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Transição energética no mundo, oportunidades locais para Pernambuco

Aceleração da produção de hidrogênio verde e da geração de energias eólicas e solares representam um horizonte de desafios para Pernambuco. Tema foi discutido na reunião do projeto Pernambuco em Perspectiva, organizada pela Rede Gestão e pela Revista Algomais *Por Rafael Dantas O combustível que move o mundo literalmente deve mudar em poucas décadas. Os de origem fóssil devem, enfim, perder o protagonismo para os veículos elétricos. As matrizes eólicas e solares seguem na rota de expansão e captação de investimentos. E nesse novo planeta, menos poluente, o hidrogênio verde é outra matriz que está no horizonte, principalmente da indústria e já arremata projetos bilionários. Pedro Jatobá, engenheiro eletricista, ex-diretor da Eletrobrás, destacou, na última reunião do projeto Pernambuco em Perspectiva, organizada pela Rede Gestão e pela Algomais, que o Estado tem gargalos importantes a serem vencidos para poder aproveitar as oportunidades da transição energética. No entanto, ele é otimista diante dos potenciais de Pernambuco e, especialmente, da capacidade instalada industrial e da expertise da mão de obra local para atuar no novo contexto energético do planeta. O especialista afirma que a humanidade vive uma transição de fontes de energia desde que o homem descobriu o fogo. Só que neste momento há alguns aspectos direcionadores que são diferentes. O principal deles é o fato de a preocupação ambiental ter entrado no radar das grandes decisões políticas e econômicas do mundo. “Enfrentamos o aumento da demanda [de energia], que sempre preocupou a humanidade, porque estamos sempre consumindo mais. Agora, temos fatores como a inovação tecnológica e as mudanças geopolíticas. Esses três aspectos, de alguma maneira, sempre permearam a nossa história. Só que a preocupação ambiental é uma questão nova”, afirmou Jatobá. “A nossa fase atual não é só de expandir para atender a demanda, mas a de substituir a matriz existente. O Século 21 será das energias renováveis”. A decisão por uma transição que tenha como elemento central a busca por energias renováveis beneficia muito o Brasil, que já é um dos líderes globais na geração por matrizes limpas. Mas não é somente esse fator. Há diferenciais competitivos no Nordeste que podem reposicionar o País e a região em um novo patamar no cenário energético global. A JANELA DE OPORTUNIDADES LOCAIS Um relatório recente da Absolar indicou que Pernambuco já tem R$ 4 bilhões investidos só em geração própria de energia solar em telhados, fachadas e pequenos terrenos. Apenas nesse segmento, que não é o maior, já foram gerados 24 mil empregos, segundo os dados da associação. Grandes empresas locais têm apostado também nos painéis solares, inclusive indústrias, para limpar sua matriz energética e conseguir custos mais competitivos. O setor eólico tem levado investimentos bilionários, especialmente para o Sertão pernambucano. Mas, no radar de oportunidades para atender o mercado global de energias, é o atendimento à demanda de hidrogênio verde que tem mobilizado os investidores. Jatobá destaca que Pernambuco não partiu na frente mas pode ter os melhores projetos. De acordo com o engenheiro, há dois grandes polos mundiais que vão demandar muito a importação de hidrogênio verde ainda nesta década: a Europa e a China. “Os estados membros da União Europeia devem garantir que 42% da demanda industrial de hidrogênio existente seja suprida de forma renovável até 2030, subindo para 60% até 2035”, exemplifica Jatobá. “Até 2050, a demanda total de hidrogênio da China chegará a 83 milhões de toneladas anuais, incluindo 63 milhões de toneladas de hidrogênio verde”, acrescentou o engenheiro. É para os europeus que os Estados do Nordeste têm uma janela de oportunidade de avançar na internacionalização da economia, conforme o gráfico abaixo da agência Bloomberg. Um estudo da Bloomberg indicou que o Brasil é o país com maior competitividade de atender a demanda de exportação do hidrogênio verde, por ser onde será possível produzir o combustível de forma mais barata. “O Brasil tem um enorme potencial competitivo a ser explorado. Os recursos naturais existentes para a produção de energias limpas e renováveis permitem produzir excedentes exportáveis para o mercado global de commodities energéticas verdes e obter uma cota relevante no suprimento a essa demanda. O resultado terá impactos positivos na balança comercial bem como atrair investimentos e gerar empregos”, afirmou Jatobá. O engenheiro explica que a Europa tem a meta de até 2030 introduzir 20 milhões de toneladas de hidrogênio, porém eles têm capacidade de produzir apenas 10 milhões de toneladas. “Com isso, todo mundo está se organizando para atender essa demanda” PASSOS PARA PERNAMBUCO AVANÇAR NO HIDROGÊNIO VERDE Para aproveitar essa oportunidade internacional, ele sugere que haja uma posição proativa do Estado para criar um roadmap (um roteiro de ações de desenvolvimento) para promover uma estrutura robusta capaz de atender as demandas vindas dessa virada energética, com uma nova commodity que o Estado tem capacidade de fornecer. “Pernambuco precisa criar um roadmap para a transição energética estadual, contemplando o hidrogênio verde e seus derivados. As estratégias de transição energética podem sinalizar para produtores e compradores que um estado está organizando seu ambiente propício para receber os segmentos industriais relacionados à transformação do seu setor produtivo”, afirmou Jatobá. Ele enfatiza que a definição de metas e a elaboração desse roteiro de ações são indicadores da ambição do governo em torno da escala, demanda ou foco da indústria, sendo que os mecanismos de estímulo à demanda interna e à exportação são instrumentos eficazes para consolidar esses novos segmentos. Se Pernambuco e o Nordeste já se destacam na produção de energias renováveis e da biomassa, o engenheiro entende que o próximo passo fundamental para o Estado entrar nessa cadeia é investir na tecnologia. “Se há geração de eletricidade e biomassa, precisamos investir agora na eletrólise (processo de quebra da molécula da água – H2O –, para separar o hidrogênio do oxigênio) e na hidrogenação para poder gerar essa cadeia do combustível verde. Essa é uma das linhas que acho que Pernambuco deveria investir, pode ser uma forma interessante de potencializar esse processo”. Há, entretanto, gargalos relevantes a se considerar, como a disponibilidade hídrica, visto que o hidrogênio

