Rafael Dantas – Página: 432 – Revista Algomais – a revista de Pernambuco

Rafael Dantas

Rafael Dantas

Recife Cidade-Parque aos 500 Anos

Victor Hugo, o grande escritor francês, uma vez disse: “Nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.” A meu ver, essa frase se aplica na integra à descoberta feita pelo grupo de pesquisa do Parque Capibaribe, convênio entre a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife e a Universidade Federal do Pernambuco, de que o Recife ainda pode vir a ser uma cidade-parque até completar 500 anos em 2037. Os pesquisadores do Parque Capibaribe (mais de 50 da UFPE e da UFRPE) chegaram a essa conclusão depois de projetarem a recuperação da cidade a partir do rio, começando pelo parque do seu entorno, depois sua ampliação, em cinco anos, para o parque irradiado da cidade e, por fim, na terceira cena até 2037, a cidade-parque com a ampliação da área verde atual por habitante dos ínfimos 1,2 para os 12 metros quadrados recomendados pela ONU (incorporando ao uso público cerca de 2 mil ha das áreas verdes de Dois Irmãos/Guabiraba, Brennand e Parque dos Manguezais). O fantástico desta projeção é que ela recupera a esperança ambiental, em forma de sonho possível, para uma cidade cuja carência de planejamento e de perspectivas de futuro, há décadas, fez com que não só seu tecido se fragmentasse (a ideia que me dá hoje é de um quebra-cabeças desmontado) como se fragmentasse também a ideia de cidade na cabeça das pessoas dando asas à moda, um tanto cult, de falar mal dela (#hellcife, #recifede etc). Só por isso, por trazer de volta a esperança tecnicamente embasada de uma cidade bem melhor dentro de um horizonte de tempo razoável (cerca de 20 anos), num ambiente em que a desesperança passou a imperar, já merece ser seriamente considerada e amplamente debatida. Em especial neste momento em que se começa a discutir, de forma estruturada, o futuro econômico, social, ambiental e espacial da nossa capital no projeto Recife 500 Anos coordenado pela Aries – Agência Recife de Inovação e Estratégia. Até onde entendo, o conceito do Recife Cidade-Parque, esboçada a partir do Capibaribe como fio condutor e recosturador do território fragmentado, tem todo potencial de ser a diretriz estruturadora da dimensão espacial do Recife 500 Anos. Deixar passar esse verdadeiro ovo de colombo urbanístico ou não considerá-lo adequadamente seria um equívoco que não podemos nos dar o luxo perdulário de cometer.

Recife Cidade-Parque aos 500 Anos Read More »

