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Urbanismo

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86% dos recifenses apoiam a reutilização de prédios abandonados para moradia

Segurança, infraestrutura e moradia acessível são pontos-chave para atrair novos moradores e recuperar prédios abandonados Apesar da atual degradação urbana, o centro do Recife ainda desperta interesse como opção de moradia. É o que mostra uma pesquisa do Núcleo de Inteligência de Mercado da UniFafire, que ouviu mais de 780 pessoas na Região Metropolitana do Recife. Embora 92% dos entrevistados não morem no centro e 68% afirmem não ter intenção de fazê-lo, 27% demonstraram disposição para viver na área central caso haja melhorias, especialmente em segurança e infraestrutura. Entre os fatores que afastam moradores estão a falta de segurança (43,75%), o ruído e a poluição (21,47%) e o alto custo de vida (17,66%). Por outro lado, a proximidade do trabalho e dos estudos (32,76%) e o fácil acesso ao transporte público (24,5%) são aspectos valorizados. Para atrair mais pessoas, 63% dos entrevistados apontam que melhorias urbanas são indispensáveis, enquanto 25% mencionam a importância de incentivos fiscais. Além disso, 41% se inscreveriam em um programa de moradia acessível no centro, e 86% apoiam a reutilização de edifícios abandonados. A pesquisa também investigou quais modelos habitacionais seriam mais bem recebidos. Apartamentos compactos lideram com 40% de preferência, seguidos por imóveis com uso misto — lojas no térreo e residências nos andares superiores — com 31%. Modelos alternativos, como coabitação e habitação social, também foram lembrados. A maior parte dos respondentes tem entre 18 e 31 anos, o que reforça a abertura do público jovem a formatos de moradia mais flexíveis e urbanos. “É urgente a necessidade do poder público em repensar o papel dos centros urbanos. A pesquisa sugere que existe interesse e abertura da população para habitar a área central da cidade, mas é fundamental que essa reocupação ocorra com segurança, infraestrutura de qualidade e modelos habitacionais acessíveis. A reutilização de edifícios abandonados, quando bem planejada, pode ser uma resposta concreta à crise habitacional e à degradação das áreas históricas”, observa o arquiteto e urbanista José Adriano Pereira, consultor da pesquisa e doutorando na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. No entanto, a pesquisa aponta um alerta: 56% dos entrevistados nunca ouviram falar de políticas públicas para revitalização dos prédios abandonados nas áreas centrais. “É um número que acende um alerta sobre a importância de dar visibilidade às iniciativas públicas e fortalecer o diálogo entre governos, investidores e a sociedade”, afirma José Adriano. Para ele, o desafio é transformar o desejo em realidade. “O centro da cidade é desejado, mas ao mesmo tempo evitado. Para reverter esse quadro, é preciso investir em requalificação urbana, políticas de habitação acessível e incentivo à reutilização dos imóveis abandonados”, conclui.

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Bicicletas reduzem demanda por ônibus e impactam o transporte urbano

Estudo mostra que cada nova bicicleta pode substituir até 52 passagens mensais no sistema coletivo e revela efeitos econômicos e ambientais O uso crescente de bicicletas tem transformado a mobilidade urbana e reduzido a demanda pelo transporte coletivo, segundo estudo conduzido por pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). A pesquisa apontou que cada nova bicicleta em circulação resulta na retirada de até 52 passagens mensais do sistema de ônibus. O fenômeno está associado principalmente a reajustes na tarifa do transporte público e ao aumento do preço dos combustíveis, dois fatores que estimulam a migração para meios alternativos de locomoção. A infraestrutura cicloviária também exerce forte influência nesse comportamento. A cada R$ 0,10 de aumento na passagem, surgem 1.068 bicicletas a mais. Quando o combustível sobe esse mesmo valor, outras 1.520 bicicletas entram em circulação. Já a construção de cada novo quilômetro de ciclovia corresponde ao acréscimo de 333 bicicletas. Os dados foram obtidos a partir da análise de um intervalo de dez anos, entre 2010 e 2019, com base em informações oficiais sobre transporte público e aquisição de novos modais. “A sustentabilidade é uma prioridade máxima para as administrações municipais, especialmente nos grandes centros urbanos, onde parcela significativa dos habitantes depende do transporte público. Devemos nos lembrar, no entanto, que os sistemas municipais de transporte enfrentam diversos desafios, incluindo disponibilidade, desempenho, segurança, conforto e valor da tarifa. Do outro lado, as bicicletas, apoiadas por incentivos públicos em razão de seu apelo ambiental, competem com o transporte público”, afirma Luis André Fumagalli, pós-doutor em Gestão Urbana pela PUCPR. A troca do ônibus pela bicicleta, segundo os pesquisadores, tende a ser definitiva. Usuários que fazem essa transição dificilmente retornam ao transporte coletivo, exceto em condições climáticas extremas. A comparação com outros veículos também é significativa: um novo carro equivale à perda de 25 passagens mensais, enquanto cada motocicleta corresponde a 201 passagens a menos. O cenário aponta para uma mudança estrutural no padrão de mobilidade, com impactos diretos na receita dos sistemas públicos de transporte. Fumagalli destaca que os dados levantados devem orientar o planejamento urbano. “As bicicletas estão absorvendo consideravelmente os passageiros do transporte público e, conscientemente ou não, a administração da cidade vem contribuindo para essa tendência por meio de investimentos em ciclovias dedicadas, serviços de compartilhamento de bicicletas elétricas e bicicletários no centro da cidade”, comenta. A pesquisa foi publicada na revista científica Journal of Infrastructure, Policy and Development. ServiçoA pesquisa completa está disponível em: https://systems.enpress-publisher.com/index.php/jipd/article/view/5452

