Arquivos Entrevistas - Página 16 de 29 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

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"A Rnest vai duplicar a movimentação de Suape e a Transertaneja vai triplicá-la"

No ano passado, Algomais entrevistou Roberto Gusmão, o presidente do Complexo de Suape que estava cheio de planos e enfrentando muitos desafios. Alguns foram concretizados e superados, como a Transertaneja, que será a primeira integração ferroviária do porto. Foi uma solução gerada num esforço conjunto de políticos e empresários, para o problema da Transnordestina cujas obras estavam inconclusas há anos. Mas outros obstáculos persistem, como a dificuldade em retomar a autonomia de Suape, cuja gestão hoje é federalizada. Apesar disso, o saldo tem sido positivo para o complexo portuário e industrial que teve um aumento no faturamento no ano passado de 14%, chegando a R$ 300 milhões. E as perspectivas também são promissoras com a aprovação do projeto BR do Mar que incentiva a cabotagem, a retomada das obras da refinaria e a implantação de um terminal de regaseificação, que vai permitir o aumento da concorrência no fornecimento de gás. A área industrial do complexo também promete investimentos estratégicos com a instalação de plantas de produção de hidrogênio verde. Os planos de Gusmão são ambiciosos: “Não queremos ser apenas um exportador de hidrogênio verde para combustível, queremos produzir aqui ingredientes para a atração da indústria verde no Complexo Industrial de Suape”. Confira a entrevista: O projeto da nova ferrovia ligando Piauí a Suape vai aproveitar algum trecho já construído da Transnordestina? Ela terá recursos públicos? Existia um projeto de lei no Senado, o PLS 261 (que trata de novos instrumentos de outorga para ferrovias em regime privado). Havia também uma medida provisória tratando do mesmo assunto. O Ministério da Infraestrutura, o Governo de Pernambuco e outros governos pressionaram para que o ministro Tarcísio de Freitas não aguardasse apenas a aprovação da lei. Por isso, foi feita uma medida provisória em praticamente igual teor ao do projeto de lei. Tanto o PL como a MP não limitam que os atores envolvidos possam conversar e, se for o caso, aproveitar trechos em compartilhamentos de qualquer empreendimento. O que a gente espera com o desfecho que conseguimos estabelecer — com muita ajuda do ministro da Infraestrutura, da grande mobilização que foi feita da bancada federal pernambucana e dos empresários — é que haja um entendimento que possa facilitar o tempo de execução da obra. Acontece o seguinte: o que define é a carga, não é o governo, não é o terminal. E a carga (no caso, a empresa Bemisa que construirá a ferrovia) colocou bem claro que Suape tem melhor condição de fazer esse escoamento. Achamos importante que a Transnordestina cumpra o que está no contrato que é terminar o trecho até Pecém (CE) e que tenhamos uma competição entre os portos de outras cargas envolvidas. Grande parte do trecho de Curral Novo (PI) até Salgueiro está pronto e se houver um entendimento seria interessante. Mas, de toda forma vai dar certo. Os recursos para a construção da ferrovia são 100% privados. Essa é a diferença do que é uma concessão pública e o que é uma autorização de outorga. A empresa vai construir a ferrovia independentemente da Transnordestina – que foi o que a gente batalhou sempre: sair desse imbróglio da Transnordestina. Trata-se de um projeto verticalizado da Bemisa que tem a mina de minério de ferro, a ferrovia e o terminal de minérios na Ilha de Cocaia. O ministro Tarcísio deu início ao processo de consulta pública para que a Ilha de Cocaia seja retirada da área do Porto Organizado de Suape, tornando viável a instalação de um terminal privado de minério de ferro. A ferrovia vai se chamar Transertaneja e será a primeira integração ferroviária em Suape, o que vai ser muito importante para Pernambuco, um empreendimento que promoverá uma mudança econômica, talvez maior que a instalação de Suape há 43 anos. As obras da segunda etapa da Refinaria Abreu e Lima serão retomadas. Qual o impacto disso para Suape e para o Estado? A refinaria foi projetada para processar 230 mil barris diários e só estava operando a 115 mil barris/dia. O investimento da Petrobrás é de quase US$ 1 bilhão e é extremamente importante porque dobra a movimentação de Suape e a Transertaneja vai triplicá-la, saindo de 25 milhões de toneladas por ano para 75 milhões a 80 milhões de toneladas/ano no médio a longo prazo. Então, consolidamos Suape como hub e como um dos três principais portos do Brasil. Como estão as negociações com a Qair para instalar a planta de hidrogênio verde em Suape? Temos um protocolo assinado não só com a Qair, mas também com seis outras empresas interessadas no hidrogênio verde. O Nordeste brasileiro e a Austrália são qualificados como regiões foco desse novo mercado. A Qair já tinha feito os projetos básicos para poder implantar parte da planta até 2026. Mas não queremos ser apenas um exportador de hidrogênio verde para combustível, queremos produzir aqui ingredientes para a atração da indústria verde no Complexo Industrial de Suape. A produção do hidrogênio se dá por meio da tecnologia da eletrólise da molécula de água separando o hidrogênio do oxigênio. A faísca da energia elétrica que produz a quebra da molécula pode vir do gás, originando o hidrogênio azul, ou do carvão (hidrogênio cinza). No caso do hidrogênio verde, a eletricidade pode ser originária de três fontes: solar, eólica ou hídrica, que é o que temos aqui no Nordeste, principalmente solar e eólica. O processo de eletrólise existe há mais de 80 anos, e pode produzir o hidrogênio, mas também o oxigênio. Temos aqui a fábrica da White Martins que produz esse gás, então poderemos ter uma oferta de oxigênio. Nós vimos a importância dele agora na pandemia. Quando ocorre a mistura do hidrogênio com o nitrogênio, tem-se a amônia. Somos importadores desse insumo, principalmente na parte de fertilizantes. Isso pode agregar valor não só à agricultura, mas também à indústria, já que a amônia é insumo na fabricação de produtos como biscoitos e lácteos. A chamada nova indústria verde, de emissão de carbono zero, é a que queremos atrair. Grande parte das empresas

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"A gente pretende transformar o Centro Histórico do Recife para diversos usos e atividades".