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5 imagens do Recife e Olinda pelos caminhos da Confederação do Equador

Neste ano, a Confederação do Equador completa 200 anos. A coluna Pernambuco Antigamente faz uma viagem pelo tempo no Recife e em Olinda para apresentar algumas fotos antigas dos lugares por onde andou Frei Caneca, o líder do movimento que separou parte do nordeste do restante do País. Bairro do RecifeJoaquim da Silva Rabelo, depois Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo, nasceu no bairro de Fora de Portas, que é um local bem próximo atualmente à Comunidade do Pilar e ao próprio Terminal de Passageiros do Porto do Recife. A imagem abaixo é do Porto antigamente. Rua do Bom Jesus O desenho de L. Kraus, (litogeravura de F. H. Carls) é do Album de Pernambuco e seus arredores, 1878 Pátio do Carmo e a Basílica e Convento de Nossa Senhora do CarmoFoi nesse convento em que o herói pernambucano iniciou sua formação religiosa, aos 17 anos, em 1796. A imagem é de Franz Heinrich Carls, em 1878. Seminário de OlindaO seminário foi um dos locais de estudos e formação do religioso, sendo um lugar relevante para as leituras que o motivaram a ter uma atuação mais política no Estado. Forte das Cinco PontasÉ do lado externo da fortificação onde o líder da revolução foi executado. No local onde aconteceu o fuzilamento, 200 anos atrás, há um busto do herói. Além das imagens desses lugares icônicos do Recife, destacamos abaixo duas pinturas sobre Frei Caneca. A tela Estudo para "Frei Caneca", de Antônio Parreiras (abaixo), retrata o julgamento do revolucionário Para encerrar, o quadro Execução de Frei Caneca, por Murillo La Greca *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

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Fábrica da Hemobrás, inaugurada hoje, vai abastecer SUS com remédio para hemofilia

(Da Agência Brasil) A nova unidade fabril da Hemobrás em Goiana (PE) irá produzir um medicamento para o tratamento da hemofilia do tipo A, doença que atinge atualmente cerca de 12 milhões de pessoas no país. A capacidade produtiva será de 1,2 bilhão de unidades do medicamento fator VIII recombinante (Hemo-8r) por ano. A fábrica será inaugurada hoje (4), com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Complexo Industrial da Hemobrás. Segundo a ministra da Saúde, Nísia Trindade, a previsão é que o medicamento produzido pela Hemobrás chegue ao Sistema Único de Saúde (SUS) a partir de setembro. “A produção terá um impacto enorme na vida das pessoas com hemofilia, que sofrem muito em função de traumatismos, hemorragias e que agora vão ter a garantia de uma autonomia dessa produção a partir desse trabalho da Hemobrás”, explicou a ministra. O Hemo-8r é fundamental para o tratamento da hemofilia A, com a ampliação da profilaxia, que é a maneira mais eficaz para prevenir os sangramentos espontâneos e sequelas nas pessoas portadoras da coagulopatia. Antes do início da oferta da produção nacional do medicamento, haverá um processo de qualificação, que prevê várias fases. “A produção nacional  não será disponibilizada para o SUS imediatamente, pois ainda deverá cumprir várias etapas de qualificação, até que a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] nos dê a certificação e a gente possa colocar de fato no mercado a produção nacional”, explicou a diretora-presidente da Hemobrás, Ana Paula Menezes. Economia O Hemo-8r já é fornecido para o SUS pela Hemobrás por meio de uma Parceria para o Desenvolvimento Produtivo (PDP). A expectativa é que, com a produção totalmente nacional, haja redução de 30% no preço do remédio, e consequentemente o aumento da oferta do medicamento no país. “Do ponto de vista econômico, a nova fábrica representa uma autonomia frente a medicamentos essenciais, o domínio de uma tecnologia, a  capacidade de expansão até para novas tecnologias, além da redução de custos. Quem detém essa tecnologia tem uma vantagem muito grande do ponto de vista não só de mercado mas de uma competência científica que vai poder também alimentar outros produtos”, disse a ministra Nísia Trindade.

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"Não basta ser craque na advocacia, tem que ser também um cidadão"

