A queda na formação de novos profissionais já impacta o mercado de trabalho
O Brasil enfrenta um preocupante déficit de engenheiros, com a Confederação Nacional da Indústria (CNI) apontando uma falta de 75 mil profissionais no ano de 2023. Essa carência se reflete em uma análise dos processos seletivos para estágios, realizada pela Companhia de Estágios. Entre 2022 e 2024, as vagas de estágio para engenheiros aumentaram em 10%, enquanto o número de candidatos caiu 24%. Jéssica Gondim, Gerente de Projetos da Companhia, observa que “essa discrepância entre o aumento das vagas e a diminuição do número de candidatos é um reflexo da falta de interesse pela carreira”.
Além da escassez de candidatos, o cenário é agravado pela percepção de baixos salários iniciais e pela dificuldade de ingresso no mercado. Muitos engenheiros enfrentam desafios para se estabelecer na profissão, resultando em um cenário em que alguns acabam atuando em áreas que não exigem formação superior, como transporte por aplicativos. Essa situação desmotiva novos talentos a ingressar na Engenharia, levando a uma relação de 36 candidatos por vaga na área, comparado à média geral de 135 candidatos em outras formações.
Diante desse panorama, as empresas têm adotado estratégias para mitigar o déficit de engenheiros. A contratação e formação de estagiários é uma das principais alternativas. “É mais eficaz contratar jovens talentos, apoiar sua formação técnica e teórica, e retê-los após a formação, do que buscar profissionais prontos que podem não ter o alinhamento necessário com a cultura da empresa”, afirma Gondim. Além disso, as organizações têm ampliado os requisitos de seleção, aceitando estudantes de outras áreas, como Economia e Administração, para atender à crescente demanda por profissionais qualificados.
Com a Engenharia de Produção, Engenharia Mecânica e Engenharia Elétrica permanecendo como os cursos mais requisitados, a escassez em áreas como Engenharia Civil e Engenharia Elétrica gera preocupações adicionais. O desinteresse pela Engenharia está ligado à percepção de poucas perspectivas de crescimento, especialmente para aqueles que estão começando suas carreiras. Portanto, é fundamental valorizar essa área e melhorar as condições de ingresso e avanço profissional, uma vez que os engenheiros desempenham um papel crucial no desenvolvimento econômico e tecnológico do Brasil.