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"O dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais numa situação delicada"

Victor Lamenha, Presidente da Associação Pernambucana de Cervejas Artesanais, fala do impacto da pandemia no setor, que nos últimos dois anos sofreu com a redução do número de cervejarias e com o consumidor preferindo produtos com menores preços. Mas ele se diz otimista com a retomada este ano. Q uem é apreciador de bebidas certamente observou que nos últimos cinco anos as gôndolas de supermercados e os cardápios de alguns bares locais passaram a exibir uma variedade de cervejas artesanais made in Pernambuco. Um setor que ostentava crescimento em termos de demanda, produção e de players. Mas, assim como outros segmentos da indústria, sofreu impacto da pandemia, da alta do dólar e da inflação. Das 26 marcas associadas à Apecerva (Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais) apenas 9 continuam afiliadas à entidade. Mas apesar das adversidades, o presidente da associação Victor Lamenha está otimista. “Entendemos que 2022 é o ano em que as coisas vão melhorar, no sentido de haver um controle maior da pandemia”. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele também detalha outras razões para o seu otimismo como a inauguração neste semestre da Loja de Bebidas Pernambucanas no Marco Zero do Recife e o fato de o pernambucano dar valor ao que é da terra. A pandemia afetou o mercado de cervejas artesanais em Pernambuco? O mercado de cerveja artesanal é composto por indústrias e cervejarias ciganas, que são aquelas que não possuem fábrica própria e produzem nas indústrias de outras cervejarias. Elas compram insumos e uma indústria vai produzir para elas. O número que levantamos até agora é que havia 26 marcas – entre indústrias e ciganas – associadas à Apecerva e esse número caiu para 9 marcas. A redução do número de players foi muito grande e muitas empresas que fazem parte da cadeia indireta do mercado de cerveja artesanal, como PDV (ponto de venda), loja especializada em cerveja artesanal etc. também foram prejudicadas. Muita gente que montava evento diminuiu suas estruturas e entendemos que 2022 é o ano que as coisas vão melhorar, no sentido de haver um controle maior da pandemia. Já observamos um movimento de algumas marcas ciganas que podem voltar a produzir. Quais as causas que provocaram essa queda no número de produtores? O fator mais preponderante é que o consumidor na pandemia ficou muito sensível a preço e a maioria das indústrias de cerveja artesanal não consegue competir com as grandes marcas em termos de preço. Outro fator foi a pressão da inflação. A gente teve uma pressão muito grande no custo de produção dos insumos, das matérias-primas. Os insumos são importados e seus preços tiveram influência do câmbio alto? Existe malte produzido e comercializado no Brasil, mas trata-se de uma commodity que também é regida pelo mercado internacional. O lúpulo é outro item essencial das cervejas que sofreu muito impacto do dólar e esse, sim, é 99,9% importado. Além disso, o dólar pressionou o valor do vidro. Durante a pandemia enfrentamos a escassez de embalagens. O dólar também pressiona a economia como um todo, influencia no combustível, no lúpulo, no malte, nas embalagens. O meu entendimento é que o dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais e a indústria de quase todos os segmentos numa situação muito delicada porque a gente não consegue repassar tudo para a ponta, porque o consumidor está muito sensível a preço, ele está buscando o melhor custo-benefício. A produção da cerveja artesanal começava com um hobby, que vai ganhando corpo, até se profissionalizar como um negócio? As cervejarias que permaneceram são as que estão mais estruturadas? As cervejarias ciganas, muitas vezes começam como um hobby, mas depois que ela vira cigana não tem mais como ser um hobby, porque agora ela assumiu um contrato com a indústria, comprou insumo, investiu num tanque de fermentação e maturação, comprou garrafa e rótulo. Tem que ir em frente, não tem mais alternativa. Muitas vezes, um advogado, por exemplo, resolveu abrir uma cervejaria para realizar o sonho dele. Isso é muito nobre, porque muita gente surgiu nesse contexto e veio com uma cerveja muito boa, veio para agregar, para somar no mercado e participou dos eventos do calendário da cerveja artesanal de Pernambuco que a gente tentou construir desde o primeiro ano da fundação da Apecerva. Eu vi cervejarias estruturadas, geridas por gente inteligente, fazendo cerveja muito boa que decidiu parar. Também há um detalhe: é mais fácil de fechar uma cervejaria cigana do que uma indústria. Acredito que, do mesmo jeito que foi fácil para eles pararem, pode ser que com a retomada, agora em 2022, seja fácil retornar. Entendo que não é porque eram mais desestruturados, acho que era porque eles tinham uma opção de pausar ou até desistir, porque o mercado de cerveja não é fácil, é muito competitivo. Brigamos com duas das maiores empresas do mundo, temos um market share de 2% (um pouco mais, um pouco menos). Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa: assine.algomais.com

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"Corremos o risco de um novo apagão"