João Humberto Martorelli, sócio-fundador de uma das mais reconhecidas bancas de advocacia de Pernambuco, conta como desistiu do sonho de ser diplomata ao se apaixonar pelo direito, fala da trajetória do escritório, do uso da IA e defende o papel do advogado em prol das causas sociais e da democracia Uma das bancas de advocacia mais conhecidas de Pernambuco, a Martorelli Advogados, festejou no final de 2023, sua trajetória de 40 anos voltados para o direito empresarial. Mas a atuação do seu sócio-fundador, João Humberto Martorelli, também esteve voltada para as causas sociais. Ele participou das diversas campanhas de resistência contra a ditadura militar e ajudou a fundar a organização Causa Comum, em que trabalhava de forma voluntária defendendo, na Justiça, diversos mutuários do Sistema Financeiro da Habitação. Foi também um dos pioneiros a adotar a política de inclusão para contratar pessoas negras, LGBTQIA+, com idade acima dos 55 anos e com necessidades específicas. Para João Humberto Martorelli o exercício da advocacia deve ser encarado como uma função social e não apenas uma atividade geradora de lucro. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele conta como desistiu do sonho de ser diplomata ao se apaixonar pelo direito, fala das causas sociais nas quais se engajou e como a inteligência artificial tem facilitado o trabalho do escritório. Como começou a Martorelli Advogados? A empresa começou com um estudante de direito que não estava fadado a fazer direito, estava construindo sua vida para ser diplomata. Na época, era exigência do Instituto Rio Branco cursar até o segundo ano de direito para, só então, fazer o concurso para diplomata. Quando eu estava no segundo ano de direito, meu pai, que era engenheiro, pragmático e não acreditava muito em diplomacia, pediu um estágio para mim em um escritório de advocacia do Recife. Comecei a estagiar no escritório de Vicente Gouveia só para satisfazer ao desejo do meu pai, mas acabei me apaixonando pela advocacia. O escritório era muito atuante, eu aprendi muito com eles e fiz um bom curso de direito, me esforcei, me dediquei bastante e, quando me formei, fiquei no escritório como advogado. Como muitos profissionais que estão em grandes bancas e têm o sonho de fazer a própria carreira, eu atendi o convite de Luiz Piauhylino e saí para montar, junto com ele, o meu escritório em 1983. Eu já tinha seis anos de formado e aí começamos uma carreira de advocacia muito interessante. Ampliei os setores em que atuava, que eram o comércio varejista e atacadista de uma forma geral e, com Piauhylino, entrei em outros setores, como o sucroalcooleiro, atuando junto a usinas na área tributária, ambiental e contenciosa. Com isso, crescemos bastante. Piauhylino seguiu na carreira política e, em 1997, o escritório que era Piauhylino e Martorelli passou a ser só Martorelli Advogados. A partir daí, sem um sócio sênior junto comigo, eu comecei a desenvolver uma filosofia de crescer o escritório por meio da formação de estagiários. Então, ao invés de buscar sócios no mercado, comecei a, praticamente, desenvolver uma grande escola de advocacia no escritório e, hoje, quase todos os meus sócios são ex-estagiários. Então a formação de pessoas foi essencial para o crescimento do escritório? O escritório cresceu bastante com essa filosofia e acho que vai crescer mais ainda porque continuamos com essa prática. Muitos escritórios que estão hoje no mercado foram formados aqui dentro. São advogados que repetiram a minha trajetória: ficaram um pouco trabalhando conosco e, depois, saíram para montar os seus escritórios. Além disso, eu sempre fui muito cidadão, muito envolvido em política, não política partidária, mas eu sempre gostei muito de defender as causas populares. Eu entendo que a advocacia, antes de tudo, é uma função social, tanto que hoje o advogado é inscrito na Constituição como indispensável à administração da Justiça. Por isso, me engajei em alguns movimentos políticos, participei das diversas campanhas de resistência contra a ditadura, e da eleição de Marcos Freire ao Senado. E, depois da derrota de Marcos Freire para o Governo do Estado, em 1982, começamos a desenvolver m trabalho na sociedade civil e fundamos uma associação, junto com João Braga (ex-secretário municipal de Infraestrutura e ex-secretário estadual de Justiça e Direitos Humanos), que se chamava Causa Comum, em que nós trabalhávamos de forma voluntária defendendo na Justiça diversos mutuários do sistema financeiro de habitação que não conseguiam mais pagar a prestação da casa própria. Patrocinamos voluntariamente mais de 15 mil mutuários aqui em Pernambuco. Então, gosto de assinalar que, ainda hoje, apesar de sermos voltados para o setor empresarial, visamos sempre à função social da advocacia. Por isso que hoje nós desenvolvemos, aqui no escritório, diversos trabalhos de efetiva inclusão. Hoje é uma tendência mas, há muito tempo, já praticávamos a defesa das causas sociais, a defesa de gênero, a postura antirracista veemente e a criação de cotas para estudantes negros, estudantes transgêneros, para idosos, etc. Temos sempre uma prática de muita diversidade dentro do escritório. De que forma é realizada essa inclusão? Aqui no escritório, nós temos cotas nas nossas seleções de estagiários de advogados. Destinamos uma cota para incluir negros, idosos e outras iniciativas de inclusão. Além disso, o escritório tem a postura de intransigente defensor dos direitos individuais, das causas sociais e isso é indispensável para o advogado. Hoje em dia se pensa muito assim: o estudante sai da faculdade querendo ganhar o primeiro milhão no primeiro ano. Temos que construir uma atividade com a prática baseada na seriedade, na ética, no respeito às causas sociais. Não basta ser craque na advocacia, ser bom em direito civil, tem que ser também um cidadão. Quais os benefícios que essa diversidade traz para o escritório? Traz muitos benefícios. O olhar diverso é muito importante e, na prática da advocacia, temos que ter esse olhar. Não me refiro somente à sigla ESG (responsabilidade social, ambiental e governança), que tem sido muito usada hoje em dia apenas como rótulo. Mas aqui no escritório isso traz grandes benefícios. Temos que saber que, no mundo, há diversos

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1964: As memórias do golpe militar em Pernambuco

