Rafael Dantas, Autor Em Revista Algomais - A Revista De Pernambuco - Página 425 De 441

Rafael Dantas

Rafael Dantas

Empresa aposta em Pernambuco como futuro Polo Cervejeiro (por Rivaldo Neto)

“O oceano Atlântico é um braço do Capibaribe”, quem já ouviu essa frase sabe bem que é uma citação genuinamente pernambucana. Ela retrata bem a forma como o pernambucano se olha e se encara. Tudo da gente tem a divertida mania de meio que “exagerar” com alguns fatos, e quem sou eu pra dizer que não? Até que porque, como pernambucano, eu concordo com tudo (rs). Pois, saibam de mais uma grandiosidade pernambucana: a primeria cerveja artesanal das Américas foi produzida em Pernambuco pelo mestre-cervejeiro Dirck Dicx, trazido pelo Conde Maurício de Nassau durante o domínio holandês. Pelo menos assim reza a lenda. É com esse pensamento Jadir Rocha, Ilceu Dimer e Luciano Fialho entraram nessa sintonia da pernambucanidade e apresentaram na última segunda, dia 18/09, na Beerdock de Boa Viagem, a Dimer e Fialho Consulting. Trata-se da primeira Consultoria com expertise no produto “Cerveja Artesanal”. Nascida de uma fusão da pernambucana Contti Auditoria e Consultoria Contábil e a gaúcha Dimer Consultoria. A ideia é prestar um serviço completo no que diz respeito a cervejas artesanais, tanto aqui quanto em outras regiões. Desde um planejamento estratégico geral para criação de um plano de negócio, contando também com toda a assessoria necessária para a sua implementação. O potencial é realmente promissor pelo simples fato do Brasil ser o terceiro maior produtor de cervejas artesanais do mundo. Sendo que 91% destas se encontram no Sul/Sudeste do País. Ou seja, um vasto mercado ainda se encontra aberto para que seja explorado. O mercado de cervejas artesanais vem crescendo anualmente, mesmo em tempos de crise econômica. Alguns anos mostrou diminuição no crescimento e não de queda, o que mostra que o setor vem realmente se consolidando e dando passos importantes e profissionalizando suas operações. Para se ter uma ideia, em 2005 havia no país 46 cervejarias artesanais, na última contagem em 2015 já contava com 372. Um crescimento absoluto de impressionantes 700%. Com números tão animadores um dos objetivos da consultoria é impulsionar Pernambuco a se tornar um Polo Cervejeiro e com isso se tornar referência no Norte/Nordeste. Atualmente Pernambuco conta com nove cervejarias artesanais (não estou contando as informais)  que produzem e comercializam seus rótulos, são elas: DeBron, Ekäut, Capunga, Duvália, Babylon, Patt Lou, Pernambucana, Haus (Petrolina). Em outubro tem início de produção a Navegantes, a caçula do seleto grupo. Potencial e talento nosso Estado tem de sobra, Nassau nos fez um grande favor em trazer Dirck Dicx para nos inspirar, mãos à obra! *Rivaldo Neto é designer e apreciador de boas cervejas (neto@revistaalgomais.com.br)

