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O ano letivo de 2020 pode ser um ano considerado perdido?

O ano de 2020 não começou bem para a humanidade. A Austrália enfrentou a pior temporada de incêndios de sua história, a escalada de tensão entre os EUA e o Irã, e no Brasil, destacamos o baixo crescimento do PIB do país, as enchentes no Sudeste e o Estado do Paraná enfrentando a pior estiagem de sua história. Mas sem dúvida alguma, dentre alguns dos principais fatos que marcaram o corrente ano até agora, a chegada da covid-19 trouxe inúmeros desafios em todas as áreas, pois mudamos drasticamente nosso estilo de vida e rotina em pouquíssimo tempo. Absolutamente tudo mudou, a nossa forma de realizar compras, trabalhar, encontrar com amigos e familiares e com os estudos não seria diferente. Praticamente do dia para a noite, várias instituições precisaram fechar para respeitarmos o isolamento social recomendado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e profissionais da saúde. A escola foi uma dessas instituições que precisou ser fechada, pais, alunos e professores passaram a vivenciar um cenário completamente desconhecido. De um lado temos famílias trabalhando em home office com seus filhos em tempo integral em casa, precisando auxiliá-los em todas as atividades, inclusive nas tarefas escolares, sendo estas muitas vezes desconhecidas pelos pais. As crianças também foram muito afetadas, uma vez que perderam sua rotina escolar, sem saber expressar essa necessidade de rotina (horários adequados para acordar, comer, brincar, estudar, dormir, entre outros) aumentam seu nível de irritabilidade e stress, ficando mais chorosas. Do outro lado temos os professores, que foram desafiados a se reinventar, criar uma nova metodologia para alcançar seus alunos e transmitir o conhecimento. Uma das soluções encontradas para a educação foi o ensino a distância, popularmente conhecido como EaD, porém para este tipo de ensino é necessário obter conexão com internet. Por outro lado, o especialista em tecnologia na educação Nelson Pretto afirma que “a pandemia pode ser uma oportunidade para repensar estratégias para a educação a partir de agora”. Secretários de Educação de várias regiões traçaram inúmeras estratégias para levar educação até seus estudantes, lançando atividades pela internet, aulas pela TV aberta e distribuição de atividades impressas para aqueles que não tem acesso a internet. Sem dúvida, a pandemia trouxe vários desafios, porém o que podemos concluir é que tivemos inúmeros aprendizados em diversas áreas, e estamos conseguindo superá-los no dia a dia. Encontramos novas soluções e descobrimos novas ferramentas educacionais que antes não eram exploradas. Outra evidência a ser ressaltada é que o número grandioso de “lives” de diversas áreas do conhecimento vêm contribuindo para a formação de muitos profissionais, pois as barreiras físicas estão sendo diluídas neste novo formato que a sociedade encontrou como “solução” temporária. Desta forma é possível concluir que o ano de 2020 está longe de ser considerado um ano perdido. *Por Camila Andretta Martins é mestre em Educação e professora da Área de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

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6 em cada 10 clientes vão se presentear nessa Black Friday

Em um ano não convencional, a Black Friday que ocorrerá em 27 de novembro parece ser o momento certo para as pessoas se presentearem por estarem passando e sobrevivendo a pandemia. É o que aponta a pesquisa de Inteligência de Mercado da Globo, que mostra que 65% dos consumidores pretendem aproveitar a oportunidade para se presentear. A data vem se consolidando no Brasil, principalmente no meio digital, que em 2019 teve faturamento na casa dos R$3,2 bilhões. Para 2020, a pesquisa apontou que 29% dos entrevistados farão compras só pela internet, 55% em meios físicos e digitais, e 14% comprarão em loja física. Com a alta do varejo digital, a sensação de retomada da economia e a proximidade das festividades do final de ano perfaz uma fórmula de aumento nas expectativas do consumo. Se presentear é uma forma de se recompensar por todas as frustações passadas, e uma forma de premiar nossos atos de resiliência em um ano tão confuso e incerto. Nada melhor do que nos agraciarmos por nossa bravura em enfrentar a crise. A pesquisa em questão ainda aponta que as categorias que se destacarão são as de acessórios, com 31%, eletrônicos e smartphones com 30%, seguidos por calçados, 26%, eletrodomésticos com 23% e cosmético com 21%. Vale lembrar que, geralmente, as pessoas começam bem antes a pesquisar os preços dos produtos, para adquiri-los na Black Friday, por isso, oito em cada dez vão considerar se a oferta é realmente uma promoção antes de consumir. Na forma de pagamento, o estudo mostra que ocorrerá das mais diversas formas, sendo que 67% utilizará os cartões de crédito pela facilidade do parcelamento, bem como a segurança. Adicionamos aqui a estreia do PIX, que já está agilizando ainda mais as operações. Com isso, os lojistas devem se preparar para essa data, que nesse ano terá um ar de redenção, uma forma de nos presentearmos por continuarmos firmes, em meio a essa situação atípica. Por Elizeu Barroso Alves, coordenador do Curso de Gestão Comercial e Varejo Digital do Centro Universitário Internacional Uninter.

