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O amigo Selton Melo

*Por Bruno Moury Fernandes Há uma cena que vale um prêmio, mas que nunca será estampada em capa de jornal. Não estava no roteiro, não tinha holofotes direcionados, nem contava com direção de arte. Selton Mello, em sua cadeira no Globo de Ouro, mais parecia um homem de plateia do que um astro do cinema. E por que não? Era seu momento de ser amigo, e ele brilhou como nunca. Câmera na mão, olhos marejados e um sorriso que transbordava uma coisa rara: alegria genuína pelo sucesso alheio. Fernanda Torres subiu ao palco e levou o Globo de Ouro de melhor atriz, mas quem ganhou meu respeito eterno foi Selton. E é sobre isso que precisamos falar: quantos amigos temos que fotografam, filmam, choram e vibram com o nosso sucesso? Esses são raros, raríssimos. Mais escassos do que um roteiro de filme brasileiro com orçamento generoso. E não me refiro aos aplausos protocolares, à palmada no ombro e aos “parabéns, você merece” ensaiado. Refiro-me ao descontrole da alegria, ao choro emocionado, àquelas palmas que ficam vermelhas de tanto bater. Ah, como é fácil ser amigo na dor! A dor é democrática, nos humaniza, nos iguala. Quem nunca apareceu com uma panela de sopa ou um conselho clichê no momento de crise? Estar lá quando tudo vai mal é importante, claro, mas exige um esforço quase automático. E depois, convenhamos, há sempre aquele pequeno consolo egoísta: “pelo menos não sou eu que estou passando por isso”. Mas o sucesso do outro… ah, esse dói em quem não está preparado para ser grande. O sucesso alheio escancara nossas inseguranças, joga luz no palco vazio das nossas conquistas. Requer generosidade genuína, aquela que não espera troféu nem camarim. É difícil olhar para o outro brilhando e não sentir uma pontada de inveja ou, no mínimo, um desconforto em ter que assistir ao show da primeira fila. Selton, com sua câmera trêmula e lágrimas sinceras, é o anti- -herói perfeito para esse enredo de amizades modernas. Ele nos ensina, sem querer, que ser amigo no sucesso do outro é uma arte. E talvez seja mesmo algo que só os grandes artistas, os que já ensaiaram tantas quedas e ressurgiram tantas vezes, conseguem fazer com naturalidade. Fernanda ganhou o Globo de Ouro, mas foi Selton que protagonizou a cena que deveria ser lembrada. A plateia dos grandes amigos é pequena. Se é que existe. São poucos os que realmente vibram quando acertamos na mosca. Selton fez isso. Sem ensaio, sem maquiagem. No filme da vida, ele não quis ser protagonista, mas uma espécie de diretor de fotografia da alegria alheia. E eu cá me pergunto: quantos Seltons temos na vida? E, mais importante: para quantos já fomos Selton?

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Selton Mello: “Em tempos tão duros, quis fazer um filme sobre a memória”

