Claudia Santos, Autor Em Revista Algomais - A Revista De Pernambuco - Página 100 De 141

Claudia Santos

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6 mercados públicos do Recife de antigamente

Os mercados públicos contam bastante da história e da cultura gastronômica das cidades. Não por acaso são alvo de visitação de muitos turistas pelo País e pelo mundo (embora no Recife muitos estejam em estado degradado de conservação). Nosso olhar da memória da cidade de hoje traz uma seleta coleção de seis mercados do Recife. Passamos desde o histórico Mercado de São José - inaugurado em 7 de setembro de 1875 e ainda em funcionamento no centro do Recife - até o extinto Mercado do Derby (inaugurado em 1899 por Delmiro Gouveia e incendiado em 1900, "destruído por um incêndio, causado por uma ação da polícia", segundo artigo de Lúcia Gaspar, da Fundaj). De acordo com a historiadora Isabel Cristina Martins Guillen: "No início do século XX o Mercado de São José enfrentou uma dura concorrência, a imposta por Delmiro Gouveia quando criou seu mercado no Derby. Além de se apresentar como um centro de divertimento, o Derby foi organizado como um grande centro de venda de artigos diversos, vendendo principalmente gêneros alimentícios a preços menores do que os praticados em São José. Mas o incêndio do Derby eliminou o poderoso concorrente". Na seleção, que faz parte do Acervo da Fundaj, estão os mercado de Afogados, Encruzilhada, Madalena e Santo Amaro. 1. Mercado de São José 2. Mercado do Derby (Mercado Coelho Cintra) 3. Mercado da Encruzilhada (1941) 4. Mercado da Madalena 5. Mercado de Santo Amaro (a descrição da imagem indica que é na Av. Cruz Cabugá) 6. Mercado de Afogados (1940) VEJA TAMBÉM: 9 pontes do Recife no século passado 7 imagens para voltar ao tempo dos bondes no Recife

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O milho é o vilão da cerveja? (por Rivaldo Neto)

A mudança de hábito dos consumidores em relação ao mercado de cervejas é algo que estamos vivenciando no nosso dia a dia. Há alguns anos o nosso mercado nacional era extremamente restrito e as variações de marcas quase não existiam. Por muitos anos as marcas mais populares eram a Antactica e a Brahma. Depois da fusão das cervejarias e o surgimento de outros rótulos encabeçados pela gigante AMBEV deram um novo impulso ao cenário nacional. Marcas como Schincariol e Itaipava, só para citar algumas, também tinham uma fatia fiel do mercado em algumas classes de consumidores. Hoje com o mercado aquecido pelas cervejarias artesanais e caseiras e a entrada cada vez maior de rótulos importados, o consumidor passou a se informar mais sobre os insumos na produção de nossas cervejas e cereais como milho e arroz estão na maioria de suas receitas. O termo “Cereais não Maltados” dão um frio na barriga dos cervejeiros de plantão. Segundo a lei de pureza alemã a cerveja é composta por água, malte, lúpulo e levedura. Mas assim como a cevada, o milho e o arroz são responsáveis como fonte de açúcar na produção da cerveja na fase da mostura, que é o cozimento dos grãos.   A legislação brasileira deu o aval para inclusão de outros componentes no processo de produção das cervejas, com isso uma pesquisa recente feita pala USP aponta que as grandes cervejarias brasileiras usam 45% de milho em suas fórmulas em vez da cevada (malte). O limite é de 50%. Para ser considerada premium, uma cerveja deve conter a quantidade máxima de 25% de cereais não maltados. Mas o porque da inclusão destes outros cereais? O motivo disso é um só, o custo. O milho gira em torno de 30% mais barato que a cevada, sendo assim as grandes cervejarias optaram em baratear esses custos. Entre milho e a cevada nutricionistas afirmam que ambas trazem benefícios. A sensação de “estufamento” não necessariamente é motivado pelos cereais, pode ser também relacionada ao processo de fermentação. Muito mestres cervejeiros de grandes companhias afirmam que o milho dá leveza a cerveja, e que o consumidor brasileiro prefere cervejas leves. Mas isso está mudando, mesmo que sutilmente. Hoje muitas pessoas preferem investir numa cerveja mais elaborada (obviamente mais cara) que em uma mais barata. O popular “bebe-se menos, mas melhor”. O sabor começa a ser o carro chefe na escolha da bebida. Não que as cervejas com milho sejam ruins, longe disso , já bebi e logicamente beberei em algumas ocasiões. Recentemente experimentei uma cerveja da cervejaria mineira Wäls a Wäls Hop Corn, que faz justamente uma brincadeira com esse debate. Trata-se de uma IPA com milho e três tipos de lúpulo (Columbus, Cascade e Amarillo) e que realmente ficou excelente. Mas prefiro escolher rótulos com mais insumos de qualidade em suas fórmulas. Isso porque eu como consumidor e amante de boas cervejas, prefiro priorizar o sabor e um processo de produção mais elaborado. Isso é o uma opção mais pessoal, que pode não ser a da maioria dos consumidores que achem que isso não afeta o produto final. O importante é beber a cerveja que você gosta. *Rivaldo Neto é designer e apreciador de boas cervejas (neto@revistaalgomais.com.br)

