Arquivos Colunistas - Página 275 De 299 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Colunistas

Para discutir a cidade

O trânsito, o transporte coletivo, a violência urbana, a qualidade dos espaços púbicos, o preço da moradia… todos temas tipicamente relacionados às distorções ou acertos de uma das maiores invenções do homem: a cidade. A coluna Cidades Algomais, que nasceu hoje, se propõe a discutir a qualidade de vida urbana, com um olhar especial para as cidades pernambucanas. É quase impossível que algum recifense não tenha se detido em alguma discussão mais acalorada nos últimos anos sobre algum tema urbano. Desde a reclamação diária do engarrafamento ou aquela queixa sobre o veículo que estaciona sobre a calçada até temas mais amplos e complexos, como o projeto do Parque Capibaribe ou a questão da gestão da metrópole, são alguns dos assuntos que esse espaço virtual se propõe a tratar. Seguindo o perfil da Revista Algomais, sempre que possível traremos uma abordagem propositiva aos posts. Mais que a denúncia ou a reclamação pela reclamação, a coluna Cidades Algomais tem a proposta de ser analítica,  além de também destacar os fatores positivos da experiência urbana das cidades pernambucanas. Dentro dessa perspectiva, projetos e experiências inovadoras e cases de protagonismo cidadão fazem parte da nossa pauta. A interação com os leitores e com as instituições que atuam pelas questões urbanas das cidades pernambucanas é uma das nossas metas. Se você deseja enviar uma sugestão de tema, uma fotografia ou comentar alguma das nossas postagens pode enviar um e-mail para rafael@algomais.com Uma breve apresentação Sou jornalista, com especialização em gestão pública e mestrando no Programa de Pós-Graduação em Extensão Rural e Desenvolvimento Local da UFRPE. Atuo como repórter da Algomais há quase 5 anos. Nesse tempo tive a oportunidade de produzir diversas matérias envolvendo questões urbanas (publicarei o link de algumas delas na coluna). Um período de bastante aprendizado e de compreensão das complexidades que constroem a dinâmica das cidades. Algumas das nossas produções chegaram à finais de premiações relativas à mobilidade urbana e ao Prêmio Urbana-PE 2017, na categoria reportagem impressa.

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Por um Pernambuco Polo Cervejeiro! (por Rivaldo Neto)

O Brasil é terceiro maior produtor de cervejas do mundo e segundo dados de 2015 do Instituto da Cerveja, o país produz uma volume anual em torno de 138,6 milhões de hectolitros. Uma posição de destaque no aquecido mercado global de cervejas. E por incrível que pareça grandes cervejarias como é o caso da Ambev, registrou queda no setor de aproximadamente 1,3% das suas cervejas do segmento “mainstream”(que envolve as marcas mais populares). Já as cervejas denominadas “Premium” registraram crescimento e isso não se dá por acaso. Mesmo que esse número possa parecer discreto, isso mostra a mudança de comportamento dos consumidores. E uma coisa interessante é que em um passado muito recente, tínhamos uma variedade extremamente limitada de marcas de cervejas que encontrávamos nas prateleiras. A mudança é grande. Hoje vemos inúmeras marcas da bebida com uma variedade bastante diversificada. E isso é só o começo. Principalmente se tratando especificamente no mercado de cervejas artesanais no Brasil. Tal fatia alcança apenas 0,7% de todo o mercado. E isso basicamente se tratando do eixo Sul/Sudeste. Com esse comportamento, as cervejas artesanais, mesmo com uma forte crise política e econômica, dão passos largos e robustos mostrando ser uma aposta bastante promissora para o futuro. Com uma atenção especial ao mercado nordestino, que tem um potencial enorme ainda a ser explorado. E Pernambuco, como não podia deixar de ser devido a sua tradição cervejeira, já começou a dar sinais claros que seu papel é de protagonismo no Nordeste isso é demonstrado na grande movimentação que ocorre no setor. O Estado já conta com 18 cervejarias operando normalmente com todas as licenças. Com isso também outros segmentos estão se movimentando e assim abrindo possibilidades de negócios em torno desse mercado. Os números são realmente animadores. Com esse pensamento, Pernambuco já se articula para a consolidação do polo com a criação da Apecerva (Associação Pernambucana de Cervejas Artesanais). Trata-se de uma importante iniciativa que dá um caráter ainda mais profissional ao setor, fazendo com que a ideia de criar um Polo Cervejeiro no Estado esteja mais acesa que nunca. O caminho já está sendo traçado para que aqui seja implantado o maior do mundo. Pois é, pernambucano é assim! Mundo Cervejeiro Debron Bier lança nova cerveja em parceria com rede de Hotéis Íbis A cervejaria Debron Bier, dos sócios Eduardo Farias, Thomé Calmon e Raimundo Dantas, fecham parceria com a Rede de Hotéis Ibis. A marca lançou um novo rótulo chamado Ibis Beer. Agora as cervejas da marca serão disponibilizadas em 20 hotéis espalhados pelas regiões Norte e Nordeste. “Nossa Ibis Beer é uma cerveja leve com alto drunkability, ideal para as pessoas que passam o dia no trabalho ou passeando com a família e amigos e precisam de um momento de descontração e relaxamento”, afirma o sócio da Debron Bier, Thomé Calmon. A cerveja tem um aroma suave e floral de lúpulo, harmonizando muito bem com frituras, sanduíches e grelhados. *Rivaldo Neto é designer e apreciador de boas cervejas

