Arquivos Z_Destaque_entrevista - Página 5 de 10 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Z_Destaque_entrevista

"Temos tido um olhar muito especial para a cultura popular"

Ricardo Mello, Secretário de Cultura, fala das novidades do Carnaval do Recife que este ano terá uma forte presença de agremiações culturais nas aberturas das noites do Marco Zero. Ele também faz um balanço da sua gestão e das iniciativas inspiradas no movimento MCP dos anos 1960. (Foto Marcos Pastich PCR) O Recife promete realizar a maior folia carnavalesca da sua história e, não por acaso, seu lema é O maior Carnaval em linha reta. Para fazer jus ao slogan, este ano a festa começa oficialmente na quinta-feira (8), e terá mais de três mil atrações espalhadas em 49 polos da cidade. A abertura terá duas cerimônias: Ubuntu, com a lavagem do Boulevard da Avenida Rio Branco ao som dos afoxés, e Tumaraca, encontro de Nações de Maracatu que, este ano, terá a participação do Olodum e uma homenagem a Naná Vasconcelos denominada Tambores pela Paz. “Essas cerimônias remetem à questão de ancestralidade. Precisamos olhar para a diversidade da cultura popular do Recife e sua riqueza. Ela está conectada com nossas origens”, defende o secretário de Cultura da cidade, Ricardo Mello. Ele afirma que haverá uma maior presença da cultura popular nas aberturas das noites do Marco Zero. Trata-se de mais uma iniciativa da sua gestão que tem priorizado o apoio a esses artistas e às agremiações culturais. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Mello informa como tem realizado esse fomento, fala das novidades do Carnaval 2024 e faz um balanço da sua gestão. Como será a programação do Carnaval do Recife, suas atrações e a realização de cerimônias, como o Ubuntu e o Tumacara? Detalhes sobre as atrações artísticas, o público pode conferir nos perfis do Instagram da prefeitura, do Carnaval do Recife e do Cultura do Recife. O Ubuntu é a cerimônia em que acontece a lavagem da Boulevard da Avenida Rio Branco e o encontro dos afoxés. Em seguida haverá o Tumacara, um encontro de maracatus que, este ano, terá a participação inédita do Olodum e o piano de Amaro Freitas. Será o Encontro de Tambores pela Paz. Essas cerimônias remetem à questão de ancestralidade. Precisamos olhar para a diversidade da cultura popular do Recife e sua riqueza. Ela está conectada com nossas origens, com as religiões de matriz africana, de como surgiu o Carnaval, que está ligado ao próprio frevo, ao maracatu, aos afoxés. É um posicionamento que vem desde o ano passado, quando tomamos a decisão do Galo Preto Ancestral (a tradicional escultura do Galo da Madrugada instalada na Ponte Duarte Coelho) que já trazia esse olhar para as nossas origens africanas, para a nossa cultura que foi muitas vezes marginalizada. Em 2023 também homenageamos duas mulheres negras, uma do maracatu e uma do frevo: Marivalda e Zenaide. É algo que também está conectado com a eleição recente dos patrimônios vivos e de Lia de Itamacará, homenageada do Carnaval do Recife deste ano. É uma representação fortíssima, uma mulher negra, praticamente uma entidade da ciranda, da cultura popular. Também homenageamos Chico Science, integrante do Manguebeat. Ele conectou o Recife com o mundo, mas tinha nas suas fontes principais a cultura popular. Então, o Carnaval acaba também sendo esse grande encontro do tradicional com o contemporâneo. Outra questão conceitual importante é que o Baile Municipal terá apenas vozes femininas no palco. Elas serão acompanhadas por maestros – Forró, Ademir Araújo e Spock – mas será um baile comandado pelas mulheres. Temos também algumas iniciativas que foram trazidas no ano passado como o De Pátio a Pátio, um cortejo de cultura popular que vai ser ampliado. Este ano, temos 49 polos espalhados por toda a cidade. A gente vai ter de volta, inclusive, o Pátio de Santa Cruz com atividades lá. Ao longo do Carnaval, teremos a presença muito forte da cultura popular nas aberturas das noites do Marco Zero. Tudo isso faz parte do Plano Recife MCP - Matriz da Cultura Popular. Você poderia explicar esse plano? O MCP tem uma inspiração no Movimento de Cultura Popular [que tinha o objetivo de educar a população pobre da cidade e oferecer acesso à cultura]. Foi algo que planejamos desde o final do ano retrasado, quando trouxemos essa reafirmação do lugar da importância da cultura popular para a diversidade e riqueza da cultura do Recife. Fizemos uma reparação histórica com um aumento significativo de premiações e subvenções para as agremiações. Agora, no segundo ano, concedemos até 50% de reajuste. Também conseguimos aprovar uma lei que isenta as agremiações da cultura popular de pagamento de tributos municipais. Tudo visando salvaguardá-las. Com o MCP, buscamos um acolhimento e um atendimento jurídico para qualificar e formar essas agremiações na participação de editais com o objetivo de cada vez mais democratizarmos o acesso da cultura popular, dos fazedores e fazedoras de cultura, a esses recursos públicos. É importante dizer que o MCP também busca o encontro do público com as manifestações culturais mais genuínas que a gente tem. O diálogo dessas manifestações e expressões culturais com a cidade e com quem nos visita é muito importante. O plano também visa a uma integração com a educação e a ocupação de espaços públicos na cidade para que haja cada vez mais um conhecimento acerca da história, da memória dessa ancestralidade e de tudo o que fomentou e fez surgir e manter, até hoje, esses nossos patrimônios culturais imateriais. O MCP avança agora na perspectiva de ter um espaço no Pátio São Pedro, integrado à educação, com dois prédios públicos que vão atuar integrados fisicamente e nas ideias. É um investimento para a requalificação do Pátio de São Pedro no sentido de um espaço histórico-cultural que chamamos de Centro Histórico de Criação do Futuro. Lá no pátio, iniciamos o movimento de valorização dos espaços culturais, o Move Cultura, quando reabrimos a Casa do Carnaval, o Memorial Chico Science, o Memorial Luiz Gonzaga, o Museu de Arte Popular e a Casa do Conselho. Vamos levar novos projetos para lá buscando trazer de volta a movimentação no pátio, tornando-o sustentável, com outros equipamentos, como restaurantes e

"Temos tido um olhar muito especial para a cultura popular" Read More »

"Se a concessão da Malha Nordeste for suspensa, Natal, Cabedelo, Suape e Maceió teriam 0 km de ferrovia".

