Maio Amarelo destaca os desafios de pessoas neurodivergentes no trânsito
Campanha amplia debate sobre mobilidade inclusiva e alerta para impactos sensoriais em autistas e outros neurodivergentes A campanha Maio Amarelo, voltada à segurança no trânsito, amplia seu foco em 2025 ao abordar os desafios enfrentados por pessoas neurodivergentes — como autistas e indivíduos com TDAH — nas ruas, estradas e meios de transporte. A discussão é urgente: o mais recente relatório do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA), divulgado em abril deste ano, aponta que 1 em cada 31 crianças está no espectro autista, o que reforça a necessidade de repensar políticas públicas, estruturas urbanas e práticas sociais que favoreçam uma mobilidade mais empática e segura. Barulhos intensos, trânsito imprevisível e longos engarrafamentos podem causar sobrecargas sensoriais em pessoas neurodivergentes, afetando diretamente seu bem-estar. “O barulho constante, a imprevisibilidade dos engarrafamentos e o confinamento dentro de carros ou transportes públicos podem gerar sobrecarga sensorial. Isso afeta o comportamento, causa ansiedade, irritabilidade e, em alguns casos, crises intensas de desregulação emocional”, explica a psicóloga Ednalva Mariano. Ambientes urbanos mal planejados dificultam ainda mais a experiência de deslocamento e exigem estratégias específicas de acolhimento e preparação. No transporte individual, criar um ambiente previsível faz toda a diferença. A psicóloga recomenda que os responsáveis antecipem o trajeto, mostrem o percurso no GPS, evitem mudanças de rota e ofereçam itens de conforto sensorial, como abafadores de ruído, brinquedos táteis e músicas familiares. “Se a criança, ou o adolescente se desregular no carro, o ideal é parar o veículo em local seguro, reduzir os estímulos e ajudá-la a recuperar o equilíbrio emocional. O acolhimento é o primeiro passo”, enfatiza. Nos transportes coletivos, os desafios se intensificam. Ônibus e metrôs lotados, cheiros, luzes e sons intensos podem ser gatilhos para crises emocionais. Para minimizar o impacto, é recomendado evitar horários de pico, carregar objetos sensoriais de apoio e combinar sinais que alertem sobre o desconforto. “Muitas pessoas não conseguem usar transporte público por causa do excesso de estímulos. Mas, quando não há opção, é importante preparar a pessoa com informações sobre o trajeto e o que pode acontecer”, orienta Ednalva. A cidade também impõe obstáculos aos pedestres neurodivergentes. Buzinas, travessias rápidas e estímulos visuais inesperados dificultam a locomoção a pé. Medidas simples como ensinar rotas seguras, usar pulseiras de identificação e sinalizações como o cordão de girassol ou adesivos com o símbolo do autismo ajudam a garantir mais segurança e respeito. Em caso de crise, é essencial oferecer ajuda com calma, respeitando limites e promovendo empatia. No Recife, a inclusão ganhou reforço com a emissão de credenciais específicas para pessoas com TEA, válidas em todo o Brasil por cinco anos. A credencial permite o uso de vagas especiais em vias públicas e estabelecimentos privados. Espaços como a Clínica Mundos também contribuem com esse ecossistema de apoio: referência no tratamento multidisciplinar de crianças e adolescentes neurodivergentes, já realizou mais de 1 milhão de atendimentos desde 2023 e está em plena expansão em Pernambuco. Dicas para um trânsito mais inclusivo e seguro 1. Respeite o tempo dos pedestres: Nem todos reagem com rapidez aos sinais. Seja paciente. 2. Evite buzinas desnecessárias: Sons altos podem ser gatilhos para pessoas com hipersensibilidade auditiva. 3. Dê preferência na faixa: Pedestres neurodivergentes podem ter dificuldade para avaliar o tempo de travessia. 4. Adesivo com identificação de neurodivergência importa: Os símbolos como o quebra-cabeça colorido ajudam a sinalizar vulnerabilidade e incentivar a empatia. 5. Estacione corretamente: Rampas e calçadas livres garantem acessibilidade. E não esqueça de usar a identificação de vaga especial. 6. Fique atento a comportamentos diferentes: Em caso de crise visível, ofereça ajuda de forma calma e respeitosa. 7. Transporte escolar: exija capacitação: escolas e motoristas devem saber lidar com crianças neurodivergentes.
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