Rafael Dantas - Página: 416 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Rafael Dantas

Rafael Dantas

Comida de matriz africana em Casa-Grande & Senzala

Na busca de uma “unidade” na formação colonial marcada pela cana sacarina no Nordeste, Gilberto recorre às bases étnicas, mantendo o pensamento dominante à época ( anos 1930) sobre a trilogia: europeu, africano e indígena. Gilberto em Casa-Grande & Senzala expõe o que é Europeu com ênfase no que é lusitano e ibérico; e ao que é “nativo”, indígena. Já aquilo que é africano assume um destaque intencional, e ganha na obra um desejo de maior aprofundamento. Gilberto olha para as relações da África Magreb e a sua civilização afro-islâmica na península ibérica atuando na formação das cozinhas da Espanha e de Portugal. Mostra o africano em condição escrava, e destaca os papéis sociais da mulher africana, entre eles o de fazer comida, e vender comida nos “ganhos”, e nas “quitandas”. Está na mulher o amplo repertório de sabedoria culinária e de memória cultural. A mulher como “yá bassê” ( básè, em Yorubá, significa assistente de cozinha) é a responsável pela cozinha sagrada dos terreiros da tradição Nagô, e assim mantém as receitas de uso religioso . Gilberto destaca a ação civilizadora da mulher africana nas casas dos engenhos, nos ofícios das cozinhas, na mistura das receitas de Portugal com os ingredientes da “terra” , e com os acréscimos que chegam das memórias africanas. São novos gostos, gostos em construção, gostos brasileiros. Ele olha para a cozinha no contexto das relações interafricanos, nos contexto dos africanos em condição escrava, no contexto da crueldade da vida na plantation dos engenhos de se fazer açúcar, sem mergulhar numa “cordialidade” idealizada. Embora o Nordeste seja exemplificado e aprofundado em Pernambuco, Gilberto mostra a Bahia como um território de força e de expressão africana, e ainda cita o Maranhão e o Rio de Janeiro. Porém está em Pernambuco o foco e a experiência etnográfica de Gilberto, que se inclui como um viajante da sua própria cidade, o Recife. Em outras obras, Gilberto destaca as comidas do terreiro Obá Ogunté, Seita Africana Obá Omim, do Recife, em Água Fria, e localiza o importante babalorixá Adão Costa. Relata experiências gastronômicas nesse terreiro de Xangô da tradição Nagô, tido como o mais antigo do Recife. Gilberto valoriza [e certamente gosta] as comidas afrodescendentes, e assim chama esses acervos culinários de “manjar africano”. Informa sobre o uso de folhas nos processos culinários africanos, e nesta verdadeira “fusion”, unem-se tecnologias de embalar e de produzir comida a partir de modelos milenares americanos dos “tamales”, com receitas que expõem uma cozinha de matriz africana onde se notabilizam o acaçá, o abará, e outras comidas embaladas em folha de bananeira. Casa-Grande & Senzala detalha a feitura do acaçá, uma comida de milho branco, milho de mungunzá; uma massa cozida sem temperos para acompanhar vatapá, caruru de quiabos, peixes no dendê. Destaca assim os processos culinários com o uso da “pedra”, do pilão lítico, para processar o milho e o feijão, bases do acaçá e do abará. Na Bahia se valoriza a “pedra do acarajé”, que é o pilão, pois se considera que ele dá a melhor textura para as massas do acarajé, do abará e do acaçá. Nestas comidas estão as assinaturas das “baianas”, notabilizando o acarajé mais crocante, o abará melhor recheado; são comidas autorais de tabuleiro. As comidas de “tabuleiro”, hoje identificadas pelos: acarajé, abará, cocada, bolinho de estudante; e também pela “passarinha”, estão nas ruas, praças, adros, no caso da cidade do São Salvador. Permanecem os imaginários dos ganhos. É um ofício, que hoje, na grande Salvador, reúne mais de três mil “baianas e baianos de acarajé” . Gilberto traz em Casa-Grande & Senzala os “bolos de tabuleiro”, certamente criando categorias para os bolos. Pois os bolos identificam um lugar especial da doçaria pernambucana. Receitas dos conventos de Portugal, outras da confeitaria popular, e outras das comidas de rua que se encontra com a mandioca, e outros ingredientes da “terra”. No Recife, em carrinhos de madeira, ainda hoje são vendidos bolos e biscoitos, próximos em forma e gosto das suas fontes portuguesas. Tortas enroladas que remetem as tortas do Azeitão (Portugal), bolos verdadeiramente ancestrais; base do tão querido “bolo de rolo”, na verdade “torta de rolo”. Ainda, tão do gosto e do cotidiano das mesas do Nordeste, estão as receitas de cuscuz. Tradição da África mediterrânea, da África Magreb, que ganha interpretações com a farinha de milho, com a massa da mandioca , com o leite de coco, e com muitos outros acréscimos nas receitas. Gilberto tem o desejo de marcar os territórios dessas matrizes do continente africano; ora afro-islâmica, ora das “Costas” – ocidental, austral, oriental –, e assim busca mostrar, preferencialmente pela comida, essas chegadas e essas formas de civilizar o Brasil.

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Novo sistema promove mais fluidez no trânsito de Abreu e Lima