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Transe e deixe transarem

*Por Beatriz Braga Max morava ao lado do bar em que estávamos. Ele, com seu micro short prateado brilhante, jaqueta cinza e longos cabelos loiros, desceu para dar uma olhada no movimento da madrugada. Elogiei o look e viramos amigos. Mais cedo, um homem tranquilamente caminhava na rua vestindo apenas uma espécie de cueca descolada em um dia ensolarado. Na porta de uma loja, o aviso: “São Francisco aceita todo o tipo de gente”. O alerta chamava imigrantes sem documentos, qualquer raça, orientação sexual, gênero… “Seja quem for, você está seguro aqui”, completava. Esta cidade é uma aula de convívio para o mundo. Nos bares, nas ruas, vemos casais gays, héteros, poliamor. Jovens e pessoas mais velhas frequentam as mesmas baladas na madrugada. É uma explosão de diversidade de cor, origens e carinho. Max nos disse que SF é assim porque, em algum lugar, os “weirdos” tinham que se agregar. A minha aposta é diferente. Em essência, sob a superfície, todos nós somos weirdos. Somos feitos de um quebra-cabeça com centenas de peças diversas que fazem de nós quem somos. Mas ao crescermos em um lugar onde ser diferente não é ok, somos orientados a seguir o rebanho. Crescemos camuflados, tolhemos nossas peças dissonantes e não nos damos conta disso. No Brasil, agora, homossexualidade pode ser considerada doença. Apesar de estar viajando no oásis californiano, hoje tomei café ao som das palavras odiosas de Trump. Aparentemente vivemos tempos bipolares. Enquanto uma parte do mundo evolui para celebrar a diversidade, outra retrocede. São Francisco é resistência. E nós, do lado verde e amarelo, andamos para trás. Por isso precisamos, cada um, ser um pedaço da resistência também. O short prateado de Max é um exemplo banal, eu sei. Mas de onde eu venho, a maioria das pessoas não parecem estar preparadas nem para esse começo de liberdade. Quando penso em enfrentar os que confundem amor e doença, acredito que o time dos que acreditam na igualdade precisa estar fortalecido. Estou rodeada de pessoas que constantemente levantam a bandeira da diversidade. Mas se estamos em um bar e alguém com um cabelo bem diferente entra pela porta, elas ainda vão olhar e comentar. O primeiro passo é reconhecermos nossas hipocrisias do dia a dia e lutarmos contra elas. Sejamos, simplesmente. E deixemos os outros serem também. Quando um dos meus irmãos me contou que é gay foi um dos momentos mais felizes da minha vida por motivos que merecem um texto só para isso. O fato veio para mim naturalmente, como deve ser. No entanto, sempre achei muito estranho o fato de alguém precisar justificar por quem se atrai ou deixa de se atrair. Notei que as pessoas esperavam que eu fosse até elas e contasse a grande novidade. O mesmo aconteceu quando uma das minhas melhores amigas se assumiu lésbica. As mesmas pessoas que reclamam de Malafaia, têm medo de Bolsonaro e postam arco-íris nas redes sociais, ainda falam coisas como “sabe quem é a nova lésbica da cidade? ” Percebi que, na prática, as pessoas não sabem lidar com uma notícia que nem deveria ser notícia. Ser gay é um dos milhares de detalhes que fazem do meu irmão e da minha amiga dois dos seres humanos mais incríveis que a Terra já teve a sorte de abrigar. Nunca precisei justificar a minha preferência por homens e ninguém deveria ter que fazê-lo. Sabe o que as pessoas fizeram quando um homem de tranças longas, barriga de fora e calça rosa pink passou na rua em São Francisco em um dia comum? Nada. “Eu fico achando que estou em um sonho”, falou um potiguar, que mora aqui com o marido, sobre ter encontrado o seu lugar no mundo. O nosso dever na vida é conceder a liberdade para o outro para ser quem se é em todos os níveis. Dos shorts prateados aos seus desejos mais profundos. “You are safe here”, repito para mim com um suspiro brasileiro. Que inveja, São Francisco. Algo me diz que viajamos para entender e voltamos para lutar. Para estar lá, atenta, a cada comentário, constrangimento e olhar torto. “Transe e deixem transarem”, será meu lema constante. E quanto a você, São Francisco, está seguro dentro de mim.

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Grãos - Como criar uma filha feminista - Por Beatriz Braga