A FTL, concessionária da malha ferroviária do Nordeste, entrou com um pedido junto à ANTT para devolver a concessão, mas o engenheiro e professor da UFPE e Unicap, Maurício Pina, alerta para os prejuízos que alguns Estados nordestinos terão caso o Governo Federal acate a solicitação. Um novo capítulo da novela do sistema ferroviário pernambucano surge com tons dramáticos. A empresa FTL (Ferrovia Transnordestina Logística) concessionária da Malha Nordeste (abrangendo Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), entrou com um pedido junto à ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para devolver a concessão. Caso o pedido seja aceito pelo Governo Federal, será mais um revés para Pernambuco, uma vez que a TLSA, concessionária da Transnordestina – que pertence ao memo grupo da FTL – já retirou os trechos Salgueiro-Petrolina e Salgueiro-Suape do trajeto dessa ferrovia. A medida, segundo o engenheiro Maurício Pina, professor da UFPE e da Unicap, também prejudicará outros Estados nordestinos. “Isso causaria sérios prejuízos aos portos da região, principalmente Suape, Cabedelo, Natal e Maceió. Não existe porto de grande porte no mundo que não seja alimentado por ferrovia. Querer imaginar que Suape seja alimentado por rodovia, como é hoje, é querer condená-lo a não se tornar um grande porto concentrador de cargas”. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Pina, que também é membro titular das Academias Nacional e Pernambucana de Engenharia, faz um histórico da malha ferroviária do Nordeste Oriental, analisa os problemas advindos da concessão e defende que a União não aceite o pedido de devolução da concessionária. O senhor poderia fazer um histórico sobre as ferrovias do Nordeste? A Transnordestina, que seria a ferrovia mais importante do Nordeste, é considerada a obra inacabada mais antiga do País. Em 1847 o imperador Dom Pedro II determinou a abertura de uma ferrovia que ligasse o litoral da região aos Sertões e esse é o primeiro registro que se tem do que hoje é a ferrovia. Mas vamos dar um salto grande no tempo, em 1959 foi criada a Rede Ferroviária Federal mas, em 1997, foi realizado o leilão [para privatizar] a malha ferroviária do Nordeste, como foi feito também em outras regiões do País. O leilão, que abarcava todas as ferrovias situadas nos estados do Nordeste até Alagoas (Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas), excluiu apenas Sergipe e Bahia cuja malha ficou com outra concessão. O leilão abrangeu uma extensão de ferrovias de 4.238 km e a empresa vencedora foi a CFN (Companhia Ferroviária do Nordeste). De início, ela já tomou partido e estabeleceu sua sede em Fortaleza, quando o natural seria se estabelecer no Recife porque a superintendência de Fortaleza (chamada de SR11) até 1988 era subordinada à Superintendência Regional da Rede Ferroviária no Recife, que era a SR1. O contrato de concessão estabelecia o prazo de 30 anos. Desde o final do Século 19, as ferrovias construídas no Nordeste se destinavam a ligar um local de produção até os portos. Então, por exemplo, havia uma ferrovia ligando o Recife a Caruaru que foi inaugurada em 1894 e depois ela foi sendo prolongada, chegou ao Sertão do Pajeú e era para ela ter continuado, mas parou em Salgueiro. Veja a lógica: havia uma ferrovia do Recife até Salgueiro, uma outra de Fortaleza até Missão Velha, no Ceará, e outra de Salvador até Juazeiro da Bahia. Eram três ferrovias que não se comunicavam. A primeira concepção do que se chamou de Ferrovia Transnordestina foi justamente a ligação de Salgueiro com Missão Velha para conectar a malha de Pernambuco com a malha do Ceará e a ligação de Salgueiro até Petrolina e, com isso, permitir em Juazeiro a ligação de Pernambuco com as ferrovias da Bahia. Essa concepção tem um detalhe importante que é a integração com a hidrovia do São Francisco, algo extraordinário. O São Francisco é uma dádiva da natureza para o Nordeste não só porque produz boa parte da nossa energia elétrica mas, também, porque o rio é navegável desde Pirapora, em Minas Gerais, até Petrolina. Se a ferrovia fosse implantada com essa concepção chegando até Petrolina, permitiria que toda a produção de grãos do Cerrado, no Oeste da Bahia, fosse escoada por hidrovia até Petrolina e de lá seguisse por trem até os portos de Suape ou até Pecém. Quais as linhas que foram privatizadas? Quando essa concessionária assumiu, em Pernambuco existiam três linhas férreas: a Linha Norte que saía do Recife, passava em Itabaiana, chegava em Campina Grande, seguia pelo Sertão da Paraíba e subia para Fortaleza, Teresina e São Luís. Havia a Linha Centro que parou em Salgueiro – que era para ter prosseguido até Petrolina – e havia a linha Sul que saía do Recife e ia até o Sul do País. Essa era chamada Estrada de Ferro do Recife ao São Francisco e o trecho inicial, que abrangia do Recife até o Cabo de Santo Agostinho, foi inaugurado pelo imperador Dom Pedro II, em 1858. Na década de 1970 foi construída uma ponte rodoferroviária sobre o Rio São Francisco, ligando Porto Real do Colégio, em Alagoas, até Propriá, em Sergipe. Com essa ponte, tínhamos a ligação completa do Recife até o Sudeste e o Sul do País. Havia vários estudos que recomendavam fortemente a Transnordestina, como o realizado em 1987 pela área de planejamento do Governo Federal, e em função dele, em 1990 as obras foram iniciadas. Mas, em 1992, elas foram paralisadas por falta de recursos, isso antes da concessão. A CFN assumiu a malha ferroviária do Nordeste no início de 1998, como vencedora do leilão realizado em 1997. Pelo contrato, ela era obrigada a fazer manutenção da via permanente da infraestrutura ferroviária. Mas a empresa não investiu na manutenção e em função disso passou a haver um desmonte da malha ferroviária. Dos 4.238 km que ela recebeu como concessão em 1998, apenas 2.750 km estavam em operação em 2000, ou seja, houve uma redução de 35%. Em 2006, o projeto passou a se chamar Nova Transnordestina e veio com

"Se a concessão da Malha Nordeste for suspensa, Natal, Cabedelo, Suape e Maceió teriam 0 km de ferrovia". Read More »

"Para lidar com a IA é preciso sair da bolha"