O trecho da BR-101 que passa dentro da cidade de Abreu e Lima é conhecido pelos congestionamentos, mas recentemente houve uma melhora na fluidez do trânsito no local. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) No sentido Recife, os veículos demoravam em média 10 minutos para percorrer os dois quilômetros daquela travessia urbana, trajeto que agora demora menos de cinco minutos. Esta redução no tempo de viagem, segundo o órgão, deve-se à implantação  de um novo sistema de gerenciamento inteligente dos semáforos. Na avaliação do superintendente do DNIT, Cacildo Cavalcante, a implantação do sistema na localidade - onde 75 mil motoristas que trafegam diariamente - gerou uma melhora substancial na trafegabilidade e mobilidade dos usuários. “Além da diminuição em 50% do tempo de retenção, também reduziram, consideravelmente, as reclamações que recebemos via ouvidoria. Quem passa por Abreu e Lima diariamente com certeza percebeu a mudança. Tudo isso se atribui a melhoria do semáforo com o sistema de avaliação em tempo real”, afirma. O sistema opera fazendo o monitoramento do fluxo de veículos através de câmeras, segundo Bernardo Limongi, gestor da empresa Sinalvida, responsável pela tecnologia. "Esses dados são continuamente enviados para uma central de controle que faz o cálculo dos tempos de distribuição de verde, defasagens e ciclos, tudo isso sincronizado e em tempo real", explica. A operação é feita de forma automática e independente da ação de um operador. “Desta forma, a programação dos semáforos é sempre a mais adequada para o tráfego daquele exato momento, otimizando a circulação dos veículos e evitando a formação de engarrafamentos”, completa. Segundo o superintendente, o DNIT já está estudando a possibilidade de implantar a mesma tecnologia em outras localidades. “Recomendamos fortemente a utilização do sistema em entroncamentos que precisam de maior fluidez e em casos onde é preciso priorizar uma via do trânsito para minimizar transtornos. Semáforos em Igarassu e na BR-101 antiga já estão em estudo de viabilidade para receber a mesma solução”, completa.  

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Precisamos falar com os homens

*Por Beatriz Braga “O machismo é democrático, fode com todo mundo”, disse a jornalista Milly Lacombe e lembro dela quando preciso sintetizar de maneira fina e objetiva um fato tão claro.  Parecido com o que acontece com as mulheres, os homens também estão submetidos às regras do que é “ser masculino”. Enquanto nossa criação é baseada no “feche as pernas, menina”; os garotos são criados no “menino não chora” ou “anda que nem homem”. “O homem já nasce com três nãos: não ser mulher, não ser gay e não ser criança”, escreve Helen Barbosa dos Santos, pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no projeto O crepúsculo do macho . A sociedade inferioriza tudo que tem a ver com o feminino e força os homens a se adequarem às características ditas masculinas (força, agressão e racionalidade) - porque essa é a fórmula dita da masculinidade bem sucedida. No entanto, nem todo homem se encaixa nessa definição simplória do que é ter pênis nesse planeta. Além do que a educação dos meninos tem-se comprovado perigosa: homens são autores de 90% dos homicídios no mundo e 94% dos homicídios em massa. Também são as principais vítimas de assassinatos, acidentes de trânsito e alcoolismo. Machismo é a causa principal de morte de homens no planeta, segundo Benedito Medrado (Instituto Papai) no documentário Precisamos falar com os homens? Uma jornada pela igualdade de gêneros, um filme que faz um chamado aos rapazes a repensar a forma como são educados. Temos a falsa impressão que meninas são mais propensas à emoção e ao cuidado, enquanto homens são de natureza agressiva. Essas qualidades, porém, foram socialmente criadas, não são herança biológica. O problema é que esses hábitos sociais são os responsáveis por um mundo hiperviolento. Outro documentário importante, A Máscara em que você vive , coloca a mídia no centro da discussão sobre brutalidade e gênero masculino. Um menino normal passa em média 40 horas por semana assistindo TV, esportes e filmes; 15 horas jogando videogames e 2 horas vendo pornografia. Aos 18 anos, já viu cerca de 200.000 atos de violência na tela. Nessas produções, os arquétipos masculinos trazem personagens calados e com controle de suas emoções, além de serem ágeis e raivosos. Quando são extrovertidos normalmente degradam mulheres e consomem uma grande quantidade de drogas e álcool. Os garotos são influenciados pelos estímulos que consomem e não é à toa que se espelham nos heróis e personagens que acompanham cotidianamente. O feminismo vem despertando mulheres para questionar estereótipos. Os homens precisam entrar na conversa para que também possam estar livres (e nos livrar) da pressão que gira em torno deles. Há, por um lado, a cegueira confortável para os que se beneficiam do status quo; mas há também o tiro no pé dos caras que não enxergam que a luta é para todos. O machismo cala mulheres, mas também cala homens quando limita suas capacidades de expressão. “Eu peço a todos os homens para se lembrarem da primeira vez que ouviram que tinham que ‘ser homem’. Acho que é a frase mais destruidora da nossa cultura”, diz Joe Ehrmann, ex-jogador da NFL que lamenta, no filme, o uso dos esportes para tornar os meninos ainda mais agressivos, homofóbicos e machistas. Se reconhecer como vítima é poderoso. A partir disso, entendemos como chegamos até aqui enquanto sociedade. Somos todos, em maior ou menor grau, consequências e coprodutores do sexismo e do preconceito. É preciso alguma dose de tolerância para entender as sementes que foram plantadas dentro de nós pelos que vieram antes. E coragem, agora, para cortá-las pela raiz. “Os homens têm que encontrar formas de viver melhor com eles mesmos. Porque estão matando mulheres e estão matando uns aos outros”, diz Nadine Gasman da ONU Mulheres Brasil. O que fazer, então, do futuro? Tenho algumas ideias. Para começar, assistir aos documentários aqui citados e ao episódio Masculinidade e Sentimentos do podcast Mamilos , que traz alguns dos homens que estão fazendo parte desse movimento de repensar uma nova masculinidade. Nessa edição, eles choram, desabafam e relembram suas criações opressoras. É um processo poderoso. Enquanto nos libertamos, precisamos urgentemente livrar o que vem a seguir. Já é hora de privar as crianças da nossa obsessão por gêneros. Permitamos que os meninos chorem e sintam emoções; que usufruam das suas energias femininas e vejamos que bem faz mostrar a uma geração que ela não precisa se comunicar através da agressão. Em Precisamos falar com homens, a publicitária Thais Fabris diz uma frase que não me sai da cabeça: “eu odeio o machismo, não o machista”. O problema não é pessoal, é social. O que vai definir se você fará parte da solução ou do problema é a sua disposição de se perceber alvo sem deixar de se enxergar responsável pela mudança.