*Por Beatriz Braga Ela é ainda um grão e eu já espero tanto dela.  Eu sou deliberadamente apaixonada pelo futuro. Acredito no potencial de renovação de cada geração e cada vez que alguém especial engravida, meu coração fica mais esperançoso. Quando ela me disse que estava carregando um ser do tamanho de um grão de lentilha no ventre, imaginei o longo caminho de transformação que ele ainda passaria e desejei que fosse leve. O ser ainda não tem rosto ou pés, mas tenho certeza que o que espera por ele é grandioso: uma noção de respeito e incentivo. Se fosse homem, aprenderia a respeitar desde o começo e seria incentivado a ser o que quisesse, a aceitar suas características femininas e a se desprender desse conceito de “homem macho”. Sendo mulher, aprenderia a exigir respeito, ser independente e a se amar. Quem sabe, um ou outro, aprenderiam a ser livres e ajudariam a construir um mundo no qual os gêneros não nos definissem. Acabou que se descobriu menina. Eis o que acho: Moema terá a base para ser forte, para se amar independente de padrões externos e encontrará, em casa, um grande exemplo de sabedoria no qual pode se espelhar.  Assim espero também para Francisco, Alice, Cecília, Bernardo, Benício e Sophia. E todas as crianças do mundo. Afinal, elas são o futuro. Essa última desenhou suas mães e escreveu “o amor é o que importa”. Mais esperta que muita gente adulta, não acham? Uma amiga, certa vez, disse que não queria ter filha para que ela não passasse por situações parecidas com as que viveu. E completou em seguida: também não aguentaria ter um filho que pertencesse ao círculo machista. Retruquei que, independente de sexo, talvez sua futura cria pudesse fazer a diferença. Quando soube do grão, reli o livro de bolso da nigeriana Chimamanda Adiche “Para educar crianças feministas”. Eu já havia presenteado a sua mãe com “Sejamos todos feministas” da mesma autora. Na obra lançada este ano, a escritora responde a uma amiga que lhe pergunta conselhos sobre “como criar uma filha feminista”. Aqui, elenco meus preferidos (não se preocupe com os spoilers, o manifesto tem muito mais a oferecer). DECIDA O QUE NÃO DIRÁ PARA SUA FILHA A linguagem é poderosa. Toda vez que as crianças ouvem “você está chorando como uma menina”, “isso é coisa de menininha”, “só podia ser uma mulher”, automaticamente absorvem que ser menina é ser frágil, indefesa, inferior e você entende onde isso vai acabar, não é? Uma amiga de Chimamanda decidiu nunca chamar a filha de princesa. “Princesa vem carregado de pressupostos sobre sua fragilidade, sobre o príncipe que virá salvá-la, etc. Essa amiga prefere ‘anjo’ ou ‘estrela”. Usemos a linguagem a nosso favor. FAÇA COM QUE ELA LEIA LIVROS. SE PRECISAR, PAGUE POR ISSO. A filha de uma amiga da escritora não gostava de ler. A mãe, então, pagava cinco centavos por página lida. Mais tarde, disse ela, saiu caro, mas valeu a pena. A dica de Chimamanda é quase simples: leia e sua filha entenderá que ler é uma virtude. Se ela não entender assim, pagar é uma opção. “Os livros vão ajudá-la a entender e questionar o mundo, vão ajudá-la a se expressar, vão ajudá-la em tudo que ela quiser ser - chefs, cientistas, artistas”. Poderoso! CERQUE-A DE HOMENS E MULHERES QUE COMBATAM ESTEREÓTIPOS (QUALQUER UM DELES) Crianças se guiam pelos exemplos. Então encontre pessoas que combatam estereótipos e deixe claro o quanto você os admira. Sempre que uma criança conhecer um homem que ama cozinhar e faça isso para toda família, por exemplo, logo vai descartar frases sexistas como “cozinhar é coisa de mulher”. Talvez esse seja seu conselho mais importante: circunde-se de homens e mulheres que possam dar alternativas reais aos modelos de gêneros tradicionais cultuados na sociedade. SE DESFAÇA DE SUAS PRÓPRIAS AMARRAS Uma frase curta para o possivelmente maior desafio de uma mãe: “para garantir que a filha não herde nenhuma vergonha sua, você precisa se libertar da vergonha que você mesma herdou”. “Nunca associe sexualidade e vergonha. Ou nudez e vergonha. Nunca transforme a virgindade em foco central. Ensine a rejeitar a associação entre vergonha e biologia feminina”. Entre vários outros conselhos, a nigeriana sugere que se compre trenzinhos e blocos (e bonecas também, se quiser) e incentive suas filhas a criarem, a serem ativas e a valorizarem suas identidades e aparências. “Vou tentar”, a destinatária responde. “Eu também”, diz a autora. Que bom seria se todos nós tentássemos. Para todos aqueles que ainda não perceberam o valor do feminismo, esta frase dessa mulher incrível é a minha preferida: “quando há igualdade não existe ressentimento”.

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Todas as Marias (Por Beatriz Braga)

