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Maria da Penha

Todas as Marias (Por Beatriz Braga)

A pior ligação que já recebi foi num domingo à noite quando ela, do outro lado da linha, procurava algum conforto do lado de cá. Entre gritos e choros, minha amiga tentava dimensionar a agressão do namorado que acabara de acontecer. “Um monstro”, concluímos. Não sei o que doeu mais: ouvir tudo aquilo ou vê-la voltando para o relacionamento um tempo depois. Ela é dessas mulheres cheias de energia, maravilhosa. O cara é daqueles boa-praça, que todos adoram, aparentemente um homem bacana. Provavelmente doeu mesmo foi quando percebi que estávamos enganadas. Ele não é um monstro. Monstros são anomalias, deformidades, seres contrários à natureza. Ele é um homem comum, “de bem”, desses que circulam nas festinhas, popular. E são exatamente caras como ele que protagonizam os piores dias da vida das mulheres ao meu redor. Não são corcundas, não têm caras peludas e não vivem em cavernas. No dia 7 de agosto, a Lei Maria da Penha completou 11 anos. A mulher que deu nome à lei foi baleada pelo marido, ficou paraplégica e viu sua história servir de inspiração para milhares de brasileiras. No aniversário do marco, porém, os números não são bons. Segundo o Mapa da violência, há 13 feminicídios por dia no Brasil. Somos o quinto país que mais mata mulher no mundo. Em 2016, 503 mulheres sofreram agressão a cada hora. Em 61% dos casos, os algozes eram do seu círculo mais próximo de convívio (Datafolha). Nós não escolhemos dividir nossos travesseiros com monstros, mas infelizmente somos todos produtos de uma sociedade machista. Esses homens, em algum momento de suas criações, aprenderam a ver as mulheres como suas propriedades. A violência física normalmente vem depois que a agressão psicológica já causou sérios danos a quem sofre. Uma das várias faces do abuso é fazer com que a vítima se sinta culpada por aquela situação. A amiga lá de cima me disse: “Fui percebendo que ao lado dele eu ficava calada na frente de outras pessoas, porque tudo que eu dizia era motivo de briga”. De outra escutei dizer simplesmente “sou fraca” em uma conversa sobre amor. No livro “Vagina”, Naomi Woolf conta que uma das frases mais ditas por mulheres violentadas é que elas se sentem “um lixo”. Certa vez escutei de um ex-namorado que meu maior defeito era ter muitas opiniões. Essas opiniões são justamente o que fazem de mim quem eu sou. E por algum tempo me pus a pensar que havia algo errado com isso. Relacionamentos abusivos nos distanciam de nós mesmos. De repente, afundamos em um ciclo repetitivo de maus-tratos, desculpas, dependência e, o pior, culpa. Se você se considera a feminista, provavelmente já escutou alguma brincadeira sobre odiar homens. Eu não os odeio. Entre as cinco pessoas que mais amo, quatro são homens. Só que estamos cansadas. De enxugar tantas lágrimas. De ouvir tantas desculpas. De ter que lidar com tamanha quantidade de bobagens. De ver mulheres incríveis sofrendo por homens comuns. Trago, porém, uma boa notícia. Digo-lhes a cena que recentemente vi: um grupo de mulheres jovens, trabalhadoras e fortes conversando sobre as “fogueiras” que haviam pulado (lê-se: os namoros nocivos deixados para trás). A mulher do começo da coluna, hoje, cuida bem de suas feridas para redobrar a força redescoberta. E jamais se cala por nenhum outro homem. É difícil encontrar entre as mulheres que conheço as que não passaram por um relacionamento abusivo. No entanto, cada vez mais, é comum nos enxergarmos deixando-os ir embora. “Os homens vão ter que mudar porque as mulheres simplesmente não vão mais aceitar”, ouvi. O mundo ainda é um lugar perigoso para ser mulher. A denúncia e a renúncia de relacionamentos abusivos vêm com vários complicadores: dependência emocional, patrimonial, vergonha, humilhação... mas vai chegar a hora, e eu acredito muito nisso, que os homens não terão mais escolha: ou respeitam ou ficam sós. Entre homens e opiniões, ficaremos sempre com nossas ideias, roupas e boas escolhas. Estaremos sempre um passo à frente. E assim levaremos outras mulheres. Todas as Marias que, por bem, quiserem ir junto.