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Final de semana da melhor idade

A empresa Viva la Vida promove de de 15 a 17 deste mês o evento Final de Semana da Melhor Idade, em parceria com o Hotel Canariu's, em Gravatá. Serão realizadas palestras abordando os temas "Envelhecer com Qualidade de Vida", proferida pelo médico geriatra Marcelo Cabral e "Cuidados com Alimentação na terceira idade", com a nutricionista Luisiana Lamour. A Viva la Vida desenvolve atividades de entretenimento, socialização, informação e cultura voltadas para esse público. Mais informações e inscrições pordem ser realizadas pelo telefone 3037-0744 ou pelo e-mail atendimento@vivalavidarecife.com.br.

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Salvemos o sombreado do Espinheiro (por Francisco Cunha)

Tive a sorte de, embora não tendo nascido no Bairro do Espinheiro, tê-lo frequentado diariamente praticamente durante toda a minha vida, desde os três anos de idade. Morei, estudei e trabalho lá até hoje. E durante esse tempo pude testemunhar muitas mudanças. De todas, a que mais me incomoda e entristece é a sua contínua, perseverante e, até agora, irreversível, desarborização. Surgido na segunda metade do Século 19 em torno do Beco do Espinheiro (atual Rua), uma conexão entre eixos pioneiros de transporte ferroviário urbano no Recife: a Avenida João de Barros (por onde trafegava a maxambomba que ia para a Encruzilhada e, de lá, para Olinda e Beberibe); e a Avenida Rosa e Silva e Estrada do Arraial, por onde trafegava a maxambomba que ia até Casa Amarela. O Beco do Espinheiro margeava a “Matinha” (onde havia muitos “espinheiros”) e, mais do que os eixos, ligava os locais das conexões ferroviárias da Encruzilhada e da hoje Praça do Entroncamento (onde se encontravam as linhas de maxambomba que iam para Casa Amarela, Apipucos/Dois Irmãos e Caxangá). O bairro, no início do Século 20, foi arborizado com os famosos oitizeiros que, ao longo do tempo deu-lhe uma configuração toda especial, transformando as ruas em verdadeiros “túneis verdes”, com sombra farta e alguns graus a menos de temperatura em comparação com as áreas não arborizadas da cidade. Com a progressiva mudança, ao longo das últimas décadas, do uso do solo do Espinheiro (de predominantemente residencial unifamiliar para comercial e residencial multifamiliar em edifícios de apartamentos construídos em mais de um lote original), verifica-se uma ação sistemática de erradicação sem substituição dos oitizeiros e o consequente desmantelamento do efeito “túnel verde”, com abertura de “clareiras”, aumento da incidência solar e da temperatura média. Em suma, o espírito sombreado construído ao longo de um século inteiro está sendo progressiva e aceleradamente destruído. Não podemos deixar que isso aconteça! A perda sistemática da arborização secular de um bairro significa o empobrecimento ambiental irremediável de uma cidade inteira. Precisamos salvar o sombreado do Espinheiro porque, assim, estaremos ajudando a preservar a integridade verde da cidade tropical, castigada pelo sol a pino de sua condição quase equatorial. Sem árvores na rua não há sombra pública e, sem ela, não é possível caminhar de dia no Recife!

