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Romildo Moreira

A cultura em tempo de eleições (Por Romildo Moreira)

Ao aproximar-se as eleições municipais, torna-se mais que oportuno, necessário, que os segmentos setorizados da cultura discutam com profundidade o que de providências políticas são preciso para por em prática pela administração municipal, para, em documento assinado, ser entregue aos postulantes ao cargo de prefeito. A hora é exatamente essa para a mobilização nesse sentido, porque as chapas eletivas estão sendo formadas e na sequencia, os compromissos de campanha serão efetivados, para divulgação nos discursos de palanque ao vivo nas ruas e em cores na tela da TV. As críticas e exigências são fartas e que assim seja sempre. Porém, é também necessário que, organizadamente, os segmentos da cultura apontem diretrizes que facilitem o cotidiano administrativo da cidade em investir nas ações do setor.  Há quem diga: é só cumprir as leis existentes.  Mas não é só isso porque as leis, em geral, são generalizadas em verbos do tipo: promover; apoiar; difundir; descentralizar; etc., o que facilita que as ações do poder público se enquadrem, aleatoriamente, aos preceitos legais. É aí, portanto, que reside o “x” do problema. Se não forem apontadas prioridades consecutivas que consistam num plano político de atitude para a gestão, certamente reinará a política da ação eventual que fragilizam, em muito, o desenvolvimento e o avanço dos setores, em especial, os artísticos. Entra aí o fundamental papel do Conselho Municipal de Cultura na manutenção e atualização dos anseios dos setores nele representados, tanto no apontamento, quanto na vigilância do cumprimento político de uma gestão democrática. Aos municípios que ainda não contam com esse instrumento legal de política cultura, torna-se urgente uma mobilização para torna-lo realidade. Aos conselhos já existentes, é inevitável que haja constantemente o entrelaçamento de cada representante eleito com a sociedade setorial que ele representa, para que de fato, e de direito, a representação seja plena e, consequentemente, o poder deliberativo (e consultivo) do conselho, legítimo e respeitado. Na atual conjuntura, quanto mais profundidade nos debates organizados pela sociedade civil, no intuito de contribuir com a política cultural da cidade, melhor. É com o amadurecimento da opinião pública que se eleva o amadurecimento do exercício de poder dos cargos eletivos. E com isso, a probabilidade de acertos nas opções apontadas para um programa de ação cultural é bem maior, e bem melhor de ser acompanhada, que o contrário, considerando que é no município que o cidadão reside, e quer permanecer residindo, paga seus impostos e necessita ser atendido conforme merece e contribui pra isso. Vê-se então que em tempo de eleições o segmento cultural tem um papel bem mais extenso que fazer campanha para candidatos, papel esse que poderá, definitivamente, tornar realidade os quase impossíveis sonhos de ter: equipamentos culturais funcionando a contento; a produção artística crescendo em quantidade e qualidade; a circulação da produção atendendo espaços nunca antes atendidos; a facilitação do acesso à formação; a valorização financeira da atividade; o tratamento profissional e respeitoso a todos os trabalhadores do setor; a continuidade e diversidade de programas essenciais de fomento à produção; a garantia de apoio para a efetiva manutenção de eventos consolidados no calendário cultural da cidade, etc. Se são sonhos, que não se eternizem assim, até mesmo porque muitos deles já foram realidade e, sem dúvida, todos podem ser tão real quanto o poder que emana das urnas. E esse poder só valerá a pena se os nossos sonhos forem os reais objetos de trabalho dos eleitos, para revertê-los em fatos concretos. DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ NO RECIFE: - “Os Três Porquinhos”, com a Portugal Produções e Paulo de Castro Produções. Local: Teatro Barreto Júnior (Pina) Dias: 23 e 24/07 – às 16h. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 33556399. Programação do XIII Festival de Teatro para Crianças de Pernambuco - “O Pequeno Príncipe”, com a Cia. do Riso. Local: Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu) Dias: 23 e 24/07 - às 16h30 Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 33559821. - “Meu Reino Por um Drama”, com a Métron Produções. Local: Teatro Experimental Roberto Costa (Paulista North Way Shopping) Dias: 23 e 24/07 – às 16h30 Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 – Informações: 98859º777.

