Arquivos Entrevistas - Página 8 de 28 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

"Podemos aprender com o mangue a nos adaptar às mudanças climáticas"

Marcus André Silva, Professor do Departamento de Oceanografia da UFPE, alerta que o processo de modificação do clima tem ocorrido de forma mais acelerada do que apontavam as previsões, mas que o Brasil tem potencial para adotar soluções para mitigar os danos do fenômeno, muitas delas baseada na natureza. Diante dos efeitos das mudanças climáticas, que seguem em ritmo acelerado, teremos que encontrar soluções que se adaptem à natureza ao invés de confrontá-la. A recomendação é do professor do Departamento de Oceanografia da UFPE Marcus André Silva. Ele sugere que em alguns lugares do Recife, poderemos não recorrer à fria engenharia que ergue barreiras de concreto para impedir a cheia da maré, mas deixar que a água invada e depois vá embora. “Em Veneza, por exemplo, nas macro-marés, alguns lugares são alagados e todo veneziano sai de galocha”, compara o professor que também é coordenador substituto do Centro de Estudos Avançados da universidade. Assim como Chico Science inspirou-se na riqueza da vida no mangue para produzir a sua arte, Marcus Silva, pelas vias da ciência, nos convida também a aprender com esse ecossistema que convive com as oscilações da maré. Nesse sentido, até a palafita pode se tornar uma boa solução, desde que receba modificações para que se transformar numa moradia digna aos ribeirinhos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o oceanógrafo fala dessas soluções, explica como acontece o complexo processo de elevação do nível dos oceanos e alerta que temos que ser ligeiros em abandonar práticas como o uso de combustíveis fósseis porque o curso das mudanças climáticas está mais adiantado do que mostraram as previsões dos estudiosos. Como se dá o processo de elevação do nível dos oceanos? Não é um processo simples, ele envolve uma série de características físicas associadas à água, principalmente a do mar, e ao processo de mudança climática, que começou a partir da Revolução Industrial. Esse evento provocou o aumento das emissões de gás carbônico na atmosfera, que age como um filtro, impedindo que o calor seja dissipado para o espaço. Isso faz com que o planeta retenha mais calor. O oceano é um elemento importante no balanço da temperatura do planeta. Esses 2/3 de água que fazem parte da superfície da Terra retém 90% do calor que é absorvido da radiação solar. Se o continente não tivesse a parcela de oceano, a temperatura entre dia e noite oscilaria bastante. Um exemplo é o deserto do Saara, que é carente de água. Durante o dia ele chega a quase 50°C e, à noite, a temperatura está abaixo de zero. Enquanto no Recife, às margens do Atlântico, mesmo no inverno, a temperatura ficar abaixo de 20° é muito raro, porque recebemos o calor do oceano. Uma vez que aumenta o calor retido no planeta, a temperatura da superfície do mar também aumenta e aí a água vai expandir, vai haver o processo de expansão térmica, um fenômeno físico. Mas esse fenômeno não acontece apenas na superfície do oceano. Se focarmos na temperatura do Atlântico tropical, por exemplo, ela é mais quente até mais ou menos uns 100m de profundidade. Mas no oceano profundo, a 4 mil metros, as temperaturas caem para 4°C. Essa é uma água mais fria, que vem do Ártico e da Antártica. Nos oceanos há uma circulação que conecta a circulação superficial da água, que é basicamente induzida pelo vento, e a circulação profunda, induzida pelas diferenças de temperatura e salinidade que comandam a densidade da água. Então, se a gente tem uma água gelada mais densa ela vai empurrar uma água mais quente e menos densa. Basta pensar num aquário: se colocarmos água gelada de um lado e água quente do outro e juntarmos essas duas águas, a água gelada tende a circular por baixo e a água quente vai circular por cima. Existe um processo que é a circulação profunda da água do mar que vem dos polos para a região tropical e a água quente vai passar a fluir na superfície ao ser empurrada pela água fria da profundidade. Um processo que é contínuo. Acontece que há um aquecimento dos polos, principalmente do Ártico, que está perdendo massa de gelo, de permafrost, o gelo permanente do Ártico. As previsões apontam que essa água doce, que está aportando do desgelo da calota polar, tem a tendência de enfraquecer a circulação profunda. Ela é doce porque quando a água marinha congela, o sal fica na superfície. E, como eu disse, além da temperatura, a salinidade também aumenta a densidade dessa água e ela afunda, fazendo com que ela seja a bomba, o propulsor dessa circulação profunda. Mas com o aporte de água doce do derretimento da calota das geleiras, a água está menos salina, o que diminui a densidade da água do mar do Ártico enfraquecendo essa circulação profunda. Aí, ocorre o enfraquecimento do que chamamos de Célula de Revolvimento Meridional. Ela conecta as principais correntes num processo em que a circulação superficial da água do mar retira calor dos trópicos e o leva para as regiões temperadas e aos polos. A Célula de Revolvimento Meridional funciona como grande trocador de calor do planeta mas, ao enfraquecer, leva o planeta a reter mais calor na superfície do oceano tropical e diminuir o transporte de calor superficial para as regiões temperadas dos hemisférios sul e norte que tendem a ficar mais frias. Por isso que hoje falamos de mudança climática e não de aquecimento global, porque há uma transformação do clima no planeta todo onde algumas regiões apontam ficar mais frias e, outras, mais quentes. Além disso, essa água profunda também está esquentando, logo também está expandindo. Então, não temos só o processo da radiação e da temperatura da atmosfera induzindo a circulação e a temperatura da superfície do mar mas, também, uma tendência de aquecimento de toda a água do oceano. Isso é um processo lento, que as previsões avaliam começar em 2100 e evoluir ao longo do dos séculos. Então o processo é muito mais complexo do que o

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"Somos uma família que está dentro dos negócios em tempo integral"