Por Houldine Nascimento Reconhecido pelo público graças a sua notável carreira como ator – são 35 anos no ofício –, Selton Mello também é um nome forte por trás das câmeras. Ele já dirigiu três longas: o intenso drama “Feliz Natal” (2008), “O Palhaço” (2011), uma produção mais otimista; e agora retorna à função em “O Filme da Minha Vida”, que tem estreia marcada para a próxima quinta-feira (3). No último sábado (29), Selton esteve no Recife para uma pré-estreia do novo trabalho, realizada no UCI Plaza Shopping Casa Forte. Antes de a sessão ter início, participou de uma entrevista coletiva. Neste filme, uma adaptação do romance “Um Pai de Cinema”, de Antonio Skármeta, o diretor revela que buscou prestar uma homenagem à sétima arte. “Há um tributo ao cinema dentro do próprio filme”, aponta. A trama de “O Filme da Minha Vida” se concentra nos dilemas de Tony Terranova (Johnny Massaro), um jovem professor de francês que tenta entender a razão de seu pai abandonar a família. Uma sala de cinema é o refúgio do protagonista. Os eventos são ambientados na Serra Gaúcha, em 1963. “Não é no Rio Grande do Sul, é um filme ao sul do Brasil, por volta dos anos 60. Era uma vez algo ali”, analisa. É a primeira vez que Selton Mello parte de uma obra já existente para construir um roteiro, novamente escrito ao lado do parceiro Marcelo Vindicato. A responsabilidade era grande, uma vez que a publicação em questão é do mesmo autor do livro que originou o premiado filme “O Carteiro e o Poeta”. “Foi bem tranquilo. Talvez tenha dado sorte. Às vezes, adaptação não é tão simples assim como foi no meu caso, às vezes há autores mais apegados ao que fez. Encontrei um cara muito generoso, um senhor superdivertido. O barato é que Skármeta já viveu isso algumas vezes. Ele sabe que são linguagens distintas. Eu precisava ir além das páginas, criar conflitos, ter pontos de virada, ter atos. E ele confiou.” Assim como havia feito nos trabalhos anteriores, Selton volta a dar chance a atores que estavam há muitos anos fora do ramo. Em “O Filme da Minha Vida”, o cantor e apresentador Rolando Boldrin é o nome da vez ao viver o maquinista Giuseppe. Desde o longa “O Tronco” (1999), o veterano ator estava afastado do audiovisual. “É um país sem memória, é sabido isso. Como ator, identifico isso claramente, sou muito atento aos talentos que não estão no jogo, mas deveriam estar, e é um trabalho quase de resistência. O Moacyr Franco tem uma cena em 'O Palhaço' que foi um grande acontecimento, ele ganhou prêmio, começou a fazer mais show. O Rolando Boldrin também pode ter uma garotada que assista ao filme e fale assim: ‘Nossa, mas que figura bonita, aquele senhor que é o maquinista, quem é aquele cara?’, ir lá no Google, YouTube e ver que cara incrível. Porque o Boldrin, além de ator, cantor e apresentador, é um guardião da cultura brasileira, um cara que zela pelo cancioneiro popular”, comenta Mello. Talvez por isso, a importância da memória seja ressaltada no filme, seja no enredo ou até mesmo fora dele. “Em tempos tão duros, quis fazer um filme sobre a memória", diz ao público presente na pré-estreia. Já projetando uma batalha com superproduções para manter seu novo filme em cartaz, o diretor foi enfático. “A briga é dura, com ‘Planeta dos Macacos’, ‘Transformers’, o diabo a quatro. A única coisa que eu tenho para lutar contra esses filmes é a minha imaginação e minha sensibilidade e eu conto com a sensibilidade e a imaginação de vocês para completar esse filme”, pontua. Um deleite no seu novo projeto é a cinematografia que ficou a cargo de Walter Carvalho. Com Selton, o renomado diretor de fotografia havia cruzado em alguns trabalhos, como “Lavoura Arcaica” e “O Auto da Compadecida”. “Walter Carvalho é o meu pai de cinema. O primeiro filme que eu fiz na vida, uma pérola do cinema nacional chamada ‘Uma Escola Atrapalhada’, foi fotografado por ele (risos). Anos depois, a gente se encontra em ‘Lavoura Arcaica’, um filme que marcou nossas vidas. Em ‘O Filme da Minha Vida’, a gente se emocionava constantemente, minha relação com ele foi puramente afetiva”, revela. Consagrado dentro do Brasil, Selton Mello não descarta projetos internacionais. “Interesse eu tenho. O Rodrigo Santoro é o meu melhor amigo nesse meio, um camarada adorável. Acho muito corajoso o que ele fez, contra tudo e contra todos, super criticado em ‘As Panteras [Detonando]’, fez muitos testes para conquistar o terreno dele, mas é uma coisa que eu não faria. Eu o admiro muito por isso. Tenho um público aqui tão cativo, uma história tão sólida que não me vejo parando tudo que tenho aqui para começar do zero uma vida fora do país. O que pode acontecer é, se algo que eu fizer aqui ecoar fora, como Wagner Moura em “Tropa de Elite”, depois “Narcos”, e Alice Braga em “Cidade de Deus.” *Por Houldine Nascimento

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