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Seis podcasts que você precisa começar a ouvir

*Por Beatriz Braga Ouvir. Precisamos urgentemente abrir os nossos ouvidos. Ouvir quem está do lado, ouvir quem está distante. Ouvir mulheres, ler mulheres, assistir mulheres. Isso, claro, se quisermos evoluir como humanidade. Uma ótima ideia do mundo moderno foi a invenção do podcast (arquivo digital de áudio transmitido através da internet sem necessariamente uma frequência fixa de episódios). Esse tentáculo do rádio tem ganho cada vez mais atenção dxs produtorxs de mídia, isso inclui centenas de mulheres à frente de programas muito interessantes. Eu sou fiel adepta ao mundo do podcast e não saio de casa sem meu fone. De repente, o caminho até o trabalho ou o exercício na academia tornam-se viagens às águas até então não navegadas individualmente. Também continuo uma fiel amadora do mundo analógico e sigo fascinada pelo tradicional rádio nosso de todo dia. O podcast, pois, une o que o rádio tem de fascinante (a atenção às palavras, à discussão e à conversa entre humanos) com o que o avanço tecnológico trouxe de bom (praticidade, diversidade e democratização de conteúdo). As hashtags #mulherespodcasters e #opodcastédelas são um caminho eficiente para descobrir projetos legais protagonizados por vozes femininas. Se você ainda não começou, por que não hoje? Ouça mulheres. Escute diálogos sobre diferentes experiências da sua. Essa é a nossa maior contribuição para um mundo mais bacana. As opções de programas bons (e gratuitos) são infinitas, mas como acho que cardápios grandes atrapalham mais do que ajudam, selecionei os poucos e bons que me acompanham. Compartilho, aqui, minha lista de podcasts queridinhos. Preencher os tempos ociosos do meu dia ouvindo o que outras mulheres têm a dizer foi uma das melhores coisas que fiz nos últimos tempos. Estão preparadxs para uma lista super interessante? 1. Mamilos | B9 Jornalismo de peito aberto, cabeça fria e personagens bem escolhidos. Conversa boa, bem humorada e inteligente, sobre temas que mudam a cada edição: arte, política, sexo, masculinidade, maternidade, aborto e por aí vai. Meu podcast preferido (sou “mamileira” fiel), apresentado por Juliana Wallauer e Cris Bartis, é ótimo para se atualizar dos assuntos do momento. Polêmicas e tabus são bem-vindos e tratados com respeito. Todo mundo deveria ouvir Mamilos! Saiba mais: www.b9.com.br/podcasts/mamilos/ 2. Feito Por Elas | Anticast Eis a proposta: assistir, toda semana, um filme de uma diretora mulher durante um ano. Topa? O desafio#52FilmsbyWomen (52 Filmes por Mulheres) foi lançado pela organização Women in Film (www.womeninfilm.org), projeto que nasceu para alavancar um universo muitas vezes deixado de lado por falta de oportunidade e preconceito. Foi de olho neste desafio que o podcast Feito Por Elas surgiu. Cada edição apresenta uma mesa redonda de mulheres que já tinham alguma experiência anterior em crítica de cinema (Angelica Hellish, Isabel Wittmann, Samantha Brasil, Camila Vieira, Stephania Amaral e Michelle Henriques). Quinzenalmente, uma diretora é escolhida e três filmes diferentes de sua carreira são analisados. A ideia do projeto é enriquecer o debate em torno de produções assinadas por mulheres e dar mais visibilidade às cineastas que fizeram ou continuam fazendo trabalhos importantes ao redor do mundo. Saiba mais: www.anticast.com.br/2016/08/feitoporelas 3) Baseado em Fatos Surreais Para ouvir depois de um dia pesado e dar risada ou se confortar com esses episódios leves de geralmente algo em torno de 20 minutos. A ideia aqui é dar vozes às histórias anônimas de outras mulheres contadas na primeira pessoa. A cada episódio, uma história enviada por ouvintes é interpretada por uma das apresentadoras em uma conversa aberta com outras parceiras. Tudo isso com empatia, sensibilidade e bom-humor. Claro que rola uma dramatizada e uns pontos a mais nos contos, mas tá tudo certo, a gente gosta mesmo de emoção. As histórias giram em tornos de fatos “surreais” que acontecem na vida de pessoas comuns, envolvendo amizade, sexo, trabalho, família e o que mais couber no roteiro cotidiano de gente como a gente. O projeto é mantido por Marcela Ponce de Leon e Sheylli Caleffi, sempre com convidadas para interpretar e reagir aos causos da vida alheia. Saiba mais: www.bfsurreais.com.br 4) Talvez Seja Isso Um convite às profundezas do “ser mulher”. Nesse podcast, mulheres se reúnem para conversar e analisar a obra clássica “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés. O livro é um caminho sem volta para transformação pessoal (para as leitoras interessadas, claro). Assim como a felicidade, toda transformação é mais real se compartilhada. O podcast é um espaço seguro para ouvir sobre os ensinamentos desse livro fantástico. A cada edição, um capítulo entra na berlinda. Eu ainda não terminei o livro, mas quando acabo um capítulo, vou lá e ouço essa conversa entre mulheres, que apesar de não conhecê-las, sinto como se fossem minhas amigas dialogando na mesa de bar - e tem melhor cenário para sair renovada? Não necessariamente é preciso ler o livro para entender as reflexões, mas acho que o combo (leitura + discussão) é a maneira mais legal de aproveitar essa viagem ao centro de nós mesmas. Aos mais distraídos, pode soar como besteira. Às mais dispostas, soa como poder. Saiba mais: www.talvezsejaisso.com 5) About Race | Reni Eddo Loge As duas últimas dicas são podcasts em inglês (uma ótima opção para quem quiser, de quebra, treinar o ouvido para esta língua estrangeira). No site do programa, inclusive, encontramos os episódios transcritos para serem lidos. É muito bom escancarar os ouvidos e saber o que se está falando ao redor do mundo também. About Race é o podcast da jornalista britânica Reni Eddo Loge, autora do livro bestseller “Why I'm No Longer Talking to White People About Race” (Porque eu não falo mais com pessoas brancas sobre racismo, em tradução livre), do qual tenho lido críticas maravilhosas e tem alavancado a carreira da escritora pelo mundo. No programa, pautas interessantíssimas, muitas vezes polêmicas e sempre bons convidados. O tema central é racismo e a autora, enquanto feminista com foco interseccional, tem muito a dizer. Encontrei esse podcast por acaso pela internet e virei fã. Em uma das últimas edições, “The Big Question” (a