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Ir ou não ir ao teatro? Eis a questão (Por Romildo Moreira)

Vimos, há algum tempo, pensando questões relacionadas ao fluxo de público nas casas de espetáculos. Vez por outra esse assunto vem à baila e, invariavelmente, chega-se as mesmíssimas observações, sem que com isso a questão marche rumo à solução. Por exemplo, a falta de hábito é sempre a primeira questão a ser abordada, mas não existe, ao detectá-la, uma iniciativa que realmente reverta essa situação e busque o hábito almejado da “população”, para que se adquira um público mais numeroso e constante nas nossas casas de espetáculos – tarefa nada fácil porque mexe com valores sociais, culturais e econômicos já entranhados no seio da sociedade em geral. E quando eventualmente uma produção sinaliza nessa direção, seja de teatro ou de dança, o resultado recai apenas para a própria produção, ou seja, não atinge de fato a questão do hábito, e sim, o estímulo para ver o espetáculo que ela representa. O que é positivo por um lado e uma pena por outro, se considerarmos que todo espetáculo merece ser visto por uma casa lotada. Vamos aqui abrir um parêntese para debater uma das mais utilizadas formas de levar público ao teatro; a doação de convites. A própria lei de Incentivo à Cultura de Pernambuco, o Funcultura, estimula essa prática aos seus contemplados, utilizando o argumento da contrapartida social. Porém, em diversas rodadas de conversas a esse respeito, detectou-se haver mais prejuízo que benefício de ação como essa, por três razões básicas: 1ª - A doação alimenta o vício de não pagar para ir ao teatro (ao contrário do que se faz com cinema), caracterizando assim o desrespeito e a leviandade com que se trata a dança e o teatro que ocupam as casas de espetáculo. E, em muitos casos, os ingressos são distribuídos e as poltronas ficam vazias porque o ganhador não se dignou a retribuir a gentileza com a presença. Outros ainda são mais desrespeitosos, repassando os convites recebidos aos cambistas; 2ª - Por não ter sido desembolsado nenhum valor financeiro para a aquisição do ingresso, quando o ganhador vai, não se preocupa em chegar com antecedência ao recinto da apresentação, também não se incomoda em sair no meio da apresentação para atender o celular, etc. 3ª - Quando o espectador se digna a ir ao teatro, comprar o seu ingresso e assistir ao espetáculo, os artistas sentem a energia respeitosa dessa plateia que a considera a ponte de reservar um espaço em sua agenda para essa finalidade e a apresentação ganha muito em qualidade com isso. Tem-se aí outra relação e a questão passa para outro ângulo de visão, que é o valor do ingresso. Ir ou não ir ao teatro, não nos parece ser a grande questão. Agora, de que forma se vai ao teatro, eis a questão. É praticamente senso comum entre os artistas de palco, que os ingressos devem ter um valor acessível, para permitir a presença de um público mais amplo e com isso sustentar uma temporada. Da mesma forma, fala-se em destinar, a cada récita, cota de ingressos para instituições como escolas públicas, entidades de assistência social, grupos comunitários de jovens, formadores de opinião, etc., todos previamente agendados, com compromisso assumido de comparecer à apresentação, tendo por resultado uma plateia cheia, composta por pagantes e convidados de forma especial, apostando com isso na possibilidade da renovação de público para um futuro próximo. Agora, certamente, só teremos o efeito cobiçado se o exercício de ações como essas se tornarem pratica permanente. Talvez assim tenhamos, paulatinamente, aumento significativo de espectadores habituais ao teatro. Curiosamente, este tema “ir ou não ir ao teatro” já foi abordado em uma peça do dramaturgo alemão Karl Valentim, parceiro de Bertolt Brecth, cujo título é: A ida ao teatro. – Resta-nos agora repetir o chavão: VÁ AO TEATRO e BOM ESPETÁCULO! DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ: - O Beijo no Asfalto, de Nelson Rodrigues Local: Teatro Apolo Dias: sexta 06/06 e sábado 07/06, às 20h. Preços: R$ 30,00 e R$ 15,00. - Informações: 3355-3319 ou 3355-3320. - A Revolta dos Brinquedos, com a Circus Produções Local: Teatro Apolo Dia: domingo 05/06 às 16h Preço: R$ 20,00 e R$ 10,00 - Informações: 3355-3319 ou 3355-3320 - LUIZ E EU? Ô viagem danada de boa!, com a Cia. Maravilhas Local: Teatro Joaquim Cardozo Dia: 05/06 às 16h. Preços: R$ 20,00 e R$ 10,00 - Informações: 2126-7388   Romildo Moreira, ator, autor e diretor teatral  

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O teatro pernambucano destinado a infância e juventude (Por Romildo Moreira)

