Publicamos hoje uma conversa com a chefe do Escritório de Representação do Itamaraty no Nordeste (Erene), Katia Gilaberte. Ela contou um pouco do seu trabalho em Pernambuco e das ações que estão sendo realizadas durante esse período de pandemia. Ela, que já foi embaixadora do Brasil na República da Eslovênia, comenta também nessa entrevista concedida ao repórter Rafael Dantas sobre a relevância da Rede Consular instalada da cidade do Recife e do trabalho do Iperid. Como ela também tem um trabalho na literatura infantil, esse bate-papo passou por sua trajetória pelas letras e quais os planos de publicações futuras. Há quanto tempo você trabalha no Erene no Recife? Qual o balanço que você faz desse período? Qual o papel desse escritório aqui na cidade? Katia Gilaberte – Assumi a chefia do Erene em junho de 2017 e, nesse período de cerca de três anos e meio, o escritório expandiu de forma significativa a sua área de atuação. A interação com os Consulados de carreira e honorários com sede no Recife estreitou-se e intensificou-se, bem como a articulação entre essas representações e o governo de Pernambuco e os dos demais Estados sob a jurisdição do Escritório, que compreende todo o Nordeste, exceto a Bahia. Ações cooperativas foram implementadas com o apoio do Erene, seja para a identificação de parcerias nos campos das ciências, tecnologias, comércio e cultura, seja na própria organização de atividades culturais, como as Semanas da Eslovênia e do Senegal. O Escritório estreitou também a sua relação com o escritório do Unicef no Recife e tem apoiado iniciativas nos campos da educação, combate ao racismo e empoderamento de mulheres. Foram criadas páginas no Facebook e Instagram para comunicação mais fluida com o público acerca de nossas atividades e serviços. Prestamos apoio a vários atos de natureza consular, em especial, efetuamos legalizações. Como tem sido o trabalho durante o período da pandemia do novo coronavírus? Katia Gilaberte – Durante a pandemia, mesmo que majoritariamente em teletrabalho, o Escritório colaborou para o retorno seguro ao Brasil de vários grupos de estudantes de Pernambuco e da Paraíba que se encontravam no exterior no âmbito do Programa Ganhe o Mundo, fazendo a ponte entre Consulados e Embaixadas brasileiros e as Secretrarias de Educação e Saúde e a Assessoria de Relações Internacionais do Estado. Colaborou, ainda, para o repatriamento de passageiros de cruzeiros retidos em Recife, tratamento daqueles que contraíram a Covid-19 e obtençāo de documentação para a cremação do único passageiro falecido em razão da doença. Qual a relevância do polo consular do Recife para o Estado e para a região Nordeste? Que vantagens competitivas isso traz para a capital pernambucana? Katia Gilaberte – Recife conta com um grande número de Consulados de carreira e honorários, o que permite um contato mais direto e estreito com as autoridades dos países representados e a implantação, no Estado de Pernambuco e na região Nordeste como um todo, de projetos de cooperação mutuamente vantajosos, bem como a expansão do comércio e do turismo, por meio, inter alia, do estabelecimento de linhas aéreas diretas. A cooperação com a Alemanha, a República Popular da China e a Argentina são exemplares nesse sentido. Como o Estado poderia buscar apoios internacionais para superação desse período de Pandemia? A rede consular local pode ter alguma contribuição nesse sentido? Katia Gilaberte – O Governo de Pernambuco, associado aos dos demais Estados do Nordeste, já tem agido com grande autonomia na identificação de parcerias de seu interesse no exterior, mormente em áreas-chave, como as de energia e desenvolvimento sustentável. Durante a pandemia, obteve a doação de um número expressivo de respiradores da República Popular da China. Essa cooperação poderá ter um papel crucial no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19 e nas campanhas de vacinação subsequentes. Qual o papel do Iperid no fortalecimento do corpo diplomático em Pernambuco? Katia Gilaberte – O Iperid tem atuado na identificação e monitoramento de áreas estratégicas, em que a cooperação internacional pode desempenhar um papel relevante, como já mencionado. O corpo consular em Recife tem participado ativamente de encontros e foros de discussão, presenciais ou virtuais, criando um ambiente de intercâmbio de ideias saudável e inovador. Por fim, gostaria de saber sobre sua veia de escritora. O que você já publicou e quais seus trabalhos em andamento? Katia Gilaberte – Eu escrevo desde criança, mas só vim a publicar textos literários em 2007, quando fui premiada na OFF Flip de Paraty como contista. Desde 2016, meu foco principal, nesse âmbito, é a literatura voltada para a infância e a formação de leitores. Naquele ano, publiquei Catarina e o lagarto, em parceria com a ilustradora Bruna Assis Brasil, livro premiado como o melhor texto infantil pela Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantojuvenil (AEILIJ). Em 2018, publiquei, pela Caleidoscópio, aqui de Pernambuco, o livro Do outro lado do rio, também em parceria com a Bruna Assis Brasil, e colaborei na organização da coletânea Com o pé na terra, que reúne textos de 19 escritoras brasileiras, de diferentes regiões. A coletânea foi lançada no II Encontro do Mulherio das Letras, realizado no Guarujá, em novembro de 2018. Em outubro de 2019, publiquei, também pela Caleidoscópio, O acordeão vermelho, em parceria com a ilustradora carioca Luciana Grether. Este livro obteve, no início deste ano, o Selo Distinção da Cátedra de Leitura Unesco Puc-Rio e foi um dos cinco finalistas do Prêmio da AEILIJ. Ele tem a peculiaridade de vir acompanhado de um CD e de um código QR, que remete a duas canções criadas especialmente para a história, pelo sanfoneiro Johnanthan Malaquias, de Carnaíba, no sertão de Pernambuco, e pelo cantor e violonista senegalês Cheikh Guissé. Tenho mais dois livros prontos para publicação, em colaboração com a Bruna Assis Brasil: A fazenda lá na serra, que reúne cinco contos para o público infantil, e As irmãs, conto adulto. Ambos se passam no mesmo cenário e seus personagens se cruzam, em etapas diferentes de suas vidas. Deverão ser lançados em breve em um mesmo estojo pela Caleidoscópio, logo que a pandemia o permitir. . .