Nesta semana completam-se 60 anos da ruptura política de 1964, que fez o País mergulhar em uma ditadura de 21 anos, a Algomais inicia hoje uma série de três reportagens sobre essa página da história do Brasil que passou por episódios marcantes no Estado. *Por Rafael Dantas Seja no campo ou na cidade, os movimentos políticos que aconteceram em Pernambuco na década de 1960 foram marcantes para a eclosão do golpe militar que assombrou o País por mais de duas décadas. O movimento de resistência e todo o esforço de preservar a memória dessa época também teve protagonismos locais. A força das Ligas Camponesas, o Movimento de Cultura Popular e a eleição de Miguel Arraes são alguns dos episódios que ajudam a explicar a dura repressão que acontece no Estado após 1964, o terceiro do País com mais desaparecidos políticos segundo a Comissão da Verdade. “Pernambuco é pioneiro em diversos eventos históricos e foi um ponto central em 1964, seja na implementação, no decreto do golpe, mas também no processo de redemocratização. Quando houve o golpe, o governador era Miguel Arraes de Alencar, muito presente nas causas sociais. Pelópidas Silveira era o prefeito do Recife. Mas eu queria alertar para o movimento social que existia em Pernambuco, os movimentos de reivindicação, desde os estudantes da Faculdade de Direito, das Escola de Engenharia e de Medicina, mas também os movimentos do campo, que buscavam reforma agrária e direitos trabalhistas. Isso, alinhado aos movimentos intelectuais, tornava Pernambuco um celeiro de reivindicações sociais. Então, quando estoura o golpe, uma das primeiras ações é sufocar esses movimentos sociais e, logicamente, prender e depor Miguel Arraes”, afirma o historiador e professor da UPE (Universidade de Pernambuco), Carlos André Silva de Moura. O contexto em que emana o golpe no Brasil e atinge em cheio o calor das reivindicações políticas em Pernambuco tem muitas motivações vindas do cenário internacional. Dentro do contexto da Guerra Fria, em um mundo polarizado entre as lideranças dos Estados Unidos e da União Soviética, a explosão da Revolução Cubana, em 1959, liga um sinal de alerta na América Latina. Ditaduras vão se erguer em vários países no continente, com destaques para a Argentina, o Chile e o Brasil. Além do contexto internacional, a historiadora Susan Lewis, também professora da UPE, alerta para o posicionamento das elites brasileiras e pernambucanas, que desejavam uma modernização do País, mas, ao mesmo tempo, a manutenção da sua força política e econômica. O barulho dos movimentos populares da época, sedimentados pelo apoio de intelectuais, foram combustíveis para a repressão. “A classe burguesa estava amedrontada pelo comunismo. Com a renúncia do Jânio Quadros, João Goulart (vice-presidente na época), que estava na China e se aproxima dos trabalhadores e dos jovens, vai ser visto como um comunista. A gente tem uma sociedade que é tradicionalmente conservadora. A elite queria um tipo de desenvolvimento capitalista, queria se modernizar, mas de forma conservadora. Ou seja, o status quo tem que ser mantido”, afirma a pesquisadora que também é integrante do Comitê Memória Verdade e Justiça de Pernambuco. CENÁRIO POLÍTICO DE REIVINDICAÇÕES O coordenador da Cátedra Dom Helder Camara, da Unicap (Universidade Católica) o professor Manoel Moraes, ressalta que para entender o grau de repressão do golpe em Pernambuco, é necessário compreender o processo que o precedeu. “Por que nós somos o terceiro Estado em número de desaparecidos políticos no Brasil? Primeiro é São Paulo, depois, o Rio de Janeiro. Nós tivemos um forte movimento naquela época no pré-golpe de 64 em Pernambuco”, afirma o docente. O pioneirismo das Ligas Camponesas, os primeiros passos do movimento sindical brasileiro e a atuação de lideranças católicas nos movimentos do campo são alguns dos elementos que explicam o protagonismo local na luta por direitos que tanto incomodou o cenário político nacional. Mas, em Pernambuco, se destacou ainda a força de massas em volta do MCP (Movimento de Cultura Popular), do movimento estudantil e da própria Frente Popular de Pernambuco. Para compor esse cenário de forças, há um conjunto de grandes intelectuais, políticos e artistas que participavam ou apoiavam os movimentos sociais que reivindicavam por direitos e pelas chamadas Reformas de Base no País. Paulo Freire, Josué de Castro, o deputado Francisco Julião e o ex-governador Miguel Arraes são apenas alguns desses personagens que atuaram como protagonistas na época. “Pernambuco é um polo extremamente estratégico de luta e a sociedade civil se organizava a partir da nova composição política que hegemonizava no Estado, que era a chamada Frente Popular. Então, a repressão em Pernambuco não foi qualquer repressão”, explica Manoel. TENSIONAMENTOS NO CAMPO Anacleto Julião, filho do ex-deputado e um dos líderes das Ligas Camponesas, Francisco Julião, lembra que quando criança foi levado para Cuba, a convite de Fidel Castro, para fugir do golpe que já se esperava. Ele, sua mãe e irmãos foram para a ilha dois anos antes da queda de João Goulart. Antes de retornarem ao Brasil, eles ficaram exilados ainda no Chile, durante o período de ascensão de Salvador Allende, e posteriormente na Suécia. A ditadura não foi uma surpresa, especialmente para quem estava dentro das lutas de reivindicação. No conjunto das chamadas Reformas de Base, uma em especial tinha relação direta com as movimentações políticas de Pernambuco e que incomodava os golpistas dos anos 60: a reforma agrária. Antes mesmo da formação dos sindicatos rurais, eram as Ligas Camponesas que articulavam a extensão dos direitos aos trabalhadores no campo. “Eu lembro que na nossa casa chegavam centenas de camponeses. Ficavam sentados no terraço e no quintal. Eles vinham pedir ajuda ao então deputado federal Francisco Julião. Depois da formatura, ele começou a defender os camponeses com uma ideia de levar para o campo as Reformas de Base e as leis trabalhistas. Esse movimento se alastrou, primeiro em Pernambuco, em seguida pelo Nordeste e, depois, tomou conta do Brasil”, relembra Anacleto Julião. Francisco Julião foi deputado estadual e federal. Segundo o filho, não cobrava os serviços advocatícios. Como já recebia o salário da atividade política, considerava que deveria defender gratuitamente