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Como inovar em um ambiente de transformação digital? (por Bruno Queiroz)

As empresas devem ser capazes de se adaptar às mudanças e fazer com que a inovação seja o meio para o seu crescimento contínuo. Num ambiente de transformação digital, essa demanda é ainda mais latente, pois a tecnologia e a necessidade do cliente mudam com muita velocidade. Nesse sentido, existem vários caminhos para inovar. Uma maneira tradicional é criar uma equipe interna para implantar a inovação. A grande dificuldade enfrentada por esse modelo é o conflito de interesses. Para inovar, é preciso pensar de modo diferente, mudar conceitos, rever regras e quebrar paradigmas. Isso não é uma tarefa fácil. A resistência interna, normalmente simbolizada na desconfiança e na perda de status de membros da empresa, será sempre um obstáculo a ser vencido. Uma forma de evitar o conflito de interesses, é criar unidades apartadas da estrutura principal da empresa, com autonomia operacional e orçamento próprios para tocar as inovações. Esse modelo vem sendo muito adotado porque gera resultado mais rapidamente. Tanto que essa unidade, com muita frequência, acaba se tornando uma empresa independente e é preciso tomar cuidado para não entrar em choque com o negócio da sua criadora. Tem que haver uma sinergia estratégica para evitar o fogo amigo. A não ser que a estratégia seja a de substituição, quando o novo se torna mais promissor do que o antigo. Nesse caso, a transição precisa ser bem planejada para evitar perdas de receita e abertura de espaço para os concorrentes. Contudo, nos modelos de inovação por meio de equipe interna ou de unidade independente, as ideias estão limitadas a um grupo de pessoas. A depender da complexidade, do tamanho e da abrangência da inovação, esses modelos podem não ser os melhores. Um caminho, então, é compartilhar com o mercado as necessidades de inovação e realizar parcerias para resolvê-las. Tem sido cada vez mais comum a criação de concursos de inovação com foco em segmentos de mercado (bancário, agronegócio, saúde etc). Em um primeiro momento, pode parecer se expor demais. Por outro lado, o resultado é que a contribuição da comunidade é sempre maior do que a de um pequeno grupo. Empresas como Itaú, Bradesco e Braskem têm feito isso em parceria com aceleradoras de startups, que normalmente são adquiridas e incorporadas ao negócio principal ao longo do tempo. Por último, o caminho mais rápido de todos os modelos: aquisição de empresas que já inovaram e possuem um grande potencial de crescimento de mercado. Para isso, é preciso capital intenso, pois negócios com esses atrativos são muito valorizados. Grandes empresas - como Facebook (Instagram e Whatsapp), Google (Android e Youtube), Microsoft (Skype e Linkedin) - seguiram este caminho com muito sucesso. *Bruno Queiroz é presidente da Abradi e sócio|diretor da Cartello  

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Na conversão, a preferência é do pedestre! (por Francisco Cunha)