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O efeito Biden no esfriamento político e climático

Por Tiago Andrade Lima Estamos vivendo um cenário de reta final de mais um processo eleitoral no Brasil. E essa foi a pauta dos noticiários e das últimas semanas, no entanto, de outro país, os Estados Unidos. As críticas direcionadas a quem alimentou essa pauta, como se tivéssemos que ficar alheios à movimentação política no país que tem a principal economia do mundo, são mais infundadas do que parece. Para além de uma eleição, existiram, nesse processo, alguns elementos de interesse mundial que merecem maior análise. Uma delas, de caráter político, foi a do combate ao extremismo. Sem qualquer juízo de valor sobre o governo Trump, a postura de uma pessoa pública jamais pode ser a do enfrentamento, de maneira extrema, da ciência. Negar o aquecimento global e os seus efeitos é uma postura ignorante, na mais pura etimologia dessa palavra. Segundo os dados divulgados no Relatório do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) em 2019, este fenômeno é o responsável direto por vários impactos causados sobre a Terra, incluindo incêndios florestais, mudanças na precipitação e ondas de calor. No mesmo sentido, um estudo apoiado pelas Organizações das Nações Unidas – ONU, e publicado no mês de setembro de 2020, aponta que a mudança climática pode levar mundo a um dos quinquênios (2016 – 2020) mais quentes da história. É sabido que o Acordo de Paris, o compromisso mundial vigente que trata das alterações climáticas e prevê metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa, foi subscrito pela grande maioria dos países do mundo. No entanto, os Estados Unidos, maior emissor desses gases no mundo, não assinou esse Acordo por decisão do seu atual presidente, meramente pautada em critérios políticos e sem qualquer embasamento técnico. Para além dos efeitos negativos na pauta de redução dos riscos climáticos, ficou evidente caráter desestimulador do esforço mundial realizado por cada um dos países aderentes ao Acordo, por meio das suas metas nacionais e pôs dúvida sobre a ciência. Como acreditar em um acordo que demanda esforços financeiros dos setores públicos e privados de cada um dos países, se a principal economia do mundo dá as costas ao pacto? Isso tudo em um momento em que o mercado econômico mundial vem alinhando, de forma crescente, os objetivos financeiros do investidor com suas preocupações e valores acerca do meio ambiente, da sociedade e de questões de governança (Environmental, Social and Governance – ESG). Isso é claramente demonstrado em um estudo da BM&FBOVESPA sobre a quantidade de ativos e números de fundos que incorporaram critérios de ESG. Entre 2010 e 2012, esses ativos aumentaram 78%, passando de US$ 569 bilhões para US$ 1,01 trilhões em 720 fundos ESG diferentes. A postura de um líder político teria que necessariamente levar em consideração os critérios técnicos para a tomada de decisão. E assim, recentemente, o futuro presidente eleito, o democrata Joe Biden, anunciou que os Estados Unidos retornarão ao Acordo de Paris, demonstrando o seu esforço para fins de contenção do aquecimento global. E foi além: anunciou, como uma de suas propostas, o plano de investir US$ 1,7 trilhão para que os Estados Unidos alcancem uma marca de zero emissão de carbono em 2050. Infelizmente, por se tratar de uma proposta realizada no âmbito de um processo eleitoral tão acirrado como foi o que ocorreu no EUA, não se pode emprestar irrestrita credibilidade ao anúncio. No entanto, em momentos de radicalismo, a simples perspectiva de um cenário mais favorável ao combate das mudanças climáticas já serve de alento. Levantar a bandeira do clima, em um momento de extremismo exacerbado, tem o quádruplo efeito de mostrar a importância da ciência na tomada de decisão em um governo, de mostrar ao mundo que o combate ao aquecimento global deve ser uma pauta obrigatória de todos os países, de fomentar a adoção de critérios ESG nos investimentos pelo mundo e, por fim, de mostrar ao mundo que o radicalismo, independente de qual opinião seja defendida, é irracional e não atingirá o propagado desenvolvimento econômico com sustentabilidade. Na semana do nosso processo eleitoral, que os efeitos do ocorrido nos EUA sirvam de lição para os nossos políticos e, principalmente, para os nossos eleitores, para que às suas escolhas levem em consideração, para além das propostas e dos ideais políticos do candidato, o seu perfil de respeito (ou não) à ciência e às opiniões contrárias. Tiago Andrade Lima é sócio-titular da área de Direito Ambiental do Queiroz Cavalcanti Advocacia

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Aos senhores Vereadores do Recife