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Recife abre inscrições para 7ª Conferência Municipal da Cidade com 452 vagas

Encontro vai eleger delegados para conferências estadual e nacional e nova formação do Concidade Estão abertas, até 12 de junho, as inscrições para a 7ª Conferência Municipal da Cidade do Recife, que ocorrerá nos dias 19 e 20 de junho, no Centro de Formação de Educadores Professor Paulo Freire, no bairro da Madalena. Com o tema “Construindo a Política de Desenvolvimento Urbano: caminhos para cidades inclusivas, democráticas, sustentáveis e com justiça social”, o evento convida a população a debater os rumos do desenvolvimento urbano da capital. Serão disponibilizadas 452 vagas, sendo 402 para delegados e 50 para observadores. Os delegados terão direito a voz e voto nas deliberações, além de poderem se candidatar a uma das 30 vagas para representar Recife na Conferência Estadual. Também será eleita uma nova composição do Conselho da Cidade do Recife (Concidade), com 45 titulares e 45 suplentes, representando o poder público, a sociedade civil, o setor empresarial e a academia. Durante o encontro, os participantes se dividirão em seis Salas Temáticas com foco em habitação, mobilidade, planejamento urbano, sustentabilidade, segurança e direitos humanos. As propostas discutidas serão apresentadas em plenária e poderão integrar a pauta das conferências estadual e nacional. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site do Conselho da Cidade do Recife. Prefeitura realiza 6ª Conferência dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Direitos Humanos e Juventude, junto ao Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa (COMDIR), promove nos dias 4 e 5 de junho a 6ª Conferência dos Direitos da Pessoa Idosa do Recife. O evento, com o tema “Envelhecimento Multicultural e Democracia: Urgência por equidade, Direitos e Participação”, será realizado na Universidade Católica de Pernambuco, das 8h às 17h, reunindo 120 delegados eleitos e representantes da sociedade civil para discutir os desafios e as políticas públicas voltadas à população idosa. Durante os dois dias, os participantes debaterão temas relacionados à Política Nacional da Pessoa Idosa, com foco na promoção, defesa e garantia dos direitos desse público, além da eleição dos representantes do Recife para a Conferência Estadual. O encontro visa sensibilizar a sociedade sobre o envelhecimento plural e fortalecer a participação social na construção de ações que garantam o envelhecimento com dignidade. Serviço:6ª Conferência dos Direitos da Pessoa Idosa do RecifeLocal: Auditório José de Anchieta, Bloco G – Universidade Católica de PernambucoData: 4 e 5 de junhoHorário: 8h às 17hInformações: (81) 3355-8534 | comdirrecife@gmail.com

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Luiz Soares

Futuro do Metrô do Recife: privatização revela impasses na política de transporte urbano