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O contrário do feminismo é a falta de coragem (por Beatriz Braga)

*Por Beatriz Braga A escritora nigeriana Chimamanda Adichie decidiu, ao perceber o peso do rótulo “feminista”, ironicamente se intitular “feminista feliz e africana que não odeia homens, e que gosta de usar batom e salto alto para si mesma e não para os homens”. Já a autora americana Roxane Gay foi mais concisa. Se autodeclarou “má feminista” e tem um livro com esse nome. Vivemos em um mundo que nos enxerga como potes de margarina. Amamos rotular e definir categorias para que possamos nos agrupar. Mas somos ruins nesse ofício. A começar por presumirmos que a humanidade inteira se encaixa em duas classificações: homem e mulher. Outro fato é que as pessoas enxergam “machista” como o contrário de “feminista”. Vejo mulheres recusando a alcunha e homens assumindo o machismo porque ou se é um ou se é o outro. Com essa polarização, muita gente perde a chance de desconstruir padrões. Feminismo é a luta pela igualdade e quebra da hierarquização dos sexos. O oposto do machismo é o femismo, ambos acreditam na superioridade do respectivo gênero. Antes, o rótulo “feminista” me incomodava. Não me julgava digna como as mulheres que queimaram sutiãs, como Dandara que lutou pelo seu povo, como Simone, Betty, Virginia, Mary Wollstonecraft. Quem sou para me apropriar do título? Logo eu que, volta e meia, me descubro machista em pequenas situações. Até que entendi o que Gay quis dizer com “má feminista”. Ela quer chamar atenção para os pedestais que colocamos nossos ídolos. Aderir à luta não significa não falhar. A escritora tem uma lista de contradições, de ouvir funk depreciativo à acreditar em contos de fada. O importante, diz ela, é se esforçar para fazermos boas escolhas. Podemos continuar ouvindo Naiara Azevedo, cantora brasileira que afirmou que o homem é a cabeça e a mulher é o pescoço. Ou podemos valorizar os artistas que acreditam na igualdade. A indústria se transforma quando o mercado consumidor exige. As músicas legais e pegajosas continuarão a existir mas, quem sabe, com rimas melhores. Se você realmente acredita na equidade, você é quase um(a) feminista. Mais do que acreditar, é preciso agir. E não entenda “agir” como “ir a uma reunião de mulheres tatuadas com pelos no sovaco” como ouvi de um homem. Entenda como se importar menos com estereótipos e fazer parte da mudança. Feministas não são só mulheres que aceitaram seus pelos. São elas e também existem as que usam salto, amam rosa, gostam de sertanejo, as que trabalham fora e as que escolheram ficar em casa e cuidar dos filhos. São as que acreditam na liberdade de ser o que quiserem. Podem também ser homens que têm coragem para, por exemplo, em um grupo de amigos, contestar a piadinha e o desrespeito. Eu sou feminista e sei que parte disso é lutar contra o machismo que ainda me habita e que me cerca. Sou membra da corrente invisível que une àquelas mulheres incríveis ao papel que tomei para mim: focar nas pequenas atitudes em todos os níveis do meu dia a dia. O contrário do feminismo é a falta de coragem. Para ir contra o status quo; “estragar” um jantar a dois ou falar sério em uma mesa de bar; quebrar silêncios e preconceitos; denunciar; ensinar; agir; constranger; ser repetitiva e, mais importante, ter coragem para assumir as próprias contradições e lutar incansavelmente contra elas. Um dia, quem sabe, aconteça a todxs o que aconteceu com Gay. “Estou tentando ser melhor na maneira como penso, e no que digo e faço, sem abandonar tudo que faz de mim um ser humano”, disse a autora na palestra “Confissões de ser uma feminista ruim”. *Beatriz Braga é jornalista e empresária (biabbraga@gmail.com). Ela escreve semanalmente a coluna Maria pensa assim para o site da Revista Algomais