A pior ligação que já recebi foi num domingo à noite quando ela, do outro lado da linha, procurava algum conforto do lado de cá. Entre gritos e choros, minha amiga tentava dimensionar a agressão do namorado que acabara de acontecer. “Um monstro”, concluímos. Não sei o que doeu mais: ouvir tudo aquilo ou vê-la voltando para o relacionamento um tempo depois. Ela é dessas mulheres cheias de energia, maravilhosa. O cara é daqueles boa-praça, que todos adoram, aparentemente um homem bacana. Provavelmente doeu mesmo foi quando percebi que estávamos enganadas. Ele não é um monstro. Monstros são anomalias, deformidades, seres contrários à natureza. Ele é um homem comum, “de bem”, desses que circulam nas festinhas, popular. E são exatamente caras como ele que protagonizam os piores dias da vida das mulheres ao meu redor. Não são corcundas, não têm caras peludas e não vivem em cavernas. No dia 7 de agosto, a Lei Maria da Penha completou 11 anos. A mulher que deu nome à lei foi baleada pelo marido, ficou paraplégica e viu sua história servir de inspiração para milhares de brasileiras. No aniversário do marco, porém, os números não são bons. Segundo o Mapa da violência, há 13 feminicídios por dia no Brasil. Somos o quinto país que mais mata mulher no mundo. Em 2016, 503 mulheres sofreram agressão a cada hora. Em 61% dos casos, os algozes eram do seu círculo mais próximo de convívio (Datafolha). Nós não escolhemos dividir nossos travesseiros com monstros, mas infelizmente somos todos produtos de uma sociedade machista. Esses homens, em algum momento de suas criações, aprenderam a ver as mulheres como suas propriedades. A violência física normalmente vem depois que a agressão psicológica já causou sérios danos a quem sofre. Uma das várias faces do abuso é fazer com que a vítima se sinta culpada por aquela situação. A amiga lá de cima me disse: “Fui percebendo que ao lado dele eu ficava calada na frente de outras pessoas, porque tudo que eu dizia era motivo de briga”. De outra escutei dizer simplesmente “sou fraca” em uma conversa sobre amor. No livro “Vagina”, Naomi Woolf conta que uma das frases mais ditas por mulheres violentadas é que elas se sentem “um lixo”. Certa vez escutei de um ex-namorado que meu maior defeito era ter muitas opiniões. Essas opiniões são justamente o que fazem de mim quem eu sou. E por algum tempo me pus a pensar que havia algo errado com isso. Relacionamentos abusivos nos distanciam de nós mesmos. De repente, afundamos em um ciclo repetitivo de maus-tratos, desculpas, dependência e, o pior, culpa. Se você se considera a feminista, provavelmente já escutou alguma brincadeira sobre odiar homens. Eu não os odeio. Entre as cinco pessoas que mais amo, quatro são homens. Só que estamos cansadas. De enxugar tantas lágrimas. De ouvir tantas desculpas. De ter que lidar com tamanha quantidade de bobagens. De ver mulheres incríveis sofrendo por homens comuns. Trago, porém, uma boa notícia. Digo-lhes a cena que recentemente vi: um grupo de mulheres jovens, trabalhadoras e fortes conversando sobre as “fogueiras” que haviam pulado (lê-se: os namoros nocivos deixados para trás). A mulher do começo da coluna, hoje, cuida bem de suas feridas para redobrar a força redescoberta. E jamais se cala por nenhum outro homem. É difícil encontrar entre as mulheres que conheço as que não passaram por um relacionamento abusivo. No entanto, cada vez mais, é comum nos enxergarmos deixando-os ir embora. “Os homens vão ter que mudar porque as mulheres simplesmente não vão mais aceitar”, ouvi. O mundo ainda é um lugar perigoso para ser mulher. A denúncia e a renúncia de relacionamentos abusivos vêm com vários complicadores: dependência emocional, patrimonial, vergonha, humilhação... mas vai chegar a hora, e eu acredito muito nisso, que os homens não terão mais escolha: ou respeitam ou ficam sós. Entre homens e opiniões, ficaremos sempre com nossas ideias, roupas e boas escolhas. Estaremos sempre um passo à frente. E assim levaremos outras mulheres. Todas as Marias que, por bem, quiserem ir junto.

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De clichê nós entendemos (Por Beatriz Braga)

Certa vez, uma amiga - que havia ganhado uns quilos na época - me contou que não conseguia chegar perto de revistas femininas. Disse-me que só o faria depois que voltasse a emagrecer. De tortura, falou, já bastava a vida real.  Mulheres seminuas de corpos inatingíveis em propagandas de sapatos, bolsas, óculos de sol. O que vale é vender um padrão de beleza inalcançável e a ilusão de que a marca pertence a ele. Nos últimos dias, a entrevista polêmica de Washington Olivetto virou trends topics, ao mesmo tempo em que a agência Think Eva lançou o estudo Compromisso Inegociável sobre o feminismo na comunicação. Na entrevista, um dos mais reconhecidos publicitários do país compara mulheres a porsches e diz que “empoderamento feminino” é um clichê constrangedor. Eu concordo que exista oportunismo no setor publicitário e muitas vezes o serviço prestado seja precário. Mas o novo feminismo vai muito além de um lugar-comum e o mercado está aprendendo com isso. De clichê nós entendemos. Sábado passado, no restaurante, vimos a cena clássica. Pai, mãe e dois filhos à mesa. A mãe corta a comida de um filho e a segunda criança espera ansiosa a sua vez chegar.  Depois de cortar cada pedaço de carne do primeiro, a mãe se ocupa da segunda cria. Esta, sentada ao lado do pai que, apesar de saudável, hábil e capaz, já estava no meio da refeição quando a esposa acabou a tarefa doméstica e pôde começar a comer. Não me cabe julgar aquela família em particular, mas eu julgo a regra do jogo. A quantidade de vezes que a mesma cena se repete. Esse é o clichê desgastado que vivemos todo dia. “A mulher se sente moderna porque tem um smartphone, um carro, porque trabalha. Mas ela ainda chega em casa e precisa dar papinha para o filho”, diz Djalma Ribeiro no estudo da Think Eva. Avançamos muito até agora? Sim. Mas, como mostra o relatório, estamos engatinhando. Se nos anos 1900 o marketing da época associava mulheres e eletrodomésticos como uma dupla indissociável, os anos 2000 estão revolucionando esse conceito. A internet permitiu o diálogo entre consumidores e empresas e ficou claro que as pautas femininas não podem ser ignoradas. O resultado nem sempre é satisfatório. Mas é o começo. Revistas femininas continuam nos fazendo sentir péssimas. A mídia continuar a pintar um mundo sem celulites, estrias e mulheres superpoderosas que fazem tudo sem sair do salto. O discurso continua, muitas vezes, raso. Somos o segundo país que mais faz cirurgia plástica do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. A publicidade brasileira tem papel determinante na manutenção do status quo. Agora queremos ir além de comerciais legais defendendo a igualdade, a beleza real e a diversidade. O mercado publicitário pode ter se apropriado da causa, mas em casa, nos restaurantes, na vida, pouca coisa mudou. Queremos a igualdade virando a regra. Comparar porsches a mulheres certamente não vai ajudar. É um desserviço. Falar sobre empoderamento, sim, vai nos fazer avançar (ou “pregar”, se Olivetto preferir chamar dessa forma). O empoderamento feminino não é o resultado de um jogo cíclico de mercado. É uma demanda crescente que surgiu com Dandara, Betty Friedan, Simone de Beauvoir, Mary Wollstonecraft. E persiste.  Não é moda passageira. É fácil um homem branco, hétero, classe média ou mais, dizer que o mundo está chato. O preconceito e o machismo têm perdido a graça. E quem não souber lidar com isso vai ficar para trás. Empresas e seres humanos. Que bom. Como diria meu pai, se fosse para escolher uma época para viver, optaria pelo futuro. Quem sabe não está ainda mais “chato” por lá. Os que estiverem achando ruim, podem se deleitar com o passado que ainda existe por aqui.   Veja também: Mulheres adoecem em busca da beleza

