A insônia afeta o humor e a saúde de qualquer pessoa. Mas quando a dificuldade para dormir parte dos bebês ou crianças, as consequências atingem toda a família. Só quem é pai ou mãe sabe das invenções e estratégias para colocar os pequenos para a cama ou berço e que nem sempre dão resultados. Mas as noites em claro têm solução. Especialistas dão dicas comportamentais de como agir e alertam para possíveis problemas no organismo que podem influenciar no sono.
A jornalista Socorro Macedo é mãe de Théo, que tem um ano e sete meses. A dificuldade do filho de dormir, até pouco tempo, deixava toda família sonolenta durante o dia. “Ele acordava três vezes depois da meia-noite. Era muito ativo, brigava contra o sono. Quando a gente se dava conta já eram seis da manhã! Isso interferia em tudo na minha vida, era bastante cansativo”, lembra Socorro.
O sono só começou a ser regulado quando ela procurou o apoio de uma especialista que a orientou a organizar a rotina da criança. A receita para a mudança no comportamento de Théo passou pela inclusão de dois períodos de cochilo (uma pela manhã e um à tarde), a mudança do horário para dormir à noite e a repetição de alguns “truques” para o momento em que o pequeno acordava na madrugada. Entre eles, evitar tirá-lo do berço e repetir algumas frases para concentrá-lo a voltar a dormir. “Em um mês de aplicação das orientações já percebemos uma melhora significativa. Isso me deu outra vida”, conta Socorro, aliviada.
Os problemas para adormecer, na maioria das vezes, não têm relação com doenças. “Sono e alimentação fazem parte da educação da criança. A quase totalidade dos casos de problemas para dormir está relacionada à dinâmica familiar e distúrbios afetivo-emocionais”, afirma o neurocirurgião pediatra do Hospital Esperança, Arthur da Cunha. Ele lembra, no entanto, que existem casos pontuais de desconforto e irritabilidade que podem dificultar a criança de pegar no sono, como doenças das vias respiratórias.
Nos primeiros dias da vida dos bebês, as dificuldades de sono geralmente estão associadas à amamentação, na avaliação da pediatra Valéria Bezerra, do Real Hospital Português, em especial no primeiro mês. “O leite materno no começo não é suficiente para deixar a criança satisfeita por duas ou três horas. A fase de adaptação dessa alimentação é um período insone, porque não existe dia e não existe noite para os bebês”. A pediatra alerta ainda que os problemas familiares e o próprio estresse dos pais pode interferir no sono das crianças, mesmo nas primeiras semanas de vida. “A criança tem que ser vista sempre no contexto da família. A aflição da mãe pode contaminar o ambiente e deixar o bebê inquieto”, afirma.
Algumas dicas podem ser gerais para melhorar o soninho dos pequenos, mas não existe uma fórmula. Os especialistas fazem diagnósticos de cada criança para indicar que mudanças no comportamento podem garantir noites mais tranquilas. De acordo com Marcia Horbacio, que é doula, consultora do sono materno-infantil e integrante do corpo docente do International Maternity and Parenting Institute da Califórnia, as orientações são personalizadas, já que cada criança tem a sua particularidade. “Levo em conta o ambiente do sono e pré-sono, a dinâmica da família, os comportamentos dos pais e as rotinas deles e da criança. Então, a dica que eu dou para um pode ser totalmente inadequada para outro. O ambiente que eu sugiro para uma criança pode ser diferente para outra”, distingue.
É no cotidiano do bebê ou da criança que estão os elementos facilitadores ou dificultadores para o relaxamento e conforto necessários para induzir ao sono. “Criança necessita de uma rotina. Aquelas que têm os horários de sono determinados por conveniências dos pais, ou dormem no mesmo ambiente deles, ou até mesmo na mesma cama, tendem a não dormir durante toda a noite”, afirma Arthur da Cunha. Ele recomenda que o filho permaneça no mesmo quarto dos pais até completar um ano, mas deve dormir no berço.
DOENÇA
O mapeamento dos possíveis problemas de saúde que interferem no sono acontece nas consultas mensais ao pediatra, de acordo com Valéria Bezerra. Entre os casos mais comuns estão o refluxo gastroesofágico, a apneia do sono, os problemas respiratórios e até neurológicos. “Muitas dessas doenças são praticamente assintomáticas. O choro mais constante e a dificuldade de sono poderão ser sinais a serem investigados pelo pediatra e em alguns casos pelo neuropediatra”.
A persistência da dificuldade de dormir, ao longo do crescimento da criança, pode trazer outros problemas relacionados, como irritabilidade, déficit de atenção e consequentemente queda no rendimento escolar. “Não podemos deixar de comentar os transtornos causados por dormir demasiado tarde quando temos que despertar cedo para ir à escola. O uso indiscriminado de televisão no quarto, celulares e tablets trazem desconforto, cansaço e baixo rendimento escolar nas crianças maiores. Vários estudos têm demonstrado o efeito excitatório prejudicial da iluminação desses aparelhos”, alerta o neurocirurgião.
*Por Rafael Dantas, repórter da Algomais