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Qual a saída para o Metrô do Recife?

*Por Cláudia Santos O Metrô do Recife perdeu 50% dos seus passageiros nos últimos três anos. A queda abrupta aconteceu no ano da pandemia, mas não foi mais normalizada. No entanto, desde 2016, o sistema metroviário vinha observando ano a ano a fuga dos usuários. A redução da qualidade do serviço, fruto de recursos para custeio e investimentos muito aquém dos requisitados pela companhia, e o aumento abrupto do preço das passagens no governo Bolsonaro (de R$ 1,60, em 2019, para R$ 4,25, em 2021) são dois fatores que contribuíram para o cenário atual. Os caminhos para reverter essa rota de colisão estiveram em debate numa audiência pública nesta semana no Senado Federal. No ano de 2015, quando Dilma Rousseff ainda era presidente, o Metrô do Recife transportava por mês 9,3 milhões de passageiros. Desde então, a quantidade de usuários vem em queda. Em 2022, esse número foi de 4,3 milhões, com uma leve recuperação do pior desempenho que foi em 2021, com média de 4 milhões de usuários por mês. A quantidade de falhas que afetam o metrô atualmente e que afugentam passageiros contrasta com o passado desse sistema. “Nosso metrô já foi considerado o melhor na América Latina e no mundo em limpeza e atendimento, nos anos 1990. Mesmo nos anos 2000, vivemos uma expansão durante o primeiro governo Lula até Camaragibe e com a abertura da Linha Sul, além do ramal do VLT até o Cabo. Com o advento da Copa do Mundo de 2014, recebemos novos metrôs, VLTs e máquinas especiais”, destacou o presidente do Sindmetro-PE, Luis Soares, relembrando os últimos ciclos de investimento do sistema. Os últimos investimentos mais robustos na empresa aconteceram poucos anos antes da queda do número de passageiros, com a chegada de 15 trens elétricos novos (2013) e 9 veículos leves sobre trilhos (2012). De acordo com o Metrô do Recife, cada novo trem elétrico, por exemplo, custou R$ 58 milhões e cada VLT foi adquirido por R$ 35 milhões. Em contraste com o aumento da frota daquele ciclo de investimentos, no ano passado parte das composições foi leiloada e adquirida pela empresa Açonorte. Por obsolescência dos trens e frente à necessidade de altos custos de reforma, parte dos trens virou sucata. Aproximando-se dos seus 40 anos de operações, o sistema demanda outros investimentos, além de novas composições, como nos trilhos e na rede aérea elétrica. Muitas estações também carecem de melhorias e de novos telhados. Apesar desse cenário, que demandava mais recursos, entre 2016 e 2020, os investimentos no Metrô caíram paulatinamente de R$ 26,5 milhões para R$ 500 mil em 2020. Em 2021 e 2022, os aportes voltaram a crescer, respectivamente para R$ 3,3 milhões e R$ 18,3 milhões. Nas verbas de custeio, referente a gastos com despesas correntes, os valores executados na maioria dos anos foram muito inferiores aos solicitados pela empresa. Em 2019, por exemplo, o Metrô do Recife solicitou R$ 282,7 milhões, tendo sido executados apenas R$ 94,6 milhões. Em outras palavras, o sistema funcionou um ano com apenas 33,4% da receita demandada. O único ano em que a receita solicitada foi menor que a executada foi no ano passado, em meio a um cenário muito degradado da operação. “Na área operacional, da antiga frota de 40 trens, hoje temos 16. Os intervalos que chegavam a um pico em torno de 5 minutos, estamos indo para 10 minutos e com risco porque os equipamentos estão quebrando. Com os sistemas desatualizados, com as estações degradadas, com a manutenção com muita dificuldade de peças, a verdade nua e crua é que o metrô vem funcionando graças ao empenho e à diligência dos funcionários. Esse pessoal tem se virado no mês para tirar uma peça de um trem e colocar no outro, para varar a madrugada. Antigamente havia manutenção preventiva, hoje praticamente é corretiva porque já não se dispõem das condições para isso”, expôs o senador Fernando Dueire na audiência pública realizada pela CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado Federal. DEBATE DO FINANCIAMENTO DO TRANSPORTE Para Rafael Calábria, coordenador de Mobilidade Urbana do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), o financiamento do sistema de transporte é uma questão-chave para garantir a qualidade na oferta de serviços à população. “Uma questão central para todo sistema de transporte é que os governos precisam entender que é um serviço público e precisa de investimento público. O Governo Federal tem acompanhado a crise do setor. Os órgãos de gestão precisam entender que não podem depender da tarifa, esse subsídio é necessário. Basear-se na tarifa é um estímulo à lotação”. É esse cenário crônico de custeio e investimentos, aquém do padrão de qualidade esperado pelos passageiros e agravado nos últimos anos, que provocou o sucateamento do sistema, na análise de Luis Soares. “O sistema começou a ter uma degradação forte. Não avançamos em recursos para manutenção, recebendo sempre valores entre 30% e 50% abaixo dos solicitados, que não cobriam as necessidades do sistema. Nos últimos quatro anos, com a redução da segurança contratada, aumentaram os roubos de cabos e a insegurança nas estações. Chegamos a essa terra arrasada que é o sistema sucateado que temos hoje”, lamentou. De acordo com o Metrô do Recife, o valor estimado para recuperação do sistema é de R$ 1,2 bilhão. Até o ano passado, o então secretário-executivo de Parcerias e Estratégias da Secretaria de Planejamento do Governo do Estado, Marcelo Bruto, falava em um aporte de R$ 2,4 bilhões para investimentos, mais R$ 1,4 bilhão guardados para garantir o equilíbrio financeiro do sistema. O projeto em discussão pela então secretaria, no entanto, era bem mais amplo, com R$ 8,4 bilhões, diluídos em 30 anos. Durante a audiência no Senado, o senador Fernando Dueire destacou que o cálculo sobre o montante de recursos necessários ainda não está bem definido. “São recursos que precisam estar postos e disponíveis dentro de um ou dois anos. A CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos) tem competência para esses investimentos. Poderíamos começar os investimentos e depois entrar no tema do modelo (se

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Brasil teve 1,3 milhão de empresas abertas no 1º quadrimestre de 2023