Decisão do Governo Federal frustra promessa de reestruturação feita por Lula. Foto: Wanderson Pontes O Governo Federal autorizou, na semana passada, a concessão do Metrô do Recife à iniciativa privada, o que provocou reação imediata do Sindicato dos Metroviários. A decisão contraria a promessa feita pelo presidente Lula de investir na recuperação da empresa, que enfrenta um processo acelerado de sucateamento desde sua inclusão no Programa Nacional de Desestatização (PND), ainda no governo Bolsonaro. Ontem, o sindicato intensificou sua mobilização: pela manhã, o presidente da entidade, Luiz Soares, participou de um debate na Rádio Jornal, com críticas diretas a Lula e à governadora Raquel Lyra. Já no início da noite, uma assembleia da categoria aprovou o estado de greve e a criação de um Comitê Permanente de Diálogo com o Governo Federal. Rejeição à concessão e alerta ao preço da passagem Durante um discurso incisivo, Luiz Soares manifestou forte oposição à recente resolução do Governo Federal que viabiliza a concessão do metrô do Recife ao Estado, com posterior repasse à iniciativa privada. Para ele, a medida representa um “não ao povo pernambucano”, prejudicando não apenas a categoria dos metroviários, mas milhões de trabalhadores da Região Metropolitana que dependem do sistema ferroviário diariamente. Vai acontecer aqui o que aconteceu com o metrô de BH. Está sucateado e a tarifa saiu de R$ 4,30 para R$ 5,50. Vocês acham que aqui vai melhorar? O povo precisa saber isso. Não vai melhorar.” (Luiz Soares) Ele lembrou ainda a experiência da Supervia, no Rio de Janeiro, que foi privatizada no passado e possui a maior tarifa do País, de R$ 7,90, sem ter recuperado o sistema. Cobrança de coerência ao presidente Lula No discurso, o dirigente sindical cobrou do presidente Lula o cumprimento de promessas feitas em campanha, nas quais teria garantido que não privatizaria o sistema metroviário. Luiz Soares afirmou que se sente traído pela nova diretriz publicada no Diário Oficial da União no dia 22 de maio. “Lula, recupere o metrô e revogue essa resolução. Conceder ao governo do Estado é privatizar. E nós não vamos aceitar isso”. (Luiz Soares) Outdoors comparam Lula e Bolsonaro Durante a passagem do presidente Lula em Pernambuco, nesta semana, o Sindmetro intensificou a campanha contra a privatização do Metrô do Recife, questionando o compromisso do presidente Lula com o transporte público acessível. Em outdoors espalhados pelo interior do estado, o sindicato compara Lula a Bolsonaro, que privatizou o Metrô de Belo Horizonte. “O Presidente Lula esteve em Salgueiro, e colocamos um telão de LED na entrada com a mensagem: ‘Se Bolsonaro privatizou o metrô de BH, Lula, você vai privatizar o do Recife? Porque, se fizer, estará se igualando a Bolsonaro” (Luiz Soares) Audiência pública na Câmara dos Vereadores do Recife e articulação em Brasília Durante a assembleia, o presidente informou que no dia 9 de junho acontecerá uma audiência pública na Câmara dos Vereadores do Recife, convocada pela vereadora Cida Pedrosa, para discutir o futuro do Metrô do Recife. Luiz Soares criticou duramente a falta de abertura de diálogo com o Governo do Estado sobre o projeto de concessão do Metrô do Recife e prometeu intensificar a comunicação com o Governo Federal, especialmente com a Casa Civil e com a Secretaria-Geral da Presidência da República.

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BNB destina R$ 5 bilhões para retrofit de imóveis em centros urbanos do Nordeste

nha de crédito com recursos do FNE tem prazos de até 15 anos e foca na reocupação de áreas centrais Construtoras e empresários do setor da construção civil contam com nova oportunidade de investimento em 2025: o Banco do Nordeste (BNB) está disponibilizando R$ 5 bilhões em crédito para projetos de retrofit em imóveis antigos localizados nos centros urbanos. A iniciativa utiliza recursos do Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE) e busca estimular a revitalização de prédios para uso comercial ou residencial. A linha de financiamento está disponível via FNE Industrial, com prazos de até 15 anos e até cinco anos de carência. Segundo Luiz Abel Amorim, diretor de Negócios do BNB, o crédito pode ser contratado diretamente com o Banco ou por meio de parcerias público-privadas (PPPs). “Além do estímulo ao setor da construção, os projetos de retrofit movimentam a economia e atraem novos públicos para as regiões centrais das cidades”, destaca. A medida atende a uma diretriz do Conselho Deliberativo da Sudene (Condel), que autorizou o uso do FNE em projetos de reocupação urbana. O objetivo é incentivar a recuperação de centros históricos e comerciais, promovendo a retomada de atividades econômicas nessas áreas que, em muitos casos, sofrem com o esvaziamento populacional e comercial. A proposta também dialoga com o desafio habitacional enfrentado pelo Nordeste, que registra um déficit de 1,7 milhão de moradias. Ao transformar imóveis ociosos em novas residências, o retrofit se apresenta como uma alternativa sustentável para a expansão habitacional e o planejamento urbano inteligente nas principais cidades da região.

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44% do território do Recife tem risco alto para inundações

