Em busca de soluções para a Conde da Boa Vista

Durante a campanha eleitoral pela Prefeitura do Recife, Geraldo Júlio prometeu um novo projeto para a Avenida Conde da Boa Vista. A via, que é um dos principais corredores de ônibus da cidade, há anos se arrasta numa condição de degradação. Engarrafada e suja, ela desagrada motoristas, ciclistas e pedestres. A operação do BRT na região é uma das mudanças, que já está sendo estudada pela Secretaria Estadual das Cidades. Outro trabalho, desenvolvido em parceria entre a Prefeitura e a Unicap, que deve influenciar essa mudança, é o Plano Centro Cidadão, que está realizando pesquisas sobre mobilidade e espaços públicos.

O prefeito do Recife falou ainda enquanto candidato que a intervenção na avenida, para tirá-la da situação de “improviso”, irá reduzir o tempo das viagens em um terço, além de qualificar as paradas de ônibus. Ele prometeu também melhorar as calçadas e travessias para garantir um melhor deslocamento e maior segurança para os pedestres. O escopo da nova Avenida Conde da Boa Vista, que está sob a responsabilidade da Emlurb, deverá sair no primeiro semestre de 2017.

Um estudo que poderá sinalizar as alternativas que o poder público terá para reorganizar o transporte público foi realizada sob a coordenação do professor Maurício Pina da UFPE, em parceria com 41 profissionais da Secretaria das Cidades, Detran-PE, Grande Recife, Urbana e da própria universidade. Trata-se de uma pesquisa origem e destino dos passageiros que circulam na região. Ela servirá de base para planejar o sistema de BRTs – que atualmente atravessam a avenida sem paradas.

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Uma das principais conclusões do estudo é que essas paradas são necessárias. Dos 34.215 passageiros pesquisados das linhas que circulam pela avenida, 34,9% subiam ou desciam dos ônibus na via. Em algumas delas o índice superava os 80%. “A Conde da Boa Vista tem uma capacidade de atrair pessoas. Os grandes atrativos são o comércio de rua e o shopping, além da vasta oferta de cursinhos preparatórios, faculdades e universidades”, avalia Pina.

Segundo o professor, havia algumas sugestões de retirar os ônibus comuns da via, para deixá-la exclusiva para o BRT. As paradas poderiam ser deslocadas para a Av. Mário Melo, por exemplo. Outra proposta era integrar as linhas com o BRT antes de entrarem na Conde da Boa Vista. Duas alternativas equivocadas na opinião de Pina. “Se o interesse das pessoas é pela Conde da Boa Vista não poderíamos deslocá-las para a Av. Mário Melo, que fica a quatro quarteirões longos de distância. O transtorno seria muito grande. Temos que encontrar uma maneira de fazer o BRT conviver com a maioria dessas linhas tradicionais. Tenho dito que só temos uma bala na agulha. Não podemos errar de novo. A população já sofreu demais”.

Outra descoberta da pesquisa é a capacidade de integração da avenida. Ao todo são 71 linhas que circulam na Conde da Boa Vista. Dessas, 23 são bacurau e duas são de BRT. Coletivos de toda região metropolitana circulam pela avenida, como Piedade e Candeias (de Jaboatão), Maranguape (de Paulista), Rio Doce (de Olinda), Igarassu, Abreu e Lima, São Lourenço, entre outros.
“As pessoas associam muito a Conde da Boa Vista com o corredor Leste-Oeste, pois é uma continuação natural da Av. Caxangá e da rua do Benfica, mas circulam linhas de toda Região Metropolitana do Recife. Muitas do lado norte, sul, oeste. Nenhum outro corredor tem essa característica. Em uma pesquisa anterior que fizemos no mesmo local, identificamos que 22% das pessoas que desembarcam na Conde da Boa Vista têm como objetivo a baldeação (seguir para outros ônibus na mesma via)”, salienta Maurício Pina.

PEDESTRES. Para a arquiteta e professora da Unicap, Clarissa Duarte, a Conde da Boa Vista é a prova “viva” de que o planejamento do espaço público da nossa cidade é desintegrado e ineficiente. “Continua-se insistindo em se fazer investimentos para o transporte público sem se considerar as tantas melhorias necessárias para a vida e fluxo dos ‘cidadãos não motorizados’. É insustentável e inadmissível continuar investindo milhões em pavimentação viária (para veículos motorizados) e ignorar a importância das travessias, das calçadas e ciclorrotas seguras e confortáveis”.
Localizada a três quarteirões da avenida, a Unicap é parceira da PCR na construção do Plano Centro Cidadão, que se propõe a ser um projeto inovador de pesquisa urbanística sobre o Centro Expandido Continental da cidade. Na lista de melhorias que a rua precisa passar, traçada pela especialista, estão o embutimento e ordenamento da iluminação pública, o incentivo à arborização adequada e a espaços de estar, a adequação do comércio popular, a valorização e dinamização do patrimônio construído.

A arquiteta avalia que o recente redesenho da Conde da Boa Vista buscou priorizar apenas a fluidez do transporte coletivo, desconsiderando a dinâmica da vida local do bairro. “Para que o estímulo ao uso do transporte coletivo continue sendo uma política importante é fundamental considerar que 100% dos usuários desse tipo de transporte é pedestre e, ainda, que não se chega de paraquedas na parada de ônibus e não se pode sair de foguete. Planejar um eixo principal de transporte público significa, obrigatoriamente, considerar todas as vias que a alimentam”. Para isso, ela defende o planejamento das diversas ruas que articulam as pessoas a esses eixos estratégicos. “Pensar de forma sistêmica é pensar sustentavelmente; é transformar as deseconomias históricas do nosso planejamento em um grande investimento para o agora e o amanhã da cidade do Recife”, diz Clarissa Duarte.

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