Colunistas – Página: 283 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

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As cervejas IPAS e suas variações (Por Rivaldo Neto)

Recebi algumas mensagens de leitores que queriam mais esclarecimentos sobre os mais diversos tipos de cerveja, para assim entendê-las e causar o desejo de degustá-las. Na coluna anterior fiz uma indicação de uma IPA, bastante lupulada e com amargor intenso. Mas o que seria uma IPA? O que fazem no universo das cervejas ela ser assim chamada? E quais são suas variações? Vamos tirar as dúvidas que surgiram. O termo IPA, quer dizer Indian Pale Ale. Este estilo de cerveja é originalmente inglês, foi criada durante a colonização da India e era servida aos oficiais britânicos.  Como demandava meses o tempo da travessia da Europa para o continente asiático, essa cerveja era carregada com doses extras de lúpulo, que funciona como conservante, e também curiosamente, tem um leve efeito antibiótico. Fora esses fatores, tanto a aromatização, quanto o sabor estão diretamente ligados a essa planta. Na verdade a IPA é uma variação das cervejas denominadas ALE, que são cervejas de alta fermentação. Ou seja, cervejas mais encorpadas e com características marcantes. Geralmente possuem uma cor âmbar, que pode variar dependendo do insumo inserido no processo de produção. Sendo a cerveja IPA uma variação das ALE (cervejas de alta fermentação), as IPAS também têm suas variações das quais citarei algumas das mais populares.   As English IPA Um inglês chamado George Hodgson criou este estilo no século XVIII. O lúpulo também é característico desta cerveja, que quando é prontamente servida o aroma é logo sentido. A cor pode variar do ambâr dourado ao cobre, outro detalhe é que a espuma é pouco persistente. Ex: Fullers London Pride.   As American IPA   Mais amarga que o estilo inglês, possui um diferencial devido aos insumos americanos, no caso o lúpulo que são mais perfumados, mais cítricos e florais. Ex: Colorado Indica. As Imperial IPA É mais recente que as inglesas e as americanas. É a que possui o maior amargor dentre todas elas e foi criada para uma fatia de consumidores que apreciam este estilo. A graduação é outro diferencial, pois pode chegar a 10%, uma cerveja essencialmente forte. Ex: BrewDog Hardcore IPA.       *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet na horas vagas.

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Uma IPA Hop com personalidade (Por Rivaldo Neto)

A Burgman é uma cervejaria da cidade de Sorocaba-SP, vem se destacando na produção de cervejas artesanais e já dispõe de interessantes estilos, com muito equilíbrio e destaque no sabor. Há 10 anos no mercado, a cervejaria tem uma produção mensal de aproximadamente 100 mil litros/mês. Sempre em processo de inovação e lançando novos rótulos, a Burgman usa na sua produção, maltes e lúpulos importados, insumos que fazem toda a diferença para os apreciadores de plantão. Para os amantes de uma cerveja que agregue frescor e amargor marcante, mas sem ser agressivo, uma excelente pedida é a Ipa Hop. Vendida em garrafas de 600ml, possui uma graduação de 6%vol, tendo uma tonalidade amarelo escura, sendo um pouco turva, pois não é filtrada, para receber o dry-hopping, contendo boas porções de lúpulo Cascade. Explicando melhor, o dry-hopping é um processo que faz com que a cerveja fique mais “potente”, é um método essencialmente inglês, que se popularizou nos EUA, que consiste em colocar o lúpulo durante o processo de fermentação, o que também intensifica a aromatização da bebida. Deve ser servida em copos estilo “Pints” ou caldereta. Esse tipo de cerveja pode ser harmonizado com um simples caldinho de feijão, ou queijos como o Gouda, roquefort ou Brie. Ou também com comida mexicana, pois a sua refrescância, dá um toque ideal para contrabalancear com sabores, digamos, mais intensos. Essa cerveja tem um preço que varia de R$ 22,00 a R$ 28,00, sendo facilmente encontrada nos estabelecimentos que comercializam cervejas artesanais, ou bares que tenha uma boa carta da bebida. *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet na horas vagas  

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A importância das taças e copos (Por Rivaldo Neto)