Durante muito tempo assistimos à deterioração do Centro do Recife. Imóveis abandonados, calçadas ocupadas de forma ilegal, assaltos e ruas vazias, principalmente à noite e fins de semana. De uns anos para cá, houve uma mobilização da sociedade civil, de empresários e do poder público para reverter esse cenário de decadência. Debates sobre alternativas para revitalizar a área onde o Recife nasceu ficaram cada vez mais frequentes e soluções, aos poucos, começam a ser implantadas. Faltava uma governança que congregasse todas essas ações e impulsionasse a melhoria da região, preservando seu rico patrimônio. Até que no final do ano passado, foi criado pela Prefeitura do Recife o Escritório de Gestão do Centro do Recife, chefiado por Ana Paula Vilaça. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela abordou as ações para executar o Recentro, um amplo programa que prevê o incentivo a moradias na região central e novos empreendimentos, além de estimular a tecnologia e a inovação. O objetivo é tornar o Centro “um lugar bom para morar, para investir e para viver”. Quais são seus planos à frente do Escritório de Gestão do Centro do Recife? Estou muito confiante de que o Programa Recentro vai colocar a área central do Recife em um novo patamar de desenvolvimento, combinando o estímulo à moradia com a chegada de novos empreendimentos privados e investimentos públicos, modificando o cenário atual e tornando o ambiente favorável para quem deseja investir e fixar moradia de longa duração no centro histórico de nossa cidade. Essa região que o Recentro engloba está no coração e no imaginário de todo morador do Recife. É lá que o comércio popular é pulsante, tem força. É lá que boa parte da atividade cultural da cidade se materializa. Onde encontramos os principais equipamentos turísticos e de lazer, sem falar no potencial econômico de ter o maior ecossistema de tecnologia e inovação às margens dos rios Capibaribe e Beberibe, com o Porto Digital. Diante de tudo isso, a expectativa é muito boa e, ouvindo os diversos setores com atuação nos bairros do Recife, São José e Santo Antônio, conseguiremos ao longo dos próximos meses estabelecer canais de diálogo e estruturar projetos para termos entregas concretas à população. Uma das propostas para o centro é o Corredor do Comércio, um projeto da CDL (Câmara de Dirigentes Lojistas). O que a senhora acha desse projeto e quais as chances de ser implantado? Com o passar dos anos e a presença cada vez maior dos shopping centers no dia a dia da população, o tradicional comércio de rua da cidade, aquele que remonta à nossa ideia de “vamos no Centro”, foi se perdendo com o tempo. Mas é lá no “Centro da cidade” que a gente, ainda hoje, encontra uma variedade muito grande de produtos, na maioria das vezes, com preços muito mais competitivos do que encontramos nos shoppings. Temos um polo comercial pujante que começa na Rua da Imperatriz, emendando com a Rua Nova e desembocando na Avenida Dantas Barreto. Nesse itinerário e no seu entorno, encontramos tradicionais lojas do Varejo. É que é importante a gente aglutinar ações, enquanto poder público municipal, para estimular o retorno dos consumidores à região, gerando emprego e renda e movimentando nossa economia. Dois problemas apontados pela CDL para a viabilidade do projeto são a segurança e a ocupação ilegal das calçadas. Quais as propostas para resolver essas dificuldades? A ideia de estimular a moradia e a ocupação desses bairros em todos os horários do dia e todos os dias da semana vai nos ajudar a resolver o gargalo da segurança pública. Isso porque, com as pessoas morando e vivendo o cotidiano nesses locais, a vigilância social, combinada com a atração de novas atividades econômicas, a exemplo de supermercados, farmácias, minimercados, restaurantes e várias atividades, provocam uma nova dinâmica e ativação do nosso Centro Histórico, restaurando a sensação de segurança na área. Leia a entrevista completa na edição 190.2: assine.algomais.com

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"Uma das coisas mais emocionantes da Usina de Arte é ver como as pessoas do local mudaram".

A arte salva. É o que preconizam expoentes de diversas modalidades artísticas. Um exemplo interessante dessa redenção aconteceu na Usina Santa Terezinha, desativada no final dos anos 1990, quando deixou sem perspectivas a comunidade de seis mil pessoas que moram no distrito da cidade de Água Preta, na Zona da Mata Sul, onde está localizada. Mas toda essa decadência foi ressignificada com a sua transformação em Usina de Arte. Renomados artistas plásticos fazem estadia no espaço e produzem obras que compõem o cenário do exuberante jardim botânico cultivado com espécies de várias localidades do mundo. Se a produção da monocultura da cana devastou a mata atlântica, agora, com o plantio do parque, até os jacarés e as tartarugas voltaram a frequentar a região. Do contato com o projeto, várias pessoas da comunidade tornaram-se microempreendedores de restaurantes, pesque-pague, guia de turísticos e de trilhas. A vivência com a arte fez também brotar dois artistas da região que têm obras expostas no parque. Oficinas são oferecidas aos alunos das seis escolas existentes dentro da usina com temas que vão da fotografia à operação de equipamentos numa fab lab (do inglês fabrication laboratory, laboratório de fabricação). Nesta conversa com Cláudia Santos, a presidente da Usina de Arte Bruna Pessoa de Queiroz, conta a história dessa metamorfose orquestrada por ela e o marido Ricardo, que contaram com o auxílio luxuoso de vários artistas. E, para aqueles que quiserem diversificar uma programação de verão que não seja só de praias, o parque artístico-botânico e o seu entorno reserva atrações que vão da arte contemporânea, trilhas, a banhos na barragem, entre outras diversões. Como surgiu a ideia da Usina de Arte? A Usina Santa Terezinha foi construída pelo coronel José Pessoa de Queiroz, bisavó do meu marido, Ricardo Pessoa de Queiroz, que passou a infância dele na usina. Como toda usina de cana, atravessou suas crises, teve vários percalços com o governo militar e a sua última moagem foi no final da década de 1990. E ficou fechada esse tempo todo. Sou prima do meu marido e quando começo a namorar com ele, queria muito conhecer a usina, porque era muito comentada na minha família. Mas para Ricardo era uma relação mais difícil de perda. A usina foi tomada da família até ser novamente recuperada e isso causava um certo trauma. Passou-se um tempo até reabrir a casa e começar a frequentá-la. As pessoas da comunidade local estavam diariamente lá pedindo para voltar a funcionar a usina. Não acreditávamos mais nesse caminho, depois de 20 anos. Começamos a pensar como isso poderia ser feito. Fizemos uma visita a Inhotim e nos apaixonamos pela proposta. Convidamos um artista, que tem muitas peças expostas lá, Hugo França para vir para usina. Ele vem e faz o primeiro trabalho e vira um grande amigo. Ele retornou em 2013, 2014 e 2015 e nos sugeriu que convidássemos outros artistas. Então, por diversos caminhos, chegamos ao nome de José Rufino, que é convidado a pensar uma obra para a usina. Ele termina virando nosso parceiro e nesse momento nasce o projeto sem muita formatação. Nesse mesmo ano, visitamos a SP-Arte, porque já que escolhemos esse caminho, fomos aprofundar os conhecimentos, e novamente Hugo nos apresenta a Fabio Delduque, realizador do Festival de Arte Serrinha, em Bragança Paulista (SP). Foi uma sinergia gigante porque esse festival é realizado numa antiga fazenda de café e somos uma fazenda de cana. Fábio ia sair numa itinerância com um grupo de artistas. Já estava certa uma viagem para a Ilha do Marajó (PA) e Serra da Moeda (MG) e estava faltando a conexão com o Nordeste. A primeira itinerância da Serrinha aconteceu aqui na usina em novembro de 2015. Foi muito mágico. Não havia público externo, apenas a comunidade e o grupo de artistas. Achamos que era importante incluir o cenário artístico local. Fizemos alguns convites para alguns artistas do Recife participarem. Foram seis dias numa imersão, realizamos oficinas, tivemos uma performance no final do festival com os alunos , a bailarina Lu Brites e Benjamim Taubkin tocando piano na instalação da antiga usina. Foi muito, muito bonito. No final desse festival formalizamos como a usina iria funcionar. Em janeiro de 2016 nos tornamos, oficialmente, uma associação. Mas digo que estreamos em 2015, quando já atuava na usina com um pensando mais voltado para a comunidade. A partir daí desenvolvemos diversas ações, convites para residências artísticas e elegemos vários projetos. Fale um pouco do museu de arte e por que a escolha pela contemporânea. Nós o chamamos de Parque Artístico Botânico, outros chamam de museu a céu aberto. A arte contemporânea é o que há de mais atual e é uma forma de comunicar um pensar artístico muito amplo. Encontramos nesse caminho uma ferramenta boa de troca. Os artistas estão muito permeáveis e se permitem trocar com a comunidade. Rufino foi o primeiro e foi muito mágico o período que ele passou em imersão. Ele foi curador do projeto durante alguns anos. Para nós, a participação da comunidade é muito importante. Passamos a convidar a artistas que tivessem a disponibilidade de ir à comunidade, trocar, entender, conversar, explicar um pouco do trabalho realizado. Tudo que fazemos parte de dentro da comunidade para fora. O artista é convidado a conhecer a usina, ele fica quanto tempo achar necessário, não temos um cronograma muito fixo para sua permanência. Depois ele retorna, pensa numa proposta que passa pelo conselho curatorial, o artista discute com o conselho e após a aprovação, esse artista começa a frequentar a usina para instalação dessa obra. Sempre realizamos aulas, conversas com a comunidade e, muitas vezes, a obra nasce dessa troca com o espaço, com a história e com as pessoas do lugar. E como é o Parque Botânico? Como se trata de um jardim botânico, temos plantas de todos os continentes. Ainda é um projeto, mas já fazemos parte da Rede Brasileira de Jardins Botânicos, temos parcerias com jardins do País todo, recebemos biológicos do Kews Garden (do Reino Unido). Um dos