Entrevista com MANUELLA MENDONÇA E DIEGO MENDONCA Empresa que começou com uma borracharia em Carpina, hoje ostenta sete operações das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, que abrangem distribuição no atacado e revenda de pneus e serviços de recapagem. A segunda geração de gestores do empreendimento leva adiante o empreendedorismo do fundador Manuel Mendonça. Tudo começou com uma simples borracharia em Carpina, na Zona da Mata Norte, que em 30 anos se transformou num grupo que hoje conta com 80 funcionários e ostenta sete operações ligadas ao setor de pneus: são três truck centers (que atendem ao segmento de caminhão), uma renovadora (que faz a recapagem), uma distribuidora das marcas Bridgestone e Firestone que atende todo o Estado de Pernambuco, e mais duas revendedoras multimarcas voltadas para o segmento de carros de passeio (car center). Para contar a trajetória de sucesso do grupo proprietário das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, Cláudia Santos conversou com a segunda geração dessa empresa familiar que começou com o empreendedorismo de Manuel Mendonça. Seus filhos, Diego Mendonça de 32 anos, e Manuella Mendonça de 27, contam como o negócio se expandiu, falam da relação com o pai e a mãe Fabiana, que também trabalha na empresa, e do setor de pneus e dos projetos da empresa. Como começou a Rode Bem? Diego - Ela começou em 1993. Está completando 30 anos. Nosso pai, Manuel, veio do segmento de recapagem de pneu de uma empresa que fechou. Então, ele abriu uma borracharia em Carpina. Na época teve início a importação de pneus usados vindos da Europa que ele comprava e revendia na cidade, tanto pneus de caminhão como de automóveis, e fazia a parte da recapagem. Na verdade, ele levava o pneu numa renovadora que recapava e entregava ao cliente. Manuella – Ele era do administrativo, vendas e compras, mas havia uma pessoa que fazia o serviço de borracharia. O negócio foi crescendo, ele começou revender pneu novo e aos pouquinhos foi evoluindo. Diego – O negócio foi ficando mais estruturado, já não era mais uma borracharia, mas uma loja de pneus e em 1996 ou 1997, ele abriu uma nova loja em Surubim, com um sócio e, como tem esse sócio, não faz parte do nosso grupo e leva outro nome, Siga Bem Pneus. Continuamos evoluindo, nos estruturando e passamos a ter um atacado de pneus em Carpina. Havia os importadores que traziam para o Brasil os pneus novos, meu pai comprava como atacadista na importadora e distribuía em todo o Estado de Pernambuco. Depois passou a fazer também Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas, com o passar dos anos, os importadores passaram a vender direto aos clientes. A margem [de lucro] ficou muito espremida. Manuella – Mais ou menos em 2012 ele encerrou o atacado, não era viável mais, e em 2013 a Bridgestone nos procurou – em razão de a Rode Bem ser referência na região – e fechou a parceria para abrir uma loja em Carpina voltada para o público de caminhões e ônibus, a linha pesada de pneus, serviços e máquinas agrícolas. Eles fizeram questão de utilizar o nome Rode Bem Pneus por ser uma marca já conhecida na região. A primeira loja vende pneus no varejo de automóveis em todas as medidas. Depois, montamos essa nova loja com a bandeira Bridgestone/Firestone e depois de uns dois anos, montamos uma renovadora de pneus também da Bridgestone. O trabalho de uma renovadora é industrial? Diego – A renovadora é uma indústria que pega o pneu usado, no final da vida útil, e coloca uma borracha nova em cima. Faz todo um processo para ele “sair novo de novo”, como a gente costuma dizer. O pneu hoje custa em torno de R$ 3 mil dependendo do modelo e da marca e, para recapar o custo é em torno de R$ 700 ou R$ 800. Numa frota de caminhão, que é o nosso principal cliente, o maior custo é o combustível e o segundo é o pneu. Recapando, há uma redução muito maior no custo. Tem muita operação hoje que, se não existisse a recapagem, não se pagaria, inclusive, a borracha que usamos é a Bandag que oferece mais quilometragem que um pneu novo. Imagine o custo de um rodotrem graneleiro, que tem 34 pneus com o preço médio de R$ 2.800 cada. Ao recapar, ele terá um resultado muito considerável. Manuella – Esse serviço da recapagem tem a certificação do Inmetro. E vocês se adaptaram às demandas de uma região agrícola? Diego – Sim. Atendemos tanto a parte do caminhão frotista, caminhão de autônomo, como também o pessoal do agro. Bem, em 2014, começamos a operar no Recife com vendedor externo para fazer negócios, vender, fazer recapagem. Fomos ganhando, com o tempo, espaço no mercado. Até que em 2021 surgiu uma oportunidade de expansão do nosso truck center para Jaboatão dos Guararapes. Inauguramos na BR-101, uma loja grande, perto da Vitarella, que é um foco logístico do Estado. Em 2022 abrimos mais uma loja em Carpina. Tínhamos um concorrente que nos ofereceu a vaga dele, compramos a loja e ficamos com três unidades, duas voltadas para o público de passeio (car center) que é a Rode Mais, aonde a gente começou. Na verdade, Rode Bem é o nome que começou, mas quando abrimos o truck center, em 2013, a Bridgestone queria que tivesse o nome Rode Bem. Então o que era Rode Bem antigamente, transformou-se em Rode Mais. Quando abrimos a unidade em Jaboatão foi como Rode Bem, uma filial de Carpina. Quando surgiu uma oportunidade de uma nova loja em Carpina, compramos e, para não ficar os nomes iguais colocamos como Rodo Max, que é uma loja de pneus e rodas esportivas. Abrimos essa loja em 2022 e agora em 2023 inauguramos uma em Suape, dentro do complexo da E-LOG. Hoje temos três Rode Bem em Carpina, Jaboatão e Suape e uma renovadora que fica em Carpina, mas atende toda a Mata Norte, Mata Sul

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Danilo Cabral: "Estamos resgatando a essência da Sudene"

Danilo Cabral, Superintendente do órgão, fala sobre os projetos para incentivar o desenvolvimento no Nordeste, analisa o impacto do fim dos incentivos fiscais determinado pela Reforma Tributária e garante que o trecho Salgueiro-Suape da Transnordestina será construído. Em menos de um mês à frente da Sudene, Danilo Cabral já deixou patente a prioridade da sua gestão: resgatar a função do órgão de planejar o desenvolvimento do Nordeste. Um papel estabelecido quando a superintendência foi criada pelo renomado economista Celso Furtado, mas que foi abandonada nas últimas décadas a ponto de ter sido até extinta no Governo de Fernando Henrique. Nesta entrevista a Cláudia Santos e Rafael Dantas, Danilo Cabral falou da elaboração do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste, com a participação dos governadores da região, das consequências do fim dos incentivos fiscais determinado pela Reforma Tributária e garantiu que o trecho Salgueiro-Suape da Transnordestina será construído. O Nordeste continua uma região carente, tanto é que 50% dos beneficiários do Bolsa Família estão aqui. O que prevê o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste, formulado pela Sudene, para reverter essa situação? Acho que temos alguns desafios que estão postos na Sudene, que ocupou um papel mais relevante quando foi criada, em 1959, por Celso Furtado. Esse protagonismo foi sendo perdido, a partir da décadas de 80 e 90 quando começou um processo de esvaziamento dos órgãos de planejamento mas, sobretudo, no Governo Bolsonaro quando houve uma relação de quase inimizade entre o Governo Federal e o Nordeste. Estamos resgatando a essência da Sudene para ser um grande órgão de formulação e planejamento de políticas públicas para reduzir a desigualdade da região. O primeiro desafio é reposicionar a Sudene como um espaço de diálogo federativo porque se chegou a um ponto de se ter que constituir um consórcio com os governadores, uma instância de governança regional, para poder fazer as discussões e apontar as soluções que eles imaginavam para o Nordeste. Mas tem que haver um diálogo federativo que é o papel da Sudene: coordenar, mobilizar, articular, integrar o conjunto das políticas. Temos um ambiente hoje muito propício a isso. A volta de Lula à Presidência da República permitiu um reencontro do Nordeste com o Brasil. Precisamos voltar a um estágio que vivenciamos, inclusive nos primeiros governos de Lula, quando vimos o Nordeste crescer 53%, enquanto o Brasil cresceu 46% do seu PIB e foi nesse período que vimos a região entrar no processo de industrialização, embora tardio. Vimos um conjunto de políticas para tirar uma marca que foi e até hoje é vista por alguns que insistem em tratar o Nordeste de forma preconceituosa como um problema, o Nordeste da fome, da miséria, da seca. Não somos mais esse Nordeste, nem a Sudene é mais aquela, porque chegou uma nova industrialização, que precisa avançar, e chegou a proteção social com o Bolsa Família. Chegaram a escola técnica no interior, a água com a Transposição, que precisa consolidar. Vimos a energia limpa chegar ao Nordeste, ou seja, temos avanços. Precisamos aproveitar este momento com a eleição de Lula e fazer um novo reencontro do Nordeste com o Brasil, para que a gente possa ter uma nova janela de oportunidades. Quais os desafios para a Sudene voltar a ser um órgão importante de planejamento? Ela perdeu a equipe técnica? Perdeu. A Sudene chegou a ter 3.500 funcionários, tinha escritórios de representação em todos os Estados do Nordeste. Hoje temos 180 funcionários e mais nenhum escritório nos Estados. Tivemos reunião, junto com a Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste) e a Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia), com o ministro Waldez Góes [da Integração e do Desenvolvimento Regional] a quem as superintendências estão subordinadas. As três têm o mesmo diagnóstico: esvaziamento, redução de quadro, sucateamento do órgão. Apresentamos ao ministro um pedido de recomposição de quadros. Ele tem sido muito sensível a todas essas questões. É preciso fortalecer o Condel, o Conselho Deliberativo das políticas regionais. Com o Consórcio Nordeste houve um deslocamento do eixo. Por isso, minha primeira agenda foi ir à Paraíba, simbolicamente uma referência a Celso Furtado, mas também conversar com João Azevedo, coordenador do Consórcio, para convidá-lo, em nome de todos os governadores, para a minha posse. Eles fizeram questão de participar. Vamos fazer — temo até usar essa expressão, senão Ariano [Suassuna] se mexe no túmulo dele (risos) — um roadshow, pois as pessoas precisam voltar a conhecer a Sudene. Recebi perguntas do tipo: a Sudene existe ainda? Porque as pessoas não a percebem por trás das obras, como a do Aeroporto dos Guararapes, onde há uma grande reforma feita por um parceiro privado. Mas tem recursos do Fundo Constitucional da Sudene ali. A Transnordestina recebe R$ 3,5 bilhões do Fundo. Quando a gente fala da Stellantis, tem R$ 2 bilhões de recursos de incentivos ali. Voltando ao Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste. O que ele prevê? Resgatamos um plano gestado ainda em 2019, mas ele não teve efetividade até por causa da pandemia. Mas as bases dele foram constituídas a partir de estudos feitos pela própria equipe técnica da Sudene. [A economista] Tânia Bacelar também ajudou na formulação. Fizemos a atualização de alguns dados desse plano, constituímos os conceitos macro do ponto de vista da visão, dos princípios, dos valores, das diretrizes e uma carteira de projetos atualizada com essa nova safra de governadores. Consultamos todos os estados para apresentarem seus projetos para os próximos quatro anos. Um conjunto enorme de projetos foi apresentado. Vamos anexá-los ao plano que está sendo encaminhado para os ministérios da Integração e do Planejamento, e serão incorporados ao PPA, para chegar agora em agosto ao Congresso Nacional. Acho que o plano carece ainda de um amplo debate e é isso que vamos continuar fazendo durante a tramitação dele no Congresso Nacional. Queremos rodar os estados para ouvi-los mais, os municípios, o setor produtivo, as universidades, os trabalhadores. Trabalhamos com uma visão estratégica de futuro que vai até 2027 com um Nordeste inovador, próspero, justo, que valorize e respeite a

