Arquivos Notícias - Página 637 de 648 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Notícias

Teatro em tempos de crise (por Romildo Moreira)

“Ai a crise, ai a carestia!” – Vive dizendo o personagem Eurico, da peça O Santo e a Porca, do mestre da dramaturgia brasileira, Ariano Suassuna. Ariano escreveu esta comédia há 58 anos atrás. Mesmo considerando que “os tempos eram outros”, a frase hoje se põe atual, porque no teatro, uma crise se acaba para dar início a outra. Falo de crise econômica. Desta forma, não recordo ter vivenciado um período de fartura de patrocínio para as produções teatrais. Mas lembro dos canais de recursos que existiam para impulsionar montagens por todo o Brasil, através do Projeto Auxílio Montagem, expedido pelo Ministério da Cultura, em parceria com os governos estaduais. Isso nas décadas de 1970/1980. E lembro ainda os espaços bem equipados e conservados à nossa disposição, até pouco tempo atrás. Também nesta época era comum encontrar apoiadores (médios e pequenos empresários) para as montagens locais dos grupos mais notórios ou personalidades do teatro pernambucano, o que aliviava, mas não eliminava à crise financeira no teatro de então. – Com o advento das leis de incentivo, e com o passar do tempo, percebeu-se que “a crise” não passara com este moderno e democrático mecanismo de patrocínio, comparado o número dos que aprovam e conseguem executar seus projetos, com os que não conseguem o mesmo intento. E os apoios particulares de outrora, sumiram. Atualmente, quem se aventurou em busca de patrocínios em empresas privadas nos últimos 18 meses, Como é o caso do espetáculo Angelicus, sentiu de perto as intempéries do momento econômico do país, e recordou o chavão do Eurico de Ariano: Ai a crise, ai a carestia! Pois bem, em tempos de crise em todos os setores produtivos da sociedade, obviamente o artístico é o mais penalizado, e provavelmente entre às artes, o segmento cênico (teatro, dança, circo e ópera) seja o que mais sofre com a recessão. Fazer teatro é caro, visto que se trata de uma arte coletiva, que necessita de profissionais de vários setores para se concretizar uma montagem, que por sua vez necessita de público pagante para custear as despesas e, com crise, o público já escasso normalmente, reduz drasticamente a ida ao teatro. É aí que entra o papel do poder público, através dos seus órgãos de cultura, cumprir o que determina a Constituição Brasileira, no que se refere à cultura. – Porém, é corrente ouvir-se nos gabinetes de cultura, em todas as esferas, que: Com crise, não dá para reduzir gastos da saúde, da educação e da segurança... – O resto da frase, se sabe bem qual é. O bom senso advoga que, uma sociedade culturalmente elevada e intelectualmente evoluída, em geral, tem uma saúde mais equilibrada, um compromisso constante com a qualidade da educação (inclusive a doméstica) e, por conseguinte, uma segurança mais eficaz, visto que as agressões físicas e morais são reduzidas a casos perdidos. E sendo a arte, de modo geral, um instrumento de elevação cultural de uma sociedade, o teatro, em especial, alavanca o intelecto a níveis surpreendentes. Falo aqui de um teatro que vale a pena o poder público subsidiar, porque a pratica, hoje, dos espetáculos bancados pelo próprio mercado, não alcançam esse patamar de resultado, por opção. – Sendo este o quadro visível a olho nu, precisamos, com urgência, rediscutir o papel e a prática das leis de incentivo, assim como a função do Estado na produção cultural e, com diálogo franco, reconquistar outros mecanismos de incentivo público à produção artística, antes que a mediocridade seja um legado cultural para o nosso povo. No caso específico do Recife, é preciso correr contra o tempo já perdido, em busca de um futuro promissor, para que não figure em nossa história recente apenas lamentos como: fomos o terceiro polo de produção teatral do Brasil; tivemos um dos melhores festivais de teatro e de dança do país; fizemos a melhor montagem de Garcia Lorca fora da Espanha, reconhecido pelo governo espanhol, etc., etc. – Só para lembrar, hoje na capital pernambucana existe uma nova geração preparada para essa necessária retomada do crescimento artístico e intelectual da cidade, a exemplo do que ocorre com o cinema, aguardando as oportunidades surgirem. E essas oportunidades dependem do entendimento que os gestores públicos têm do significado da cultura pernambucana no cenário nacional e da cidade do Recife que é, por natureza, um celeiro de grandes artistas (do passado e do presente) que hoje, infelizmente, entoa a cantilena do texto de Ariano “Ai a crise, ai a carestia!”. Por Romildo Moreira - ator, autor e diretor de teatro

Teatro em tempos de crise (por Romildo Moreira) Read More »