T roca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes, banhos mais rápidos e o desligamento de aparelhos eletroeletrônicos. Quem vivenciou, em 2001, o apagão no País, certamente recorda-se de ter tomado medidas como essas para reduzir o consumo de eletricidade em 20%. Caso contrário, sofreria aumento na conta de luz. Passados 20 anos, eis que estamos novamente numa situação de risco iminente de corte de energia elétrica em todo o País. Para saber sobre os motivos que levaram, mais uma vez, o Brasil a essa situação, Cláudia Santos conversou com Ricardo Baitelo, coordenador de projetos do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente). Baitelo aponta gargalos como a falta de planejamento, a necessidade de ampliação do sistema de transmissão de eletricidade e a não realização de leilões de energia nos últimos dois anos. Mas o especialista reconhece avanços ocorridos nessas últimas duas décadas como a diversificação da matriz energética com fontes renováveis e destaca que o Nordeste passou de importador para fornecedor de energia para a região Sudeste. Ele adverte, porém, que a MP da privatização da Eletrobras, que tramita no Congresso, concede uma reserva de mercado às usinas termoelétricas, o que pode pesar no bolso dos consumidores na hora de pagar a tarifa, além de elevar em 25% a emissão de gases de efeito estufa do setor de energia. Confira a entrevista a seguir. Como chegamos a essa situação de crise hidrológica e energética? Temos enfrentado, nos últimos anos, um risco de racionamento em maior ou menor grau por uma série de fatores, como uma variação do regime hidrológico – menos chuvas, um nível menor dos reservatórios das hidrelétricas – e, principalmente, de planejamento. Depois do racionamento em 2001, podemos dizer que o sistema elétrico e as decisões governamentais se aprimoraram para evitar que aquela situação acontecesse de novo. O racionamento provocou esse trauma político e, a partir de então, procurou-se mudar o planejamento, diversificar a matriz energética e melhorar o sistema de transmissão de eletricidade. Nesse sentido, o Brasil está em vantagem, não existe outro país continental com um sistema interligado como o nosso. Apesar disso, ainda existem gargalos. Nos últimos anos, houve novamente um gap de planejamento. O reflexo disso é que, durante os dois últimos anos, o governo optou por não fazer leilões de energia porque a demanda estava baixa, em razão da crise econômica e da pandemia. Então se considerou, naquela época, que o sistema estava folgado e que não era necessário fazer leilões, pelo menos até a demanda se recuperar. Mas a questão é que os leilões contratam empreendimentos que vão ficar prontos depois de três, quatro, cinco anos, é um planejamento para o futuro. Os setores de energia renováveis – eólica e solar – pediram para que esses leilões acontecessem mas o governo resolveu pausar durante esses dois anos. Se esses leilões tivessem acontecido, teríamos um parque maior de eólica e solar que poderia atender o sistema. Como não aconteceram, continuamos usando as usinas térmicas cada vez mais nesses cenários emergenciais, inclusive importando energia da Argentina e do Uruguai. Somado a isso, é que agora temos uma matriz elétrica que é o dobro daquela de 20 anos atrás, mas temos novos gargalos de transmissão de eletricidade. Existem muitos empreendimentos, principalmente de energia solar, que querem ser contratados no mercado livre e estão tendo que esperar porque é necessário um reforço da transmissão. É possível resolver essa problemática, mas não dá para resolver para amanhã. Corremos o risco de um novo apagão? Sim, corremos o risco. Apesar de o governo afastar o risco de racionamento, a sua comunicação está sugerindo que as pessoas não consumam tanta energia nos horários de pico. Se o risco não estivesse aí, a comunicação não seria dessa forma, porque o governo é o primeiro interessado em que essa situação não aconteça porque tem impacto sobre a sociedade e a economia. É a restrição do uso de energia impedindo a retomada econômica que o Brasil precisa. Hoje há algumas medidas paliativas que podem ser adotadas. Dá para contratar mais térmicas, que são mais caras e têm um impacto direto na tarifa do consumidor, não mais na bandeira vermelha, mas bandeira vermelha patamar 2, que é ainda mais cara. Também é possível implantar a eficiência energética que é o último ponto a ser usado. Seria a adoção de um conjunto de medidas de uso racional, como a substituição de equipamentos, consciência de uso etc., que passam também pelo gerenciamento da demanda. Tem bastante gordura para evitar mas historicamente se lança muito pouco mão dessa alternativa. Como o sistema é interligado, todo o País sofreria o apagão. Mas existe uma diferença em relação ao racionamento de 2001. O Nordeste naquela época era um notório importador de energia e hoje, ao contrário, a região apresenta uma geração bem grande de eólica com a missão de destinar energia para os estados mas, também, enviá-la para o Sudeste, que é o grande polo de consumo. Mas há que se prestar atenção nos gargalos que mencionei, na dinâmica do sistema, porque a eólica e a solar são fontes flexíveis, que têm que despachar energia quando ela está sendo gerada pelo sol e pelo vento (elas não podem ser armazenadas), diferente das despacháveis, como as hidrelétricas com reservatório e as térmicas. Essa dinâmica também tende a afetar o cenário de racionamento. Para citar um exemplo, está sendo discutida agora pela MP da Eletrobras, a contratação de térmicas que operam o tempo todo e não de forma emergencial. Isso também tende a afetar de maneira negativa a eólica e a solar. Estamos num paradoxo no qual temos o risco de falta de energia mas desperdiçamos energia eólica e solar. Então, voltamos à questão da transmissão que precisa ser reforçada. Você poderia explicar melhor esse gargalo na transmissão? A questão é bastante técnica mas o foco é que a prioridade tem quer ser dada para essas fontes flexíveis. Quando há sol e vento, elas têm que escoar a energia para o sistema. E a gente vem de um sistema que foi durante