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"As autarquias contribuíram muito para a formação no interior, por isso, precisamos de incentivo"

Ana Gleide Leal, presidente da Assiespe (Associação das Instituições Municipais do Ensino Superior de Pernambuco), aborda a importância dessas faculdades para formar profissionais no interior. Embora elas sejam públicas, se esforçam para obter verbas para oferecer cursos gratuitos. Pouca gente tem conhecimento de que autarquias existentes no interior de Pernambuco oferecem ensino superior e muitos professores que atuam fora do Recife foram formados nessas instituições. A qualidade do ensino ofertado por elas foi comprovada por parâmetros como, por exemplo, o selo OAB Recomenda, conquistado pelo curso de direito da Facape, autarquia de Petrolina. Apesar da sua importância, elas enfrentam dificuldades. Isso porque, embora sejam instituições públicas – tanto é que são auditadas pelo Tribunal de Contas de Pernambuco –, não estão incluídas no orçamento nem dos municípios onde estão sediadas, nem do Estado. “Somos da administração indireta desses municípios, por isso temos autonomia de gerenciamento e cobramos mensalidade para nossa manutenção”, esclarece Ana Gleide Leal, presidente da Assiespe (Associação das Instituições Municipais do Ensino Superior de Pernambuco). Entretanto, o pleito dessas autarquias, segundo Ana Gleide, é receber recursos públicos para que possam oferecer o ensino gratuito, principalmente porque a maior parte de seus alunos são oriundos da rede estadual. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a presidente da Assiespe explica as características e o trabalho realizado por essas faculdades e as ações realizadas pela associação para que elas sejam reconhecidas como instituições públicas e recebam verbas dos governos. Como é o trabalho realizado pela Assiespe? A Assiespe é a Associação das Instituições Municipais do Ensino Superior de Pernambuco. É interessante que a sigla não tem o “M” de municipais. Não trabalhamos bem no passado para que as pessoas compreendessem o que somos e aí ficou a perspectiva de enxergarem a associação como uma instituição privada. Mas não somos. Somos uma instituição pública, que congrega autarquias que mantêm faculdades. Essas autarquias são da administração indireta de 13 municípios do Estado de Pernambuco. Do mesmo jeito existe a UPE, que é instituição estadual de ensino superior, nós temos 13 instituições municipais de ensino superior. Nós criamos, há mais de 20 anos, a associação que traz a perspectiva de agregar e defender essas instituições e de buscar recursos. Essas 13 autarquias mantêm 19 faculdades e elas estão nos municípios: Petrolina, Araripina, Salgueiro, Belém do São Francisco, Serra Talhada, Afogados da Ingazeira, Arcoverde (que é a mais antiga, criada em 1969), Belo Jardim, Palmares, Garanhuns, Limoeiro, Goiana e Cabo de Santo Agostinho. Temos um total de 14 mil estudantes nessa nossa estrutura. Somos uma instituição pública municipal e fazemos parte do sistema de ensino do Estado e temos um relacionamento com a Secretaria de Ciência e Tecnologia, porque as políticas do Estado para ensino superior passam pela secretaria. As autarquias recebem recursos públicos? Não. As autarquias não recebem recurso nenhum, nem do Estado, nem municipal. Temos uma realidade que nos diferencia das instituições de ensino superior pública: nós cobramos mensalidade para nossa manutenção porque não estamos nos orçamentos dos municípios onde estamos instalados. Esse valor é o que sustenta as nossas instituições. Mas somos da administração indireta desses municípios, por isso temos autonomia de gerenciamento. O que nos diferencia das instituições privadas é que não temos o lucro como finalidade, por isso que nossos valores são bem menores, são valores acessíveis. Mas se o município assumir essas instituições com a folha de pagamento e tudo mais, a oferta dos cursos passa a ser gratuita para os estudantes. É preciso que o Governo de Pernambuco e os municípios nos reconheçam não como uma instituição privada. Essas autarquias são auditadas pelo Tribunal de Contas, temos todas as responsabilidades de um governo municipal, de pagamento de folha, obrigações sociais. Essa lógica já nos diferencia de forma sem igual de uma instituição privada, a diferença é que como autarquia municipal de administração indireta nós temos autonomia. Pernambuco é o único Estado do Nordeste que tem autarquias, instituições municipais de ensino superior, e essa é uma realidade desde a década de 1970, quando se autorizou a criação dessas instituições ligadas ao município. Nesse período de interiorização do ensino superior, as autarquias municipais, por meio de suas faculdades, contribuíram muito para a formação do profissional no interior do Estado, então é graças a essas instituições que temos hoje uma quantidade de professores no interior. Por isso, precisamos de incentivo. Destacamos que no último concurso que a rede estadual ofertou, houve cidades em que 100% dos candidatos eram alunos egressos das autarquias. Na microrregião do Submédio São Francisco, 80% dos professores são alunos oriundos da autarquia que eu presido, a ABCDE/Cevasf (Centro de Ensino Superior do Vale do São Francisco), localizada em Belém do São Francisco, e que tem 47 anos. Existem no Brasil 60 autarquias municipais de ensino superior, dessas 13 estão em Pernambuco, que foram criadas antes da constituição de 1988. Depois, foi proibida a criação de novas autarquias de ensino superior, lógico, a força das instituições privadas tentando frear um pouco a oferta de ensino superior e também pelo fato de que houve um ordenamento sobre de quem era a responsabilidade do ensino por níveis. Então, ao município coube a responsabilidade da educação básica, ao Estado e à Federação coube a responsabilidade do ensino médio e ensino superior. A partir dali tirou-se do município qualquer responsabilidade orçamentária com o ensino superior. Conheci no Rio de Janeiro instituições municipais, nas cidades de Macaé e Itaperuna. Elas foram criadas depois de 1988 e quem as sustentam são os municípios onde foram criadas, por isso todo o ensino é gratuito para os alunos. As autarquias de Pernambuco oferecem somente cursos de licenciatura? Não, nós temos cursos de bacharelados também. Nós tivemos a abertura desses cursos após o incentivo das bolsas que as autarquias receberam do Estado, por meio do Proupe (Programa Universidades para Todos em Pernambuco), no Governo Eduardo Campos. Foram quase 12 mil bolsas para os estudantes e aquilo despertou para as instituições que elas precisavam também fortalecer no interior a oferta de bacharelados. E fizemos isso. Só que nesses