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Transformação digital: 6 modelos de negócios mais adotados (por Bruno Queiroz)

A transformação digital vem mudando os mercados com muita velocidade, mas nem sempre é fácil entender como funciona na prática. Para facilitar esse entendimento, preparamos um guia dos modelos de negócios mais usados atualmente no mundo digital: 1. Grátis - Como o próprio nome diz, o cliente não precisa pagar. Contudo, as informações pessoais dos usuários servem de base para a oferta de anúncios publicitários. É o modelo mais usado na internet atualmente. É o preferido dos buscadores (Google) e das redes sociais (Facebook, Instagram). 2. Assinatura - O modelo oferece produtos e serviços por meio de um pagamento mensal. Normalmente, possui diversos tipos de planos que vão dando acesso às funcionalidades avançadas. A tendência é que esse seja o modelo de maior crescimento por ser bastante lucrativo. Serviços de streaming de vídeo (Netflix) são os que mais usam a assinatura. 3. Freemium - É a união do modelo grátis com o modelo de assinatura. Funcionalidades básicas são oferecidas gratuitamente. Funcionalidades avançadas são cobradas. Esse modelo permite receita com assinatura mensal, venda de dados e de publicidade. É usado, por exemplo, pelos serviços de áudio (Spotify) e compartilhamento de arquivos (iCloud). 4. Demanda - Só paga quando usa. Operado da maneira correta, é um dos modelos mais disruptivos, por entregar normalmente um serviço inovador por um preço baixo. É também um dos que oferecem maior risco, devido à imprevisibilidade entre demanda e oferta. O Uber é a empresa que tornou esse modelo mais conhecido. 5. Marketplace - É uma plataforma que serve como vitrine e estabelece um contato direto entre vendedores e compradores, facilitando as transações e lucrando por meio de comissões em cada venda. O Mercado Livre é a empresa que mais simboliza esse tipo de modelo, que vem sendo adotado também por lojas de e-commerce, como Americanas.com. 6. Compartilhamento - Nesse modelo, uma parte oferece algo de sua propriedade durante tempo limitado à outra parte, que também é conhecida como economia compartilhada. O Airbnb, que permite o aluguel de quartos em casas e apartamentos, é a empresa símbolo desse modelo. Atualmente, é o mais novo e mais inovador dos modelos. 7. Ecossistema - Normalmente, é caracterizado por um sistema principal, que possui vários outros pequenos sistemas, como os aplicativos. Este é o modelo usado pelo Google, pela Microsoft e pela Apple, que criaram uma grande variedade de produtos e serviços interligados à sua rede, como o Android, o Windows e o IOS. É o mais antigo dos modelos e continua sendo muito lucrativo, mas também muito criticado por gerar uma “dependência” nos seus usuários.

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O dono da história (por Joca Souza Leão)