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Banco Central aumenta previsão de crescimento da economia para 1,9%

(Da Agência Brasil) O Banco Central (BC) revisou de 1,7% para 1,9% a previsão de crescimento do Produto Interno Bruno (PIB) em 2024. O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país. A previsão consta no relatório de inflação divulgado pela autoridade monetária nesta quinta-feira (28). Na avaliação do Banco Central, a economia brasileira apresentou no início do primeiro trimestre deste ano “dinamismo ligeiramente maior do que o esperado”. As estimativas do BC, no entanto, indicam que o setor agropecuário deverá ter resultados um pouco menores do que em 2023, após uma grande alta observada no ano passado. Inflação Em junho, a projeção do BC é que a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) chegue a 4,02% em 12 meses. Segundo o relatório, ao longo dos próximos meses a inflação deve diminuir em um ritmo mais lento. No entanto, há previsão é que os preços continuem a subir acima da meta de inflação de 3%. A projeção do BC é inflação de 3,5% em 2024 e 3,2% para 2025 e 2026. “No último um ano e meio, o que a gente vê é que o Brasil está fazendo a inflação convergir [para dentro da meta], ainda que essa última milha seja um pouco mais dolorida”, destacou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. As metas de inflação têm um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,5% e o superior 4,5%. Entre os fatores que mantiveram a inflação de 2023 acima da meta, o relatório aponta o fim das desonerações da gasolina e do etanol. No segundo semestre de 2022, haviam sido reduzidas as alíquotas para combustíveis do Programa de Integração Social (PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). A medida foi revertida em fevereiro do ano passado. Mercado de trabalho O aquecimento do mercado de trabalho e a queda dos índices de desemprego levaram, de acordo com o relatório, a um aumento dos rendimentos reais dos trabalhadores “em ritmo superior ao esperado”. A taxa de desemprego, medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, ficou em 7,8% no trimestre encerrado em fevereiro deste ano. A taxa é superior aos 7,5% registrados no trimestre imediatamente anterior (encerrado em novembro de 2023). Por outro lado, ficou abaixo dos 8,6% do trimestre findo em fevereiro do ano passado. Para Campos Neto ainda há dúvidas se o aquecimento do mercado de trabalho e o aumento da atividade econômica podem ter reflexos na inflação. “Não necessariamente é o fato de ter uma surpresa um pouquinho para cima no crescimento vai afetar a nossa projeção de inflação. A gente precisa ver como é que isso vai ser transmitido para a parte de preços”, disse. O cenário sem mudanças no presente, mas com incertezas em relação aos próximos meses, dificulta, na avaliação do presidente do BC, a previsão é se a taxa básica de juros continuará a ser reduzida no mesmo ritmo nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária. Na semana passada, o comitê cortou a taxa em 0,5 ponto percentual, que ficou em 10,75% ao ano. “Existe mais incerteza, mas que não mudou o cenário fundamental”, afirmou Campos Neto ao apontar que as dificuldades de previsão são tanto em relação a economia brasileira, como também sobre o que se passa no exterior.

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Páscoa com equilíbrio: descubra como manter a saúde e o sabor das comidas nesta Semana Santa