A voz cristalina de Paulo Molin

Américas, Europa, Ásia, África, Oceania… Nos cinco continentes, quase todos os países comemoram o Dia da Criança. Em muitos, no mês de outubro, como no Brasil. Entre nós, a data foi criada em 1924, mas só em 1960, quando a Estrela e a Johnson & Johnson lançaram a Semana do bebê robusto, começou a ser comemorada. Desde então, é de grande importância no calendário promocional das empresas. Nesta página, no entanto, não se busca falar do calendário promocional. Neste momento, o Dia da Criança é um motivo para falar de uma criança pernambucana, um menino-prodígio. Seu nome, Paulo Fernando Monteiro Molin, que ganhou fama como o pequeno grande cantor Paulo Molin, um descendente de franceses nascido no Recife em 2 de janeiro de 1938. Aos 8 anos de idade ele começou a cantar, e com apenas 12 anos gravou, em 1950, seu primeiro disco, um 78rpm, contendo as músicas Olinda, cidade eterna e Recife, cidade lendária, ambas de Capiba. Ainda tão jovem, Paulo Molin já era um cantor profissional, contratado da Rádio Tamandaré (Recife), tinha suas músicas tocadas nas emissoras de rádio de todo o Nordeste, e seus discos eram disputados. Recife começava a ficar pequena para o seu talento, levando-o a migrar para o Sudeste. Primeiro para o Rio de Janeiro e em seguida para São Paulo. Ali ele experimentou uma fase de intenso trabalho. Foi contratado pela Rádio Nacional, gravou Igarassu, cidade do passado, de Capiba, e a canção A chama, de Capiba e Ascenço Ferreira. Gravou o bolero Bem sabes, o samba-canção Por quê?, com acompanhamento de Lírio Panicalli e sua orquestra; gravou também o fox-canção Daqui para a eternidade, uma versão de Lourival Faissal; e o samba-canção Se você vai embora, de Luiz Fernando e Nelson Bastos. Naquele mesmo ano, gravou ainda o samba Não tenho lar, e participou da coletânea Carnaval 1955, da gravadora Sinter, com a marcha Não aguento este calor. Em 1955, ano que marcou o auge do seu sucesso, Paulo Molin foi tema de reportagem da então famosa Revista do Rádio, e participou do LP Feira de Ritmos, da gravadora Sinter, interpretando o fox-canção Daqui para a eternidade. Chegou 1956, e ele lançou, pela Mocambo, a saudosa gravadora pernambucana, o tango Caminho errado e o samba Desligue este rádio. No ano seguinte, gravou as baladas-rock Sereno, que veio a fazer parte da trilha sonora da novela Estúpido cupido, da Rede Globo; Como antes (Come prima), sucesso da música italiana; o samba Quem sabe; os boleros Sinto que a vida se vai e Prece do perdão; além da guarânia Serenata suburbana, de Capiba. Entrava ano saía ano, a agenda de Paulo Molin era repleta de compromissos. Em 1958, ele gravou os rocks-balada Minha janela, de Fernando César e Ted Moreno, e Se aquela noite não tivesse fim, de Nelson Ferreira e Ziul Matos. Mais um ano de trabalho intenso se passou, e chegado 1959, gravou as marchas A vida é boa e Bebo sem parar. Em 1960, ele gravou o samba Estamos quites, o bolero Fui eu, e lançou, pela Mocambo, o LP Surpresa com diferentes músicas gravadas em 78 rpm, além da balada És a luz do meu olhar, de sua autoria. Passou a integrar o elenco da gravadora Copacabana e participou da coletânea Tudo é carnaval – Nº 1 interpretando a marcha Eu não sou doutor, de G. Nunes, B. Lobo e F. Favero. Em 1961, gravou Olhando estrelas, um fox de M. Anthony e Paulo Rogério, e a guarânia A deusa da montanha, de Hilton Acioli e Marconi da Silva. Em 1962, participou da coletânea Tudo é carnaval – Nº 2, com a marcha Viva a cegonha, de Silvio Arduino e Ercilio Consoni. No mesmo ano, de volta à gravadora Continental, gravou a balada Chorando por você, de Roy Orbison e Noe Nelson, em versão de Romeu Nunes; e o samba É tua vez de sorrir, de Fernando César e Luiz Antônio. Ainda em 1962, ingressou na gravadora Philips e gravou, com acompanhamento de Portinho e sua orquestra, o bolero-mambo Teimosia e a Balada do desespero, ambas de Francisco de Pietro. No mesmo ano, gravou pela Mocambo o samba-canção Inconstante, de Aloísio T. de Carvalho, e o samba Rosa do mato, de Sérgio Ricardo e Geraldo Serafim. Em 1963, lançou, pela gravadora Philips, o LP Meu bom amigo Capiba, interpretando as belas Olinda cidade eterna, Recife cidade lendária, Praia da Boa Viagem, Maria Betânia, Cais do porto, Igaraçu cidade do passado e Que foi que eu fiz, todas composições solo de Capiba, e mais Depois, de Capiba e Talma de Oliveira; e A mesma rosa amarela, Claro amor e Não quero amizade com você, de Capiba em parceria com poeta Carlos Penna Filho. Ainda naquele ano, participou da coletânea Carnaval bossa nova, da gravadora Fermata, com a marcha Quem tem mulata, parceria dele com Vicente Longo e Waldemar Camargo. Em 1964, gravou duas marchas para a coletânea Carnaval – Vol. 1, da Philips, Balzac disse, de Denis Brean e Osvaldo Guilherme, e Me leva, de Waldemar Camargo e Vicente Longo. Assim, ao longo da carreira Paulo Molin gravou 15 discos em 78 rpm e três LPs pelas gravadoras Continental, Mocambo, Copacabana, Philips e Fermata. Foram seus anos de ouro, em que ele chegou a atuar também no cinema, fazendo parte do elenco do filme Zé do periquito, produzido e estrelado por Mazzaropi. O tempo, contudo, indiferente ao que as pessoas almejam, passara. Novos valores eram surgidos, mudavam as predileções musicais. Paulo Molin, então, resolveu fixar-se em Guaxupé, interior de Minas Gerais, onde, lado a lado com a atividade jornalística exercida na Folha do Povo, um jornal local, prosseguiu em sua carreira de cantor, embora àquela altura da vida a voz estivesse muito distante daqueles tempos do Recife. Em Guaxupé ele construiu amizades, conquistou a admiração de todos, criou fama, marcou positivamente a cidade. Tanto, aliás, que recebeu o título honorífico de cidadão guaxupeano. Paulo Molin calou-se para sempre no dia 26 de agosto de 2004, aos 66 anos, em

A voz cristalina de Paulo Molin Read More »

Virose, um diagnóstico vago?