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Sabores ibéricos em Casa-Grande & Senzala

Gilberto valoriza uma ancestralidade de sabores decorrentes da Península Ibérica, e assim louva Portugal com todos os sabores reunidos de um povo globalizado pelas grandes navegações. Tudo está em um Portugal ibérico com territórios africanizados pelo Magreb afro-islâmicos. Do norte da África chegaram também civilizações do Mediterrâneo, a civilização da “oliva”, do “vinho”, do “queijo”. Pelas rotas das especiarias, Portugal retoma as rotas romanas que o levam para o Oriente, para a África das costas do Atlântico e do Índico; e ainda amplia as suas relações, e comércio, nas Américas e o no Caribe. Com todos estes elementos de civilizações do Ocidente e do Oriente, chegam novas construções de sabores, de técnicas culinárias, de objetos de cozinha e de serviço à mesa; e receitas, muitas dos cardápios do cotidiano, e outras das festas, festas religiosas, essencialmente católicas. Embora de um rico acervo de ingredientes, de receitas, de um Portugal de além-mar, Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, aponta para questões econômicas, e os diferentes processos sociais que fazem parte da alimentação no Brasil colônia, e diz: “Má nos engenhos e péssima nas cidades: tal a alimentação da sociedade brasileira nos séculos XVI, XVII, XVIII. Nas cidades péssima e escassa.” Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, quer mostrar o Nordeste do século XIX sob o regime patriarcal que foi fundado no açúcar da cana sacarina, e uma análise da civilização ibérica no trópico, assim escolhe a comida para interpretar essa compreensão colonial. É importante dizer também que Gilberto mostra, com outro olhar, a “idealizada” contribuição holandesa na cozinha regional, e diz sobre o “brote”, um tipo de biscoito enquanto, talvez, uma possível “permanência” dos batavos em Pernambuco. Pois nestes momentos da “Maurícia”, passava-se fome no Recife, os soldados batavos caçavam inclusive ratos para comer. Gilberto assim louva a farinha de mandioca e tudo que chega dela, e diz: “o próprio feijão já é luxo”. A maioria dos produtos da tradição alimentar ibérica: azeite de oliva, azeitona, vinho, farinha de trigo, e queijo chegavam de Portugal. Ainda, Gilberto diz que os cardápios mais comuns do cotidiano, da subsistência, estavam baseados na farinha de mandioca e no charque. Os desenhos das mesas repletas de comidas, num cenário de prataria, de sedas, de festas magníficas, estão, na maioria, em leituras ingênuas sobre estes processos econômicos e culturais sobre a comida possível no Nordeste do Brasil colônia. Contudo, Gilberto que exibir as mesas de celebrações, mesas com montes de açúcar, para indicar o poder do senhor de engenho. Sem dúvida, o açúcar é o orientador e formalizador das relações sociais. E também com o açúcar vêm as antigas receitas dos mosteiros de Portugal, que são realizadas e reinventadas nestes contextos da mandioca e das suas muitas possibilidades culinárias . Com a colonização, as referências das culturas de Portugal estão no idioma e na comida. Comida formada a partir de receitas moçárabes, de base muçulmana, como mostra “Arte da Cozinha” (1692) de Domingos Rodrigues: carneiro mourisco, galinha mourisca, entre outros. Também há a comida dos mosteiros medievais. Espaços consagrados às “regras” de alimentação e do “jejum”, uma orientação para a falta de comida, uma santificação para os períodos de comida rara, mesmo em Portugal. Assim, os cardápios e as receitas especiais, que se juntam às tradições populares e as “cozinhas” sofisticadas dos moçárabes na Península Ibérica, vão construindo uma “cozinha” de formação tropical, e que recorre também aos imaginários medievais dos conventos e mosteiros. Ordem dos Agostinhos, dos Beneditinos, das Carmelitas, dos Jesuítas, entre outras. Sabores “santos” que chegam às receitas de: morangos no vinagre, caldo de acelgas, bispos, leite frito, natas imaculadas, frango no vinho da missa, arroz com leite, entre muitas, muitas outras receitas conventuais. E alguns doces: amorzinhos de noviça, argola de abadessa, barrigas de freira, fatias celestiais, queijinhos do céu. E alguns exemplos que trazem os “pontos do açúcar”: de pasta, de fio, de cabelo, de pérola, do assoprado, de espadana, de rebuçado ... Tudo traz os encontros e as criações, pois, “navegar” e principalmente comer é preciso. Invenções nas cozinhas e descobertas à mesa.  

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Casa-Grande & Senzala – A comida como método social em Gilberto Freyre

