"A Transnordestina seria muito útil para o transporte de frutas"
A pandemia não arrefeceu o mercado de frutas. Pelo contrário, no primeiro quadrimestre deste ano o volume de mangas exportadas cresceu 24%, quando comparado com o mesmo período de 2020, e o de uvas, nada menos que 93%, segundo dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). O consumidor, em meio à crise sanitária, passou a adotar hábitos mais saudáveis, como incluir frutas na sua dieta diária. Ressalte-se que 90% da uva de todo o Brasil que é comercializada para o mundo sai do Vale do São Francisco, e 93% da manga também. Para falar sobre este bom momento da fruticultura, Cláudia Santos conversou com o presidente da Abrafrutas (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados) Guilherme Coelho. Esse bom desempenho não significa que os fruticultores do Vale estão colhendo apenas boas notícias em seus negócios. Eles enfrentam alguns gargalos como a infraestrutura do escoamento da produção, que poderia ser mais fácil e com menor custo se fosse realizada pelo modal ferroviário. Confira a seguir a entrevista. Quais as consequências que a pandemia trouxe para setor de fruticultura? Graças a Deus, a pandemia não afetou diretamente o setor de fruticultura do Brasil, nós continuamos trabalhando, porque o agro não pode parar, fornecendo alimentos para o Brasil e o mundo. Como está a exportação de frutas? A perspectiva deste ano é muito boa, nós estamos muito animados. Essa semana saiu um dado da Conab/Mapa (Ministério da Agricultura), que diz que no primeiro quadrimestre deste ano, nós crescemos cerca de 22% o volume de frutas exportadas e 32% em volume em dólar no Brasil. Neste mesmo período, foram 44 mil toneladas de manga e 12 mil toneladas de uvas exportadas, sendo que 90% da uva de todo o país que é comercializada para o mundo sai do Vale do São Francisco, e 93% da manga também. Então, estamos muito animados, entendendo que o mundo está consciente de que a fruta é um alimento muito saudável e o consumo de fruta continua aumentando cada vez mais. Além da manga e da uva, quais são as outras frutas com potencial de grande produção e comercialização no Vale do São Francisco? Aqui se destacam a manga, como a fruta mais exportada, e a uva, que passou por grandes transformações nos últimos cinco anos no que diz respeito às novas variedades – uva branca, uva negra, uva vermelha – que têm despontado muito bem lá fora. O que tem crescido bastante aqui, no Vale do São Francisco, é o melão, hoje são 1.5000 hectares dessa fruta, que não é exportada, é vendida no mercado interno. Mas também tem crescido o mercado da acerola, da goiaba, do coco. Como tem sido o processo de produção para seguir os protocolos de segurança? É muito importante dizer que, para uma fazenda exportar fruta, ela tem que ter vários certificados internacionais. Então, é o certificado social para saber quem são os trabalhadores rurais, como eles trabalham, se usam EPI (que é o equipamento de proteção individual), se têm carteira assinada, se existem bons tratos para com essas pessoas, se há transporte adequado e tudo mais. Temos também certificações que tratam do manuseio do alimento, da fruta. Temos ainda certificados que falam da sustentabilidade. Então, em relação a isso, os consumidores no Brasil e no mundo podem ficar tranquilos, porque nós temos todos os certificados e as frutas são produzidas em ambientes sustentáveis. Como estão as vendas para o mercado interno? Nós somos o terceiro maior produtor de frutas do mundo e temos um mercado interno muito forte. A Organização Mundial de Saúde sugere que cada habitante do mundo coma cerca de 150 quilos de fruta por ano. No Brasil, o consumo é de 50 quilos de frutas/habitante ano, e precisamos cada vez mais melhorar. Com a pandemia e a conscientização de que a fruta é um alimento saudável, eu acredito que está crescendo a cada dia o consumo. Como vai a indústria de sucos de frutas no Vale? Em relação a essa indústria, temos várias empresas aqui de suco de uva, que é um suco fantástico, muito aceito no Brasil inteiro e no exterior, e eu creio que vem sempre crescendo. Existem também muitas indústrias de polpa de frutas, produzidas por agricultores familiares e pequenos agricultores, e de envasamento de água de coco que gera muito emprego e renda. Como está a infraestrutura de escoamento das frutas? Logo no começo da pandemia, houve uma paralisação dos aviões de passageiros para o exterior, principalmente para a Europa, e é muito importante dizer que a grande quantidade de fruta exportada por via aérea vai nos porões nos aviões de passageiros. Mas isso logo normalizou, essas frutas não foram perdidas, foram transferidas tanto para o mercado interno, como também enviadas de navio. Então, isso não houve nenhum prejuízo em relação a essa questão. O que a gente sofre bastante – e o Ministério da Agricultura tem trabalhado neste sentido – é quantidade insuficiente de fiscais agropecuários nos portos e aeroportos. A gente efetivamente precisa de mais fiscais porque, muitas vezes, existe uma demanda de contêiner para embarcar em tal porto e essa fiscalização não ocorre na rapidez e eficiência que a gente precisa. Mas o governo está tomando essas providências. Quais os gargalos que o setor enfrenta para crescer ainda mais? Um dos gargalos é o fato de algumas regiões do Brasil ainda não estarem livres da mosca da fruta [praga que ataca as plantações de fruticultura]. E isso impede algumas exportações, principalmente para os Estados Unidos, sendo necessário algum tratamento. Aqui, no Vale do São Francisco, o tratamento hidrotérmico da manga tem um custo maior e a fruta não sai com a qualidade que nós esperávamos. Mas, o governo brasileiro, através do gabinete de Segurança Institucional, está trabalhando bastante em irradiação de frutas, que é como se fosse um escâner que passa pelo palete onde está a fruta e, com isso, resolve-se qualquer dificuldade que tenha em relação a uma larva de mosca da fruta e também de outras
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