinha empatia se tornou até mais egoísta. É um ponto ruim de ser debatido. Se elas tivessem aprendido sobre a empatia talvez diminuíssem um pouco essa ansiedade. Há muita gente tentando procurar as saídas, buscando tratamentos psicanalíticos. Muitas pessoas entenderam também que já eram ansiosas ou deprimidas, mas estar dentro de casa permitiu ter mais tempo para se perceberem melhor. E em termos de consumo, o que mostra este momento da pandemia? Há aspectos muito interessantes. Pessoas consumistas voltaram a comprar com muita avidez, principalmente calçados. O consumidor passou muito tempo sem usar sapatos e esse produto passou a vender muito. A roupa também voltou a vender mais. Houve um impacto positivo da pandemia: a roupa se tornou mais confortável e essa tendência se mantém. Passamos muito tempo de pijama e as pessoas perceberam que usar um moletom é muito mais confortável do que uma calça jeans pesada. Outro mercado que está dando pistas muito interessantes é o mercado imobiliário que não sofreu na pandemia – apenas nos três primeiros meses, quando ninguém sabia o que ia acontecer, mas depois ele voltou a emergir muito rapidamente e com muita força. Agora é um momento para observar se ele arrefece ou se continua forte. A minha dúvida é: será que as pessoas vão diminuir esses investimentos na compra de produtos de longo prazo, como um imóvel, ou elas vão voltar a querer viver com prazer, o que significa ir para restaurante, shoppings e viagens, que são experiências que custam caro? Muitas pessoas investiram na segunda moradia, compraram uma casa na praia ou em Gravatá. Mas aconteceu algo interessante: já não era mais a geladeira mais ou menos que estava na primeira casa que levaram para a casa da praia. Não. Foi a melhor geladeira, a melhor cervejeira, o melhor fogão que foi para a segunda casa, porque foi justamente o local onde os consumidores passaram a receber as pessoas. De maneira geral, entendo que o Recife já vinha num movimento muito positivo antes da pandemia com o surgimento dos restaurantes com formato de casa, com quintal, como o Ca-Já, Arvo, Trattoria da Dani. São lugares abertos. Isso aí, não tem mais volta, está consolidado. Não é que um Leite vá acabar, mas os novos restaurantes devem preferir esse conceito, até em razão das medidas sanitárias que devem permanecer. As pessoas se

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"Temos uma Argentina inteira de famintos no Brasil hoje".

Assim como Josué de Castro, autor de Geografia da Fome, José Graziano da Silva atuou na FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) onde, da mesma forma que o médico pernambucano, contribuiu com seu conhecimento para ajudar a reduzir a insegurança alimentar no mundo. Infelizmente, a realidade do Brasil hoje está muito similar à de 76 anos atrás, quando Castro lançou sua obra clássica. Cláudia Santos conversou sobre essa situação com Graziano, que foi também ministro, ex-ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome do Governo Lula e idealizador do Fome Zero, programa que retirou o Brasil do mapa da fome. Ele analisou porque retornamos a essa crise humanitária e apontou as soluções urgentes que podem “e devem” ser implantadas por prefeitos e governadores. Também alertou que será fundamental implantar um programa para educar a população a comer alimentos saudáveis e garantir a ela o acesso a esses produtos. Afinal, assim como pensava Josué de Castro, Graziano afirma que não é a falta de alimentos nem mesmo a pandemia que provocam a fome, mas a falta de dinheiro dos brasileiros, agravada com a crise da Covid-19. O que mostram os dados mais recentes sobre a fome no Brasil? Vamos falar de segurança alimentar, que é o conceito que se utiliza para medir a fome. Segurança alimentar é quando uma pessoa tem acesso à quantidade de alimentos necessária para ter uma vida saudável, são as famosas três refeições diárias: café da manhã, almoço e jantar, a que se referia tanto o presidente Lula. Os dados de insegurança alimentar no Brasil seguem a escala chamada Ebia (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar) que classifica a insegurança alimentar grave, quando a pessoa deixou de comer pelo menos um dia, no período da entrevista da avaliação (pesquisa). Segurança alimentar moderada é quando ela sacrificou a quantidade dos alimentos, deixou de fazer, por exemplo, uma das três refeições ou comeu menos do que achava que era necessário para a sua sobrevivência. Insegurança alimentar leve é quando a pessoa, por falta de dinheiro, sacrifica a qualidade dos alimentos, deixa de comer carne, por exemplo, e passa a comer salsicha ou mesmo abole as frutas, verduras, legumes e passa a comer só macarrão, farinhas, produtos energéticos. Os dados da última pesquisa da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar), para dezembro 2020, mostram uma insegurança alimentar grave atingindo 9% da população brasileira e uma insegurança alimentar moderada atingindo 11,5%. Somadas as duas, resulta em mais de 20%. Ou seja, uma de cada cinco pessoas entrevistadas disse que passou fome no período da avaliação. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) contabilizaram um número um pouco maior que isso, aproximadamente 24%, o que significa que um de cada quatro brasileiros passava fome em dezembro de 2020. Constatou-se também que praticamente 35% dos brasileiros sofriam de insegurança alimentar leve, ou seja, sacrificavam a qualidade dos alimentos consumidos porque não podiam pagar pelos alimentos de boa qualidade, como produtos frescos, frutas, verduras e legumes e carnes. Isso dá um total de 55% da população brasileira em insegurança alimentar. É a primeira vez na história do Brasil que temos a maioria população brasileira sofrendo insegurança alimentar, como se pode ver na série que começa em 2004 (gráfico da página 14). Chegamos a ter em 2013, às vésperas de o Brasil sair do mapa da fome, praticamente 80% da população brasileira com segurança alimentar. Esse número drasticamente cai para 45% em dezembro de 2020. Infelizmente não temos a pesquisa ainda para 2021. O único dado disponível é da Unicef que usa uma metodologia similar, não é exatamente a mesma, e que constatou que 17%, ou seja, cerca 27 milhões de brasileiros maiores de 18 anos deixaram de comer porque não havia dinheiro para comprar mais comida no domicílio. Essa pesquisa se refere ao mês de abril de 2021, quando já não havia Auxílio Emergencial. Como está a fome no Nordeste? A fome no Nordeste é muito pior. Dados da Rede Penssan mostram que a região tem 14% de pessoas com insegurança alimentar grave, 17% sacrificando a quantidade de comida (insegurança alimentar moderada), o que resulta num total de 31% com insegurança alimentar moderada ou grave, que é o indicador utilizado para medir a fome nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030 (da ONU). Veja que outros 41% dos nordestinos sofrem insegurança alimentar leve. Então, nós temos um quadro realmente assustador. Apenas 28% dos nordestinos têm segurança alimentar, 31%, ou seja, praticamente um de cada três passa fome de alguma maneira ou deixa de comer de vez ou come menos do que devia, e 41% come mal. Ao se comprar a situação no Brasil e no Nordeste, há sempre uma proporção maior de pessoas passando fome na região, em todas as categorias, o que dá um valor de quase 72% da população nordestina com insegurança alimentar. São 17 milhões de pessoas ou mais em dezembro de 2020 passando fome na região contra aproximadamente 43 milhões no Brasil nesse período. Quais os fatores que levaram a esse recrudescimento da fome no País e qual o impacto que teve a pandemia? Vale a pena destacar que antes mesmo da pandemia, os dados do IBGE de 2018 apontam que o Brasil já havia voltado ao mapa da fome porque tínhamos 5,8% da população em insegurança alimentar grave. Nós consideramos que um país passa fome pelo critério da FAO, quando mais de 5% da população está nesse limiar. Então, não é a pandemia que causa a fome mas a pandemia, sim, agravou muito a situação no Brasil, porque a fome no País é um problema de falta de renda. Não faltam alimentos, falta dinheiro para comprar os alimentos. Com a pandemia, aumentou muito o nível de desemprego e a informalidade e o País deixou de crescer. Um país que não cresce, não gera empregos. Isso é agravado pelo baixo nível da remuneração daqueles que estão ocupados ou subocupados no setor informal. O salário mínimo

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"Se todos estiverem vacinados e sem sintomas, pode-se tirar a máscara nos pequenos grupos familiares no Natal"