Eu me chamo Maria Bacallá, tenho 16 anos e curso o 3° ano do Ensino Médio no Colégio Equipe (rede particular). Apresento-me para deixar claro o meu lugar de fala e venho, através deste documento, exercer a cidadania, levantando questionamentos e fomentando o debate. Como é de conhecimento geral, as eleições municipais se aproximam e esse momento traz as perguntas: “O que os jovens esperam para o Recife? Os jovens se mostram engajados? Ou apenas passam a votar quando atingem a maioridade, devido ao caráter obrigatório desse ato?”. Os dados divulgados pelo TSE apontam que o eleitorado situado na faixa etária 16-17 anos corresponde apenas a 0,7% do total dos votantes brasileiros, valor muito inferior quando comparado ao 1,61%, registrado em 2016. Poderia-se argumentar que tal redução se deve à pandemia do Novo Coronavírus. Apesar do provável impacto, esse decrescimento é uma tendência a qual é ilustrada pela imagem abaixo: Esse infográfico é o reflexo do distanciamento dos adolescentes em relação à política. Muitos sentem que Política é um conceito abstrato, não conhecem os vereadores da própria cidade e, até mesmo, ignoram a sua função. Esse fenômeno conduz à falta de engajamento e à alienação e, por conseguinte, à descrença e à inércia (isso pode ser comprovado pela queda de 44%, no período 2010-2018, no número de filiados a partidos políticos, na faixa de 16 a 24 anos, segundo o TSE). Sem participação ativa nos rumos da própria cidade, o afastamento da esfera macro (estado e União) também é agravado. Em relação à minha experiência, nesses três anos de Ensino Médio, não me recordo de ter discutido, em sala de aula ou com um colega, qualquer Projeto de Lei em pauta na Câmara dos Vereadores. Essa é a realidade de adolescentes que têm acesso a um ensino de altíssimo nível e que possuem as ferramentas para dispor de informações. Agora, mudemos o foco para alunos do Ensino Público, os quais costumam frequentar colégios de qualidade deficitária, nas periferias, e apresentam condições adversas de várias ordens. Poucos terão os instrumentos para compreender o significado do jogo político e a função que cada um desempenha nele. Assim, constata-se que a educação de qualidade (desde os anos iniciais) é fundamental, mas não é suficiente. Logo, aprendizagem precisa ser acompanhada pelo desenvolvimento do espírito crítico. Dessa forma, é essencial que o vínculo entre os vereadores e os jovens seja estreitado. Visitas escolares (das redes particular e pública) à Câmara Municipal deveriam ser mais frequentes. O Projeto “Visite a Câmara” (criado em 2009, pela Resolução 241), implantado na cidade de São Carlos, deu oportunidade a alunos de aprenderem o papel do Poder Legislativo na própria instituição citadina. Além disso, a mobilização de vereadores em visitar escolas (não só em momentos de campanha eleitoral), de forma a promover debates os quais contemplem suas propostas efetivas, reforça a conexão com o jovem, desperta o seu sentimento de agente ativo na vida política e auxilia na compreensão sobre as competências do vereador. Ademais, o interesse de jovens pelos rumos políticos da cidade passa pela ocupação dos espaços públicos. A conversa de vereadores com os recifenses, nas ruas, fica muito restrita ao período eleitoral. Inúmeras praças do Recife também permanecem continuamente desocupadas, sem a presença de atividades que desenvolvam a criticidade dos jovens. Projetos como o “História ao Ar Livre”, desenvolvido pelos professores Rodrigo Bione, Luiz Paulo Ferraz e Júlia Ribeiro, caminham na contramão dessa tendência ao promover encontros gratuitos em diferentes pontos da cidade. Sem auxílio econômico do Poder Público, tais reuniões já debateram tópicos a exemplo da “Revolução Pernambucana de 1817” e “Violência contra a mulher”. Além de ampliar o leque de conhecimentos históricos, o ouvinte se torna consciente de seus próprios direitos e nota que o seu voto e suas ações produzem impacto. Desse modo, é evidente a aproximação do cidadão da vida política, posto que ele percebe a necessidade de mobilização. O movimento de aproximação juvenil da conjuntura pública leva a outros benefícios: líderes comunitários surgem, elencando reivindicações de seu grupo e encaminhando a vereadores. Esses recebem mais cobranças, os serviços melhoram e os níveis de corrupção caem, devido à fiscalização direta da sociedade civil. Diante de tudo o que foi explanado, eu volto à pergunta “O que os jovens esperam para o Recife?”. Certamente, uma cidade mais inclusiva, com espaços públicos valorizados e educação pública de qualidade. Mas é, principalmente, o Recife que, na verdade, espera uma maior atuação dos jovens e isso não vai acontecer se ficarmos de braços cruzados. Espero que essa curta reflexão sirva para que os senhores também pensem em alternativas cujo objetivo seja estimular o engajamento político. *Maria Bacallá é estudante do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Equipe

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A importância da consciência cidadã para os eleitores

