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"Quero tornar a Tambaú uma empresa nacional"

Hugo Gonçalves, presidente da Tambaú conta como seu pai ergueu uma das maiores indústrias alimentícias do Nordeste começando a vender, aos 14 anos, nas ruas de Sertânia, pirulitos feitos em casa. Também fala da segunda e terceira gerações da empresa familiar e dos planos para ganhar o mercado brasileiro. Aos 14 anos, Gerson Gonçalves de Lima era um garoto pobre de Sertânia, no Sertão do Moxotó, que um dia disse ao pai não ter vocação para estudar e que queria ganhar seu próprio dinheiro. A resposta paterna veio em forma de sugestão: que tal fazer pirulitos na cozinha de casa para vender? Proposta aceita, Gerson em pouco tempo já não dependia dos recursos da família, com os trocados que passou a ganhar. Um sucesso que levou seu pai a sonhar mais alto ao propor comercializar doces de frutas tropicais. Montaram uma fabriqueta na vizinha Custódia, onde produziam delícias a partir da goiaba, abacaxi, caju, jaca e até do leite. Tudo feito com receita caseira da família. A produção caiu no gosto do consumidor e transformou a fábrica de Gerson, a Tambaú, numa das maiores indústrias de alimentação do Nordeste. Hoje presidida pelo seu filho, Hugo Gonçalves, a empresa conta com 650 funcionários e produz uma média de 5 mil toneladas de produto acabado por mês – 60 mil toneladas por ano. Hoje, o portfólio é bastante diversificado e inclui, principalmente, derivados de tomates. Essa, aliás, foi mais uma inovação de Gerson. O motivo? "Meu pai disse: `é um mercado muito maior do que o de doces’. Foi uma decisão acertada porque hoje os atomatados representam mais de 70% do nosso faturamento”, ratifica Hugo. Nesta entrevista online a Cláudia Santos, o presidente da Tambaú conta a trajetória da empresa familiar que teve um crescimento de 50% entre 2019 e 2023, mantido sustentável até hoje. O que também permanece é a decisão de manter a fábrica em Custódia, apesar de todos os percalços de se produzir no Sertão. Hugo, porém, tem planos ousados: “pensamos em ter uma outra unidade industrial para poder tornar a Tambaú uma empresa nacional”. É o DNA de empreendedor arrojado de Gerson que persiste na outra geração. Como começou a história da Tambaú? A Tambaú é uma empresa familiar, fundada pelo meu pai Gerson Gonçalves de Lima. Ele era de uma família humilde de Sertânia e, aos 14 anos, disse para o meu avô que não tinha vocação para estudar. Queria ganhar o dinheiro dele e que seu sonho, desde a infância, era ter uma indústria. Foi quando meu avô deu a ideia de começar a fazer pirulitos na cozinha da casa deles. Meu pai saía pela cidade vendendo e no final do dia passava na mercearia, comprava o açúcar que era matéria-prima para o dia seguinte. E foi ganhando dinheiro, não tinha mais a dependência dos pais. Um dia meu avô disse: “Gerson, vamos fazer doces de frutas tropicais”. Naquela época, há 60 anos, na região onde estavam, havia muita produção de frutas porque não havia estiagens tão fortes. Eles alugaram uma outra casa em Custódia onde meu pai montou uma fabriqueta. Inicialmente produziam doce de goiaba. Meu pai era uma pessoa que sempre valorizava a inovação e começou a fazer doces cristalizados, que é aquela mariola. E aí foi de fato, o início da Tambaú. Antes o nome do produto era Goiabada Telma. Depois meu pai teve uma experiência de sair de Custódia para Campina Grande, onde achava que tinha condições de crescer mais rápido por ser um grande centro comercial. Mas chegando lá, percebeu que não havia produção de frutas como na região de Custódia. Ele ainda passou uns dois anos, depois voltou. E veio com três nomes que faziam referência à Paraíba: Tambaú, nome da praia em João Pessoa, Borborema, Campina Grande é conhecida como a rainha da Borborema (referência ao planalto onde fica a cidade) e Cariri (nome da região sertaneja). A família inteira falou que Tambaú era mais bonito. Ele registrou esse nome e inclusive os primeiros rótulos tinham uma alusão a uma praia, com um coqueiro e o mar. Mas, depois, fomos interiorizando mais esse nome, tiramos esses elementos do rótulo e hoje Tambaú, pernambucanamente, é um nome muito forte porque a empresa fez 62 anos, prosperamos e perpetuamos o legado de meu pai. Como era a característica dele como empreendedor? Ele era uma pessoa que valorizava muito a inovação, não se contentou em fabricar somente doces de goiaba. Depois, passou a produzir também de banana, caju, jaca, abacaxi. Quando a empresa fez 25 anos ele disse: “agora vou trabalhar com atomatados”. Perguntei para ele, por que o interesse de entrar nessa área. Ele disse: “é um mercado muito maior do que o de doces”. Como de fato é. Foi uma decisão acertada porque hoje os atomatados representam mais de 70% do nosso faturamento. E em 1997, meu pai foi diagnosticado com câncer de próstata, fez cirurgia e vários tratamentos, mas, no ano 2000, veio a falecer. A Tambaú já era uma empresa bem estruturada e nós nos reunimos – eu, minha mãe, meus irmãos – e, por decisão unânime, passei a ser o presidente, embora fosse o filho mais novo. A empresa começou com meu pai e meu avô, somos a segunda geração e já tem membros da terceira geração trabalhando na empresa. De onde vinham as receitas dos doces? De minha avó, que tinha a habilidade de fazer doces; e meu avô também. Eles passaram muita receita e uma coisa que também faz parte do nosso DNA, que é fazer produtos com foco para o Nordeste. Pessoas de São Paulo, às vezes, comiam nossos doces em calda e achavam muito açucarados, mas nossa região foi colonizada em cima da cana-de-açúcar que, na culinária nordestina, tem um peso muito forte. O nosso ketchup, campeão de vendas, nós o chamamos de "ketchup nordestino" porque é um produto mais adocicado e é o mais vendido porque agrada ao paladar do Nordeste. A Tambaú deixou de fabricar alguns doces. Por quê? Pois

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"Pesquisa da Amcham com líderes empresariais no País mostrou que 68% já usam IA"

