No ano passado, Algomais entrevistou Roberto Gusmão, o presidente do Complexo de Suape que estava cheio de planos e enfrentando muitos desafios. Alguns foram concretizados e superados, como a Transertaneja, que será a primeira integração ferroviária do porto. Foi uma solução gerada num esforço conjunto de políticos e empresários, para o problema da Transnordestina cujas obras estavam inconclusas há anos. Mas outros obstáculos persistem, como a dificuldade em retomar a autonomia de Suape, cuja gestão hoje é federalizada. Apesar disso, o saldo tem sido positivo para o complexo portuário e industrial que teve um aumento no faturamento no ano passado de 14%, chegando a R$ 300 milhões. E as perspectivas também são promissoras com a aprovação do projeto BR do Mar que incentiva a cabotagem, a retomada das obras da refinaria e a implantação de um terminal de regaseificação, que vai permitir o aumento da concorrência no fornecimento de gás. A área industrial do complexo também promete investimentos estratégicos com a instalação de plantas de produção de hidrogênio verde. Os planos de Gusmão são ambiciosos: “Não queremos ser apenas um exportador de hidrogênio verde para combustível, queremos produzir aqui ingredientes para a atração da indústria verde no Complexo Industrial de Suape”. Confira a entrevista: O projeto da nova ferrovia ligando Piauí a Suape vai aproveitar algum trecho já construído da Transnordestina? Ela terá recursos públicos? Existia um projeto de lei no Senado, o PLS 261 (que trata de novos instrumentos de outorga para ferrovias em regime privado). Havia também uma medida provisória tratando do mesmo assunto. O Ministério da Infraestrutura, o Governo de Pernambuco e outros governos pressionaram para que o ministro Tarcísio de Freitas não aguardasse apenas a aprovação da lei. Por isso, foi feita uma medida provisória em praticamente igual teor ao do projeto de lei. Tanto o PL como a MP não limitam que os atores envolvidos possam conversar e, se for o caso, aproveitar trechos em compartilhamentos de qualquer empreendimento. O que a gente espera com o desfecho que conseguimos estabelecer — com muita ajuda do ministro da Infraestrutura, da grande mobilização que foi feita da bancada federal pernambucana e dos empresários — é que haja um entendimento que possa facilitar o tempo de execução da obra. Acontece o seguinte: o que define é a carga, não é o governo, não é o terminal. E a carga (no caso, a empresa Bemisa que construirá a ferrovia) colocou bem claro que Suape tem melhor condição de fazer esse escoamento. Achamos importante que a Transnordestina cumpra o que está no contrato que é terminar o trecho até Pecém (CE) e que tenhamos uma competição entre os portos de outras cargas envolvidas. Grande parte do trecho de Curral Novo (PI) até Salgueiro está pronto e se houver um entendimento seria interessante. Mas, de toda forma vai dar certo. Os recursos para a construção da ferrovia são 100% privados. Essa é a diferença do que é uma concessão pública e o que é uma autorização de outorga. A empresa vai construir a ferrovia independentemente da Transnordestina – que foi o que a gente batalhou sempre: sair desse imbróglio da Transnordestina. Trata-se de um projeto verticalizado da Bemisa que tem a mina de minério de ferro, a ferrovia e o terminal de minérios na Ilha de Cocaia. O ministro Tarcísio deu início ao processo de consulta pública para que a Ilha de Cocaia seja retirada da área do Porto Organizado de Suape, tornando viável a instalação de um terminal privado de minério de ferro. A ferrovia vai se chamar Transertaneja e será a primeira integração ferroviária em Suape, o que vai ser muito importante para Pernambuco, um empreendimento que promoverá uma mudança econômica, talvez maior que a instalação de Suape há 43 anos. As obras da segunda etapa da Refinaria Abreu e Lima serão retomadas. Qual o impacto disso para Suape e para o Estado? A refinaria foi projetada para processar 230 mil barris diários e só estava operando a 115 mil barris/dia. O investimento da Petrobrás é de quase US$ 1 bilhão e é extremamente importante porque dobra a movimentação de Suape e a Transertaneja vai triplicá-la, saindo de 25 milhões de toneladas por ano para 75 milhões a 80 milhões de toneladas/ano no médio a longo prazo. Então, consolidamos Suape como hub e como um dos três principais portos do Brasil. Como estão as negociações com a Qair para instalar a planta de hidrogênio verde em Suape? Temos um protocolo assinado não só com a Qair, mas também com seis outras empresas interessadas no hidrogênio verde. O Nordeste brasileiro e a Austrália são qualificados como regiões foco desse novo mercado. A Qair já tinha feito os projetos básicos para poder implantar parte da planta até 2026. Mas não queremos ser apenas um exportador de hidrogênio verde para combustível, queremos produzir aqui ingredientes para a atração da indústria verde no Complexo Industrial de Suape. A produção do hidrogênio se dá por meio da tecnologia da eletrólise da molécula de água separando o hidrogênio do oxigênio. A faísca da energia elétrica que produz a quebra da molécula pode vir do gás, originando o hidrogênio azul, ou do carvão (hidrogênio cinza). No caso do hidrogênio verde, a eletricidade pode ser originária de três fontes: solar, eólica ou hídrica, que é o que temos aqui no Nordeste, principalmente solar e eólica. O processo de eletrólise existe há mais de 80 anos, e pode produzir o hidrogênio, mas também o oxigênio. Temos aqui a fábrica da White Martins que produz esse gás, então poderemos ter uma oferta de oxigênio. Nós vimos a importância dele agora na pandemia. Quando ocorre a mistura do hidrogênio com o nitrogênio, tem-se a amônia. Somos importadores desse insumo, principalmente na parte de fertilizantes. Isso pode agregar valor não só à agricultura, mas também à indústria, já que a amônia é insumo na fabricação de produtos como biscoitos e lácteos. A chamada nova indústria verde, de emissão de carbono zero, é a que queremos atrair. Grande parte das empresas