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"Pessoas consumistas voltaram a comprar com muita avidez"

Logo no início da pandemia, fizemos uma matéria na Algomais sobre o comportamento do consumidor e uma das principais fontes foi o consultor de branding e pesquisador Fernando Lima, do escritório de inteligência de marca änimä. Agora, às vésperas de a crise da Covid-19 completar dois anos, o que mudou? Ele deu algumas respostas surpreendentes nesta conversa com Cláudia Santos. Quem apostava que as pessoas ficariam mais solidárias após esse drama coletivo que vivemos, errou na previsão segundo o especialista. “Quem já tinha empatia ampliou muito essa sua visão empática, mas quem não tinha, não mudou muito, pelo contrário. Uma coisa que as pesquisas estão identificando é que as pessoas estão, de certa forma, até mais egoístas”. Já os consumistas, voltaram a comprar com intensidade, principalmente sapatos e roupa. Os impactos da COP 26 e do home office também são analisados pelo consultor de branding que tem detectado uma maior valorização das pessoas aos momentos de descanso. “Elas estão querendo aproveitar a vida e menos dispostas a se matar de trabalhar.” O que as mais recentes pesquisas apontam sobre o comportamento do consumidor após quase dois anos de pandemia? Nós, da änima, estamos fazendo pesquisas mas também lemos muito sobre outras pesquisas realizadas. A pandemia num primeiro momento assusta muito as pessoas, depois tem o poder de mudar hábitos e comportamento. Mas o que constatamos é que é importantíssimo ouvir as pessoas no início de pandemia quando surgem os medos, que têm a capacidade de impactar a ponto de mudar o comportamento e os hábitos. Mas é fundamental, num segundo momento, entender como essas mudanças de hábitos e comportamentos estavam se consolidando. E ao final da pandemia – tomara que seja este momento que vivemos agora – é importante pesquisar mais uma vez para saber o que permaneceu e o que foi embora. A pandemia teve uma jornada e é fundamental acompanhar essa jornada. Quem trabalha com pesquisa não pode olhar para ela como números absolutos, mas como um retrato que capta a realidade daquele momento, sob a perspectiva que as coisas mudam. Agora, respondendo a sua pergunta: nunca fizemos tanta pesquisa e isso significa que os clientes querem saber como o consumidor está pensando. Somadas as informações das nossas pesquisas com o que o mercado está dizendo detectamos que, assim como foi verificado nas primeiras pesquisas, aspectos relacionados à saúde e ao bem-estar permanecem. As pessoas estão mais preocupadas com a saúde, retornando ao médico, houve um aumento na realização dos exames. As pessoas querem entender o que está acontecendo com a saúde delas. Elas precisam se sentir mais protegidas e preparadas. A saúde inclusive hoje vive um outro momento. Passamos muitos tempo querendo curar a doença, depois passamos a aprender que é melhor se proteger da doença e agora aprendemos um item novo que é nos prepararmos para o futuro. Novas pandemias vêm por aí e novas cepas também podem vir e temos que estar preparados. Sobre aquelas questões mais comportamentais, ficou consolidado que quem já tinha empatia ampliou muito essa sua visão empática, mas quem não tinha, não mudou muito, pelo contrário. Uma coisa que as pesquisas estão identificando é que as pessoas estão, de certa forma, até mais egoístas. Observe o trânsito, as pessoas estão nervosas, querendo resolver a vida delas, querendo chegar logo em casa, não estão nem aí para o outro, para quem está no trânsito, para quem divide aquele espaço com elas. Estou fazendo duas pesquisas sobre o trânsito e a mobilidade. Todas as classes sociais falam da angústia que é encarar o trânsito hoje. As pessoas estão mais nervosas, mais ansiosas, e isso passa pelo individualismo e gera egoísmo. Então, quem não tinha empatia se tornou até mais egoísta. É um ponto ruim de ser debatido. Se elas tivessem aprendido sobre a empatia talvez diminuíssem um pouco essa ansiedade. Há muita gente tentando procurar as saídas, buscando tratamentos psicanalíticos. Muitas pessoas entenderam também que já eram ansiosas ou deprimidas, mas estar dentro de casa permitiu ter mais tempo para se perceberem melhor. E em termos de consumo, o que mostra este momento da pandemia? Há aspectos muito interessantes. Pessoas consumistas voltaram a comprar com muita avidez, principalmente calçados. O consumidor passou muito tempo sem usar sapatos e esse produto passou a vender muito. A roupa também voltou a vender mais. Houve um impacto positivo da pandemia: a roupa se tornou mais confortável e essa tendência se mantém. Passamos muito tempo de pijama e as pessoas perceberam que usar um moletom é muito mais confortável do que uma calça jeans pesada. Outro mercado que está dando pistas muito interessantes é o mercado imobiliário que não sofreu na pandemia – apenas nos três primeiros meses, quando ninguém sabia o que ia acontecer, mas depois ele voltou a emergir muito rapidamente e com muita força. Agora é um momento para observar se ele arrefece ou se continua forte. A minha dúvida é: será que as pessoas vão diminuir esses investimentos na compra de produtos de longo prazo, como um imóvel, ou elas vão voltar a querer viver com prazer, o que significa ir para restaurante, shoppings e viagens, que são experiências que custam caro? Muitas pessoas investiram na segunda moradia, compraram uma casa na praia ou em Gravatá. Mas aconteceu algo interessante: já não era mais a geladeira mais ou menos que estava na primeira casa que levaram para a casa da praia. Não. Foi a melhor geladeira, a melhor cervejeira, o melhor fogão que foi para a segunda casa, porque foi justamente o local onde os consumidores passaram a receber as pessoas. De maneira geral, entendo que o Recife já vinha num movimento muito positivo antes da pandemia com o surgimento dos restaurantes com formato de casa, com quintal, como o Ca-Já, Arvo, Trattoria da Dani. São lugares abertos. Isso aí, não tem mais volta, está consolidado. Não é que um Leite vá acabar, mas os novos restaurantes devem preferir esse conceito, até em razão das medidas sanitárias que devem permanecer. As pessoas se