Dá para o Recife se prevenir de eventos extremos? *Por Rafael Dantas *Publicado em 23.05.2024 A situação dramática do Rio Grande do Sul liga um sinal de alerta em todo o País. No Recife, capital brasileira mais vulnerável ao aquecimento global e a 16ª em todo o mundo, há uma corrida contra o tempo. Segundo relatório inédito produzido pelo IRRD (Instituto para Redução de Riscos e Desastres), iLIKA (Instituto Keizo Asami) e pela APC (Academia Pernambucana de Ciências), 44% do território recifense tem um risco alto para inundações. Jones Albuquerque,professor da UFRPE e pesquisador do IRRD, iLika e da APCE, faz uma comparação entre o período da Covid-19 e os eventos extremos. Ele afirma que enquanto as cidades brasileiras conseguiram reagir ao período da crise sanitária, a adaptação às catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas não têm tido a mesma resposta. Ele lembra que muitos municípios brasileiros, inclusive, guardam nomes que explicam a origem desses lugares, ligados a regiões alagadiças. Avanços do passado sobre a região das águas, com inúmeros aterros, que hoje reivindicam de volta o seu espaço. “Este episódio no Rio Grande do Sul nos alerta para estarmos preparados. Lembremos que o Brasil é cheio de cidades e bairros com nomes sabiamente batizados por nossos antecessores como Canoas ou Porto Alegre. No Recife, não é diferente. Basta averiguarmos a origem dos nomes Várzea e Afogados, além do mais famoso de todos que batiza nossa capital, a Veneza Brasileira”, salienta. Segundo Jones, os modelos matemáticos para analisar as transformações climáticas mudaram em 2021, mas os sistemas de monitoramento de riscos de desastres do País não se adaptaram a essa mudança. Essa nova modelagem foi apresentada pelos cientistas Syukuro Manabe, Klaus Hasselmann e Giorgio Paris, há três anos, o que lhes rendeu a conquista do Prêmio Nobel de Física, que reconheceu o trabalho deles para compreender os sistemas físicos complexos. O modelo ajuda na compreensão dos componentes que explicam o clima da Terra. O trabalho se propunha a quantificar a variabilidade desses eventos e a entender os efeitos do aquecimento global. A fenomenologia dos dados climáticos, segundo Jones mudou muito e já não é mais possível fazer projeções a partir do modelo antigo.” Ela não parece ser mais linear. É muito inconstante e gera projeções errôneas por muito tempo, até que a gente tenha dados suficientes para entender essa fenomenologia”, informou Jones Albuquerque. Entre os variados indicadores que se relacionam com esses episódios extremos, o pesquisador destaca o índice de CO2 na atmosfera e a temperatura dos oceanos. Ambos muito acima das médias históricas. O derretimento das geleiras e a morte dos corais são alguns dos sintomas dessas mudanças. Ao olhar como esses eventos intensificam as vulnerabilidades para a capital pernambucana, Jones afirma que 52% do Recife está sob risco de ocorrência de inundações – somando o alto risco (44,05%), médio risco (6,8%) e baixo risco (1,3%). Os cálculos são feitos a partir de dados de satélites, comparando a altimetria (medição de alturas ou de elevações) dos terrenos e do nível do mar. “Isso foi comprovado em 2022, cruzando os pontos de alagamentos já marcados pela Defesa Civil de Pernambuco e pelo órgão de monitoramento do trânsito. Alguns desses pontos precisaram de resgates especializados, dentro das áreas de risco vermelho”, explica Jones Albuquerque. Embora os eventos mais traumáticos do Recife estejam relacionados às cheias dos anos 1970 a cidade viveu uma situação dramática em 2022. Nesse episódio mais recente, as comunidades vizinhas à Bacia do Rio Tejipió foram as mais afetadas. Os milhares de desabrigados e mais de 100 mortes deixaram uma marca. Olinda e Jaboatão também computaram baixas e muitas áreas críticas de alagamento. Fora da região metropolitana, Pernambuco assistiu a uma grave cheia no ano de 2010, na Bacia do Rio Una. Cidades como Barreiros, Palmares e Água Preta tiveram um vasto rastro de destruição. Prédios públicos, igrejas, comércios e muitas casas ficaram submersos. Parte do município precisou ser reconstruído numa área mais elevada. As catástrofes na capital e no interior indicam, há alguns anos, a necessidade de intensificar a adaptação do Estado aos efeitos do aquecimento global. “Precisamos atuar preventivamente para reduzir os impactos dos eventos extremos. Temos que focar na resiliência. Isso vai envolver aspectos de engenharia, sociais e, com certeza, ecológicos. No episódio que aconteceu no Rio Grande do Sul, por exemplo, nenhuma cidade aguentaria esse volume de chuva, mas existiram falhas na preparação para esses eventos. Podemos pensar: será que o Recife é vulnerável a algum evento desse? Com certeza. O nível do mar está subindo, com a tendência de termos dias piores pela frente”, considera o engenheiro e professor da UPE e da UFPE, Jaime Cabral. O pesquisador, que tem larga experiência em recursos hídricos (água subterrânea e drenagem urbana) avalia que houve um choque de realidade nas instituições ligadas ao monitoramento e prevenção desses eventos extremos no Recife, após 2022. O Estado, também, após os traumas das cheias da década de 1970 respondeu com infraestrutura. As barragens ao longo do Capibaribe contribuem com esse papel de proteger a capital da descida veloz das águas pelo curso do rio. PROMORAR E AS RESPOSTAS DO RECIFE AOS RISCOS Uma das reações da capital pernambucana aos traumas deixados em 2022 é o Promorar (Programa de Requalificação e Resiliência Urbana em Áreas de Vulnerabilidade Socioambiental). O poder municipal conseguiu um aporte do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) de R$ 2 bilhões para proteção de encostas, urbanização integrada em comunidades vulneráveis e a macrodrenagem da Bacia do Rio Tejipió. “O sistema de macrodrenagem da cidade está extremamente sobrecarregado. O Rio Tejipió costumava ter em alguns locais 70 metros de largura e hoje tem locais com 10 a 15 metros”, exemplificou a secretária executiva do Promorar Recife, Beatriz Carneiro Menezes. O programa prevê a retirada de pelo menos três mil imóveis de áreas de maior vulnerabilidade, para o direcionamento dessa população para lugares próximos às mesmas comunidades, mas em regiões sem riscos. Sobre o desafio de executar essa macrodrenagem do Rio Tejipió, a secretária conta que foi concluído

