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Bolos de Noiva, Rolo e Souza Leão podem ser contemplados com projeto de Indicação Geográfica da Adepe e do Sebrae

Iniciativa busca fortalecer 13 produtos tradicionais em todo Estado. Bolos pernambucanos são iguarias emblemáticas que refletem influências culturais e históricas que enriquecem o patrimônio gastronômico do estado (Da Adepe) O Bolo de Noiva, o Bolo de Rolo e o Bolo Souza Leão compõem a tríade dos bolos tradicionais e que fazem parte da identidade dos pernambucanos. Agora, uma parceria entre o Governo de Pernambuco, através da Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe) e o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (Sebrae/PE), buscará trazer ainda mais notoriedade para esses e outros ícones da cultura pernambucana. Juntas, as instituições irão desenvolver um projeto para propor o reconhecimento de 13 Indicações Geográficas (IGs) para o estado com aporte de R$ 2,9 milhões que será rateado pelas duas instituições. O Bolo de Noiva tem potencial para reconhecimento devido a suas características históricas e culturais singulares, que o tornaram um ícone da doçaria pernambucana. Este bolo tem suas raízes na influência britânica trazida pela colônia inglesa, que se estabeleceu no Recife durante o século XIX, em parte impulsionada pela presença da The British Railway Company. Originalmente inspirado nos bolos de frutas ingleses, o Bolo de Noiva pernambucano foi adaptado ao clima e aos ingredientes locais, ganhando uma personalidade única através do uso de vinho, ameixas e especiarias. Ele se tornou um símbolo de celebração, presente nas mesas de casamento e associado a momentos de confraternização e união. Com o selo de IG, o Bolo de Noiva poderá ter seu valor agregado ao alcançar mercados especializados, mercado e promover ainda mais o turismo gastronômico em Pernambuco. O Bolo de Rolo é outra iguaria emblemática da culinária pernambucana, reconhecida como Patrimônio Imaterial de Pernambuco desde 2008. Sua origem remonta ao período colonial, quando confeiteiros locais adaptaram o tradicional "pão de ló" português, substituindo o recheio de amêndoas por goiabada, abundante na região. Essa adaptação resultou em finas camadas de massa – passando a ser um método distintivo da receita. Essas camadas clarinhas enroladas com recheio vermelho ajudam a conferir o bolo sua aparência e sabor característicos. A produção do Bolo de Rolo é uma atividade econômica significativa em Pernambuco, envolvendo diversas confeitarias, padarias e produtores artesanais. Devido à sua popularidade, novos sabores foram desenvolvidos ao longo do tempo, sempre mantendo a receita básica, a técnica e a aparência. Além disso, o bolo é uma atração muito conectada ao turismo, sendo levado como lembrança por quem por Pernambuco passa. É bastante apreciado por visitantes que buscam experiências autênticas da culinária local, fortalecendo o turismo gastronômico na região. Já o Bolo Souza Leão é uma das mais antigas da culinária pernambucana, com origens que remontam ao século XIX. A receita do Souza Leão reflete a fusão de influências culturais: incorpora técnicas da doçaria portuguesa, como o uso abundante de gemas, e ingredientes locais, como a massa de mandioca e o leite