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Roberto Tavares de Melo: "Temos um diferencial que é a entrega rápida"

Roberto Tavares de Melo, Sócio-gestor da Do Mestre, conta a trajetória da empresa pernambucana que atua na fabricação de produtos para a construção civil e concorre com gigantes internacionais do setor. O empresário afirma que entre as estratégias utilizadas estão a conexão com as tendências do mercado e ter frota própria. Ser uma empresa regional e concorrer, com êxito, com gigantes internacionais do setor em que atua é uma proeza no mundo dos negócios. Uma façanha que tem marcado a atuação da Do Mestre, fabricante de produtos para a construção civil, localizada na cidade de Nazaré da Mata. Na concorrência com os grandes players, o sócio-gestor Roberto Tavares de Melo, lança mão de estratégias como ter uma relação mais próxima com o cliente e dar a ele facilidades logísticas, já que os outros fabricantes não oferecem o frete. “No nosso caso, 80% das nossas entregas são feitas por frota própria. Nós sempre dizemos: nosso compromisso é de em 48 horas a mercadoria estar na sua obra”, ressalta. Outro segredo do sucesso da Do Mestre é estar conectada com as tendências do setor de construção civil, por isso, tem investido em lançamentos de produtos impermeabilizantes. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Roberto Tavares de Melo conta a trajetória da empresa, as mudanças e os desafios provocados pela pandemia – que trouxe uma nova clientela e levou à criação de uma horta, diante do temor de haver um desabastecimento de alimentos e afetar os funcionários. Ele também comenta outras ações na área de ESG e a sua relação com os filhos no dia a dia da empresa. Como começou a trajetória da Do Mestre? Nós atuávamos no ramo da construção civil com uma produção de artefatos cerâmicos na cor vermelha, a popular cerâmica ou olaria, como alguns chamam. Fabricávamos tijolos, lajotas, vários itens em cerâmica vermelha, não era cerâmica fina, nem porcelanato. Adquirimos essa empresa, ela não foi montada por nós. Meus três irmãos eram meus sócios e eu era o sócio-gestor da operação. Eles eram investidores, não estavam na operação. Isso foi em 1985, eu ainda era estudante de engenharia e durante esses 15 anos seguimos com uma única atividade. Mas chegamos à conclusão de que tínhamos baixa fidelização dos clientes, sobretudo na indústria da construção civil. Atuávamos com o varejo, mas éramos uma empresa com o perfil de atendimento à indústria, no segmento de médio e alto padrão. Mas nós ficávamos de fora no início da obra dos clientes, que era a parte de fundação, estaqueamento e estrutura. Entrávamos na parte de alvenaria mas, depois, ficávamos fora do acabamento. Ou seja, se uma construção tinha o tempo total de 36 meses, tínhamos uma relação com a obra durante 18 a 20 meses. E aí veio a ideia de que deveríamos fidelizar mais, porque o ativo de uma empresa não são só máquina e capital humano, tem a clientela, é preciso ter o seu parceiro comercial de todas as horas. Isso é muito claro no varejo, que a atuação começa em 2 de janeiro e termina no penúltimo dia de dezembro. Então é uma relação, realmente, duradoura. E aí, nos anos 2000, decidimos montar uma fábrica de argamassa ao lado da outra que já existia. Qual a vantagem da fábrica de argamassa? Porque assim participaríamos tanto da fase de alvenaria – já que fazemos um tipo de argamassa que faz a colagem dos tijolos – depois passamos a fabricar até o reboco para revestir o tijolo, e que vai ser preparado para colocar um novo revestimento seja nas áreas molhadas (como banheiro e cozinha) seja na fachada. E aí nasceu a concepção da empresa Do Mestre no ano 2000. Em 2003 houve a saída dos três sócios investidores, continuei sozinho e em 2019 a empresa de tijolos e cerâmicas vermelhas foi desativada. É um setor que foi me desencantando por várias razões, como baixo valor agregado, além de um somatório de eventos que nos levou a focar naquilo que faz sentido que é a Do Mestre. Hoje é uma empresa que, graças a Deus, obtivemos nos últimos cinco anos uma taxa de crescimento bem interessante. Crescemos mais de 25% o faturamento nesse período. O interessante é que vocês têm concorrentes de peso, marcas de abrangência nacional e até mundial… É uma tarefa hercúlea porque eles são players que têm produção local em Pernambuco e são líderes mundiais. Os dois maiores do mundo no setor estão aqui em Pernambuco e é uma briga grande. Não temos os números, mas o feeling é que a gente vem em terceiro, como o primeiro dos independentes. Qual é a estratégia que vocês utilizam para brigar com esses gigantes? Costumo dizer que um grande player, uma multinacional, tem inúmeras vantagens, eles têm caixa, tecnologia etc., mas têm outras desvantagens como a demora na tomada de decisão, o excesso de níveis hierárquicos, a frieza no relacionamento com o cliente, a dificuldade de aderência ao consumidor. Eu não falo o consumidor final, mas do B2B, o varejista que vai comprar o produto dele. Ninguém sabe quem é o dono ou o gerente dessas grandes empresas. O nordestino sente essa falta de calor humano. E há a questão da entrega logística, que é muito importante nessa família de produtos. Isto porque tanto os varejistas como a indústria da construção não têm frota própria. Os varejistas fazem retirada nas fábricas e dependem de terceiros. As fábricas, por sua vez, não ajudam, normalmente, os clientes, embora haja exceções. Mas é como se elas dissessem: “eu produzo, o produto está aqui pronto para você retirar, mas como você vai retirar é uma questão sua”. O problema é repassado e isso às vezes gera dificuldade, atrasa o processo do cliente. No nosso caso, 80% das nossas entregas são feitas por frota própria. Temos caminhões e uma transportadora também que é coligada a nossa empresa, mas é um outro CNPJ porque é um outro escopo de trabalho. Como trabalhamos com frota própria, temos um diferencial que é a entrega rápida. Estamos sediados em Nazaré