  Gilberto se propõe a revelar “o seu” Nordeste ao leitor. Um Nordeste orientalizado a partir das matrizes lusas com os seus encontros com a China, Índia, Japão; e nas tradições moçárabes e judaicas. Um Nordeste da Zona da Mata de Pernambuco. Sim, Pernambuco como um foco possível e preferencial de Gilberto. O livro Casa-Grande & Senzala é também um depoimento vivencial de Gilberto, que mistura endoetnografias nos cenários do Recife. Assim, ele traz leituras e experiências familiares; também dá interpretações sentimentais; e ainda busca os sinais de uma região orientada pelo patriarcado que nasce na cana sacarina. É uma obra para muitas interpretações, para ser revisitada apontando-se para as cozinhas como experiências formais da identidade do brasileiro. Por ser um livro de vocação sensorial, sugiro ler algumas páginas ao sabor de um bolo de massa de mandioca, ou bebendo um boa cachaça, para que se possa assim ter um encontro hedonista ao gosto de Gilberto. Ele se revela hedonista quando traz de Ruth Benedict os seus conceitos de “apolíneo” e de “dionisíaco”. São encontros desejáveis e necessários ao tema açúcar, um tema nem sempre tão “doce”. Entender ainda que Gilberto tem suas preocupações literárias e estéticas com Casa-Grande & Senzala. Ele relata ambientes, festas, indumentárias, comidas, processos culinários, rituais de comensalidade. Gilberto tem um olhar iconográfico dominante, e recorre ao desenho e a pintura como processo de criação e de representação cultural. Estes imaginários estão nos textos, e se pode dizer que Casa-Grande & Senzala é um livro “cinematográfico”. E com este desejo visual, Gilberto mostra o melhor deste livro. Tudo acontece em contexto ecológico, na Mata Atlântica e nos canaviais, temas que mais tarde são aprofundados no livro Nordeste de Gilberto. Esta sociedade do século 19, exemplar em Casa-Grande & Senzala, é ampliada também em Sobrados e Mocambos, com um olhar mais urbano sobre a civilização que nasce do açúcar. Casa-Grande & Senzala mostra as histórias das “casas” e das pessoas que vivem nestas casas. Relata religiosidade, maneiras de fazer a comida, escolher os ingredientes; as muitas receitas de um Portugal já globalizado com as “grandes navegações” que aproximaram o Oriente do Ocidente. Esta obra de Gilberto mostra as festas, os rituais do plantio e da colheita da cana sacarina; os encontros de portugueses africanizados pelo Magreb, de povos nativos, de milhares de africanos da Costa, que revelam novos gostos e interpretações de sabores que se espalham pelas cozinhas, pelas mesas, num Brasil à boca. Gilberto quer apresentar um lugar possível do “trópico”.  Mostrar uma civilização onde o poder formal está no mando masculino. Contudo, este poder está também nas cozinhas, territórios consagrados ao mando feminino. Cozinhas na “Casa-Grande”, lugar onde as relações sociais são formalizadas na intimidade de espaços geradores de comidas, de um poder que se projeta no ato da alimentação. Gilberto revela os rituais das alimentações, inclusive dos “santos”, que são íntimos nestas relações sociais já à brasileira. O Menino Deus, para adoração e para o convívio com as crianças da “casa”, torna-se tão próximo que parece estar também se lambuzando de geleia de araçá. Outros doces são marcantes e, em especial, os “bolos”, tema que fundamenta o seu livro Açúcar, também dos anos 1930. Gilberto mostra o doce como um preparo feminino, marcado pela mulher lusa como uma atividade especial, pois o doce tem um preparo que vai muito além do açúcar. É um preparo de memórias ancestrais da história colonial lusa. O termo “doce” valoriza e qualifica aspectos sociais como, por exemplo, “você é um doce”; “te dou um doce”; tudo mostra o açúcar como formador de laços sociais, e isso também é retratado em Casa-Grande & Senzala. As referências dos sabores, a nova forma para se construir o paladar, o reconhecimento do que é o gosto gostoso, daquilo que chega de Portugal com os “gostos do mundo”, e se misturam com este Brasil de mandioca, de peixes, de milho, de pimentas frescas, e de muitos outros produtos da “terra”, produtos nativos. Gilberto, em Casa-Grande & Senzala, expõe uma sociedade que se revela à mesa. É assim que ele quer interpretar o brasileiro: “a partir da comida”. Casa-Grande & Senzala é uma construção formal de análise que está na tese Social life an Brazil in the middlle of the 19th Century para o título de Master Artium ou Master of Arts, Columbia University, 1922. Com certeza, em Gilberto, estão todos os sentimentos do gourmet, do antropólogo e do artista, todos reunidos na sua maneira pessoal de gostar do Recife. * Raul Lody é antropólogo.