de coco, resultando em uma textura cremosa e sabor único. O reconhecimento do Bolo Souza Leão como Patrimônio Cultural e Imaterial de Pernambuco, oficializado pela Lei nº 13.428 de 2008, reforça sua importância cultural e potencializa sua valorização econômica. A promoção desse patrimônio pode contribuir para o fortalecimento da economia local, incentivando a produção artesanal e o turismo gastronômico na região. O projeto Adepe/Sebrae tem o objetivo de identificar, estruturar e solicitar o registro das novas IGs junto ao Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Atualmente, Pernambuco conta com três IGs registradas: Vinhos do Vale do São Francisco, Uvas e Mangas de Petrolina e o Porto Digital no Recife. Em todo o país, são 130 Indicações Geográficas, a maior parte delas presentes em estados com fortes tradições agrícolas e artesanais, como Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná. Além dos três bolos, também foram selecionados os seguintes produtos para estudo: renda renascença de Poção, mel e queijo coalho do Araripe, barro de Caruaru, abacaxi de Pombos, café de Triunfo, manta caprina e ovina do Sertão do São Francisco, artesanato de Tracunhaém, artesanato de madeira de Sertânia e o queijo coalho do Agreste. O projeto de ampliação das IGs será desenvolvido em quatro etapas: diagnóstico, estruturação, submissão dos pedidos e acompanhamento dos processos. A expectativa é de que o projeto esteja finalizado até 2026. Para a Adepe, essa iniciativa representa um grande avanço na valorização dos arranjos produtivos locais, além de dar visibilidade a produtos tradicionais e inovadores de Pernambuco. "É missão da Adepe fomentar o desenvolvimento dos arranjos produtivos de todo o Estado, em seus 184 municípios. O Projeto de Identificação Geográfica vem para dar destaque àqueles mais relevantes e torná-los exemplo da valorização do que é produzido em Pernambuco. O crescimento do nosso PIB dá sinais claros da importância da nossa agricultura e dos nossos arranjos produtivos e estamos muito felizes em sairmos na frente com este projeto ao lado de um parceiro tão importante como é o Sebrae Pernambuco", detalhou o presidente da Adepe, André Teixeira Filho. Superintendente do Sebrae/PE, Murilo Guerra destaca que a iniciativa ajuda a valorizar a riqueza dos territórios pernambucanos e a promover o desenvolvimento dos pequenos negócios. “A valorização do regionalismo tem se consolidado como uma estratégia importante para estimular o desenvolvimento econômico e social e ampliar a competitividade nos mercados nacional e internacional. O reconhecimento das Indicações Geográficas protege o conhecimento tradicional ao mesmo tempo em que agrega valor aos produtos e serviços locais”, enfatiza.MAIS As Indicações Geográficas são certificações concedidas a regiões que se tornaram conhecidas ou apresentam características distintivas ligadas a um produto ou serviço. Elas podem ser classificadas como Indicação de Procedência (IP), quando a região já é reconhecida pela produção, fabricação ou extração de determinado produto ou prestação de determinado serviço, ou Denominação de Origem (DO), quando há uma ligação entre as características do produto e seu meio geográfico e dos fatores naturais e humanos ali presentes.