(Do Ministério do Desenvlvimento, Indústria, Comércio e Serviços) Mapa de Empresa do MDIC mostra ainda que tempo para abertura caiu 10 horas em relação a igual período de 2022, mas cresceu seis sobre o quadrimestre  De janeiro a abril deste ano foram abertas 1.331.940 empresas no Brasil, totalizando mais de 21 milhões de CNPJs ativos em todo o território nacional. Destes, 93,7% são de microempresas ou empresas de pequeno porte. Em média, o tempo gasto para abertura de empresas, no primeiro quadrimestre, foi de 1 dia e seis horas. Em Pernambuco, o saldo de novas empresas no período foi de 14.924 novas empresas.  Os dados constam do Mapa de Empresas, elaborado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) em parceria com o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). O Mapa traz o perfil das empresas por porte, setor e ramo de atividade, e os recortes por estados e municípios. O Boletim do Mapa de Empresas, com o compilado e análise dos dados dos primeiros quatro meses deste ano, foi divulgado nesta segunda-feira (29).  Em números absolutos, São Paulo foi o estado com mais empresas abertas no quadrimestre, seguido de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Bahia e Goiás. Juntos, estes estados concentram 75% das empresas brasileiras.  Em termos de crescimento percentual, porém, os estados que mais avançaram sobre o quadrimestre anterior, último de 2022, foram Tocantins (34,8%), Mato Grosso (32,9%), Rondônia (29,9%), Paraná (28,2%) e Roraima (27,1%).  Os dados são compilados e estruturados pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), subordinado à Secretaria da Microempresa e Empresa de Pequeno Porte e do Empreendedorismo (Sempe) do MDIC.  Para a Diretora do DREI, Amanda Souto, a consolidação do tempo médio por volta de 1 dia mostra a assertividade das medidas de simplificação para abertura de novas empresas implementadas pelo governo federal e pelos estados.  “Com o avanço da padronização de procedimentos e fluxo nas 27 unidades federativas, esse indicador tende a cair ainda mais, além de refletir o avanço da digitalização e automatização dos procedimentos necessários para formalizar novos negócios”, completa.  Abertura e fechamento Em contraponto à abertura de 1,3 milhão de empresas, foram encerrados no primeiro quadrimestre deste ano 736.977 CNPJs, saldo positivo de 594.963. O total de aberturas foi 21,8% maior do que no quadrimestre anterior e 1,6% menor em relação ao mesmo período de 2022. Já os fechamentos representaram aumento de 34,3% e 34,7%, respectivamente, nas mesmas bases.  Os estados com mais empresas abertas (SP, MG, RJ, PR, RS, SC, BA e GO) foram os que também tiveram mais empresas fechadas no período, em números absolutos – mais uma vez, 75% do total.  Em termos percentuais, relativamente ao quadrimestre anterior, o aumento de empresas fechadas foi maior no Acre (53,8%), em Roraima (49,0%), na Paraíba (45,8%), no Amazonas (44,3%) e no Mato Grosso (43,2%).  Tempo de abertura O tempo médio gasto para abertura de empresas no primeiro quadrimestre – 1 dia e seis horas – representa aumento de seis horas em relação ao quadrimestre anterior, mas redução de 10 horas sobre igual período do ano passado. Esse tempo, de maneira geral, depende da capacidade de atendimento das Juntas Comerciais nos estados, incluindo sistemas de informática e números de funcionários, entre outros fatores. Sergipe foi o estado mais rápido para registrar novas empresas ao final do primeiro quadrimestre de 2023: apenas 7 horas, em média. Já o maior tempo de abertura foi registrado em São Paulo: 2 dias e duas horas. Em relação às capitais, Curitiba (PR) e Aracaju (SE) registraram menor tempo de abertura, com média de apenas duas horas. Já Belém do Pará foi a que demandou mais tempo (2 dias e 22 horas), seguido pela cidade de São Paulo (1 dia e seis horas). Setores, porte e perfil Em linha com o cenário predominante da economia brasileira nas últimas décadas, 83,8% das empresas abertas no primeiro quadrimestre vêm dos setores de comércio e serviços – sendo que este último responde por 59,5%.  Os campeões de CNPJ abertos são para as atividades de promoção de vendas; comércio varejista de artigos de vestuário e acessórios; preparação de documentos e serviços de apoio administrativo; cabeleireiros, manicure e pedicure; e obras de alvenaria.  A liderança de tais atividades se relaciona ao fato de 80,4% dos registros serem de MEIs. No primeiro quadrimestre, foram abertas 1.070.506 empresas nesse espectro, aumento de 25,4% em relação ao quadrimestre anterior e queda de 3,1% sobre igual período de 2022.

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Confiança do empresário do comércio de Pernambuco cai pelo 6º mês

O Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) de Pernambuco apresentou o menor valor no mês de maio, desde agosto do ano passado, com o índice de 108,2 pontos. O recorte local realizado pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE) apontou que pela primeira vez em 8 meses, o indicador estadual se situou abaixo do nacional, que marcou 108,8 pontos. Uma redução de 4,5% ante o mês anterior e queda de 2,9% quando comparado ao mesmo período do ano passado. Ao comparar o acumulado em 12 meses entre Pernambuco e Brasil há uma leve vantagem de 1,9% do Estado.  Para o mês de maio, o ICEC destaca que os empresários dos grupos de semiduráveis (roupas e calçados) e duráveis (geladeira, máquina de lavar, fogão, etc) estão pessimistas em relação às condições atuais da economia brasileira. Além disso, 64% dos comerciantes de bens duráveis (geladeiras, fogões, máquinas de lavar e televisões) afirmam que as condições atuais do setor pioraram um pouco ou pioraram muito. Esse pessimismo pode ser um reflexo da influência tanto da inflação dos eletrodomésticos como da taxa básica de juros do Banco Central no consumo. Os bens duráveis, cujos preços são mais elevados, pesam mais no orçamento das famílias, requerendo, por isso, o acesso a modalidades de parcelamento das compras (sobretudo crediários e cartão de crédito).  Ocorre que, atualmente, a taxa básica de juros da economia, a Selic, está cotada em 13,75% pelo Banco Central, balizando taxas de juros aos consumidores mais elevadas. O contexto se torna ainda menos favorável pelo fato da inflação dos eletrodomésticos (7,1%), medida pelo acumulado dos últimos doze meses através do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), haver superado a média estadual (3,5%) e nacional (4,1%) do IPCA no mesmo período. Não por acaso cerca de cinco em cada dez comerciantes de bens duráveis afirmaram ter expectativa de investimentos menores nos próximos meses.  “Os dados do Boletim Focus desta semana revelaram um suspiro quando tratamos de inflação, com uma queda para o patamar de 5,8% ao final de 2023 e um avanço de 1,2% no PIB, quando comparado ao ano anterior. Logo, é provável que esse cenário de pessimismo se reverta, acaso, nos próximos meses, ocorra um recuo sustentado da inflação e a taxa de juros comece a ceder”, afirma o economista da Fecomércio-PE, Rafael Lima. 