Se você teme ser substituído no trabalho por alguma ferramenta de inteligência artificial, a dica do consultor da TGI Fábio Menezes é: invista no desenvolvimento da sua inteligência tipicamente humana. Ou seja, amplie e diversifique seus conhecimentos, leia livros, ouça música e assista a filmes de diferentes temáticas, vá a exposições de artes plásticas e não se limite a obter informações apenas da sua “bolha” profissional ou social. “Isso lhe dá uma condição de fazer conexões que talvez o especialista em determinada tecnologia não consiga porque o campo de raciocínio dele vai ficar mais delimitado (...) por mais inteligente que seja, ele pode ter dificuldade de fazer associações, abstrações, que quem tem uma leitura mais ampla tende a ter mais facilidade”, orienta. Nesta entrevista concedida a Cláudia Santos, o consultor recomenda ainda aos profissionais se inteirarem sobre o uso das ferramentas da IA na sua área de atuação. Ele também analisa o impacto da tecnologia no futuro do mundo do trabalho. Bill Gates afirmou que a IA permitirá uma semana de trabalho de três dias, em razão do aumento da produtividade que a tecnologia proporciona. Já Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, disse estar preocupado com o fato de esse ganho de produtividade ser apropriado por quem emprega. Como você analisa essa questão? Em alguns lugares do mundo estão sendo realizados testes de uma semana de trabalho com apenas quatro dias. Há relatos de empresas que fizeram esse teste e observaram um aumento na produtividade, refletindo em uma melhora na receita, além de os funcionários terem demonstrado satisfação. O modelo começou a ser testado no Brasil, porém, ainda não tive acesso aos dados referentes ao País. Bill Gates já mencionou a possibilidade de reduzir para três dias, o que já é uma mudança significativa. Não estou certo se o impacto do aumento na produtividade resultará na redução dos dias de trabalho ou se teremos a mesma quantidade, porém com uma produção muito maior. Ferramentas como a inteligência artificial têm o potencial de aumentar a produtividade, uma vez que poderão substituir, pelo menos, uma parte do processo. Por exemplo, em vez de começar a escrever um texto do zero, possamos iniciar editando-o. Acho importante considerar que, geralmente, as pessoas refletem sobre esses assuntos com base nas ferramentas disponíveis no momento. No entanto, o avanço delas não segue uma progressão aritmética mas, sim, geométrica, o que é extraordinário. Quem sabe, daqui a um ano, entrevistas como esta não precisem mais de sua participação, sendo conduzidas por uma inteligência artificial que interaja comigo e envia a você uma versão esquematizada para revisão final. Isso é pura imaginação, mas não duvido que nos próximos anos o avanço dessas ferramentas será significativo, impactando a produtividade. Quanto à apropriação dessas mudanças, seja por parte das empresas ou das pessoas, é difícil afirmar. Até o momento, parece depender da realidade e natureza de cada trabalho, além do perfil e ambições individuais. Se a empresa passa a produzir apenas de segunda a quarta-feira, os profissionais terão a quinta, sexta, sábado e domingo livres. Mas para fazer o quê? Isso dependerá de cada pessoa. Alguns podem buscar outra atividade ou, até mesmo, empreender enquanto mantêm seu emprego atual. Acredito que isso terá um impacto significativo em mudanças sociais que são difíceis de prever. Por enquanto, o melhor é observar e tentar compreender. Não apenas observar passivamente mas, também, acompanhar e experimentar essas mudanças e ferramentas. Alguns estudiosos apontam também que a IA pode aumentar as desigualdades. Você concorda? Acredito que esse seja um grande desafio pois, com a sofisticação da inteligência artificial, também se sofistica a maneira como podemos usá-las. Hoje, fala-se muito sobre os prompts (nome dado às instruções que o usuário passa para ferramentas como o ChatGPT), uma expressão cada vez mais presente, à medida que as pessoas buscam aprender e se adaptar. Para que as pessoas possam explorar essas ferramentas da melhor forma possível, aproveitando em prol de seu ganho de produtividade, é necessário um certo nível de educação. Em uma sociedade já desigual, acredito que esse seja, de fato, um grande desafio: evitar ampliar ainda mais essas disparidades. Aqueles com maior capacidade ou familiaridade com a IA, ou mesmo com uma base educacional mais sólida, talvez possam aumentar consideravelmente sua produtividade em relação àqueles que não possuem essas vantagens. Trata-se, então, de um velho problema com uma velha solução: o investimento em educação? Justamente. É um antigo problema que pode ser amplificado pela inteligência artificial. É difícil para mim ter posições claras em relação a tudo isso pois a IA é versátil e pode ser aplicada de diversas maneiras. Algumas ferramentas podem agravar a desigualdade, enquanto outras talvez não. Por exemplo, o smartphone é algo que praticamente todas as camadas sociais têm acesso. Observam-se, por exemplo, pessoas que, se tentarem expressar algo por escrito, não conseguem ser compreendidas, mas por meio de mensagens de áudio conseguem se comunicar. Antes, não era possível enviar áudio por carta, tinha que ser escrita, mas a tecnologia possibilitou enviar um áudio ou até mesmo um vídeo. Nesse sentido, a desigualdade diminuiu já que o avanço tecnológico permitiu que tanto uma pessoa da classe A quanto alguém das classes D ou E pudessem enviar o mesmo tipo de áudio ou vídeo. A qualidade pode variar em termos de megapixels, mas a comunicação acontece. Por outro lado, as ferramentas mais complexas de inteligência artificial tendem a demandar um certo nível de educação, habilidades interpretativas e conhecimento para fazer edições necessárias. Acredito que não há uma resposta única para essa questão, mas percebo que é um desafio e requer cuidado para não ampliar esse abismo. Provavelmente, todos os governos ao redor do mundo devem estar pensando sobre isso. Já que tocou neste assunto, especialistas afirmam que os países não estão preparados para esse impacto da IA no trabalho e defendem uma ação de forma globalizada e organizada. Você acredita que essa interferência seria eficaz? Acho que essa articulação seria muitíssimo bem-vinda. No entanto, tenho muita dificuldade em acreditar no grau de

"Para lidar com a IA é preciso sair da bolha" Read More »

"As perspectivas do turismo de Porto de Galinhas para janeiro são excelentes"

O presidente da AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas), Eduardo Tiburtius, avalia a conjuntura atual do setor turístico em Pernambuco, faz projeções animadoras para o Réveillon e janeiro de 2024 mas afirma que a divulgação e a infraestrutura dos destinos precisam melhorar. Eduardo Tiburtius, presidente da AHPG (Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas), nesta entrevista a Rafael Dantas, faz um balanço do setor turístico de Pernambuco em 2023, enfatizando a retomada após a pandemia e a atuação proativa do trade estadual para manter o mercado local aquecido. Tiburtius explora os desafios e as conquistas do turismo em Porto de Galinhas, evidenciando o impacto positivo de iniciativas inovadoras, como a BioFábrica de Corais, projeto que desenvolve atividades de educação ambiental e que usa ferramentas biotecnológicas para favorecer a restauração dos recifes, por meio do cultivo de corais. Tiburtius aborda ainda a importância do crescimento conjunto de destinos vizinhos, destacando a necessidade de diversificação e promoção para atrair turistas nacionais e internacionais. As perspectivas para o futuro são otimistas. Em meio a projeções animadoras para o Réveillon e janeiro de 2024, o presidente da AHPG expressa confiança na capacidade de Porto de Galinhas se reinventar, prevendo um ano positivo no horizonte turístico. Qual o balanço que o senhor faz do setor turístico de Pernambuco neste ano? O Estado se recuperou plenamente da pandemia? O mercado de Porto de Galinhas teve sua retomada expressiva já no segundo semestre de 2021 e se repetiu também em 2022. Já em 2023 tivemos um ano de estabilidade em relação a 2022. Hoje temos uma operação doméstica que supera os anos pré-pandemia, mas ainda falta o restabelecimento da malha internacional para que possamos afirmar que temos uma recuperação completa. Pernambuco parece ter voltado à moda, ao desejo do turista nacional. Durante o Visit Pernambuco - Travel Show (evento que promove o turismo no Estado com rodadas de negócios, palestras e espaços de exposição nacionais e internacionais), o secretário Daniel Coelho afirmou que temos o dobro de movimentação dos aeroportos de Fortaleza e Salvador. O que houve para o Estado entrar nessa crescente? Eu considero uma junção de fatores. Creio que o trade do Estado teve uma atuação muito proativa e com uma forte capacidade de se reinventar de 2020 para cá. Exemplificando: em 2020, em plena pandemia, tivemos um número recorde de capacitações online oferecidas aos agentes de viagens naquele momento, explicando além dos temas tradicionais das atividades turísticas, as questões de segurança nas hospedagens necessárias naquele período. Também conseguimos em 2020, com toda segurança necessária, realizar o Visit Pernambuco trazendo para Porto de Galinhas os operadores que, até então, eram especializados em vendas de mercados internacionais e que naquele momento não teriam como vender os produtos internacionais pois as fronteiras estavam fechadas. Em 2021, no segundo semestre, fomos o primeiro mercado a voltar com capacitações presenciais em mais de 20 cidades nos grandes mercados emissores como o programa Encontro com Porto de Galinhas. É importante salientar que todas essas ações tiveram a participação massiva tanto do trade local mas, também, o apoio do Governo do Estado e da Prefeitura de Ipojuca. Devemos ressaltar também as campanhas do Recife com o projeto Recife é para Ficar e de participações de empreendimentos de Fernando de Noronha nas ações de Porto de Galinhas. E por último, mas também muito importante, a Azul Linhas Aéreas, que foi a empresa que, com muita agilidade, adaptou sua malha aérea com o fortalecimento do seu hub e foi essencial para o aumento no número de passageiros. Quais os principais resultados do Visit Pernambuco - Travel Show deste ano? Consideramos o Visit Pernambuco um evento essencial para o calendário do turismo do Estado. Nele, conseguimos trazer agentes de viagem, representantes de operadoras e a imprensa para apresentar in loco todas as nossas potencialidades quer sejam de atrativos como passeios, estabelecimentos comerciais, pousadas, restaurantes, atrações na vila de Porto de Galinhas como também podemos mostrar as atualizações dos hotéis em Porto de Galinhas que têm a característica de estar em constantes remodelações. Outro ponto importante é que o evento permite que empreendimentos que não têm a disponibilidade de participar de feiras fora do Estado possam ter o contato direto com os principais operadores de turismo do Brasil nas rodadas de negócios realizadas durante o Visit. Projetamos, a partir da pesquisa com os participantes, que a edição do Visit deste ano promoveu uma movimentação de R$ 112 milhões em negócios gerados no setor até 2024. As perspectivas são boas para o Réveillon e para as férias de janeiro? Sim, as perspectivas do setor de turismo de Porto de Galinhas para o Réveillon e para janeiro são excelentes. Já estamos com uma ocupação acima de 90% no Réveillon e um pouco acima de 82% no mês de janeiro. Vocês ganharam novas operações ou inauguraram novidades neste ano? Tivemos os lançamentos recentes de novos empreendimentos hoteleiros e este ano tivemos a grande satisfação de ter como novo associado o Samoa Beach Resort que veio muito agregar à Associação de Hotéis de Porto de Galinhas. Aliás, foi apresentado durante o Visit Pernambuco o novo empreendimento do grupo Samoa que será inaugurado em 2025. Outro atrativo importantíssimo é a BioFábrica de Corais que tem uma importância vital para o replantio dos corais da Vila de Porto de Galinhas, o principal atrativo turístico do nosso destino. Porto de Galinhas é a grande âncora do Litoral Sul, que é um dos maiores atrativos de Pernambuco. Mas outros destinos vizinhos estão em crescimento, como Sirinhaém. Esse movimento fortalece a região? Há demanda para todos? Sem dúvida nenhuma. Precisamos que o Estado todo aumente sua gama de destinos turísticos para cada vez mais atrair para o nosso Pernambuco o fluxo de passageiros do Brasil e do mundo. Apenas exemplificando a importância disso, posso lembrar das operações charters internacionais que tivemos até o ano de 2008 em que muitas vezes outros Estados foram escolhidos pelos emissores europeus (como Rio Grande do Norte e Bahia) porque as operadoras precisavam ter a oferta