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Dança comigo? (Por Joca Souza Leão)

Era uma luta. Travada em vários ringues e rounds. Esse negócio de dançar solto, que nem hoje, um fazendo moganga na frente do outro, é fácil. Quero ver dançar junto (agarradinho, então, nem se fala) como era naquele tempo. Um pro lado, dois pro outro e uma voltinha. Samba-canção e bolero. No ritmo. Conduzindo a dama. Sem lhe pisar o pé – o que seria uma tragédia. Mas, entre todas as tragédias, a da pisadela não era a maior. Maior, muito maior, era que a moça, ao ser tirada para dançar, estava sentada à mesa e se, ao levantar, fosse mais alta do que eu? Também era possível, e, por vezes, até, previsível, levar um golpe certeiro: o corte. “Dança comigo?” “Não, obrigada.” A turma da Rua Nicarágua (meu irmão Caio, Zé Fernando, Bel e Arlindinho) ia pras festas e eu ia na onda (melhor, ia à luta). Português, Internacional, América, Náutico e Iate, porque ficavam perto de casa. No Carnaval, também Atlético, Aeroclube e Cabanga. Ninguém era sócio de nenhum deles. Nem tinha grana para comprar ingresso. Mas a gente ia. “Não sei dançar”, confessou Manuel Bandeira num poema. “Uns tomam éter, outros cocaína.” A gente tomava conhaque Dreher e rebatia com chope, dois ou três, num bar dos Quatro Cantos, nas Graças, como preparação para enfrentar a entrada nos clubes – cada caso era um caso e só se sabia como resolver quando chegava lá, à porta – e coragem para tirar as meninas para dançar. Haja coragem! Lembro-me de duas vezes que a gente não conseguiu entrar. Melhor, entrou e teve que sair. Uma, no Aeroclube, pelo mangue. Sapatos na mão e calças arregaçadas. Mas era tanta lama nas pernas, sem ter onde lavar, que desistimos. Outra, no América. Quando pulamos o muro lateral, estávamos a poucos metros de uma guarnição da Rádio Patrulha. “Vocês vão sair por onde entraram” – disse o sargento. Ora, para entrar, a gente tinha pulado por cima do arame farpado que havia por toda a extensão do muro. “Voltar? Nem James Bond” – disse eu. O sargento riu. E nós saímos humildemente pela porta da frente. Mas o baixinho aqui tinha suas estratégias antes de tirar uma moça para dançar. Sentava numa cadeira à distância e tentava calcular a altura da dama pretendida. Devo, porém, confessar: não raro, meus um metro e 66 centímetros eram fragorosamente batidos por um reles salto 7¹/². Ou um cabelo armado com laquê. Verão de lascar. Terno de tropical azul-marinho ou preto, camisa social e gravata. Conhaque Dreher e chope. Tensão. “Será que ela é mais alta do que eu?” “E se me der um corte?” “E se eu pisar no pé dela?” “E se ela usar o para-choque (a mão esquerda na clavícula da gente para manter a distância)?” “E se...” “E se...” O resultado era uma suadeira danada. Suava tanto que, muitas vezes, era eu que pedia pra parar. Dançar coladinho hoje? Nem pensar! A gente pode ser processado por assédio. Segundo o cronista Mário Prata: “Se colar a parte de baixo, é baixaria.

