"Sou nordestino. Falo 'Ólinda' e não 'Ôlinda'"
Ao comemorar 40 anos como repórter da Globo, Francisco José, 71 anos, coleciona feitos como ter descoberto o Escândalo da Mandioca, ter realizado reportagens com os maiores índices de audiência no Globo Repórter e ficar 40 dias vivendo como índio numa aldeia. Nesta entrevista ele conta sua trajetória como jornalista, que teve momentos hilários como o início do seu trabalho na TV. Você nasceu no Crato e quando veio para o Recife? Meu pai morreu quando eu tinha 7 anos de idade . Ele era um coronelzão do Sertão, era o Chico de Brito, tinha muitos filhos. Há muita história de cordel sobre ele. Minha mãe se casou com um senhor daqui do Recife três anos depois e me mudei para cá e fiquei até hoje. Cheguei aqui com 11 anos e estou com 71. Então sua infância foi mais no Recife? Foi. Primeiro viemos morar no bairro das Graças, e depois meu pai tinha uma empresa de vidros em Areias, onde moramos um tempo por lá, e o restante do tempo em Boa Viagem. Na época da minha adolescência eu nadava no mar de Boa Viagem até perder de vista, sem problema com tubarão (risos). Como foi o início da sua carreira profissional? Não tinha o curso de jornalismo quando entrei no jornal. Entrei no jornal por acaso, aos 20 anos, através de Aramis Trindade que era o editor de esporte do vespertino da empresa Jornal do Commercio, que era o Diário da Noite, e tinha um caderno esportivo. Eu era fanático por futebol até hoje acompanho bem o futebol, gosto de assistir aos jogos do Barcelona, dos times bons. Eu anotava tudo no caderno. Eu anotava as estatísticas do campeonato. Percebi que no jornal tinha 32 erros e fiz uma carta ao jornal, dizendo que aquilo era um absurdo, estavam enganando o leitor. Havia uma resenha esportiva da rádio Jornal do Commercio e Aramis convidou o leitor que havia corrigido a estatística e fiquei fazendo a estatística para eles. Um dia faltou um repórter e eu comecei a fazer reportagens. Com seis meses ganhei um concurso para ir para a Copa do Mundo e com mais seis meses ele saiu para ficar apenas no escritório de advocacia dele e me indicou para substituí-lo como editor de esportes. Por causa da crise o vespertino fechou e eu passei para o Jornal do Commercio, onde meu professor era o Ronildo Maia Leite, que é pai do Iuri (diretor da TV Globo Nordeste), e para mim quem tem um professor como aquele não precisa de faculdade. E só 10 anos depois é que surgiu o curso de comunicação eu já era presidente da Associação Brasileira de Cronistas Esportivos (Abrace). Muita gente que trabalhava comigo foi ser professor. Aí eu cheguei a conclusão que eu não ia aprender muito na faculdade e fui estudar direito na Universidade Católica. E onde trabalhava antes do jornal? Trabalhava com meu pai na empresa de vidro, não tinha nem carteira assinada. Na verdade, o padrasto que se tornou meu pai, porque foi ele quem me criou. Você tem quantos irmãos? Ao todo são 14. Tenho 39 sobrinhos. Quando se reúnem todos numa casinha que a gente tem em Porto de Galinhas é uma esculhambação (risos). Como começou seu interesse por futebol? Começou com a rivalidade de irmãos. Só eu torcia pelo Náutico, os outros todos pelo Sport. E aí era uma rivalidade. Meu pai também era Sport, me levava pro campo pra assistir ao jogo do Sport. Eu ficava lá querendo torcer pelo Náutico sem poder (risos). O fato de ter um time de botão que era do Náutico tinha muito a ver. E sua passagem na publicidade? Saí do Jornal do Commercio porque entrou num processo de falência. Quem me formou na publicidade foi o Queiroz (Severino), assim como Ronildo Maia Leite foi importante para eu me formar em jornalista, o Queiroz me formou como publicitário. Na Abaeté (agência) trabalhei de 1970 a 1973. Eu passei a me destacar sendo contato do Banorte, que na época era uma potência. Daí o Banorte falou com a Abaeté para me levar para lá. Aceitei o convite e fiz especialização em marketing bancário pela Fundação Getúlio Vargas, na Universidade de Michigan. E na Globo começou na área de esportes? Entrei na Globo em 1º de janeiro de 1976. Fui contratado pela Globo para ser apresentador do Globo Esporte que estava chegando na Rede Globo Nordeste. Aí Armando Nogueira que tinha me visto trabalhando nas pautas pelo show disse: contrata o Chico José porque esse aí tem experiência para trabalhar. Só que eu não tinha experiência nenhuma de televisão, nunca tinha trabalhado nem em rádio. Foi dramático meu primeiro dia na Globo (risos), porque quando me chamaram disseram: “você vai ter que vir aqui na quarta-feira de qualquer maneira. Estamos esperando você às 4 da tarde no Morro do Peludo”. Eu fui, acertei, passei a ganhar 50% a menos do que eu ganhava no Banorte, onde eu era gerente de marketing. Na época o banco pagava bem. Fui casado duas vezes, a primeira com Socorro, com quem tive duas filhas, e depois Beatriz (Castro), nós temos uma filha. A minha primeira mulher odiou essa história de ir pra Globo e ganhar metade do salário. Achava que jornalismo não dava futuro pra ninguém. E o que o motivou a ir para Globo? Eu queria voltar a ser jornalista. Eu estava no Banorte pelo salário, mas eu não era bancário, não conseguia me realizar com aquilo ali, então eu queria voltar a ser jornalista e na Globo era uma grande oportunidade. Bem eu acertei, ia ganhar menos, e aí perguntei: quando é que eu vou começar, me responderam: “hoje!”. Eu disse: hoje, às 5 da tarde, fazendo o quê? Disseram: “você vai narrar o jogo Santa Cruz e São Paulo”. Eu disse: mas este jogo é no Morumbi e eles responderam que eu gravaria em off-tube. Aí perguntei: o que é off-tube? E explicaram: “dentro de uma cabine e quando
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