Alessandra Andrade, superintendente da Amcham para o Nordeste, afirma que estabilidade política do País e avanço tecnológico levam gestores a preverem crescimento de suas empresas acima de 10% em 2024. Também fala das ações da organização e da sua atividade de conscientizar as empresas no apoio às mães atípicas. Alessandra Andrade é “cria” da Amcham (American Chamber of Commerce). Ela entrou na entidade como estagiária em 2004, em pouco tempo já liderava os estagiários e, em 2009, assumiu a coordenação da unidade regional. Passou um período fora da organização, ao se mudar para o Maranhão. Mas foi por pouco tempo. “Um ano depois, o meu antigo diretor em São Paulo disse que a gerente do Recife estava saindo, que era minha antiga chefe, e ela me indicou. Ele me chamou e não resisti, voltei como gerente da operação do Recife”, conta a executiva. Desde 2018 ela é responsável pela gestão das unidades do Nordeste (Salvador, Recife e Fortaleza) e este ano também assumiu a de Curitiba. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela relata as ações da Amcham para aumentar a produtividade das empresas, para ajudar os empresários a se organizarem para as boas práticas de ESG, a estimular o benchmarking entre os setores e para detectar oportunidades de negócios, inclusive nos Estados Unidos. Alessandra também analisa a pesquisa da Amcham Brasil com líderes empresariais nacionais, que revela o otimismo deles em relação ao ano que vem: 56% dos entrevistados estimam que o crescimento de suas empresas será superior a 10% em 2024. Uma expectativa ancorada na estabilidade política mas, também, no avanço tecnológico, principalmente da inteligência artificial. Mãe de uma filha autista, Alessandra também fala da sua atividade de conscientizar as empresas no apoio às carreiras das chamadas mães atípicas. Como tem sido a atuação da Amcham no Nordeste, especialmente em Pernambuco? Ano que vem a gente faz 25 anos de operação no Recife, 10 em Fortaleza, e 15 em Salvador. A Amcham busca promover conexões entre pessoas e empresas. O principal objetivo é criar networks entre indivíduos, por meio dessa rede de relacionamento para que possam tanto descobrir oportunidades como conhecer outros mercados. Entre as empresas, a Amcham é multissetorial e essa diversidade permite que um setor, que esteja enfrentando um desafio, possa entrar em contato com outro setor, que esteja vivendo o mesmo ou talvez um desafio parecido, mas que tenha um outro olhar sobre esse problema. Isso traz para os empresários insights e referências que no mundo da sua área, com seus pares, talvez não consigam perceber. No Recife, há um foco especial no diálogo público/privado dentro dos nossos comitês estratégicos, fóruns de discussão e entendendo também vieses de oportunidade a partir de demandas que os associados trazem. Não defendemos pleitos de uma empresa pontualmente mas, se entendemos que um desafio que uma empresa apresenta é o mesmo que outros estão vivendo, então vamos trabalhar em cima disso. Temos olhado essa formação das pessoas e das empresas no que tange a um conteúdo importante, diferenciado, gerando networking qualificado e, em paralelo, discutindo com o poder público uma melhoria nos incentivos e na política para que tenhamos um Estado e uma cidade mais competitivos, assim como a Amcham Brasil faz na esfera federal e nas relações comerciais com os Estados Unidos. Pernambuco pulsa inovação, então essa pauta sempre foi transversal na Amcham, tanto que, em 2017, provocados por um então secretário de Desenvolvimento do Estado, começamos a trazer a discussão de como podemos promover Pernambuco como um Estado importante para receber investimentos, por exemplo, na área de tecnologia. Foi quando surgiu o projeto PE Avança que acontece até hoje. Recentemente, a pauta ESG tem sido bastante discutida por empresas e pessoas e a Amcham sempre olhou com muito cuidado para a pauta de sustentabilidade. Temos o prêmio ECO, que é o prêmio de sustentabilidade mais antigo do Brasil, criado há mais de 40 anos. Temos um olhar mais ampliado para as outras letrinhas do ESG, olhando o social e a parte de governança, trazendo de forma forte na nossa agenda e também de forma transversal. A pauta entra nas discussões dos nossos comitês estratégicos, criamos eventos específicos como a primeira edição do Fórum ESG que fizemos este ano. Buscamos ser uma entidade que promove o alicerce para empresas que queiram se capacitar e estar prontas para receber essas oportunidades. Até 2020 a Amcham era 100% presencial. A materialização da Amcham para o associado do Recife ou do Nordeste era muito vinculada ao que essa unidade promovia de entrega de eventos presenciais. Mas não tínhamos o melhor aproveitamento de eventos promovidos pelas outras regionais. A partir da pandemia passamos a conectar essas empresas associadas por meio do universo online. Então olhando Pernambuco e o Nordeste entendemos a questão da regionalização, da cultura, do perfil do empresário que é diferente do perfil das outras regiões. Então, promovemos a interação entre o empresário daqui com os outros do Brasil. A senhora mencionou que um dos papéis da Amcham é incentivar o contato entre governos e os empresários. Atualmente qual a pauta que vocês trabalham nessa área? Por ser multissetorial, sem fins lucrativos e apartidária, a Amcham contribui nesse diálogo de forma neutra. Não levantamos nenhum pleito em prol de uma empresa, mas de setores e pensando no aumento da competitividade. No Brasil temos grupos de trabalho que reúnem os empresários que, voluntariamente, têm interesse em discutir determinada pauta, que formulam documentos que se tornam contribuições com trabalho ligados à tributação, à articulação Brasil/Estados Unidos, à transformação digital, à propriedade intelectual. Acabamos de lançar um grupo de trabalho sobre políticas ambientais. Os grupos redigem os documentos que são entregues na esfera federal ou promovemos eventos aonde a pauta é discutida. Na esfera regional, as discussões acontecem dentro dos nossos comitês estratégicos compostos por pessoas que têm o know-how e a experiência naquele determinado tema para começar um grupo de estudos para redigir um documento e, aí, a Amcham faz a apresentação para uma entidade. Por exemplo, este ano a Amcham participou

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Ernani Martins: "Possivelmente teremos um apagão de professores"