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Marcado por saída de cineastas e adiamentos, enfim começa o Cine PE (Por Wanderley Andrade)

Após dois adiamentos, teve início ontem mais uma edição do Cine PE. O festival chega a sua maioridade (21ª edição) em um ano de crise financeira e de muita polêmica, provocada pelo protesto de um grupo de realizadores que retirou seus filmes por não concordar, conforme divulgado em um manifesto, com a “escolha ideológica” das produções. A diretora do festival, Sandra Bertini, abriu o evento falando sobre sua paixão pelo cinema. Emocionada, relembrou fatos de sua infância, época em que deixava de brincar com as amigas para ficar em casa assistindo aos filmes que eram exibidos na TV. Antes das mostras competitivas, foram exibidos quatro curtas de animação em stop motion realizados por professores e estudantes de três escolas públicas do Recife. O projeto é fruto de uma parceria entre o Cine PE e a Prefeitura do Recife. A equipe também produziu o vídeo de divulgação do festival. Destaque para o curta A Lição, que trata do desrespeito de muitos motoristas em relação às vagas de estacionamento reservadas para idosos. O filme Los Tomates de Carmelo, do recifense Danilo Baracho, abriu a Mostra Competitiva de Curtas Pernambucanos. O ano é 1941. Na história, Carmelo (Juan Antonio Quintana), já idoso, vive sozinho na comunidade espanhola de Castilla y León. Triste, sabe que dificilmente conseguirá plantar seus tomates, pois a falta de chuvas endureceu o solo da sua pequena propriedade. Chama a atenção a bela fotografia do curta. As poucas cores transmitem muito bem toda a secura do cenário e da solidão enfrentada pelo protagonista. Compondo a Mostra Competitiva de Curta Nacional, foi exibido o curta Diamante, O Bailarina, que tem como protagonista um jovem lutador de boxe que à noite larga os ringues para trabalhar como transformista em uma boate. “Voe como uma borboleta, mas ferroe como uma abelha.” A conhecida frase do pugilista norte-americano Muhammad Ali que dá início ao filme, ilustra muito bem o drama vivido por Diamante, interpretado pelo excelente ator paulista Sidney Santiago. A diversidade de papeis vividos por Diamante, ora lutador, ora travesti, dita o ritmo da história, que trata em sua essência do preconceito e da intolerância. A primeira noite do festival chegou ao fim com o longa-metragem Real, O Plano Por Trás da História. Antes da exibição, o produtor Ricardo Fadel Rihan falou sobre o projeto. Defendeu a necessidade de uma cultura plural, em resposta à crítica de que o longa teria um viés de direita: “Precisamos de narrativas diversas, diferentes.” O discurso do produtor foi recebido com um misto de vaias e aplausos. No início do filme, muitos deixaram o cinema. Confira a programação completa do Cine PE.

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A internet, avalanche informacional e filtros

Passamos grande parte do nosso dia conectados. Hoje em dia, é possível afirmar que grande parte do conteúdo a que temos acesso é filtrado de alguma forma, seja pelo Google, Facebook ou outra rede social. Dados divulgados pela Cisco (uma das maiores empresas de gestão de redes do mundo) dão conta de que estamos diante de um número de informações disponíveis na internet suficiente para atingir um novo marco, o zettabyte, nova unidade de medida para quantificação de dados digitais. A quantidade de informação gerada na rede a cada segundo supera o limite do que uma pessoa é capaz de ler em toda uma vida. Para muitos autores, vivemos uma era do excesso de informações. Não há dúvidas sobre o papel da internet neste cenário. Através da World Wide Web, é possível acessar conteúdos a qualquer hora, de qualquer lugar, além de gerar conteúdo de forma a obter alcance mundial. No Brasil, mais da metade da população tem acesso à rede, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao mesmo tempo, estudos, como da empresa E.Life e do American Press Institute, revelam que, cada vez mais, as pessoas estão se utilizando da internet como principal fonte para busca de informações, seja através dos portais de notícias, seja utilizando agregadores de conteúdo ou redes sociais. Em meio a esta realidade, acabamos lançando mão de ferramentas que auxiliem na escolha do que merece nossa atenção. Através de algorítimos desenvolvidos para sugerir conteúdos baseados em equações, as informações são selecionadas e categorizadas para serem exibidas nas linhas do tempo de redes sociais e agregadores de conteúdo. Vivemos em uma época de opostos – excesso de informação e de filtros, segundo o pesquisador Eli Pariser, em seu livro "O Filtro Invisível". Nesse cenário, precisamos ficar atentos para evitar que tantas ferramentas de filtragem acabem nos colocando dentro de uma bolha, sem acesso a fatos e opiniões contraditórias, fundamentais para a sustentação do ambiente democrático. Assim, cabe a nós assumirmos uma postura ativa na busca por informações que possam nos fornecer um recorte amplo da realidade para formarmos nossa opinião.