*Por Luisa Albuquerque As eleições municipais de Recife, nesse ano de 2020, ocorrerão no próximo dia 15 de novembro e, nesse período pré-eleitoral, diversos cidadãos começam a refletir sobre o que eles desejam para as próximas gestões da sua cidade. É possível, em uma análise inicial, inferir que um desejo em comum de toda a população da metrópole pernambucana é a implementação de políticas que melhorem a qualidade de vida dos cidadãos recifenses. Isso é melhor elucidado ao se perceber que problemas como a falta de mobilidade urbana, a precariedade da saúde pública e a degradação do meio ambiente não são temas contemporâneos, isto é, são problemas arcaicos que reverberam até os dias atuais. Entretanto, as pessoas não podem perder a esperança de equacioná-los. Em uma visão secundária, é cabível mencionar que também se espera para o Recife a resolução de problemas como a mendicância, que assola a metrópole há muito tempo. Podemos citar como exemplo dessa questão preocupante as palafitas próximas à Via Mangue, localizada na Zona Sul de Recife. Esse fato não é algo recente na história da cidade, uma vez que João Cabral de Melo Neto, poeta recifense, escreveu, em 1955, o livro "Morte e Vida Severina", obra que retrata as condições miseráveis de um retirante nordestino que, em certa parte do livro, acaba tendo que morar em palafitas as quais, infelizmente, permanecem na paisagem da cidade até a contemporaneidade. Além disso, é imprescindível ressaltar que um dos principais desejos dos cidadãos para as próximas gestões da cidade do Recife é a melhoria dos problemas de violência urbana. Segundo a ONG mexicana Segurança, Justiça e Paz, Recife ocupa a 22ª posição no ranking de cidades mais violentas do mundo, dado esse que contrasta com o pensamento do sociólogo Zygmunt Bauman quando, em seu livro “Confiança e Medo”, disse que as cidades surgiram, muitas vezes, como local de segurança e proteção. Entretanto, na conjuntura atual, é muito comum o sentimento de medo nas cidades, por conta da falta de segurança pública. É inconcebível falar dos planos dos recifenses sem citar a melhoria do sistema educacional na metrópole pernambucana. A educação exerce um papel de extrema importância na sociedade, inclusive, o de prevenir diversos problemas citados acima, como a degradação do meio ambiente ou o problema de segurança pública, uma vez que a falta de instrução deixa o indivíduo em situação de vulnerabilidade social, por isso se pode falar do poder transformador da educação. É possível, a partir de diálogos multidisciplinares, principalmente nas instituições de ensino, debater sobre o absurdo que é a violência no cotidiano urbano. Além disso, almeja-se, para a cidade do Recife, que tanto os administrados como os poderes constituídos, incluindo o Legislativo e o Executivo, reconheçam a importância das instituições escolares, na medida em que formam alunos cientes do seu papel na sociedade, desejando instituições de ensino que discutam assuntos que vão além dos muros da escola e que, como consequência disso, promovam vínculos da educação com a cidadania e a democracia. Chegou a hora de os cidadãos recifenses exercerem o direito democrático que lhes foi garantido na Constituição de 1988, contribuindo, com o voto consciente, para mudar o cenário atual de violação cotidiana dos direitos e garantias individuais e coletivos. Eis o caminho para que se tenha, de fato, a concretização da sociedade idealizada pela Constituição. *Luisa Albuquerque é estudante do 3º Ano do Ensino Médio do Colégio Equipe

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O que esperamos para a cidade do Recife