No dia 23 de setembro passado o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) completou 20 anos de promulgação. Apesar de ser o que poderíamos chamar de um “monumento ao carrocentrismo”, traz um conceito de grande importância, ainda que, infelizmente, muito pouco observado. No artigo 29, parágrafo segundo, diz expressamente: “em ordem decrescente, os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela incolumidade dos pedestres”. Sim! Todos os que estão no trânsito são responsáveis pela “incolumidade” do pedestre e, como decorrência deste postulado, na conversão (ao dobrar o veículo em mudança de direção, à direita ou à esquerda), sempre deve ser dada preferência de passagem, pelo motorista que está dobrando, ao pedestre que está atravessando e ao ciclista que está cruzando a rua transversal, exista ou não faixa de pedestres. A redação do parágrafo único do artigo 38 do CTB é claríssima: “Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas”. E isso também vale para as calçadas, inclusive no que diz respeito à saída de veículos dos lotes particulares. O artigo 36 do CTB é explícito: “O condutor que for ingressar numa via, procedente de um lote lindeiro a essa via, deverá dar preferência aos veículos e pedestres que por ela estejam transitando.” Simples assim, mas de raríssima observação. Há mais de 10 anos andando sistematicamente dentro da cidade do Recife, por infindáveis quilômetros de calçadas e atravessando milhares de ruas, dá para contar nos dedos das mãos as vezes em que esse princípio da prioridade ao pedestre foi observado voluntariamente comigo. Das vezes em que aconteceu, de fato, foi por imposição minha. Recentemente, participando de uma audiência pública na Câmara Municipal do Recife, convocada e presidida pelo vereador Jayme Asfora, ouvi dele a leitura de um requerimento ao plenário solicitando que o poder executivo municipal providenciasse a colocação de placas indicativas em locais de cruzamento no Recife com os dizeres: “Na conversão, a preferência ao pedestre é obrigatória. Artigo 38 do Código de Trânsito Brasileiro”. Soube que o requerimento foi aprovado e encaminhado à Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano municipal. Um pequeno grande passo civilizatório. Vamos cumprir!

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A escultura que virou tema de ficção (por Leonardo Dantas Silva)

O Instituto Ricardo Brennand completou, em setembro passado, 15 anos dentro de nossa paisagem, transformando-se em um dos museus mais consagrados da América do Sul. Criado pelo industrial pernambucano Ricardo Brennand, aquele centro cultural é em nossos dias o maior local de congraçamento de público devendo atingir, no ano do seus 15 anos, a invejável frequência de 2.550.000 visitantes neste quarto de século. Como todo museu do mundo, existem nele peças que causam maior impacto em seus visitantes, como a última escultura do artista italiano Antonio Frilli, A Mulher na Rede ou Doces Sonhos, adquirida em 2009. Esta obra de arte, que tanto agrada aos visitantes, veio a inspirar recentemente uma novela, escrita nos Estados Unidos e publicada no ano passado do escritor Gary Rinehart, Nude Sleeping in Hammock. O italiano Antonio Frilli, que em 1860 fundara o seu ateliê em Florença (Via del Fossi), foi um dedicado escultor de grandes estátuas em mármore de Carrara e alabastro, destinadas a famosos cemitérios, bem como para galerias conhecidas na Europa, nos Estados Unidos e na Austrália. Em 1904, dois anos após a sua morte, seu filho Umberto apresentou na Louisiana Purchase Exposition em Saint Louis, Missouri a última obra do seu pai: “uma escultura que descrevia uma mulher nua em uma rede (Nude Sleeping in a Hammock) No mármore branco de Carrara, ganhou o Grande Prêmio e seis medalhas de ouro”. Já fazendo parte do acervo do Instituto Ricardo Brennand, eis que uma nova faceta vem ao encontro à história da escultura da “Mulher na rede”, como é conhecida entre nós: um visitante a vendo em nosso acervo fez presente à Biblioteca do Instituto Brennand do catálogo original da Louisiana Purchase Exposition em St. Louis (1904), onde a escultura de Antonio Frilli foi pela primeira vez apresentada com o título de Sweet dreams (Doces sonhos); revelando assim um passado até então desconhecido. Voltando ao histórico da obra, consta ter ele esculpido-a em 1892, sob o título de Doces Sonhos, representando uma bela mulher em tamanho real dormindo despida numa rede. Em 1915 foi a escultura enviada de Florença para São Francisco da Califórnia, onde ficaria exposta na Panama Pacific Exhibition. Nesta exposição, foi a escultura adquirida para decoração de um jardim residencial em Piedemonte (Itália). Agora chega ao nosso conhecimento que, em 1998, após mudanças na posse da primitiva casa, o advogado e pianista John Hayden, juntamente com sua mulher Sarah tornaram-se seus novos proprietários, passando a denominá-la de Eva. O acontecimento veio inspirar a novela publicada em 2016, escrito por Gary Rinehart, Nude-Sleeping-Hammock (Nu dormindo numa rede), que coloca a obra de Antonio Frilli como o centro da trama ficcional dos diversos proprietário, a partir do seu surgimento, em 1892, e como a escultura afetou suas vidas. O autor da novela só não revela, talvez por total desconhecimento, que a “Eva” de sua novela, hoje repousa em terras da nossa Várzea do Capibaribe.