Pró-reitor de graduação da UPE, Ernani Martins, alerta que escolas enfrentam escassez de docentes em algumas disciplinas e que essa situação tende a se agravar em todas as áreas do conhecimento. Ele propõe a adoção de políticas públicas de valorização de professores para solucionar o problema. Um estudo recente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) revela que muitos estudantes em 2023 estão finalizando o ano letivo sem terem aulas de física ou sociologia com professores habilitados para ministrar essas disciplinas. Em Pernambuco, apenas 32,4% das docências em física no ensino médio são ministradas por licenciados na matéria. A escassez de docentes pode se agravar. O Instituto Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de Sao Paulo), projeta que em 2040 o Brasil poderá enfrentar um apagão de professores na educação básica. Para Ernani Martins, pró-reitor de graduação da UPE (Universidade de Pernambuco), a solução é implantar políticas públicas de valorização do professor, não apenas em termos salariais mas, também, com a oferta de melhores condições de trabalho. Ele é um conhecedor do assunto. Além de ter atuação na formação de professores na universidade, fez licenciatura em matemática. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Martins afirma que a consulta pública do Novo Ensino Médio é um alvissareiro começo para se debater a questão. Mas adverte que se a solução não for encontrada rapidamente, as consequências serão graves. “Teremos uma estagnação no País porque a educação é a mola propulsora para que a gente avance no PIB e no IDH”, adverte. Há uma projeção do Instituto Semesp de que em 2040 o Brasil poderá enfrentar um apagão de professores na educação básica. O senhor concorda com essa estimativa e quais as suas causas? Não tenho dados concretos, mas é possível que entre os anos 2030 e 2040 tenhamos esse quadro de uma maneira mais exacerbada. Já temos um apagão em algumas áreas do conhecimento, como matemática e ciências da natureza (que envolvem física, química e biologia). Até na construção do cenário atual de novos currículos como a inserção, por exemplo, do pensamento computacional na educação básica, não temos um contingente de docentes com esse tipo de formação para atuar. Possivelmente teremos um apagão de professores em todas as áreas do conhecimento. Isso se deve muito a uma construção social do que é ser um professor porque temos essa cultura, que precisa ser desmistificada, da docência como algo feito apenas por amor, apenas pela vocação, e esquecemos de olhar para o lado profissional. Não estou dizendo que não é necessário ter vocação ou amor – condições que devem estar presentes qualquer outra profissão – mas também deve ser ressaltada a valorização desse profissional como em qualquer outra área. Ao longo do tempo, temos passado por um processo de desvalorização profissional muito forte a respeito do papel do professor que é dicotômico porque, à medida que a educação vai se democratizando no País (a educação não era direito de todos até a Constituição de 1988), paralelamente, a gente vai tendo a desvalorização da figura do professor em todas as áreas do conhecimento. Partimos do Século 19 para o Século 20, de um olhar que tínhamos sobre como o aluno aprende, para passar do Século 20 para o 21, sobre como é que a gente ensina. Por isso, o Brasil passa a construir políticas públicas para formação inicial e continuada de professores. Investiu-se muito, por exemplo, nas políticas públicas de acesso dos estudantes à educação, na valorização da escola. Mas esse processo não foi acompanhado da valorização do professor que deveria vir em paralelo. Os jovens que hoje terminam o ensino médio têm a vivência de um longo período de suas vidas convivendo na instituição escola, por isso, conhecem a rotina de um professor. Isso não os motiva a serem professores. Um estudo do Global Teacher de 2018 fez uma consulta em 35 países sobre se haveria interesse da população jovem em ser professor. O Brasil foi o país que ficou na última posição, devido à desvalorização profissional, que envolve vários aspectos desde o financeiro à condição de trabalho. É importante ressaltar que a atuação do docente tem impacto não somente dentro mas, também, fora da sala de aula, tem impacto no desempenho dos estudantes, na qualidade da escola, no progresso do País como um todo porque ele forma o cidadão que vai atuar em diversas instâncias. Como deveria ser o processo de valorização do professor? A valorização do professor passa por diversos fatores, não é somente o financeiro, embora seja óbvio que é o primordial. Temos no Brasil, professores com jornada dupla, às vezes até tripla, sem um salário digno. Temos o sucateamento de escolas, a falta de condição de trabalho, isso também pesa nessa questão da valorização profissional. Não adianta ter um bom salário e não ter recurso didático adequado, não ter uma formação continuada necessária. Do ponto de vista do desenvolvimento profissional o professor precisa continuamente de estudo e atualização principalmente com o avanço dos meios de comunicação e tecnologia. A velocidade de informação é muito rápida e a gente precisa de investimento nessa área. Como é que um professor vai investir na sua formação com jornada dupla ou tripla? Muitas vezes essa realidade é observada pelos que podem até ter interesse em ser professor mas dizem: “eu vou precisar ter uma jornada exaustiva para ter minimamente um salário adequado para sobreviver, então talvez seja mais interessante eu investir numa carreira em outra área do conhecimento”. A soma de todos esses fatores faz com que não haja interesse dos jovens em ser professor. Os estudantes na faixa de 16 a 17 anos, que entram na universidade ou que estão fazendo a escolha pela carreira profissional não fazem a opção pela licenciatura, a não ser aqueles que queiram realmente isso. Temos um perfil na licenciatura de alunos um pouquinho mais velhos, são estudantes numa faixa etária dos 19 anos em diante, ou seja, eles tiveram tempo para pensar, amadurecer um pouco essa ideia

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"Nós nos consideramos um movimento popular de cultura digital"

Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, comemora o sucesso do Rec’n’Play que atraiu mais de 60 mil pessoas e destaca a grande presença de jovens da periferia no evento. Ele também analisa os desafios para instalar moradias do Centro do Recife e as perspectivas do parque tecnológico. Este ano do Rec’n’Play atraiu 61.700 pessoas que foram ao Bairro do Recife em busca de conteúdos sobre inovação. O sucesso de público surpreendeu até os organizadores. Para Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, além da qualidade das palestras, algumas novidades também contribuíram para incentivar as pessoas a irem ao festival, como as ativações de rua — tais como as arenas Gamer e de Negócios — e atividades culturais. Pierre comemora ainda a grande presença de jovens da periferia, que era um objetivo perseguido com mais ênfase nesta edição. Na sua opinião, o aumento do público no evento mostra que o Porto Digital começa a trabalhar melhor o sentido de comunidade no Recife, a partir de uma rede de engajamento muito forte na cidade. Nesta conversa com Cláudia Santos, ele fala do êxito do Rec’n’Play, adianta algumas novidades do evento do ano que vem, analisa os desafios para a revitalização do Centro do Recife e expõe sua visão sobre o futuro do setor. Qual o balanço que você faz do Rec’n’Play? Ficamos surpresos. Eu, particularmente, não achava que seriamos capazes de mobilizar tanta gente em busca de conteúdo. Foram 61.700 inscritos. O ano passado teve 40 mil, que já tinha sido recorde. A que você atribui esse sucesso? Primeiro, começamos a trabalhar melhor o sentido de comunidade. Temos atualmente uma rede de engajamento muito forte na cidade. Hoje, nós nos consideramos um movimento popular de cultural digital. São pessoas que trabalham, estudam, têm interesse em tecnologia e viram no Porto Digital o movimento para que isso surgisse. É muito fora da bolha tradicional de tecnologia. Também qualificamos o evento, com o nível das palestras. Tivemos muita ativação de rua, como a arena de robô incrível — a Arena Gamer —, e a Arena de Negócios. Era um pedido das empresas do ecossistema ter um lugar para as startups se apresentarem. As apresentações estiveram lotadas todos os dias. Na entrevista anterior que concedeu a Algomais, você disse que um dos intentos do Rec’n’Play seria atrair a juventude da periferia para Porto Digital. Isso foi atingido? Isso ficou muito visível no evento. Quando acabou o Carnaval do REC'n'Play, fui ao show de Rayssa Dias, na Avenida Rio Branco. Ela é uma cantora da periferia. Estava lotado. Fiquei impressionado com a quantidade de gente que veio fazer selfies comigo, eram os meninos do programa Embarque Digital. Muitos também não eram e diziam: “muito obrigado por ter trazido a periferia para dentro do Rec’n’Play”. Essa era a grande questão: como é que a gente atrairia esse público? Porque não é atrair para um carnaval, mas para que eles se sintam acolhidos. Foi bonito de ver a participação da juventude. A gente ampliou até a faixa de idade do público, fizemos atividades para bebês – teve muitas ações para criança – até para o grupo 50+. Tudo foi feito de forma colaborativa, o que é muito complexo, porque tem uma margem para dar errado, mas tudo deu certo. O coronel da guarda municipal, disse: “eu nunca fiz um evento de massa que não tivesse uma confusão. Fiquei impressionado. Eu não tive uma ocorrência de roubo de celular”. Mas o ponto decisivo foi a qualidade do evento em termos de conteúdo. A gente teve muita coisa de inovação, de inteligência artificial, trouxemos palestrantes conhecidos. As atividades e palestras estavam todas lotadas. Eu falei para João Campos: colocar 60 mil pessoas no Carnaval para tomar cerveja é fácil. Agora, para participar de conteúdo, de atividades educacionais, é outra coisa. Acho que um dos grandes acertos do Rec’n’Play é ligar tecnologias com arte, com educação. O importante é que esse movimento popular, digamos assim, em torno da tecnologia vem se consolidando no Recife como em nenhuma outra cidade. Às vezes as coisas são muito dispersas, aqui não, aqui é no Porto Digital. E todo mundo se sente bem dentro desse guarda-chuva, se sente protagonista do evento, é um espaço de debates que a cidade conquistou. Queremos manter essa pegada, vamos qualificar mais ainda o evento. No próximo ano, vamos ampliar a área de negócios, vamos manter o Carnaval e insistir na atração de gente de periferia. Vamos debater a de inteligência artificial, o futuro da educação, e já tem a data. Quando será? De 6 a 9 de novembro de 2024. Vamos crescer essa área de negócio absurdamente. Na pauta do ano que vem, vamos discutir o futuro. Ainda não temos temas, mas estamos preocupados com essas discussões. Qual vai ser o futuro da educação, já que na sala de aula a gente tem que buscar uma outra experiência? Qual vai ser o futuro do emprego com a chegada da inteligência artificial? Tem uma outra novidade: vamos abrir para as pessoas montarem as mesas. Como assim? Vamos abrir um período para perguntar: “você quer discutir no Rec’n’Play? Monte uma mesa, faça uma proposta em dois parágrafos dizendo ‘eu quero discutir isso, que vai custar X, vou precisar trazer uma pessoa de São Paulo etc”. Vamos montar uma comissão pública para escolher as propostas. Vamos fazer uma curadoria popular. Se uma empresa ou um coletivo quiser propor uma mesa, nós vamos correr atrás para realizá-la. Se chegar umas mil propostas, vamos selecionar 100. Há uma demanda reprimida nessa área de negócio? Sim. Conversei com o Daniel Coelho (secretário de Turismo do Estado) sobre a necessidade de fazermos do Rec’n’ Play um evento turístico de negócios nacional, porque não tem nada igual. O Brasil precisa saber que esse é o maior festival do País. Vamos precisar fazer isso como um modelo de negócio. Vamos também crescer o número de ativações na rua, que foi uma experiência que deu certo, como a Arena de Robô, a Arena do Bradesco. Vamos manter e qualificar