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Sofá ou cinema? (Por Ivo Dantas)

Nos últimos anos um debate vem crescendo dentro da indústria cinematográfica. Modelos como o do Netflix irão acabar com o cinema? De antemão, minha resposta é direta: não! A verdade é que a revolução dos serviços de streaming vem na esteira de uma demanda latente que foi, durante muito tempo, ignorada pelas grandes produtoras. O consumo de produtos piratas remetia a mais de uma conclusão. Para além da questão meramente financeira, de serem mais baratos, muitas das pessoas que consumiam as mídias ilegais o faziam para não ter que ir até o cinema ver um filme. O consumidor passou a ser mais exigente. Quer o seu desejo atendido do modo que ele entende que é o melhor para si. Baixar filmes tem muito disso. Pegar uma pipoca, ligar o computador, cruzar as pernas no sofá e.... pronto. O Netflix viu esse mercado. O que é o Netflix se não a comodidade de ver conteúdos sem precisar apertar mais do que dois botões. Prova maior disso é que o mercado de filmes ilegais sofreu grande impacto após o crescimento do serviço de streaming. Mas o Netflix foi além. Entendeu que as produtoras começariam a criar seus próprios serviços para concorrer com ele. Qual a solução? Vamos criar conteúdo próprio – de qualidade – e baseado na DEMANDA DO CONSUMIDOR. Hoje, o Netflix tem seu reinado garantido justamente por esse material exclusivo que conta em sua biblioteca. Por isso, quando vejo polêmicas como a entre Almodóvar e Wil Smith (http://www.adorocinema.com/noticias/filmes/noticia-130933/), só enxergo resistência, apego a um modelo que não atende mais ao que o consumidor quer. Cinema ou Sofá depende de cada um, mas acreditar em um purismo da sétima arte é simplesmente não querer enxergar a realidade.

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Monumento aos Mártires de 1710, 1817 e 1824 (Por Leonardo Dantas Silva)