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Foto de Lucio Lucas

Empreendedores abrem nova loja para difundir bolo de rolo

Já está funcionando a segunda unidade da primeira empresa pernambucana a se tornar franquia de bolo de rolo do mundo. O projeto é o resultado de um projeto de empreendimento coletivo do chef Mauro de Castro, Carla Britto, Fernando Didier e Luan Brito. O grupo busca levar a tradicional receita que tem origem portuguesa e que ganhou adaptação em Pernambuco para todo o Brasil. A nova unidade da Fino Nordeste está localizada no Shopping Plaza, em Casa Forte. A tradição nordestina se mistura entre diversos sabores de bolo de rolo, além de doces, biscoitos e chocolates. A marca deve abrir mais 9 operações até dezembro somente no nordeste. "Entre nossas apostas, o bolo de rolo tradicional de goiaba, café, menta, pamonha, churros, ameixa, doce de leite, maracujá, limão e paçoca", detalha o criador da marca, chef Mauro de Castro. Do portifólio de produtos diferenciados, o empreendedor destaca uma linha de glúten free e broa de bolo de rolo.

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“Bolo que te quero bolo”

Tão próximo do açúcar, das receitas das casas, dos doces de rua, dos mercados, das padarias, das “boleiras ”,Gilberto Freyre desenvolve um olhar afetivo que se junta ao método de traduzir as relações sociais pelos muitos preparos culinários com os doces do cotidiano e da festa, em especial destacando o bolo enquanto uma verdadeira comida- símbolo de Pernambuco. Gilberto Freyre no seu livro “Açúcar: em torno da etnografia, da história e da sociologia do doce no Nordeste canavieiro do Brasil” com numerosas receitas raras de doces e bolos da região e, para efeitos de comparação, algumas de outras áreas brasileiras e outras tantas de Goa (Índia Portuguesa), reunidas e selecionadas pelo autor ; afirma seu olhar e a sua plural leitura sobre uma multiculturalidade fundadora da civilização do açúcar, dos doces e na formação de paladares regionais que valorizam o que é doce. E Gilberto localiza e enfatiza a doçaria de Portugal, diga-se uma doçaria já mundializada a partir do século XVI, e destaca as muitas opções de receitas de bolos, sim muitos, variados, para as casas, para as festas, para as devoções religiosas. No caso do Nordeste os bolos identificam os engenhos de açúcar ,enquanto verdadeiros brasões construídos nas receitas particulares e autorais, que são essencialmente simbólicas de uma história e de uma família. Para Gilberto, cada bolo é muito mais do que uma receita. O bolo traz uma variedade de temas, de personagens, de localidades, de santos de devoção, entre tantos outros motivos. Cada bolo tem a sua individualidade, e marca, e assim mostra seus territórios de afetividade, de celebração, de religiosidade, de homenagem. Cada bolo é certamente uma realização gastronômica de estética e de sabor, e na sua maioria traz ingredientes nativos, “da terra”, mais uma maneira de atestar identidade. Assim, bolo São Bartolomeu, bolo Divino, bolo São João, bolo Souza Leão; bolo Souza Leão à moda da Noruega, bolo Souza Leão-Pontual, bolo de milho D. Sinhá; bolo de milho Pau-d’alho, bolo Guararapes, bolo Paraibano, bolos fritos do Piauí; bolo de bacia à moda de Pernambuco, bolo de rolo pernambucano, entre tantos. O bolo traz uma intenção, uma assinatura, uma receita; uma intenção pessoal ou coletiva, regional. Ele marca o terroir do doce em Pernambuco. Também o significado de um bolo é repleto de valores familiares, de festas, de ritos de passagem; dos prazeres de se viver o milho, a mandioca, o chocolate, as frutas, os cremes; as coberturas de açúcar e frutas cítricas com a técnica do “glacê mármore”, branco e compacto, uma verdadeira delicia de cobertura, e se o bolo for o de frutas mergulhadas no vinho do Porto ou Moscatel, com a estimada receita de “bolo de noiva”, uma releitura do bolo de frutas inglês, um bolo do tipo “bolo-presente” para festas e celebrações. Chegadas, permanências, sugestões, informações gerais, experiências pessoais, etnografias participativas; festas de santos, especialmente os de junho, com rica culinária a base de milho; festas em casa com a família; festas no tempo de carnaval com filhoses e suas caldas perfumadas; ou no Natal, pastéis de carne temperada e pulverizados de açúcar; num verdadeiro laboratório de gostos, de buscas, de descobertas pela boca e pela emoção. Contudo está no bolo, na sua variedade e nos seus estilos, onde o pernambucano encontra sua identidade, sua história e seu pertencimento cultural. RAUL LODY.

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Bolos e salgados "de comer rezando"