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Camila Bandeira: "Vamos tornar a Fenearte um atrativo turístico"

Diretora-executiva da feira, Camila Bandeira, fala das novidades desta edição do evento, como a realização de atividades em 50 espaços do Recife e de Olinda que dialogam com o artesanato. O objetivo é atrair turistas para as cidades. Também anuncia a realização de um estudo que vai fornecer um diagnóstico do setor. Q uem visitar a 23ª edição da Fenearte este ano, vai poder não só conhecer e adquirir as peças de mais de cinco mil artesãos que vão expor seus trabalhos no Centro de Convenções, mas também participar de uma ampla programação paralela que acontece em cerca de 50 espaços localizados no Recife e em Olinda. As atividades compõem o Circuito Fenearte e vão acontecer em galerias, museus e restaurantes. Entre as atrações estão a Feira de Arte Contemporânea, que acontece no Cais do Sertão, a mostra Tapeçaria Timbi: Bordando as obras do mestre J. Borges no Mercado Eufrásio Barbosa e a Cozinha Fenearte, iniciativa em parceria com o Instituto César Santos, com a participação de 10 restaurantes que vão apresentar um cardápio especial no período do evento. “O público que gosta do artesanato também gosta de gastronomia, de moda, de artes visuais, de artes plásticas. Então, estamos ampliando esse diálogo com essas outras linguagens e para outros equipamentos”, explica Camila Bandeira diretora-executiva da feira. O intuito da inovação, segundo Camila, é transformar a Fenearte numa atração turística. A feira – que este ano acontece de 5 a 16 de julho – é considerada a maior da América Latina, tem investimento de R$ 8 milhões e a expectativa de movimentação financeira superior a R$ 40 milhões. Apesar desses números superlativos, o evento não conta com muitos visitantes de outros Estados e Camila acredita que a Fenearte tem o potencial para estimular o turismo no Recife e em Olinda. A inspiração vem da Fuorisalone, famosa feira de design de Milão que oferece atrativos no entorno do salão onde acontece o evento e que atrai visitantes de outras localidades para a cidade italiana. Camila Bandeira, que também é diretora-geral de promoção da Economia Criativa da Adepe (Agência de Desenvolvimento de Pernambuco) conta, nesta entrevista a Cláudia Santos, as novidades da Fenearte, fala do estudo sobre o setor de artesanato que será iniciado durante o evento e ressalta a importância dos loiceiros (artesão que fazem peças utilitárias de barro), que são homenageados desta edição da feira. Por que, nesta edição, a programação da Fenearte será realizada em outros espaços, além do Centro de Convenções? Identificamos algumas questões que nos levaram para essa tomada de decisão. A primeira delas é que a Fenearte, por si só, apesar de todo potencial, não é ainda um atrativo turístico. São poucos turistas que vêm de fora de Pernambuco para a feira. Olhando para isso, começamos a pensar como que a gente conseguiria dar esse caráter e fomentar mais o turismo. Daí, surgiu a ideia do Circuito Fenearte, no qual estamos expandindo a feira para outros espaços, para atividades relacionadas com artesanato, mas com conexão com outras linguagens. O público que gosta do artesanato também gosta de gastronomia, de moda, de artes visuais, de artes plásticas. Então, estamos ampliando esse diálogo com essas outras linguagens e para outros equipamentos. Acreditamos que , desta forma, vamos tornar a Fenearte um atrativo turístico. A feira, com a comercialização dos trabalhos dos artesãos continua sendo realizada no Centro de Convenções, não haverá nenhum ponto de venda fora dele, mas vamos oferecer uma programação paralela para colocar o artesanato em diálogo com outras linguagens e com isso incentivar o turismo. Que tipo de atrações o visitante vai conhecer nesses outros espaços? A gente vai ter o circuito gastronômico. Alguns chefs, que estarão na Fenearte, inclusive com a aula-show que é oferecida na feira, estarão também nos seus restaurantes, em seus espaços, ativando com prato especial, com horário estendido, com a sinalização de que ali também faz parte do Circuito Fenearte. Além de restaurantes, museus, equipamentos culturais, galerias de arte, espaços de economia criativa das cidades do Recife e de Olinda estarão com programação específica nesse período em que a feira é realizada. Alguns começando antes, outros estendendo até um pouco mais, mas cerca de 50 espaços serão ativados pela Fenearte, provocados para pensarem em programações específicas. Essa iniciativa foi inspirada na feira Fuorisalone, de Milão, onde surgiram essas ativações orgânicas que iam acontecendo ali ao redor do salão principal do evento, segundo eu soube – porque não fui lá ainda – hoje essas atividades paralelas têm tanto poder atrativo quanto o salão. A economia da cidade vive atualmente a partir do que acontece no seu entorno, nas galerias, nos outros equipamentos que são ocupados. Nesta edição, a feira homenageia os loiceiros. Qual a importância deles para o artesanato e para a identidade cultural de Pernambuco? Esse saber tradicional da loiça é milenar, vem dos povos originários, muitas vezes as pessoas nem sabem, mas a própria arte figurativa vem da arte utilitária de pegar o barro da terra e fazer objetos como uma panela. A partir daí, vai-se modificando ao longo do tempo, através das tradições, até chegar no que a gente tem hoje como arte figurativa, arte expressiva, arte contemporânea. Por isso a ideia de homenagear esse saber tão antigo, tão milenar, da raiz de onde vem, por exemplo, Vitalino e Maria Amélia, que são dois artistas renomados por trabalhar com cerâmica. Os pais de ambos eram loiceiros, eles começaram a ter esse contato com o barro e com a cerâmica ao fazerem objetos utilitários. Então, a ideia é homenagear todos esses mestres e mestras que estão espalhados pelo Estado todo. Nessa edição vocês vão realizar um estudo sobre o setor. Qual o objetivo dessa pesquisa e quando os resultados serão concluídos? O objetivo é a gente ter um panorama, um diagnóstico profundo sobre a cadeia do artesanato que vai nos dar subsídios para entender essa cadeia e podermos traçar as estratégias mais adequadas e estruturantes para esse setor. O estudo tem quatro pilares: mercado (olhar para o artesanato a

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"A sanfona de oito baixos está desaparecendo em Pernambuco"