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Número de casos de Covid-19 empata com pior momento da pandemia

O número de novos casos confirmados de Covid-19 na Região Metropolitana do Recife já é praticamente o mesmo do pior momento da pandemia, quando a capital e um cinturão de cidades vizinhas sofreu o período mais duro lockdown. O alerta foi feito pelo Instituto para Redução de Riscos e Desastres de Pernambuco (IRRD). O gráfico acima, por exemplo, da última semana, fechada no dia 19 de fevereiro, apontou a média móvel dos últimos 7 dias de 973 novos casos. A média mais elevada desde o descobrimento do novo coronavírus em Pernambuco foi em 22 de maio, quando foram registrados uma média em 7 dias de 1024 novos casos por dia de Covid-19 na RMR. Os números estão no site do instituto: https://www.irrd.org/covid-19 Quando olhamos o gráfico do Estado de Pernambuco, a média móvel da última semana é pior que o momento mais crítico da pandemia, alcançando 1.513 novos casos no dia 19 de fevereiro deste ano. Em julho do ano passado, na pior semana no Estado, foi registrada uma média de 1.450 novos infectados da doença. "O Brasil não dá sinal nenhum de melhora na pandemia. Pernambuco oscila em alta, acompanhando o mundo como um todo. Se observarmos os dados absolutos da RMR, percebemos que hoje temos uma média móvel de infecção dos últimos 7 dias, comparada com a média móvel de 19 de maio, quando trancamos tudo. Agora estamos no mesmo patamar, mas com tudo funcionando. Isso é muito preocupante", afirma o pesquisador que coordena o IRRD, Jones Albuquerque. Ele lembra que nos ultimos 30 dias o Recife caminhou para o pior cenário de infecção. "Os Estados Unidos consideram 50 novos casos por 100 mil habitantes como risco alto. Na Região Metropolitana do Recife estamos com 454 por 100 mil habitantes. Isso nos deixa céticos e preocupados quanto à eficácia do processo de vacinação para conter uma pandemia deste tamanho. Não estamos conseguindo conviver com o vírus, os protocolos não estão funcionando com a população. Daí os números altíssimos que vemos. Esse é o cenário da pandemia hoje. Um dos piores momentos", revela o pesquisador. Apesar dos números de novos casos em alta, o número de mortes, apesar de ter crescido no último mês, não segue a mesma curva.

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57% das empresas preveem recuperação no médio-longo prazo

Pesquisa da empresa Boa Vista realizada com empresários, de todo o Brasil, demonstra que, pouco mais de três meses após o início da crise ocasionada pelo novo coronavírus, a fotografia do cenário atual é de cautela e pouco otimismo. 57% das empresas acreditam que vai demorar seis meses ou mais para a recuperação dos negócios. A forte retração das vendas (77%) reflete negativamente no faturamento de 78% das empresas e de 76% no fluxo de caixa. A pesquisa ouviu 1.260 empresários dos setores indústria, comércio e serviços. No que se refere ao quadro de funcionários, mesmo com a crise, 59% das empresas informam que não demitiram. Por outro lado, apenas 3% delas contrataram e 38% diminuíram o quadro funcional, principalmente no setor da indústria e nas médias e grandes empresas. As principais ações para diminuição de quadro foram: demissão (50%), suspensão temporária de contrato (26%) e redução da jornada (24%). O levantamento feito pela Boa Vista também constatou que, em média, 45% das empresas estão pagando apenas parte de seus compromissos. Os micro e pequenos empresários são os que mais vêm sofrendo esse impacto, pois o fluxo de caixa dos mesmos é naturalmente menor. Busca por crédito Em média, 39% das empresas buscaram por apoio financeiro, inclusive, em mais de uma instituição. Os bancos privados foram os mais procurados (40%), seguidos de instituições públicas (21%) e procura por familiares e amigos (14%). Perguntados sobre obtenção de crédito, 49% dos empresários já conseguiram ou estão em vias de receber o crédito solicitado. Mesmo assim, quase metade não obteve sucesso nesta busca (51%). Entre os fatores estão o desconhecimento dos programas do governo (24%) e as exigências impostas (23%), aquém das possibilidades principalmente das PMEs. Para 38% das empresas que adquiriram empréstimo, os recursos serão destinados para alavancar o capital de giro e 37% disseram que o destino será o pagamento de dívidas. Mesmo conseguindo o crédito, para 78% das empresas, o valor concedido será insuficiente para “cobrir” todas os compromissos financeiros. Metodologia A Pesquisa ‘Fotografia atual dos negócios, acesso aos programas de apoio aos empresários e perspectivas de recuperação’ foi realizada pela Boa Vista em junho, com 1.260 empresários, representantes dos setores do Comércio, Indústria e Serviços, de todas as regiões do Brasil. Para a leitura dos resultados considerar cerca de 2 p.p. (pontos percentuais) de margem de erro e 90% de grau de confiança.    