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Lais Duanne

Lais Duanne: "A habitação hoje é uma emergência"

Gerente de operações da TETO conta como a ONG ajuda pessoas que moram em condições precárias a terem uma casa, por meio de mutirões de voluntários e moradores. Também são construídas sedes comunitárias, banheiros públicos, além de viabilizar o acesso à água. Ela fala ainda do trabalho realizado no Recife e com vítimas das enchentes do Rio Grande do Sul. Morar em condições precárias significa muito mais do que residir num local que não tenha o mínimo de conforto. Implica também em não ter um CEP que garanta o acesso a políticas públicas como poder matricular os filhos na escola. Ou, ainda, ao voltar do trabalho durante um dia de tempestades, não saber se a casa foi soterrada ou se as roupas e a cama estarão enxutas. Tudo isso provoca um nível de estresse e depressão elevado em moradores submetidos a essa instabilidade. Esse é o cenário encontrado pelas pessoas que atuam na TETO Brasil, uma ONG que, diante da emergência do problema habitacional, oferece soluções transitórias emergenciais para quem mora de forma insalubre em favelas. No seu método de trabalho, casas são erguidas em mutirão por voluntários e moradores, a partir de modelos e tecnologia desenvolvidos pela organização. Além de habitações, também são construídas sedes, lavatórios e banheiros comunitários. Mais de 25 comunidades foram impactadas no País, mais de 400 projetos de infraestrutura implantados e mais de 5 mil moradias construídas. Laís Duanne, gerente de operações da TETO Brasil, conversou com Cláudia Santos sobre a atuação da ONG, especialmente no Recife. Também abordou o impacto das mudanças climáticas no agravamento do problema habitacional no País e as ações realizadas para atender vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.  Você poderia nos contar como surgiu a TETO e quais os propósitos da organização? A TETO surgiu no Chile, em 1997, quando moradores e voluntários se juntaram para construir uma capela e perceberam que era possível também construir moradia para as pessoas que viviam no território e haviam perdido tudo. A mística da TETO é fazer encontros improváveis, juntar jovens voluntários com moradoras e moradores de territórios hipervunerabilizados para construir inicialmente moradias. Atualmente, o foco da TETO é em habitabilidade, trazendo soluções para que a existência em territórios que têm direitos negados seja possível e digna. Além de moradia, a organização também faz sedes, lavatórios e banheiros comunitários, sempre seguindo a lógica de unir moradores e voluntários gerando soluções e transformação.  Qual o perfil dos voluntários? Hoje não há restrição, o time de voluntários é diverso, atinge dos 16 a 70 anos de idade. Todos podem botar a mão na massa com a TETO, mas há predominância de jovens universitários que também buscam desenvolvimento profissional, como estudantes de engenharia e arquitetura. Eles se sentem atraídos pelo nosso trabalho porque podem usar o conhecimento técnico para transformar a realidade das comunidades em áreas vulnerabilizadas. Muitos de nossos voluntários vivem essa experiência de construir casas sem nunca terem pegado num martelo. São guiados pela nossa metodologia de estar no território e sair com outra perspectiva, querendo construir um Brasil melhor para todos.  Quais são as soluções oferecidas pela TETO? Em relação a moradias, no Brasil, atuamos hoje em soluções transitórias emergenciais. É o caso de alguma família, por exemplo, que perdeu o barraco precário onde morava em decorrência da queda de uma árvore ou vive em casas de lona e chão de terra batido. Atuamos nessas emergências constantes retirando famílias do contexto de vulnerabilidade para uma moradia digna. Temos uma cartela de soluções de moradia cuja metodologia de execução vai da mais simples a algumas mais complexas, sempre com a premissa de serem construídas por mãos voluntárias, de forma rápida. Essas Moradias de Emergência são casas mais simples, com o padrão de 18m², que construímos em maior volume geralmente num final de semana.  Os voluntários, basicamente, derrubam os barracos e constroem casas no lugar. Elas têm duração prevista de 5 a 10 anos, e a perspectiva é tirar os moradores dessa realidade de desespero inicial de moradia para que possam se preocupar com outras questões do cotidiano como procurar um emprego, a educação dos filhos, ter mais qualidade no sono para ir em busca dos seus objetivos no dia seguinte.  O outro tipo é a Moradia Semente. Ela tende a durar mais de 20 anos devido aos materiais utilizados e vem com banheiro, cozinha e uma sala. Assim, ratificamos que a moradia é a base dos outros direitos. Quando o direito à moradia é negado, há um combo de negação de outros direitos que afeta o todo da existência do cidadão. As famílias que moram em casas que não têm CEP, por exemplo, não conseguem acessar o sistema de saúde pública ou matricular os filhos na escola.  Além da moradia, temos outras soluções como a sede comunitária, que são espaços com até 72m² usados para encontros, atividades com crianças, distribuição de cestas básicas etc. Geralmente, nos territórios onde fazemos esses centros comunitários, viabilizamos o acesso à água e iluminação nas principais ruas da comunidade a partir de energia solar. Outra solução da TETO são os banheiros comunitários cuja demanda é grande nos territórios onde atuamos. Há comunidades em que poucas famílias têm banheiro em casa. Há outras iniciativas nossas como pontes, parques, praças, que vêm a partir de demandas no território.  Como é o processo para implantar as soluções e a participação das pessoas beneficiadas nas comunidades?  Nossa metodologia de trabalho tem moradoras e moradores como centro. Quando buscamos novos territórios para atuar, fazemos um mutirão de visitas para conhecer várias comunidades ao mesmo tempo, nós nos aproximamos buscando um match com o perfil dos territórios. Com muita coragem, procuramos territórios hipervulnerabilizados onde, geralmente, as casas são barracos, as famílias não têm acesso a banheiro, por exemplo. Há organizações que escolhem favelas urbanas, outras atuam junto à habitação social, mas a escolha da TETO é em cima dessa urgência.  Quando vamos conhecer as comunidades, deixamos claro que não vamos dar nada, mas construir juntos, e o relacionamento se constrói a partir