Muito se fala de como devemos beber uma cerveja ou vinho. Esses dois tipos de bebidas fermentadas têm um lado comum. Do vinho muito já se falou. E de cervejas? A importância das taças, copos, canecas e “pints”? Não é necessário ser um conhecedor profundo para entender os seus valores estéticos e funcionais. Assim como vinho, cerveja também necessita desse universo. Uma diferença básica é que para vinhos, a taça de cristal é item obrigatório para preservar as suas características. Pra cerveja é mais “solto”, não há uma necessidade de ser de cristal ou um vidro mais nobre. É importante, frisar que 60 a 80 por cento do gosto das cervejas é determinado pelo olfato, sendo assim, tomá-las nos copos corretos, irá proporcionar aos amantes cervejeiros, experiências mais gratificantes e prazerosas. O formato é realmente um diferencial, isso conta muito, pois dará o toque certo na carbonização e graduação. Existem muitos tipos de copos, mas vamos aos mais comuns. Para cervejas de trigo, ideal é um copo longo com uma largura maior no topo para a espuma da Weizen, geralmente cervejas nesse estilo vêm em garrafas de 500ml. No Brasil as cervejas mais consumidas são as chamadas Pilsers e agora as Lagers também vêm ganhando cada vez mais adeptos e já são responsáveis por uma grande fatia no mercado. O copo que chamamos de “tulipa” possui uma diferença sutil para esses dois estilos. o Pilsner tem a boca mais larga, enquanto o de Lager tem a boca levemente fechada. As calderetas comumente vistas em choparias é usada para se tomar English e American Ales e também para algumas lagers escuras e IPAs (Indian Pale Ale). Os copos estilo Pint, ideal para as Bitter e as Stouts, são populares em Pub’s ingleses e que comportam uma boa quantidade de cerveja, em torno de 430ml. Possuem um formato simples com um anel no topo, contendo uma boca bem maior que a base. Um detalhe curioso do anel dos Pints é que os mesmos foram incorporados por volta de 1960 para facilitar o empilhamento de copos, evitando que eles ficassem presos e quebrassem. As Goblets, têm como diferencial uma haste mais longa, para evitar o aquecimento do líquido pelas mãos, e que são ideais para serem usadas quando estamos tomando cervejas Trapistas, também conhecidas como “Cervejas de Abadia”, que são cervejas feitas sob supervisão de monges, e que assim garantem as suas origens monásticas que só esse estilo possui. Então não nos façamos de rogados, se vamos curtir uma boa cerveja, que seja da forma mais correta, isso com certeza vai fazer a diferença para que possamos aproveitar essa bebida secular, tão admirada no mundo todo! Um brinde! *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet na horas vagas

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O teatro pernambucano destinado a infância e juventude (Por Romildo Moreira)