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"Temos uma Argentina inteira de famintos no Brasil hoje".

Assim como Josué de Castro, autor de Geografia da Fome, José Graziano da Silva atuou na FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) onde, da mesma forma que o médico pernambucano, contribuiu com seu conhecimento para ajudar a reduzir a insegurança alimentar no mundo. Infelizmente, a realidade do Brasil hoje está muito similar à de 76 anos atrás, quando Castro lançou sua obra clássica. Cláudia Santos conversou sobre essa situação com Graziano, que foi também ministro, ex-ministro Extraordinário de Segurança Alimentar e Combate à Fome do Governo Lula e idealizador do Fome Zero, programa que retirou o Brasil do mapa da fome. Ele analisou porque retornamos a essa crise humanitária e apontou as soluções urgentes que podem “e devem” ser implantadas por prefeitos e governadores. Também alertou que será fundamental implantar um programa para educar a população a comer alimentos saudáveis e garantir a ela o acesso a esses produtos. Afinal, assim como pensava Josué de Castro, Graziano afirma que não é a falta de alimentos nem mesmo a pandemia que provocam a fome, mas a falta de dinheiro dos brasileiros, agravada com a crise da Covid-19. O que mostram os dados mais recentes sobre a fome no Brasil? Vamos falar de segurança alimentar, que é o conceito que se utiliza para medir a fome. Segurança alimentar é quando uma pessoa tem acesso à quantidade de alimentos necessária para ter uma vida saudável, são as famosas três refeições diárias: café da manhã, almoço e jantar, a que se referia tanto o presidente Lula. Os dados de insegurança alimentar no Brasil seguem a escala chamada Ebia (Escala Brasileira de Insegurança Alimentar) que classifica a insegurança alimentar grave, quando a pessoa deixou de comer pelo menos um dia, no período da entrevista da avaliação (pesquisa). Segurança alimentar moderada é quando ela sacrificou a quantidade dos alimentos, deixou de fazer, por exemplo, uma das três refeições ou comeu menos do que achava que era necessário para a sua sobrevivência. Insegurança alimentar leve é quando a pessoa, por falta de dinheiro, sacrifica a qualidade dos alimentos, deixa de comer carne, por exemplo, e passa a comer salsicha ou mesmo abole as frutas, verduras, legumes e passa a comer só macarrão, farinhas, produtos energéticos. Os dados da última pesquisa da Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar), para dezembro 2020, mostram uma insegurança alimentar grave atingindo 9% da população brasileira e uma insegurança alimentar moderada atingindo 11,5%. Somadas as duas, resulta em mais de 20%. Ou seja, uma de cada cinco pessoas entrevistadas disse que passou fome no período da avaliação. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) contabilizaram um número um pouco maior que isso, aproximadamente 24%, o que significa que um de cada quatro brasileiros passava fome em dezembro de 2020. Constatou-se também que praticamente 35% dos brasileiros sofriam de insegurança alimentar leve, ou seja, sacrificavam a qualidade dos alimentos consumidos porque não podiam pagar pelos alimentos de boa qualidade, como produtos frescos, frutas, verduras e legumes e carnes. Isso dá um total de 55% da população brasileira em insegurança alimentar. É a primeira vez na história do Brasil que temos a maioria população brasileira sofrendo insegurança alimentar, como se pode ver na série que começa em 2004 (gráfico da página 14). Chegamos a ter em 2013, às vésperas de o Brasil sair do mapa da fome, praticamente 80% da população brasileira com segurança alimentar. Esse número drasticamente cai para 45% em dezembro de 2020. Infelizmente não temos a pesquisa ainda para 2021. O único dado disponível é da Unicef que usa uma metodologia similar, não é exatamente a mesma, e que constatou que 17%, ou seja, cerca 27 milhões de brasileiros maiores de 18 anos deixaram de comer porque não havia dinheiro para comprar mais comida no domicílio. Essa pesquisa se refere ao mês de abril de 2021, quando já não havia Auxílio Emergencial. Como está a fome no Nordeste? A fome no Nordeste é muito pior. Dados da Rede Penssan mostram que a região tem 14% de pessoas com insegurança alimentar grave, 17% sacrificando a quantidade de comida (insegurança alimentar moderada), o que resulta num total de 31% com insegurança alimentar moderada ou grave, que é o indicador utilizado para medir a fome nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, da Agenda 2030 (da ONU). Veja que outros 41% dos nordestinos sofrem insegurança alimentar leve. Então, nós temos um quadro realmente assustador. Apenas 28% dos nordestinos têm segurança alimentar, 31%, ou seja, praticamente um de cada três passa fome de alguma maneira ou deixa de comer de vez ou come menos do que devia, e 41% come mal. Ao se comprar a situação no Brasil e no Nordeste, há sempre uma proporção maior de pessoas passando fome na região, em todas as categorias, o que dá um valor de quase 72% da população nordestina com insegurança alimentar. São 17 milhões de pessoas ou mais em dezembro de 2020 passando fome na região contra aproximadamente 43 milhões no Brasil nesse período. Quais os fatores que levaram a esse recrudescimento da fome no País e qual o impacto que teve a pandemia? Vale a pena destacar que antes mesmo da pandemia, os dados do IBGE de 2018 apontam que o Brasil já havia voltado ao mapa da fome porque tínhamos 5,8% da população em insegurança alimentar grave. Nós consideramos que um país passa fome pelo critério da FAO, quando mais de 5% da população está nesse limiar. Então, não é a pandemia que causa a fome mas a pandemia, sim, agravou muito a situação no Brasil, porque a fome no País é um problema de falta de renda. Não faltam alimentos, falta dinheiro para comprar os alimentos. Com a pandemia, aumentou muito o nível de desemprego e a informalidade e o País deixou de crescer. Um país que não cresce, não gera empregos. Isso é agravado pelo baixo nível da remuneração daqueles que estão ocupados ou subocupados no setor informal. O salário mínimo

