Com 92 anos, Reynaldo Fonseca mantém, até hoje, a rotina de pintar todos os dias. Acorda por volta das 7h30, toma café da manhã e religiosamente sobe para o ateliê, na cobertura de seu apartamento em Boa Viagem, onde se entrega ao processo criativo até o meio-dia. No intervalo, almoça e descansa um pouco; depois volta a trabalhar até as 17h. À noite não pinta. Gosta de passar o tempo se dedicando aos estudos dos próximos quadros. Uma revista francesa que assina há 20 anos é uma de suas fontes de inspiração, a qual ele usa para fazer recortes, observar movimentos, posições, cores, formatos e se atualizar sobre o que se anda fazendo em Paris e mundo afora. O segredo: uma paixão inexplicável pelo que faz. Este ano, Reynaldo comemora 75 anos de carreira artística. O grande marco dessa trajetória vem em forma de álbum com dez gravuras selecionadas pelo marchand Sergio Oliveira, sendo quatro delas parte do acervo pessoal do artista plástico pernambucano. O coquetel de lançamento do álbum será no próximo dia 29 de abril, a partir das 10h, na Arte Maior Galeria.
O pintor, muralista e ilustrador Reynaldo Fonseca desenha desde os 5 ou 6 anos de idade. Como ele mesmo conta, naquela época sua mãe fazia questão de guardar os desenhos, achava-os mais interessantes do que os das crianças em geral. Ali já se revelava um grande artista. Precocemente, ingressou aos 11 anos como aluno ouvinte na Escola de Belas Artes de Pernambuco, onde mais tarde estudou e virou professor. Em 1943 realizou a sua primeira exposição individual, no Saguão do Grande Hotel no Recife. Em 1944 foi morar no Rio de Janeiro e participou do Salão Nacional de Belas Artes. Um dos momentos mais importantes da temporada em que passou no Rio foi ter conhecido o mestre Portinari.
“Lá no Rio, eu fui levar uma carta de apresentação de Aluísio Magalhães para Portinari e ele me recebeu muito bem em sua casa. Eu tinha uma prima que morava pertinho e de vez em quando eu o visitava. Levava meus quadros e ele fazia comentários. Aprendi muito com Portinari, ele me mostrou os melhores materiais de pintura, técnicas e me ensinou como lavar pincel”, lembra. Reynaldo Fonseca conta, ainda, que viajou para Europa com seu amigo Augusto Reynaldo, em 1948, quando conheceu o Museu do Louvre, em Paris, um dos maiores e mais famosos do mundo: “Fomos ao Louvre, vimos aqueles quadros maravilhosos. Foi ótimo porque eram dois pintores e, portanto, o interesse era o mesmo. Era museu o dia todo”.
Com o tempo, o estilo singular e facilmente identificado pelos apreciadores de arte foi se desenvolvendo. O artista começou a pintar em aquarela, mas logo em seguida passou a pintar com bico de pena (nanquim), pincel seco e óleo sobre tela, sendo essa última técnica a que mais gosta de usar em suas obras. “Eu comecei a pintar com aquarela, hoje faz muito tempo que não uso essa técnica. Depois trabalhei muito com nanquim, inclusive tenho um álbum com uma série de desenhos a bico de pena. O pincel seco eu também já utilizei, é a tinta seca sem diluir. O problema é que não pode errar, não apaga. Já com óleo sobre tela eu posso apagar, pintar por cima, modificar. É a técnica que uso hoje”, explica Reynaldo.
Primeiramente o artista rabisca o desenho no papel com caneta esferográfica, já na proporção que pode ser aumentada em cinco vezes. Depois vai dando forma ao desenho e passando para a tela. Ele define sua obra como uma pintura figurativa, inspirada em grandes artistas renascentistas como Leonardo Da Vinci e Michelangelo Buonarroti. “Eu gosto de pintar essas figuras, com movimento, seleção de cores mais escuras. O tempo que levo para terminar um quadro depende muito do tamanho e do próprio movimento. Às vezes é uma mão que é difícil de fazer, ai eu pinto, apago, não gosto, faço de novo, e assim acontece”, conta Reynaldo revelando que não gosta de assinar os quadros, só na parte de trás, e que as obras que mais gosta são as que possuem uma maior quantidade de figuras.
O artista deixa um recado para a nova geração de produtores de arte: “O segredo de chegar aos 92 anos pintando, todos os dias, é a paixão. Tem pessoas que têm paixão por música e passam o dia tocando. No meu caso é pintura e eu também passo o tempo desenhando, fazendo estudos para os próximos trabalhos”. Reynaldo é caseiro e só sai de casa quando necessário. Quando perguntado o motivo, responde: “Eu não gosto de sair de casa porque gosto de pintar, me sinto bem pintando. Então, mesmo quando ainda não tinha dificuldades de locomoção, eu não me interessava tanto em sair quanto me interesso por trabalhar. Mas quando menino gostava muito de vir para a casa do meu irmão mais velho, aqui em Boa Viagem, para tomar banho de mar. Nadava bem, mergulhava”, rememora.
O álbum de gravuras que será lançado pela Arte Maior Galeria tem tiragem limitada a 100 exemplares. As dez gravuras são das décadas de 70, 90 e 2000 e foram impressas em papel Markatto, 320 gramas, com medidas de 47 cm x 66 cm. Todas assinadas pelo artista. “É sempre agradável receber um convite como esse de Sergio Oliveira. Fico muito feliz com o lançamento do álbum de gravuras, pois mais pessoas vão ter acesso aos meus quadros. O álbum completo será vendido por R$ 18 mil e as gravuras individuais, com moldura especial, serão vendidas por R$ 2.700.
“A técnica de impressão é conhecida como Fine Arts com serigrafia. As gravuras do álbum foram feitas a partir de uma seleção de obras de Reynaldo, considerando ano, tipo e quadros com várias figuras, duas e até apenas uma. Um conjunto que representa a obra de Reynaldo. Temos a expectativa de grande interesse do público por ser o primeiro álbum de Reynaldo neste estilo e por ter um preço atrativo para quem deseja ter uma obra do artista, comparando com os preços dos originais que são, em média, R$ 40 mil. No dia do evento também teremos alguns quadros originais de Reynaldo para vender, cujos preços variam entre R$ 15 mil e R$ 90 mil”, ressalta Sergio Oliveira, curador, marchand e perito em arte, da Arte Maior Galeria.
SERVIÇO
Coquetel de lançamento de álbum de gravuras de Reynaldo Fonseca
Data: 29 de abril (sábado)
Horário: 10h
Local: Arte Maior Galeria, Avenida Domingos Ferreira, Boa Viagem, Recife Trade Center.
Site: www.artemaior.com.br
Telefone: (81) 3301-4354