A dramaturgia brasileira dedicada ao público infantojuvenil tem tido um considerável acréscimo de qualidade, reconhecido por todos que se debruçam ao estudo dessa matéria, desde meados da década de 1980, com o surgimento do texto de Ziraldo intitulado “Flictz”, até os dias atuais. Aqui, em terras pernambucanas, não tem sido diferente. A quantidade de autores criando excelentes obras para essa faixa etária tem superado, e muito, a produção de textos para o público adulto. Provavelmente, a partir da montagem do espetáculo “O pequenino grão de areia”, de João Falcão, a percepção da escrita infantojuvenil, no que diz respeito a sua gênese e também a sua carpintaria dramática, jamais foi a mesma na cidade do Recife, para graça e glória das novas gerações de espectadores. O extrato poético em uma literatura que mistura o possível e o imaginário num resultado cênico que atraia a camada jovem por se identificar com ela, e da mesma forma cative o público adulto, que acompanha a garotada ao teatro, por induzi-lo a ser criança outra vez no faz de conta teatral, é a essência dessa dramaturgia “contemporânea”, que cada vez mais leva à cena, temas delicados para essa plateia. E o que é melhor, com tratamento fundamentalmente artístico. Nesses trabalhos, uma temática com algum teor político nada tem de panfletário ou partidário, da mesma forma que o religioso nada diz de doutrinação, mantendo-se, categoricamente, como expressão artística. Outros exemplos de temas existem e são muitos, passando por morte, sexo, tolerância, etc. Como ressonância de tudo isso, “o teatro poderá ser considerado o mais duradouro dos muitos palácios encantados que a humanidade infantil edificou. A distinção entre arte e vida começa aí”, como já nos revelou Eric Bentley em seu livro “A experiência viva do teatro” (Rio 1981). Na vertente acima exposta, são muitos os exemplos de textos encenados nos palcos de Pernambuco, escritos por dramaturgos locais, de várias gerações, a exemplo de: “Luzia no caminho das águas”, de Alexsandro Souto Maior; “Sebastiana e Severina”, de André Neves; “Minha Cidade”, de Ana Elizabeth Japiá; “O fio mágico”, de Carla Denise; “Salada mista”, de Alexsandro Silva e “As travessuras de Mané Gostoso”, de Lucino Pontes, entre outros. – É necessário aqui lembrarmos outros autores pernambucanos com vasta experiência em dramaturgia infantojuvenil, como Marco Camarotti, Luiz Felipe Botelho, André Filho, Samuel Santos, Luiz Navarro e Paulo Lima, entre outros. Grupos e companhias teatrais da capital pernambucana têm investido, tenazmente, nas linguagens literárias e dramáticas destinadas ao público infantojuvenil, obtendo resultados cênicos impagáveis, como podemos conferir nos espetáculos produzidos por grupos como: Mão Molenga, que unifica em suas criações a linguagem de atores e bonecos; a Cia. 2 em Cena, que entrelaça as expressões de teatro e circo em suas montagens; a Cia. Animée, que encena espetáculos musicais circenses com o protagonismo da palhaçaria feminina; assim como a Cia. Meias Palavras, que busca no espaço da literatura o seu efeito cênico mais notório, sem com isso deixar inferior o tratamento dado aos elementos plásticos e sonoros de suas apresentações. No caso da Cia. Meias Palavras, a presença de Luciano Pontes (criador da companhia ao lado do ator Arilson Lopes), que além de ator é um escritor de projeção nacional para o público jovem, com vários livros publicados, destacando-se: “Uma história sem pé nem cabeça” e “O carrossel do tempo”, ambas pela Edições Paulinas e “Em briga de irmão quem dá opinião?”, pela Editora FTD, justifica a reverberação literária no repertório de suas peças. É claro que a heterogeneidade no universo da produção teatral para a infância e juventude em Pernambuco é uma realidade, com espaços garantidos para produções que optam pelos tradicionais contos de fada (com superproduções do ponto de vista de efeitos ilusionistas), convivendo harmoniosamente com as peças mais contemporâneas, exemplificadas pelas aqui apontadas, criando um leque vasto de opções para o lazer cultural da criançada. – É fato também que a contação de histórias tem sido posta à disposição do público infantil, com muita frequência, em teatros, livrarias e espaços alternativos, como a que inspira a peça que sugerimos abaixo. DICAS DE ESPETÁCULOS: “Seu Rei Mandou”, da Cia. Meias Palavras Local: Teatro Marco Camarotti – SESC de Santo Amaro Dias: sábado 21/05 e domingo 22/05, às 16h Preços: R$ 20 e R$ 10 Informações: 3216-1728 “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues Local: Teatro Apolo Dias: sexta 20/05 e sábado 21/05, às 20h. Preços: R$ 30,00 e R$ 15,00 Informações: 3355-3319 ou 33553320.   Romildo Moreira – ator, autor e diretor teatral.

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A questão fiscal (maio/2016)