Cultura Nordestina de casa nova

O Centro de Cultura Nordestina Letras e Artes está de endereço novo, no Poço da Panela. A casa ampla e ajardinada mantém as atividades para quem gosta de literatura, mas abriu a oportunidade para novos eventos nos quais até o público infantil é contemplado. A mudança ocorreu graças à parceria que Salete Rêgo Barros – que vem comandando o centro – fez com a psicóloga Krystiane Nunes. “Ela tem um olhar muito voltado para as artes e agora está dividindo a organização comigo, o que tem permitido abrir novas frentes de trabalho”, comemora Salete. Krystiane está animada com a nova função e pretende ampliar ainda mais a proposta do centro de trabalhar a literatura fazendo uma conexão com diversos tipos de arte. “Queremos estimular o olhar para várias formas de expressão artística.” Para quem não conhece, o Centro de Cultura Nordestina Letras e Artes é caracterizado por esse mix de eventos artísticos. Nele funciona uma livraria, uma lanchonete onde se vende delícias da gastronomia pernambucana e uma editora. No local também são realizados vários cursos. A concepção do espaço foi construída aos poucos por Salete. Tudo começou, há cerca de 20 anos, quando sua mãe, a escritora Ivanete Rêgo Barros, publicou um livro por uma editora com tiragem de 8.500 exemplares para ser vendido em todo o País. Como pagamento, ela recebeu um pequeno percentual das vendas. “O valor pago me revoltou, não precisava ser tão baixo”. Foi com esse sentimento de indignação que ela decidiu produzir, por conta própria, no seu computador um outro livro de sua mãe. Foram 50 exemplares. “No lançamento as pessoas ficaram interessadas em lançar seus livros da mesma forma. Pioneiramente, comecei, sem querer, a produzir obras em pequenas tiragens”, ressalta Salete, que de arquiteta passou a militar na área cultural. Surgia assim a Novo Estilo Edições do Autor. “Comecei sem pretensão trabalhando em casa. Fazia 50, 100, 500 exemplares", conta. Até que há quatro anos ela montou a editora no antigo endereço das Graças, onde também criou uma pequena livraria com os títulos que edita e também obras publicadas por outras editoras. A Novo Estilo Edições do Autor diagrama, edita e faz a impressão dos livros e já lançou mais de 400 títulos. Mas ao contrário das editoras tradicionais, o escritor paga pelos serviços, é o dono da sua produção e ele mesmo comercializa. Logo Salete percebeu que seus clientes precisavam de um para local fazer o lançamento e a venda dos livros. Surge então a livraria, na qual as obras são vendidas por consignação e 25% ficam para o espaço. No desenvolvimento do seu trabalho, Salete também notou que seus clientes necessitavam de um certo aperfeiçoamento, por isso, passou a promover cursos para capacitar os escritores. “Oferecemos o curso de Atualização da Língua Portuguesa, com a escritora Ana Maria César, além da Oficina de Criação Literária, com Raimundo Carrero”, informa Salete. Outro destaque é o Laboratório de Expressão Poética e Oratória, com Bernadete Bruto. As capacitações também visam estimular a criatividade trabalhando com imagens: são oferecidos curso de desenho ministrado por Cavani Rosas e de fotografia, com Rinaldo Mafra. O centro também promove sessões de filmes de arte. O espaço oferece ainda o curso de música, com a pianista Fabiana Guimarães, que também coordena o Grupo de Estudos Intuição e Arquétipos no Processo Criativo. Para integrar ainda mais os frequentadores do local, é realizado um sarau literomusical uma vez por mês, com apresentação de músicas e declamação de poesias. “É um espaço de convivência”, resume Salete. SÁBADO. A conquista nova casa, mais espaçosa, garantiu a realização de outros eventos. Uma das novidades é o Café com Cordel, que acontece todos os sábados a partir das 8h. “Oferecemos um café regional e o cordelista Ismael Gaião convida outros cordelistas para recitar”, informa Salete. Logo depois é a vez da garotada se deliciar com a contação de história comandada por Vera Nóbrega. No quintal cheio de esculturas e plantas, as crianças encenam os contos, como se fosse um teatro. Também vão acontecer debates literários coordenados por Edgar Mendes Nunes, nos quais um escritores pernambucano terá sua obra debatida por dois dois especialistas com pontos de vista diferentes. Outra novidade é o Curso de Fotografia no Celular, ministrado por Rinaldo Mafra. “Ele ensina a utilizar os recursos do celular que a gente desconhece, mas que ajuda na qualidade da foto”, explica Krystine. E para os que curtem um pé de serra, na última terça-feira do mês acontece o Forrozando, comandado por Nerynho do Forró.