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Novo Cais promete transformar a mobilidade, resgatar memória ferroviária e ampliar áreas verdes

Com investimentos superiores a R$ 140 milhões, intervenção urbana articula mobilidade sustentável, lazer e valorização do patrimônio histórico no Cais José Estelita O Recife está passando por uma grande transformação urbana com a requalificação do Cais José Estelita. A iniciativa, conduzida pelo Consórcio Novo Recife em parceria com a Prefeitura, IPHAN e SPU, articula mobilidade, cultura e meio ambiente. O projeto integra um novo sistema viário, dois grandes parques públicos — incluindo o Parque da Memória Ferroviária — e a restauração de edificações históricas, promovendo a reconexão entre o centro da cidade, a Zona Sul e sua frente d’água. A proposta rompe com modelos de urbanismo fechados ao adotar fachadas ativas nos novos empreendimentos, criando um espaço mais acessível e integrado à vida urbana. Com 90% da malha viária concluída, a nova infraestrutura inclui binário com faixas amplas, ciclovias seguras, calçadas acessíveis e redes subterrâneas para energia, internet, saneamento e gás natural. Um dos principais impactos será a fluidez no trânsito entre o Centro e a Zona Sul, beneficiando motoristas, ciclistas e pedestres. “Esse projeto representa um modelo de cidade mais inclusiva e conectada, onde a mobilidade não é pensada apenas para carros, mas também para pedestres, ciclistas e o transporte coletivo”, afirma Eduardo Moura, diretor regional da Moura Dubeux. A intervenção também resolve gargalos históricos de alagamento, por meio de um novo sistema de drenagem pluvial interligado à Bacia do Capibaribe. A criação do parque da orla, prevista para iniciar no primeiro semestre de 2025, trará mais de 33 mil m² de área verde à beira da Bacia do Pina. O espaço contará com ciclovias, parcão para pets, áreas infantis, iluminação em LED, videomonitoramento e a restauração de imóveis históricos para usos culturais e comerciais. A transformação da antiga alça viária do Cabanga em área verde com lago e vegetação nativa é outro destaque do projeto paisagístico. Segundo o CEO da Moura Dubeux, Diego Villar, “a criação do parque na orla é, talvez, a face mais visível de um esforço maior de reconexão do Recife com sua paisagem, sua história e sua gente”. Já o Parque da Memória Ferroviária, com 55 mil m², valoriza o patrimônio industrial do Recife, incluindo a restauração da estação ferroviária, da caixa d’água e de aproximadamente 30 galpões e casarios históricos. A ideia é transformar o antigo eixo ferroviário — que ligava o interior ao porto para o escoamento do açúcar — em um polo cultural e econômico, com ações educativas, usos criativos e integração ao Porto Digital. “Resgatar esse patrimônio é devolver à cidade pedaços fundamentais da sua história”, destaca Eduardo Moura. A execução do parque depende de aprovação do Iphan, Prefeitura e Fundarpe, e a primeira etapa será iniciada ainda em 2025. Com previsão de entrega do sistema viário para junho de 2025 e conclusão dos parques até 2026, o Novo Cais promete alterar profundamente a dinâmica urbana do Recife. A cidade ganha em mobilidade sustentável, qualidade ambiental e valorização do espaço público, com uma proposta de cidade viva e inclusiva. “Queremos que as pessoas se sintam parte desse lugar, que venham caminhar, pedalar, contemplar e conviver. O Novo Cais é um espaço pensado para todos”, afirma Diego Villar. ServiçoPrevisão de entrega do novo sistema viário: junho de 2025Conclusão do parque da orla e da memória ferroviária: até o final de 2026

