O cirurgião de coluna vertebral, escoliose e especialista em dor do Instituto de Ortopedia e Traumas de Pernambuco (IOT), Dr. Marcelo Andrade Filho, realizou a primeira cirurgia de escoliose infantil com técnica francesa, no Nordeste. O procedimento aconteceu no mês de abril, deste ano, em Caruaru, e consiste numa técnica com uma haste que acompanha o crescimento da criança evitando que se repita de seis a dez vezes a cirurgia até os 10 anos de idade. Com isso, podendo ocasionar, a partir da quinta cirurgia, em infecções.
Segundo o Dr, Marcelo, a escoliose infantil é um desvio na coluna vertebral que atinge um grande número de crianças, em todo mundo. Quanto antes a condição for diagnosticada, maiores são as chances de sucesso no tratamento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a patologia atinge mais de 50 milhões de crianças em todo o mundo. No Brasil, são mais de 1,6 milhão de pessoas com a doença, sendo que cerca de 160 mil delas precisam de tratamento cirúrgico.
“Muitos casos dessa doença em crianças são idiopáticos, ou seja, não existe uma razão para o desenvolvimento da condição, ela se dá de maneira espontânea. Já outros apresentam associação com alguma causa conhecida, por uma condição genética, por exemplo”, explica, acrescentando que não é incomum ver pessoas da mesma família com escoliose, especialmente quando crianças/adolescentes.
Essa doença também pode estar ligada a má formação das estruturas durante o período da gestação, conhecida como escoliose congênita. Além disso, a escoliose infantil também pode ocorrer por danos neurológicos, como paralisia cerebral ou danos musculares. A escoliose é uma doença que, em muitos casos, tende a progredir com o tempo quando não tratada adequadamente. Por isso, é comum descobrir a condição já nos estágios mais avançados, levando a criança para um bom especialista que faça uma avaliação.
Alguns casos podem caminhar rapidamente e serem identificados ainda na primeira infância, mas outros só começam a apresentar deformidades visíveis como um ombro maior que o outro, por exemplo. Além disso, é possível perceber um maior número de casos em crianças com idade entre sete e 10 anos, especialmente meninas. Mas isso não quer dizer que a doença não apareça em crianças menores ou maiores e também meninos.
Ainda de acordo com Dr. Marcelo, quando aparecem os primeiros sintomas, os músculos e ossos aumentam o seu tamanho e o cérebro precisa se adaptar a tais mudanças. Sendo assim, é possível observar os ombros ou quadris assimétricos; a coluna vertebral encurvada anormalmente para um dos lados; e uma enorme sensação de desconforto muscular. “Dessa forma, nos casos em que a curva da escoliose possui baixo valor angular, o médico especialista acompanha o paciente de perto. Quando se tem curvas maiores de 20 a 40 graus, segundo o médico, usa-se coletes como tratamento”, relata.
TRATAMENTO – Quanto antes a escoliose infantil for diagnosticada, maiores são as chances de melhora. Os casos de desvio bem baixos, com curvatura mínima, podem não requerer tratamento imediato, mas é importante manter o acompanhamento médico para avaliar se a condição vai ou não progredir. Alguns quadros de grau leve recebem indicações de exercícios e fisioterapia como método de prevenção do agravamento da escoliose.
As crianças com grau médio podem receber a indicação de uso de órtese (coletes) para correção postural, em especial durante o período de crescimento, além de também serem recomendados exercícios e sessões de fisioterapia. Os casos mais graves, quando a escoliose infantil já está acima de 50 graus, pode haver indicação de cirurgia. A correção do desvio vai depender da gravidade da situação. O pós-cirúrgico conta com fisioterapia e medicação para dor.
As cirurgias em crianças de até 10 anos de idade eram feitas periodicamente, para acompanhar o crescimento ósseo e do pulmão. Em razão da nova técnica utilizada, a cirurgia de escoliose em crianças não precisa mais ser repetida. “Realizamos no último dia 30 de abril, em Caruaru, uma cirurgia com sistema de catracas – dispositivo q foi pensado na agilidade e na segurança do procedimento“, conclui, acrescentando que a técnica existe na França, há mais de 10 anos.