Cultura Nordestina de casa nova Read More »

Diversidade é pouco entendida nas empresas

Impulsionada pelas políticas de inclusão, pela força de movimentos como o feminista, negro e LGBT, além da mobilidade de profissionais tanto nas diversas regiões quanto entre países, a diversidade também chegou ao mundo corporativo. E as organizações só têm a ganhar, seja melhorando seu clima organizacional e até a sua imagem, seja conquistando um ambiente propício à inovação. Mas empresas pernambucanas ainda não atentaram para essa realidade, como mostra recente edição da sondagem Termômetro ÁgilisRH. A começar pelo conceito de diversidade, que não é bem compreendido. Tanto que a definição que teve o maior percentual de respostas na pesquisa foi “ter na equipe pessoas com formações e história profissional diversas”. Na verdade, o termo engloba indivíduos de diferentes idades, etnia/raça, credo, gênero, local de origem, orientações sexuais, necessidades específicas, estilo e até o passado pessoal. “A dificuldade em lidar com esse tema é um reflexo de como é complexo para a sociedade conviver com as diferenças”, salienta Carolina Holanda, sócia da ÁgilisRH, consultoria que realizou a pesquisa. Para mudar esse contexto, segundo a especialista, torna-se necessária a decisão do gestor para implantar uma política de gestão voltada para a inclusão. “A diversidade só começa a ser de fato instalada, quando ela é um valor da organização. Isso dificilmente parte da equipe, mas ter uma política de gestão da diversidade pode ser um diferencial para as organizações"”, adverte Eline Nascimento, também sócia da ÁgilisRH e coordenadora da pesquisa. A sondagem, porém, mostrou que dos 159 entrevistados, apenas 10,1% adotam políticas específicas. Por isso foram constatadas várias lacunas na gestão das empresas para promover a inclusão dos diferentes. Um exemplo é o fato de que apenas 5,7% dos entrevistados oferecerem apoio para a adaptação de funcionários oriundos de outras regiões ou nações. Quanto ao gênero, 30,8% afirmaram estabelecer remuneração equitativa para funcionários de ambos os sexos com a mesma competência. A realidade em todo o mundo mostra que essa equidade está longe de ser estabelecida. “O estudo Women at Work da Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontou que as oportunidades e a remuneração ainda são menores para as trabalhadoras , revela Eline. A pesquisa da OIT projeta também que no ritmo em que essa equiparação evolui serão necessários 70 anos para eliminar as diferenças de renumeração entre homens e mulheres. OBRIGAÇÃO. Os resultados da sondagem não surpreendeu a profissional de RH Simone Borba. Muitas empresas, segunda ela, concebem a diversidade apenas em relação às pessoas com necessidades específicas. Isso ocorre devido à Lei 8213, que define cotas para a admissão desses indivíduos nas organizações. “Essa não é uma demanda da empresa, é um assunto pouco discutido, mesmo nos grupos de RH. E a contratação de pessoas com deficiência é encarada como uma imposição”, constata. Uma realidade conhecida por Manuel Aguiar, que é cego e vivenciou dificuldades no trabalho. Hoje ele atua como consultor para ajudar as empresas a realizar programas de acessibilidade e inclusão. A indisposição dos gestores em contratar pessoas com necessidades específicas, diz Aguiar, baseia-se na ideia de que elas não são capacitadas para assumir um cargo. “Isso é meia verdade”, refuta. “O site do MEC informa um imenso número de pessoas com necessidades específicas com graduação, mestrado e doutorado”. Essa é uma das razões que levou Aguiar a usar o termo “pessoas com necessidades específicas” e não “com deficiência”. “No dicionário um deficiente é um inválido, um incapaz”, justifica. A capacitação desses trabalhadores é outro problema, já que na visão empresarial vigente, essa é uma responsabilidade exclusiva do governo, por isso não se propõem a capacitar. "O resultado desse cenário é que existem 350 mil pessoas com necessidades específicas no mercado de trabalho no País, o que representa apenas um terço do total de 1,2 milhão de vagas reservadas de pela lei de “cotas” para esses trabalhadores", revela Aguiar. E quando finalmente a pessoa com necessidade específica consegue um emprego tem que enfrentar outros obstáculos. É comum, segundo Aguiar, elas realizarem funções que estão abaixo da sua capacidade. Isso ocorre, muitas vezes, porque a empresa não investe nas chamadas tecnologias assistivas, que ampliam as habilidades funcionais desses funcionários. Um exemplo são softwares que permitem a cegos o uso de computadores. Outra barreira está no ambiente de trabalho que não é adaptado. “Um cadeirante tem que ter rampas na entrada da empresa, no ambulatório, no refeitório, no no centro de treinamento, etc. Há empresas que fazem apenas a adequação da baia onde o funcionário trabalha”, exemplifica Aguiar. Existe, portanto, muito desconhecimento por parte das empresas sobre a diversidade. Mas elas têm muito a ganhar se trabalharem o assunto. “Quando se sentem bem, os funcionários dão o melhor de si, o compromisso é maior onde sentem que são respeitados”, ressalta Simone. Há benefícios também para o clima organizacional, que se torna mais cooperativo e para o estímulo à inovação, já que a coexistência de pessoas diferentes pode gerar ideias criativas no trabalho. Sem falar nas vantagens para a imagem da empresa como uma organização sustentável que respeita as diferenças. “Isso proporciona uma maior identificação do consumidor com a marca”, garante Carolina. Um dado interesse mostrado pelo Termômetro Ágilis RH é que os entrevistados conhecem na teoria esses benefícios. Basta então partirem para a prática.