O dono da história é o contador da história. E o chato é o sujeito que interrompe o contador pra corrigir a história: “Não foi assim não. Nem foi com fulano, foi com beltrano.” Alguns não se contêm e dizem, até, “eu tava lá”. É de lascar! Além de chato, mentiroso. E mentiroso no mal, aliás, no pior dos sentidos, porque mentiroso no bom sentido é o contador de história que mente sem prejudicar ninguém, sem atrapalhar a história dos outros nem tirar vantagem alguma, além da admiração de todos pela sua narrativa. Mentira do bem só tempera e torna engraçada ou dramática história que era insossa, sem graça ou sem drama algum. Toda cidadezinha do interior tinha (e algumas ainda devem ter, acho) as figuras oficiais, consagradas e reconhecidas por todos pelos seus feitos ou desfeitos, mandos ou desmandos: o doido, o bêbado, o carola, o herege, o profeta, o erudito, o filósofo, o vagabundo, o corno, o brabo, o valente, o frouxo, o ricão, o riquinho, o generoso, o vilão, o pedinte, o orador, o poeta, o mentiroso, o chato, o galã, a virgem, a viúva, o cantador e o contador de histórias. Em Taperoá, sertão da Paraíba, terra de Ariano Suassuna, não ia ser diferente. Tinha de tudo. E o que não tinha, Ariano inventava. Ou aumentava. Chicó, mesmo, que ficou famoso como personagem do Auto da Compadecida, existiu de verdade. Certa vez, quando Chicó, o de verdade, não o personagem, contou uma de suas histórias e finalizou, como sempre, com o “não sei, só sei que foi assim”, o chato oficial de Taperoá irrompeu da pequena plateia: “E eu só sei é que essa história não foi assim.” E tentou contar a sua versão. Chicó foi implacável. “Vocês preferem as minhas mentiras ou as histórias sem graça desse sujeito sem nenhuma imaginação?” Chicó foi aplaudido e o chato vaiado. Certa vez, mal me comparando a Chicó (e bota má comparação nisso), eu ia contar uma história quando fui interrompido antes mesmo de começar, ainda na introdução. Quando disse que o Coronel Chico Heráclio tinha comprado a patente de coronel da Guarda Nacional, um dos ouvintes empeiticou: “Conheci o homem. E não é verdade. A patente de coronel não foi comprada coisa nenhuma. Foi conferida pelo povo de Limoeiro, em sinal de respeito.” Alguma dúvida? Com a interrupção, minha história foi pro beleléu. E me obrigou a apelar pra única coisa que não se requer de um contador de história: a verdade verdadeira. “Senhor, na realidade, Chico Heráclio comprou sua patente de coronel por 90 contos de réis em 1920. Tá tudo na biografia dele, escrita por Reginaldo Heráclio.” O fato verdadeiro, porém, é que minha história morreu de morte matada naquela noite, assassinada por um chato contumaz. Mas você, leitora, leitor, não merece o triunfo fugaz de um chato que interrompe histórias. Portanto, ei-la aqui: Certa feita, apareceu por Limoeiro um camarada inteligente e bom de gogó que se elegeu vereador sem o apoio do Coronel Chico Heráclio. Na eleição seguinte, o nome dele nem apareceu na lista de candidatos. – Esse aí era muito precoce. – Precoce como, Coronel? – Vereador com burrice de senador.

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Judeus do Recife em Nova York (por Leonardo Dantas Silva)