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Frei Caneca, o mártir esquecido

Certa vez em visita ao Recife, o então governador de Santa Catarina, Esperidião Amin, desejou conhecer os Montes Guararapes, onde visitou a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, e o monumento em honra ao mártir pernambucano Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. O levaram ao Largo das Cinco Pontas, onde se encontra um pequenino busto e o resto de parede com uma lápide em mármore, assinalando o local do seu suplício em 13 de janeiro de 1825. Extasiado, indagou o visitante se era tudo que existia no Recife em memória de tão ilustre liberal, e ao obter a confirmação exclamou irritado: "É muito pouco para um Grande Brasileiro!" Os tempos passaram e nada foi feito para avivar a memória do mártir maior da Confederação do Equador (1824), restringindo-se tudo ao pequenino busto (hoje desaparecido), junto a um resto de muro no qual se encontra afixada uma placa em mármore, com inscrição em letras pretas maiúsculas, ali colocada pelo Instituto Arqueológico e Geográfico Pernambucano na data de 2 de julho de 1917: Neste largo foi espingardeado junto à forca, a 13 de janeiro de 1825, por não haver réu que se prestasse a garroteá-lo, o Patriota Frei Joaquim do Amor Divino Caneca. Republicano de 1817, e a figura mais notável da Confederação do Equador em 1824. Nascido em Fora de Portas, de uma família pobre do Recife, em agosto de 1779, Joaquim do Amor Divino Rabelo entrou para o convento carmelita de sua cidade em 1796. Ordenando-se em 1801, substituiu o seu nome de família pelo apelido dado a seu pai, que tinha a profissão de tanoeiro. Logo se notabilizou pelos seus conhecimentos de retórica e geometria, direito, filosofia racional e moral, com incursões nos estudos da mecânica e cálculo matemático. Foi membro da Academia do Paraíso, e teve participação inflamada no movimento que instalou a República em Pernambuco, em 6 de março de 1817, tendo sido levado preso aos cárceres da Bahia, onde penou por quatro anos, sendo dele esses versos: Não posso cantar meus males Nem a mim mesmo em segredo; É tão cruel o meu fado, Que até de mim tenho medo. Decretada a anistia pelas Cortes Portuguesas, em 1821, voltou frei Caneca ao Recife e, após o episódio da dissolução da Constituinte pelo imperador Pedro I, resolveu fundar o jornal Typhis Pernambucano, principal divulgador das ideias liberais que viriam a ser defendidas pela Confederação do Equador (1824). O jornal circulou entre 25 de dezembro de 1823 e 12 de agosto do ano seguinte, tendo sido impressas 29 edições, transformando-se no ideário dos liberais de então, partidários de Manoel de Carvalho Paes de Andrade. Com a província de Pernambuco invadida pelas tropas imperiais, é proclamada, em 2 de julho de 1824, a Confederação do Equador, movimento separatista de caráter republicano que mais uma vez põe em armas os liberais pernambucanos. Derrotados no Recife, os revoltosos iniciam penosa marcha em direção ao Ceará, episódio narrado com cores fortes pelo próprio Frei Caneca no seu Itinerário. Presos e agrilhoados retornaram ao Recife, onde o frade vem a ser condenado à forca em sentença expedida em 10 de janeiro de 1825. Debalde o Cabido Metropolitano (colegiado de cônegos responsável pela administração da Diocese) comparece em procissão ao Palácio do Governo pedindo a suspensão da pena. Em represália os cônegos negaram-se a desautorar suas ordens tornando nulo, perante o direito canônico, todos os atos que se seguiram. A execução foi marcada para a manhã de 13 de janeiro de 1825. Na prisão mais uma vez escreve versos, despedindo- se dos amigos e das suas filhas, por ele chamadas de “afilhadas das minhas entranhas”, dormira sereno a sua última noite e, na manhã seguinte, marchou com altivez em direção ao patíbulo. Diante de tal cena o inesperado aconteceu: carrascos convocados para execução da pena capital negaram-se executá-la, pouco se importando com as promessas e com os suplícios que lhes foram impostos pela tropa. Diante do impasse foi à pena transformada em execução por espingardeamento, o que aconteceu no Largo das Cinco Pontas, “por não haver réu que se prestasse a garroteá-lo”. Quem passa a vida que eu passo, Não deve a morte temer; Com a morte não se assusta Quem está sempre a morrer. Os seus restos mortais vieram a ser sepultados no Convento do Carmo, em local não determinado, o seu nome, porém, é hoje reverenciado pela grande maioria das capitais do Brasil, onde sempre existe uma Rua Frei Caneca, muito embora continue esquecido na terra que lhe serviu de berço. E observem que foi criada uma Comissão de Notáveis destinada a elaboração das Comemorações dos 200 anos da Revolução Republicana de 1817, instituída com “pompa e circunstância” pelo governador Paulo Câmara! O que fez esta Comissão de Notáveis no transcurso da morte de Frei Caneca, um dos mártires de 1817 e a principal cabeça pensante da Confederação do Equador?

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Lirinha: "Construir emoções e histórias por meio dos sons"