Páscoa chegando e com ela vem sempre aquele momento tensão nas pessoas: o medo de engordar, desequilibrar a dieta, e até mesmo colocar tudo no prato quando o assunto é o almoço de páscoa e ovos de chocolate. A páscoa sempre traz exageros, alimentos mais calóricos, e a depender do caso, é importante ter determinados cuidados.  Quem fala sobre o assunto alimentação na Semana Santa e Páscoa é a nutricionista Thay Miranda. A nutricionista usa em seu consultório a regra 80/20: “Sempre acho importante lembrar que se deve considerar o contexto geral da paciente, antes de qualquer coisa, e dar autonomia e liberdade necessária para aprender a equilibrar o consumo de alimentos mais calóricos com escolhas mais saudáveis no dia a dia. Uma regra que é de lei em meu consultório é a 80/20, onde explico que se em 80% do tempo ele estiver seguindo uma rotina saudável, onde considero alimentação, exercício, consumo de água e sono de qualidade, não serão os 20% que faz em momentos de relaxamento, ou em uma refeição livre que irá atrasar o seu processo, ou lhe causará danos”, explica Thay Miranda. A observação da nutricionista cai bem para a época de alimentos excessivamente calóricos, como as comidas de coco e ovos com diversos recheios. “Aprender a diferenciar o que deve ser regra e exceção na rotina, fazer uma boa estratégia de redução de danos, e claro, voltar para o esquema após ‘Day off’ e tratar para esse paciente o resultado esperado. Por esse motivo, vamos conversar um pouco mais sobre os alimentos que mais vemos na deliciosa mesa de páscoa”, diz. É possível ter uma peixada mais saudável? Preparar uma peixada mais saudável para o almoço tradicional da época é uma ótima ideia para aproveitar a ocasião sem abdicar da saúde, já que as estrelas da mesa, que costumam ser os frutos-do-mar, são excelentes fontes de proteínas. “Uma sugestão é escolher peixes magros, como tilápia, linguado, dourado, badejo, namorado, robalo, e até mesmo o bacalhau, que têm menos gordura, e consequentemente, menos calóricos. O que de fato influencia são as formas de preparo, uma das dicas é fazer a substituição do óleo de dendê, rico em gorduras saturadas, pelo óleo azeite de oliva virgem ou extra virgem, ou mesmo o óleo de coco, que são opções mais saudáveis e conferem um sabor delicioso ao prato”, informa Thay Miranda. Outra dica é aumentar a quantidade de vegetais na receita, como tomate, pimentão, cebola, cenoura e ervas frescas, para adicionar mais fibras, vitaminas e minerais. “Você também pode acrescentar ingredientes como brócolis, couve-flor e espinafre para tornar o prato ainda mais nutritivo. Também considero importante evitar frituras, opte por métodos de cocção mais saudáveis, como assar, grelhar ou cozinhar no vapor. Assim, você reduzirá o teor calórico da peixada, mantendo-a leve e saborosa para o almoço”, acrescenta. Cuidado com as calorias do coco Os pratos com coco tendem a ser mais calóricos devido ao teor de gordura naturalmente presentes no leite de coco, ele é rico em gorduras saturadas, que são calóricas e podem contribuir para um aumento no consumo de calorias. No entanto, também adiciona sabor e cremosidade aos pratos, o que pode ser apreciado com moderação, já que estamos em uma ocasião especial. “Para reduzir o teor calórico de pratos que utilizam este ingrediente, você pode optar por versões com baixo teor de gordura ou até mesmo usar leite de coco light. Além disso, é importante controlar as porções e equilibrar o restante da refeição com ingredientes mais leves, como vegetais e proteínas magras”, Bredo: amado e odiado Uns amam, outros odeiam, esse prato de fato divide opiniões na mesa, mas a verdade é que essa PANC (planta alimentícia não tradicional) traz, sim, excelentes benefícios à nossa saúde. “O bredo possui propriedades capazes de reduzir os radicais livres no organismo, inibindo potenciais inflamações, também é fonte de compostos fenólicos antioxidantes, em especial, o ácido clorogênico, que pode melhorar o metabolismo lipídico e promover uma redução nas gorduras ruins relacionadas ao colesterol”, informa Thay Miranda. Nas mulheres, o chá do bredo pode auxiliar no controle do ciclo menstrual e sintomas da TPM.Sobre os nutrientes presentes, podemos citar o ferro, potássio, cálcio e vitaminas A, B1, B2 e C, que o torna um ótimo aliado na dieta dos veganos, por exemplo. Todas as partes do vegetal podem ser consumidas. Dessalgando o bacalhau Dessalgar o bacalhau corretamente é essencial para garantir sabor e textura ao prato, além de deixar mais saudável. Lembre-se de sempre se planejar, pois é um processo que demora entre 24 e 48 horas. Esse processo começa pela escolha da peça de bacalhau, sendo de boa qualidade, e de preferência com a pele, pois isso facilitará o processo de dessalgue. “Antes de começar o processo de dessalgue, deve-se lavar o bacalhau em água corrente para remover qualquer excesso de sal superficial. Após isso, coloque o bacalhau em uma tigela grande ou em uma bacia e cubra completamente com água fria/gelada. Lembrando que a água quente pode cozinhar o bacalhau, alterando sua textura”, diz Durante o processo de dessalgue, é necessário trocar a água regularmente para remover o sal. “Recomendo trocar a água a cada 4 ou 6 horas. Esse processo pode levar de 24 a 48 horas, dependendo do tamanho e da espessura do bacalhau. Durante esse período, guarde na geladeira para manter a qualidade”, informa a nutricionista Thay Miranda. Para verificar se o bacalhau está dessalgado o suficiente, retire um pequeno pedaço e prove. Se ainda estiver muito salgado, continue o processo de dessalgar, trocando a água conforme necessário. Uma vez que o bacalhau esteja completamente dessalgado, pode ser armazenado na geladeira por até dois dias antes de ser preparado. Ovos de páscoa Existem várias alternativas saudáveis para substituir o chocolate tradicional na Páscoa, porém é importante esclarecer que não necessariamente haverá uma diferença calórica relevante nessas opções fitness, fazendo necessário o consumo com cautela da mesma forma que as versões mais tradicionais. A nutricionista Thay Miranda separou dicas valiosas sobre o

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"A Reforma Tributária pode melhorar o ambiente de negócios e evitar a guerra fiscal"