"As perspectivas do turismo de Porto de Galinhas para janeiro são excelentes" Read More »

"Quero tornar a Tambaú uma empresa nacional"

Hugo Gonçalves, presidente da Tambaú conta como seu pai ergueu uma das maiores indústrias alimentícias do Nordeste começando a vender, aos 14 anos, nas ruas de Sertânia, pirulitos feitos em casa. Também fala da segunda e terceira gerações da empresa familiar e dos planos para ganhar o mercado brasileiro. Aos 14 anos, Gerson Gonçalves de Lima era um garoto pobre de Sertânia, no Sertão do Moxotó, que um dia disse ao pai não ter vocação para estudar e que queria ganhar seu próprio dinheiro. A resposta paterna veio em forma de sugestão: que tal fazer pirulitos na cozinha de casa para vender? Proposta aceita, Gerson em pouco tempo já não dependia dos recursos da família, com os trocados que passou a ganhar. Um sucesso que levou seu pai a sonhar mais alto ao propor comercializar doces de frutas tropicais. Montaram uma fabriqueta na vizinha Custódia, onde produziam delícias a partir da goiaba, abacaxi, caju, jaca e até do leite. Tudo feito com receita caseira da família. A produção caiu no gosto do consumidor e transformou a fábrica de Gerson, a Tambaú, numa das maiores indústrias de alimentação do Nordeste. Hoje presidida pelo seu filho, Hugo Gonçalves, a empresa conta com 650 funcionários e produz uma média de 5 mil toneladas de produto acabado por mês – 60 mil toneladas por ano. Hoje, o portfólio é bastante diversificado e inclui, principalmente, derivados de tomates. Essa, aliás, foi mais uma inovação de Gerson. O motivo? "Meu pai disse: `é um mercado muito maior do que o de doces’. Foi uma decisão acertada porque hoje os atomatados representam mais de 70% do nosso faturamento”, ratifica Hugo. Nesta entrevista online a Cláudia Santos, o presidente da Tambaú conta a trajetória da empresa familiar que teve um crescimento de 50% entre 2019 e 2023, mantido sustentável até hoje. O que também permanece é a decisão de manter a fábrica em Custódia, apesar de todos os percalços de se produzir no Sertão. Hugo, porém, tem planos ousados: “pensamos em ter uma outra unidade industrial para poder tornar a Tambaú uma empresa nacional”. É o DNA de empreendedor arrojado de Gerson que persiste na outra geração. Como começou a história da Tambaú? A Tambaú é uma empresa familiar, fundada pelo meu pai Gerson Gonçalves de Lima. Ele era de uma família humilde de Sertânia e, aos 14 anos, disse para o meu avô que não tinha vocação para estudar. Queria ganhar o dinheiro dele e que seu sonho, desde a infância, era ter uma indústria. Foi quando meu avô deu a ideia de começar a fazer pirulitos na cozinha da casa deles. Meu pai saía pela cidade vendendo e no final do dia passava na mercearia, comprava o açúcar que era matéria-prima para o dia seguinte. E foi ganhando dinheiro, não tinha mais a dependência dos pais. Um dia meu avô disse: “Gerson, vamos fazer doces de frutas tropicais”. Naquela época, há 60 anos, na região onde estavam, havia muita produção de frutas porque não havia estiagens tão fortes. Eles alugaram uma outra casa em Custódia onde meu pai montou uma fabriqueta. Inicialmente produziam doce de goiaba. Meu pai era uma pessoa que sempre valorizava a inovação e começou a fazer doces cristalizados, que é aquela mariola. E aí foi de fato, o início da Tambaú. Antes o nome do produto era Goiabada Telma. Depois meu pai teve uma experiência de sair de Custódia para Campina Grande, onde achava que tinha condições de crescer mais rápido por ser um grande centro comercial. Mas chegando lá, percebeu que não havia produção de frutas como na região de Custódia. Ele ainda passou uns dois anos, depois voltou. E veio com três nomes que faziam referência à Paraíba: Tambaú, nome da praia em João Pessoa, Borborema, Campina Grande é conhecida como a rainha da Borborema (referência ao planalto onde fica a cidade) e Cariri (nome da região sertaneja). A família inteira falou que Tambaú era mais bonito. Ele registrou esse nome e inclusive os primeiros rótulos tinham uma alusão a uma praia, com um coqueiro e o mar. Mas, depois, fomos interiorizando mais esse nome, tiramos esses elementos do rótulo e hoje Tambaú, pernambucanamente, é um nome muito forte porque a empresa fez 62 anos, prosperamos e perpetuamos o legado de meu pai. Como era a característica dele como empreendedor? Ele era uma pessoa que valorizava muito a inovação, não se contentou em fabricar somente doces de goiaba. Depois, passou a produzir também de banana, caju, jaca, abacaxi. Quando a empresa fez 25 anos ele disse: “agora vou trabalhar com atomatados”. Perguntei para ele, por que o interesse de entrar nessa área. Ele disse: “é um mercado muito maior do que o de doces”. Como de fato é. Foi uma decisão acertada porque hoje os atomatados representam mais de 70% do nosso faturamento. E em 1997, meu pai foi diagnosticado com câncer de próstata, fez cirurgia e vários tratamentos, mas, no ano 2000, veio a falecer. A Tambaú já era uma empresa bem estruturada e nós nos reunimos – eu, minha mãe, meus irmãos – e, por decisão unânime, passei a ser o presidente, embora fosse o filho mais novo. A empresa começou com meu pai e meu avô, somos a segunda geração e já tem membros da terceira geração trabalhando na empresa. De onde vinham as receitas dos doces? De minha avó, que tinha a habilidade de fazer doces; e meu avô também. Eles passaram muita receita e uma coisa que também faz parte do nosso DNA, que é fazer produtos com foco para o Nordeste. Pessoas de São Paulo, às vezes, comiam nossos doces em calda e achavam muito açucarados, mas nossa região foi colonizada em cima da cana-de-açúcar que, na culinária nordestina, tem um peso muito forte. O nosso ketchup, campeão de vendas, nós o chamamos de "ketchup nordestino" porque é um produto mais adocicado e é o mais vendido porque agrada ao paladar do Nordeste. A Tambaú deixou de fabricar alguns doces. Por quê? Pois