O artista fala do seu mais recente disco solo, uma criação experimental, dentro de uma estética onírica, que teve influência do slam, a competição de poesia falada da cultura hip hop. Também comenta como o trabalho com o Cordel do Fogo Encantado contribui para popularizar a poesia. (Foto: Thaís Taverna) A partir de um desejo de experimentação, de imaginar e inventar coisas novas, José Paes de Lira, o Lirinha, produziu MÊIKE RÁS FÂN, um disco em que esse experimentalismo é elaborado de forma intimista, numa atmosfera onírica que também nos remete ao cosmos. Não por acaso ele menciona Glauber Rocha, nesta entrevista concedida a Cláudia Santos por videoconferência, em São Paulo, onde reside. O cineasta baiano recorreu a uma “estética do sonho” para encontrar saídas para o surrealismo da realidade brasileira. Lirinha fez o mesmo para abrir as possibilidades da criação. Nessa empreitada, o músico, escritor, cantor e compositor de Arcoverde se encantou pela voz e pelos sons. Um encantamento que o levou à ideia de conceber o novo trabalho a partir de uma fictícia rádio cósmica que recebe o já reportado nome de MÊIKE RÁS FÂN. Talvez nem tão fictícia assim já que, no segundo semestre, Lirinha planeja lançar um podcast. Nesta entrevista, ele fala das concepções desse novo disco, da experiência de usar uma ferramenta de inteligência artificial numa das faixas e de como seu trabalho com o Cordel do Fogo Encantado tem descartado a concepção de que brasileiro não gosta de literatura. Isto porque em seus shows uma multidão costuma declamar com ele poemas de Zé da Luz ou João Cabral de Melo Neto. Quando a gente ouve seu novo disco, a impressão que temos é de uma atmosfera cósmica, um tanto onírica. De onde vem essa inspiração? Esse disco nasce de um desejo de experimentação com essa atmosfera da invenção, desde o próprio título do disco que são palavras que não existem: MÊIKE RÁS FÂN, um nome inventado para uma também fictícia rádio cósmica, interplanetária. A ideia da rádio é para construir emoções e histórias por meio dos sons, do áudio. E esse é um poder que a rádio tem. Então o disco segue dessa forma, quase todas as canções indicam essa ligação com a imaginação, com o sonho, talvez com a influência da estética do sonho que é algo que eu conheci por meio de Glauber Rocha. Mas o próprio Glauber Rocha já cita outras influências para esse conceito da estética dos sonhos. Há uma música do disco que diz que “tem palavras pra inventar” que é a música Oyê e é isso que conduz, vamos assim dizer, a narrativa do disco: o sonho, a imaginação, o entendimento dessa metáfora do universo como uma realidade aberta que ainda está sendo criada, desenvolvida. Outra coisa que chama atenção no disco é que assim como outros trabalhos que você fez, você declama muita poesia. Só que antes você recitava e depois cantava. Desta vez a fala permeia a música, você quase não canta. O material de divulgação do disco, afirma que você está investigando o som, a voz. Isso está relacionado com esse processo? Tem a ver com esse processo, tem a ver com isso da primeira pergunta que eu te disse sobre a rádio. A ideia da rádio é exatamente essa experimentação que eu trago de um determinado estudo desses últimos anos da rádio arte, que é muito ligado à voz, ao grão da voz, ao corpo da voz. Também tive inspiração nos movimentos de declamação, de récita, aqui na periferia de São Paulo, através do slam, do gênero que hoje está muito forte dentro do universo do hip hop. As experiências do rap com as vozes é algo que também me interessa porque eu comecei como declamador, a minha primeira função artística, meu primeiro envolvimento com a música foi com a poesia falada dita em voz alta. Como dizia João Cabral de Melo Neto: “poesia para a voz alta”, dita, declamada. Comecei a desenvolver o meu trabalho com música, mas a canção era uma coisa, a poesia era outra, entendia como movimentos separados. Esse disco é o momento que eu tento fazer com que essas duas coisas se fundam e que a minha interpretação passe a ser entre essas duas expressões: música e poesia. Considero que é o meu trabalho em que eu mais consegui unir esses dois elementos. São construções harmônicas, em alguns casos complexos, com muitos instrumentistas, mas a interpretação é mais ligada à fala. A gente pode definir como um canto falado — que é um exercício de outros artistas também — e que eu acho que, de alguma forma, com esse disco, contribuo com essa discografia do canto falado. Você usou um recurso de inteligência artificial numa das faixas. Como foi essa experiência? Foi na música Antes de Você Dormir. Ela fala desse momento que precede o sono, o mergulho no adormecer. Eu já tinha pensado algumas coisas sobre isso, que nesse momento nós experimentamos algumas coisas sobre-humanas, vamos dizer assim, temos a capacidade de teletransporte, temos o poder de modificar nossa massa física, tudo através do sonho. Essa ferramenta é bem comum hoje, é um programa que transforma texto em fala, a gente escreve um texto e uma voz traduz esse texto, fala. Mas o que há de interessante para mim é que esse corpo não existe, essa voz ganha uma materialidade, mas ela é feita por inteligência artificial. Porém, ela ganha expressividade também, faz uma entonação de declamação. Eu deixei a voz um pouco confusa propositalmente, pois meu interesse não era que entendessem, mas era a sua textura mesmo. É uma voz em inglês falando sobre um momento de lançamento de um foguete, que está prestes a alçar voo. Achei muito curioso que existia essa ferramenta e trouxe para o disco mais uma textura de voz. Existem várias texturas no disco, várias participações e de várias formas. Tem uma música chamada Bebe, que Nash Laila, que é uma atriz, gravou num rádio intercomunicador mesmo, não é um plugin

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A saga da volta de Suape à ferrovia Transnordestina