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"Se todos estiverem vacinados e sem sintomas, pode-se tirar a máscara nos pequenos grupos familiares no Natal"

Após quase dois anos de pandemia e com o avanço da vacinação, o que se pode ou não fazer para evitar o contágio da Covid? Como se comportar nas reuniões familiares de fim de ano? E nas viagens de avião? Para esclarecer essas dúvidas, Cláudia Santos conversou com a infectologista Millena Pinheiro, supervisora médica da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Português. A especialista também comenta o que se sabe até agora sobre a nova variante Ômicron, analisa o ressurgimento de casos e mortes pelo coronavírus na Europa e ressalta que os casos da doença que chegam hoje ao hospital são, em sua maioria, mais brandos. “As formas, mesmo as graves, estão ficando mais leves, por causa da vacina. E sempre que alguém se interna e é grave, é uma pessoa que não se vacinou”. Como a senhora analisa o cenário da Covid no Brasil e em Pernambuco? Em Pernambuco, estamos numa estabilidade de casos graves, agudos, leves e também de óbitos. Há uma quantidade baixa de casos, que não deixam de surgir, mas não estão acarretando sobrecarga aos hospitais. Mas existe o viés de que testamos menos que os países da Europa, porém, se há vírus circulando, ele deve ser responsável por casos muito leves ou assintomáticos que não estão chegando ao sistema de saúde. Temos quase 74% da população de Pernambuco vacinada (dado referente ao dia 29/11), então, provavelmente, isso seja um bloqueio para a disseminação do vírus. Acho que o Brasil vem acompanhando a mesma média. Muitos Estados estão liberando a circulação de pessoas. Essa é a grande questão do momento: o que vai acontecer com esse aumento de circulação de pessoas em ambientes fechados, como shows? Isso está causando uma grande polêmica, com as entidades se posicionando contra, como o Cremepe e o Sindicatos dos Médicos em Pernambuco. Diante desse novo momento da pandemia, o que se pode e não se pode fazer? O que se deve fazer: continuar usando máscaras, principalmente quando você sai de casa. Na sua residência, em reuniões familiares com um grupo pequeno de pessoas, estando todos vacinados, sem queixas ou sintomas, você pode tirar a máscara. Agora, num local onde você não conhece as pessoas, não sabe se elas estão vacinadas completamente, ou estão com algum sintoma, a melhor maneira de controlar essa situação é o uso de máscara. As pessoas devem se vacinar, oferecer ajuda, orientação para quem não se vacinou completamente, ponderar bastante o impacto que possa ter ao participar desses eventos divulgados na mídia: você tem grupo de risco em casa? Você está completamente vacinado? Esse show ou evento vai pedir comprovante de vacinação com pré-requisito para a entrada? Sei que as pessoas estão cansadas, muitas estão depressivas, querem voltar a ter um convívio social, porém chegamos até aqui e a nossa tendência é não regredir. Se a gente regredir, em alguma medida será um impacto ruim para todos. É um momento de muita precaução. Quais os cuidados que se deve tomar nos encontros de final de ano, como o Natal? Esse questionamento foi muito discutido no ano passado, quando estávamos com uma circulação maior do vírus, começando a subir o número de casos e, por isso, recomendamos que fossem feitos pequenos grupos, no máximo 10 pessoas, que estivessem sem sintomas, que preferencialmente se evitasse a presença de grupos de risco e idosos, mas caso estivessem presentes, tivessem distanciamento das demais pessoas. Todos deveriam usar máscaras, porque ainda não estávamos vacinados. Este ano o que pode mudar: agora que estamos vacinados, podemos aumentar o nosso grupo familiar que vai participar dessas reuniões para um pouco acima de 10 pessoas, e tirar a máscara, desde que todos estejam vacinados, sem sintoma, mas mantendo os cuidados de higienização das mãos. As crianças presentes devem estar bem de saúde, sem queixas. Às vezes, desconsideramos uma coriza, “é só o narizinho escorrendo”. Se tiver mesmo um sintoma leve, coriza, tosse mais persistente, espirro, elas devem evitar o contato com os idosos e pessoas do grupo de risco, porque as crianças abaixo de 12 anos não foram vacinadas. Os idosos devem, de preferência, ficar em ambientes mais ventilados. As pessoas podem se cumprimentar? Sim, mas, principalmente, idosos muito frágeis ou alguém que seja do grupo de risco, como um paciente oncológico, devem ser cumprimentados de uma forma mais distante ou passar álcool nas mãos antes de cumprimentá-los. Deve-se evitar falar muito próximo do outro, se for um idoso muito frágil ou um paciente em tratamento quimioterápico evitar beijar no rosto. Beije no ombro. O ideal é ficar próximo, mas sem precisar tocar. Leia a entrevista completa na edição 189.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"Empresas podem e devem contribuir para minimizar a síndrome de burnout."