*Por Yuri Euzébio Entre missas, batizados, casamentos e tudo o que envolve a vida no sacerdócio, ovos, farinha, leite e açúcar. Assim se divide a rotina do frei Dennys Pimentel, que além dos seus afazeres como sacerdote nas igrejas de Nossa Senhora de Fátima, no Ibura, e na Comunidade Católica Porta Fidei, no bairro do Parnamirim, produz e comercializa bolos e quitutes variados. Tudo começou, de forma despretensiosa e simples, a partir da vivência do frei em seu ofício, com os casais que frequentam a sua igreja. Usando de seus dotes culinários para aquecer o coração dos fiéis, o frei encontrou nessa habilidade uma boa oportunidade de congregar as pessoas ao seu redor “Quando eu tinha um assunto muito sério a tratar com algum casal que eu estava acompanhando na igreja, eu costumava chamar a pessoa para tomar um café e preparar um bolo de macaxeira. Era uma estratégia que tinha para me aproximar das pessoas e acalmá-las”, relembra. “Passei muito tempo fazendo isso, o que agradava muito aos fiéis”, explicou frei Dennys. E foram os fiéis admiradores do bolo feito pelo frei que passaram a solicitar encomendas para levar a iguaria para casa. A partir dessa demanda e de uma vontade de colocar em prática a satisfação de trabalhar com os quitutes, que surge o Bolo do Freizinho, empreendimento de comercialização dos quitutes do sacerdote. Mesmo com a atarefada vida de religioso, frei Dennys consegue equilibrar com os afazeres na cozinha e vem conquistando uma clientela fiel e apaixonada por suas receitas. “A minha ideia era que eu poderia levar para a mesa das pessoas um produto bom, com qualidade, a partir desse bolo que sempre esteve presente no café das manhãs com os casais da Igreja”. Dentre as delícias vendidas, o grande sucesso da casa continua sendo aquele que originou toda a empreitada: o bolo de macaxeira. Há ainda o bolo de milho e o de mandioca. Sem falar no de chocolate, com receita diferente sem farinha de trigo ou leite, o de laranja (com calda de chocolate) e o pé de moleque. Engana-se quem pensa que frei Dennys seja especializado apenas em doces, no seu cardápio também constam salgados variados, como quiche, croissant, pão de queijo, sopas, tudo prontinho pra quando os clientes desejarem. “Não é simplesmente fazer um bolo ou um salgado, a comida congrega muito as pessoas, todo mundo que eu conheço gosta de sentar e conversar em volta de uma bela mesa de comida”, diferencia o frei. Mesmo tendo que dividir seu tempo entre as duas funções, frei Dennys se sente realizado e vê uma relação direta e de completude entre seu trabalho de líder religioso com a produção dos quitutes do Bolo do Freizinho. Ele acredita que ambas transmitem paz e bem-estar, além de, sempre que possível, unir e misturar as duas funções em prol de levar adiante sua mensagem de vida. Os pedidos são feitos via Whatsapp, porque o frei até então não tem um comércio físico. Por enquanto, as encomendas são feitas somente pelo aplicativo e por Instagram e entregues na casa dos clientes. Mas isso não se configura uma limitação para o empreendimento, haja vista a produção diária de quitutes, de segunda a sábado, parando apenas no domingo. Mas, apesar de ser um empreendimento recente, o Bolo do Freizinho já tem planos de expansão com a abertura de uma cafeteria, que irá congregar várias atividades, no bairro do Espinheiro, no Recife. “Teremos um local para não somente comer ou tomar um café, mas um espaço de paz, onde as pessoas podem se evangelizar”, planeja. Isto porque, frei Dennys irá inaugurar, dentro do mesmo espaço, uma livraria católica e unir as duas atividades que regem sua vida. “A ideia do espaço é evangelizar a partir da cafeteria e da livraria. O objetivo é levar as pessoas a um ambiente de paz, independentemente da religião. Provocar um contato com o sagrado, não só para se alimentar, mas para desfrutar desse ambiente de Deus”, explica o religioso. O local – que visa a atender inúmeros pedidos feitos ao frei para comercializar seus bolos num ambiente físico – está em reforma e a previsão de inauguração é para este segundo semestre. Alguém pode imaginar que cozinhar seja uma atividade paradoxal para um padre, mas frei Dennys acha natural unir essa sua habilidade com a vocação de guia espiritual, utilizando-se das comidas que prepara como um caminho para o contato com o divino. “A minha proposta não é a gula, é fornecer uma boa alimentação, em conjunto com a celebração da vida. A gula é um descompasso do indivíduo, o que eu proponho é reunir as pessoas à mesa”, distingue o frei. Serviço Bolo do Freizinho - (81) 98121-3237 (De terça-feira a sábado). Instagram - @bolodofreizinho.