*Por Rafael Dantas O trem da história que parecia levar a Transnordestina para distante de Suape começa a sinalizar uma mudança de destino. Atualmente, apenas o trecho de Eliseu Martins (no Piauí) até Pecém (no Ceará) ainda está assegurado no empreendimento. No entanto, o ministro dos Transportes Renan Filho fez durante sua passagem no Recife as declarações mais contundentes sobre a decisão política de manter a linha Salgueiro-Suape no projeto. Do pronunciamento para a assinatura dos contratos e a realização das obras há ainda um percurso sinuoso a ser atravessado, mas agora com uma expectativa mais positiva para Pernambuco de enxergar o final desse túnel de incertezas do modal ferroviário. As declarações de Renan Filho causaram otimismo entre os pernambucanos, com grandes manchetes. Porém, a mesma decisão já havia sido informada em uma visita aos senadores pernambucanos há um mês. A ênfase do posicionamento do Governo Federal e os caminhos indicados pelo ministro indicam que alguns passos foram dados nessas semanas. No dia 12 de abril, o ministério havia informado à Algomais que pretendia fazer um estudo de alternativas de ações para a retomada do trecho pernambucano. Inicialmente, isso seria feito pelo próprio ministério e suas vinculadas, como a Infra SA. Os caminhos apresentados por Renan Filho sinalizam as alternativas. “O presidente Lula, diferentemente da decisão anterior, não vai permitir que Pernambuco fique de fora. Vamos buscar outras alternativas para atrair outros investidores privados, ou mesmo se não tiver essa alternativa, o Governo vai tocar o trecho de Pernambuco com recursos públicos federais, para que a gente tenha a condição de integrar o Nordeste como todo”, informou o ministro em entrevista para uma TV local. “(O trecho) de Salgueiro até o Porto de Suape pode ser feito por recursos privados, se houver interessados, tem até uma autorização que pode ser viabilizada, ou ser feito concomitantemente com recursos públicos. Não vai esperar o outro trecho ficar pronto. O governo pode iniciar, inclusive já. Precisa ser feita uma tratativa, porque o projeto é da concessionária. A gente precisaria discutir todas essas questões, mas isso já está em discussão”. São três caminhos mapeados. Um novo investidor privado para o trecho pernambucano da concessão à Transnordestina, a execução pelo próprio poder público da linha Salgueiro-Suape ou a viabilização de uma autorização ferroviária do porto pernambucano até o entroncamento de Salgueiro. A Bemisa conquistou no ano passado uma autorização para construir a ferrovia de Suape até Curral Novo (Piauí). As indicações da discussão em andamento, no entanto, indica uma autorização apenas até Salgueiro, evitando assim duas ferrovias seguindo em paralelo desse município até o Piauí. A volta da concessão à TLSA, como era antes do aditivo assinado em dezembro que retirou o trecho pernambucano, não está descartada, mas é uma alternativa que foi muito criticada durante a primeira audiência pública realizada na Alepe sobre o empreendimento. Resolvido esse passo inicial, de decisão sob qual modelo será construído a linha pernambucana, o seguinte é a viabilização do financiamento das obras em Pernambuco. Mesmo no Ceará, que tem a TLSA como concessionária, os recursos totais para conclusão das obras ainda estão em discussão. Para o trecho cearense, a CSN, grupo que controla a TLSA, estimou necessidade de R$ 7,9 bilhões para finalizar a obra. Em Pernambuco, a conclusão dos 206 quilômetros demanda um investimento previsto de R$ 5 bilhões, segundo declarações do ministro Renan Filho. Nesta semana, o presidente do BNB (Banco do Nordeste do Brasil), Paulo Câmara, informou que a instituição pode ser um dos caminhos para viabilizar o financiamento das obras. “A gente sabe da importância da Transnordestina para Pernambuco, Ceará e Piauí e queremos participar do empreendimento nestes três Estados porque sabemos da importância dele para o desenvolvimento da região”, afirmou o presidente em um encontro promovido pelo Ciepe (Centro das Indústrias de Pernambuco). Ele indicou que no momento em que o investidor privado, a exemplo da Bemisa, iniciar a construção, o BNB vai ajudar. O montante necessário para cobrir os dois ramais, no entanto, exige mais fontes de financiamento. A CSN fala em buscar financiamento de R$ 3,5 bilhões do FNDE (Fundo de Desenvolvimento do Nordeste), mais R$ 800 milhões do BNB, que já estariam aprovados, mas não liberados. A própria CSN entraria com R$ 3 bilhões e o restante seria buscado junto ao BNDES. Mesmo entre os cearenses há dúvidas sobre a engenharia financeira para concluir a Transnordestina, como explicou o deputado José Airton Félix Cirilo (PT-CE), durante reunião da Comissão de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional, realizada neste mês. “Infelizmente esse processo vem sofrendo muita descontinuidade, algumas por falta de recursos. Outras, ao meu ver, em função da própria empresa, porque ela não iniciou as obras do começo, que era em Eliseu Martins. Começou do meio, para não chegar no início nem no final. Uma coisa meio complicada. Não sei qual foi a estratégia da empresa. Essa obra vem perpassando quatro governos e não conseguiu sua conclusão, nem na parte do Piauí, nem na parte do Ceará, muito menos em Pernambuco.” Apesar do anúncio do Governo Federal de retomada do trecho pernambucano do empreendimento, o economista e professor do Unit-PE, Werson Kaval, acredita que o percurso ainda é longo. “Existe horizonte, mas a negociação não deve ter prazo tão curto. Acredito que seja de um a dois anos para a negociação sair”. Entre as alternativas postas à mesa, ele avalia que um consórcio público seria o melhor caminho. “A esfera pública é a maior fornecedora de infraestrutura para que o Estado cresça. A Transnordestina é um projeto de desenvolvimento regional, a definição por um consórcio público seria a melhor saída”. Werson avalia que o consórcio pode ser realizado em parceria com uma empresa privada ou mesmo entre entes públicos. “Se a gente pensar, quanto mais instituições, pessoas, Estados e esferas envolvidos, maiores as dificuldades. Entendo que do ponto de vista público, se pudesse ser feito pelo Governo Federal em parceria com Governo Estado seria a melhor saída”. MOBILIZAÇÃO PELOS PRÓXIMOS PASSOS O deputado federal Pedro Campos, vice-presidente da Frente Parlamentar

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Malala visita Pernambuco e conversa com jovens quilombolas, indígenas e periféricas

A ativista pela educação Malala Yousafzai visitou Pernambuco no último dia 23 e teve a oportunidade de conhecer o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF), uma ONG sediada em Olinda com 50 anos de dedicação à luta pelo Direito à Educação, Comunicação e Cultura. Nesse encontro, Malala ouviu atentamente as vozes das meninas quilombolas, indígenas e periféricas que participam dos projetos apoiados pelo Fundo Malala, uma organização fundada por ela e seu pai, Ziauddin Yousafzai, com o propósito de garantir a educação das meninas ao redor do mundo. A visita foi marcada por momentos de troca e inspiração para a continuidade dessa importante causa. Durante uma roda de diálogo enriquecedora, Malala Yousafzai direcionou perguntas às 15 jovens ativistas pela educação de Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro e Pará. Essas jovens representavam organizações notáveis, como o CCLF, Conaq - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas, ANAÍ - Associação Nacional de Ação Indigenista, Blogueiras Negras, Grupo Curumim e Coletivo Mangueiras. Malala, aos 25 anos, demonstrou grande interesse nas políticas educacionais do Brasil e nas experiências escolares das meninas em seus respectivos territórios. Seu objetivo era compreender as barreiras enfrentadas por elas e seus pares no acesso ao direito à educação, além de conhecer suas inspirações e trajetórias dentro do ativismo junto aos Ativistas pelo Direito à Educação do Fundo Malala no Brasil e os projetos apoiados. Foi um momento significativo de troca de conhecimento e experiências inspiradoras. Vitória Érika, uma jovem quilombola proveniente do Quilombo Feijão e Posse, em Mirandiba, Pernambuco, teve a oportunidade de compartilhar sua jornada educacional com Malala. Vitória é integrante do projeto Educquilombo, realizado pelo Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) em parceria com a Articulação Social das Comunidades Quilombolas de Mirandiba (ASCQUIMI). Em seu relato, Vitória destacou seu desejo de se tornar uma professora quilombola no futuro. Ela expressou sua inspiração tanto em Malala quanto em sua tia Maria José, que é uma professora quilombola em sua comunidade. Vitória compartilhou os desafios enfrentados em sua jornada educacional, como a falta de infraestrutura adequada na escola em que estudou durante sua infância. No entanto, ela ressaltou sua determinação em lutar por uma educação de qualidade para as crianças de seu quilombo. Atualmente, Vitória está cursando Pedagogia, graças às experiências vividas nos últimos anos no projeto Educquilombo e ao seu crescente conhecimento sobre a história de Malala. Ela está construindo sua vida através da educação, impulsionada por suas aspirações e comprometimento com sua comunidade. Com grande empatia, Malala Yousafzai ouviu atentamente todas as meninas e também se abriu para receber suas perguntas. Questões como "O que significa conhecimento para você?" e "Quem são suas inspirações?" foram levantadas para a laureada com o Nobel da Paz. Ao encerrar o diálogo, Malala expressou seu agradecimento e parabenizou o trabalho das meninas. Ela as elogiou pela coragem demonstrada ao compartilhar suas histórias e ressaltou o poder transformador de suas ações. "Obrigada, meninas, por dedicarem seu tempo e trazerem seus pensamentos para esta sala. Vocês são extremamente corajosas e suas histórias me inspiram. Ao impactar a vida de uma menina, de uma escola... vocês já estão transformando o mundo. Podemos realizar essas mudanças, mas precisamos da ação de cada uma de nós. Tenham orgulho do trabalho que realizam, juntas vocês são mais fortes e têm um impacto significativo." Com a convicção de que "educação e conhecimento são ferramentas de emancipação", Malala também teve a oportunidade de presenciar a performance cultural da Batucada de Adolescentes e Jovens do Grupo Curumim. Eles reinterpretam músicas tradicionais do maracatu e coco, acrescentando letras que promovem o feminismo, a luta contra o racismo e a importância da educação. Para Rogério Barata, ativista pela educação do Fundo Malala no Brasil e coordenador do projeto Educquilombo, o encontro no CCLF foi um marco histórico. Ele afirmou: "Essa Roda de Diálogo e os momentos de imersão de Malala nas expressões culturais das meninas reforçam a essência do CCLF como um espaço político e acolhedor, dedicado à articulação e ao fortalecimento da luta pelos Direitos Humanos, em particular o Direito à Educação. Não apenas qualquer educação, mas uma educação pública, com maior investimento estatal e uma abordagem político-pedagógica que permita que estudantes, especialmente as meninas, construam e desenvolvam seus projetos de vida para a construção de uma sociedade que seja antisssexista e antirracista". Também estiveram presentes no encontro as ativistas da Rede Malala Ana Paula (Anaí), Paula Ferreira (Campanha Nacional pelo Direito à Educação), Givania Maria (Conaq) e Cássia Jane (Centro das Mulheres do Cabo).