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Empresários da construção civil estão otimistas com retomada do setor

A mais recente edição do Índice de Confiança da Construção, da Fundação Getúlio Vargas, aponta que a confiança do setor da construção civil voltou a subir em junho, ao avançar 9,1 pontos, para 77,1 pontos. A alta é decorrente da melhora das expectativas dos empresários para os próximos três e seis meses. Em Pernambuco, a construção civil retomou as atividades no mês passado após dois meses e meio de atividades suspensas, por conta do decreto do governo do estado. O empresário Ricardo Albuquerque, que é dono da Attiva Engenharia, acredita que o setor irá se recuperar rapidamente. “Acredito na retomada em uma velocidade semelhante à da queda. Isso porque a construção civil já vinha crescendo bastante entre o final do ano passado e o início deste ano. A nossa empresa atua no ramo imobiliário e de manutenção e, apesar das dificuldades, houve um incremento no número de contratos”, explica. Em 2019, a construção civil avançou 1,6%, puxado principalmente pelo setor de edificações imobiliárias. Foi o primeiro ano positivo depois de cinco anos no vermelho. “A construção sempre foi decisiva e impactante nos resultados econômicos do país, porque é o motor que rege a economia brasileira. Como é um setor que impacta outras áreas do ramo industrial e comercial, a construção tem capilaridade suficiente pra sair mais rápido da crise”, complementa Ricardo. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção segue este mesmo raciocínio, tanto que acredita que o acesso ao crédito auxiliar disponibilizado pelo governo federal, para as pequenas e médias empresas, ainda que não tenha alcançado e suprido todas as necessidades, foi uma forma de fazer com que este motor continuasse funcionando, mesmo com a diminuição ou paralisação da geração de caixa.

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Pesquisadores defendem economia ambientalista para superar a crise causada pela COVID-19