Além de enfrentarem as angústias e os medos provocados pela pandemia, de terem que se adaptar inesperadamente ao home office, com uma grande sobrecarga de trabalho, muitos profissionais recebem uma dose extra de estresse com a chegada o final do ano. É quando o cotidiano fica ainda mais corrido e há um aumento de expectativas para o início de um ciclo e a necessidade de finalizar projetos pessoais e profissionais. Um quadro estressante que pode resultar num aumento de casos da síndrome de burnout. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a psicóloga e consultora da TGI Luciana Almeida, explica o que é essa doença ocupacional, como a pandemia impactou a sua disseminação e como pode ser tratada. Luciana também dá dicas de prevenção para os profissionais e defende medidas adotadas no ambiente de trabalho para evitar que os funcionários sejam acometidos pela síndrome. “Ações institucionais e o apoio das lideranças no dia a dia podem fazer muita diferença na qualidade de vida dos profissionais”, alerta a psicóloga. O que é a síndrome de burnout? A síndrome de burnout, também conhecida como síndrome do esgotamento, é uma doença ocupacional caracterizada pela fadiga extrema e absoluta falta de energia e capacidade laboral. Esse termo foi criado em 1974 por um psicanalista norte-americano para descrever o próprio adoecimento. Também pode-se descrever como um estado de adoecimento do indivíduo devido à exaustão e ao cansaço extremos quando relacionados ao trabalho. É um distúrbio emocional que vem sendo cada vez mais comum entre profissionais que assumem uma alta carga de atividades e responsabilidades, trabalham intensamente e em ambientes de muita pressão por resultados e produtividade. Ao mesmo tempo, é comum que, diante de um cenário mais exigente de trabalho, profissionais acabem reduzindo o investimento em atividades que podem fazer o contraponto com o trabalho. Ou seja, reduz o tempo de lazer, os momentos em família, a prática de atividades físicas, o tempo para uma alimentação mais regular e saudável, etc... Essa é uma doença bastante comum entre os profissionais de saúde ou outros que lidam com o sofrimento humano. Porém, cada vez mais, vem se alastrando dentro das empresas também. Uma pesquisa realizada pelo Isma (International Stress Management Association) com pessoas entre 20 e 60 anos apontou que no Brasil 30% dos profissionais sofrem com a doença. Mas atenção: é importante compreender que burnout é um desequilíbrio entre fatores profissionais, pessoais e sociais. Pode- -se dizer que é a soma do excesso de demandas e exigências profissionais, aliada a um perfil também de muita exigência pessoal, e junto com a diminuição do cuidado com a saúde, do tempo para atividades prazerosas que resultam nesse estado de adoecimento e passa a ser bastante preocupante. Quais são os sintomas? Normalmente os sintomas são percebidos pelo indivíduo ou pela família, mas também é comum que no próprio ambiente de trabalho fique fácil de identificar o adoecimento do profissional, afinal, alguns dos primeiros sinais do burnout são a queda de produtividade e a incapacidade de trabalhar. Junto a isso, o profissional também pode apresentar um quadro de aumento da ansiedade, impaciência, mudança no apetite gerando emagrecimento ou sobrepeso, cansaço extremo e falta de vigor físico, dores de cabeça, insônia e tensão muscular. Também é comum que o pensamento fique mais negativo, confusão mental, medo e insegurança, tristeza e, às vezes, pode até chegar ao quadro de depressão profunda. É por isso que há necessidade de buscar ajuda diante dos primeiros sinais de adoecimento. É fundamental que esse quadro seja avaliado por um profissional de saúde capaz de identificar a presença da doença e sugerir o tratamento adequado. A síndrome é mais presente em homens ou mulheres? Por quê? Pesquisas têm mostrado que as mulheres são mais suscetíveis ao burnout. A explicação mais comum está na reunião de atividades e no acúmulo de funções normalmente mais presente na população feminina. Ou seja, além da dedicação ao trabalho, as mulheres também tomam a frente das atividades domésticas e do cuidado com a família, marido e filhos, gerando uma sobrecarga física e mental. Existem ainda pesquisas que apontam que é comum o direcionamento às mulheres de algumas atividades “extracurriculares”, como por exemplo, a organização do ambiente de trabalho e as atividades de convivência social como festas, lanchinhos, etc. Outra questão, já muito discutida em pesquisas, trata da diferença salarial que existe entre homens e mulheres. Esse é um dado real que também dialoga com a falta de reconhecimento das profissionais no ambiente de trabalho, a necessidade de maior engajamento e o esforço para atender expectativas, maior risco de vivenciar situações de assédio moral e sexual, entre tantos outros desafios de gênero que aumentam o nível de estresse que acomete as mulheres no trabalho. Qual a sua orientação para evitar o burnout? Investir em autoconhecimento é muito importante. Dessa forma será possível entender melhor os gatilhos para a crise e como evitá-la. Buscar alternativas que possibilitem o maior equilíbrio entre o trabalho e o prazer também contribui. Avaliar se o estresse causado pela atividade profissional pode estar associado ao desinteresse ou à falta de gosto pelo que se faz. Essa falta de associação de prazer e trabalho geralmente é muito prejudicial. É mais saudável quando conseguimos encontrar propósito no que fazemos, por exemplo. Buscar uma rotina mais equilibrada também ajuda a não esticar tanto a corda do estresse e não deixar que ela se rompa ou perca a elasticidade. Nesse contexto é importante praticar atividade física, ter uma boa rotina de sono, investir em uma boa alimentação e buscar momentos de descanso com a família e amigos. De toda forma, conseguir identificar o quanto antes os primeiros sinais de desconforto e buscar ajuda logo no primeiro momento é o grande passo para não adoecer de forma grave. LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA NA EDIÇÃO 188.4 DA REVISTA ALGOMAIS: assine.algomais.com

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"Investir em infraestrutura será um dos pilares do mundo para a retomada econômica"