Quando uma família gasta mais do que a soma dos rendimentos dos seus membros ela incorre em déficit. Estando no vermelho, essa família pode recorrer a empréstimos para cobrir a diferença e/ou buscar reduzir drasticamente suas despesas ou ainda, se possível, trabalhar mais para elevar a renda familiar. Caso não faça nenhum ou pouco esforço para gastar menos ou se não puder ganhar mais por conta de um mercado de trabalho adverso, a família cobrirá seus gastos com empréstimos pagando juros altos, especialmente se recorrer ao cheque especial. Se insistir na prática do endividamento, essa família vai parar nos limites de crédito oferecidos pelos bancos ou vai pagar juros cada vez mais altos por conta do risco de, eventualmente, não saldar o débito. Além disso, ninguém vai querer ser parceiro de uma família endividada para nenhum negócio por medo de que ela não venha honrar seus compromissos. Os encargos da dívida (juros, correção monetária, multas etc.) irão ganhando espaço nas despesas da família e a relação entre o total da dívida e a renda da família irá se elevar rapidamente. Eventualmente essa família será financeiramente insolvente, tendo que se desfazer de patrimônio, se tiver algum, para pagar o que deve. Em tese essa família deveria gastar menos do que ganha e fazer uma poupança para pagar a dívida e seus encargos. Isso faria com que a relação entre o total da dívida e a renda familiar caísse e, eventualmente se estabilizasse. Essa descrição – guardadas as devidas proporções e conceitos – aplica-se ao caso brasileiro que está enfrentando uma grave crise fiscal. De fato, o descontrole das contas públicas está no cerne dos problemas econômicos enfrentados pelo Brasil. O desajuste fiscal gera inflação, eleva os juros, compromete a provisão de serviços públicos essenciais, abocanha parte da poupança do setor privado e trava os investimentos públicos – por falta de recursos – e privados, pois gera incerteza entre os empresários sobre a solvência financeira do País. Além disso, o setor privado não aceitará um parceiro para investimentos que esteja altamente endividado e que, eventualmente, possa se tornar insolvente. O fato é que por muitos anos o Brasil vem apresentando taxas de crescimento do gasto público acima do crescimento do PIB. Gasta-se mais do que se arrecada, daí decorrendo a necessidade de se endividar para cobrir a diferença. Quando isso ocorre o Estado brasileiro é obrigado a pedir dinheiro emprestado às pessoas, às empresas, aos bancos e aos fundos de investimento, nacionais e estrangeiros. Para tanto o Tesouro Nacional emite títulos da dívida pública que são remunerados com juros acrescidos da variação na inflação oficial ou da variação de outros indexadores. Para que o mercado os adquira, assim emprestando dinheiro ao governo, é necessário não só que os juros sejam atrativos e que se situem acima da inflação, mas que sejam também seguros, isto é, que o valor aplicado originalmente mais os encargos sejam, de fato, pagos pelo governo na data do resgate ou, fora dela, no dia em que o credor decidir recuperar o que aplicou de volta. Portanto, tem que haver segurança de que o dinheiro emprestado pelo credor seja pago pelo devedor, ou seja, pelo Tesouro Nacional. O grau de segurança do pagador é medido pelas agências de rating, sendo a melhor certificação a do grau de investimento, status que o País perdeu recentemente. O governo deveria fazer uma poupança para pagar os encargos da dívida. Essa poupança é definida como a diferença entre receitas e despesas não financeiras, ou seja, o superávit primário. Quando a poupança é negativa, o governo tem que pedir mais dinheiro emprestado, o que significa rolar a dívida aumentado, assim, o seu estoque. O descontrole se manifesta tanto pelo crescimento do déficit primário quanto pelo aumento da relação dívida bruta-PIB. Esta é a essência do problema fiscal brasileiro. O País apresenta desde 2014 déficits primários sucessivos, inclusive previstos para 2016, e uma elevação da relação dívida bruta-PIB. O déficit nominal – a diferença entre o total das receitas e despesas – vem também se elevando como uma proporção do PIB. Essa diferença aumentou de 2,96% para 10,38% do PIB entre 2013 e 2015. Por sua vez o superávit primário de 1,72% do PIB, em 2013, transformou-se em déficit primário de 1,88% em 2015. E a relação dívida bruta-PIB elevou-se de 53,8% para 67,6% do PIB entre 31/12/2013 e 31/12/2015. Essa trajetória é insustentável podendo chegar, em 2018, a R$ 4 trilhões, cerca de 80% do PIB. O ajuste fiscal não é um fim em si mesmo, mas um meio para se retomar o crescimento econômico e continuar com os programas de proteção e de desenvolvimento social de que o País tanto necessita. Famílias e governos precisam ser financeiramente saudáveis para dar conta de suas responsabilidades e propiciar bem-estar para todos. O ajuste das contas públicas não é uma questão ideológica como muitos dão a entender. É uma questão financeira. Se assim não for entendido enfrentaremos dificuldades crescentes.

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O Brasil pós-impeachment (maio/2016)