Das antigas províncias formadoras do território nacional, nenhuma contribuiu com o maior número de mártires em favor da causa da liberdade do que Pernambuco, haja visto a imensa lista de condenados à pena capital nos movimentos emancipacionistas de 1710, 1817 e 1824. Numa consulta à História de Pernambuco, veremos que todos os movimentos emancipacionistas aqui originários estavam inspirados no orgulho nativista dos Restauradores de 1654. Uma mesma ideologia, a de que os antepassados pernambucanos conquistaram esta terra aos holandeses e que doaram a El-Rei de Portugal debaixo de certas condições, se repete ao longo de todas as revoluções e vem explicar o ideal republicano da gente de Pernambuco. Esse comportamento é uma constante em quase todos os movimentos revolucionários como bem observou Evaldo Cabral de Mello, “uma espécie de doutrina das relações entre a Capitania e a Coroa”. Falta a essa legião de mártires o reconhecimento da gente pernambucana que, até o momento, em que pesem às comemorações pelo transcurso do segundo centenário da Revolução de 1817, ainda não tiveram os seus nomes gravados em um grande bloco de granito a ser colocado na Praça da República. Assim sendo, estamos propondo a construção deste Monumentos aos Mártires da Pátria, constituído de um bloco de granito de cinco metros, inclinado sobre o jardim central da Praça da República, no qual, em sua face polida, sejam talhados os respectivos nomes dos que deram a vida pela causa da liberdade, de modo a ser conhecidos e reverenciados pelas gerações do presente e do futuro. O IDEÁRIO PERNAMBUCANO O sentimento de pernambucanidade que nos move ao longo dos séculos é derivado da doutrina formadora do sentimento nativista presente nas guerras que antecederam a Restauração Pernambucana de 1654: A gente da terra deveria à Coroa não a vassalagem ‘natural’ a que estariam obrigados os habitantes do Reino e os demais povoadores da América Portuguesa, mas uma vassalagem de cunho contratual, de vez que restaurada a capitania do domínio dos Países Baixos, haviam-na espontaneamente restituído à shttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgania portuguesa (Evaldo Cabral de Mello in Rubro Veio) Quando da revolta dos habitantes de Olinda contra os do Recife, em que se falou na criação de uma república nos moldes venezianos, proclamada em 7 de novembro de 1710, surgiu que veio a ser consagrada pela expressão do escritor José de Alencar (1829-1877) de Guerra dos Mascates; título inspirado na da publicação do romance publicado em 1873. Tratava-se pois de um movimento com um ideário separatista, defendido por alguns dos seus líderes de sentimentos antimonárquicos, falando-se em transformar Pernambuco em uma república, “ad instar a de Veneza”, ou em um governo autônomo “sob a proteção do Rei de França”. No dizer do conselheiro Antônio Rodrigues da Costa, em pronunciamento perante o Conselho Ultramarino (Lisboa), “uma sublevação formal e abominável, de que não há exemplo na Nação Portuguesa, sempre fiel e obediente aos seus legítimos Príncipes”. Temendo pela sua segurança o governador português Sebastião de Castro Caldas foge para Bahia, deixando no governo da capitania o bispo dom Manuel Álvares da Costa, que vem governar Pernambuco até 10 de outubro de 1711, quando é substituído por Felix José Machado de Mendonça Eça Castro e Vasconcelos. Este, nomeado pela Coroa portuguesa, aqui permanece até 1º de junho de 1715, quando retorna à Lisboa (Loreto Couto). No período do seu governo, Felix Machado, a propósito de um suposto plano para assassinar o governador, mandou prender e enviar ao Reino os principais responsáveis pelo primeiro levante, ao arrepio do perdão régio que lhes fora anteriormente concedido por D. João V, segundo bem esclarece Evaldo Cabral de Mello: “Pela portaria de 16 de fevereiro de 1712, o novo governador ordenou a João Marques Bacalhau que, com o auxílio dos oficiais da justiça e da milícia, procedesse à detenção de quinze indivíduos. A lista compreendia Leonardo Bezerra Cavalcanti; seus filhos Cosme e Manuel Bezerra Cavalcanti; seus irmãos Cosme Bezerra Monteiro, Manuel e Pedro Cavalcanti Bezerra; André Dias de Figueiredo e José Tavares de Holanda; João de Barros Rego; Bernardo Vieira de Melo e seu filho André; Matias Vidal de Negreiros; João de Barros Correia; Matias Coelho Barbosa; e Sebastião de Carvalho Andrade.” Recolhidos à cadeia do Limoeiro, em Lisboa, pouco se sabe do final do processo desses pernambucanos, mas tão somente o que nos informa Rocha Pitta, concluindo pela absolvição dos acusados, “fazendo embarcar só dois para a Índia em degredo perpétuo”. Ocorre, segundo pondera Evaldo Cabral de Mello (Fronda dos Mazombos; 1995), que quando a sentença absolutória vem a ser prolatada, “já havia poucos a perdoar, pois nada menos de oito presos haviam falecido no Limoeiro”. Graças às certidões de óbito fornecidas pelo vigário da paróquia de São Martinho, freguesia da Alfama, na qual localizava a cadeia do Limoeiro, “pode-se reconstituir esta intrigante sucessão de mortes”: Manuel Cavalcanti Bezerra (8.1.1714); Bernardo Vieira de Melo (10.1.1714); André Vieira de Melo (10.4.1715); Cosme Bezerra Monteiro (10.5.1715); João Luís Correia (9.6.1715); Matias Coelho Barbosa (13.4.1716); Manuel Bezerra Cavalcanti (11.9.1717); André Dias de Figueiredo (27.11.1718). Conclui José Antônio Gonsalves de Mello, que, pela interligação de um ideário de liberdade dos pernambucanos que remonta “à vitória sobre os holandeses e se renova não só em 1710, aqui referido, como ainda em 1817, 1824 e 1848. Dentro dessa linha de reivindicações, aqueles que pagaram então com a vida, nas celas do Limoeiro, seu ideal político de participação no governo de sua terra, estão na companhia de outros mártires pernambucanos como o padre João Ribeiro, frei Caneca e Nunes Machado”. Por conta da proclamação das República de 1817, treze presos foram condenados à morte. Quatro foram fuzilados em Salvador e nove foram enforcados no Recife, sendo depois seus corpos esquartejados, com as cabeças e mãos expostas em diferentes locais públicos de Pernambuco e da Paraíba, e os troncos amarrados e arrastados por cavalos até o cemitério. Morreram como consequência direta no envolvimento da revolução em 1817: No Largo do Erário (atual Praça da República), depois denominado de Campo da Honra, em 8 de julho de 1817, os capitães Domingos Teotônio Jorge Martins

Monumento aos Mártires de 1710, 1817 e 1824 (Por Leonardo Dantas Silva) Read More »