"Urbanismo tático ajudou a reduzir sinistros com vítimas no Recife" - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

"Urbanismo tático ajudou a reduzir sinistros com vítimas no Recife"

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O Relatório Preliminar de Vítimas Fatais – Recife 2020 mostrou que entre 2015 e 2020 houve uma redução nos sinistros de trânsito de que resultaram em óbitos de 65% na capital pernambucana. Quando comparado 2019 a 2020, a redução foi de 8,5%. O número de mortos em 2020 no Recife chegou a 6,47 por 100 mil habitantes, metade da média nacional que foi de 14,25. Várias foram as ações que permitiram a boa performance, em especial as intervenções realizadas na estratégia do urbanismo tático. Nesta conversa com Cláudia Santos, o secretário de Política Urbana e Licenciamento do Recife Leonardo Bacelar detalha essa e outras ações que visam a priorizar o pedestre e o ciclista, as partes mais frágeis do trânsito. Apesar da redução de acidentes, Bacelar afirma que há um limite para o resultado dessas ações e que todos devem agir de forma responsável ao trafegar pela cidade. Ele também faz um apelo para que os moradores do Recife respondam a pesquisa origem-destino para que se possa conhecer as mudanças de hábitos provocadas pela pandemia e, assim, planejar melhor a mobilidade.

O trânsito no Recife tem apresentado uma redução no número de vítimas fatais. Quais as causas dessa redução?

Esse trabalho vem sendo realizado, junto com a CTTU (Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano de Recife), desde a gestão anterior e é focado na segurança viária principalmente para evitar o sinistro com vítima. Tentamos reduzir ao máximo esse tipo de sinistro, em especial os que envolvem vítimas fatais. A parte desse trabalho é mais visível nas ações de urbanismo tático, em que fazemos o mapeamento dos locais onde se tem o maior índice de acidentes e trabalhamos com resultados. Vou dar um exemplo: o binário, saindo do aeroporto. Ali, há um cruzamento onde aconteciam muitos acidentes e implantamos o urbanismo tático, colocando aquele cruzado amarelo no chão. Isso, por si só, faz com que o motorista veja a sinalização de forma mais intensa e ele, instintivamente, diminui a velocidade. Essa ação ajudou a diminuir o sinistro, principalmente com vítima. A velocidade é um fator importante na causa desses sinistros, principalmente, com óbitos.

Recife já conseguiu uma grande marca. O Relatório Preliminar de Vítimas Fatais – Recife 2020 mostrou que entre 2015 e 2020 houve uma redução nesses sinistros de 65%. Quando comparado 2019 a 2020, a redução foi de 8,5%. O número de mortos em 2020 no Recife chegou a 6,47 por 100 mil habitantes, metade da média nacional que foi de 14,25. A orientação do prefeito João Campos é focar ainda mais na redução do sinistro com vítima e na mobilidade urbana. Designamos uma diretoria da CTTU para isso, que engloba ciclovias, pedestrianização (devolver o acesso às ruas aos pedestres), sempre focando no mais frágil do sistema viário que são os que andam a pé ou de bicicleta. Um dado muito interessante é o perfil de quem se acidenta: 80% são homens, pedestres (46%) e motociclistas (40%) e em idade economicamente ativa, 20 a 39 anos.

Além das perdas das vidas, que é algo muito grave, quais as outras repercussões disso?

Uma perda econômica para a sociedade porque são jovens economicamente ativos, e o aumento dos custos nos sistemas de saúde e previdenciário. Normalmente, quando não vêm a falecer, ficam com alguma sequela, entram no benefício, além da questão psicológica da pessoa, que deixa de estar empregada, desestabiliza a família e acaba afetando seu emocional.

O senhor mencionou o urbanismo tático. Quais as vantagens que proporciona?

Para fazer o urbanismo tático, primeiro verificamos os locais onde é possível fazer uma intervenção, sempre visando à melhoria do sistema viário, priorizando o pedestre e o ciclista, com foco sempre no mais frágil. Temos vários exemplos de sucesso, o último mais conhecido foi o da Rua da Palma, no bairro de São José. Conversamos com a Câmara de Diretores Lojistas sobre o projeto. Normalmente há uma restrição muito grande por parte dos comerciantes em razão da perda de vagas de estacionamento. É sempre uma luta desmistificar isso e a rua da Palma serviu de exemplo.

Antes, 40% da via era dedicada ao pedestre e 60% para carros, hoje o trecho onde trabalhamos transformou-se no oposto: 60% para o pedestre e 40% para os carros. A vaga de estacionamento permaneceu, mas foi reduzida. O resultado foi tão bom que a parte da rua que não foi contemplada está pressionado para fazermos as mudanças lá também. É um bom sinal, acho que acertamos. Eles disseram que melhorou até o faturamento das lojas e houve melhoras em termos logísticos. Eles conseguem, agora, fazer carga e descarga com mais facilidade. A sensação de segurança também melhorou porque a rua fica mais ampla para o pedestre, o campo de visão dele fica maior. Os cadeirantes estão andando na rua com mais tranquilidade.

Urbanismo tático tem uma grande vantagem porque a gente consegue desfazer a ação, por utilizar apenas tinta. Nós projetamos as intervenções e se a vida real mostrar que erramos, tem como voltar atrás. Mas até agora a gente não fez nenhuma reversão.

A pandemia impactou a mobilidade na cidade?

A gente tem um sentimento de que houve uma mudança, sim, mas para conhecer as reais mudanças que aconteceram, estamos fazendo a pesquisa de Origem-Destino. Lançamos a pesquisa na Semana da Mobilidade. Para respondê-la, basta entrar no portal da CTTU (cttu.recife.pe.gov.br) ou no aplicativo Conecta Recife. Quanto maior a quantidade de questionários respondidos, estatisticamente a pesquisa fica com a confiabilidade maior. Temos também a oportunidade de ajudar no planejamento futuro da cidade, entender como as pessoas se comportam e as questões relativas a mudanças de hábitos, de horários; muita gente saiu do transporte público e passou a usar a bicicleta. Muita gente está no home office, o trabalho que deixou de ser 100% físico. E há quem trabalhe uma parte da semana remoto, outra parte na empresa.. A pesquisa é rápida de ser respondida e agradecemos muito o apoio de quem respondê-la, porque vai nos ajudar muito a estudar e a entender melhor os hábitos pós-pandemia.

Leia a entrevista completa na edição 187.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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