Para fazer frente aos estragos econômicos e sociais causados pela pandemia, vários países elaboraram projetos de retomada baseados em fortes investimentos em infraestrutura. É o caso, por exemplo, do Plano Biden, nos Estados Unidos. A premissa é de que seja uma estratégia que além de aumentar a produtividade e reduzir custos dos setores econômicos, recupera a economia e gera empregos. Pernambuco segue essa linha de desenvolvimento com o Plano de Retomada. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a secretária de Infraestrutura do Estado Fernandha Batista detalha esses investimentos e os desafios para concretizar as obras. Com formação em engenharia civil, ela também comenta o fato de chefiar uma área onde até então havia predominância masculina e afirma que “não está na pauta” se candidatar ao Governo do Estado nas próximas eleições, já que seu nome tem sido citado pela mídia em análises sobre o próximo pleito. Economistas defendem que investimentos em infraestrutura geram ganhos de produtividade e economia de custos para todos os setores econômicos e auxiliam na recuperação da economia e do emprego. O Plano de Retomada do Governo baseia-se nessa linha de desenvolvimento? Quais os resultados esperados? O plano foi concebido em cima da premissa de que, após todos os efeitos da pandemia, o Estado precisa tomar medidas para garantir a retomada econômica. Diversos órgãos multilaterais, como Banco Mundial e BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), dizem que o investimento em infraestrutura será um dos principais pilares do mundo que vai interferir no processo de retomada econômica. Pernambuco se preparou para fazer esses grandes investimentos, após um período de muitas dificuldades, uma vez que já existia uma crise econômica, social e política no País que foi agravada com a pandemia. Foi feito um estudo baseado na retomada da capacidade de investimento do Estado, que vai conseguir investir R$ 2,4 bilhões com recursos públicos a partir de 2022. Só este ano estamos investindo mais de R$ 1 bilhão. O Estado ficou vários anos sem poder fazer operação de crédito, em razão de impedimentos decorrentes dos índices financeiros. Houve um ajuste nas contas e no mês passado foi assinada uma operação de crédito de R$ 88 milhões. Esse plano de desenvolvimento é um indutor para o desenvolvimento econômico e social no Estado e o foco é gerar 130 mil empregos. Foi feito um estudo bem aprofundado com investimentos feitos principalmente em infraestrutura, mas não só, e seu potencial na geração de emprego. O plano prevê investir R$ 5 bilhões, porque existem também muitos investimentos privados no Estado que já estão em curso, com a instalação de empresas em Pernambuco. Qual a importância da participação da iniciativa privada na recuperação e ampliação da infraestrutura no Estado? Pernambuco vem passando por um processo muito intenso de concessões e PPPs (parcerias público-privadas). Recentemente tivemos audiências públicas para concessão de 234 km das rodovias estaduais PE 060, 050 e 090. A intenção é de, por exemplo, angariar R$ 1,2 bilhão para a duplicação da PE 060, uma rodovia com grande impacto econômico no Estado. Pretendemos, até março do próximo ano, lançar o edital para contratação da empresa concessionária. Ainda no litoral sul, estamos fazendo a reconstrução da estrada que liga Sirinhaém a Ribeirão, e a que liga Rio Formoso a Gameleira. A PE45, que liga Escada a Vitória recebeu ordem de serviço há um mês. É uma rodovia de grande fluxo, que tinha muitos problemas estruturais. Uma obra de mais de R$ 100 milhões. Diversas rodovias estão sendo construídas e recuperadas no Sertão e no Agreste, algumas fazem ligação com outros estados. O que eu digo é que o desafio agora é tirar essa fama de que “chegou em Pernambuco, a estrada é ruim”. Todas essas obras estão em andamento com investimentos muito altos, mais de R$ 1,5 bilhão, mas são necessárias e vão ser entregues à população ao longo de 2022, mais de 20 rodovias que já foram concluídas. Muitas estradas estão sendo construídas também para encurtar distâncias e proporcionar um ganho da logística significativo. Como por exemplo a estrada que liga João Alfredo a Salgadinho na Mata Norte, cujo percurso era de 60 km virou 11km. O Estado vem investindo na reconstrução da malha viária, mas ao atrair a iniciativa privada, acelera a melhoria na infraestrutura. O modal rodoviário é o mais utilizado no Estado e precisa ser reconstruído porque a tipologia dos caminhões mudou, a capacidade de carga desses veículos aumentou ao longo dos anos. Mas grande parte da malha viária foi construída entre as décadas de 1970/80 e não foi projetada para esse peso, por isso precisa passar por um processo de reconstrução. Trabalhamos nesse planejamento em 2019 e desde então estamos atingindo 40% de reconstrução da malha viária. O governo anunciou a triplicação da BR-232, no trecho que dá acesso à RMR. Já tem previsão de quando essas obras vão começar? Iniciamos o processo de contratação dessa triplicação. O projeto foi bem desenvolvido pensando nas condições urbanísticas na entrada do Recife. Apesar de ser uma rodovia federal, precisa de soluções para o ciclista, para o pedestre e não só para o caminhão que entra e sai da capital. Existem 13 linhas de ônibus nesse trecho, por isso foi pensada também a logística para o transporte coletivo. Pretendemos começar o projeto em janeiro e deve durar um ano no máximo. Trata-se de uma rodovia importante que é um gargalo na logística em Pernambuco. Agora, o Estado tem condições de fazer a obra de R$ 100 milhões que vai trazer grandes mudanças na entrada e saída da capital. Também estamos fazendo um projeto-piloto para a utilização de um software específico do Porto Digital para garantir o cumprimento ou a antecipação do prazo da obra. Colocamos elementos de planejamento da engenharia com o uso da tecnologia para garantir que riscos no meio do caminho sejam minimizados. Quais as perspectivas para a construção do Arco Metropolitano? Foram feitas várias discussões sobre o percurso do Arco Metropolitano que está sendo estudado pelo Estado, como o trajeto que passa por dentro da APA Aldeia-Beberibe com soluções sustentáveis. Sabemos que

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"O 5G vai trazer maior interatividade para a mão do consumidor."

Imagine uma experiência imersiva em que o consumidor aponta o seu celular para um produto e de pronto descobre os preços nas lojas ao redor de onde ele está e nos diversos sites de e-commerce. Ele pode até assistir a um vídeo com o depoimento de consumidores que já compraram esse produto. Ou ainda, imagine o consumidor poder visualizar como um novo sofá ficaria na sua sala de estar. Essas são apenas algumas das grandes possibilidades proporcionadas pela tecnologia 5G. O leilão para a escolha das empresas que vão operar a tecnologia no Brasil foi concluído na sexta-feira (5/11), mas sua implantação deve ter início no meio do ano que vem. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Benedito Macedo, diretor executivo de desenvolvimento e operações do C.E.S.A.R., projeta outras aplicações que o 5G pode ter em áreas como a saúde, o agronegócio e na gestão de cidades. Formado em administração de empresas, com mais de 35 anos de experiência no desenvolvimento de produtos e serviços inovadores, ele também analisa o resultado do leilão e defende a mobilização da sociedade para que a nova tecnologia contribua para o desenvolvimento do País e para a melhoria da qualidade de vida dos brasileiros. O que é a tecnologia 5G e quais as suas vantagens? Uma nova tecnologia de comunicação móvel, que segue a linha evolutiva do 3G/4G. Os principais diferenciais são maior velocidade nas conexões, menor tempo de resposta (menor latência), uma maior concentração de equipamentos em uma área, uma maior interoperabilidade entre equipamentos de diferentes fornecedores e, por fim, uma arquitetura distribuída de processamento na borda da rede (edge computing). Provavelmente a primeira vantagem que o público em geral vai notar é que vai ser mais rápido para baixar um vídeo ou que o streaming vai ter uma qualidade maior e menos falhas. Quais as principais aplicações do 5G? A maior velocidade vai beneficiar todo tipo de aplicação. Especificamente existem diversas aplicações sendo testadas e/ou previstas para as áreas de saúde, educação, logística e transporte, entretenimento e games, cidades inteligentes, segurança pública. Mas o salto tecnológico para o 5G será bem maior do que foi o do 3G/4G, dessa forma, diversas aplicações serão recriadas de uma maneira que ainda não somos capazes de imaginar ou prever. É um processo criativo, iterativo e incremental. O senhor acredita que o 5G será acessível a um grande número de pessoas ou levará algum tempo para a maioria da população brasileira ter acesso a essa tecnologia? Grande parte da população brasileira está concentrada nas grandes cidades, incluindo as capitais. A previsão da chegada do serviço para as capitais e o distrito federal é julho/2022. Entretanto, a implantação de uma rede de comunicação em um país continental como o Brasil requer altos investimentos e um tempo na escala de anos. Inclusive as exigências do edital do 5G já incorporam exigências nessa escala temporal, por exemplo, a cobertura das cidades de 30 mil habitantes será somente em julho de 2029. O que o senhor achou do resultado do leilão do 5G? Apesar de tardio, a previsão inicial era que o leilão fosse realizado em 2020, os resultados foram bons e não trouxeram grandes surpresas. Dos 26 blocos colocados à disposição, somente três não tiveram proposta. Como esperado, as grandes operadoras ficaram com os blocos nacionais, e houve a entrada de novos competidores, que é muito bom para o usuário final, pois com uma maior concorrência, os preços podem cair mais rapidamente. O leilão arrecadou cerca de R$ 7 bilhões em outorgas e R$ 47,2 bilhões em obrigações. Leia a entrevista completa na edição 188.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"O Parque Capibaribe aponta uma solução para as mudanças climáticas".

