O dedicado esforço de médicos, pesquisadores e professores envolvidos no estudo e na promoção do uso medicinal da Cannabis sativa estará em destaque na 1ª Jornada Regional da Cannabis Medicinal Norte-Nordeste (JRCMed), que se inicia nesta sexta-feira (8) e se estende até o sábado, 9, no Mar Hotel, localizado em Boa Viagem, Zona Sul da capital pernambucana. Recife foi escolhida como cidade sede no Nordeste devido à sua posição como um dos principais polos médicos do país, além de ser um centro destacado para pesquisas médicas. A Jornada representa o primeiro enfoque regional da Conferência Internacional da Cannabis Medicinal (CICMed), realizada em São Paulo no ano de 2022. Este ano, o evento tem como propósito desmitificar a planta conhecida como maconha, que, ainda para a maioria das pessoas, é percebida apenas como uma substância ilícita.
“Convidamos dez palestrantes especialistas que, em 22 palestras, irão diminuir o preconceito e mostrar a diferença do uso medicinal para o uso recreativo, hedônico ou adulto, da planta”, explica o presidente da Jornada, o médico Hélio Mororó, professor de Medicina da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Para Hélio Mororó, é preciso esclarecer a sociedade sobre as propriedades da maconha para tratar dores intensas e até doenças raras. “A cannabis, por si só, já é uma farmácia completa. Não podemos deixar de usar um recurso natural, fitoterápico, uma ferramenta de tratamento complementar que tem ajudado milhares de pessoas, em todo o mundo, a enfrentar doenças”, reforça o médico.
O ESTÍMULO AO USO FITOTERÁPICO
Entre as diversas condições tratáveis com medicamentos à base de Cannabis Medicinal, Hélio Mororó destaca o câncer, Alzheimer, Parkinson, autismo, epilepsia, fibromialgia e doenças autoimunes. Contudo, a aplicação desses tratamentos enfrenta desafios, como a falta de conhecimento por parte da maioria dos profissionais de saúde sobre os benefícios do óleo de canabidiol. Na odontologia, por exemplo, os cirurgiões-dentistas já estabeleceram uma parceria de longa data com médicos que recomendam esse fitofármaco. “A Cannabis é fantástica também na odontologia, desde a prevenção de cáries, de gengivite e na síndrome da boca ardente, além das dores orofaciais que podem não ter origem odontológica”, pontua o professor Hélio Mororó. Inclusive, a temática será abordada na aula proferida pelo professor Guilherme Martins (DF).
“Os custos são elevados. Nas farmácias brasileiras existem 25 produtos, mas é preciso ter atenção e responsabilidade, porque somente os médicos, inclusive os veterinários, e os dentistas têm suas prescrições autorizadas. E, para cada paciente, a quantidade é específica, mediante acompanhamento médico”, pontua Freire. Ele acrescenta que no Brasil só existem três associações autorizadas a elaborar os fitofármacos a partir da planta e vender os medicamentos: a Aliança Medicinal, em Pernambuco; a Associação de Cannabis Medicinal de Santa Catarina (Santa Cannabis) e a Abrace, na Paraíba, pioneira no Brasil. Nestas associações, o preço é bem mais baixo do que nas farmácias.
Outros desafios discutidos pelos representantes da Comissão de Direito da Cannabis Medicinal da Ordem dos Advogados do Brasil em Pernambuco (CDCM/OAB-PE), que presta assessoria a pacientes e profissionais da saúde, incluem a necessidade de expandir o debate sobre o uso medicinal junto ao Poder Judiciário. Robson Freire, secretário-geral da Comissão, destaca a importância de ampliar o conhecimento e o diálogo em prol de salvar vidas. Nesse contexto, a Comissão atua fornecendo suporte a pacientes e médicos, facilitando, por exemplo, o processo de importação de medicamentos geralmente produzidos em países como Estados Unidos e Canadá.
Jornada para profissionais de saúde
Direcionada a profissionais e estudantes da área de saúde, a Jornada traz ao Recife diversas abordagens sobre o uso medicinal da Cannabis sativa. “Não apenas sobre pesquisas científicas, mas também legislação e a inclusão dos medicamentos à base do canabidiol no SUS, além das descobertas de novas aplicações da planta em terapias e tratamentos que poderão fazer a diferença na vida de muitos pacientes”, adianta o presidente da 1ª Jornada Regional da Cannabis Medicinal , professor Hélio Mororó.
Segundo ele, o conhecimento sobre as indicações de uso, baseadas na ciência, é importante para qualquer profissional que atua na saúde, mesmo os que não podem prescrever medicamentos à base de Cannabis. “Fomos acostumados a ver a Cannabis como uma droga ilícita e, por isso, muitos colegas ainda têm preconceitos por desconhecer o poder de cura da planta, graças aos seus princípios ativos”, observa.
O médico ressalta que a Cannabis sativa deve ser usada em formulações de grau farmacêutico por ser um medicamento como outros extraídos de uma planta. “Precisa ter todos os cuidados que se têm com um antibiótico, um anticoncepcional ou um antiviral, e o mesmo nível de qualidade”, esclarece.
Para Breno Luz, coordenador geral da 1ª Jornada Regional da Cannabis Medicinal Norte-Nordeste, e sócio fundador da EVENTMED, maior empresa de Eventos Científicos da Cannabis Medicinal das Américas e organizadora da CICMED – Conferência Internacional da Cannabis Medicinal, o encontro vai reunir “especialistas do país que agregarão conhecimento por meio da ciência e, acima de tudo, motivar novos prescritores”.