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"Pernambuco poderia ter uma relação melhor com a China"

Evandro Carvalho, professor da FGV Direito Rio, é um conhecedor da economia da China e da forma singular e prática como os chineses realizam os negócios. Ele morou em Xangai de 2013 a 2015, quando atuou como senior scholar da Escola de Finanças e Economia da Universidade de Xangai. Em seguida, ajudou a fundar o Centro para Estudos do BRICS da Universidade de Fudan, também em Xangai. Atualmente, está em Pequim, onde é senior visiting da universidade local. Diante de toda essa vivência na China, ele observa que o Brasil e, em especial, Pernambuco, estão muito aquém do potencial que poderiam usufruir com as relações econômicas com o Gigante Asiático. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Evandro Carvalho, que é pernambucano e também professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense, analisa os motivos que levam brasileiros a não vislumbrarem as oportunidades com investimentos chineses. Ele destaca principalmente a área das novas tecnologias, que tiveram um grande desenvolvimento nas últimas décadas na China e que podem favorecer a criação de uma infraestrutura necessária para aumentar a competitividade e a eficiência do Brasil. Como o Brasil pode se beneficiar das relações econômicas com a China, que tem investido na infraestrutura dos países? Os investimentos da China no setor de infraestrutura são voltados para portos, aeroportos ou ferrovias que contribuem para a importação de produtos chineses. É normal que os bancos chineses invistam onde identifiquem algo que vai favorecer empresas chinesas naquele país. Muito embora uma boa parte dos investimentos da China tenha sido em eletricidade e, mais recentemente no Brasil, em energia eólica e solar. A China é uma produtora de equipamentos, como geradores de energia solar. Os investimentos beneficiam o Brasil, mas também a China. O Brasil precisa identificar a sua prioridade, não só dentro dos setores em que o País já tem uma presença, como o agronegócio, exportação de soja, minério, petróleo. Quando se fala dos investimentos chineses em infraestrutura, penso na infraestrutura do digital, das novas tecnologias, que é um setor que está muito aquém do potencial que pode ter. O Brasil poderia aproveitar o superávit que tem com a China de US$ 28 bilhões para fortalecer outros setores, outras infraestruturas importantes. Como o Brasil poderia desenvolver a relação econômica nessas áreas? No governo passado houve o problema em relação ao 5G da Huawei, que criou um obstáculo desnecessário ao avanço de uma agenda que é importante para o Brasil. A Huawei estava aqui desde o 2G, 3G, 4G e nunca houve nenhum tipo de suspeita de uso dessa tecnologia que ela vende para as empresas de telecomunicações do País. Ocorreu o contrário, o governo de Dilma Rousseff foi espionado pelo Governo Obama. Não existe um fundamento para o tipo de problema que foi levantado no governo passado. Isso criou um clima de quebra de confiança que atrasou parcerias que poderiam ser desenvolvidas não só no 5G, mas na computação em nuvem, na inteligência artificial, no desenvolvimento da economia digital, no uso dessas tecnologias para favorecer a infraestrutura necessária para aumentar a competitividade e a eficiência do País. A China utiliza essa tecnologia para incrementar toda a sua cadeia de valor, desde o processo de produção até a entrega e toda a informação que circula nisso. Nos inúmeros encontros focados na inovação que acontecem nos hubs de tecnologia no Brasil, você mal vê a presença de empresas chinesas ou parcerias com empresas chinesas. Na China vemos a importância dos superaplicativos. Por trás deles, há uma rede de logística poderosa que o Estado fornece. Então, há uma ausência muito grande de parcerias que poderiam ser feitas usando as novas tecnologias para, por exemplo, o setor de saúde. A China é muito habituada com a gestão de grandes volumes de pessoas e de problemas. Consegue gerir grandes volumes de dados, inclusive com a big data e a computação quântica que ela desenvolveu de maneira extraordinária. Isso tudo ela usa na gestão e na governança do país. Como aproveitar essas experiências que a China tem e que o Brasil também tenta fazer da melhor forma possível? Isso envolve o setor espacial, aéreo, de segurança. Vez ou outra a gente vê notícia de alguns prefeitos de grandes cidades do Brasil que visitam a China para verificar como fazem a gestão da cidade, utilizando essa tecnologia. Mas ainda está muito aquém do potencial, considerando a realidade hoje da China na área de tecnologia. Qual a razão dessa falta de interesse do Brasil em relação a toda essa expertise da China? Tem havido investimentos de empresas chinesas ou empresas chinesas vindo para o Brasil na área de TI. Mas é muito aquém do potencial. O problema tem diversas causas. Primeiro, há uma ausência de clareza por parte do governo de uma política digital e de incremento dessa nova infraestrutura que pudesse dialogar com a China. O Brasil precisa intensificar mais essa discussão e ver quais são as parcerias que poderiam ser feitas entre as instituições de pesquisas sérias de ambos os lados, conectadas com os principais atores econômicos que atuam nos mercados estratégicos. A China tem investido em muitos setores e é preciso identificar quais seriam aqueles que o Brasil tem interesse para poder estimular. Falta também uma visão estratégica mais ampla. Darei um exemplo: os trens bala. O que mais se escuta é que isso caro e é mais complexo no Brasil por causa da topografia. Um trem bala Rio/São Paulo vai passar por diversas cidades, o que pode provocar diversos problemas jurídicos em cada uma delas. Porém qualquer processo de mudança significativo da estrutura econômica de um país não é feito de maneira simples e vai sempre requerer custos e grandes obstáculos. No passado quando se falava em petróleo no Brasil, a quantidade de gente que dizia que o País não tinha petróleo era alta, depois, falava- -se dos custos e, no entanto, hoje o País está autossuficiente. Na China, a estrutura de ferrovias foi um componente essencial para o desenvolvimento do país. Tudo isso permite ter esses superaplicativos de entrega

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Farjardo Recife 2023

"Fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores"