O desafio do próximo governo é imenso. Tanto do ponto de vista da economia, quanto da política, quanto do restabelecimento da confiança cuja ausência impede os agentes econômicos de consumirem e de investirem, contribuindo decisivamente para o esfriamento da demanda e, em última análise, para a recessão que atormenta o País há pelo menos dois anos seguidos. Do ponto de vista da economia, uma condição indispensável para recolocação do País nos trilhos é a recuperação das contas públicas que passaram durante anos por uma desarrumação que se traduz nos dias que correm na inflação de dois dígitos, na recessão renitente e no desemprego recorde. Do ponto de vista da política, o desafio se traduz na montagem de um ministério e de uma maioria parlamentar os menos fisiológicos possíveis, capazes de formular e executar o ajuste fiscal conjuntural que permita destravar a economia e refazer o caminho da saída da recessão e da retomada do crescimento, ainda que em bases modestas. Um crescimento mais vigoroso só será possível com a realização das reformas e do ajuste fiscal estrutural que só o governo eleito em 2018 terá condições de fazer. Do ponto de vista da confiança, cujos indicadores apontam os níveis mais baixos da história, a retomada só ocorrerá se tanto a parte econômica quanto a política do desafio forem superadas. De um modo geral, pode-se dizer que o próximo governo será de transição e seu sucesso dependerá criticamente de dar certo logo no início. Não resistirá ao rame-rame tradicional da política brasileira. Se for mais do mesmo ou cai logo ou potencializará a nível inimaginável a incerteza e a desconfiança e cairá mais na frente. Se for bem sucedido, como precisamos, sua missão será arrumar a casa para entregar o governo minimamente organizado para o(a) próximo(a) presidente eleito em 2018. Curiosamente, nas especulações da imprensa sobre o novo ministério, nada menos do que 10 pernambucanos foram cogitados: Jarbas Vasconcelos, Romero Jucá, Mendonça Filho, Bruno Araújo, Raul Jungmann, Cristovam Buarque, Roberto Freire, Augusto Coutinho, Raul Henry, Fernando Coelho Filho. O que não deixa de ser uma evidência da nossa densidade política, muito necessária para o enfrentamento do cenário adverso que também nos aflige de forma muito intensa e do qual só vamos sair junto com o País.

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Superpoderosas (maio/2016)

Você está a dez mil pés. Seu time do coração joga, neste exato momento, a final do campeonato. Você teve um estressante dia de trabalho, na capital federal. Além disso, acima das nuvens, nada de wi-fi, muito menos TV. Você imagina a cena da bola estufando a rede do goleiro adversário, mas logo se dá conta de quão inconfiável é o ataque rubro-negro. Seu assento é o da saída de emergência. Isso mesmo! Aquele que não reclina. Você lembra das palavras da aeromoça, minutos atrás, com instruções sobre como abrir a porta em caso de necessidade. Você pensa em abrir a porta, mesmo sem necessidade. Essa ideia idiota logo lhe abandona. Você não consegue dormir, então pega papel e caneta. Dana-se a escrever. Tenta organizar a agenda do que resta da semana. Você anota que domingo é dia de almoçar com a família. Lembra que é Dia das Mães. E por falar em mãe, você volta a sentir-se culpado por ter, na noite anterior, bisbilhotado aquela mensagem que chegou no celular da mãe dos seus filhos, oriunda daquele grupo de Whatsapp do qual ela não permite que você participe. Mas você pensa em logo agradecer a Deus por ter se atrevido a mexer e por ter se deparado com uma confraria ultrassecreta de mulheres que se intitulam “superpoderosas”. E pensa como é apropriado o nome desse grupo. Praticamente uma seita. E como em toda a seita, o que impera são ideologias e conceitos divergentes dos sistemas dominantes. Nessa confraria ultrassecreta homem não entra, mas você entrou rapidinho. Só uma olhadinha. Lá, somente mães. Tão somente mães de pessoas com autismo. Ali trocam ideias, dividem suas aflições, compartilham sentimentos, frustrações, conquistas. Vibram com a vitória da outra. Estimulam o progresso dos meninos. Divulgam novidades. Tanta mensagem linda, você pensa. De apoio, de amizade. E você lembra o quão raro é o ombro amigo nos dias de hoje. E você descobriu que foi ótimo ter entrado ali e ter dado aquela espiadinha. E descobriu que há tanta força nessas mulheres. Há tanto amor entrega e dedicação. Tanta cumplicidade, bem querer, companheirismo. E é tão bonitinho ver que elas se referem aos filhos como “anjos azuis”. E você lembra que não é somente o fato de todas elas serem mães de pessoas com autismo que as une. Não! Você se dá conta de que há uma energia a mover esse barco onde juntas estão: o amor de mãe. O desejo, talvez inconsciente, de mudar tudo em volta, a sociedade mesmo. O esforço mútuo, contínuo, na tentativa de alterar o curso nada natural do rio. Então você passa a perceber, ainda mais, que a luta diária não é só pelo desenvolvimento dos seus respectivos rebentos. É pela mudança de mentalidade nos outros também. E você pensa em mil maneiras de gritar ao mundo a admiração que possui por essas meninas, mulheres, mães. E você agradece a Deus por existirem Milenas, Danielas, Andréas, Sílvias, Julianas, Cândidas. E você deseja que elas se multipliquem mundo afora. Então você percebe que está emocionado e que está chorando um pouco alto para quem está trancando numa lata velha voadora. E o gordo simpático sentado ao seu lado já está com o braço estendido a oferecer-te um lenço. E a aeromoça, aquela mesma que instruiu sobre a porta, pergunta se você está passando bem. E você tem uma vontade incontrolável de perguntar se essa porta, caso abrisse, nos levaria a um mundo melhor. De mais tolerância, respeito, inclusão, acessibilidade, acolhimento. E ao aterrissar você liga para a mãe dos seus filhos para perguntar o placar do jogo. Com voz doce e suave, ela responde que seu arquirrival foi o vencedor. Então você diz que a ama, que a admira profundamente e que já está com saudade. E antes de desligar você houve ela dizer: “endoidou de vez”. E você sabe que, mais uma vez, ela tem razão. Feliz dia das mães às superpoderosas!