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Pathfinders (por Bruno Moury Fernandes)

Passamos uma semana navegando em um veleiro-catamarã pelo Mar Egeu. Nós e mais três casais. Não meu senhor, não estou “me amostrando”. Não minha senhora, não estou me exibindo. Também pensava ser passeio para ricos. Mas posso garantir que é totalmente acessível. O simples acesso à informação pode ser o elemento que falta para você realizar uma viagem de rico, sendo pobre. Pesquise! Pois deu-se exatamente comigo, lá pras bandas das ilhas gregas. E gostei. Foi bom ser rico por apenas uma semana, apesar da pobreza não ter me abandonado em momento algum. Estava à bordo de um iate movido a vinhos, risadas, peixes e vômitos. Pense num lugar bonito da gota serena! A água azul, mas de um azul que de tão azul nos abestalhava. As ilhas, de nomes bem complicados, uma mais linda que a outra. Paros, Folegandros, Milos, Mykonos, Kimolos. E pensei que para um galeguinho de água doce oriundo de Uruçu-Mirim aquele mar salgado, cristalino, tava de bom tamanho. Então levantei as mãos aos céus e agradeci: “Senhooooôr”. Acho que não rezei direito. Não me pergunte por qual motivo, mas imaginava que praquelas bandas o mar era calmo. Mas como todo mar, o de lá também é bipolar. E em dois dias a embarcação balançou bastante. Eu estava doido por uma aventura. Algo que me desse elementos para uma narrativa próxima a Hemingway, em O velho e o Mar. O mais próximo que aconteceu de perrengue, porém, foi uma das cordas que sustentava o bote ter arrebentado. Nada que um marinheiro experiente não pudesse ajeitar em cinco minutos. Fiquei imaginando ele caindo ao mar e nós, que nunca havíamos pilotado um bicho daqueles, à deriva diante da morte trágica do tripulante mais importante. Então ficaríamos perdidos por uma semana e suprimentos começariam a findar. E seríamos resgatados por um navio italiano que nos avistaria por acaso. Mas voltei à realidade daquela cena entediante de um marinheiro grego arrumando o bote na mais absoluta tranquilidade, enquanto assobiava melodias indefinidas. E fiquei com aquela decepcionante sensação de que tudo correria na mais absoluta tranquilidade até o final da nossa jornada. Infelizmente, decepção para minha mente criativa. As companhias foram ótimas. Tinha uma blogueira chic que ao final da odisseia estava toda descabelada, com o seu marido poliglota. Tinha um doutor que medicava remédio para enjoo e sua esposa que insistia em querer experimentar a comida de todos os outros. O nosso líder comandante e sua esposa fotógrafa. Além da minha esposa que não parava de falar. E bem alto. O engenheiro naval que nos guiava e sua mulher que cozinhava divinamente, ambos gregos. Uma semana convivendo com essas pessoas, dentro de um barco, navegando e trocando experiências humanas. Histórias e causos. Muitos causos. Em meio à imensidão da noite, olhar aquele céu imenso e estrelado e ser aquele pontinho no meio da imensidão, fez-me lembrar que não somos nada. Mas navegar com amigos é sensacional. Então logo voltei à realidade e me senti foda novamente. Justamente por tê-los em minhas vidas. Thank’s pathfinders! Oremos todos novamente: “Senhor, multiplicai os euros, ó Pai, tal qual fizeste com os pães, para que lá possamos retornar um dia”.

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Janelas no Oitão (por Joca Souza Leão)