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Recife sedia conferência global sobre justiça climática e adaptação comunitária

Evento internacional reúne representantes de 56 países e antecipa debates estratégicos para a COP30, em Belém De 12 a 16 de maio, Pernambuco se torna o epicentro do debate global sobre mudanças climáticas com a realização da 19ª Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária (CBA19), no Cais do Sertão, no Recife. Promovido pelo International Institute for Environment and Development (IIED) e apoiado pelo Governo do Estado, o encontro acontece pela primeira vez na América Latina e reúne cerca de 450 participantes de 56 países. O objetivo é discutir estratégias comunitárias de resiliência frente a eventos climáticos extremos, em um momento-chave de preparação para a COP30, marcada para novembro, em Belém (PA). Com o tema "Como Podemos Obter Uma Adaptação Justa e Equitativa?", a CBA19 propõe um formato dinâmico de intercâmbio entre comunidades tradicionais, governos, ONGs e especialistas de diversas regiões do mundo. A programação inclui quatro plenárias, 27 sessões paralelas, painéis relâmpago, oficinas interativas e o festival cultural “Clima de Mudança”, que será realizado na quarta-feira (15), das 16h às 20h, no vão livre do museu, com acesso gratuito. Destaque também para o “Shark Tank climático”, no qual até 20 startups terão a chance de desenvolver soluções ambientais com apoio técnico e investidores internacionais. As atividades se estruturam em torno de três eixos principais: adaptação liderada localmente, soluções urbanas de base comunitária e práticas baseadas na natureza, com valorização de saberes indígenas e tradicionais. Além do conteúdo apresentado no Cais do Sertão, haverá visitas guiadas a comunidades do Grande Recife e de cidades do interior. Esses encontros in loco permitirão aos participantes observar como diferentes regiões enfrentam os desafios impostos pela crise climática com criatividade, inovação e articulação comunitária. A conferência também será um espaço de articulação política e técnica. No último dia, será realizado um fórum de encerramento com os principais aprendizados do evento, sintetizando mensagens-chave para serem levadas à COP30. A proposta é alinhar práticas locais às metas internacionais estabelecidas no Acordo de Paris e fortalecer a presença do Sul Global no debate climático. Pernambuco, único estado brasileiro convidado a apresentar suas políticas públicas na London Climate Action Week, em 2024, reforça sua liderança na agenda ambiental ao sediar a CBA19. A secretária estadual de Meio Ambiente, Ana Luiza Ferreira, avalia que o evento coloca o estado em posição estratégica. “A conferência representa uma oportunidade estratégica para Pernambuco compartilhar suas experiências e iniciativas. Além disso, a CBA19 dará visibilidade não apenas às iniciativas locais, mas também será um momento importante para conhecer boas práticas e inovações de todo o planeta na busca por soluções equitativas para a adaptação climática”. Já Paul Mitchell, do IIED, destaca: “As conferências da CBA são baseadas em princípios de equidade e inclusão. Estamos entusiasmados por poder ter esta conversa em Recife”. ServiçoCBA19 – Conferência Internacional sobre Adaptação Comunitária às Mudanças Climáticas📍 Local: Cais do Sertão – Recife (PE)📅 Data: 12 a 16 de maio de 2025🌐 Programação completa: https://www.cba19.org🎟️ Ingressos esgotados

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Os 500 anos do Centro do Recife