A construção de novas rotas de desenvolvimento econômico baseadas na valorização e na valoração da biodiversidade e dos serviços prestados pela natureza (ecossistêmicos), como o fornecimento de água e a regulação climática, será crucial não só para evitar crises desencadeadas por novas pandemias como para superar a atual. A avaliação foi feita por pesquisadores participantes do seminário on-line “Biodiversidade, crise climática, economias e pandemias”, que aconteceu em 22 de maio por ocasião do Dia Internacional da Biodiversidade. O encontro foi realizado por iniciativa da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos BPBES e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, com apoio do Programa BIOTA-FAPESP e da Academia Brasileira de Ciências ABC. “É fundamental a compreensão de que a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico não são processos antagônicos, mas interdependentes. Desenvolvimento não é viável sem uma base de sustentação dos processos naturais que geram os serviços ecossistêmicos, também conhecidos como contribuição da natureza para o bem-estar humano”, disse Cristiana Seixas, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da coordenação da BPBES. A produção em larga escala de alimentos, fibras têxteis e madeira, entre outros itens, pela rota atual, tem impactado diretamente na expansão de áreas de cultivo agrícola e de pastagem para áreas naturais em biomas brasileiros, como a Amazônia. Além de possuírem uma grande diversidade de animais, plantas e microrganismos, cuja interação gera os serviços ecossistêmicos, essas áreas de floresta estocam carbono e são reservatórios de vírus, bactérias e outros microrganismos, presentes em espécies selvagens de animais e com potencial de serem transmitidos para o ser humano, como ocorreu com o novo coronavírus, o SARS-CoV-2. Dessa forma, a destruição dessas áreas naturais causa a perda de biodiversidade e serviços ecossistêmicos, agrava a crise climática e aumenta o risco de novas pandemias, ressaltou Seixas. “Está claro que a escolha de consumo que fazemos hoje de alimentos, roupas ou utensílios domésticos tem implicações diretas na conservação ou destruição de áreas naturais e no risco de novas pandemias”, afirmou a pesquisadora. A fim de desacelerar a perda de áreas naturais, minimizar as mudanças climáticas e favorecer o desenvolvimento sustentável em longo prazo, será preciso promover mudanças em políticas públicas, nos padrões de consumo e investir em novos modelos de produção agropecuária que conservem a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos. Além disso, será necessário desenvolver sistemas de produção industrial que operem em uma lógica de economia circular, evitando a poluição ambiental; investir na produção de energia renovável, saneamento básico e tratamento de efluentes, de modo a evitar a poluição de corpos d’água; e valorar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos nos processos econômicos, apontou Seixas. “Em geral, os serviços ecossistêmicos, que são gerados pela interação de animais, plantas, fungos e microrganismos, não são contabilizados nos custos de produção”, disse a pesquisadora. O serviço de polinização de culturas agrícolas de grande importância para a agricultura brasileira, como a soja (Glycine max) e a laranja (Citrus sinensis), realizado por abelhas e outros polinizadores, foi estimado em 2018 em R$ 43 milhões (leia mais em agencia.fapesp.br/29730). Já o valor total dos serviços ecossistêmicos prestados pela natureza nas Américas equivale ao PIB do continente, de mais de US$ 24 trilhões por ano, exemplificou Seixas. Estímulo à economia verde A crise econômica gerada pela COVID-19 deve resultar em uma retração de 5% a 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, que em 2019 foi de US$ 87 trilhões. Essa redução da atividade econômica global – da ordem de US$ 5 trilhões a US$ 10 trilhões – é equivalente a perda de três a cinco vezes o PIB do Brasil, o nono maior do mundo, estimado em US$ 1,8 trilhão, comparou Carlos Eduardo Frickmann Young, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em economia ambiental. “Teremos uma crise de desemprego que certamente não tem paralelo no mundo pós Segunda Guerra Mundial”, disse Young. As crises econômica e fiscal – marcada pela queda de arrecadação de impostos – geradas pela pandemia devem resultar em um aumento dos gastos públicos dos países, voltados a apoiar atividades que contribuam para a recuperação de suas economias. Os critérios para a concessão desses incentivos devem levar em contar atividades que contribuam para o desenvolvimento de uma economia verde ou de baixo carbono, que não piorem as condições socioeconômicas atuais, avaliou Young. “O risco agora é que, em vez de ser desenhado um conjunto de incentivos econômicos que melhorem as condições socioeconômicas, se regresse ao modelo econômico anterior à pandemia, que é predatório e gera desemprego”, disse Young. De acordo com o pesquisador, o modelo econômico adotado pelo Brasil, por exemplo, baseado na agropecuária e na extração mineral, é pouco inclusivo. O setor agropecuário tem apresentado um déficit de 3,6 milhões de empregos nas últimas duas décadas, apontou.  "O modelo econômico em vigor no Brasil não gera empregos, dinamismo e crescimento econômico desejáveis. É fundamental ter, nesse momento, outra forma de incentivar a recuperação da atividade econômica do país”, avaliou Young. Na opinião de Eduardo Brondizio, professor da Indiana University, dos Estados Unidos, o momento atual representa uma janela de oportunidades para repensar a trajetória de desenvolvimento econômico e social do planeta. “Estamos em um momento crítico em que, de maneira sem precedentes, os países vão começar a investir, subsidiar e ajudar a recuperar vários setores da sociedade. Temos a oportunidade de escolher novos caminhos ou reforçar os existentes e que só servem aos interesses de grupos particulares”, avaliou. O pesquisador brasileiro, radicado há mais de 20 anos nos Estados Unidos, foi um dos coordenadores da primeira avaliação global da biodiversidade, publicada em 2019 pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES). O relatório produzido pelo órgão, que inspirou a criação da BPBES, indicou que a extinção de espécies de plantas e de animais tem ocorrido em uma escala sem precedentes e anteviu a possibilidade de surgir uma pandemia (leia mais em agencia.fapesp.br/30430). “O relatório mostrou que progressivamente estamos erodindo a fundação mais básica da nossa economia, que garante a saúde, segurança alimentar, disponibilidade de água e o bem-estar humano, que é a biodiversidade”,

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De“repente”, a turbulência internacional (por Francisco Cunha)