Após quase dois anos de pandemia e com o avanço da vacinação, o que se pode ou não fazer para evitar o contágio da Covid? Como se comportar nas reuniões familiares de fim de ano? E nas viagens de avião? Para esclarecer essas dúvidas, Cláudia Santos conversou com a infectologista Millena Pinheiro, supervisora médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Português. A especialista também comenta o que se sabe até agora sobre a nova variante Ômicron, analisa o ressurgimento de casos e mortes pelo coronavírus na Europa e ressalta que os casos da doença que chegam hoje ao hospital são, em sua maioria, mais brandos. “As formas, mesmo as graves, estão ficando mais leves, por causa da vacina. E sempre que alguém se interna e é grave, é uma pessoa que não se vacinou”. Como a senhora analisa o cenário da Covid no Brasil e em Pernambuco? Em Pernambuco, estamos numa estabilidade de casos graves, agudos, leves e também de óbitos. Há uma quantidade baixa de casos, que não deixam de surgir, mas não estão acarretando sobrecarga aos hospitais. Mas existe o viés de que testamos menos que os países da Europa, porém, se há vírus circulando, ele deve ser responsável por casos muito leves ou assintomáticos que não estão chegando ao sistema de saúde. Temos quase 74% da população de Pernambuco vacinada (dado referente ao dia 29/11), então, provavelmente, isso seja um bloqueio para a disseminação do vírus. Acho que o Brasil vem acompanhando a mesma média. Muitos Estados estão liberando a circulação de pessoas. Essa é a grande questão do momento: o que vai acontecer com esse aumento de circulação de pessoas em ambientes fechados, como shows? Isso está causando uma grande polêmica, com as entidades se posicionando contra, como o Cremepe e o Sindicatos dos Médicos em Pernambuco. Diante desse novo momento da pandemia, o que se pode e não se pode fazer? O que se deve fazer: continuar usando máscaras, principalmente quando você sai de casa. Na sua residência, em reuniões familiares com um grupo pequeno de pessoas, estando todos vacinados, sem queixas ou sintomas, você pode tirar a máscara. Agora, num local onde você não conhece as pessoas, não sabe se elas estão vacinadas completamente, ou estão com algum sintoma, a melhor maneira de controlar essa situação é o uso de máscara. As pessoas devem se vacinar, oferecer ajuda, orientação para quem não se vacinou completamente, ponderar bastante o impacto que possa ter ao participar desses eventos divulgados na mídia: você tem grupo de risco em casa? Você está completamente vacinado? Esse show ou evento vai pedir comprovante de vacinação com pré-requisito para a entrada? Sei que as pessoas estão cansadas, muitas estão depressivas, querem voltar a ter um convívio social, porém chegamos até aqui e a nossa tendência é não regredir. Se a gente regredir, em alguma medida será um impacto ruim para todos. É um momento de muita precaução. Quais os cuidados que se deve tomar nos encontros de final de ano, como o Natal? Esse questionamento foi muito discutido no ano passado, quando estávamos com uma circulação maior do vírus, começando a subir o número de casos e, por isso, recomendamos que fossem feitos pequenos grupos, no máximo 10 pessoas, que estivessem sem sintomas, que preferencialmente se evitasse a presença de grupos de risco e idosos, mas caso estivessem presentes, tivessem distanciamento das demais pessoas. Todos deveriam usar máscaras, porque ainda não estávamos vacinados. Este ano o que pode mudar: agora que estamos vacinados, podemos aumentar o nosso grupo familiar que vai participar dessas reuniões para um pouco acima de 10 pessoas, e tirar a máscara, desde que todos estejam vacinados, sem sintoma, mas mantendo os cuidados de higienização das mãos. As crianças presentes devem estar bem de saúde, sem queixas. Às vezes, desconsideramos uma coriza, “é só o narizinho escorrendo”. Se tiver mesmo um sintoma leve, coriza, tosse mais persistente, espirro, elas devem evitar o contato com os idosos e pessoas do grupo de risco, porque as crianças abaixo de 12 anos não foram vacinadas. Os idosos devem, de preferência, ficar em ambientes mais ventilados. As pessoas podem se cumprimentar? Sim, mas, principalmente, idosos muito frágeis ou alguém que seja do grupo de risco, como um paciente oncológico, devem ser cumprimentados de uma forma mais distante ou passar álcool nas mãos antes de cumprimentá-los. Deve-se evitar falar muito próximo do outro, se for um idoso muito frágil ou um paciente em tratamento quimioterápico evitar beijar no rosto. Beije no ombro. O ideal é ficar próximo, mas sem precisar tocar. Leia a entrevista completa na edição 189.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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