Em tempos de recessão e crise financeira, empresas pernambucanas decidiram se aliar com outras e realizar o compartilhamento dos escritórios. A ideia, aos poucos, está se alastrando. De acordo com dados da Coworking Brasil, organização que representa os números dos escritórios compartilhados, desde 2011, a quantidade de espaços divididos entre diferentes empresas subiu de 11 para 240 em todo o País. Uma das empresas que decidiram optar pelo compartilhamento do escritório foi a A Ponte Comunicação, que presta serviços de assessoria de imprensa. De acordo com Kennedy Michilis, dono da instituição, além da redução de custos, houve também uma melhora nas relações interpessoais dos funcionários. "Nós somos três empresas no prédio, que dividimos as contas. Houve uma melhora de clima dentro da equipe, porque você acaba interagindo com mais pessoas. Nós, por exemplo, temos uma copa coletiva, onde as pessoas conversam, almoçam, trocam ideias ou até mesmo ficam para a hora do cafezinho", conta. Além da A Ponte Comunicação, há mais uma assessoria de imprensa e um estabelecimento de mídia exterior. A divisão de custos é levada a sério em empresas que compactuam o mesmo local de trabalho. De acordo com Kennedy, elas dividem desde os custos com aluguel até faturas de água e energia ou até mesmo manutenções que são feitas esporadicamente. "Acho que é uma tendência, pelo menos enquanto a economia estiver retraída desse jeito", acredita. Entretanto, apesar dos reais benefícios, há alguns problemas a serem contornados. "Como o número de empresas que o espaço consegue acomodar bem é quatro e hoje só existem três, acaba sendo uma desvantagem porque existe um espaço ocioso na casa e esse espaço precisa ser bancado por quem fica. Hoje, essa redução está em torno de 20%, mas, ainda assim, são números bem interessantes", explica Kennedy. O jornalista, entretanto, alerta para possíveis obstáculos para aqueles que almejam compartilhar. Para ele, empresas de ramos diferentes podem não dar certo em um mesmo espaço. "O compartilhamento depende muito da característica do serviço, pois é isso que vai determinar ou não se você consegue compartilhar um espaço. Esse modelo funciona muito para pequenas empresas, profissionais liberais, arquitetos e advogados, por exemplo", explica. "Realmente o que determina é o modelo de negócio, não é qualquer coisa que vai dar certo, como por exemplo, um salão de beleza e uma locadora de veículos. É necessário possuir alguma convergência", esclarece. Em janeiro, o designer João Faissal decidiu sair de João Pessoa, sua terra natal, para morar no Recife. Da Paraíba, ele trouxe o modelo de escritórios compartilhados. Desde janeiro, ele divide o mesmo espaço com mais duas empresas em uma sala num prédio na Avenida Dantas Barreto, no bairro de Santo Antônio, área central da capital pernambucana. De acordo com o designer, o compartilhamento de espaços em João Pessoa ainda não atingiu o padrão seguido no Recife. "Acho que o nível das empresas independentes do Recife, aquelas que não estão ligadas a grandes clientes, é um pouco maior. Em João Pessoa, o pessoal ainda está começando a ter um pouco de liberdade de trabalho. Aqui, o pessoal já está muito mais à vontade", conta. Além da redução nos gastos, ele ressalta que a troca de experiências e o aprendizado é diário nesse novo tipo de empreendimento. "Antes de tudo, nós compartilhamos conhecimento. Eu trabalho ao lado de pessoas que, teoricamente, são meus concorrentes no mercado, se pensarmos no modelo tradicional. Mas, eles estão sentados perto de mim e sempre conversamos sobre como resolver problemas e abordar soluções. Para mim, isso é o que mais importa", comenta. Exatamente pela liberdade com os demais ocupantes do espaço, de acordo com João Faissal, abre-se um leque de opções para a realização de trabalhos e serviços, ou seja, a rede de contatos se estende. A queda do modelo habitual mercadológico, na opinião do designer, é uma questão de tempo. Para ele, a divisão de um espaço entre integrantes de empresas diferentes é um fragmento da evolução das relações interpessoais. "O compartilhamento é um nível inicial de se desconectar desse mercado tradicional. Creio que essa prática não é algo que vai passar, não é uma moda. Muito pelo contrário. É uma necessidade do ser humano deixar de ser tão individualista. Essa prática só favorece as relações humanas e de trabalho", analisa. De olho nessa tendência, já existem organizações especializadas em oferecer escritórios compartilhados para locação. A empresária Daniela Melo é uma das proprietárias da Workhall Coworking, que fundou em 2016, ao perceber as mudanças nos conceitos tradicionais de trabalho. "Durante a fase de montagem da empresa, que durou um ano, uma coisa que nos chamou atenção foi a tendência de compartilhar. O compartilhamento está mudando a maneira de consumo de muitos serviços, como o de transporte, como o Uber, hospedagem, como o Airbnb e, claro, de trabalho", afirma Daniela. A empresa oferece diversos serviços relacionados a essas novas práticas, com preços diferentes de acordo com a necessidade do cliente. "Procuramos oferecer toda a estrutura para o profissional, como mesas de trabalho num espaço compartilhado, salas de reunião, que podem ser alugadas por hora, e salas privativas, para aquelas pessoas que, mesmo compartilhando a estrutura, ainda precisam ter um lugar mais reservado para elas", explica. "A principal vantagem, além da economia, é a possibilidade de compartilhar e trocar experiências com outras pessoas", completa. O crescimento na procura pelos serviços faz com que o futuro seja encarado como favorável. "A nossa aposta para o futuro desse mercado é promissora. Com a tendência de compartilhamento, podemos dizer que o coworking é definitivamente um mercado do presente que permanecerá no futuro", prevê Daniela.