Diversidade é pouco entendida nas empresas Read More »

Nesta eleição o discurso político vai prevalecer

O pensamento dialético e o talento para escrever levaram José Nivaldo Júnior a uma vida agitada: ainda muito jovem foi diretor do jornal Região, em Surubim, e chegou a ser detido no fórum da cidade por uma matéria publicada; participou de ações da luta armada, conheceu a ira dos homens de Fleury no Dops, realizou campanhas para candidatos de diferentes ideologias e hoje é membro da Academia Pernambucana de Letras. Veja mais detalhes desse irrequieto jornalista, publicitário e escritor na entrevista que segue. Você nasceu em Surubim? Eu fui feito em Surubim, criado em Surubim, mas nasci no Recife. O meu pai e minha mãe foram para Surubim. Ambos eram médicos. Como não havia maternidade e meu pai para não ficar com a responsabilidade do parto, decidiu levar minha mãe para o Recife. Era julho, inverno, as estradas ficavam intransitáveis. Fica-se oito dias sem ter condições de passar um carro. Aí minha mãe veio um pouco antes e nasci no Recife. Pouco tempo depois, voltei para Surubim. Eu me considero - apesar de ter nascido no Recife, amar esta cidade e ter escolhido viver aqui - surubinense porque minha infância foi lá. Como foi sua infância? Até meus 10 anos de idade, não tinha luz elétrica em Surubim. O que tinha era um motor de luz, que era ligado às 5 horas da tarde e desligado às 10 da noite, o resto do tempo era sem energia. Não tinha água encanada, além de não ter estrada asfaltada. Às vezes para irmos ao Recife ou a Limoeiro era uma aventura. Atravessávamos riachos cheios, parávamos para esperar a cheia do riacho descer. Usando uma expressão antiga de Aldemar Paiva, "no inverno as estradas eram muito lamurientas e no verão eram muito pueris". (risos) É verdade que você iniciou no jornalismo aos 10 anos? Sempre tive uma inclinação para de escrever. A minha casa era de intelectuais. Minha mãe era poetisa, nunca publicou, mas sempre escreveu. Meu pai não era tão refinado, mas era algo mais popular. Ele sempre estudou muito e leu muito. Então, minha casa era uma verdadeira biblioteca. Tínhamos toda literatura do Brasil atualizada, toda a obra de Eça de Queiroz, por exemplo. Eu vivia naquele ambiente convivendo com dois mundos. O primeiro era intelectual, não digo sofisticado, mas muito regionalista. Depois ia para a cozinha ouvir a conversa dos empregados ou ia para a rua ou para a fazenda ouvir a conversa dos vaqueiros. Ao mesmo tempo que eu tive uma formação cultural e intelectual, também tive um aprendizado das ruas. À época, as diferenças sociais em Surubim existiam, eram marcantes, mas se diluam na hora que sentava no banco da escola. Era uma proximidade muito grande. Um dos meus grandes amigos era um empregado lá de casa. Ano passado, entrei para a Academia Pernambucana de Letras e fiz um lançamento de um livro em Surubim. Lá apareceram Seu Caloreto, que era vaqueiro, Dona Nena, mulher dele, e três dos seis filhos e duas netas. Eu vivia em um casarão e era proibido de conviver com moleques de rua. No sábado, porém,, não tinha quem me controlasse. Ia para a feira. Lá convivia com todas as pessoas. Quando cheguei no ginásio, ia para o futebol. Quem não viveu no interior, não sabe a alma de um país. O que forma a personalidade de um país é o seu interior. O que dá o perfil aos Estados Unidos? Não é Nova York. É o Kentucky, são os Estados do Sul. Nova York é aquela coisa universal. A alma do Brasil não está em São Paulo, está no interior de São Paulo. Não está no executivo, está no caipira, no vaqueiro, no caboclo da Amazônia, no gaúcho. E o jornalismo? Inventei um jornal quando criança, que falava das notícias da minha própria casa. Minha casa era um centro de ebulição. Meu pai era médico e participava da política. Era de um dos grupos políticos de Surubim. Ele raramente ia na casa de alguém, as outras pessoas que iam lá em casa. Minha casa era um centro de convergência. Meu pai era da direita. Os aliados dele eram os conservadores e os coronéis. Em 1962, na campanha de Miguel Arraes contra João Cleofas, chega Arraes na cidade e vai lá em casa, porque as personalidades que ele precisava cumprimentar estavam na casa de José Nivaldo. Tinha notícia o dia todo lá em casa. Tinha no terraço, na sala e até nas dependências dos empregados. As famílias dos empregados iam para minha casa, então era uma confusão de gente. Eu datilografava as notícias, distribuía entre as pessoas e depois recolhia. Não sei se fazia sucesso, mas todos os visitantes achavam lindo e se divertiam com aquilo, mas eles eram suspeitos (risos). No ginásio (no colégio dos jesuítas), já com 12 anos, aprendi a fazer jornal mural, que os padres levaram a técnica. Aí inventei um jornal falado no grêmio. Depois, um grupo fundou um jornal chamado Região. Para a época e por ser feito em Surubim, tinha muita qualidade. Era algo realmente inacreditável. Em 1978, teve uma eleição municipal e o Região colocou a seguinte manchete "Em quem você aposta: Gentil ou Monsenhor?" Nossa glória é que o The New York Times botou uma manchete igual a nossa, mas com candidatos diferentes, claro. O The New York Times copiou o Região! Tinha terminado o ginasial e fui estudar no Nóbrega, no Recife. Saí dos jesuítas para ir à Universidade e saí de lá ateu. Já estava no Recife quando entrei no Região. Pouco tempo depois, virei diretor do jornal, o que não quer dizer muita coisa porque não era exatamente uma promoção. Antes do Região, fui correspondente, com 16 anos, do Diario de Pernambuco em Surubim e região. Ia passar o final de semana lá e fazia o apanhando de notícias da semana. Produzia uma matéria e trazia. Emplaquei várias manchetes. Dei um furo fantástico, que foi a queda de um avião americano, acho que até meio clandestino, que até hoje não foi