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Designer de bolos, Lucas Piubelli, oferece workshop online gratuito com técnicas de confeitaria

A partir de hoje (06) até o dia 12 de agosto, o designer de bolos, Lucas Piubelli, irá ensinar diversas técnicas de confeitaria na 4ª Edição da Semana da Confeitaria que acontece online de forma gratuita. Os conteúdos já alcançaram mais de 60 mil pessoas e serão oferecidos por meio de vídeos-aula. Os interessados podem se inscrever através do link: bit.ly/semadadaconfeitaria Bolos espatulados, flores em açúcar, entre outras técnicas, são essenciais para quem deseja estar por dentro das tendências de confeitaria. Com o objetivo de compartilhar os conhecimentos oferecidos no canal do YouTube e em cursos, Lucas Piubelli, irá ensinar todos os procedimentos para fazer bolos e cupcakes que estão em alta. “Quem trabalha com confeitaria ou está iniciando esse trabalho precisa estar atualizado no mercado, por isso que o wokshop é tão importante pra quem deseja investir no universo dos bolos”, afirma. Com mais de 149 mil inscritos no canal do YouTube e mais de 100 mil seguidores no Instagram, o cake designer é referência em ensinar diversas técnicas de confeitaria de forma prática. “O passo é passo é uma maneira de ajudar o desempenho de pessoas que não sabem de que forma começar a confeitar bolos ou que também não têm condições de pagar um curso”, conta Lucas. O designer também irá mostrar a técnica de rendas, mostrada no livro “Pernambuco: artes e renda em açúcar”, lançado ano passado. A obra é a primeira publicação que ensina como aplicar artesanato regional em bolos e une o contexto histórico da Renda Renascença, técnica têxtil usada pelas artesãs do agreste pernambucano. O livro foi aprovado pelo Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura PE) e já teve duas edições vendidas. Desta vez, a terceira impressão foi traduzida para inglês e espanhol. A publicação está disponível por R$ 125.   Serviço 4º Semana da Confeitaria Data: 06 a 12 de agosto Link para inscrição: http://bit.ly/semadadaconfeitaria   Sobre Lucas Piubelli Lucas Piubelli é paulistano, professor internacional, palestrante, escritor e empresário, se dedica desde 1998 ao ensino da arte na confeitaria. Com seu trabalho reconhecido no Brasil e no exterior, possui mais de 100 revistas publicadas com suas obras e já participou de diversos programas de televisão. Ganhou o título de Melhor Confeiteiro da América Latina no Programa El Desafio Del Buddy Latinoamérica, em 2016, realizado no México. Atualmente apresenta programas em seu canal no Youtube que já possui mais de 149 mil inscritos, no Instagram que possui mais de 100 mil seguidores, e ministra cursos online e presenciais para difundir conhecimentos na área da confeitaria e contribuir para a formação e especialização de profissionais.

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Casa-Grande & Senzala – A comida como método social em Gilberto Freyre