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O poder da mulher que goza

*Por Beatriz Braga Somos viciados em sexo. Não apenas porque a indústria pornográfica movimenta muito dinheiro, mas porque o sexo está no epicentro das nossas vidas. Sexo vende moda, produtos, arte e nos define, em muitos momentos, enquanto indivíduos. Para um mundo tão obcecado pelo tema, somos bem ignorantes quando o assunto é o prazer feminino. Existe, por um lado, séculos de pesquisa científica dominada por homens. A noção de sexualidade que temos foi definida pela visão masculina do prazer e do sexo. Não é à toa que o clitóris ainda é muito ignorado e mal interpretado. O pai da psicanálise, Freud, por exemplo, foi um dos mais ferrenhos inimigos dessa exclusividade feminina. Por outro, a religião faz da sexualidade algo perverso que deve ser regrado. Através dela, aprendemos como, quando e com quais pessoas podemos dividir nossos desejos. O nome é um tabu, seu formato é misterioso, o cheiro é um problema e ao longo da história da humanidade “satisfazer uma mulher” é tido como algo tão difícil quanto correr uma maratona. Perseguida, piu-piu, xereca, procurada, dita-cuja, bacalhau, engole-espada, casa do caralho e siririca. A linguagem não mente. O que a mulher tem no meio das pernas ora é um asco, ora é um acessório, ora é um objeto não voador não identificado. No meio desse imbróglio de desconhecimento e culpa, vem Flaira Ferro. A artista pernambucana acaba de lançar o clipe divertido e importante “Coisa mais bonita”. A “coisa” é a famigerada masturbação feminina, cantada por Flaira de maneira desmistificada. “Não tem coisa mais bonita, nem coisa mais poderosa do que uma mulher que brilha, do que uma mulher que goza”, diz a música. O clipe é uma afronta. Primeiro, à visão patriarcal do corpo feminino, que deve ser discreto e misterioso. Sempre o “outro”, nunca o sujeito. Segundo, à educação galgada no “fecha a perna, menina”, que transforma a vulva em uma parte a ser silenciada. No vídeo, oito mulheres corajosas o suficiente para se expor em um mundo tão careta são filmadas no ato da masturbação (detalhe importante: nada foi fingido). Elas fazem um chamado ao autoconhecimento e, culminam, em sintonia, no orgasmo. O vídeo já passa de 120 mil visualizações no Youtube, chegou a ser retirado da plataforma por algumas horas e recebeu uma variedade críticas positivas e negativas. Enquanto o homem passa a vida brincando com o pênis, a mulher é ensinada a ter vergonha. Esse é um aspecto tão forte da nossa cultura que a labioplastia (cirurgia plástica da vagina) virou tendência nas mulheres que não gostam do aspecto de suas vulvas. O Brasil é o líder mundial no número de procedimentos do tipo, cujo visual mais procurado pelas pacientes é um clichê: batizado de “Barbie”, o objetivo é que os grandes lábios pareçam ao de uma boneca. Sexo trata-se de diversão para o homem; para a mulher, tantas vezes, significa dor. A sociedade não apenas nos priva do autoconhecimento, como também nos divide em duas categorias: a “feita pra casar” e a puta. A mulher que tem desejos, que fala sobre eles e que vai atrás deles é sempre a vadia. A que finge não tê-los é a mulher-modelo. A prostituição abraça essa mentalidade quando o homem recorre à profissional do sexo para não “manchar” a mulher “de respeito” com seus desejos. Isso é tão forte que, mesmo dentro da segurança - ou do que deveria ser - de um relacionamento, as mulheres ainda sofrem com o sexo. A psicóloga Sara McClelland, da Universidade de Michigan, descobriu que, ao questionar mulheres sobre suas vidas sexuais, elas mediam seus níveis de satisfação pelo fato do homem ter sido satisfeito ou não no ato. Quando perguntado aos homens, a grande maioria das respostas girava em torno de seu próprio gozo. Em A mulher de 30 anos, do escritor Balzac, a personagem Júlia definiu casamento como uma “prostituição legal”. Vez ou outra lembro dela, ao escutar histórias sobre o quanto sexo pode ser ruim para uma mulher, não importa o estado civil. Uma mulher dona da sua libido é uma ameaça ao patriarcado. Ela não depende do homem para sentir prazer e sabe que, ali embaixo, tem uma poderosa fonte de criatividade, impulso e vitalidade. Flaira canta o seu recado à parcela masculina que não quiser ficar para trás: “homem de verdade enxerga a beleza na mulher que é dona do próprio tesão”. De todas as histórias do Monólogos da Vagina, de Eve Ensler, lembro-me sempre da mulher de 72 anos que, quando finalmente encontrou seu clitóris, chorou. Não é à toa: ele tem 8 mil fibras nervosas, o dobro do pênis e é único órgão humano feito apenas para dar prazer. “Quem precisa de pistola quando se tem uma semiautomática?”, pergunta Natalie Angier em "Woman: an intimate geography". Nós encaramos o sexo como mais importante para o homem do que para mulher. A verdade é que é apenas mais fácil para eles reivindicarem isso. Para nós, somos sempre muito jovens, muito velhas, muito comprometidas, muito solteiras. Sempre muito, muito ou muito.  Está aí a importância desse clipe, de Flaira e dessas outras mulheres emponderadas que transformam o proibido na coisa mais bonita. A revolução será feminina e ela vai ser - tal como essa música - poética, forte, irreverente, irresistível e enérgica. E a melhor parte:  será irreversível. Confira o clipe da pernambucana Flaira Ferro que aborda o tabu do orgasmo feminino: Animação que explica o clitóris

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2018, que venha mais um ano feminista

*Por Beatriz Braga Em 2017, “feminismo” foi eleita a palavra do ano pelo dicionário Merriam-Webster, devido ao aumento de 70% nas buscas pelo termo em relação a 2016. O ano que passou não foi fácil. Perdemos Mirella, Remís e outras milhares de anônimas silenciadas. Foi o ano que ouvi de uma amiga o relato doloroso de um estupro. Foi também o que chorei junto a outra grande mulher que amo e que teve o seu corpo invadido e sua liberdade violada por um homem. Dentro de um carro fechado, fizemos nossa alcova e olhamos, pequenas, o mundo. Mais homens impunes, mais mulheres tornando-se estatísticas. Sentimos raiva. Como não sentir raiva de cada homem que passa na rua? Que me olha com desrespeito, que tenta minimizar meu pequeno espaço no asfalto? Como não me irritar a cada machismo velado? A cada sinal de que o mundo não é bom lugar para ser mulher? Como não permanecer irritada, quando mulheres perdem vidas e energia porque os homens ao seu redor são legitimados pelo poder do seu sexo? Eu poderia me ater às dores, mas em 2017 entendi o que é ser mulher. As mulheres que eu conheço transformam dor em pilastras. Quiseram cortar os seus caules, mas elas são sementes de raízes profundas. São furacões e tempestades. São fênix e são muralhas. No ano passado, o presidente eleito dos Estados Unidos foi um homem que faz apologia ao estupro. Mas também em 2017, houve um dos maiores protestos femininos da história. A Marcha das Mulheres reuniu mais de 670 manifestações em mais de 20 países para dizer que Trump não é bem-vindo. Se a era é da hashtag, tivemos: #BalanceTonPorc (delete seu porco, em francês); #NiUnaAMenos (nenhuma a menos, em espanhol); #NãoÉNão #MexeuComUmaMexeuComTodas, #NãoSejaUmPorquê, #MeuMotoristaAbusador e #MeToo (eu também, em inglês). Essa última foi compartilhada mais de 6 milhões de vezes por mulheres relatando seus contos de assédio em vários lugares do planeta. A série da Netflix com 53 indicações ao Emmy, House of Cards, foi cancelada pelas acusações de abuso sobre seu ator principal. A máscara caiu para Kevin Spacey, Harvey Weinstein, Brett Ratner, Louis C.K, James Toback, George Takei, Adam Venit, Ben Aflleck, Dustin Hoffman, Jose Mayer e uma lista que só faz crescer. As mulheres e homens que os delataram foram eleitos “a personalidade do ano” pela revista Times. O movimento culminou, neste janeiro, em um The Golden Globes de luto, com mulheres vestidas de preto, alertando que o abuso e a desigualdade não serão mais tolerados. Na índia, a ministra da Mulher, inspirada pelo que acontece nos Estados Unidos, enviou uma carta a 25 diretores e atores pedindo respeito às profissionais de Bollywood. Na Arábia Saudita, as mulheres finalmente conquistaram o direito de dirigir veículos, proibição que era símbolo do machismo no país. Começamos o mês com a Islândia se tornando o primeiro país do mundo a colocar em vigor uma lei que legaliza a igualdade de salário entre homens e mulheres. Feminismo é a palavra do ano porque foi um dos assuntos mais comentados. O termo tem se tornado mais acessível. Estamos discutindo se Anitta é feminista ou não em roda de bares, simplesmente porque agora podemos. “Girlpower” é o novo “Ramones” e emponderamento feminino tem vendido bastante camiseta. Obviamente nem tudo é perfeito, muita coisa é lucro. O mais importante é que os grandes passos acontecem no cotidiano. Cada “não” é uma revolução. Em 2018 me comprometo a criticar menos e defender mais mulheres. Afinal, cada julgamento é uma contribuição para minha própria falta de liberdade, sou eu impondo a mim mesma uma lista de proibições. Comprometo-me a usar a tática de uma amiga e responderei com um “boa tarde” a cada cantada e olhada na rua. Perguntarei “estou fazendo isso porque eu quero?” cada vez que decidir ir a um salão de beleza. Tentarei olhar no espelho e ser mais gentil com meu corpo. Lerei livros escritos por mulheres. Verei filmes dirigidos por mulheres. Lerei mais poetisas. Escutarei mais cantoras. Ouvirei mais vozes femininas. Essa será o meu grande movimento. Enquanto empresária, me comprometo a jamais enxergar um útero como prejuízo. Usarei menos sutiens desconfortáveis e sapatos cruéis simplesmente porque não sou obrigada. A nada. Eu vou às ruas este ano, marchar ao lado de outras mulheres e revigorar o sentido de sororidade que tenho aprendido. Seguirei lendo as péssimas notícias de jornal e provavelmente terei conversas tão difíceis como as passadas. Mas estamos vivendo um momento importante para a posição da mulher no mundo. Segundo o Merriam-Webster, a busca pela palavra feminismo alcança picos relacionados aos acontecimentos na vida real, desde hashtags como o #MeToo a lançamentos de séries como The Handmaid´s Tale. Tudo importa para o que o movimento crie novos ninhos. Do mais importante comprometimento comigo mesma, escolho esse: permanecerei com raiva. Por enquanto, em tempos como esse, essa é a única resposta possível às estatísticas, aos fatos e ao quebra-cabeça do qual fazemos parte. Raiva é o que me conecta às milhares de mulheres ao redor do mundo, de todas línguas, classes, raças e idades. É o que fará de 2018 mais um ano feminista. Que venham os próximos doze meses e todas as pequenas e grandes revoluções que neles couberem.