Nesta eleição o discurso político vai prevalecer Read More »

Meu primeiro encontro com Florbela (abril/2016)

Lisboa, tarde fria de janeiro de 2014. Após alguns imperiais no Ramiro, seguimos a pé, sem destino, rumo às ruas do Chiado. Na companhia de dois amigos que, após poucos minutos de caminhada, cansados, sentaram num café para apreciar um charuto. Em frente, uma livraria. Deixei-os lá entregues ao prazer do tabaco e entrei ali, onde dentro de instantes - ela e eu - nos conheceríamos. Mexi e baguncei tudo o que via pela frente. Não havia orado pelo encontro. Nenhuma reza especial havia feito. Mas dei sorte. Ou seria destino? Bati o olho numa estante lá no fundo da livraria. Pareciam livros fora do circuito. Foi místico. Vi uma coisinha sem cor, meio bege, meio apagada, magrinha, sem graça, sem atrativo. Era ele, o livro. Era (d)ela: Florbela Espanca. Quando li seu nome na capa sabia que já tinha ouvido falar, mas não sabia quando, onde e como. Envergonha-me, hoje, isso. O fato é que não a conhecia, seja superficialmente, seja profundamente. Aquele era realmente nosso primeiro encontro. Danei-me a folhear. Sentei-me ao chão. Fiquei boquiaberto com o que lia. Estava golpeado. Não acreditava. O poder daquela poesia densa, amarga, triste, erótica e egocêntrica, nocauteou-me. Não conseguia parar de ler. Como uma mulher pode ter escrito tudo isso no início do século passado? Florbela me atingiu como um raio. Tudo o que escreveu fez com a alma. Emociona-me a cada encontro. Conheço sua obra há apenas dois anos. Ainda estou a conhecer, na verdade. Sua vida conturbada talvez tenha sido o motor de tanta crueldade nas palavras. Escrevia sem autopiedade. Numa sociedade patriarcal foi corajosa e à frente do seu tempo. Amo Florbela. Às vezes quero encontrá-la, beijá-la, abraçá-la. Nosso primeiro encontro foi inesquecível. Tenho pena, raiva, amor, curiosidade e tesão pela flor, que é bela, e que espanca minha alma com tanto sentimento. Farei uma visita ao seu túmulo este mês, na Vila Viçosa, Portugal, onde nasceu e foi enterrada. Eis uma das várias obras-primas da poetisa alentejana: Fanatismo Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida. Meus olhos andam cegos de te ver. Não és sequer razão do meu viver Pois que tu és já toda a minha vida! Não vejo nada assim enlouquecida. Passo no mundo, meu Amor, a ler No misterioso livro do teu ser A mesma história tantas vezes lida!… “Tudo no mundo é frágil, tudo passa. Quando me dizem isto, toda a graça Duma boca divina fala em mim! E, olhos postos em ti, digo de rastros: “Ah! podem voar mundos, morrer astros, Que tu és como Deus: princípio e fim!…”