Washington Fajardo, ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, aborda os desafios de atrair moradias para a região central da capital pernambucana, elogia as iniciativas do Recentro e defende ações como a instalação de instituições de ensino na área para cativar a juventude. Estimular a moradia no Centro do Recife tem sido uma estratégia defendida por estudiosos e até pela prefeitura para revitalizar a região. O arquiteto e urbanista Washington Fajardo é um desses especialistas que acreditam que nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando no espaço a ser revitalizado. Fajardo é ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro, responsável pelo projeto Reviver Centro elaborado para atrair moradores para a região central da Cidade Maravilhosa. O sucesso do programa o levou a ser convidado a ser consultor do planejamento estratégico do Centro do Recife - Recentro na Rota do Futuro. O urbanista ressalta, no entanto, que seduzir a população a morar no Centro é uma tarefa complexa. Nesta entrevista a Rafael Dantas, ele fala dessas dificuldades como, por exemplo, a percepção de segurança que as pessoas têm do Centro, a oferta de moradias no local e o fato de a região não ser mais vista como uma centralidade, onde os moradores resolviam coisas, estudavam, faziam compras e atividades culturais. Mas ressalva que a proposta de se ter uma governança local, a partir do Recentro, é um passo importante para a recuperação da região, assim como a decisão do gabinete de ouvir a população sobre o Centro, a partir de uma consulta pública. Quais as diretrizes para que o Recife possa promover uma recuperação do Centro da cidade? O ponto fundamental é repovoar o Centro do Recife com moradores. Ou seja, nenhum processo de reabilitação urbana tem sustentabilidade se não tiver pessoas morando. Esse é o princípio. É muito sintético e objetivo, mas implementar isso é muito complexo. Porque, assim como outras cidades brasileiras, o Recife cresceu horizontalmente nas últimas décadas, numa velocidade muito intensa. A gente está falando de um Centro Histórico de toda uma região metropolitana, que é onde as pessoas estão morando. Esse modelo de crescimento da cidade acabou criando uma economia imobiliária que sabe pegar terrenos e fazer prédios. Mas hoje temos essa tendência de investir em retrofits também. Esse é um fenômeno recente brasileiro. No Brasil desaprendemos a reocupar, reformar. A palavra hoje é o retrofit. É importante entender que essa área central está em direta competição com essas outras áreas, onde encontramos uma cultura técnica que passa pela economia, mas vai até a arquitetura e a engenharia. Os próprios órgãos públicos dos municípios aprenderam a criar uma normativa urbanística que favorece essa expansão da ocupação. O resultado disso é que as áreas centrais ganharam uma ociosidade do ponto de vista de moradia, mas conseguiram manter uma função comercial ou de centralidade dos empregos. Aí veio segundo um fenômeno, um pouco de nossa época, que tem a ver com digitalização da economia. Então, além do problema histórico de ocupação, a economia digital já está afetando os centros urbanos também? Tanto o emprego, quantos hábitos de consumo estão muito organizados em função das facilidades que a internet nos proporciona. Esses novos hábitos, que têm a ver com a digitalização da vida da cidade, também têm impactado diretamente a relevância do varejo. Por exemplo: comprar algo não significa mais a necessidade de ter que ir à rua. E isso tem tido um crescimento exponencial, especialmente a partir da pandemia da Covid-19. É um fenômeno que ganhou uma proporção planetária, quando fomos obrigados a aprender novos hábitos. Passamos a fazer reuniões online, pedir comida em casa, fazer compras pela internet. Algo que era incipiente ainda, ganhou relevância e está presente em diferentes gerações. Antes era mais concentrado na juventude, mas com pandemia mesmo as gerações mais maduras ganharam novos hábitos. Ou seja, os centros urbanos têm situação histórica, de longo prazo, muito brasileira. E tem também o contexto novo, um pouco mais global, que tem a ver com digitalização. Isso aumentou mais ainda os esvaziamentos das áreas centrais. Estão correndo certo risco de ficarem irrelevantes. Nesse contexto, como o senhor avalia a experiência do Recife? O Recife é um caso interessante. Teve uma posição de vanguarda, quando algumas décadas atrás tomou decisão de implantar o Porto Digital em sua área central. Observe que o Recife tomou uma decisão muito avançada para época, em dois sentidos: priorizar o Centro da cidade e priorizar a nova economia. Uma reflexão que trago é que apesar desse vanguardismo, não se constituiu, de fato, uma nova camada social morando no Centro. Apesar do sucesso do Porto Digital, a população continua a não morar na região. Isso mostra como essa produção habitacional nas áreas centrais é muito complexa. A prioridade é trazer pessoas para morar, mas não é simples. Como modificar esse cenário para incentivar a moradia no Centro do Recife? Temos que ter visão de mercado. Ou seja, a produção habitacional tem que acontecer com as próprias pernas. Ao mesmo tempo, é necessário ter estímulo público. Que tipo de estímulo? Incentivos fiscais e subsídios, com regulação urbanística própria. É fundamental também que as pessoas passem a desejar mais o Centro. Isso significa que as famílias que hoje estão tomando decisão de moradia deveriam considerar área central como opção. Para isso é fundamental que existam alternativas no Centro para incentivar a decisão de comprar ou alugar uma moradia. Será que a população pensa em morar no Centro? E se pensar, será que conseguirá encontrar algo? Essas questões precisam ser resolvidas. Opções para quem queira e ter o desejo de povoar os bairros centrais. É um desafio que está tanto na demanda como na oferta. Para ter desejo, a população precisa se sentir bem no Centro. Ser um lugar seguro, organizado. Um bom parâmetro é pensar a cidade tomando as crianças como referência. Você viveria com seus filhos no Centro do Recife? A população percebe na área central da cidade um lugar para educar seus filhos

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flavia suassuna apl

"Uma das coisas que literatura faz é criar laços"