A borboleta amarela, na crônica de Rubem Braga, voou para o oitão da Biblioteca Nacional. “Oitão, uma bonita palavra. Usa-se muito no Recife; lá, todo mundo diz: no oitão da igreja, no oitão do Teatro Santa Isabel... Aqui (no Rio) a gente diz do lado. Dá no mesmo, porém oitão é mais bonito.” E precisa mais? Se precisasse, eu diria, além de mais bonito, é mais preciso. Mas oitão também é o espaço entre duas casas. Nem todas têm oitão. Algumas são geminadas (parede-meia), coladas umas às outras, como a maioria das casas antigas do Recife e Olinda. Há casas com um oitão e casas com dois oitões. Sempre, o da direita, à direita de quem olha para a casa, mais largo, é passagem de carro para a garagem que fica no quintal. E também passagem para os visitantes que têm intimidade com o dono ou a dona da casa: “Ele entra pela porta da cozinha”. Os que não têm intimidade são, diz-se, de cerimônia. Se anunciam, batem palma ou tocam a campainha, e entram pela porta da frente. Até pouco tempo, pelo menos, era assim. Aqui (não sei se no resto do Nordeste) e em Portugal ainda se fala oitão. Não fala tanto, mas fala. Quem mora em apartamento, mesmo, não chama o espaço entre um edifício e outro de oitão. Chama de área. Mas, se for explicar a alguém onde fica a Rua Direita, ensinará, certamente, que fica no oitão da Igreja do Livramento. Ou não? Rio de Janeiro, inverno, anos 70. Peguei um táxi no Leme. “Botafogo, por favor.” Para facilitar a vida do motorista, um português de meia-idade, bigode eciano, vasto e levemente arqueado nas pontas, disse-lhe, além do endereço, uma referência: “Essa rua fica no oitão da Mesbla.” “És patrício, pá?” “Não. Pernambucano.” “Primeira vez que estou a ouvir um brasileiro a falar oitão, ó pá!” Bem, o fato é que a rua, meio escondida e pouco conhecida, foi facilmente localizada pelo portuga. Terraço do (belo) apartamento da escritora Dayse Mayer. Ivanildo Sampaio no seu vinho e eu no meu uisquinho de sempre. Paula Costa e Silva, portuguesa, professora de Direito e colega da anfitriã na Universidade de Lisboa, tomando um Porto Vintage. Na conversa, não lembro mais sobre o quê, falei oitão. “Não ouço a palavra oitão há anos” – disse Paula. “Algumas palavras, que ainda são usadas aqui, estão a cair em desuso em Portugal.” E citou algumas, das quais lembro de duas, além de oitão: alcatifa (que tá virando ou já virou carpete) e encarnado (o “encarnado, preto e branco” do meu tricolor; que para os alvirrubros e rubro-negros é vermelho). Por amostração, como dizem meus netos, recitei para Paula (ainda não disse que era bonita a rapariga, ó pá!) versos de Mauro Mota: Ó velhos chalés de 1830 / eterniza-se entre as paredes os ecos das vozes invisíveis / habitantes. / Mãos de sombras femininas abrem de leve janelas no oitão. P.S. Imperdível: Contos da Era das Canções e Outros Escritos, livro de Aluízio Falcão que será lançado em novembro. *Por Joca Souza Leão

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Cinema francês em alta com a estreia de “O Melhor Professor da Minha Vida” (Por Wanderley Andrade)

Histórias inspiradoras sobre professores que transformaram a vida de alunos através de métodos bem à frente do seu tempo, há muito rendem bons filmes. Difícil esquecer de clássicos como Ao Mestre com Carinho (1967) e Sociedade dos Poetas Mortos (1989). Outro belo exemplo, desta vez mais recente, é a coprodução EUA/Reino Unido/Quênia, Uma Lição de Vida (2009). O longa narra a jornada de Kimani Marug, um queniano de 84 anos que, com a ajuda da professora, decide voltar à escola. Essa relação de amizade entre professor e aluno mostra ser fonte inesgotável de inspiração para roteiristas e produtores. Seguindo a mesma temática, chega aos cinemas, nesta quinta, a produção francesa, O Melhor Professor da Minha Vida. No filme, Denis Podalydès interpreta François Foucault, um professor de Literatura de uma importante escola de Paris. Um encontro com uma funcionária do Ministério de Educação resultará na proposta para lecionar em um colégio de periferia. François terá como desafio mudar a realidade de alunos indisciplinados como Seydou (bela interpretação de Abdoulaye Diallo), que sofre com a mãe doente e busca refúgio na marginalidade. O Melhor Professor da Minha Vida discorre sobre transformação. Seydou não será o mesmo após o encontro com François Foucault e a Literatura. Em contrapartida, a experiência com a nova turma marcará profundamente a vida de François e afastará medos e preconceitos acumulados até então. Sua boa relação com os alunos despertará ciúmes nos outros professores. Este é o primeiro longa-metragem dirigido por Olivier Ayache-Vidal, que também assina o roteiro. A fotografia é de David Cailley, que tem no currículo filmes como Amor à Primeira Briga (2014) e In Califórnia (2015). A câmera trêmula de Cailley confere às cenas de conflito maior tensão e um tom mais intimista. A história, fundamentada em um tema já exaustivamente explorado no cinema, poderia, sem cerimônia, atar-se à comodidade e falta de inspiração característicos ao clichê. Mas o roteiro bem escrito, livre de pontas soltas, e a competente direção de Olivier Ayache-Vidal dão ao filme a simplicidade e paradoxal profundidade de uma boa aula. Confira os horários de exibição.