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Uma lista incrível de livros escritos por mulheres

*Por Beatriz Braga Faltam duas semanas para 2017 acabar e percebo que ao caminhar em direção ao novo ano que bate na porta, carrego comigo as leituras fortes que fiz de mulheres poderosas nos últimos 12 meses. Suas palavras me colocaram para frente e me causaram pequenas e grandes revoluções pessoais. Com o suporte delas, fiz as pazes com meu corpo; com minhas celulites e “imperfeições”; aprendi a aceitar a minha biologia; tenho entendido que existe ganhos em ver o tempo se esvair das minhas mãos; e estou tentando reconhecer as origens e raízes machistas que me circundam, sendo esse o primeiro passo para transformá-las. Busco inspiração em livros escritos por mulheres e acredito que o ano que chega será melhor pelos frutos que colhi desses encontros. Deixo aqui, pois, a minha lista de obras que li e revisitei em 2017 e levarei na bagagem para um novo ciclo mais empoderado. Aproveitando o timing do fim de ano para, quem sabe, inspirar algum presente legal por aí. 1) PERDAS E GANHOS | Lya Luft A minha frase preferida do livro é essa aqui: “A felicidade é assim: cada um, a cada dia, aceita a que o mercado lhe oferece… ou determina a sua”. A citação fica mais poderosa depois da leitura que nos traz a sugestão deliciosa de receber a passagem do tempo de forma mais tranquila e sábia. Entender que a vida, a cada ano que passa, apesar das perdas, também significa uma sucessão de vantagens. A felicidade, para Lya, é possível quando aceitamos que ela também contempla a dor, a  crueldade e  a maldade ao nosso redor. Uma passagem autobiográfica, de reflexões, desabafos e conselhos. 2) LUA VERMELHA | Miranda Gray Me indicaram esse livro na Benção do Útero e é uma ótima fonte de autoconhecimento. Somos também o que acontece dentro de nós, sangue, ciclo e natureza. O livro nos ajuda a desmistificar os estigmas que recebemos ao longo da vida sobre nós mesmas: histéricas; a menstruação vista como tabu; vergonha, pudor e etc. Miranda Gray, a criadora da Benção - movimento que acontece durante a lua cheia no mundo inteiro - explora arquétipos do ciclo menstrual e nos oferece uma visão mais plena para enxergarmos a nós e outras mulheres. Aquela sábia conclusão de que uma mulher que se conhece é imbatível. 3) TOMATES VERDES FRITOS | Fannie Flagg Esse romance clássico foi meu grande companheiro em 2017. Leve, inspirador e uma delícia de ler. O livro conta a história do encontro de Evelyn, uma dona de casa frustrada, e Ninny, uma senhora falante que mora num lar para idosos. Juntas, elas vão revivendo histórias do passado de Ninny, que giram em volta da vida de uma casal de mulheres,  Idgie e Ruth, e o café do qual são proprietárias. O livro trata, com doses de leveza e melancolia, questões pesadas, como assédio, racismo, machismo e família. Daquelas leituras de dar saudade e uma ótima fonte de inspiração para avançar por cima dos padrões impostos pelo mundo. 4) A SHORT HISTORY OF WOMEN | Kate Walbert Comprei esse livro em uma viagem aos Estados Unidos e não encontrei indicações da versão traduzida para português na internet. “A short history of women” traz crônicas sobre cinco gerações de mulheres da mesma família, levando em conta os diferentes cenários que cada uma se encontrava, desde do ano de 1914 até o começo dos anos 2000. Amei a narrativa, pois me deu mais uma noção do que venho me deparando nas conversas feministas que tenho por aí: o poder da nossa ancestralidade. Somos também o legado das mulheres que vieram antes de nós, seus traumas, dores e conquistas. O livro começa com a história de uma mulher que morreu após fazer greve de fome em nome da causa sufragista e vai mostrando o quanto o eco de suas escolhas influenciaram a vida das mulheres da sua linhagem. Mãe e filhas, esse poderoso vínculo de fortaleza. 5) O SEGUNDO SEXO | Simone de Beauvoir Se você é mulher, em algum momento sente ou entende que o seu lugar do mundo é definido pela forma que o homem enxerga a sociedade. Somos julgadas e vistas através do olhar masculino sobre o que é feminilidade, poder e mundo. Entender, estudar e buscar as pistas dessa relação da mulher com a vida ao seu redor é munição necessária para começarmos a mudar o cenário. É exatamente o que esse livro de Simone de Beauvoir é: necessário. 6) VAGINA, UMA BIOGRAFIA| Naomi Wolf O livro Vagina, de Naomi Wolf, foi alvo de muitas polêmicas quando foi lançado. O objetivo principal da obra é reformular a forma pela qual a vagina é entendida na sociedade machista. Cérebro e vagina estão plenamente conectados no corpo da mulher e é preciso levar isso em conta, uma vez que a vagina tem importância fundamental na consciência feminina. A obra é baseada em estudos científicos e na própria vida da autora.  Além disso, outros assuntos entram em jogo como a pornografia e suas consequências, sexo tântrico, estupro e etc. Vale muito a pena ler e fazer uma viagem (sem volta) para dentro. 7) MONÓLOGOS DA VAGINA | Eve Ensler Um livro leve que você vai devorar em uma semana. A obra super reproduzida nos teatros do mundo inteiro traz crônicas baseadas em histórias reais emocionantes, trágicas, hilárias e simplesmente femininas. Dar voz às mulheres em suas diferentes peles e sensações. A vagina ocupa papel de origem e central na narrativa que nos leva a refletir sobre a maneira como ela é vista e tratada no mundo inteiro. Divertido, instigante e comovente. 8) UM TETO TODO SEU Virginia Woolf buscou entender porque as bibliotecas estavam abarrotadas de livros escritos por homens e a visão da mulher sobre o mundo era escassa. Neste livro, baseado em suas palestras em universidades, Virginia discorre sobre o quanto a posição das mulheres no mundo influencia na sua capacidade de trabalhar e escrever. Uma das comparações famosas que ela faz na obra é o que