Meu primeiro encontro com Florbela (abril/2016) Read More »

Para conhecer a microcefalia

  Muito se fala sobre microcefalia e, por vezes, as afirmações nem sempre condizem com a realidade. Empenhados em explicar melhor o que se sabe dessa patologia, médicos de várias especialidades organizaram o evento “Microcefalia: dados concretos”, a ser realizado em 11 de maio na Uninasssau - Centro Universitário Maurício de Nassau. As inscrições estão abertas nesta amanhã (19) e quarta-feira (20). Entre os temas abordados estão: “Microcefalia: importância epidemiológica”, de Danielle Cavalcanti, médica pediatra com residência no Hospital Universitário Oswaldo Cruz; “Alterações neurológicas em pacientes com microcefalia”, por Ana van der Linden, neurologista pediátrica vinculada ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip); “Atendimento a mães de pacientes com microcefalia”, de Kátia Petribu, médica mestra em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento e doutora em Medicina. Coordenadores do curso de Medicina da Uninassau e também doutores, Cláudio Lacerda, Iana Sales e Geovanna Cabral farão a abertura do evento. Iana Sales explica que “a microcefalia é uma patologia que pode gerar atraso mental, déficit intelectual, paralisia, convulsões, epilepsia e rigidez de músculos”. A professora reforça que, para estudantes e profissionais, “é crucial a atualização, principalmente das doenças de maior âmbito epidemiológico como esta, para saber reconhecer, diagnosticar e conduzir a patologia para o melhor prognóstico possível”. Inscrições - São 120 vagas para assistir ao evento. Uma parte será para estudantes de Medicina da Uninassau, que estão realizando a inscrição nesta terça (19), na Sala 113 do Edifício Garagem (Bloco I), até as 12h30, doando um pacote com no mínimo 30 fraldas infantis de tamanho RN, P ou M. A reserva de vagas para estudantes de outros cursos de saúde, profissionais e público externo será na quarta-feira (20), no mesmo horário e local. Também é necessário fazer a doação. Os produtos serão destinados para a organização não governamental Aliança das Mães e Famílias Raras (AMAR). Dúvidas podem ser esclarecidas com a Coordenação de Medicina pelo número (81) 3413-4611 (ramal 4746). Serviço Microcefalia: dados concretos Local: Auditório do Bloco Capunga (C) da UNINASSAU Endereço: Rua Joaquim Nabuco, número 778, Graças Programação: 11 de maio, das 18h às 22h Inscrições: 19 e 20 de abril.

Para conhecer a microcefalia Read More »