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Nossa Senhora da Penha, a joia das nossas igrejas (maio/2016)

Neste nosso Arruando pelo Recife, vamos através do bairro de São José, em busca da Praça do Mercado, buscando uma visita à Basílica de Nossa Senhora da Penha de França, uma das joias de nossa arquitetura religiosa, recentemente restaurada pelos frades capuchinhos, sob a direção do frei Luís de França Fernandes. Construída entre 1869 e 1882 pelos capuchinhos franceses, instalados naquele local desde o ano de 1656, quando ergueram seu primitivo hospício, o suntuoso templo desperta as atenções de todos que se dirigem ao bairro singular do Recife. Sendo a única igreja da capital pernambucana em estilo coríntio, a basílica foi construída em forma de cruz latina, obedecendo a projeto arquitetônico do frei Francesco de Vicenza, entre 1869 e 1882, guardando uma certa semelhança com a Basílica de Santa Maria Maior, de Roma. As portas principais são entalhadas em madeira, com cenas bíblicas, apresentando seu frontispício dez imagens de santos esculpidas em mármore em tamanho natural. O conjunto possui duas torres finas laterais (40 m de altura) que ladeiam uma torre central (zimbório) sobre o qual se encontra uma imagem de Nossa Senhora da Penha, em bronze dourado e tamanho natural, dominando todo conjunto. Trata-se do maior templo do Recife (65,70 m de comprimento por 28,40 m de largura), distribuído em três naves sustentadas por grossas colunas de mármore italiano, que exibem sob sua cúpula central, nos ângulos destacam-se entre as arcadas, preciosos afrescos, únicos existentes no Brasil, pintados pelo artista Murillo La Greca (1899-1985), representando os evangelistas Marcos, Mateus, Lucas e João. Murillo La Greca, nascido Vicente La Greca, nasceu na cidade pernambucana de Palmares, em 1899, tendo falecido no Recife, em 5 de julho de 1985. Começou suas lições de pintura no Colégio Salesiano do Recife, seguindo depois, aos 18 anos, para o Rio de Janeiro e finalmente Roma. Voltando ao Brasil em 1926, veio consagrar-se como grande artista, ao conquistar vários prêmios no Salão Oficial de Belas Artes (1927) e a dividir atelier com Cândido Portinari. Já casado com a artista Sílvia Decusati (1936), depois de uma temporada na Itália, volta ao Recife para pintar os afrescos da Basílica de Nossa Senhora da Penha, representando os quadros evangelistas (3 metros altura), trabalho que concluiu em 1946 com auxílio de sua mulher. Continuando a nossa visita à Basílica de Nossa Senhora da Penha, extasiados diante do colorido do seu interior; mais parecendo-se com um imenso cenário pintado diante dos nossos olhos do que mesmo uma obra de arquitetura. Destaque especial para o conjunto de colunas em mármore a separar as três naves do templo, as pinturas do teto, detalhes aplicados ao coro e aos dois púlpitos, colunatas e altar-mor, com a escultura da padroeiras rica em detalhes, centralizando às atenções juntamente com a urna do Santíssimo Sacramento e as capelas laterais. Nos altares laterais, destaca-se o de Santo Urbano com sua imagem relicário contendo ossos, dentes e sangue do mártir, trazida de Roma em 1793. Na Basílica da Penha, chama a nossa atenção o túmulo do 17º bispo de Olinda, frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, nascido em També (1844) e falecido em Paris (1878), figura central da Questão Religiosa. Cumprindo determinações do Vaticano, Dom Vital interditou algumas irmandades do Recife que mantinham maçons em seus quadros. A questão com a maçonaria tomou vulto e, por desobediência às ordens do imperador, veio ele a ser preso em 2 de janeiro de 1874. Condenado a quatro anos de trabalhos forçados pelo Supremo Tribunal de Justiça, em 21 de setembro, é, porém, anistiado em 17 de setembro do ano seguinte. Seu mausoléu, projetado pelo arquiteto Giácomo Palumbo e esculpido por João Bereta de Carrara, foi inaugurado em 4 de julho de 1937. Trata-se de uma visita obrigatória para todos os que visitam a cidade do Recife, visto tratar-se de um dos mais belos templos católicos do território nacional.