No mês de setembro, os judeus de Nova York estarão comemorando 363 anos da chegada dos primeiros 23 à ilha de Manhattan, que, saídos do Recife após a rendição dos holandeses em janeiro de 1654, vieram estabelecer a primeira comunidade judaica da América do Norte. A saga desse grupo originário da atual Rua do Bom Jesus, no Recife, foi descrita na época pelo rabino de Amsterdã, Saul Levi Mortera, pouco antes do seu falecimento em 1660, no manuscrito intitulado Providencia de Dios con Israel. Conta ele que judeus do Recife, passageiros do navio Valk, que empreendiam viagem com destino ao porto de Amsterdã, tiveram o seu barco tomado por espanhóis que ameaçavam de os entregar à Inquisição. Na Jamaica, porém, foram esses judeus libertados pelos franceses e, com eles, rumaram em direção à Nova Amsterdã a bordo do barco Sainte Catherine. Desse grupo de refugiados, 23 judeus, entre homens, mulheres e crianças, chegaram ao porto da Nova Amsterdã em setembro de 1654, estabelecendo assim a primeira comunidade judaica daquela que veio a ser a cidade de Nova Iorque. No Brasil Holandês (1630-1654), a comunidade de emigrantes judeus de Portugal floresceu, fundando a primeira sinagoga das Américas, a Kahal Kadosh Tzur Israel (Comunidade Rochedo de Israel), na atual Rua do Bom Jesus, em 1636. A 26 de Janeiro de 1654 as tropas portuguesas reconquistam o Recife com um ataque de proporções épicas, comandadas pelo general português Francisco Barreto de Menezes – que a partir de então ficaria conhecido como “o Restaurador de Pernambuco” –, pondo fim ao domínio holandês naquela região do Brasil. Nos termos da rendição, assinados na Campina do Taborda, local hoje ocupado pelo Bairro de São José, os vitoriosos são generosos para com os derrotados, dando aos holandeses um prazo de três meses (que seria prorrogado por mais três) para se retirarem do território recém conquistado, período durante o qual, segundo os mesmos termos, “anão serão molestados ou vexados e serão tratados com respeito e cortesia.” Segundo fonte judaica: “Surpreendentemente, o general Barreto de Menezes mostra uma tolerância muito pouco habitual ao permitir igualmente (ajudando até) a saída dos judeus portugueses, apesar destes terem passado a ficar sob a alçada da Inquisição, o que lhe teria à partida vedada qualquer possibilidade de clemência. A lei exigia a deportação imediata dos judeus para Portugal”. Acrescentando na narrativa: “Corsários, piratas e a intolerância religiosa ibérica tornariam ainda mais complicada a já difícil viagem de alguns desses judeus. Em Amsterdã, o rabino português Saul Levi Mortera – professor de Baruch Spinoza e mais tarde seu “excomungador” – deu conta dos percalços sofridos por uma destas embarcações no livro acima citado, um manuscrito não publicado do qual apenas restam seis cópias: “O navio foi capturado pelos espanhóis, que queriam entregar os pobres judeus à Inquisição. Ainda assim, antes de poderem cumprir os seus ímpios desígnios, o Senhor fez aparecer um navio francês que libertou os judeus dos espanhóis, levando-os depois para África, posto o que chegaram salvos e em paz à Holanda.” Um outro navio, atacado por piratas ao largo do cabo de Santo António, em Cuba, seria também resgatado por um barco francês – o Sainte Catherine, comandado pelo capitão Jacques de la Motthe. A 7 de Setembro de 1654, com 23 judeus portugueses a bordo, o Sainte Catherine aporta a Nieuw Amsterdam, na ilha holandesa de Manhattan, a cidade que mais tarde passaria a ser conhecida como Nova Iorque. Dessas 23 – homens, mulheres e crianças – sabe-se hoje muito pouco. São seis famílias, encabeçadas por quatro homens e duas viúvas. Só os seus nomes são mencionados nos registos oficiais. Mesmo assim é fácil adivinhar-lhes a proveniência: Abraão Israel Dias, Moisés Lumbroso, David Israel Faro, Asher Levy, Enrica Nunes e Judite Mercado. Entre esses adultos, foram identificados três homens citados no relatório da cidade como pessoas que assinaram o livro de atas da Congregação Zur Israel do Recife, no ano de 1648: Abraham Israel, David Israel e Mose Lumbroso. Em 1664, Nieuw Amsterdam passa para a coroa britânica e muda seu nome para New York. “Por volta de 1695, apesar de algumas restrições, os judeus tinham a sua primeira sinagoga improvisada, e a 8 de Abril de 1730 era dedicada a primeira sinagoga de raiz da comunidade que, logo à chegada, em 1654, escolhera o nome de Shearith Israel (Remanescente de Israel). Até ao final do século 19 tiveram duas línguas “sagradas”, ditadas pelos genes, pela fé e pelo apelo da memória: Faziam-se as orações em hebraico. Em português escreviam-se os documentos”. *Leonardo Dantas Silva é jornalista e assina a coluna Arruando por Pernambuco