Ricardo Alexandre, Procurador-geral do Ministério Público de Contas de Pernambuco, explica as transformações que vão acontecer na cobrança dos tributos no Brasil. Ele também aborda as ações do MCP-PE para tornar o direito tributário mais compreensível para a população. O direito tributário é um assunto árido e difícil, ainda mais no Brasil, onde há um complexo sistema de cobrança de impostos. Interessado em tornar o tema mais compreensível para a população, o procurador-geral do MPC-PE (Ministério Público de Contas de Pernambuco), Ricardo Alexandre de Almeida, tem feito programas na TV MCP-PE (o canal do Youtube do ministério), e palestras sobre o assunto. O objetivo, segundo ele, “é a população entender como funciona o direito tributário e até intervir no funcionamento e na elaboração das leis que vão interferir na sua vida, como no caso da Reforma Tributária”. Sua didática já é conhecida por muitos candidatos a concursos públicos que assistiram às suas aulas em cursos que ministrou. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele mostra o seu talento pedagógico ao explicar, de forma simples, as mudanças instituídas pela Reforma Tributária, tema do mais recente livro escrito em conjunto com sua mulher Tatiane Costa Arruda. Ricardo Alexandre de Almeida também falou sobre as ações do MCP-PE, em especial neste ano eleitoral. O livro que o senhor lançou é voltado para o público geral ou específico para advogados tributaristas? Fale um pouco sobre ele. Devido às mudanças da Reforma Tributária, lancei, junto com minha esposa, um livro mais técnico, sobre a reforma propriamente dita. É um livro um pouco mais complexo voltado para quem já é da área do direito tributário e quer entender o que está mudando. Mas também tenho feito algumas lives (https://www.youtube.com/@ TVMPC-PE) e palestras para que a população possa entender como funciona o direito tributário e até intervir no funcionamento e na elaboração de normas e leis que vão interferir na sua vida, como no caso da Reforma Tributária. É necessário que as pessoas saibam, por exemplo, que vários Estados brasileiros aumentaram o imposto sobre consumo. Nos países socialmente mais desenvolvidos, cobra-se menos imposto sobre consumo e muito imposto sobre renda e patrimônio, que são as duas coisas que mostram que a pessoa tem mais recurso. Claro que quem consome mais tem mais condição financeira, mas os mais pobres gastam todo o dinheiro que recebem e, geralmente, não têm condições de fazer uma poupança. Então, quem gasta todo o dinheiro que tem, será muito mais atingido por uma tributação de consumo elevada. Em Pernambuco, por exemplo, cobra-se 20,5% de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços). Assim, um pernambucano, ao comprar uma mercadoria, paga 20,5% num só tributo, além dos outros impostos que existem no País. Por isso, é necessária a informação acessível. Seria muito importante que a população tivesse participado mais da elaboração dessa Reforma Tributária, não deixasse nas mãos dos grupos de pressão que surgem no Congresso. É importante que a população saiba que esses grupos existem e se informe para saber pedir e ter voz e vez. Um exemplo desses grupos de pressão são os prestadores de serviço de profissões regulamentadas, que possuem conselhos como contabilidade, economia, direito, que pressionaram o Congresso Nacional e conseguiram que as alíquotas que venham a pagar sejam 30% menores. Para os prestadores de serviço mais pobres, que não exercem essas profissões, a diminuição não aconteceu porque, geralmente, são categorias com menos acesso à informação. Mas ainda há possibilidades de mudar a regulamentação da Reforma Tributária, porque a emenda à Constituição não cria os impostos, ela autoriza que sejam criados e, nessa criação, há grupos de trabalho que ainda estão discutindo. O que o senhor achou da unificação dos tributos de consumo instituída pela Reforma Tributária? Achei boa porque simplifica o sistema. Agora vamos ter uma legislação única e não uma para cada Estado, o que pode facilitar, principalmente, as vendas entre os Estados. Por outro lado, essa unificação poderia ser melhor se seguisse o modelo de alguns países europeus, criando um só um IVA (Imposto de Valor Agregado), que é um valor adicionado cobrado pela União Federal com a fiscalização de Estados e municípios. Mas os municípios e Estados brasileiros não queriam ficar sem um imposto “para chamar de seu”, então foi criado o IVA dual, com a CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) que é federal e o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), que é municipal e estadual. Então agora será uma legislação única e, apesar de terem sido criados dois tributos, as regras aplicadas vão ser iguais, o contribuinte só vai precisar apurar a base de cálculo que vai valer tanto para a esfera estadual, quanto para a federal. Acho que isso pode melhorar o ambiente de negócios no País, evitando guerra fiscal entre os estados. A Reforma Tributária também modificou outros tributos que não são associados ao consumo, como o IPVA. Quais foram essas modificações e o que o senhor achou delas? São muito boas. Aeronaves e embarcações vão passar a pagar IPVA. É um absurdo quem tem uma moto simples pagar o imposto e quem tem condições de comprar uma moto aquática, um iate, um helicóptero ou um avião, não pagar. Isso é uma questão de justiça, aumenta a arrecadação cobrando normalmente de quem tem maior potencial de pagamento. Outro ponto positivo é o imposto de transmissão sobre herança e doação, que passa a ser obrigatoriamente progressivo. Isso é importante porque não se pode tratar quem recebe uma herança de milhões de reais da mesma forma de quem recebe uma de milhares de reais. É preciso cobrar de acordo com a capacidade que cada sujeito tem, espremer mais as laranjas que dão mais suco, é essa a ideia. Algumas mudanças são positivas, outras tendem a ser, dependendo de como será a regulamentação. Por exemplo, foi criado um mecanismo, chamado cashback que fará com que o Poder Público devolva parte do imposto pago por famílias de baixa renda. Será registrado no CPF da pessoa o valor que ela está pagando em impostos

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Chegou a hora da utopia do Capibaribe limpo