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Governo anuncia redução de até 10,8% no preço de carros novos

(Da Agência Brasil) O governo federal anunciou nesta quinta-feira (25) a redução de impostos com o objetivo de diminuir o valor final de carros novos no Brasil. A medida será possível com a redução das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e do Programa de Integração Social e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (PIS/Cofins) para a indústria automotiva. Os descontos que incidirão sobre o valor dos veículos irão de 1,5% a 10,8%, de acordo com critérios de preço, eficiência energética e densidade industrial no país. A medida vale para carros de até R$ 120 mil. Contudo, ainda não há definição de qual será o nível de redução das alíquotas e como o governo compensará o benefício. A medida está em discussão no Ministério da Fazenda, que terá 15 dias para apresentar os parâmetros que serão usados na edição de um decreto (para reduzir o IPI) e de uma medida provisória (MP) (para reduzir PIS/Confins) que será encaminhada para aprovação do Congresso Nacional. As informações foram dadas pelo vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, após reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com representantes de entidades de trabalhadores e fabricantes do setor automotivo, no Palácio do Planalto, em Brasília. No encontro, Lula e Alckmin discutiram medidas de curto prazo para ampliar o acesso da população a carros novos e alavancar a cadeia produtiva ligada ao setor automotivo brasileiro, visando à renovação da frota no país. Segundo o vice-presidente, os benefícios serão temporários, para este momento de ociosidade da indústria. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), o preço final ao consumidor pode cair para menos de R$ 60 mil, conforme a política de cada montadora. Atualmente, não é possível comprar um carro popular por menos de R$ 68 mil. O presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, explicou que é importante que o benefício seja de pelo menos 12 meses, para melhor planejamento e investimentos da indústria. Segundo Leite, os descontos serão imediatos após a publicação da MP e do decreto e incidirão, inclusive, sobre os veículos que já estão nos pátios das montadoras. Critérios Alckmin explicou que haverá uma metodologia para aplicação dos descontos, que levarão em conta três critérios. O primeiro é a questão social, do preço do carro. “Hoje o carro mais barato é quase R$ 70 mil. Então, queremos reduzir esse valor”, disse. “O carro, quanto menor, mais acessível, maior será o desconto do IPI e PIS/Cofins. Então, o primeiro item é social, é você atender mais essa população que está precisando mais.” O segundo critério é a eficiência energética, “é quem polui menos”. “Então, você premia e estimula a eficiência energética, carros que poluem menos, com menor emissão de CO2 [gás carbônico, gases de efeito estufa]”, disse. Para Márcio de Lima Leite, da Anfavea, de modo geral, com a renovação da frota, já haverá ganhos ambientais para o país, uma vez que um veículo usado pode emitir 23 vezes mais gases de efeito estufa que um carro novo. E, por fim, o critério da densidade industrial. “O mundo inteiro, hoje, procura fortalecer a sua indústria. Então, se eu tenho uma indústria [em] que 50% do carro é de peças [fabricadas no Brasil] e feito no Brasil e o outro é 90%, isso vai ser levado em consideração”, explicou Alckmin. Segundo o vice-presidente, o Brasil vem sofrendo um processo de desindustrialização e, por isso, o poder público deve fazer um esforço de recuperação para aumentar a competitividade e reduzir o Custo Brasil. “É o que chamamos de neoindustrialização”, disse. Custo Brasil é um termo que descreve o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem e comprometem novos investimentos pelas empresas e pioram o ambiente de negócios no país. Ou seja, é a despesa adicional que as empresas brasileira têm de desembolsar para produzir no Brasil, em comparação com os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em estudo realizado pelo governo federal em parceria com o Movimento Brasil Competitivo, em 2019, o Custo Brasil foi estimado em R$ 1,5 trilhão, ou 22% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país). Entre outras medidas, o governo aposta na reforma tributária, em discussão no Congresso Nacional, para redução desse custo. Crise na indústria De acordo com Márcio de Lima Leite, o setor automotivo trabalha hoje com 50% da sua capacidade instalada “É um dos menores números e um dos piores meses da indústria automotiva, mercado que representa 20% do PIB industrial. A produção de veículos aumentou 8% no primeiro trimestre do ano em comparação com o mesmo período de 2022. Segundo balanço divulgado em abril pela Anfavea, foram fabricadas 496,1 mil unidades nos primeiros três meses deste ano. Apesar de o número representar alta em relação ao ano passado, na ocasião, Leite lembrou que o primeiro trimestre de 2022 foi o pior resultado da indústria automobilística desde 2004. “Nós estamos repetindo em 2023 o pior trimestre desde 2004”, disse, ao comparar os dados da produção em 2022 e em 2023. Hoje, o presidente da Anfavea destacou que, neste ano, houve 14 momentos de paralisação de fábricas, em razão da falta de semicondutores (insumo importante para o setor) e do problema de oferta que ainda vem da crise provocada pela pandemia de covid-19. “Nesse momento, as montadoras têm reafirmado a crença no Brasil, e nós estamos investindo R$ 50 bilhões, um dos maiores ciclos de investimento da indústria automotiva. Nós acreditamos na competitividade e estamos fazendo um trabalho, junto com o governo, para retomada, para que o mercado tenha um aquecimento”, disse, em conversa com jornalistas, após a reunião no Palácio do Planalto, citando ainda a retomada da oferta de empregos no setor. Crédito para exportação Outra medida que deve beneficiar o setor automotivo foi anunciada hoje pelo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante. O banco abrirá uma linha de crédito de R$ 2 bilhões só para produtos de exportação, financiados em