Flávia Suassuna, nova integrante da Academia Pernambucana de Letras fala da sua produção literária e conta como seu tio Ariano Suassuna contribuiu para tornar-se escritora. Ela também é professora e analisa o impacto da internet no ensino e afirma que a ficção pode ajudar a reduzir a polarização atual. É comum os alunos de Flávia Suassuna se encantarem com a maneira como ela oferece os conteúdos das suas aulas de História da Literatura. Prova disso é que esta entrevista, que ela concedeu a Cláudia Santos no café de uma livraria no Recife, foi interrompida por uma ex-estudante que não se conteve para abraçar e fazer elogios à antiga mestra. Talvez esse talento se deva à maneira envolvente como Flávia conversa e que pode ter origem no DNA que compartilha com o tio Ariano Suassuna. Além da prosa boa — que pode ser constatada nesta entrevista — a professora também herdou do tio o ofício de escritora e seu trabalho foi reconhecido ao ser recentemente eleita para integrar a Academia Pernambucana de Letras. Nesta conversa, ela fala da sua trajetória pedagógica e literária, da relação com Ariano, do impacto da internet no aprendizado das crianças e na polarização ideológica que, para ela, pode ser revertida com a leitura de romances. Ao se identificar com os personagens, muitas vezes, o leitor, segundo Flávia, desfaz preconceitos e amplia seus conhecimentos. Parafraseando Contardo Calligaris, ela assegura: “a literatura, a ficção, tem uma mágica complementar porque ensina também a identificação como ser humano”. Como surgiu seu interesse pela literatura? Quando eu era muito pequena, as pessoas me perguntavam: o que você vai ser quando crescer? Eu dizia que queria ser mãe e escritora. Não entendia por que todo mundo achava graça da resposta, eu estava falando sério. Talvez tenha organizado isso na minha cabeça a partir da existência de tio Ariano, que era escritor, porque uma menina de 5 anos provavelmente não saiba o que seja um escritor. E como era Ariano como tio? Ele foi perfeito comigo. Um dia papai disse a tio Ariano: tem uma pessoa lá em casa que gosta desses livros que você gosta. Tio Ariano ficou todo entusiasmado e começou a me mandar livros no Natal, no aniversário. Quando fiz 11 anos, ele me deu As Minas do Rei Salomão, um livro de aventura que eu amei. Depois passou a me dar livros que tinham a ver com a minha idade. Foi um orientador perfeito das minhas leituras. O que acho lindo de tio Ariano é que ele é uma pessoa muito forte, muito incisiva, mas nunca me orientou para eu ser armorial, por exemplo. Ele deixou que eu seguisse meu caminho. Perto de morrer, ele disse: “as pessoas vêm me perguntar o que é que eu sou de Flávia. Aí eu digo que eu sou tio e todo mundo diz que você é uma professora muito adorável. E eu fico muito orgulhoso”. Vê que coisa bonitinha! Uma das coisas que literatura faz é isso: criar laços. É você contar e discutir a história de Capitu, ver como cada geração enxerga essa a história, trazer o filme de Capitu, trazer uma adaptação do livro Dom Casmurro. Tudo isso vai criando laços entre as pessoas de uma sociedade. Esse é um dos motivos por que existe essa história da criação de uma identidade nacional com aqueles livros. Nunca conheci um russo, mas eu amo os russos por causa de Tolstói. É nesse sentido que a literatura cria esses laços de identidade e fraternidade mais amplos. Li um artigo do psicanalista Contardo Calligaris, em que ele diz que quando leu O Caçador de Pipas se identificou com o narrador, apesar de o romance se passar num espaço político, social, ideológico totalmente diferente do dele. Calligaris disse também que num documentário sobre o Afeganistão, você aprende muito, mas você aprende a diferença, as particularidades do país. Já a literatura, a ficção, tem uma mágica complementar porque ensina também a identificação como ser humano. Você percebe que uma pessoa que mora no Afeganistão é tão humana quanto você. E a história é muito linda, fala de um menino de 8 anos que viu um amigo sendo violentado e correu. Esse artigo de Contardo Calligaris me bateu muito porque eu pensei a mesma coisa que ele: se eu tivesse 8 anos e visse uma amiga sendo violentada, eu acho que eu correria… Como você decidiu atuar como escritora e professora? Isso foram os desastres da vida porque eu queria ser mãe. Tive três filhos, mas fui abandonada pelo pai deles e precisei sustentá- los. Eu tinha o curso de Letras e me tornei professora por uma necessidade básica de sobrevivência. Acho, inclusive, que ser professora dificulta um pouco ser escritora, porque a gente tem muita coisa para fazer em casa, mas não tinha outro jeito. Somos pagos pela hora dada, mas quando chegamos na sala de aula, já gastamos um tempão preparando a aula, corrigindo trabalhos. Você começou sua carreira como escritora ao lançar Jogo de trevas (1980), que foi o primeiro romance a ser publicado por uma mulher em Pernambuco. Como foi essa produção? Eu ainda era solteira. Esse romance foi publicado pelas Edições Pirata em 1980. Eu tinha um professor maravilhoso chamado José Rodrigues de Paiva e eu fiz uma proposta indecente a ele. Eu disse: se eu lhe der o meu romance pronto, você perdoa o meu último trabalho? Porque eu não conseguia conciliar o trabalho e fazer o romance. Ele aceitou. Dei os originais do meu romance, e ele me deu uma nota, me livrei do trabalho dele e consegui terminar esse livro. Depois participei do concurso literário para marcar os 450 anos do Recife, instituído por Jarbas Vasconcelos, que era prefeito. Eu ganhei e esse foi meu segundo romance chamado Remissão ao Silêncio. Comecei com prosa que exige uma disciplina. Para fazer esse segundo romance, eu saía da minha casa, ia para a casa da minha mãe toda quarta-feira de tarde, deixava meus filhos para poder escrever. Depois passei

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magna refazenda

"A produção de roupa como geradora de lixo sempre me incomodou"

Magna Coeli, fundadora da Refazenda conta como a empresa se tornou referência em moda sustentável, a ponto de ser reconhecida pela ONU, e explica o seu processo de fabricação que não produz sobras de tecido. Também fala da relação com o filho, Marcos, com quem trabalha, e das dificuldades de financiamento. Quando adolescente, Magna Coeli costumava usar as sobras dos tecidos que sua mãe, costureira, jogava no lixo. Com os retalhos, Magna fazia peças para ela vestir ou acessórios como bolsas. Tal habilidade e o incômodo pelo refugo da produção de roupas permaneceram até a idade adulta e a impulsionaram a fundar a Refazenda. Reconhecida com várias premiações por sua atuação sustentável, inclusive pela ONU (Organização das Nações Unidas), empresa do setor de moda foi pioneira ao produzir de acordo com padrões de economia circular. Assim como fazia na adolescência, na fábrica Magna não descarta retalhos no lixo: a produção é feita de forma a usar todo o tecido. A sustentabilidade social é outra marca da Refazenda, que faz parceria com cooperativas de rendeiras e bordadeiras de vários estados do Nordeste. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Magna conta a trajetória da empresa, os desafios para gerir um negócio com preocupações ecológicas, as dificuldades em obter financiamentos e a relação com o filho Marcos Queiroz, que é diretor de Soluções da Refazenda. Como começou a Refazenda? Há 33 anos, eu tinha uma confecção com meu ex-marido e com a família dele. Quando resolvi criar a Refazenda, foi uma inquietação ecológica, romântica, exótica, que tinha todos esses nomes, menos sustentável ou economia circular. Era quase fazer um hobby. A produção de roupa como geradora de lixo sempre me incomodou, porque o lixo que mamãe fazia, enquanto costureira, me proporcionava fazer coisas para eu vestir, ou para fazer bolsas. Pensava nessa minha habilidade de transformar ao criar a Refazenda. Eu tinha um olhar muito bom para cor, sabia modelar. Então migrei da tradicional confecção de camisaria e fui fazer uma produção com princípios ecológicos. Daí o nome Refazenda. Gilberto Gil criou a música e me inspirou, como também foi um princípio para esse norte: transformar a fazenda em algo primoroso, mas de valor agregado. Venho de uma família de costureira e alfaiate e a minha grande revolta era o pouco valor agregado nas peças que meu pai e minha mãe faziam. Eu pensava: hei de fazer as pessoas respeitarem quem faz roupas como uma coisa muito digna, muito preciosa. Agora, tudo isso de maneira inconsciente. A empresa começou com uma fábrica ou uma loja? Primeiro foi um divórcio. Na hora da separação, eu poderia ter ido para um setor diferente, mas insisti nesse porque eu tinha o ideal de montar algo que fosse pioneiro. Os primeiros cinco anos foram de consolidação da marca e definição de perfil de produto. Era um ateliê, mas eu me sustentava financeiramente de forma bem austera. Depois, procurei o associativismo, para tentar crescer do ponto de vista da confecção e encontrar aliados com as pessoas que falassem a mesma língua. Foi uma busca inútil, porque o setor de confecção não conversa com o setor de ideias, de utopia. Ele é commodity, fabrica fardamento, roupa íntima e modinha e opta por volume, não por valor agregado. Passei a participar de missões empresariais, conhecer projetos fora até que um dos filhos começou a trabalhar na empresa para me ajudar financeiramente. Quem é ele? Marcos, o mais velho. Ele fazia publicidade e veio para me ajudar financeiramente porque tínhamos crescido um pouco mais, a empresa tornou-se mais complexa. Mas não encontrávamos um ponto de venda para o nosso produto que fosse autoexplicável, tínhamos que concorrer com produtos que não tinham a mesmas características. E aí tivemos que montar loja própria. Isso dá um trabalho danado, fabricar e montar loja própria é desafio para loucos. Chegamos a ter sete lojas, uma em São Paulo. Quando estávamos com quatro lojas, entrou o outro filho, André, que fazia administração, para ajudar na gestão. Também tenho a família desses aliados que trabalham e vieram comigo lá de trás que são tão família minha quanto a biológica. São pessoas que acreditam no projeto, que torcem e estão comigo até hoje. Esse foi um dos pilares que seguraram a empresa. Mas, veio a crise em 2013, a perda do capital foi muito grande, assim como a perda de fôlego para girar essa máquina com as dificuldades que o setor têxtil tem no Brasil, com taxação absurda e nenhum projeto ou diferencial para as empresas inovadoras. A loja de São Paulo ficou aberta até 2016, remando contra a maré porque o custo aéreo do frete aumentou. Tínhamos que trazer parte da matéria-prima de lá, fabricar aqui e levar de volta para lá. Além disso, um de nós três da família teria que morar lá e nenhum quis perder qualidade de vida. Resolvemos finalizar a atividade e investir no comércio eletrônico, que começou em 2012. De lá pra cá, trabalhamos de forma mais enxuta, mas com mais liquidez, porque chegamos a ter dívidas em banco. Tivemos que modificar a estrutura administrativa porque o crescimento não respondeu na ponta pelo varejo que estava trucidado pela taxação. Aí, André saiu da empresa para atuar na construção civil. Já Marcos se transformou num grande gestor e articulador de mídia nessas novas linguagens, coisa que eu estava defasada. Estamos fazendo parte do Instituto Capitalismo Consciente, que é nacional, temos o certificado B, ganhamos premiação na ONU pela prática da economia circular. Isso tudo graças a Marcos, que mostrou a nossa experiência como inédita e precisava ser divulgada. Esse reconhecimento tem sido revertido para a marca e para os negócios? Por um lado, é algo para consolidar e legitimar o produto que tem propósito, tem alcance, longevidade, é um produto com ética. Mas, em compensação, o pouco capital de giro que temos também atrofia porque à medida que somos falados e alcançamos níveis longínquos, não conseguimos acompanhar o escalonamento financeiro na mesma proporção. Quando procuramos outros cases que são semelhantes a nós, ou