*Por Débora Reis Violência. Poluição. Desigualdade social. Esses são aspectos que circundam a vida na capital pernambucana, que, apesar de toda sua beleza, história e rica cultura, parece ter sido abandonada pelas autoridades locais, já que segue por anos sem melhorias significativas. Sob essa perspectiva deficitária, a melhoria dos três aspectos citados inicialmente é o que se espera para um Recife melhor. Em primeira análise, é preciso atentar para a violência que deixa o cidadão recifense inseguro para sair nas ruas. De acordo com John Locke, todo homem possui direitos naturais, como o direito à vida, e é dever do Estado garanti-los. Contudo, no cenário atual da capital pernambucana, considerada a sétima capital mais violenta do país, segundo o IPEA, o direito à vida é ameaçado quando não é oferecida a devida segurança ao cidadão, que vive em uma cidade sem perspectiva de mudança, já descrente nas autoridades. O Recife precisa ser uma cidade que atenda e proteja os seus habitantes, oferecendo uma melhor qualidade de vida à medida que garante seus direitos e dá esperança de um bom futuro para o recifense. Ademais, poluição no Recife não é um problema atual. Já na década de 50 o poeta João Cabral de Melo Neto escreve “O cão sem plumas”, um poema que revela uma preocupação com o rio Capibaribe, um dos maiores símbolos da capital pernambucana, e o seu descuido. Trazendo para o cenário atual, a realidade se agrava ainda mais, com o rio completamente poluído, assim como as ruas da grande Recife. A poluição nas ruas da cidade degrada a imagem da capital e se apresenta como oportunidade para o desenvolvimento de focos de doenças, prejudicando, além de tudo, a saúde pública. No entanto, apenas o recolhimento mais assíduo desse lixo, junto com a reciclagem, não será suficiente para mudar essa imagem, de forma que é necessário que haja campanhas para um consumo consciente por parte dos cidadãos. Não adianta apenas querer remediar a situação, é preciso que as raízes do problema sejam o foco para combate. Convém, também, ressaltar que a desigualdade social é um dos maiores problemas que persistem na cidade do Recife. Segundo dados do IBGE, dos 1,6 milhão de habitantes que vivem na capital, 600 mil vivem abaixo da linha de pobreza, número gritante que resulta numa reação em cadeia para os mais diversos problemas enfrentados pelo Estado. É difícil esperar que uma população que vive com o mínimo para sobreviver consiga adotar medidas básicas de higiene para ajudar na luta contra o novo coronavírus, por exemplo, o que se transforma em um problema também de saúde pública. Nesse contexto, também é improvável que um aluno que viva nessa realidade consiga se adequar ao estudo online ou sequer ter material para estudar em casa, gerando mais uma barreira para o desenvolvimento da capital pernambucana. De acordo com Rousseau, a escola tem o poder de transformar um indivíduo em cidadão, mas a desigualdade social ocasiona uma precariedade no ensino público, fazendo com que menos cidadãos sejam formados e, assim, a esperança por um Recife melhor. As eleições de 2020 vêm para trazer esperança para os recifenses de que há, sim, a preocupação com o futuro da cidade e daqueles que ali habitam, de forma que a vida passe a ser prioridade e o bem-estar da população seja garantido, como é dever do governo. Além disso, o estímulo ao consumo consciente por parte da população através de campanhas do governo municipal pode ser um bom aliado no combate à poluição, sem deixar de lado uma limpeza mais eficaz e regular das ruas com a implantação de coletas seletivas e campanhas de reciclagem. Programas sociais que visem diminuir a desigualdade social também devem fazer parte da nova realidade da capital pernambucana, sem esquecer de investir mais nas escolas municipais, para garantir uma boa educação ao jovem recifense. Sendo a educação a base de tudo, sua priorização tende a melhorar os diversos problemas enfrentados na realidade do Recife. Débora Reis é aluna do 3º ano do Ensino Médio do Colégio Equipe

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Pesquisas no Recife: estabilidade e incertezas