*Por Francisco Cunha No dia do aniversário do Recife tive a gratíssima satisfação de participar da inauguração da quarta e última etapa do Parque das Graças que faz parte, junto com o Jardim do Baobá, do chamado “trecho do encantamento” do Parque Capibaribe, de longe o mais importante plano urbanístico da história do Recife. O Parque das Graças é um exemplo mais do que perfeito do que podem vir a ser as margens (que o cronista inglês Tollenare chegou a chamar no Século XIX de “risonhas”) do Rio Capibaribe no Recife, desde sua entrada na Várzea, até sua chegada ao Oceano Atlântico no centro da cidade. Percorrendo uma distância de cerca de 15 km (30 km se contarmos as duas margens) e conectando todas as demais áreas verdes, parques e praças ao longo do seu trajeto (como é o caso, por exemplo, dos parques do Caiara, de Santana, da Jaqueira e do Derby, no trecho do Bairro do Cordeiro até o centro). Nas Graças se pode ver com clareza, nas ruas transversais à via-parque implantada na margem do rio, sobretudo na Rua das Pernambucanas, o emprego do conceito de “ruas de infiltração” que carrega as mesmas características do espaço público de qualidade, da borda para dentro do bairro. Inclusive, essa característica de qualidade da borda, junto com sua “infiltração” bairro a dentro e sua conexão com as outras áreas verdes do entorno, é tão poderosa que chegou a fomentar a hipótese da transformação do Recife numa cidade-parque até o seu aniversário de 500 anos como capital mais antiga do País, em 2037. Essa hipótese em especial está sendo objeto de uma pesquisa específica feita em parceria pela UFPE e pela Prefeitura do Recife. Acontece, todavia, que no caminho da concretização da hipótese- sonho da cidade-parque coloca-se a exigência crucial de limpeza do Rio Capibaribe que, ao contrário do que se chegou a pensar em determinado momento, antes da realização da pesquisa que produziu o Parque Capibaribe, não está “morto” mas, sim, doente se sujeira. Sujeira proveniente de esgoto e de muito lixo jogado pela população. No que diz respeito ao esgoto, canalizado em profusão para os cursos d’água da cidade e que termina nos seus principais rios, em especial no Capibaribe, cabe-nos cobrar das autoridades estaduais, sobretudo no que diz respeito ao cumprimento das metas da PPP do saneamento que precisa mostrar claramente a que veio, com metas e indicadores tangíveis, transparentes e acompanháveis pela sociedade que, inclusive, sejam capazes de desfazer a impressão de que nada está sendo feito no sentido de reduzir, de forma gradual mas efetiva, a poluição orgânica dos cursos d’água da Região Metropolitana do Recife. Já em relação a lixo jogado pela população nos cursos d’água da cidade e que vai parar no Capibaribe, necessário se faz a instalação de uma campanha permanente de educação ambiental, em todos os níveis. E tudo leva a crer que o momento para começar é justamente agora porque o Parque das Graças está ajudando a trazer as pessoas para perto do rio e, por conseguinte, tornando visível para muito mais gente a imundice imperante. Antes, menos pessoas viam o rio de perto e, então, valia aquela velha história de “o que o olho não vê o coração não sente”. Muita gente tem me comentado que não sabia que o Capibaribe estava tão sujo… “Até geladeira vi passar boiando”. Sim, geladeira, sofá, colchão, além de uma quantidade absurda de plástico…

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57% das famílias chefiadas por mulheres negras no Nordeste enfrentam insegurança alimentar

No Dia Internacional para Eliminação da Discriminação Racial (21), o projeto Caminhos da Alimentação alerta que falta de acesso a renda, rede de apoio e oportunidade no mercado de trabalho expõem famílias chefiadas por mulheres negras à fome. Fotos: João Velozo De acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiares, 57% das famílias chefiadas por mulheres negras na região Nordeste sofrem com a insegurança alimentar, enquanto a média nacional para o mesmo grupo populacional é de 51%. Os números que refletem os diferentes níveis da fome no País com perspectiva de gênero e raça são o ponto de partida do projeto Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras, realizado pela Gênero e Número, em parceria com a FIAN Brasil e com o apoio do Instituto Ibirapitanga. No Brasil, a renda média per capita das famílias chefiadas por mulheres negras equivale a menos da metade da renda das famílias chefiadas por homens brancos. Já no Nordeste, a única situação em que o homem branco chefe de família tem renda inferior à mulher negra chefe de família é na condição de insegurança alimentar grave, uma vez que ele recebe R$ 36 a menos que ela. Além da renda, fatores como a sobrecarga de trabalho e falta de acesso a creches também influenciam na fome que ronda os lares liderados por mulheres negras. EM VULNERABILIDADE Conceição Mendes, 42 anos, é uma das quatro mulheres negras chefes de família acompanhadas pelo projeto Caminhos da Alimentação. Sua única renda são R$ 700 do Bolsa Família - que até pouco tempo eram R$600. Desse valor, ela usa R$ 150 para pagar a parcela do barraco onde mora e mais R$ 135 para comprar fraldas e remédios para dois de seus três filhos, de quem cuida sozinha. O que sobra é destinado à compra de alimentos - em sua maioria ultraprocessados - na barraquinha próxima a sua casa. Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto “Ainda que famílias chefiadas por mulheres negras do Nordeste sejam as principais impactadas pela insegurança alimentar, a região tem uma cultura alimentar rica em alimentos in natura ou minimamente processados, que compõem a maior parte da cesta (55%), enquanto alimentos ultraprocessados a menor (14%). Nosso objetivo é compreender como essa variedade contrasta com um imaginário social fora do Nordeste, que associa a região à fome e à pobreza”. Caminhos da Alimentação: o que chega à mesa das mulheres negras Lançado em março de 2024, Caminhos da Alimentação é um projeto multimídia que acompanhou a rotina de quatro mulheres negras chefes de família de Pernambuco para retratar as complexidades que influenciam o que chega à mesa delas, que representam o maior grupo demográfico do Brasil. O cotidiano alimentar e de vida delas foi transformado em dados, que revelam que a segurança e a insegurança alimentar entre as mulheres negras envolve diversos fatores sociais, como sobreposição de jornadas de trabalho, renda, acesso a transporte e saúde. “A partir do levantamento e da análise de grandes e pequenas bases de dados, entrevistas com especialistas e das histórias de Gercina, Claudecir, Conceição e Lindalva, queremos posicionar as mulheres negras nordestinas no centro do debate pelo acesso à comida de verdade. Buscamos humanizar esses dados e reforçar a importância que a perspectiva de gênero, raça e território não deve ser um recorte, mas a base das políticas públicas de combate à fome no nosso país”, destaca Vitória Régia da Silva, diretora de conteúdo da Gênero e Número e uma das coordenadoras do projeto.

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