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Diego e Manu rodebens

"Somos uma família que está dentro dos negócios em tempo integral"

Entrevista com MANUELLA MENDONÇA E DIEGO MENDONCA Empresa que começou com uma borracharia em Carpina, hoje ostenta sete operações das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, que abrangem distribuição no atacado e revenda de pneus e serviços de recapagem. A segunda geração de gestores do empreendimento leva adiante o empreendedorismo do fundador Manuel Mendonça. Tudo começou com uma simples borracharia em Carpina, na Zona da Mata Norte, que em 30 anos se transformou num grupo que hoje conta com 80 funcionários e ostenta sete operações ligadas ao setor de pneus: são três truck centers (que atendem ao segmento de caminhão), uma renovadora (que faz a recapagem), uma distribuidora das marcas Bridgestone e Firestone que atende todo o Estado de Pernambuco, e mais duas revendedoras multimarcas voltadas para o segmento de carros de passeio (car center). Para contar a trajetória de sucesso do grupo proprietário das marcas Rode Bem, Rode Mais e Rodo Max, Cláudia Santos conversou com a segunda geração dessa empresa familiar que começou com o empreendedorismo de Manuel Mendonça. Seus filhos, Diego Mendonça de 32 anos, e Manuella Mendonça de 27, contam como o negócio se expandiu, falam da relação com o pai e a mãe Fabiana, que também trabalha na empresa, e do setor de pneus e dos projetos da empresa. Como começou a Rode Bem? Diego - Ela começou em 1993. Está completando 30 anos. Nosso pai, Manuel, veio do segmento de recapagem de pneu de uma empresa que fechou. Então, ele abriu uma borracharia em Carpina. Na época teve início a importação de pneus usados vindos da Europa que ele comprava e revendia na cidade, tanto pneus de caminhão como de automóveis, e fazia a parte da recapagem. Na verdade, ele levava o pneu numa renovadora que recapava e entregava ao cliente. Manuella – Ele era do administrativo, vendas e compras, mas havia uma pessoa que fazia o serviço de borracharia. O negócio foi crescendo, ele começou revender pneu novo e aos pouquinhos foi evoluindo. Diego – O negócio foi ficando mais estruturado, já não era mais uma borracharia, mas uma loja de pneus e em 1996 ou 1997, ele abriu uma nova loja em Surubim, com um sócio e, como tem esse sócio, não faz parte do nosso grupo e leva outro nome, Siga Bem Pneus. Continuamos evoluindo, nos estruturando e passamos a ter um atacado de pneus em Carpina. Havia os importadores que traziam para o Brasil os pneus novos, meu pai comprava como atacadista na importadora e distribuía em todo o Estado de Pernambuco. Depois passou a fazer também Paraíba e Rio Grande do Norte. Mas, com o passar dos anos, os importadores passaram a vender direto aos clientes. A margem [de lucro] ficou muito espremida. Manuella – Mais ou menos em 2012 ele encerrou o atacado, não era viável mais, e em 2013 a Bridgestone nos procurou – em razão de a Rode Bem ser referência na região – e fechou a parceria para abrir uma loja em Carpina voltada para o público de caminhões e ônibus, a linha pesada de pneus, serviços e máquinas agrícolas. Eles fizeram questão de utilizar o nome Rode Bem Pneus por ser uma marca já conhecida na região. A primeira loja vende pneus no varejo de automóveis em todas as medidas. Depois, montamos essa nova loja com a bandeira Bridgestone/Firestone e depois de uns dois anos, montamos uma renovadora de pneus também da Bridgestone. O trabalho de uma renovadora é industrial? Diego – A renovadora é uma indústria que pega o pneu usado, no final da vida útil, e coloca uma borracha nova em cima. Faz todo um processo para ele “sair novo de novo”, como a gente costuma dizer. O pneu hoje custa em torno de R$ 3 mil dependendo do modelo e da marca e, para recapar o custo é em torno de R$ 700 ou R$ 800. Numa frota de caminhão, que é o nosso principal cliente, o maior custo é o combustível e o segundo é o pneu. Recapando, há uma redução muito maior no custo. Tem muita operação hoje que, se não existisse a recapagem, não se pagaria, inclusive, a borracha que usamos é a Bandag que oferece mais quilometragem que um pneu novo. Imagine o custo de um rodotrem graneleiro, que tem 34 pneus com o preço médio de R$ 2.800 cada. Ao recapar, ele terá um resultado muito considerável. Manuella – Esse serviço da recapagem tem a certificação do Inmetro. E vocês se adaptaram às demandas de uma região agrícola? Diego – Sim. Atendemos tanto a parte do caminhão frotista, caminhão de autônomo, como também o pessoal do agro. Bem, em 2014, começamos a operar no Recife com vendedor externo para fazer negócios, vender, fazer recapagem. Fomos ganhando, com o tempo, espaço no mercado. Até que em 2021 surgiu uma oportunidade de expansão do nosso truck center para Jaboatão dos Guararapes. Inauguramos na BR-101, uma loja grande, perto da Vitarella, que é um foco logístico do Estado. Em 2022 abrimos mais uma loja em Carpina. Tínhamos um concorrente que nos ofereceu a vaga dele, compramos a loja e ficamos com três unidades, duas voltadas para o público de passeio (car center) que é a Rode Mais, aonde a gente começou. Na verdade, Rode Bem é o nome que começou, mas quando abrimos o truck center, em 2013, a Bridgestone queria que tivesse o nome Rode Bem. Então o que era Rode Bem antigamente, transformou-se em Rode Mais. Quando abrimos a unidade em Jaboatão foi como Rode Bem, uma filial de Carpina. Quando surgiu uma oportunidade de uma nova loja em Carpina, compramos e, para não ficar os nomes iguais colocamos como Rodo Max, que é uma loja de pneus e rodas esportivas. Abrimos essa loja em 2022 e agora em 2023 inauguramos uma em Suape, dentro do complexo da E-LOG. Hoje temos três Rode Bem em Carpina, Jaboatão e Suape e uma renovadora que fica em Carpina, mas atende toda a Mata Norte, Mata Sul