"Quero tornar a Tambaú uma empresa nacional" Read More »

"Pesquisa da Amcham com líderes empresariais no País mostrou que 68% já usam IA"

Alessandra Andrade, superintendente da Amcham para o Nordeste, afirma que estabilidade política do País e avanço tecnológico levam gestores a preverem crescimento de suas empresas acima de 10% em 2024. Também fala das ações da organização e da sua atividade de conscientizar as empresas no apoio às mães atípicas. Alessandra Andrade é “cria” da Amcham (American Chamber of Commerce). Ela entrou na entidade como estagiária em 2004, em pouco tempo já liderava os estagiários e, em 2009, assumiu a coordenação da unidade regional. Passou um período fora da organização, ao se mudar para o Maranhão. Mas foi por pouco tempo. “Um ano depois, o meu antigo diretor em São Paulo disse que a gerente do Recife estava saindo, que era minha antiga chefe, e ela me indicou. Ele me chamou e não resisti, voltei como gerente da operação do Recife”, conta a executiva. Desde 2018 ela é responsável pela gestão das unidades do Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza) e este ano também assumiu a de Curitiba. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela relata as ações da Amcham para aumentar a produtividade das empresas, para ajudar os empresários a se organizarem para as boas práticas de ESG, a estimular o benchmarking entre os setores e para detectar oportunidades de negócios, inclusive nos Estados Unidos. Alessandra também analisa a pesquisa da Amcham Brasil com líderes empresariais nacionais, que revela o otimismo deles em relação ao ano que vem: 56% dos entrevistados estimam que o crescimento de suas empresas será superior a 10% em 2024. Uma expectativa ancorada na estabilidade política mas, também, no avanço tecnológico, principalmente da inteligência artificial. Mãe de uma filha autista, Alessandra também fala da sua atividade de conscientizar as empresas no apoio às carreiras das chamadas mães atípicas. Como tem sido a atuação da Amcham no Nordeste, especialmente em Pernambuco? Ano que vem a gente faz 25 anos de operação no Recife, 10 em Fortaleza, e 15 em Salvador. A Amcham busca promover conexões entre pessoas e empresas. O principal objetivo é criar networks entre indivíduos, por meio dessa rede de relacionamento para que possam tanto descobrir oportunidades como conhecer outros mercados. Entre as empresas, a Amcham é multissetorial e essa diversidade permite que um setor, que esteja enfrentando um desafio, possa entrar em contato com outro setor, que esteja vivendo o mesmo ou talvez um desafio parecido, mas que tenha um outro olhar sobre esse problema. Isso traz para os empresários insights e referências que no mundo da sua área, com seus pares, talvez não consigam perceber. No Recife, há um foco especial no diálogo público/privado dentro dos nossos comitês estratégicos, fóruns de discussão e entendendo também vieses de oportunidade a partir de demandas que os associados trazem. Não defendemos pleitos de uma empresa pontualmente mas, se entendemos que um desafio que uma empresa apresenta é o mesmo que outros estão vivendo, então vamos trabalhar em cima disso. Temos olhado essa formação das pessoas e das empresas no que tange a um conteúdo importante, diferenciado, gerando networking qualificado e, em paralelo, discutindo com o poder público uma melhoria nos incentivos e na política para que tenhamos um Estado e uma cidade mais competitivos, assim como a Amcham Brasil faz na esfera federal e nas relações comerciais com os Estados Unidos. Pernambuco pulsa inovação, então essa pauta sempre foi transversal na Amcham, tanto que, em 2017, provocados por um então secretário de Desenvolvimento do Estado, começamos a trazer a discussão de como podemos promover Pernambuco como um Estado importante para receber investimentos, por exemplo, na área de tecnologia. Foi quando surgiu o projeto PE Avança que acontece até hoje. Recentemente, a pauta ESG tem sido bastante discutida por empresas e pessoas e a Amcham sempre olhou com muito cuidado para a pauta de sustentabilidade. Temos o prêmio ECO, que é o prêmio de sustentabilidade mais antigo do Brasil, criado há mais de 40 anos. Temos um olhar mais ampliado para as outras letrinhas do ESG, olhando o social e a parte de governança, trazendo de forma forte na nossa agenda e também de forma transversal. A pauta entra nas discussões dos nossos comitês estratégicos, criamos eventos específicos como a primeira edição do Fórum ESG que fizemos este ano. Buscamos ser uma entidade que promove o alicerce para empresas que queiram se capacitar e estar prontas para receber essas oportunidades. Até 2020 a Amcham era 100% presencial. A materialização da Amcham para o associado do Recife ou do Nordeste era muito vinculada ao que essa unidade promovia de entrega de eventos presenciais. Mas não tínhamos o melhor aproveitamento de eventos promovidos pelas outras regionais. A partir da pandemia passamos a conectar essas empresas associadas por meio do universo online. Então olhando Pernambuco e o Nordeste entendemos a questão da regionalização, da cultura, do perfil do empresário que é diferente do perfil das outras regiões. Então, promovemos a interação entre o empresário daqui com os outros do Brasil. A senhora mencionou que um dos papéis da Amcham é incentivar o contato entre governos e os empresários. Atualmente qual a pauta que vocês trabalham nessa área? Por ser multissetorial, sem fins lucrativos e apartidária, a Amcham contribui nesse diálogo de forma neutra. Não levantamos nenhum pleito em prol de uma empresa, mas de setores e pensando no aumento da competitividade. No Brasil temos grupos de trabalho que reúnem os empresários que, voluntariamente, têm interesse em discutir determinada pauta, que formulam documentos que se tornam contribuições com trabalho ligados à tributação, à articulação Brasil/Estados Unidos, à transformação digital, à propriedade intelectual. Acabamos de lançar um grupo de trabalho sobre políticas ambientais. Os grupos redigem os documentos que são entregues na esfera federal ou promovemos eventos aonde a pauta é discutida. Na esfera regional, as discussões acontecem dentro dos nossos comitês estratégicos compostos por pessoas que têm o know-how e a experiência naquele determinado tema para começar um grupo de estudos para redigir um documento e, aí, a Amcham faz a apresentação para uma entidade. Por exemplo, este ano a Amcham participou

"Pesquisa da Amcham com líderes empresariais no País mostrou que 68% já usam IA" Read More »

Ernani Martins: "Possivelmente teremos um apagão de professores"