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Marechal de Costas (por Paulo Caldas)

Ocultar é preciso. Ancorado na máxima da técnica literária “não revele; mostre”, entre outros tantos recursos que levam ao bem escrever, José Luiz Passos, pernambucano, professor de Literatura Brasileira e Portuguesa na Universidade da Califórnia, em Los Angeles, que já concebera o elogiado Sonâmbulo Amador - vencedor do prêmio Bienal do Livro de Brasília e o cobiçado Portugal Telecom de literatura, além do Romance com Pessoas, sobre a dimensão moral dos personagens de Machado de Assis, trouxe à luz, no ano passado, Marechal de Costas (Alfaguara). No universo das palavras, no qual gravita com absoluta autoridade, José Luiz Passos revela com sutil descrição o perfil do protagonista Marechal Floriano Peixoto, a partir do trecho que escreve: “ele fecha os olhos e respirando a página, em seguida põe o livro sobre a cama”, aqui o gestual do protagonista na cena permite ao leitor intuir que Floriano também amava os livros. No mesmo trecho, o autor destaca a movimentação do personagem na cena diante de um cenário natural focado como se fosse por uma câmera com ângulo aberto e aos poucos fecha, com vagar, a lente nos detalhes certificadores presentes no cenário interno. Aí, faz a uso da destreza ao somar a luz do mundo exterior refletir a do lampião posto sobre a mesa “a luz arroxeada que se mistura o brilho do lampião em cima da mesinha cabeceira onde estão sua escova de pelos para farda, no estojo de lata, com a tesoura e navalha, a lupa e um abridor de cartas, uma caneta tinteiro, um feixe de lápis atados com a fita vermelha. Floriano embrulha cada um desses objetos numa peça de roupa e coloca uma por uma dentro da maleta aberta em cima da cama”, mostra um jovem metódico e disciplinado. Além do protagonista, construído literalmente com fidelidade, dois personagens merecem citação: um tal Napoleão que faz às vezes de tutor do menino Floriano cujo perfil autoritário, afeito a citações de eminências evocadas no campo da filosofia, como uma espécie de sargentão intelectualizado, e a menina Josina. O envolvimento de Floriano com sua meia irmã, Josina, começa com ela ainda criança. Aos sete anos de idade chamava Floriano de Floreão (flor dente-de-leão), com brincadeiras, incursões ao pé de castanhola, escondidos dos olhos do tio e tutor, Vieira Peixoto ou lendo as páginas do mesmo livro. Com ela casaria, não obstante a diferença de idade teriam filhos, chegariam à velhice. Em dado momento, longe dela, tratando da saúde, lhe escreve: “Sinhá... O que tenho passado na sua ausência, já de oito dias, só eu sei e é Deus que assim manda... tem tido umas saudades, uma tristeza tão grande por aqui, só, isolado, sem poder trocar palavras, que e ainda vivo por misericórdia de Deus. Saudades da mulher e dos filhos. José, Flor e a caboclinha Anunciada. A benção aos meus filhos. Adeus, minha mulher. Sou sempre seu marido inválido. Floriano”. Do afeto aos rancores - O conteúdo do livro perpassa duas fases marcantes da nossa história, tendo como fio condutor a narrativa de uma cozinheira supostamente aparentada de Floriano que, nos dias de hoje, 2013, testemunha o impeachment da então presidente Dilma Rousseff. O Marechal de Costas é um belo livro, essencial para se ler e guardar.