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Camila Bandeira: "Vamos tornar a Fenearte um atrativo turístico"

Diretora-executiva da feira, Camila Bandeira, fala das novidades desta edição do evento, como a realização de atividades em 50 espaços do Recife e de Olinda que dialogam com o artesanato. O objetivo é atrair turistas para as cidades. Também anuncia a realização de um estudo que vai fornecer um diagnóstico do setor. Q uem visitar a 23ª edição da Fenearte este ano, vai poder não só conhecer e adquirir as peças de mais de cinco mil artesãos que vão expor seus trabalhos no Centro de Convenções, mas também participar de uma ampla programação paralela que acontece em cerca de 50 espaços localizados no Recife e em Olinda. As atividades compõem o Circuito Fenearte e vão acontecer em galerias, museus e restaurantes. Entre as atrações estão a Feira de Arte Contemporânea, que acontece no Cais do Sertão, a mostra Tapeçaria Timbi: Bordando as obras do mestre J. Borges no Mercado Eufrásio Barbosa e a Cozinha Fenearte, iniciativa em parceria com o Instituto César Santos, com a participação de 10 restaurantes que vão apresentar um cardápio especial no período do evento. “O público que gosta do artesanato também gosta de gastronomia, de moda, de artes visuais, de artes plásticas. Então, estamos ampliando esse diálogo com essas outras linguagens e para outros equipamentos”, explica Camila Bandeira diretora-executiva da feira. O intuito da inovação, segundo Camila, é transformar a Fenearte numa atração turística. A feira – que este ano acontece de 5 a 16 de julho – é considerada a maior da América Latina, tem investimento de R$ 8 milhões e a expectativa de movimentação financeira superior a R$ 40 milhões. Apesar desses números superlativos, o evento não conta com muitos visitantes de outros Estados e Camila acredita que a Fenearte tem o potencial para estimular o turismo no Recife e em Olinda. A inspiração vem da Fuorisalone, famosa feira de design de Milão que oferece atrativos no entorno do salão onde acontece o evento e que atrai visitantes de outras localidades para a cidade italiana. Camila Bandeira, que também é diretora-geral de promoção da Economia Criativa da Adepe (Agência de Desenvolvimento de Pernambuco) conta, nesta entrevista a Cláudia Santos, as novidades da Fenearte, fala do estudo sobre o setor de artesanato que será iniciado durante o evento e ressalta a importância dos loiceiros (artesão que fazem peças utilitárias de barro), que são homenageados desta edição da feira. Por que, nesta edição, a programação da Fenearte será realizada em outros espaços, além do Centro de Convenções? Identificamos algumas questões que nos levaram para essa tomada de decisão. A primeira delas é que a Fenearte, por si só, apesar de todo potencial, não é ainda um atrativo turístico. São poucos turistas que vêm de fora de Pernambuco para a feira. Olhando para isso, começamos a pensar como que a gente conseguiria dar esse caráter e fomentar mais o turismo. Daí, surgiu a ideia do Circuito Fenearte, no qual estamos expandindo a feira para outros espaços, para atividades relacionadas com artesanato, mas com conexão com outras linguagens. O público que gosta do artesanato também gosta de gastronomia, de moda, de artes visuais, de artes plásticas. Então, estamos ampliando esse diálogo com essas outras linguagens e para outros equipamentos. Acreditamos que , desta forma, vamos tornar a Fenearte um atrativo turístico. A feira, com a comercialização dos trabalhos dos artesãos continua sendo realizada no Centro de Convenções, não haverá nenhum ponto de venda fora dele, mas vamos oferecer uma programação paralela para colocar o artesanato em diálogo com outras linguagens e com isso incentivar o turismo. Que tipo de atrações o visitante vai conhecer nesses outros espaços? A gente vai ter o circuito gastronômico. Alguns chefs, que estarão na Fenearte, inclusive com a aula-show que é oferecida na feira, estarão também nos seus restaurantes, em seus espaços, ativando com prato especial, com horário estendido, com a sinalização de que ali também faz parte do Circuito Fenearte. Além de restaurantes, museus, equipamentos culturais, galerias de arte, espaços de economia criativa das cidades do Recife e de Olinda estarão com programação específica nesse período em que a feira é realizada. Alguns começando antes, outros estendendo até um pouco mais, mas cerca de 50 espaços serão ativados pela Fenearte, provocados para pensarem em programações específicas. Essa iniciativa foi inspirada na feira Fuorisalone, de Milão, onde surgiram essas ativações orgânicas que iam acontecendo ali ao redor do salão principal do evento, segundo eu soube – porque não fui lá ainda – hoje essas atividades paralelas têm tanto poder atrativo quanto o salão. A economia da cidade vive atualmente a partir do que acontece no seu entorno, nas galerias, nos outros equipamentos que são ocupados. Nesta edição, a feira homenageia os loiceiros. Qual a importância deles para o artesanato e para a identidade cultural de Pernambuco? Esse saber tradicional da loiça é milenar, vem dos povos originários, muitas vezes as pessoas nem sabem, mas a própria arte figurativa vem da arte utilitária de pegar o barro da terra e fazer objetos como uma panela. A partir daí, vai-se modificando ao longo do tempo, através das tradições, até chegar no que a gente tem hoje como arte figurativa, arte expressiva, arte contemporânea. Por isso a ideia de homenagear esse saber tão antigo, tão milenar, da raiz de onde vem, por exemplo, Vitalino e Maria Amélia, que são dois artistas renomados por trabalhar com cerâmica. Os pais de ambos eram loiceiros, eles começaram a ter esse contato com o barro e com a cerâmica ao fazerem objetos utilitários. Então, a ideia é homenagear todos esses mestres e mestras que estão espalhados pelo Estado todo. Nessa edição vocês vão realizar um estudo sobre o setor. Qual o objetivo dessa pesquisa e quando os resultados serão concluídos? O objetivo é a gente ter um panorama, um diagnóstico profundo sobre a cadeia do artesanato que vai nos dar subsídios para entender essa cadeia e podermos traçar as estratégias mais adequadas e estruturantes para esse setor. O estudo tem quatro pilares: mercado (olhar para o artesanato a

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