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"Vamos priorizar negócios com pessoas pretas, periféricas e do interior"

A Startupbootcamp, terceira maior aceleradora de startups do mundo, embarcou no Porto Digital, no Recife, com uma meta ousada: investir em 20 mil startups nos próximos 10 anos no Brasil, sendo que todas devem estar conectadas com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e, prioritariamente, lideradas por pessoas pretas, periféricas e do interior do Brasil. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o head da empresa no Brasil, Edgar Andrade, explica que tal propósito não mira apenas a melhoria do planeta mas, também, tem uma boa carga de business. Baseado em análises de renomados especialistas de mercado, Edgar, que também é fundador do Fab Lab REC, assegura que os negócios que tendem a ter sucesso serão aqueles que vão resolver os grandes problemas complexos relacionados aos ODS. Também afirma que aqueles que vivenciam esses problemas, como as pessoas pretas da periferia, são mais capazes de encontrar as soluções. Confira a entrevista a seguir. A Startupbootcamp é a terceira maior aceleradora mundial. Fale um pouco sobre ela. Vou subverter a pergunta, vou começar falando da visão que eu tinha dos processos de aceleração de empresas. Tenho uma trajetória empreendedora, tirei a carteira de trabalho aos 14 anos e ela nunca foi preenchida. Tive experiências em diversas áreas e a maioria deu errado, mas aprendi com cada uma delas. Costumo dizer que o medo de errar é o que mais atrapalha a vida das pessoas. Com essa pegada, interajo com o Porto Digital, participei de uns quatro planejamentos estratégicos do parque, mentorava startups, mas teve uma hora que perdi a paciência e parei de participar dessas experiências porque me incomodava muito essa história de ser unicórnio (startup que se transforma numa empresa que vale US$ 1 bilhão). Não tenho nada contra unicórnios, até porque seria uma contradição nesse papel que assumo agora, mas sou contra a ideia de que todo mundo tem que chegar lá. Bem, a Startupbootcamp foi formada por dois empreendedores (Joop Ende e John Mol) que fundaram a Endemol, produtora que criou o Big Brother e o The Voice. Eles venderam a empresa, pegaram o dinheiro e criaram a Startupbootcamp. E aí tem um parêntese que acho muito interessante que é a história de Kauan. Quem é ele? Kauan Von Novack, gestor global da Startupbootcamp. Ele é de Curitiba e foi trabalhar no Vale do Silício há 15 anos, numa das maiores aceleradoras de startups do mundo. Mas começou a questionar esse modelo em que se bota dinheiro em 10 startups e fica-se rezando para ver se uma delas vira um negócio gigante que pague a conta toda. Ele pegava altas brigas com a galera lá até que os donos da aceleradora disseram: “oh Kauan, você não vai dar certo com a gente não porque bate muito de encontro com nossa filosofia. Mas têm uns doidos lá em Amsterdam que falam essas mesmas coisas que você, acho que você vai dar certo com eles”. Duas a três semanas depois, Kauan se mudou para Amsterdam para trabalhar com a Startupbootcamp. A aceleradora é recente, nasceu em 2010, mas quem botou grana no primeiro fundo, criado lá atrás, já tirou 15 vezes o investimento que foi feito. Foi a primeira aceleradora a abrir capital na bolsa de valores de Amsterdam. Quando você tem um fundo listado na bolsa, você pode desistir a qualquer momento e pegar seu dinheiro de volta, o que já oferece mais segurança para quem vai investir. No modelo tradicional de aceleração de startup isso não acontece. E outra: você investe num pacote de 20 a 30 empresas e o super-resultado de uma, compensa a perda de outra. É um modelo que já existe no exterior? Existe muito no exterior e os fundos de pensão se envolvem nesses processos. Agora, é um desafio também lá fora convencer as pessoas de, ao invés de investir em fundo de renda fixa, botar dinheiro nas startups. Tem uma fala que Kauan vem repetindo: “se todos os brasileiros que investem em renda fixa pegassem apenas 10% do seu dinheiro investido e direcionasse para startups, em 20 anos a gente teria uma empresa do tamanho da Microsoft no Brasil. Muitas darão errado, mas fatalmente surgirão negócios de alta escala. Quando a gente fala em investir em 20 mil negócios no Brasil nos próximos 10 anos é na perspectiva de que surjam grandes negócios a partir desses investimentos e que gerem impostos em várias cidades, no Recife, em Vitória da Conquista (BA), em Campina Grande (PB), em Mogi das Cruzes (SP), em Saquarema (RJ). Por isso a gente traz a importância de se montar uma estrutura de formação empreendedora, para ter mais gente no jogo, e de incentivo à interiorização desses negócios. Hoje, cada vez que você anuncia no Facebook ou nas outras redes, isso gera imposto lá no Vale do Silício, na Califórnia, ou seja, a gente ajuda a financiar as políticas públicas dos EUA, onde a empresa está sediada. Se daqui a 10/20 anos surge uma grande empresa de comunicação no Porto Digital, que serve ao Brasil e ao mundo todo, esse imposto todo virá pra cá. Imagine o impacto de longo prazo da geração de impostos que um movimento desses pode provocar, em especial no interior do País. Uma das nossas prioridades é investir em negócios no interior e hoje é possível fazer isso porque a maioria das cidades está conectada com o mundo. Como você passou a integrar a equipe da Startupbootcamp? Fiz uma palestra na 32ª Conferência da Anprotec (Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores) em Salvador, falando de experiências de inovação na periferia e no interior. Na sequência, veio Kauan falando sobre a Startupbootcamp. Pensei que fosse uma aceleradora como a maioria. Só que teve um momento em que ele disse que traria três paradigmas fundamentais que quebram a lógica das aceleradoras. O primeiro vem da decisão de só investir em negócios conectados com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Ao falar da segunda quebra de paradigmas, ele disse que fez a seguinte pergunta para uma grande