Águas subterrâneas do Recife sob ameaça

Em 30 anos, os poços usados para abastecimento da maioria dos prédios de Boa Viagem devem estar salinizados. Essa é a revelação de um estudo realizado pelo Projeto Coqueiral, tocado por 40 pesquisadores de sete instituições, que apontou o mau uso das águas subterrâneas da capital pernambucana. Num cenário de um prazo mais distante, considerando as mudanças climáticas em curso, essa pesquisa indicou que o nível do mar da orla recifense subirá em 80 centímetros – colocando toda a orla debaixo d´água – e o volume de chuvas na região deve cair em 20%, além de uma elevação da temperatura de até 3°C. De acordo com o professor Ricardo Hirata, do Centro de Pesquisas de Águas Subterrâneas (Cepas-USP) do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, o Recife é uma das cidades do País com maior concentração de poços artesianos ou tubulares. Seriam em torno de 12 a 14 mil. Como esse cenário é antigo, vários outros estudos já indicavam esse uso excessivo das águas subterrâneas. No entanto, com acesso a novas tecnologias disponíveis, os especialistas fizeram novas descobertas sobre a situação dos aquíferos da cidade. As novidades nesse panorama se deram pelas dificuldades de abastecimento da cidade. “Devido a uma série de problemas de falta d'água no Recife, no final da década de 90 houve uma explosão de perfuração de novos poços. Milhares. Sobretudo na região mais capitalizada, na área sul. Esse é um território que tem um tipo de geologia em que a camada produtora de água não é muito espessa, que é adequada para atender condomínios e prédios”, explica. Diferente disso, na zona norte, o aquífero é mais profundo. Aconteceu que o mau uso dos poços terminou por salinizar essas águas muito rapidamente. Isso ocorreu porque a área mais superficial do aquífero foi perdida porque a água do mar começou a entrar nela. Então houve investimentos para buscar água em poços mais profundos, entre 70, 100 ou até 150 metros. Hoje há milhares de poços nessa situação, segundo a pesquisa. O estudo identificou que esse aquífero mais profundo, apesar da perfuração desordenada, permanece sem contaminação. “Existem várias camadas de argila que tem capacidade de protegê-lo”, diz Hirata. Se essa é uma boa notícia, o alerta fica para o futuro. Não muito distante, por sinal. Se forem mantidas as extrações de água de hoje na linha de costa esses poços serão salinizados e a água ficará salgada em 20 ou 30 anos. “Milhares de poços foram perfurados sem respeito aos critérios técnicos e sem controle por parte da administração pública. Não me refiro apenas a poços de pouca profundidade nos bairros pobres, mas também a poços tubulares de mais de 100 metros, em condomínios ricos como os dos bairros de Boa Viagem e Pina. Em consequência disso, os aquíferos encontram-se agora seriamente ameaçados, com intrusão de água do mar. Se persistir o ritmo atual de bombeamento, os aquíferos poderão estar irremediavelmente perdidos por volta de 2035”, prosseguiu o pesquisador. Hirata indica que a solução estaria por uma melhor gestão do controle das águas subterrâneas. No entanto, como esse fenômeno aconteceu na ilegalidade, esse gerenciamento por parte do poder público foi dificultado nos últimos anos. FUTURO. Usando tecnologias mais avançadas para estudar o clima e as águas da Região Metropolitana do Recife, a pequisa realizou algumas projeções para o Grande Recife. “No ano de 2100 o nível do mar subirá em cerca de 80 cm, com isso toda a orla atualmente estaria debaixo d'água. Além disso, irá chover menos, com isso teremos períodos secos mais repetitivos”, apontou Ricardo Hirata. O estudo é realizado no âmbito de um acordo mantido pela Fundação de Amparo à Pesquisa em São Paulo (Fapesp) com a Fundação de Amparo à Pesquisa de Pernambuco (Facepe) e a Agence Nationale de la Recherche (ANR), da França. O Projeto Coqueiral teve início em 2012 e foi realizado por pesquisadores do Brasil e da França, que alia a proteção ambiental ao planejamento de gestão das águas subterrâneas. Com um investimento de mais de R$ 4 milhões, a análise foi coordenada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade de São Paulo (USP), no Brasil, e pelo Bureau de Recherches Géologiques et Minières (BRGM), na França. A pesquisa contou, também, com a colaboração da CPRM (Serviço Geológico do Brasil), da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e das universidades francesas Lille 3 e Rennes 1, além da parceria privada da Géo-Hyd, empresa de gestão de recursos naturais e sistemas de informação. (Por Rafael Dantas)

Águas subterrâneas do Recife sob ameaça Read More »

Impeachment é aprovado com apoio de 18 deputados de PE

Veio de Pernambuco, mais precisamente do deputado Bruno Araújo (PSDB) o voto decisivo que aprovou o prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. “Quanta honra o destino me reservou de poder da minha voz sair o grito de esperança de milhões de brasileiros senhoras e senhores, Pernambuco nunca faltou ao Brasil. Por isso digo ao brasil sim para o futuro”, defendeu o parlamentar Após o voto do deputado, parlamentares favoráveis ao afastamento da presidente cantavam “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”. Em alguns bairros do Recife, pessoas soltaram fotos e comemoravam. Do total de deputados pernambucanos, outros 17 parlamentares além de Araújo votaram pelo impeachment: Anderson Ferreira (PR), André de Paula (PSB), Augusto Coutinho (Solidariedade), Betinho Gomes (PSDB), Daniel Coelho (PSDB), Danilo Cabral, Eduardo da Fonte (PP), Fernando Coelho Filho (PSB), Gonzaga Patriota (PSB), Jarbas Vasconcelos (PMDB), João Fernando Coutinho (PSB), Jorge Corte Real (PTB), Caio Maniçoba (PTB), Marinaldo Rosendo (PSB), Mendonça Filho (DEM), Tadeu Alencar (PSB) e Pastor Eurico (PHS). Seis votaram não ao impedimento: Adalberto Cavalcanti (PTB), Luciana Santos (PC do B), Ricardo Teobaldo (PTN), Sílvio Costa (PT do B), Wolney Queiroz (PDT) e Zeca Cavalcanti (PTB). Um se absteve: Sebastião Oliveira, do PL. Na votação total, o impeachment foi aprovado por 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções e duas ausências. Para avançar o processo de afastamento da presidente seria necessário o mínimo de 342 votos favoráveis. Com a aprovação do impeachment pela Câmara Federal, o processo agora acontece no Senado, segundo o rito definido pela Superior Tribunal Federal. Os senadores deverão referendar ou não a decisão dos deputados por maioria simples. Se o resultado da votação no Senado for semelhante ao da Câmara, a presidente Dilma Rousseff será afastada de suas funções por 180 dias. Neste caso, o vice-presidente Michel Temer assume interinamente a Presidência da República. O julgamento será realizado no Senado, onde serão apresentadas acusação e defesa sob o comando do STF. Para que a presidente seja condenada será preciso que 54 dos 81 senadores votem pela condenação. Caso isso ocorra, Dilma terá como pena ficar inelegível durante oito anos. Consequentemente, o vice-presidente assumiria definitivamente a presidência.