Documentarista e pesquisador critica a falta de espaço para o forró tradicional nas festas juninas do interior de Pernambuco, aponta os novos talentos do baião e defende a implantação de uma política que leve o legado de Luiz Gonzaga às escolas para que essa cultura não se acabe. Apaixonado pelo Sertão, o documentarista e pesquisador Anselmo Alves, há anos tem travado uma batalha em prol das tradições da cultura sertaneja, em especial da preservação da sanfona de oito baixos. Ao longo do tempo, os músicos que tocam o instrumento têm diminuído em Pernambuco, o que pode ser uma sentença de morte para o ritmo que Luiz Gonzaga popularizou. “A sanfona de oito baixos é importante porque é matriz musical do forró, é de onde surgiu o baião”, justifica Anselmo. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o documentarista critica a programação do período junino nas cidades do interior pernambucano, onde o forró tradicional não merece destaque. Aponta quem são os novos talentos que bebem na fonte de Gonzaga e defende uma política voltada para difundir o baião entre a garotada de Pernambuco. “Mestre Salustiano falava um negócio fantástico: ‘se o folguedo não chegar na criança, ele morre’. A sanfona de oito baixos não está chegando na criança”. O que você acha da presença do forró no São João de Pernambuco atualmente? No Recife, graças a Peixe (João Roberto, ex-secretário de Cultura do Recife), já há 20 anos, não se permite que o forró de plástico e a dupla sertaneja entrem nas festas juninas, embora já tenha entrado no Carnaval, mas no São João foi a única capital que resistiu em botar o forró autêntico. Nas outras cidades o que se ouve é dupla sertaneja, funk, passinho. Eu não sou contra nenhum desses ritmos, agora o São João é uma festa de tradição, que vem de Portugal, e quem joga o lado profano e belo é Luiz Gonzaga. Essa história começa a ser destruída a partir dos anos 1970, 1980 até os anos 1990, com a antena parabólica. Naqueles anos, os meninos de Serra Talhada – onde eu nasci – não torciam para o Náutico, nem para o Sport, nem para o Santa Cruz. Torciam para os times do Sul do País que viam na televisão e, ao mesmo tempo, assistiam às duplas sertanejas. Para deixar mais distante da juventude o xote, o xaxado, o baião e o arrasta-pé veio a segunda leva com Carla Perez, a sexualização do palco e a dança da garrafa que, há 20 anos, vendia três milhões de discos. Não sou conservador, nem contra a sensualidade do palco. Sou contra a sensualidade chula, ou seja, uma música que descontrói a mulher e enaltece o homem como a letra de uma canção do Saia Rodada que diz “dinheiro na mão, calcinha no chão”. Isso é um estímulo à prostituição. Essa música que se diz forró, não é xote, nem xaxado, nem é baião, só usaram o nome forró. Roubaram, é um estelionato poético. Eu nasci em Serra Talhada, numa vila de 18 ruas, meu tio era músico e passou a adolescência com Moacir Santos (arranjador, compositor, maestro e multi-instrumentista falecido em 2006), que quando estava no interior ia para a casa do meu tio. Conheci muito Moacir Santos. Então eu vivi num ambiente musical e eu ficava encantado quando vovô me levava para a feira, onde eu via um cego tocando uma sanfona de oito baixos. Era uma coisa mágica! Mas imagine se eu tivesse 11 anos hoje, cheio de hormônios, eu ia ver um velho cego, pobre, tocando sanfona de oito baixos, ou uma mulher bonita no palco? Claro que falam mais alto os hormônios do que as harmonias. Então eu acho que existe uma desconstrução muito grande. Pergunta se na festa do peão boiadeiro, lá do Centro-Oeste, o pessoal vai deixar a gente tocar Zé Marcolino, Zé Dantas, Luiz Gonzaga, Humberto Teixeira? Não vai. Pergunta se no Rio Grande do Sul, que mantém a tradição (e isso se deve muito a Borghettinho (o instrumentista gaiteiro Renato Borghetti), e ao CTG, Centro de Tradições Gaúchas, que foi fundado há 60 anos e hoje tem centros espalhados não só no Brasil, mas no Uruguai, no Paraguai, que preservou a cultura. O axé da Bahia é maravilhoso. Acho Ivete Sangalo maravilhosa, midiática, é uma artista completa, canta aqui, canta em Las Vegas, é aplaudida em todo lugar. Agora o que é que Ivete Sangalo tem para abrir o São João de Caruaru? Toda essa história do baião, do xaxado, dessa festa profana de Gonzaga nasceu com a sanfona de oito baixos. Faço parte de um movimento chamado Respeitem os Oito Baixos. Somos eu, Leda Dias (cantora) e Diviol Lira (acordeonista). O instrumento em Pernambuco é terminal. Há 15 anos que eu luto para que essa matriz musical não desapareça. A sanfona de oito baixos é importante porque é matriz musical do forró, é de onde surgiu o baião. Ela foi trazida pelos portugueses no começo do século passado e chega no Nordeste brasileiro, no Sertão mais precisamente, na época do velho pai de Luiz Gonzaga, na década de 20. Nessa época muda-se a afinação do instrumento que era europeia e fazem uma adaptação para poder tocar o forró. É a chamada afinação transportada. Esse código musical da sanfona de oito baixos é único no mundo. Aqui, em Pernambuco, existem apenas cinco crianças que tocam o instrumento. Há também a Or - questra da Sanfona de Oito Baixos que eu ajudei a construir, são uns 20 instrumentistas experientes que nunca foram à escola de música, grande parte é analfabeta. E a gen - te perdendo tudo isso, porque não houve uma política pública que garantisse uma escola permanen - te da sanfona de oito baixos, como Borghettinho fez no Rio Grande do Sul, a Fábrica de Gaiteiros. Então você acha importante incentivar as crianças? Foi o que Luiz Gonzaga fez aos distribuir sanfonas para a garotada. Cento e quarenta para ser mais preciso. Gonzaga viu Dominguinhos, com 14 anos, tocando

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"Uma forma de resolver o problema da Transnordestina seria o Governo Federal bancar o trecho Salgueiro-Suape"