*Por Sérgio Buarque ​​Final de tarde, o sol ainda iluminava a Avenida Guararapes, um boulevard arborizado e de largas calçadas e ciclovias, homens e mulheres circulando, entrando e saindo dos edifícios, muitos já sentados no Bar Savoy tomando chope e conversando sobre o aniversário do Recife. No dia seguinte, o Recife completará 500 anos, a capital mais antiga do Brasil. Às 18h, final de expediente, empresários e funcionários das empresas começam a descer dos belos edifícios e caminham pela calçada, alguns seguindo para seus apartamentos na própria avenida ou ruas próximas, outros pegando suas bicicletas, muitos encostando nos bares do Centro para o happy hour. Descem também os funcionários públicos das várias secretárias e órgãos do governo que ocupam edifícios do bairro que foram retrofitados.  Início da noite, muitos dos moradores saem de casa e circulam para fazer compras, tomar um café ou um drinque nas redondezas. Todo o bairro mostra uma grande vitalidade humana e econômica, num espaço público urbanizado, arborizado e muito bem iluminado, seguro e arejado. É uma quarta-feira como outra qualquer – exceto por ser véspera do aniversário dos 500 anos do Recife – nos bairros centrais habitados e com movimentação intensa de negociantes, visitantes, que buscam entretenimento ou compras, e turistas encantados com a qualidade urbana e com a riqueza do patrimônio histórico e cultural.  Na manhã seguinte, 12 de março de 2037, pouco antes das 9h, as ruas do Centro do Recife recomeçam a movimentação de pessoas, moradores saindo para o trabalho e milhares de funcionários e empresários chegando para as atividades profissionais. O movimento ainda era escasso, quando um carro elétrico desce da ponte Duarte Coelho e estaciona na Rua do Sul. Desceram do automóvel o prefeito do Recife, o presidente de Portugal e a princesa de Orange representando o rei Guilherme Alexandres dos Países Baixos na cerimônia dos 500 anos do Recife. Os três caminham pela avenida saudando as pessoas que circulam pelo Centro, o anfitrião mostrando os encantos da arquitetura e indicando os pontos de maior significado. “Aqui estão as principais secretarias do governo federal e estadual e uma universidade e algumas das principais empresas de tecnologia e economia criativa do Brasil”. Dobraram pela esquerda na Avenida Dantas Barreto, elegante e arborizada, seguindo para conhecer a Praça da República com as suas belas e elegantes edificações, e voltaram pela Rua do Imperador.  O prefeito mostrou com entusiasmo a Capela Dourada e iam descendo para a Praça da Independência quando a princesa, com grande entusiasmo, apontou para a placa diante do prédio da esquina da Rua Primeiro de Março: Memorial Marcgrave – Primeiro observatório astronômico da América do Sul. Durante a visita, a princesa suspirava e repetia: “Meu pai insistiu que eu deveria conhecer este memorial. Ele estudou história em Leiden e sabia tudo sobre esse observatório de Marcgrave”.  Contendo a animação da princesa, o prefeito destacou a importância da Praça da Independência e, depois, levou os visitantes a um bondinho que desceu a avenida Dantas Barreto até o Cais José Estelita, andaram pela praça admirando a Bacia do Pina e vendo por trás o Forte das Cinco Pontas, cheio de história dos dois povos. Pegaram o carro e foram almoçar no restaurante Leite para encanto do presidente português que terminou a refeição comendo um pastel de nata e tomando uma taça de vinho do Porto. Depois do almoço, caminharam sem pressa numa rota arborizada, passaram em frente à Casa da Cultura, admirando a bela arquitetura que serviu de prisão, atravessaram a ponte da Boa Vista e entraram na Rua da Imperatriz, a esta altura com uma grande movimentação de homens, mulheres e crianças entrando e saindo das lojas protegidos pela sombra das árvores.  O prefeito convidou os dois para descansar tomando um sorvete na Sorveteria Imperatriz, famosa pelos gelados de frutas tropicais, e depois caminharam pela rua movimentada por grandes artistas até a Praça Maciel Pinheiro. Na praça restaurada e com as edificações recuperadas e coloridas, os convidados ficaram encantados quando o prefeito comentou que ali tinha vivido uma comunidade de judeus asquenazes fugidos dos pogroms da Europa oriental no final do Século 19 e início do Século 20, e apontando para a casa da esquina, comentou: “Ali viveu Clarice Lispector, uma judia que fugiu da Ucrânia e foi uma das maiores escritoras brasileiras no século passado”. O prefeito deixou o bairro do Recife para o restante da tarde. Chegaram de carro ao Marco Zero. “O Recife nasceu aqui. Mas, como disse o grande pintor pernambucano Cícero Dias: Eu vi o mundo... ele começava no Recife”. Do Marco Zero, olhando para oeste, eles viram as avenidas Rio Branco, pedestrianizada, e a Avenida Marques de Olinda, arborizada e com amplas calçadas, vibrantes de pessoas circulando, alguns bares começando a abrir as portas. “Neste bairro, lembrou o prefeito, temos um dos maiores polos tecnológicos do Brasil com centenas de empresas de tecnologia da informação, produzindo software e games para clientes de todo o mundo”.  Eles desceram pela avenida Rio Branco e o orgulhoso prefeito indicou o caminho para a Rua do Bom Jesus – “considerada uma das mais belas do mundo” – que tinha sido chamada antes de Rua dos Judeus, “porque aqui, lembrou o prefeito, viveram os judeus sefarditas que fugiram da Inquisição de Portugal para viver livres no Recife holandês”. A Princesa abriu um sorriso de orgulho. Entraram na Sinagoga para uma visita rápida. Depois, passaram pela Praça do Arsenal, admirando a Torre Malakoff e descobrindo a história que vincula o seu nome a um monumento disputado numa batalha violenta na Guerra da Criméia no Século 19. Desceram pela praça e, já cansados, se sentaram para tomar o tradicional maltado do Recife, exclusivo da lanchonete que tem mais de 100 anos, a mistura de sorvete de baunilha e malte da semente do cacau. Voltaram a caminhar e, de vez em quando, o prefeito mostrava uma escultura de um poeta pernambucano e, em alguns, chegava a declamar alguns trechos de poemas. Finalmente, desceram até o Paço Alfândega, vendo as edificações da

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