Pró-reitor de graduação da UPE, Ernani Martins, alerta que escolas enfrentam escassez de docentes em algumas disciplinas e que essa situação tende a se agravar em todas as áreas do conhecimento. Ele propõe a adoção de políticas públicas de valorização de professores para solucionar o problema. Um estudo recente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) revela que muitos estudantes em 2023 estão finalizando o ano letivo sem terem aulas de física ou sociologia com professores habilitados para ministrar essas disciplinas. Em Pernambuco, apenas 32,4% das docências em física no ensino médio são ministradas por licenciados na matéria. A escassez de docentes pode se agravar. O Instituto Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de Sao Paulo), projeta que em 2040 o Brasil poderá enfrentar um apagão de professores na educação básica. Para Ernani Martins, pró-reitor de graduação da UPE (Universidade de Pernambuco), a solução é implantar políticas públicas de valorização do professor, não apenas em termos salariais mas, também, com a oferta de melhores condições de trabalho. Ele é um conhecedor do assunto. Além de ter atuação na formação de professores na universidade, fez licenciatura em matemática. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Martins afirma que a consulta pública do Novo Ensino Médio é um alvissareiro começo para se debater a questão. Mas adverte que se a solução não for encontrada rapidamente, as consequências serão graves. “Teremos uma estagnação no País porque a educação é a mola propulsora para que a gente avance no PIB e no IDH”, adverte. Há uma projeção do Instituto Semesp de que em 2040 o Brasil poderá enfrentar um apagão de professores na educação básica. O senhor concorda com essa estimativa e quais as suas causas? Não tenho dados concretos, mas é possível que entre os anos 2030 e 2040 tenhamos esse quadro de uma maneira mais exacerbada. Já temos um apagão em algumas áreas do conhecimento, como matemática e ciências da natureza (que envolvem física, química e biologia). Até na construção do cenário atual de novos currículos como a inserção, por exemplo, do pensamento computacional na educação básica, não temos um contingente de docentes com esse tipo de formação para atuar. Possivelmente teremos um apagão de professores em todas as áreas do conhecimento. Isso se deve muito a uma construção social do que é ser um professor porque temos essa cultura, que precisa ser desmistificada, da docência como algo feito apenas por amor, apenas pela vocação, e esquecemos de olhar para o lado profissional. Não estou dizendo que não é necessário ter vocação ou amor – condições que devem estar presentes qualquer outra profissão – mas também deve ser ressaltada a valorização desse profissional como em qualquer outra área. Ao longo do tempo, temos passado por um processo de desvalorização profissional muito forte a respeito do papel do professor que é dicotômico porque, à medida que a educação vai se democratizando no País (a educação não era direito de todos até a Constituição de 1988), paralelamente, a gente vai tendo a desvalorização da figura do professor em todas as áreas do conhecimento. Partimos do Século 19 para o Século 20, de um olhar que tínhamos sobre como o aluno aprende, para passar do Século 20 para o 21, sobre como é que a gente ensina. Por isso, o Brasil passa a construir políticas públicas para formação inicial e continuada de professores. Investiu-se muito, por exemplo, nas políticas públicas de acesso dos estudantes à educação, na valorização da escola. Mas esse processo não foi acompanhado da valorização do professor que deveria vir em paralelo. Os jovens que hoje terminam o ensino médio têm a vivência de um longo período de suas vidas convivendo na instituição escola, por isso, conhecem a rotina de um professor. Isso não os motiva a serem professores. Um estudo do Global Teacher de 2018 fez uma consulta em 35 países sobre se haveria interesse da população jovem em ser professor. O Brasil foi o país que ficou na última posição, devido à desvalorização profissional, que envolve vários aspectos desde o financeiro à condição de trabalho. É importante ressaltar que a atuação do docente tem impacto não somente dentro mas, também, fora da sala de aula, tem impacto no desempenho dos estudantes, na qualidade da escola, no progresso do País como um todo porque ele forma o cidadão que vai atuar em diversas instâncias. Como deveria ser o processo de valorização do professor? A valorização do professor passa por diversos fatores, não é somente o financeiro, embora seja óbvio que é o primordial. Temos no Brasil, professores com jornada dupla, às vezes até tripla, sem um salário digno. Temos o sucateamento de escolas, a falta de condição de trabalho, isso também pesa nessa questão da valorização profissional. Não adianta ter um bom salário e não ter recurso didático adequado, não ter uma formação continuada necessária. Do ponto de vista do desenvolvimento profissional o professor precisa continuamente de estudo e atualização principalmente com o avanço dos meios de comunicação e tecnologia. A velocidade de informação é muito rápida e a gente precisa de investimento nessa área. Como é que um professor vai investir na sua formação com jornada dupla ou tripla? Muitas vezes essa realidade é observada pelos que podem até ter interesse em ser professor mas dizem: “eu vou precisar ter uma jornada exaustiva para ter minimamente um salário adequado para sobreviver, então talvez seja mais interessante eu investir numa carreira em outra área do conhecimento”. A soma de todos esses fatores faz com que não haja interesse dos jovens em ser professor. Os estudantes na faixa de 16 a 17 anos, que entram na universidade ou que estão fazendo a escolha pela carreira profissional não fazem a opção pela licenciatura, a não ser aqueles que queiram realmente isso. Temos um perfil na licenciatura de alunos um pouquinho mais velhos, são estudantes numa faixa etária dos 19 anos em diante, ou seja, eles tiveram tempo para pensar, amadurecer um pouco essa ideia

Ernani Martins: "Possivelmente teremos um apagão de professores" Read More »

"Nós nos consideramos um movimento popular de cultura digital"

Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, comemora o sucesso do Rec’n’Play que atraiu mais de 60 mil pessoas e destaca a grande presença de jovens da periferia no evento. Ele também analisa os desafios para instalar moradias do Centro do Recife e as perspectivas do parque tecnológico. Este ano do Rec’n’Play atraiu 61.700 pessoas que foram ao Bairro do Recife em busca de conteúdos sobre inovação. O sucesso de público surpreendeu até os organizadores. Para Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, além da qualidade das palestras, algumas novidades também contribuíram para incentivar as pessoas a irem ao festival, como as ativações de rua — tais como as arenas Gamer e de Negócios — e atividades culturais. Pierre comemora ainda a grande presença de jovens da periferia, que era um objetivo perseguido com mais ênfase nesta edição. Na sua opinião, o aumento do público no evento mostra que o Porto Digital começa a trabalhar melhor o sentido de comunidade no Recife, a partir de uma rede de engajamento muito forte na cidade. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele fala do êxito do Rec’n’Play, adianta algumas novidades do evento do ano que vem, analisa os desafios para a revitalização do Centro do Recife e expõe sua visão sobre o futuro do setor. Qual o balanço que você faz do Rec’n’Play? Ficamos surpresos. Eu, particularmente, não achava que seriamos capazes de mobilizar tanta gente em busca de conteúdo. Foram 61.700 inscritos. O ano passado teve 40 mil, que já tinha sido recorde. A que você atribui esse sucesso? Primeiro, começamos a trabalhar melhor o sentido de comunidade. Temos atualmente uma rede de engajamento muito forte na cidade. Hoje, nós nos consideramos um movimento popular de cultural digital. São pessoas que trabalham, estudam, têm interesse em tecnologia e viram no Porto Digital o movimento para que isso surgisse. É muito fora da bolha tradicional de tecnologia. Também qualificamos o evento, com o nível das palestras. Tivemos muita ativação de rua, como a arena de robô incrível — a Arena Gamer —, e a Arena de Negócios. Era um pedido das empresas do ecossistema ter um lugar para as startups se apresentarem. As apresentações estiveram lotadas todos os dias. Na entrevista anterior que concedeu a Algomais, você disse que um dos intentos do Rec’n’Play seria atrair a juventude da periferia para Porto Digital. Isso foi atingido? Isso ficou muito visível no evento. Quando acabou o Carnaval do REC'n'Play, fui ao show de Rayssa Dias, na Avenida Rio Branco. Ela é uma cantora da periferia. Estava lotado. Fiquei impressionado com a quantidade de gente que veio fazer selfies comigo, eram os meninos do programa Embarque Digital. Muitos também não eram e diziam: “muito obrigado por ter trazido a periferia para dentro do Rec’n’Play”. Essa era a grande questão: como é que a gente atrairia esse público? Porque não é atrair para um carnaval, mas para que eles se sintam acolhidos. Foi bonito de ver a participação da juventude. A gente ampliou até a faixa de idade do público, fizemos atividades para bebês – teve muitas ações para criança – até para o grupo 50+. Tudo foi feito de forma colaborativa, o que é muito complexo, porque tem uma margem para dar errado, mas tudo deu certo. O coronel da guarda municipal, disse: “eu nunca fiz um evento de massa que não tivesse uma confusão. Fiquei impressionado. Eu não tive uma ocorrência de roubo de celular”. Mas o ponto decisivo foi a qualidade do evento em termos de conteúdo. A gente teve muita coisa de inovação, de inteligência artificial, trouxemos palestrantes conhecidos. As atividades e palestras estavam todas lotadas. Eu falei para João Campos: colocar 60 mil pessoas no Carnaval para tomar cerveja é fácil. Agora, para participar de conteúdo, de atividades educacionais, é outra coisa. Acho que um dos grandes acertos do Rec’n’Play é ligar tecnologias com arte, com educação. O importante é que esse movimento popular, digamos assim, em torno da tecnologia vem se consolidando no Recife como em nenhuma outra cidade. Às vezes as coisas são muito dispersas, aqui não, aqui é no Porto Digital. E todo mundo se sente bem dentro desse guarda-chuva, se sente protagonista do evento, é um espaço de debates que a cidade conquistou. Queremos manter essa pegada, vamos qualificar mais ainda o evento. No próximo ano, vamos ampliar a área de negócios, vamos manter o Carnaval e insistir na atração de gente de periferia. Vamos debater a de inteligência artificial, o futuro da educação, e já tem a data. Quando será? De 6 a 9 de novembro de 2024. Vamos crescer essa área de negócio absurdamente. Na pauta do ano que vem, vamos discutir o futuro. Ainda não temos temas, mas estamos preocupados com essas discussões. Qual vai ser o futuro da educação, já que na sala de aula a gente tem que buscar uma outra experiência? Qual vai ser o futuro do emprego com a chegada da inteligência artificial? Tem uma outra novidade: vamos abrir para as pessoas montarem as mesas. Como assim? Vamos abrir um período para perguntar: “você quer discutir no Rec’n’Play? Monte uma mesa, faça uma proposta em dois parágrafos dizendo ‘eu quero discutir isso, que vai custar X, vou precisar trazer uma pessoa de São Paulo etc”. Vamos montar uma comissão pública para escolher as propostas. Vamos fazer uma curadoria popular. Se uma empresa ou um coletivo quiser propor uma mesa, nós vamos correr atrás para realizá-la. Se chegar umas mil propostas, vamos selecionar 100. Há uma demanda reprimida nessa área de negócio? Sim. Conversei com o Daniel Coelho (secretário de Turismo do Estado) sobre a necessidade de fazermos do Rec’n’ Play um evento turístico de negócios nacional, porque não tem nada igual. O Brasil precisa saber que esse é o maior festival do País. Vamos precisar fazer isso como um modelo de negócio. Vamos também crescer o número de ativações na rua, que foi uma experiência que deu certo, como a Arena de Robô, a Arena do Bradesco. Vamos manter e qualificar

"Nós nos consideramos um movimento popular de cultura digital" Read More »

"Pernambuco poderia ter uma relação melhor com a China"

Evandro Carvalho, professor da FGV Direito Rio, é um conhecedor da economia da China e da forma singular e prática como os chineses realizam os negócios. Ele morou em Xangai de 2013 a 2015, quando atuou como senior scholar da Escola de Finanças e Economia da Universidade de Xangai. Em seguida, ajudou a fundar o Centro para Estudos do BRICS da Universidade de Fudan, também em Xangai. Atualmente, está em Pequim, onde é senior visiting da universidade local. Diante de toda essa vivência na China, ele observa que o Brasil e, em especial, Pernambuco, estão muito aquém do potencial que poderiam usufruir com as relações econômicas com o Gigante Asiático. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Evandro Carvalho, que é pernambucano e também professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, analisa os motivos que levam brasileiros a não vislumbrarem as oportunidades com investimentos chineses. Ele destaca principalmente a área das novas tecnologias, que tiveram um grande desenvolvimento nas últimas décadas na China e que podem favorecer a criação de uma infraestrutura necessária para aumentar a competitividade e a eficiência do Brasil. Como o Brasil pode se beneficiar das relações econômicas com a China, que tem investido na infraestrutura dos países? Os investimentos da China no setor de infraestrutura são voltados para portos, aeroportos ou ferrovias que contribuem para a importação de produtos chineses. É normal que os bancos chineses invistam onde identifiquem algo que vai favorecer empresas chinesas naquele país. Muito embora uma boa parte dos investimentos da China tenha sido em eletricidade e, mais recentemente no Brasil, em energia eólica e solar. A China é uma produtora de equipamentos, como geradores de energia solar. Os investimentos beneficiam o Brasil, mas também a China. O Brasil precisa identificar a sua prioridade, não só dentro dos setores em que o País já tem uma presença, como o agronegócio, exportação de soja, minério, petróleo. Quando se fala dos investimentos chineses em infraestrutura, penso na infraestrutura do digital, das novas tecnologias, que é um setor que está muito aquém do potencial que pode ter. O Brasil poderia aproveitar o superávit que tem com a China de US$ 28 bilhões para fortalecer outros setores, outras infraestruturas importantes. Como o Brasil poderia desenvolver a relação econômica nessas áreas? No governo passado houve o problema em relação ao 5G da Huawei, que criou um obstáculo desnecessário ao avanço de uma agenda que é importante para o Brasil. A Huawei estava aqui desde o 2G, 3G, 4G e nunca houve nenhum tipo de suspeita de uso dessa tecnologia que ela vende para as empresas de telecomunicações do País. Ocorreu o contrário, o governo de Dilma Rousseff foi espionado pelo Governo Obama. Não existe um fundamento para o tipo de problema que foi levantado no governo passado. Isso criou um clima de quebra de confiança que atrasou parcerias que poderiam ser desenvolvidas não só no 5G, mas na computação em nuvem, na inteligência artificial, no desenvolvimento da economia digital, no uso dessas tecnologias para favorecer a infraestrutura necessária para aumentar a competitividade e a eficiência do País. A China utiliza essa tecnologia para incrementar toda a sua cadeia de valor, desde o processo de produção até a entrega e toda a informação que circula nisso. Nos inúmeros encontros focados na inovação que acontecem nos hubs de tecnologia no Brasil, você mal vê a presença de empresas chinesas ou parcerias com empresas chinesas. Na China vemos a importância dos superaplicativos. Por trás deles, há uma rede de logística poderosa que o Estado fornece. Então, há uma ausência muito grande de parcerias que poderiam ser feitas usando as novas tecnologias para, por exemplo, o setor de saúde. A China é muito habituada com a gestão de grandes volumes de pessoas e de problemas. Consegue gerir grandes volumes de dados, inclusive com a big data e a computação quântica que ela desenvolveu de maneira extraordinária. Isso tudo ela usa na gestão e na governança do país. Como aproveitar essas experiências que a China tem e que o Brasil também tenta fazer da melhor forma possível? Isso envolve o setor espacial, aéreo, de segurança. Vez ou outra a gente vê notícia de alguns prefeitos de grandes cidades do Brasil que visitam a China para verificar como fazem a gestão da cidade, utilizando essa tecnologia. Mas ainda está muito aquém do potencial, considerando a realidade hoje da China na área de tecnologia. Qual a razão dessa falta de interesse do Brasil em relação a toda essa expertise da China? Tem havido investimentos de empresas chinesas ou empresas chinesas vindo para o Brasil na área de TI. Mas é muito aquém do potencial. O problema tem diversas causas. Primeiro, há uma ausência de clareza por parte do governo de uma política digital e de incremento dessa nova infraestrutura que pudesse dialogar com a China. O Brasil precisa intensificar mais essa discussão e ver quais são as parcerias que poderiam ser feitas entre as instituições de pesquisas sérias de ambos os lados, conectadas com os principais atores econômicos que atuam nos mercados estratégicos. A China tem investido em muitos setores e é preciso identificar quais seriam aqueles que o Brasil tem interesse para poder estimular. Falta também uma visão estratégica mais ampla. Darei um exemplo: os trens bala. O que mais se escuta é que isso caro e é mais complexo no Brasil por causa da topografia. Um trem bala Rio/São Paulo vai passar por diversas cidades, o que pode provocar diversos problemas jurídicos em cada uma delas. Porém qualquer processo de mudança significativo da estrutura econômica de um país não é feito de maneira simples e vai sempre requerer custos e grandes obstáculos. No passado quando se falava em petróleo no Brasil, a quantidade de gente que dizia que o País não tinha petróleo era alta, depois, falava- -se dos custos e, no entanto, hoje o País está autossuficiente. Na China, a estrutura de ferrovias foi um componente essencial para o desenvolvimento do país. Tudo isso permite ter esses superaplicativos de entrega