Nestes dias em que acontece a COP 26 (26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), temos uma boa notícia para comemorar: apesar de o Recife estar entre as 16 cidades mais vulneráveis do planeta, as ações para enfrentar essa situação não estão começando do zero. O Projeto Parque Capibaribe é um passo fundamental para a adaptação ao aquecimento global. A constatação aconteceu no workshop RXN (Recife Exchange Netherlands), que reuniu especialistas pernambucanos e holandeses para estudar seus territórios e debater a elevação da temperatura e do nível do oceano. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Roberto Montezuma, coordenador geral do projeto Recife Exchange (no qual a ideia do Parque Capibaribe foi gerada), explica a concepção do Recife como cidade parque e a sua integração a os outros como projetos, Parque Beberibe, Parque Tejipió e Parque Marinho. Montezuma, que é arquiteto, urbanista e professor da UFPE, também fala das perspectivas da COP 26 e diz que as pessoas estão descobrindo que para enfrentar as mudanças climáticas é necessária uma visão sistêmica do mundo que leve em conta os aspectos econômicos, sociais e ambientais. “É o planeta dizendo: ou pensam o coletivo ou não temos saída”, alerta o urbanista. O que é o Recife Exchange? É um time que busca excelência em pesquisa, ensino e inovação. Ele é parte do Observatório do Recife, que une academia, governo e sociedade civil, articulado a ONU-Habitat, ao Instituto das Águas da Unesco e a universidades internacionais, como a de Toulouse. Tem como objetivo pensar projetos que ajudem as políticas públicas. O Recife Exchange nasceu na Universidade Federal de Pernambuco, durante a comemoração dos 100 anos de migração holandesa para o Brasil. Ele surgiu da provocação de pensar o futuro do Recife. Nesse sentido, o workshop realizado em 2011, RXA (Recife Exchange Amsterdam), que reuniu profissionais do Brasil e dos Países Baixos, deu o primeiro passo, ao desenvolver o conceito Recife árvore d’água. Ao observarem a cidade numa vista aérea, revelou-se a forma de uma árvore, onde as raízes são o mar, o tronco é o encontro das bacias hídricas, os galhos são os rios, e as folhas e frutos são as pessoas inseridas em movimentos sociais. A partir dessa visão, a conclusão é de que o Recife deveria ser reinventado com base no entendimento de que a natureza – rios, mangues, córregos, mar e vegetação – precisava ser aceita e acolhida. O RXH (Recife Exchange Holland) pensou o Centro Histórico, em 2019. Depois entrou a pandemia, e o RXN (Recife Exchange Netherlands), que foi a versão virtual em 2021, elegeu o tema Águas como Patrimônio e as discussões abrangeram as reflexões e estudos sobre o aquecimento global e o aumento do nível dos oceanos. Em 2022 haverá uma versão do evento na Holanda como um espelhamento das experiências. Desde o RXA foram criados grupos no Recife e na Holanda, cada um estudava seu território e depois se reuniam para cruzar as informações. Fizemos o nosso projeto em parceria com eles, que voltaram em 2012 para pensar o Recife, surgindo daí os conceitos da árvore d’água, e do Recife 500 anos. Ambos os conceitos vão desdobrar em duas ações de política pública: O Parque Capibaribe, cujo desenvolvimento ficou a cargo da UFPE e da Prefeitura do Recife, a visão de um planejamento de longo prazo para a cidade, com etapas e prazos, que está sendo desenvolvido pela Agência ARIES. Um aspecto que foi muito interessante para eles foi o fato de o projeto do Recife ter virado política pública. Em 2020, as experiências RXA e RXH foram premiadas como best practice pela Agência de Patrimônio Cultural da Holanda. A partir daí eles nos viram como um time estratégico para continuar essa relação que está sendo muito boa. Esses workshops foram muito inovadores porque a universidade está articulada com a sociedade civil, com órgãos públicos e com seus grupos de pesquisa. Em relação à sociedade civil, foi importantíssima a experiência com o Observatório do Recife que incorporou a visão da arvore d’água e seus desafios a serem superados no documento O Recife que Precisamos, que foi apresentado aos candidatos à prefeitura da cidade como uma demanda da sociedade. O Recife, como já noticiamos no ano passado, é a capital mais ameaçada do país e a 16ª cidade mais vulnerável do planeta ao aumento do nível do mar provocado pelo aquecimento global. A carta do RXN afirma que essa vulnerabilidade é uma das consequências da pouca importância dada às “águas” que compõem a cidade. Você poderia explicar essa relação? Em 2014, a cidade foi considerada a 16ª hot spot do planeta porque foram levados em consideração três aspectos: o fato de ser uma cidade marinha, uma capital com uma das maiores concentrações habitacionais do Brasil e por ser uma cidade patrimônio. O Recife deu as costas para as suas águas. O Recife é uma cidade aquarina e estuarina, que recebe a água que vem dos morros e vai para o mar e recebe as águas do mar que vão para dentro da cidade também. Então duas vezes por dia, aproximadamente, as marés fazem esse filtro nos rios. A cidade nasce do porto, da água, porque a capital era Olinda e o Recife, o porto. São cidades que nasceram irmãs. Quando os holandeses chegaram, incendiaram Olinda e botaram o centro do poder para o porto, que ficou no meio desse anfiteatro. Esta é uma outra visão da cidade: um anfiteatro em meio círculo, onde o Recife é o limite dele, os morros fazem uma espécie de plateia e o chão, a mata atlântica, é o palco, um palco molhado, e o fim desse anfiteatro é o mar. No primeiro projeto urbano, a Cidade Maurícia, essa cidade que vem para o centro do anfiteatro se amplia para a Ilha de Antonio Vaz, porque já não cabe na região do porto. O plano leva em consideração a ilha seguinte, o porto, Olinda e os caminhos de plantação situados na planície molhada que produzia açúcar. Nesta planície, os rios fazem papel

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