Ao longo do mês de outubro deste ano foram publicadas 11 pesquisas de intenção de votos para prefeito da cidade do Recife, provenientes de cinco institutos: Ibope (3), Big Data (3), Opinião (2), Datafolha (2) e Ipespe (1). Os resultados estão expostos no Gráfico 1, abaixo, no qual se destacam a liderança de João Campos (PSB), candidato situacionista, durante todo o mês de outubro, e um bloco de três opositores, com intenções de voto relativamente próximas umas das outras: Marília Arraes (PT), um pouco à frente, Delegada Patrícia (Podemos) e Mendonça Filho (DEM). . . No Gráfico 1 já se pode observar certa acomodação recente nos números das pesquisas, tanto no que se refere à candidatura líder, quanto no que diz respeito ao conjunto dos demais concorrente, mas é oportuno separar as últimas cinco pesquisas do mês de outubro para enfatizar esse aspecto, o que é feito no Gráfico 2, a seguir: . . Pelo Gráfico 2, que desfila pesquisas mais atualizadas, fica claro que há estabilidade nas intenções de voto de João Campos. (não é possível afirmar se existe tendência de queda somente com base no resultado da última pesquisa, relativamente à trajetória anterior). A sua média de votos nos cinco levantamentos é de 31,0%, o que até o presente momento sinaliza ser o seu percentual-teto, até porque seu índice de rejeição tem sido invariavelmente o maior entre todos os postulantes. O registro mais marcante do Gráfico 2, todavia, é a linha reta exibindo a evolução de intenções de votos de Marília Arraes, que lidera o segundo pelotão. Tais manifestações de voto se mantêm invariantes nas cinco pesquisas, com percentual de 18%, prenunciando ser este percentual o teto de votos da candidata do PT. A delegada Patrícia, com média de 14,5% de intenções de voto, e Mendonça Filho, cuja média é de 13,5%, situam-se em terceiro e quarto lugares, respectivamente, aparentando flutuações numéricas que podem, eventualmente, caracterizar trajetória de queda. Em síntese, o candidato do governo está bem à frente dos demais postulantes e tem mantido essa distância ao longo do mês de outubro. Os contendores que lhe fazem oposição estão todos em um patamar de intenção de votos que se caracteriza como de empate técnico, tomando como base uma margem de erro de três pontos de percentagem. Segundo turno? Por conta da estabilidade dos números das últimas cinco pesquisas é cada vez mais forte a possibilidade de que haja segundo turno na eleição deste ano no Recife. O Gráfico 3, retratado a seguir, traz evidências dessa assertiva: . . Para que uma eleição possa terminar no primeiro turno é necessário que as intenções de voto da candidatura líder sejam maiores do que a soma das intenções de votos de todos os outros candidatos. As 11 pesquisas de outubro desfiladas no Gráfico 3 não exibem números que corroborem com esse requerimento. Pelo contrário, ao longo de todos os levantamentos a linha que compreende a soma das intenções de voto do grupo “outros” está sempre acima da que corresponde às preferências de voto por João Campos, representando uma diferença média de 20 pontos de percentagem, número que se mantém se apenas as cinco pesquisas mais recentes forem computadas. Dessa forma, o segundo turno se afigura inevitável. Síntese As pesquisas do mês de outubro para prefeito do Recife mostraram que: (a) há relativa estabilidade na trajetória recente nas intenções de voto declaradas às quatro postulações mais competitivas; (b) é praticamente certo que haja segundo turno e o candidato pessebista deve passar tranquilamente para essa etapa do pleito; (c) o grupo de postulantes abaixo da candidatura líder, com Marília Arraes ligeiramente à frente em intenções de voto, está empatado tecnicamente, ficando difícil, a essa altura, sem ulteriores elementos informativos, distinguir quem pode ascender ao segundo turno. Mais incertezas De algumas eleições para cá os pesquisadores se têm deparado com um fenômeno recorrente nas eleições brasileiras: a paulatina mudança de comportamento do eleitor que, cada vez mais, posterga sua decisão de voto para os dias finais dos pleitos, ás vezes até, para a hora de votar. De fato, como lidar com uma situação em que, por exemplo, 10%, 15%, 20% dos eleitores não declararam candidato no levantamento de véspera do pleito? Só se vai saber a destinação desses votos depois dos eleitores pressionarem a tecla “confirma” na urna eletrônica. Esse fenômeno é conhecido como “volatilidade do voto” e tudo leva a crer que estará presente mais uma vez na eleição deste ano no Recife. De fato, as pesquisas mais recentes na capital pernambucana (Ibope, Big Data e Opinião) apresentaram um percentual médio de indecisos gravitando no entorno de 26% na modalidade espontânea, fora a média de 15% de brancos e nulos. Números ainda altos, considerando que se está a poucos dias do pleito. A volatilidade do voto, portanto, deita mais incertezas sobre quem entre os candidatos concorrentes, embolados em empate técnico, fará companhia a João Campos no segundo turno. Os campos ideológicos A eleição do Recife neste ano tem sido rotulada como consistindo de dois blocos ideológicos de candidatos competitivos: um, de centro-esquerda, formado por João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT), e outro, de centro-direita, composto por Mendonça Filho (DEM) e a delegada Patrícia (Podemos). Registre-se, en passant, que os dois blocos são coesos apenas na sua identificação político-ideológica, existindo grandes desavenças internas entre os postulantes situados em cada campo. Como Marília Arraes vem há cinco pesquisas cravando a mesma intenção de votos (18%) e João campos se estabilizou no entorno de 31%, segue-se que não está havendo crescimento de votos no espectro centro-esquerda e nem migração de votos de uma candidatura para outra. Esse diapasão enseja dificuldades para a candidatura petista, já que ela só terá possibilidades de romper a barreira dos 18% garimpando votos fora do seu campo doutrinário. Avançar no bloco de centro-direita não é tarefa simples, já que o reduto é majoritariamente hostil às idéias e aos postulantes do bloco adversário (o sentimento é recíproco, partindo do centro-esquerda). Resta colher sufrágios no manancial que compreende os brancos,

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Do giz à internet: Tempos diferentes pedem ações diferentes

Neste mês comemora-se o Dia do Professor, data instituída para celebrar o decreto que criou o Ensino Elementar no Brasil em 1827. De lá para cá são quase 200 anos, um período longo e de intensas transformações no sistema escolar e na forma de se ensinar e aprender. Principalmente neste ano, atípico, onde precisamos nos reinventar e redefinir os papéis, seja do aluno, seja do professor. Pode soar entranho, mas mesmo nesse contexto, todos ganham, com mais interação, informação e possibilidades de aprendizado. Com a internet, o professor, figura central da escola, não perdeu sua importância. Muito pelo contrário, ele apenas a evidenciou, já que nesse período de pandemia ele precisou mudar suas metodologias para garantir que o ensino não fosse interrompido. Os professores têm sido, assim como os profissionais da saúde, heróis em seu campo de atuação, pois mesmo dentro de um Brasil de tantas realidades, têm conseguido driblar os desafios impostos e se reinventar, transferindo o ensino presencial para o ensino ao vivo pela internet. É muito provável que pós-pandemia a máxima de que “temos escolas do Século XIX com professores do Século XX para alunos do Século XXI” tenha que ser repensada, pois grande parte dos professores têm se mostrado aberto às mudanças impostas e, sem dúvida, darão um salto em suas carreiras. Assim como os novos ambientes de estudo precisarão ser reinventados, com mais tecnologia inserida no contexto presencial. Escuto muito sobre estarmos perdendo um ano letivo e que devemos o quanto antes voltar para as salas de aula para recuperar o tempo perdido. Tem uma verdade nisso, mas não podemos olhar apenas sob essa ótica. Não devemos enxergar o ano como perdido, mas, sim, com o quanto aprendemos durante esse período e o que faremos com isso de agora em diante. A tecnologia conseguiu personalizar a Educação, tornando o aluno o centro do processo de aprendizagem. Os novos recursos possibilitam aulas direcionadas, pois temos retornos precisos sobre cada clique e conteúdo acessado, além de ampliar o acesso à informação, unindo o que já de melhor nos dois mundos. A discussão em sala de aula vai retornar, mas agora temos em mãos ferramentas que antes não eram tão utilizadas e podem apoiar e otimizar o que será debatido em aula, além de possibilitar o desenvolvimento de mais atividades no ambiente virtual. Aulas por vídeo, debates, convidados, inclusive internacionais, podcasts, entre outras fontes de informação, agora permitem o professor acompanhar bem mais de perto o desempenho de seus alunos. A prova deixa de ser o único balizador do aprendizado. Essa nova metodologia, onde o professor ensina o aluno a aprender e aprende com ele ao ensinar, faz com que o professor deixe de ser o portador do conhecimento para se tornar o mediador do processo de aprendizagem. Cabe a ele e às Instituições de Ensino Superior ofertar aos alunos, enquanto seres em formação, os mecanismos pedagógicos e tecnológicos necessários para que eles se tornem protagonistas de sua própria história, reforçando, assim, a missão do professor na sociedade, de forma atualizada com a nova realidade. *Adriano Pistore, vice-presidente de Operações Presenciais da Estácio.