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Festivais: um aporte necessário (por Romildo Moreira)

Ao longo da história das artes cênicas no Brasil, com mais evidência nas linguagens de teatro e dança, os festivais têm contribuído de maneira impar com o desenvolvimento dessas linguagens, nas cidades onde eles acontecem, tanto por contribuir de mil maneiras com os artistas locais, quanto por elevar o nível intelectual do público que os assistem. Aos artistas, fica a solida troca de experiências com os participantes de um evento desta magnitude (seja pelo conhecimento que adquirem no contato com as obras, seja pela participação enriquecedora em oficinas, debates, palestras, etc.), e ao público, fica uma programação de lazer cultural de qualidade comprovada à sua disposição. E isso não é pouco! Uma das grandes questões da produção cênica nacional recai em dois eixos interligados que são: a vida útil de um espetáculo e a sua circulação após a temporada inaugural. – Com recursos cada vez mais escassos, grupos, companhias e artistas independentes preferem utilizá-los na criação de novos espetáculos, que jogar-se na melindrosa aventura de viajar país a fora sem a garantia de passagens e estadias independentes da arrecadação de bilheteria. Aventura de risco também é promover uma nova temporada na cidade de origem, sem contar com um patrocinador para garantir os custos de manter um espetáculo em cena. E assim, quando as condições não favorecem uma circulação, os espetáculos limitam a sua existência a primeira e única temporada. – É aqui que surgem, como “salva guarda” das produções país a fora, os cada vez mais oportunos Festivais de Teatro e Dança, favorecendo aos espetáculos contemplados o alongamento de suas existências, com o requinte de dialogar com outras plateias. E Pernambuco é bem servido de festivais, a exemplo do Festival de Inverno de Garanhuns e do Festival de Teatro do Agreste, em Caruaru, só para citar dois já notórios no calendário cultural pernambucano, entre tantos outros que possibilitam uma circulação de espetáculo, nacionais e estrangeiros, com grande teor artístico em nosso estado. Com relação ao Recife, o ano praticamente inicia com a realização do Festival Janeiro de Grandes Espetáculos, um dos mais antigos com seus vinte e dois anos ininterruptos de existência e resistência, tendo na sequência outros como o Festival de Dança do Recife e o Festival Recife do Teatro Nacional. Todos esses com vasta folha de bons serviços prestados ao movimento local das artes cênicas. E constantemente surgem novos como o TREMA! Festival de Teatro, que encontra-se em pleno exercício até o próximo dia 8 de maio (vide sugestões abaixo). Em sua 4ª edição, o TREMA! Tem um recorte bem específico no tipo de produção que agenda em sua grade, priorizando os espetáculos criados por Coletivos, em sua maioria, advindos de pesquisas aprofundadas nas temáticas abordadas, e que potencializam controvérsias, elevando o festival a uma categoria especial por não repetir formatos viciados nos eventos que são abarrotados de astros e estrelas. No TREMA!, quem brilha mais é o espetáculo, com reflexo nas mentes e corações da plateia, estendendo o assunto tratado em palco por muito tempo em bares, lares e demais espaços de encontros, após o fechar das cortinas, como ocorreu com a apresentação no Teatro de Santa Isabel do “Quem tem medo de travesti”. E isso, pela ótica da arte, é o melhor resultado que pode alcançar uma criação cênica. Que bom que vocês exixtem, Festivais! DICAS DE ESPETÁCULOS: “Conselho de Classe”, com a Cia. dos Atores (RJ) Local: Centro Cultural da Caixa, no Bairro do Recife. Dias: sexta, 06/05 e sábado, 07/05, às 20H. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00. Informações: 3425-1915 Festival TREMA! “Vento forte para água e sabão”, espetáculo para a infância e juventude com a Cia. Fiandeiros (PE). Local: Teatro Hermilo Borba Filho, no Bairro do Recife. Dias: Sábado, 07/05 e domingo, 08/05, às 16h. Preço único: R$ 5,00 Informações: 33553319 / 33553320 *Por Romildo Moreira – ator, autor e diretor de teatro

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Teatro em tempos de crise (por Romildo Moreira)