Logo nos primeiros dias de 2020, os EUA, em ataque relâmpago e fulminante no aeroporto de Bagdá, eliminaram o general iraniano Qasem Soleimani, considerado o segundo personagem mais poderoso do Irã, atrás apenas do aiatolá Ali Khamenei, sucessor do aiatolá dos aiatolás, Ruhollah Khomeini, líder inconteste da revolução iraniana de 1979 que depôs o famoso xá Reza Pahlav. Sem entrar no mérito dos argumentos usados pelo presidente Donald Trump para justificar o ato, o fato é que, imediatamente, sobreveio uma grande incerteza sobre o cenário internacional, mudando completamente a “temperatura” das tendências predominantes para o ambiente externo que fecharam as projeções do ano de 2019 para o de 2020. Esse acontecimento que, depois de ocorrido, pode parecer até óbvio, nos chama a atenção para, justamente, uma espécie de inverso do óbvio que é a incerteza diante do grande leque de possibilidades disruptivas, a partir de uma aparente ordem que nos incentiva a projetar no futuro a pseudo “calmaria” do presente, como se ela estivesse condenada a acontecer para a frente só porque era o estado “normal” até pouco tempo atrás. Que nada! Nós tendemos a esquecer disso mas o “normal” é, justamente, o “anormal”. Afinal, como nos disse o compositor Paulo César Pinheiro na letra da música Mordaça que fez sucesso na década de 1970, incluída no disco O importante é que a nossa emoção sobreviva: “Pois tudo é instável e irregular / E de repente o furor volta”. E, no caso específico, que potencial de furor! Nada mais, nada menos do que, de um lado, todo o excepcional poderio bélico e de inteligência dos EUA, supremamente comandados por um presidente sobre o qual, o mais brando que se pode dizer é que se trata de uma criatura nada convencional. Do outro lado, toda a carga do fundamentalismo xiita comandado por uma obstinada ortodoxia de tradição milenar muçulmana, herdeira direta do império persa. Dois “ossos” muito “duros de roer”! A partir daí, tudo pode acontecer, inclusive nada, como diz o ditado popular, embora, dadas as características dos contendores, “nada” seja o menos provável. De “repente”, o ano começa agitado no cenário externo para nós brasileiros que tivemos os últimos anos bem agitados no cenário interno. Mas, estamos aí para isso mesmo, afinal, o importante é que a emoção sobreviva.

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Economia brasileira cai 0,2% no primeiro trimestre do ano

O Produto Interno Bruto (PIB), que é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, caiu 0,2% no primeiro trimestre deste ano, na comparação com o último trimestre de 2018. A queda ocorreu depois de altas de 0,5% no terceiro e de 0,1% no quarto trimestres do ano passado. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu 0,5% na comparação com o primeiro trimestre do ano passado e 0,9% no acumulado de 12 meses. Os dados mostram que, do último trimestre de 2018 para o primeiro trimestre de 2019, a queda de 0,2% foi puxada por um recuo de 0,7% no setor industrial. As principais atividades em queda foram a indústria extrativa mineral (-6,3%), construção (-2%) e indústrias da transformação (-0,5%). A agropecuária também teve queda (-0,5%). Os serviços tiveram taxa positiva de 0,2% no período, evitando uma queda mais acentuada da economia. Sob ótica da demanda, a queda foi puxada pela formação bruta de capital fixo, isto é, os investimentos, que caíram 1,7% do último trimestre de 2018 para o primeiro trimestre deste ano. As exportações também caíram (-1,9%). Ao mesmo tempo, os consumos do governo e das famílias cresceram 0,4% e 0,3%, respectivamente. As importações tiveram alta de 0,5%. (Da Agência Brasil)

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Para 84% dos consumidores, economia do país continua crítica