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Maria da Penha visita o Hospital da Mulher

O Hospital da Mulher do Recife (HMR) Mercês Pontes Cunha recebeu nesta segunda-feira (5) uma visita muito especial. A farmacêutica cearense Maria da Penha, que deu nome à Lei nº 11.340, que visa coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, conheceu de perto a unidade de saúde. O prefeito Geraldo Julio, acompanhado da primeira-dama Cristina Mello, apresentou as instalações do hospital e falou um pouco sobre o trabalho que é realizado lá, como as ações do Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência - Sony Santos. “É um orgulho para a nossa cidade receber Maria da Penha aqui. Ela que é um símbolo e que tem uma história de vida que fez mudar no Brasil a concepção, não só em relação à Lei, mas de cultura da população brasileira. Estamos lutando para mudar a cultura do machismo no Brasil e a Prefeitura do Recife vem fazendo sua parte, com o “Maria da Penha vai à Escola”, as campanhas de enfrentamento à violência contra mulher, o empoderamento financeiro das mulheres e poderem denunciar os casos de abuso e violência que ocorrem”, destacou Geraldo. “Aqui não é um hospital que faz cirurgias, exames e partos, apenas. Aqui se faz isso tudo com humanização e um trabalho completo, com a sensibilidade que é preciso”, acrescentou Geraldo. O Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência - Sony Santos oferece atendimento multiprofissional para mulheres agredidas, seja física, sexual ou psicologicamente. O Centro também permite o registro online do boletim de ocorrência, se assim a mulher desejar, bem como a perícia do exame de corpo de delito. Desde a sua inauguração, em maio do ano passado, foram realizados 669 atendimentos (212 de primeira vez, 434 de retorno e 23 perícias). A visita foi acompanhada pelos secretários Jaílson Correia (Saúde), Cida Pedrosa (Mulher) e Ana Rita Suassuna (Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas Sobre Drogas e Direitos Humanos). Maria da Penha ressaltou a estrutura e as atividades desenvolvidas no Hospital da Mulher, dizendo que o local deve servir de exemplo para todas as cidades do Brasil. “Estou muito feliz em conhecer este Hospital. Desconheço, por onde eu já fui, um equipamento como este. E a gente só tem a noção quando conhece de perto. Aqui a gente percebe a valorização que foi dada pela Prefeitura à saúde da mulher de uma maneira geral”, elogiou. Maria da Penha Maia Fernandes, cearense, 71 anos, lutou anos para que seu ex-marido viesse a ser condenado. Ele tentou matá-la por duas vezes, em 1983. Penha ficou paraplégica. O agressor só foi condenado quase vinte anos depois. Em agosto de 2006, foi sancionada a Lei Maria da Penha, que aumenta o rigor das punições em agressões contra a mulher, quando ocorridas em ambiente doméstico ou familiar. MARIA DA PENHA VAI À ESCOLA - Lançada em maio de 2014, a ação tem como objetivo a desconstrução das desigualdades de gênero e enfrentamento aos preconceitos de raça, orientação sexual e contra pessoas com deficiência no âmbito da comunidade escolar, buscando mudanças de comportamentos e valores. A atividade é realizada através de oficinas educativas com os estudantes do 5° ao 9° ano. Ao final de três encontros, os alunos e alunas produzem peças de teatro, musicais, cordéis, vídeos ou livros sobre os temas debatidos e apresentam à comunidade escolar. Desde 2014, o projeto já passou por mais de 100 escolas e contemplou mais de 5 mil alunos. CENTRO SONY SANTOS – Por meio da Política de Atenção Integral à Saúde da Mulher, considerada uma prioridade, a Prefeitura do Recife planejou a implantação de um Centro de Atenção à Mulher Vítima de Violência, no Hospital da Mulher do Recife, através de um modelo de assistência humanizado e inovador. Inaugurado em 14 de julho de 2016, o Centro funciona anexo ao HMR, 24 horas por dia; com equipe multiprofissional, composta por médicos, assistentes sociais, enfermeiros, psicólogos e médico legista. Interligado à Delegacia da Mulher, proporciona conforto, segurança e sigilo para que a mulher possa formalizar seu Boletim de Ocorrência, de forma online. O Sony Santos conta ainda com o médico legista, realizando perícias sexológica e traumatológica. BALANÇO HMR – Desde quando foi inaugurado, em maio de 2016, o Hospital da Mulher do Recife Mercês Pontes Cunha atendeu a 303.100 usuárias, totalizando 71.362 consultas e 215.053 exames. Na unidade, foram realizados 3.139 partos (sendo 2.358 normais e 781 cesáreas), 1.594 cirurgias e 15.120 atendimentos de emergência. (PCR)

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