“Ai a crise, ai a carestia!” – Vive dizendo o personagem Eurico, da peça O Santo e a Porca, do mestre da dramaturgia brasileira, Ariano Suassuna. Ariano escreveu esta comédia há 58 anos atrás. Mesmo considerando que “os tempos eram outros”, a frase hoje se põe atual, porque no teatro, uma crise se acaba para dar início a outra. Falo de crise econômica. Desta forma, não recordo ter vivenciado um período de fartura de patrocínio para as produções teatrais. Mas lembro dos canais de recursos que existiam para impulsionar montagens por todo o Brasil, através do Projeto Auxílio Montagem, expedido pelo Ministério da Cultura, em parceria com os governos estaduais. Isso nas décadas de 1970/1980. E lembro ainda os espaços bem equipados e conservados à nossa disposição, até pouco tempo atrás. Também nesta época era comum encontrar apoiadores (médios e pequenos empresários) para as montagens locais dos grupos mais notórios ou personalidades do teatro pernambucano, o que aliviava, mas não eliminava à crise financeira no teatro de então. – Com o advento das leis de incentivo, e com o passar do tempo, percebeu-se que “a crise” não passara com este moderno e democrático mecanismo de patrocínio, comparado o número dos que aprovam e conseguem executar seus projetos, com os que não conseguem o mesmo intento. E os apoios particulares de outrora, sumiram. Atualmente, quem se aventurou em busca de patrocínios em empresas privadas nos últimos 18 meses, Como é o caso do espetáculo Angelicus, sentiu de perto as intempéries do momento econômico do país, e recordou o chavão do Eurico de Ariano: Ai a crise, ai a carestia! Pois bem, em tempos de crise em todos os setores produtivos da sociedade, obviamente o artístico é o mais penalizado, e provavelmente entre às artes, o segmento cênico (teatro, dança, circo e ópera) seja o que mais sofre com a recessão. Fazer teatro é caro, visto que se trata de uma arte coletiva, que necessita de profissionais de vários setores para se concretizar uma montagem, que por sua vez necessita de público pagante para custear as despesas e, com crise, o público já escasso normalmente, reduz drasticamente a ida ao teatro. É aí que entra o papel do poder público, através dos seus órgãos de cultura, cumprir o que determina a Constituição Brasileira, no que se refere à cultura. – Porém, é corrente ouvir-se nos gabinetes de cultura, em todas as esferas, que: Com crise, não dá para reduzir gastos da saúde, da educação e da segurança… – O resto da frase, se sabe bem qual é. O bom senso advoga que, uma sociedade culturalmente elevada e intelectualmente evoluída, em geral, tem uma saúde mais equilibrada, um compromisso constante com a qualidade da educação (inclusive a doméstica) e, por conseguinte, uma segurança mais eficaz, visto que as agressões físicas e morais são reduzidas a casos perdidos. E sendo a arte, de modo geral, um instrumento de elevação cultural de uma sociedade, o teatro, em especial, alavanca o intelecto a níveis surpreendentes. Falo aqui de um teatro que vale a pena o poder público subsidiar, porque a pratica, hoje, dos espetáculos bancados pelo próprio mercado, não alcançam esse patamar de resultado, por opção. – Sendo este o quadro visível a olho nu, precisamos, com urgência, rediscutir o papel e a prática das leis de incentivo, assim como a função do Estado na produção cultural e, com diálogo franco, reconquistar outros mecanismos de incentivo público à produção artística, antes que a mediocridade seja um legado cultural para o nosso povo. No caso específico do Recife, é preciso correr contra o tempo já perdido, em busca de um futuro promissor, para que não figure em nossa história recente apenas lamentos como: fomos o terceiro polo de produção teatral do Brasil; tivemos um dos melhores festivais de teatro e de dança do país; fizemos a melhor montagem de Garcia Lorca fora da Espanha, reconhecido pelo governo espanhol, etc., etc. – Só para lembrar, hoje na capital pernambucana existe uma nova geração preparada para essa necessária retomada do crescimento artístico e intelectual da cidade, a exemplo do que ocorre com o cinema, aguardando as oportunidades surgirem. E essas oportunidades dependem do entendimento que os gestores públicos têm do significado da cultura pernambucana no cenário nacional e da cidade do Recife que é, por natureza, um celeiro de grandes artistas (do passado e do presente) que hoje, infelizmente, entoa a cantilena do texto de Ariano “Ai a crise, ai a carestia!”. Por Romildo Moreira – ator, autor e diretor de teatro

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