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Passo a passo do bom consumo de cervejas (por Rivaldo Neto)

Tomar cerveja é uma das coisas mais prazerosas para os amantes da bebida alcóolica mais consumida no mundo. Mas para aproveitar tudo que ela tem a oferecer temos que ter alguns simples cuidados e um passo a passo básico (que é até divertido). Primeiramente não tenha receio de experimentar as mais variadas formas e estilos da bebida. A pouco tempo tínhamos uma variedade pequena e restrita. Que se resumia a algumas cervejas escuras e uma infinidade de Pilsens. Já vi algumas situações inusitadas acontecerem. Pessoas que afirmavam que não gostavam muito de cerveja, simplesmente mudarem de conceito. Justamente devido a restrição que citei acima. Consumidores que ao experimentar, por exemplo, uma IPA, mudar totalmente de opinião. Ou até uma Stout com aquele aroma de café. Depois de escolher um estilo em que o seu paladar se agrade mais, um dos itens mais importantes é o copo ou taça que se será usado. Faz toda diferença, posso garantir. Os copos e as taças foram pensados, e seus formatos tem um significado. Eles vão dar a sustentação sensorial para que a bebida tenha seu acondicionamento adequado para ser consumida. Observe bem a espuma. Ela diz muito sobre o estado da cerveja que você está consumindo. Veja se ela está homogênea. Saiba que a espuma é formada por componentes do lúpulo, proteínas e açúcares. Ela dá à bebida um aroma especial. A espuma ajuda ainda a manter a temperatura do líquido no copo e também a evitar o contato do chopp ou cerveja com o ar, minimizando a sua oxidação, que leva à formação de aromas indesejáveis. Não esqueça da temperatura. Isso também é imprescindível. Entenda também que quanto mais gelada a cerveja for bebida, menos sabor você irá sentir, pois a papilas estarão anestesiadas. Algumas regras mais básicas podem ajudar. Cervejas de baixa fermentação, como por exemplo as Lagers mais claras, devem ser consumidas em torno de O° a 4°C. As cervejas Weiss ou fruit beers entre 5° e 7°C. Entre 8° e 12°C para as Lagers Escuras, Pale Ale, Amber Ale, cervejas de trigo escuras, Porter, Helles, Vienna, Tripel e Bock tradicional. Esses pequenos cuidados vão fazer com que você tenha uma experiência das mais gratificantes e satisfatórias. No mundo das cervejas a regra principal é sempre ousar. Viajar nos sabores nunca será demais. MUNDO CERVEJEIRO A Cervejaria Pratinha, com sede em Ribeirão Preto (SP), lançou um aplicativo no qual os consumidores podem modificar as receitas das cervejas da marca. Chamado BeerHackApp, é mais uma ação que sustenta o conceito de evolução e experimentação constantes da cervejaria. A ideia por trás do slogan Beer ReExperienced é promover a busca praticamente infinita pelos melhores sabores. Para isso, a cervejaria mantém um laboratório de ideias em frente a fábrica e agora, afim de gerar colaboração em massa junto aos seus consumidores, traz o aplicativo gratuito. Seu funcionamento é simples. Depois de se cadastrar com login e senha, o usuário poderá alterar, de acordo com suas preferências, o teor alcoólico, o IBU (amargor) e a coloração da cerveja (baseada na quantidade de malte). Após finalizar suas escolhas, ele poderá ver sua cerveja na tela e deverá enviar os dados pelo próprio aplicativo. Ao final de um determinado período, a Pratinha fará uma média dos valores escolhidos pelos consumidores, fabricará a cerveja e avisará todas as pessoas que ajudaram a “produzi-la” de que ela estará à venda em edição limitada. “É um projeto inédito no país e desconheço que haja algo semelhante no mundo. Dessa forma, interagimos com nossos consumidores e passamos a conhecer melhor seus gostos e preferências, além de provar na prática nossa vocação para aperfeiçoar as receitas”, comenta o diretor da Pratinha, José Virgilio Braghetto. Os parâmetros de teor alcoólico, IBU e coloração que os consumidores poderão escolher estão dentro dos limites mínimos e máximos estipulados para cada tipo de cerveja de acordo com os parâmetros definidos pelo BJCP (Beer Judge Certification Program). *Rivaldo Neto é designer e apreciador de boas cervejas (neto@revistaalgomais.com.br)

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