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A menina do olho verde vence festival na Itália (por Paulo Caldas)

Vencedor da versão 2017 do Festival Convivio (para diversas formas de expressão artística), na Itália, com o Premio Assoluto: o livro pernambucano A menina do olho verde, de Patrícia Tenório é tema do comentário de hoje. Uma onda de ternura é o que nos envolve ao ler este A menina do olho verde, livro de Patrícia Tenório - edição do autor, cujo conteúdo, em tom de fábula, mostra a história de Manoela uma menina que impressiona pela cor dos olhos. Os acontecimentos são narrados pelo fio condutor da singeleza de um texto que, embora nem sempre mantenha apego às filigranas das técnicas ficcionais, é mais que tudo cativante. A escrita de Patrícia é cálida, prenhe de ternura, surpreendente ao revelar pecados adultos de um mandatário concentrador das circunstâncias e das gentes, e do preconceito visto na aura de uma senhora de caridade. Na narrativa transpira beleza, especialmente nos cenários naturais que ela compõe e que predominam na ambiência das cenas; contemplando gorjeios de pássaros, zumbidos de abelhas e aroma de flores. No entanto, o texto ganha fôlego quando Manoela caminha pelas alamedas do encantado e do maravilhoso. Ali contracena com animais que falam, água de um rio que surge ao seu desejo e que sussurram melodias regidas por um maestro imaginário, que flutua numa simbiose de água e sons, cena plasticamente soberba. Patrícia Tenório compõe outras cenas de refinada beleza estética, quando mostra Manoela na fonte de um oásis ou ainda a do personagem Pedro colhendo no eco de um grito pedaços escritos de seu nome. O livro é especial em conteúdo e estética, editado em capa dura, guarda cortinas e demais detalhes de esmerado bom gosto. A menina do olho verde é para se ler e guardar. *Paulo Caldas é escritor

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Regulamentação ou proibição? (por Ivo Dantas)

Se você já utilizou alguma vez um aplicativo de transporte, provavelmente recebeu notificações e e-mails desses Apps ao longo dos últimos dias sobre um abaixo-assinado para evitar o encerramento das atividades de aplicativos de mobilidade. O comunicado do Uber, por exemplo, chega a pedir que o usuário assine o documento e o entregue impresso ao motorista na próxima vez que utilizar o serviço. Você deve estar se perguntando o motivo dessa iniciativa, não é mesmo? Pois bem, o movimento foi impulsionado pelo resultado de uma audiência pública que aconteceu na semana passada em que senadores presentes solicitaram a urgência na votação do Projeto de Lei da Câmara dos Deputados 28/2017, que regulamenta os aplicativos de transporte individual. Esse documento, que foi aprovado em abril pelos deputados, estabelece diversas regras que deverão ser obedecidas pelos aplicativos. Entre outras coisas, as Prefeituras ficariam responsáveis por emitir licença de funcionamento e fiscalizarem a atuação dos mesmos. Com um passado marcado por derrotas nas esferas municipais – principalmente por um lobby dos taxistas junto ao poder público – o Uber, bem como seus concorrentes, decidiram adotar a estratégia de apelar para a pressão popular para que o projeto não passe pelo Senado. A bem da verdade, além da dificuldade de conseguir as licenças, os aplicativos têm receio da regulamentação da atividade quando o assunto são direitos trabalhistas. Com a nova lei, os Apps teriam que cadastrar os motoristas no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), bem como lidar com a questão do vínculo empregatício, que vem levantando debates na Justiça do Trabalho. Intitulada “Juntos pela Mobilidade”, a campanha conta com a assinatura dos Apps Uber, 99 e Cabify. Em novo e-mail enviado nesta terça-feira, os aplicativos comemoram os resultados atingidos em menos de uma semana. “Hoje, terça-feira, os senadores receberam um projeto alternativo, e a votação do requerimento de urgência foi adiada. Porém, a alternativa é só o começo de um amplo debate, e esse adiamento dura pouco: a votação pode acontecer já nesta quarta-feira”. Ao leitor, deixo a reflexão: Para você, o projeto de lei vai melhorar os serviços, garantindo maior segurança a usuários e motoristas, ou demarcarão o fim dos aplicativos? *Ivo Dantas é jornalista

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