Um convênio firmado entre os governos de Pernambuco e Federal poderia acelerar a construção da Transnordestina, ao articular todos os players envolvidos no empreendimento, distribuir as responsabilidades de cada um deles e determinar prazos para o término das obras. A proposta é defendida pelo Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco) e, segundo João Recena, membro do Comitê Tecnológico da entidade, essa seria uma maneira de tornar mais concreta a promessa feita pelo ministro dos Transportes Renan Filho de que a conexão para Suape da ferrovia será concluída. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Recena, que é engenheiro civil e também consultor da TPF Engenharia, salienta que muitos são os desafios enfrentados pelo presidente Lula neste início de mandato e que, por isso, a sociedade civil organizada precisa se manter mobilizada em defesa do ramal do porto pernambucano. Caso contrário, “o trecho Salgueiro-Suape vai ficar na enésima prioridade do Governo Federal e tem tudo para não acontecer”. Recena também afirma que a execução pública da obra da ferrovia é a melhor alternativa para o empreendimento ser concluído com mais velocidade. Confira a seguir a entrevista. Na sua opinião, quais as chances de a Transnordestina ser construída em seu projeto completo, com as duas saídas, uma para Pecém, outra para Suape, depois das declarações do Ministro dos Transportes, Renan Filho, que assegurou a manutenção do porto pernambucano no projeto? Acho que existe, realmente, uma chance desse trecho de Salgueiro a Suape ser construído. Mas o contrato hoje com a concessionária só prevê a construção do trecho de Salgueiro a Pecém, então é necessário que o Estado de Pernambuco demonstre interesse pelo projeto. Por exemplo, recentemente a Ministra do Planejamento, Simone Tebet, esteve no Recife colhendo informações sobre as prioridades do Estado para constar no plano Plurianual do Governo Federal. Segundo nos consta, o trecho Salgueiro-Suape foi incluído como uma das prioridades do Estado. Mas essa insistência deve ser algo a ser destacado permanentemente pelo Governo de Pernambuco, porque o que se imagina, neste momento, é que essa construção passaria por investimento público, ou seja, vai entrar no Orçamento Geral da União. Para isso, essa obra vai competir com várias outras. Não se sabe exatamente o valor que precisaria ser investido nesse trecho, a gente ouve falar de R$ 2 bilhões a R$ 4 bilhões. Mas é um bom dinheiro e isso precisa de ser prioridades senão não entra no OGU. Tem que manter a chama acessa, tem que manter a bandeira em pé, tem que haver insistência e cobrança senão não sai, essa é a verdade. E que tipo de ações o senhor acha que são necessárias, tanto por parte do Governo do Estado quanto por parte da própria sociedade pernambucana para garantir a construção do trecho Salgueiro-Suape? Acho que por parte da sociedade, há mobilizações, como a que o Crea está fazendo, assim como também a Amcham e a Câmara de Diretores Lojistas, entidades com as quais o Crea já se reuniu para abordar o assunto. A Transnordestina não é um tema que impacte o dia a dia das pessoas, como uma greve dos caminhoneiros, que pode desabastecer a cidade e todo mundo fica ligado. A população não tem uma dimensão exata do que ela representa para o desenvolvimento do Estado, nem o que vai ser transportado nela. Então, as pessoas que possuem essa informação devem estar à frente desse movimento. Cabe especialmente à sociedade civil organizada manter a chama acessa. Do ponto de vista de execução, de levar o projeto adiante, o que nós , engenheiros, ressaltamos é que é necessário um levantamento da atual situação do trecho Salgueiro-Suape, porque a contratação de uma obra precisa de um projeto. Se a obra está parcialmente construída, é preciso levantar tudo que está construído para contratar o que falta, já não é mais um contrato do projeto inicial. Então, tem que haver um levantamento criterioso para saber qual é o projeto que tem que ser executado para concluir a obra. Sabemos também que essas obras que passam muito tempo sem avanço sofrem deterioração. A chuva, especialmente, deteriora os maciços construídos, os aterros etc. Acho que deve haver um alinhamento dos governos do Estado e Federal, que poderia passar por um convênio para alinhar as medidas que precisam que ser tomadas, como a contratação de uma construtora, temos que conferir como essa obra vai entrar em Suape, como vão ser encaminhados os projetos dos terminais do porto, seja terminal de grãos ou de minérios. Então precisa de uma articulação de inúmeras ações. Acho que faria muito bem se nós tivéssemos um convênio entre o governo estadual e o federal para alinhar isso tudo e definir as responsabilidades: quem vai fazer o quê e quem vai pagar o quê. Defendemos que, se é uma obra federal, o Governo Federal deveria aportar os recursos, mesmo que fossem encaminhados pelo Governo do Estado. Por exemplo, na época do primeiro estágio de construção da Transnordestina, alguma coisa como duas mil desapropriações foram estudadas e projetadas pelo Governo de Pernambuco e o aporte de recursos para executá-las foi federal. Então, o Governo de Pernambuco fez uma parte importante que foi estudar toda essa situação de desapropriação, mas quem aportou o recurso foi o Governo Federal. Então acho que um convênio como esse poderia alinhar as obrigações de cada parceiro e tocar a obra para frente. Essa sugestão do convênio já foi levada ao Governo do Estado? Tivemos uma reunião no Crea com a presença do secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Guilherme Cavalcanti. Conversamos sobre o convênio, tentando, inclusive, apoiá-lo. Ele está bastante mobilizado para enfrentar o problema. Sugerimos a possibilidade de se ter esse convênio entre os dois governos para alinhar o que exatamente deve ser feito e, por meio, dele, se poder cobrar a responsabilidade, prazos, recursos etc. de cada parte. O senhor acha que o modelo mais promissor para concluir o trecho de Salgueiro-Suape seria a execução pública da obra em vez da autorização? Existe a alternativa levantada de uma empresa privada

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"Nossa proposta é nos tornarmos um centro de cultura e lazer"

Nos últimos tempos, o Recife assistiu ao fechamento de muitas livrarias. Mas, há pouco mais de um mês, os apreciadores da literatura tiveram a boa notícia da abertura da Livraria do Jardim - Espaço Plural, um complexo cultural que conta com a Livraria do Jardim, que oferece títulos de literatura, e também com o Varejão do Estudante – tradicional loja especializada em livros escolares – e o simpático e bucólico Café Celeste. A história desse negócio começou com o Varejão do Estudante, fundado há 27 anos pelo livreiro Pedro Tavares, que já acumula mais de 50 anos no ramo editorial. A Livraria do Jardim - Espaço Plural – que tem investimento total de R$ 3 milhões, executado com recursos próprios – faz parte de uma virada de chave dos negócios da família Tavares, que agora expande a sua atuação para além do setor escolar. Nesta conversa com Cláudia Santos, a sócia do empreendimento, Carolina Tavares, conta a trajetória dessa família empreendedora, que tem no pai, Pedro Tavares, uma inspiração. Carolina fala da conexão da família com o bairro da Boa Vista, onde está situada a loja, da relação com o pai e a irmã, Simone, que é sua sócia, conta como a pandemia impactou os negócios, e as perspectivas de transformar o novo espaço num centro cultural e de lazer. Como começou a história da Livraria do Jardim - Espaço Plural? Meu pai foi distribuidor de uma editora chamada IBEP, há muitos anos, e o negócio prosperou, foi crescendo. Na década de 1990, abrimos uma papelaria e uma livraria que só vendia livros escolares: o Atacadão de Papelaria, no bairro da Boa Vista. Depois, entramos numa sociedade e mudamos de prédio. A sociedade não deu tão certo, voltamos para o prédio anterior e abrimos o Varejão do Estudante, há 27 anos, para trabalhar apenas com livro escolar, não mais com papelaria. O negócio cresceu, graças a Deus, em termos, inclusive, de público. A gente atendia muito bem, oferecíamos muitas facilidades aos clientes. Na época em que não se fazia parcelamento muito longo, fazíamos uma promoção no começo do ano em que se pagava em cinco parcelas. Eram cinco cheques pré-datados e a pessoa só começava a pagar em março, porque no começo de ano, as famílias sempre têm muita despesa. Quando vieram os cartões de crédito, conseguimos aumentar o parcelamento. Nós nos tornamos a única livraria do Brasil que só trabalhava com livro escolar. Tempos depois começamos a trabalhar com literatura. Duas grandes distribuidoras daqui fecharam e eu acabei ficando com o estoque delas. Como na loja antiga não tinha espaço físico, veio a ideia de nos mudarmos para um local maior. O prédio foi construído na frente da loja. Era um galpão, com o triplo do tamanho da loja anterior, com mais de 1.700m², onde construímos o novo negócio. Como é esse novo conceito de loja? Ele foi projetado para trabalharmos como um complexo, que chamamos agora de Livraria do Jardim - Espaço Plural, no qual temos vários negócios dentro dele: o Varejão do Estudante, a Livraria do Jardim e o Celeste Café. São três marcas independentes, assim cada uma tem seu lugar, sua gerência, seu nicho de negócio e planejamento. Cada uma tem sua meta e convive dentro do mesmo espaço. A gente se retroalimenta, foi criado para uma marca dar suporte à outra. A Livraria do Jardim e o Varejão do Estudante têm um acervo de 50 mil títulos. É uma loja grande, muito bem sortida. O Celeste Café está também indo superbem, é um lugar muito bonito e aconchegante. Ao lado dele há um jardim enorme. Daí o nome de Livraria do Jardim. Fazemos muitas atividades lá e temos um estacionamento para mais de 50 vagas. Em 4 de abril fizemos uma virada de chave para o nome novo, para trabalhar as outras marcas. A Livraria do Jardim também promoverá eventos. Temos atraído um movimento legal de pessoas, encontros, saraus, lançamentos de livros, tarde de autógrafos, contação de histórias para as crianças. Temos parcerias com colégios. O ambiente foi criado para ocuparmos esse espaço na Boa Vista, que já foi o centro cultural da cidade. Vocês pretendem contribuir para resgatar essa característica? Nossa proposta é nos tornarmos um centro de cultura e lazer, onde você pode tomar um cafezinho, ver uma exposição, trocar uma ideia com os amigos, escutar uma música legal, ver seu autor preferido, trazer as crianças. O mundo do livro precisa desse contato com o papel. Eu mesma não consigo ler um livro digital, preciso pegar o papel, sentir o seu cheiro. Também trabalhamos com o público infantil, é importante desenvolver leitores, tornar a leitura algo agradável, mais próxima, mais fácil. O ambiente da criança na livraria foi feito para que ela possa pegar os livrinhos, sentar, curtir. Como vocês enfrentaram a pandemia? Antes de trabalhar como um complexo, passamos quase cinco anos em projetos, aprovações das obras até que mudamos em dezembro de 2019 para o novo prédio. Passamos bem o período de época escolar, que foi de dezembro de 2019 a março de 2020. É uma época em que o livro didático é a alma das vendas. Mas, logo depois, tivemos que fechar a loja por causa da pandemia. Como todo mundo, achamos que seria uma coisa breve. Aí, o negócio foi apertando, a gente foi se aperreando, mas meu pai é uma pessoa muito segura. Ele disse: “calma que a gente vai dar jeito, calma que o negócio vai funcionar, vamos devagarinho”. E viemos vivenciando tudo isso. E aí, abrimos a loja que foi criada para ser uma loja pop-up. Então, ela cresce o espaço do livro escolar quando precisa ou abre um espaço para eventos, temos essa mobilidade. Mas foi muito difícil porque a gente não tinha público, todo mundo estava em casa, sem aula, sem poder sair. Não tínhamos delivery. Mas, foi muito bom para pensar e reestruturar o negócio. Não demitimos ninguém, mantivemos todos os 63 funcionários. Voltamos 100% em agosto e encontramos um negócio muito