"Pernambuco poderia ter uma relação melhor com a China" Read More »

"Fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores"

Washington Fajardo, ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, aborda os desafios de atrair moradias para a região central da capital pernambucana, elogia as iniciativas do Recentro e defende ações como a instalação de instituições de ensino na área para cativar a juventude. Estimular a moradia no Centro do Recife tem sido uma estratégia defendida por estudiosos e até pela prefeitura para revitalizar a região. O arquiteto e urbanista Washington Fajardo é um desses especialistas que acreditam que nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando no espaço a ser revitalizado. Fajardo é ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, responsável pelo projeto Reviver Centro elaborado para atrair moradores para a região central da Cidade Maravilhosa. O sucesso do programa o levou a ser convidado a ser consultor do planejamento estratégico do Centro do Recife - Recentro na Rota do Futuro. O urbanista ressalta, no entanto, que seduzir a população a morar no Centro é uma tarefa complexa. Nesta entrevista a Rafael Dantas, ele fala dessas dificuldades como, por exemplo, a percepção de segurança que as pessoas têm do Centro, a oferta de moradias no local e o fato de a região não ser mais vista como uma centralidade, onde os moradores resolviam coisas, estudavam, faziam compras e atividades culturais. Mas ressalva que a proposta de se ter uma governança local, a partir do Recentro, é um passo importante para a recuperação da região, assim como a decisão do gabinete de ouvir a população sobre o Centro, a partir de uma consulta pública. Quais as diretrizes para que o Recife possa promover uma recuperação do Centro da cidade? O ponto fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores. Ou seja, nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando. Esse é o princípio. É muito sintético e objetivo, mas implementar isso é muito complexo. Porque, assim como outras cidades brasileiras, o Recife cresceu horizontalmente nas últimas décadas, numa velocidade muito intensa. A gente está falando de um Centro Histórico de toda uma região metropolitana, que é onde as pessoas estão morando. Esse modelo de crescimento da cidade acabou criando uma economia imobiliária que sabe pegar terrenos e fazer prédios. Mas hoje temos essa tendência de investir em retrofits também. Esse é um fenômeno recente brasileiro. No Brasil desaprendemos a reocupar, reformar. A palavra hoje é o retrofit. É importante entender que essa área central está em direta competição com essas outras áreas, onde encontramos uma cultura técnica que passa pela economia, mas vai até a arquitetura e a engenharia. Os próprios órgãos públicos dos municípios aprenderam a criar uma normativa urbanística que favorece essa expansão da ocupação. O resultado disso é que as áreas centrais ganharam uma ociosidade do ponto de vista de moradia, mas conseguiram manter uma função comercial ou de centralidade dos empregos. Aí veio segundo um fenômeno, um pouco de nossa época, que tem a ver com digitalização da economia. Então, além do problema histórico de ocupação, a economia digital já está afetando os centros urbanos também? Tanto o emprego, quantos hábitos de consumo estão muito organizados em função das facilidades que a internet nos proporciona. Esses novos hábitos, que têm a ver com a digitalização da vida da cidade, também têm impactado diretamente a relevância do varejo. Por exemplo: comprar algo não significa mais a necessidade de ter que ir à rua. E isso tem tido um crescimento exponencial, especialmente a partir da pandemia da Covid-19. É um fenômeno que ganhou uma proporção planetária, quando fomos obrigados a aprender novos hábitos. Passamos a fazer reuniões online, pedir comida em casa, fazer compras pela internet. Algo que era incipiente ainda, ganhou relevância e está presente em diferentes gerações. Antes era mais concentrado na juventude, mas com pandemia mesmo as gerações mais maduras ganharam novos hábitos. Ou seja, os centros urbanos têm situação histórica, de longo prazo, muito brasileira. E tem também o contexto novo, um pouco mais global, que tem a ver com digitalização. Isso aumentou mais ainda os esvaziamentos das áreas centrais. Estão correndo certo risco de ficarem irrelevantes. Nesse contexto, como o senhor avalia a experiência do Recife? O Recife é um caso interessante. Teve uma posição de vanguarda, quando algumas décadas atrás tomou decisão de implantar o Porto Digital em sua área central. Observe que o Recife tomou uma decisão muito avançada para época, em dois sentidos: priorizar o Centro da cidade e priorizar a nova economia. Uma reflexão que trago é que apesar desse vanguardismo, não se constituiu, de fato, uma nova camada social morando no Centro. Apesar do sucesso do Porto Digital, a população continua a não morar na região. Isso mostra como essa produção habitacional nas áreas centrais é muito complexa. A prioridade é trazer pessoas para morar, mas não é simples. Como modificar esse cenário para incentivar a moradia no Centro do Recife? Temos que ter visão de mercado. Ou seja, a produção habitacional tem que acontecer com as próprias pernas. Ao mesmo tempo, é necessário ter estímulo público. Que tipo de estímulo? Incentivos fiscais e subsídios, com regulação urbanística própria. É fundamental também que as pessoas passem a desejar mais o Centro. Isso significa que as famílias que hoje estão tomando decisão de moradia deveriam considerar área central como opção. Para isso é fundamental que existam alternativas no Centro para incentivar a decisão de comprar ou alugar uma moradia. Será que a população pensa em morar no Centro? E se pensar, será que conseguirá encontrar algo? Essas questões precisam ser resolvidas. Opções para quem queira e ter o desejo de povoar os bairros centrais. É um desafio que está tanto na demanda como na oferta. Para ter desejo, a população precisa se sentir bem no Centro. Ser um lugar seguro, organizado. Um bom parâmetro é pensar a cidade tomando as crianças como referência. Você viveria com seus filhos no Centro do Recife? A população percebe na área central da cidade um lugar para educar seus filhos

"Fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores" Read More »