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As eleições municipais no Recife em um cenário atípico

Por *Gabriella Maria Lima Bezerra e **Pedro Gustavo de Sousa Silva As eleições municipais brasileiras de 2020 se apresentam em um cenário político atípico. O desdobramento das turbulências políticas dos últimos sete anos, para além da chegada de um outsider performático na cadeira presidencial, revela mais profundamente um realinhamento ideológico, com a conversão do país à direita e a intensificação do antipetismo - sentimento partidário negativo, que já data dos anos 90 (SAMUELS e ZUCCO, 2018). Entretanto, o resultado das urnas em 2018 não foi homogêneo: a região Nordeste se destacou pela sincronicidade no voto destoante, tanto para o Executivo Federal, como para os Estaduais. No tocante às capitais, como já indicam pesquisas recentes (NICOLAU, 2020), o enfrentamento entre petismo e antipetismo foi mais disputado, levando a uma diligente concentração e inquietude sobre os cenários locais em 2020. As perguntas sobre a permanência do sucesso do bolsonarismo e sobre sua (in)capacidade de penetrar a região nordestina foram uma constante nas análises políticas nacionais. Outro ponto de indagação foi a possibilidade de formação de frentes amplas pelos partidos de oposição no plano federal, entendendo os perigos que a democracia brasileira enfrenta. Contribuindo para o quadro excepcional, a regra de formação de coligação foi modificada para os cargos proporcionais, alterando as estratégias de disputa e o cálculo programático dos partidos políticos para os cargos majoritários, dificultando a construção de alianças. Para fechar o rol das atribulações, a pandemia da Covid-19 obrigou a mudança do calendário eleitoral e inovações logísticas de várias ordens na disputa política e nos formatos de campanha, em um ano de predominante isolamento social. Interferindo também na agenda pública, reorientando prioridades no desenho e no gasto da política pública. Adiante, buscamos analisar como a disputa municipal se desenrola diante deste cenário. As eleições para a Prefeitura do Recife deste ano contam com um total de onze postulantes, distribuídos em distintas faixas do espectro ideológico. As pesquisas apontam um cenário com quatro candidaturas competitivas, ou seja, aquelas com intenções de votos superior à casa dos dois dígitos. Duas candidaturas situadas mais à esquerda do espectro – João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) – e outras duas mais à direita – Mendonça Filho (DEM) e Delegada Patrícia (Podemos). As quatros candidaturas competitivas revelam um cenário de significativa renovação dos quadros políticos, pois apenas Mendonça Filho configura um quadro reincidente na política pernambucana. Tal renovação, contudo, merece algumas ressalvas. João Campos e Marília Arraes são provenientes de nomes marcantes da política local: como Eduardo Campos e Miguel Arraes. A delegada Patrícia é a estreante na cena eleitoral, trazendo em sua narrativa a figura da candidata outsider que irá combater os esquemas de corrupção entranhados no universo político. Mendonça Filho, por sua vez, se apega ao histórico de gestor experiente com mais de trinta anos de vida pública. João Campos e Marília Arraes, como são os mais jovens, se agarram a nomes conhecidos do imaginário político. A imagem de Eduardo Campos segue firme na estratégia de comunicação de João, ao passo que Lula aparece junto a Marília – os dois candidatos fazem menção a Miguel Arraes. Desde o pleito do ano 2000, PT e PSB encabeçaram as vitórias eleitorais em Recife. O PT encabeçou a chapa vitoriosa em três ocasiões (2000-2004-2008) e o PSB nas duas últimas (2012-2016). Na maior parte desse período, as duas siglas governaram juntas. Portanto, não será nenhuma surpresa se estiverem compondo o mesmo governo no próximo ano. O candidato João Campos conta com o apoio da máquina pública no âmbito municipal e estadual (ambos do PSB). Carrega também a bagagem de ser o deputado federal mais votado da história de Pernambuco, superando a marca que antes pertencia a avó Ana Arraes. João Campos consolida a liderança nas pesquisas do pleito de 2020 a cada semana, enquanto os outros três se embaralham na disputa pelo o segundo lugar. Apesar do cenário mais favorável para o PSB, a corrida eleitoral ainda permanece em aberto dado o intervalo de tempo até o dia da votação. Eventos inesperados com a capacidade de provocar reviravoltas no jogo não podem ser descartados. Por ora, o resultado das pesquisas aponta para o êxito do projeto de continuidade administrativa da ampla coligação eleitoral em torno do nome de João Campos. É o herdeiro de Eduardo Campos quem vem ditando o ritmo do passinho nas eleições do Recife, enquanto os candidatos vinculados ao petismo e ao bolsonarismo buscam desacelerar a movimentação e quem sabe, no segundo turno, ditar outra cadência. . Gabriella Maria Lima Bezerra é doutora em Ciência Política pela UFRGS, professora do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal Rural de Pernambuco - DECISO/UFRPE, Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia -LEPEM/UFC e colunista de opinião do Jornal O Povo. E-mail: gabriella.bezerra@ufrpe.br Pedro Gustavo de Sousa Silva é doutor em Ciência Política pela UFPE e participa do grupo de pesquisa Partidos, Eleições e Comportamento Político também da UFPE. E-mail: pgustavoss86@gmail.com . Referências LOPES, M.; PAIVA, G.; BEZERRA, G. “2018, a batalha final”: Lava Jato e Bolsonaro numa campanha anticorrupção e antissistema. Civitas: Revista De Ciências Sociais, out, 2020 (no prelo). MARENCO, A. Regras eleitorais importam? Modelos de listas eleitorais e seus efeitos sobre a competição partidária e o desempenho institucional. Dados, v. 49, n. 4, p. 721-749, 2006. NICOLAU, J. O Brasil dobrou à direita: Uma radiografia da eleição de Bolsonaro em 2018. Zahar, 2020. PERES, P.; BEZERRA, G. Oposição Parlamentar: conceitos e funções. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, n. 110, p. 247-298, 2020. SAMUELS, D.; ZUCCO, C. Partisans, antipartisans, and nonpartisans: Voting behavior in Brazil. Cambridge University Press, 2018.  