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"Ter a Transnordestina concluída é o desafio que nós todos do Nordeste precisamos enfrentar"

O deputado federal Pedro Campos diz ser preciso “muita luta, muita força política” para que a obra da ferrovia seja finalizada. Ressalta que mesmo o Ceará, que continua na concessão do projeto, está apreensivo quanto à sua conclusão e propõe um diálogo amplo para buscar a melhor alternativa para concluir o empreendimento. (Foto: Lula Carneiro) P ara que o transporte de carga pelos vagões da Transnordestina torne-se finalmente uma realidade, o deputado Pedro Campos (PSB-PE) entende ser preciso ainda “muita luta, muita força política”. Ele analisa que a apreensão sobre a conclusão do projeto – que deveria ter acontecido em 2010 – é um sentimento compartilhado tanto pelo Ceará quanto por Pernambuco. Após o ministro dos Transportes Renan Filho ter assegurado a construção da linha para Suape, o parlamentar acredita que o momento agora é de diálogo com todas as partes interessadas no empreendimento e de vislumbrar as soluções para que seja construído da maneira mais breve possível. Por isso, organiza uma audiência pública para tratar do tema na Câmara Federal. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Pedro Campos ressalta que a Transnordestina deve ser vista como um projeto de integração e desenvolvimento do Nordeste, que vai beneficiar vários Estados nordestinos. O parlamentar também fala de outras obras estruturadoras da região e ressalta a importância de implantar uma política de incentivos para a industrialização e a geração de emprego e renda. O que o senhor achou do pronunciamento do ministro Renan Filho assegurando que a conexão da Transnordestina até o Porto de Suape está mantida, podendo ser construída com recursos públicos ou privados? Esse pronunciamento, na verdade, já é uma constatação feita desde a eleição do presidente Lula e do compromisso que ele tem com o projeto da Transnordestina por inteiro. Está claro que essa missão foi passada para o ministro dos Transportes para poder viabilizar a obra por inteiro. Estamos ainda na mesma situação de avaliar os cenários. O ministério está avaliando a possibilidade de fazer a autorização ferroviária para o Grupo Bemisa realizar essa construção, ou o plano B, que seria colocar o recurso público diretamente por meio de uma obra pública que poderia ser executada pela Infra S.A. ou algum outro órgão do Governo Federal. Acredito que o ponto que se avança em relação ao cenário anterior é a constatação de que o retorno à concessão não é uma das possibilidades colocadas. E como foram as articulações na Câmara em prol da conexão da ferrovia com Suape e quais os próximos passos da Frente em Defesa do Nordeste? Tivemos o lançamento da frente firmando o compromisso de lutar por obras estruturadoras no Nordeste. Estamos falando da Transnordestina e algumas outras obras como a ferrovia Oeste-Leste da Bahia, ou a duplicação de algumas BRs importantes. Depois, na reunião da bancada, tivemos a oportunidade, junto com a ministra Simone Tebet, de poder discutir as questões mais voltadas ao planejamento e à política de incentivos ao desenvolvimento da região. No mesmo dia da reunião da Comissão de Integração Nacional, na Câmara, tive a oportunidade de apresentar um requerimento, que foi aprovado, para a realização de uma audiência pública sobre a Transnordestina. Esse será o próximo passo a ser dado até para contribuir neste estágio atual de análises dos cenários. Estamos chamando a TLSA, a Bemisa, o Ministério dos Transportes e organizações dos governos locais para que seja feito um debate sobre esses cenários e que fique mais fácil a construção do melhor caminho para que possamos ver a Transnordestina ser construída como um todo. É importante ressaltar que, antes disso, foi feita uma reunião com os deputados federais de Pernambuco, convocada pela governadora Raquel Lyra, em relação a essa questão. A Bancada Pernambucana, desde o governo anterior, vem apoiando e se mobilizando. O coordenador da bancada, Augusto Coutinho, continua muito ativo em relação a essa participação. A bancada de deputados estaduais também tem se movimentado. Participei de uma audiência pública realizada por essa bancada, pela Frente de Defesa da Transnordestina, liderada pelo deputado João Paulo. Vemos uma sinergia muito forte dos atores políticos de Pernambuco para lutar por essa ferrovia por inteiro, especificamente do trecho de Salgueiro até Suape. A audiência pública já tem data prevista? Ainda não foi marcada a data. Há uma dificuldade regional em razão do período dos festejos juninos, que a gente sabe que acaba demandando muito dos parlamentares e dos governadores. Mas a expectativa é que logo após o período junino e antes do recesso parlamentar, marcaremos essa audiência pública. Qual a importância da Transnordestina para Nordeste? A Transnordestina foi pensada como um projeto de integração e desenvolvimento do Nordeste, para ligar Piauí, Pernambuco e Ceará e, obviamente, impactar os estados vizinhos. Sabemos que, por exemplo, a região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), vai poder escoar os grãos pela ferrovia. Sabemos que existe a possibilidade de integração com a Norte-Sul, uma importante ferrovia que cruzará o Maranhão. E sabemos também que Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas poderão se beneficiar com a Transnordestina. A ferrovia foi pensada como um projeto estruturador de integração e desenvolvimento do Nordeste, que pode fortalecer a industrialização e a logística da região que permite que os negócios possam ter maior viabilidade econômica e financeira em serem implantados. Acredito que é essa mesma visão que faz com o que o presidente, hoje, diga ao seu ministro que ele quer ver a Transnordestina realizada por inteiro para que se mantenha essa visão de integração e fortalecimento do Nordeste, que não seja pensada com uma visão estreita de simplesmente escoar um produto específico do Piauí através do Porto do Ceará. Qual das alternativas o senhor acha mais promissora: a autorização ou a execução pública? Acredito que ainda devam ser aprofundadas as questões em torno de cada uma dessas soluções. A autorização ferroviária já daria solução para a implantação e operação da ferrovia, tendo em vista que a empresa autorizada, além de construir, teria também autorização para operar a Transnordestina. A execução da obra pública é uma solução emergencial muito mais

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