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As perspectivas e desafios de morar no Centro do Recife

*Por Rafael Dantas A ausência de moradias permanece há anos como uma marca da região central da capital pernambucana, em bairros como do Recife, de Santo Antônio e São José. Com poucas exceções, como a comunidade do Pilar e o Condomínio Píer Maurício de Nassau, as famosas Torres Gêmeas, são os prédios públicos, comerciais ou mesmo imóveis vazios que caracterizam a área histórica da cidade. Esse cenário pode mudar com a chegada de alguns novos empreendimentos já anunciados, com as diretrizes das políticas públicas do Recentro e até com a nova fase do Minha Casa Minha Vida, que promete incentivar os retrofits. Há desafios grandes ainda a serem enfrentados nesse horizonte para incentivar a chegada da classe média e de garantir maior dignidade aos moradores dos habitacionais populares. Mesmo com grandes dificuldades de atrair investimentos privados para moradia nessa região central, o Recife tem uma vantagem. Diferente de outros centros urbanos que foram esvaziados de suas vocações econômicas, a capital pernambucana tem um ativo que foi a recuperação do Bairro do Recife com a ativação de vários prédios com empresas do Porto Digital. Os 17 mil profissionais em atividade, com uma renda maior que a média da população da Região Metropolitana do Recife, representam uma demanda reprimida de novos moradores, interessados em estar mais perto do trabalho. FALTA MORADIA PARA CLASSE MÉDIA TRABALHADORA Uma constatação das professoras Mariana Zerbone, da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e Edvânia Torres, da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), sobre as poucas moradias atuais ou em construção nesses bairros centrais é que elas atendem às camadas sociais de cunho social, para a baixa renda, ou de projetos imobiliários para um público de alto poder aquisitivo. A classe média permanece excluída das escassas alternativas de moradia na região. “Um grande problema que identificamos são os extremos de ocupação das áreas. Ou são habitacionais de cunho social ou a abertura para mercado imobiliário de alto padrão. A classe média e trabalhadora que precisaria morar no Centro não tem acesso, não tem imóvel ‘médio’. É essa classe média trabalhadora que pode dinamizar a região”, avalia Mariana Zerbone. Ela destaca que parte do esforço de reocupação do Centro pode ser destinado a atender também ao público de estudantes universitários. Para além desses três bairros do núcleo mais antigo da cidade, Boa Vista e Santo Amaro integram a região central mais habitada. Especialmente Santo Amaro tem sido alvo de investimentos de maior porte, mas dentro de uma caracterização também de alto padrão. Em São José, no Cais José Estelita, está sendo erguido o Novo Recife, enquanto no Bairro do Recife há empreendimentos como o Yolo Coliving (uma plataforma de hospedagem e moradia que compartilha áreas e serviços comuns) e o Moinho (que contempla também moradias no seu complexo). A secretária do Recentro, Ana Paula Vilaça, afirma que a atuação do gabinete é para tornar o Centro atrativo para visitar, trabalhar, investir e morar. “Nosso maior desafio é atrair moradia. Desenvolvemos uma série de ações para tornar o lugar mais favorável à atração desses investimentos, junto com outras secretarias. Estamos desenvolvendo uma PPP (Parceria Público Privada) de locação social de forma prioritária. Estamos estudando o modelo para oferecer moradia no Centro. A ideia é ofertar 450 unidades habitacionais nesse novo formato, a Prefeitura do Recife entra com subsídio a partir da renda, com a parceria com a Caixa Econômica”. Nessa iniciativa, o setor privado construirá as unidades habitacionais e, em seguida, vai disponibilizá-las para aluguel ao público-alvo do programa. A Prefeitura concederá um subsídio parcial para o aluguel. O modelo já é bem-sucedido em países como França, Holanda e Alemanha, mas ainda é inédito no Brasil, onde o Recife foi escolhido para ser o primeiro município a implementar essa modalidade de habitação. O programa é voltado para famílias com renda máxima de até três salários mínimos. Além da PCR e da Caixa Econômica Federal, o projeto é liderado também pelos Ministérios do Desenvolvimento Regional e da Economia. Uma novidade mais recente nas políticas públicas de moradia que pode ter um impacto relevante no Recife é a nova fase do Minha Casa Minha Vida (MCMV). O Governo Federal anunciou que o programa passará a ter uma frente focada na reabilitação de edifícios abandonados. A ideia do Ministério das Cidades, que está desenhando esse programa, é lançar o “Minha Casa Retrofit” no segundo semestre. O lançamento, que deverá ofertar um subsídio maior para quem escolher fazer um retrofit em prédios antigos, na comparação com obras em áreas vazias e geralmente periféricas, representa uma oportunidade para a capital pernambucana, que possui um estoque relevante de imóveis ociosos. O retrofit é tendência na arquitetura, surgida na Europa, que revitaliza construções antigas, modernizando o espaço, tornando-o mais seguro, sem retirar as características originais históricas e arquitetônicas. “Essa nova fase do MCMV é um sinalizador de que o Governo Federal vai olhar para áreas centrais. Todo investidor avalia a viabilidade econômica do local. Esse programa federal está preocupado com isso. Achamos que ele pode alavancar o desenvolvimento do Centro e diminuir os deslocamentos na cidade. A região central da cidade conta com polo médico, universidades, o Porto Digital e órgãos públicos. Temos um potencial consumidor que, por questão econômica e pela falta de oferta de imóveis, foi morar nas periferias”, destacou Ana Paula Vilaça. A secretária destacou os incentivos fiscais para as atividades econômicas e de moradias para as construções ou intervenções destinadas à recuperação dos imóveis no sítio histórico dos Bairros do Recife, Santo Antônio e São José, aprovadas pela Lei do Recentro. Há também um conjunto de iniciativas em andamento de requalificação urbana na região. Obras de drenagem nas Ruas da Concórdia e Imperial, a construção da ciclofaixa conectando a Zona Sul ao Centro e o próprio projeto Viva Guararapes (realizado uma vez por mês, que interdita a Avenida Guararapes ao tráfego de veículos para atividades lúdicas, artísticas e de lazer) integram as iniciativas de incentivo à reativação da região. PORTO DIGITAL NA EXPECTATIVA DE MAIS MORADIAS O presidente do Porto Digital, Pierre

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