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O Marco Legal do Saneamento e o crime persistente dos lixões

Por Carolina Buarque O Marco Legal do Saneamento Básico, tão falado ultimamente, é uma atualização e modernização da Lei 14.026, de julho de 2020, que confere atribuições à Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) para editar normas de regulação para o setor e, principalmente, introduzir novos conceitos à prestação de serviços de saneamento básico. O mecanismo altera os prazos para a disposição final e ambientalmente adequada dos rejeitos, fixados pela Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída pela Lei nº 12.305, de 2010. Embora com bastante foco nos serviços de água e esgoto, o novo marco legal tem vários assuntos também aplicáveis aos serviços de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos. O instrumento altera, por exemplo, a sistemática para aquele material para o qual não existe nenhuma possibilidade de reaproveitamento ou reciclagem, tratando também da eliminação dos lixões, as velhas e conhecidas áreas de disposição final de resíduos a céu aberto, sem qualquer planejamento ou medidas de proteção ao meio ambiente e à saúde pública. As medidas deverão ser implantadas até o final deste ano, em 31 de dezembro, com este limite só podendo ser dilatado e escalonado caso os municípios elaborem um Plano de Gestão Integrada de Resíduos (PGIRS) e disponham de mecanismos de cobrança que garantam a sua sustentabilidade econômico-financeira até esta data. Pelas novas regras, as cidades que possuírem o PGIRS e instituíram taxas ou tarifas, de rubrica específica para este fim, a ser cobrada como uma verba carimbada, deverão se ajustar a prazos distintos para a devida erradicação dos lixões. A promessa de um ponto final para o grave problema assinala o seguinte calendário: as Capitais e Regiões Metropolitanas deverão cumpri-lo até o mês de agosto de 2021; as cidades com mais de 100 mil habitantes, até agosto de 2022; aquelas com população entre 50 mil e 100 mil cidadãos, até agosto de 2023; e, por fim, os municípios com número inferior a 50 mil pessoas terão como limite o mês de agosto de 2024. É importante ressaltar que operação de lixão a céu aberto é crime ambiental, há décadas, e os prazos estipulados não conferem autorização para a prática de tais atos. O tempo determinado é para a adoção das medidas necessárias à disposição final apenas de rejeitos, o que pressupõe a realização de ações direcionadas à reutilização, reciclagem e valorização dos resíduos sólidos. É preciso consciência e ações efetivas não apenas dos gestores públicos, mas de todas as camadas da sociedade. Carolina Buarque é engenheira ambiental e diretora da Locar Gestão de Resíduos

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