Ainda sem recuperar as perdas ocasionadas pela crise, a maioria dos consumidores brasileiros avalia que a economia vai mal. É o que mostra o Indicador de Confiança do Consumidor (ICC) da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). Na sondagem de julho, 84% dos consumidores disseram que o cenário atual se mantém ruim ou muito ruim. Desse universo, 73% atribuem como principal razão o elevado índice de desemprego no país. Também pesa a percepção de que os preços vêm aumentando (59%), as taxas de juros seguem em alta (39%) e o dólar está mais caro (26%). Além dos que consideram o quadro ruim, 13% acham que é regular e apenas 2% acreditam que esteja bom. De acordo com a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, o ambiente econômico em lenta recuperação tem afetado a confiança das pessoas, com impacto na retomada do consumo. “O achatamento da renda e o desemprego mostra que, no dia a dia do consumidor, pouca coisa evoluiu com relação ao período mais agudo da crise. A recuperação da confiança requer uma retomada mais vigorosa da economia, que aqueça o mercado de trabalho, mas isso não deve ser visto no horizonte dos próximos meses”, analisa a economista. Se por um lado a maior parte dos consumidores tem a percepção de que a economia vai mal, por outro a visão sobre as próprias finanças é um pouco melhor. O percentual dos que consideram crítico o momento atual é de 43%. Além desses, 11% avaliam a vida financeira como boa e 46% regular. Nesse caso, o custo de vida alto (53%) e o desemprego (41%) são as principais razões dos insatisfeitos com a situação do bolso. Na outra ponta, os poucos que dizem estar com a vida organizada atribuem esse fato ao controle das finanças (61%). Ainda em um cenário de pessimismo, Indicador de Confiança marca 41,0 pontos em julho Praticamente sem evoluir desde janeiro de 2017, o Indicador de Confiança do Consumidor registrou 41,0 pontos em julho. Na comparação com o mesmo mês de 2017, o indicador ficou praticamente estável – quando o resultado foi de 41,4 pontos. Já ante junho passado, houve um avanço de 2,2 pontos, reação pós-paralisação dos caminhoneiros. Pela metodologia, o indicador varia de zero a 100, sendo que resultados acima de 50 pontos demonstram o predomínio de otimismo, ao passo que abaixo de 50, o que prevalece é a visão pessimista. O Indicador de Confiança é composto pelo Subindicador de Cenário Atual, que registrou 28,8 pontos mês passado — próximo ao de junho, que foi de 28,9 pontos —, e pelo Subindicador de Expectativas, que cresceu ao passar de 48,6 pontos em junho para 53,2 pontos em julho. 41% dos entrevistados acreditam que economia permanecerá ruim nos próximos seis meses; 58% estão otimistas com vida financeira Dados do Indicador de Expectativas do Consumidor referentes ao mês de julho mostram que os entrevistados seguem pessimistas em relação aos próximos seis meses, embora os resultados sejam melhores do que quando se avalia o presente: 41% acreditam que o desempenho da economia se manterá crítico, enquanto 36% não se consideram nem otimistas nem pessimistas. Por sua vez, outros 18% mostram-se otimistas. Entre os que não apostam em um cenário favorável, o fator desemprego é novamente mencionado como causa dessa baixa expectativa (57%). Em segundo lugar, aparecem os escândalos de corrupção (51%) e o receio do descontrole dos preços (46%). Entre os que disseram estar otimistas com os próximos meses da economia, mais da metade (53%) não sabe ao certo explicar suas razões. Além desses, 22% têm percebido as pessoas mais otimistas com a economia e 18% notaram que os preços pararam de aumentar. Pensando no futuro da própria vida financeira, o otimismo fica mais evidente: 58% dizem ter boas expectativas para o segundo semestre. Os pessimistas, por sua vez, somaram 10% dos consumidores, enquanto 26% disseram que as perspectivas não eram boas ou ruins. Entre os que não têm boas perspectivas para as próprias finanças, a razão mais citada é o receio de que a situação econômica do país piore (58%). Em segundo lugar, aparece a situação financeira ruim do momento (50%), os preços ainda aumentando (49%) e a falta de perspectivas entre os que estão desempregados (17%), ao lado do medo de perder o emprego (17%). A sondagem também revela que, em julho, 46% dos consumidores afirmaram que o alto custo de vida tem atrapalhado a vida financeira das famílias. O desemprego apareceu em seguida, mencionado por 20%. Se o custo de vida prejudica o orçamento familiar, foi nos supermercados que a maior parte dos consumidores sentiram o aumento dos preços: 91% notaram aumento em relação a junho. Nas contas de luz, houve percepção de alta para 90% dos entrevistados. Metodologia Foram entrevistados 801 consumidores, a respeito de quatro questões principais: 1) a avaliação dos consumidores sobre o momento atual da economia; 2) a avaliação sobre a própria vida financeira; 3) a percepção sobre o futuro da economia e 4) a percepção sobre o futuro da própria vida financeira. O Indicador e suas aberturas mostram que há confiança quando os pontos estiverem acima do nível neutro de 50 pontos. Quando o indicador vier abaixo de 50, indica falta de confiança. Baixe a análise do Indicador de Confiança do Consumidor em https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/indices-economicos

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Em tempos de desemprego, pernambucanos buscam alternativas