A dramaturgia brasileira dedicada ao público infantojuvenil tem tido um considerável acréscimo de qualidade, reconhecido por todos que se debruçam ao estudo dessa matéria, desde meados da década de 1980, com o surgimento do texto de Ziraldo intitulado “Flictz”, até os dias atuais. Aqui, em terras pernambucanas, não tem sido diferente. A quantidade de autores criando excelentes obras para essa faixa etária tem superado, e muito, a produção de textos para o público adulto. Provavelmente, a partir da montagem do espetáculo “O pequenino grão de areia”, de João Falcão, a percepção da escrita infantojuvenil, no que diz respeito a sua gênese e também a sua carpintaria dramática, jamais foi a mesma na cidade do Recife, para graça e glória das novas gerações de espectadores. O extrato poético em uma literatura que mistura o possível e o imaginário num resultado cênico que atraia a camada jovem por se identificar com ela, e da mesma forma cative o público adulto, que acompanha a garotada ao teatro, por induzi-lo a ser criança outra vez no faz de conta teatral, é a essência dessa dramaturgia “contemporânea”, que cada vez mais leva à cena, temas delicados para essa plateia. E o que é melhor, com tratamento fundamentalmente artístico. Nesses trabalhos, uma temática com algum teor político nada tem de panfletário ou partidário, da mesma forma que o religioso nada diz de doutrinação, mantendo-se, categoricamente, como expressão artística. Outros exemplos de temas existem e são muitos, passando por morte, sexo, tolerância, etc. Como ressonância de tudo isso, “o teatro poderá ser considerado o mais duradouro dos muitos palácios encantados que a humanidade infantil edificou. A distinção entre arte e vida começa aí”, como já nos revelou Eric Bentley em seu livro “A experiência viva do teatro” (Rio 1981). Na vertente acima exposta, são muitos os exemplos de textos encenados nos palcos de Pernambuco, escritos por dramaturgos locais, de várias gerações, a exemplo de: “Luzia no caminho das águas”, de Alexsandro Souto Maior; “Sebastiana e Severina”, de André Neves; “Minha Cidade”, de Ana Elizabeth Japiá; “O fio mágico”, de Carla Denise; “Salada mista”, de Alexsandro Silva e “As travessuras de Mané Gostoso”, de Lucino Pontes, entre outros. – É necessário aqui lembrarmos outros autores pernambucanos com vasta experiência em dramaturgia infantojuvenil, como Marco Camarotti, Luiz Felipe Botelho, André Filho, Samuel Santos, Luiz Navarro e Paulo Lima, entre outros. Grupos e companhias teatrais da capital pernambucana têm investido, tenazmente, nas linguagens literárias e dramáticas destinadas ao público infantojuvenil, obtendo resultados cênicos impagáveis, como podemos conferir nos espetáculos produzidos por grupos como: Mão Molenga, que unifica em suas criações a linguagem de atores e bonecos; a Cia. 2 em Cena, que entrelaça as expressões de teatro e circo em suas montagens; a Cia. Animée, que encena espetáculos musicais circenses com o protagonismo da palhaçaria feminina; assim como a Cia. Meias Palavras, que busca no espaço da literatura o seu efeito cênico mais notório, sem com isso deixar inferior o tratamento dado aos elementos plásticos e sonoros de suas apresentações. No caso da Cia. Meias Palavras, a presença de Luciano Pontes (criador da companhia ao lado do ator Arilson Lopes), que além de ator é um escritor de projeção nacional para o público jovem, com vários livros publicados, destacando-se: “Uma história sem pé nem cabeça” e “O carrossel do tempo”, ambas pela Edições Paulinas e “Em briga de irmão quem dá opinião?”, pela Editora FTD, justifica a reverberação literária no repertório de suas peças. É claro que a heterogeneidade no universo da produção teatral para a infância e juventude em Pernambuco é uma realidade, com espaços garantidos para produções que optam pelos tradicionais contos de fada (com superproduções do ponto de vista de efeitos ilusionistas), convivendo harmoniosamente com as peças mais contemporâneas, exemplificadas pelas aqui apontadas, criando um leque vasto de opções para o lazer cultural da criançada. – É fato também que a contação de histórias tem sido posta à disposição do público infantil, com muita frequência, em teatros, livrarias e espaços alternativos, como a que inspira a peça que sugerimos abaixo. DICAS DE ESPETÁCULOS: “Seu Rei Mandou”, da Cia. Meias Palavras Local: Teatro Marco Camarotti – SESC de Santo Amaro Dias: sábado 21/05 e domingo 22/05, às 16h Preços: R$ 20 e R$ 10 Informações: 3216-1728 “O Beijo no Asfalto”, de Nelson Rodrigues Local: Teatro Apolo Dias: sexta 20/05 e sábado 21/05, às 20h. Preços: R$ 30,00 e R$ 15,00 Informações: 3355-3319 ou 33553320.   Romildo Moreira – ator, autor e diretor teatral.

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