Impeachment é aprovado com apoio de 18 deputados de PE Read More »

Evangélicos pelo Estado de Direito

Pastores e grupos evangélicos do Recife criaram uma frente em defesa da democracia e realizam, hoje na capital pernambucana dois atos com presença confirmada do escritor Ariovaldo Ramos, ex-presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEVB) e da Visão Mundial no Brasil. O mesmo ato, denominado Evangélicos pelo Estado de Direito, já passou pelos Estados de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. O primeiro encontro, um café-diálogo com Ariovaldo Ramos, acontecerá na Diaconia da Ilha do Leite, às 15h. Já à noite, será realizado um debate no Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco (Sintepe), a partir das 18h. Um dos mobilizadores desse ato é o pastor José Marcos, da Igreja Batista em Coqueiral. Em suas redes sociais eles confirmou presença. "Sou pastor! Sou contra a corrupção! Sou apartidário! Sou contra o Impeachment! Estarei presente!". A Frente se apóia em sete princípios: 1º - Somos Evangélicos/as; 2º - Não falamos em nome de nenhuma instituição; 3º - Somos contra a corrupção; 4º - Somos a favor do Estado Democrático de Direito; 5º - Somos apartidários; 6º - Reconhecemos o Impeachment como instrumento constitucional, porém; 7º - Reconhecemos que o atual processo de impeachment da Presidente da República está comprometido por interesses contrários à Democracia, logo, o reconhecemos como golpe. Perfil Ariovaldo Ramos, ou Ari, é escritor, articulista e conferencista com larga experiência na missão da igreja. Ariovaldo foi presidente da Associação Evangélica Brasileira (AEVB), Missionário da SEPAL, e presidente da Visão Mundial no Brasil. Atualmente, Ari ministra na Comunidade Cristã Reformada, que tem o objetivo de produzir conteúdo, principalmente, digital para a edificação da Igreja.

Evangélicos pelo Estado de Direito Read More »

Agora já é possível sacar dólar no caixa eletrônico do Aeroporto do Recife

O Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes - Gilberto Freyre passou a contar com o serviço de venda de dólares norte-americanos, por meio de caixa eletrônico do Banco do Brasil. Disponível desde o início deste mês, a transação, exclusiva para clientes do banco, leva cerca de um minuto e o dinheiro é debitado da conta corrente do usuário. O terminal de autoatendimento para essa operação funciona das 10h às 16h, no mesmo horário da agência localizada no térreo, saguão de desembarque. O limite para saque no terminal de autoatendimento é de US$ 3 mil ao dia e US$ 10 mil ao mês. O serviço funciona da seguinte forma: o usuário insere o cartão no caixa eletrônico, escolhe a opção "compra de moeda estrangeira" e responde a pergunta sobre a finalidade do saque. Antes de iniciar a transação, são apresentados - em detalhes - a cotação do dólar, o valor do IOF (0,38%), a tarifa do banco e o valor total a ser debitado da conta corrente. De acordo com a gerente de Negócios Comerciais, Raimunda Magalhães, essa é uma opção prática e segura para os clientes que embarcarem no terminal recifense. "É mais uma facilidade que está sendo disponibilizada aos nossos passageiros, para quem o tempo de atendimento é um requisito primordial", destacou a gerente. Os passageiros e usuários do Guararapes ainda contam com o serviço de câmbio oferecido pelas empresas Confidence e Europa Câmbio, localizadas também no piso do desembarque.

Agora já é possível sacar dólar no caixa eletrônico do Aeroporto do Recife Read More »