As altas taxas de desemprego em Pernambuco e no Brasil não são apenas uma fotografia momentânea. Na avaliação dos especialistas, o cenário da desocupação está mais para um filme que tem como protagonista o desmonte recente da economia brasileira. Um roteiro que não foi revertido com as mudanças nas leis trabalhistas e que começa a ser afetado também por uma revolução tecnológica, que promete atingir uma parcela maior de trabalhadores. Até então apenas o “chão de fábrica” teve suas funções substituídas por robôs, mas a perspectiva para um futuro próximo é que a inteligência artificial substitua também cargos nos escritórios. Para enfrentar a escassez de postos de trabalho e ter expectativas melhores, muitos profissionais investem em outros caminhos para geração de renda, como o empreendedorismo e o cooperativismo. A prestação de serviços com apoio de aplicativos, como o modelo do Uber, e a aposta no setor de franquias também são alternativas em crescimento no Estado. “No País a crise bateu na porta no último trimestre de 2014. O cenário do emprego em 2015 foi negativo. Tivemos o pior ano de nossas vidas em 2016. Em 2017, parou de piorar, numa estabilidade perto do fundo do poço, da qual ainda não saímos”, afirma Lúcia Garcia, coordenadora de pesquisa do mercado de trabalho do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Ela avalia que em 2018, a conjuntura que vivemos guarda semelhanças numéricas ao epicentro da crise de 2008, quando ocorreu o estouro da bolha especulativa nos Estados Unidos. “De lá para cá, o capitalismo não dá respostas efetivas para crise global”. A especialista afirma que a crise do emprego no Brasil foi impulsionada por dois fatores da economia brasileira que afetaram diretamente Pernambuco: a paralisia do setor de petróleo e gás e das grandes obras financiadas pelo Governo Federal. A Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do IBGE aponta que no Estado a taxa de desemprego no último trimestre de 2014 era de 8,3%. No último trimestre de 2017, o percentual subiu para 17,9%. O fechamento de postos de trabalho só no primeiro semestre deste ano foi de 10 mil vagas, de acordo com o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do Ministério do Trabalho. Como Pernambuco passava há anos por uma onda crescente de investimentos industriais e de infraestrutura, a queda foi sentida de forma mais intensa. Jovens como Marcelly Arcanjo, 23 anos, que se preparava para ocupar uma vaga no polo naval, foi surpreendida com o encolhimento do setor. Tecnóloga em construção naval e com curso técnico em automação industrial, ela não conseguiu emprego. “Quando comecei os cursos havia uma grande oferta de oportunidades na área. Ao concluir era zero o número de vagas”, lamenta. Em reação à crise do setor recém-nascido em Pernambuco, Marcelly migrou de área. Voltou aos estudos e está em formação como técnica em eletrônica. “Troquei de foco para ter maior aceitabilidade no mercado de trabalho. Estou fazendo também iniciação científica, em um projeto de inovação para melhorar a mobilidade urbana. Isso me abre oportunidades tanto para o empreendedorismo como para a carreira acadêmica”, relata. Seguir para o mestrado na área de transportes está nos planos da estudante. Após ter sido demitido de um emprego de vendedor no comércio do Centro do Recife, Raul Teixeira, 23 anos, começou a trabalhar como motorista de Uber. “A crise me prejudicou bastante. Minha esposa estava grávida também. Tive que trabalhar de alguma forma. Decidi arriscar no Uber e não me arrependo”. Apesar de satisfeito com o novo ofício, que lhe remunera melhor que o comércio e proporciona flexibilidade dos horários, ele afirma não estar acomodado. Após iniciar e trancar cursos na área de logística e segurança do trabalho, formações em alta com a retomada industrial anterior à crise, ele está dividido entre fazer graduação em direito e tentar uma carreira pública ou montar seu próprio negócio. “Trabalhar como Uber abriu muito a minha visão. Hoje estou trabalhando para mim. Nunca pensei nisso antes. Minha ideia era sempre buscar emprego. Mas depois dessa experiência, vi que posso investir em algo e conseguir ganhos maiores que ser empregado”, revê Teixeira. Para sobreviver a esse cenário, a criatividade do brasileiro está sendo posta à prova. Um terreno fértil para o chamado “empreendedorismo por necessidade”. De acordo com o consultor do Sebrae, Vitor Abreu, esse fenômeno é caracterizado quando uma pessoa monta um negócio movida pela urgência. “É um tipo de empreendedor que aumenta em tempos de desemprego, quando as pessoas têm dificuldade de retornar ao mercado de trabalho e precisam voltar a gerar renda. Não necessariamente pela identificação de uma boa oportunidade”, explica. A pressa em voltar a ter remuneração, inclusive, faz com que esses empreendedores queimem algumas fases importantes da estruturação de uma pequena empresa. O que aumenta o risco de mortalidade do negócio, de acordo com o especialista. “Trabalhamos muito para evitar que na necessidade as pessoas não pulem etapas do planejamento. Isso faz com que comecem de fato a buscar mais a identificação de uma oportunidade”, afirma. Um dos caminhos acessados pelos empreendedores é a busca pelo setor de franchising. Andrea Fonseca era trainee na área administrativa de uma grande construtora nacional quando os cortes de pessoal a alcançaram. Enquanto ainda estava no emprego, ela visitou uma feira de franquias onde conheceu a marca que seria a sua aposta. Investiu numa unidade da Mister Mix em Camaragibe. Com bons resultados, assumiu uma outra loja em Jaboatão dos Guararapes e, recentemente, uma terceira no Shopping Camará. O conhecimento em administração e gestão aprendido na faculdade e na experiência profissional foi importante para consolidar a iniciativa. “Sempre pensei em montar um negócio. A demissão foi importante para essa passagem. Aproveitei a oportunidade e sempre tive resultado. Não foi fácil passar pelos piores dias da crise, mas aprendi bastante. Virei praticamente uma funcionária, fazendo parte do quadro. Mas estou bastante satisfeita”, conta a empresária. Hoje ela já recebe mais do que no antigo emprego e comemora o fato denão ter que viajar tanto como na

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