  Gilberto se propõe a revelar “o seu” Nordeste ao leitor. Um Nordeste orientalizado a partir das matrizes lusas com os seus encontros com a China, Índia, Japão; e nas tradições moçárabes e judaicas. Um Nordeste da Zona da Mata de Pernambuco. Sim, Pernambuco como um foco possível e preferencial de Gilberto. O livro Casa-Grande & Senzala é também um depoimento vivencial de Gilberto, que mistura endoetnografias nos cenários do Recife. Assim, ele traz leituras e experiências familiares; também dá interpretações sentimentais; e ainda busca os sinais de uma região orientada pelo patriarcado que nasce na cana sacarina. É uma obra para muitas interpretações, para ser revisitada apontando-se para as cozinhas como experiências formais da identidade do brasileiro. Por ser um livro de vocação sensorial, sugiro ler algumas páginas ao sabor de um bolo de massa de mandioca, ou bebendo um boa cachaça, para que se possa assim ter um encontro hedonista ao gosto de Gilberto. Ele se revela hedonista quando traz de Ruth Benedict os seus conceitos de “apolíneo” e de “dionisíaco”. São encontros desejáveis e necessários ao tema açúcar, um tema nem sempre tão “doce”. Entender ainda que Gilberto tem suas preocupações literárias e estéticas com Casa-Grande & Senzala. Ele relata ambientes, festas, indumentárias, comidas, processos culinários, rituais de comensalidade. Gilberto tem um olhar iconográfico dominante, e recorre ao desenho e a pintura como processo de criação e de representação cultural. Estes imaginários estão nos textos, e se pode dizer que Casa-Grande & Senzala é um livro “cinematográfico”. E com este desejo visual, Gilberto mostra o melhor deste livro. Tudo acontece em contexto ecológico, na Mata Atlântica e nos canaviais, temas que mais tarde são aprofundados no livro Nordeste de Gilberto. Esta sociedade do século 19, exemplar em Casa-Grande & Senzala, é ampliada também em Sobrados e Mocambos, com um olhar mais urbano sobre a civilização que nasce do açúcar. Casa-Grande & Senzala mostra as histórias das “casas” e das pessoas que vivem nestas casas. Relata religiosidade, maneiras de fazer a comida, escolher os ingredientes; as muitas receitas de um Portugal já globalizado com as “grandes navegações” que aproximaram o Oriente do Ocidente. Esta obra de Gilberto mostra as festas, os rituais do plantio e da colheita da cana sacarina; os encontros de portugueses africanizados pelo Magreb, de povos nativos, de milhares de africanos da Costa, que revelam novos gostos e interpretações de sabores que se espalham pelas cozinhas, pelas mesas, num Brasil à boca. Gilberto quer apresentar um lugar possível do “trópico”.  Mostrar uma civilização onde o poder formal está no mando masculino. Contudo, este poder está também nas cozinhas, territórios consagrados ao mando feminino. Cozinhas na “Casa-Grande”, lugar onde as relações sociais são formalizadas na intimidade de espaços geradores de comidas, de um poder que se projeta no ato da alimentação. Gilberto revela os rituais das alimentações, inclusive dos “santos”, que são íntimos nestas relações sociais já à brasileira. O Menino Deus, para adoração e para o convívio com as crianças da “casa”, torna-se tão próximo que parece estar também se lambuzando de geleia de araçá. Outros doces são marcantes e, em especial, os “bolos”, tema que fundamenta o seu livro Açúcar, também dos anos 1930. Gilberto mostra o doce como um preparo feminino, marcado pela mulher lusa como uma atividade especial, pois o doce tem um preparo que vai muito além do açúcar. É um preparo de memórias ancestrais da história colonial lusa. O termo “doce” valoriza e qualifica aspectos sociais como, por exemplo, “você é um doce”; “te dou um doce”; tudo mostra o açúcar como formador de laços sociais, e isso também é retratado em Casa-Grande & Senzala. As referências dos sabores, a nova forma para se construir o paladar, o reconhecimento do que é o gosto gostoso, daquilo que chega de Portugal com os “gostos do mundo”, e se misturam com este Brasil de mandioca, de peixes, de milho, de pimentas frescas, e de muitos outros produtos da “terra”, produtos nativos. Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, expõe uma sociedade que se revela à mesa. É assim que ele quer interpretar o brasileiro: “a partir da comida”. Casa-Grande & Senzala é uma construção formal de análise que está na tese Social life an Brazil in the middlle of the 19th Century para o título de Master Artium ou Master of Arts, Columbia University, 1922. Com certeza, em Gilberto, estão todos os sentimentos do gourmet, do antropólogo e do artista, todos reunidos na sua maneira pessoal de gostar do Recife. * Raul Lody é antropólogo.

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