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E aí? Qual seu tipo de cerveja? (Por Rivaldo Neto)

De vez em quando em uma conversa com amigos quase sempre sou abordado com a seguinte pergunta: Qual tipo de cerveja artesanal eu devo começar? A pergunta parece de fácil resposta, mas não é. Isso também não quer dizer que existe dificuldade em respondê-la, também não é o caso. A grande questão é a complexidade da pergunta, pois isso gira muito em torno do que é mais simpático ao seu paladar. Podemos assim dar alguns passos básicos, dicas simples para descomplicar esse processo de descoberta dos estilos e sabores do variado mundo cervejeiro e assim o “iniciante” começa um delicioso caminho até escolher os tipos, estilos, harmonização e até qual cerveja cai bem em alguns tipos de climas. O interessante nesse processo é equilibrar e ir abrindo o leque. A maioria das pessoas já experimentou cervejas Pilsens, até porque era o tipo de cerveja fartamente mais encontrada nos bares, restaurantes e supermercados. Isso não quer dizer que devemos deixar a “loira”, de lado, muito pelo contrário, ela funciona como uma espécie de “farol guia”. Mesmo tendo esse ponto de partida, que podemos chamar de ponto de equilíbrio, abra sua mente para o que está por vir. Não seja muito ousado no começo, vá com rótulos mais leves e menos robustos, mas não tenha preconceitos. As cervejas artesanais tem sabores muito mais diversificados do que a maioria está acostumado a provar. Quando for a um local que venda esse tipo de bebida, procurar se informar. Se estiver em uma loja especializada, procure o vendedor para que o ele possa fazer uma breve descrição do rótulo escolhido. Existe muita literatura sobre cervejas hoje na internet, descrevendo as famílias e os estilos. Uma leitura mais profunda sobre o assunto vai agregar muito as suas escolhas e assim delimitar um caminho. Esse conhecimento permite que ela seja escolhida de forma mais direcionada e que possa ser julgada de acordo com a família à qual pertence. Se seu ponto de partida, depois desse processo, foi iniciar com uma Pilsen ou Lager, vá passando por etapas. Depois de familiarizado, a ideia é embarcar em rótulos mais intensos com sabores mais amargos por exemplo. Um ponto fundamental nesse processo são as taças e copos, adquira alguns. Tenho visto em lojas kits para cerveja com ao menos 4 tipos para determinados estilos de cerveja. Isso eu posso garantir, faz toda diferença. Apenas citando um exemplo: Se por exemplo, você quiser optar por uma cerveja Weiss, aquele longo copo vai proporcionar a você uma experiência totalmente diferente pelas características que ele possui e as necessidade que o estilo necessita para que os aromas da bebida sejam aproveitados da melhor forma possível. São dicas simples que vai ampliar seu paladar e o seu conhecimento cervejeiro, pode apostar. MUNDO CERVEJEIRO O golaço da Babylon Fui ao lançamento da Kaffe Amber Lager , da Cervejaria Babylon, que ocorreu na Kaffe Torrefação e Treinamento. De antemão posso dizer que foi um golaço da Babylon. Ela é uma mistura de malte com o cold brew feito na própria Kaffe. O cold brew é uma forma de extração do café a frio, sem contato algum com água quente. Tal processo é bem mais lento e cuidadoso e pode chegar a 18 horas. O resultado é uma cerveja deliciosamente leve, refrescante com uma espuma intensa, densa e de excelente cremosidade. Um show!    

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