Quem nunca saiu irritado de um consultório médico após receber um diagnóstico de virose, que atire o primeiro comprimido de anti-inflamatório. A sensação é de que os médicos já não sabem mais detectar com precisão uma simples gripe. Mas a história não é bem assim. Não é tão fácil quanto se pensa descobrir com exatidão qual a doença que acomete o paciente. Isso porque vários tipos diferentes de viroses – como gripe, dengue, zika, resfriado, mononucleose, entre outras – apresentam sintomas semelhantes, como febre, dor de cabeça, fadiga. Mas, afinal, o que é virose? “É toda infecção causada por vírus”, responde o infectologista Filipe Prohaska, do Hospital Português. Uma doença infecciosa também pode ser causada por outros tipos de micróbios – ou como dizem os especialistas micro-organismos – como como fungos e bactérias. Mas, segundo Prohaska, cerca que 90% das pessoas atendidas nas emergências com infecção possuem sintomas clássicos provocados por vírus. As viroses, porém, compõem uma gama ampla de doenças, desde um resfriado, passando pela dengue, zika, até hepatites e Aids. Boa parte daquelas que acometem os pacientes, no entanto, é benigna, os sintomas desaparecem em menos de uma semana. Além de apresentarem sintomas semelhantes, as viroses são causadas por micro-organismos que muitas vezes são difíceis de serem detectados em exames. “Muitos vírus não alteram tanto o teste laboratorial”, explica o infectologista. Na Europa, de acordo com Prohaska, já existem exames que identificam de forma mais precisa 20 tipos diferentes de vírus. A má notícia, porém, é que custam cerca de R$ 4 mil. “O custo benefício não vale a pena. Essa é uma vertente para o futuro”, estima o médico. Para algumas viroses, como a dengue, já existem testes disponíveis no País. É a sorologia, obtida por meio do hemograma. Por isso, quando você vai à emergência com sintomas de infecção o médico, muitas vezes, solicita um exame de sangue. Nele são identificados os anticorpos presentes no seu organismo, que são uma espécie de exército de defesa do nosso corpo capaz de combater os micro-organismos. Para cada tipo de vírus, existem anticorpos específicos para combatê-los. A dengue, por exemplo, é diagnosticada pela presença de anticorpos chamados  IgM e IgG. Mais recentemente a virose também é detectada pela presença de um antígeno – substância que produz anticorpos – chamado NS1. Mesmo nesse caso, porém, o diagnóstico não é tão simples de ser feito. Se o resultado der negativo para a presença dessas substâncias não significa que a pessoa não esteja com a doença. “Os anticorpos, muitas vezes, demoram a aparecer nos testes e só por volta do sétimo dia a contar do início da doença, é que vão ser detectáveis”, esclarece Danylo Palmeira infectologista dos Hospitais Jayme da Fonte e Português. Resultado: a pessoa tem o vírus mas o exame não é capaz de identificá-lo. Apesar dessas dificuldades, você pode ajudar o médico nessa difícil arte de diagnosticar a virose, oferecendo o maior número de informações sobre os sintomas. Por isso, é fundamental a chamada anamnese, isto é o interrogatório que o especialista faz nas consultas com o paciente procurando detalhes para formar um diagnóstico. “Se alguém, por exemplo, reporta que está com tosse com secreção amarelada e febre, ao invés de um resfriado ou gripe, podemos estar diante de uma infecção bacteriana, sendo necessário o uso de antibióticos”, deduz Palmeira. Não se espante se o médico não prescrever um medicamento quando você estiver com virose, porque não existem remédios que eliminem a grande quantidade de vírus que provocam a infecções como gripes, resfriados, dengue, rotavírus, entre muitos outros. Mas não se preocupe: em alguns dias a infecção desaparece. “Costumo dizer que o curso da doença não vai mudar com, sem ou apesar do remédio. O procedimento é usar medicamentos para aliviar os sintomas”, orienta Prohaska. Assim, prescreve-se um analgésico para dor, um antiemético para vômitos, antitérmicos para febre. Fique longe, porém, dos anti-inflamatórios se estiver com suspeita de dengue. “Nesse caso, pode provocar hemorragias”, alerta Danylo Palmeira. Nem pense também em tomar antibióticos. Eles só combatem bactérias. ÁGUA É importante tomar muita água pois o corpo se desidrata quando sofre uma infecção. Isso acontece porque nos vasos sanguíneos não há apenas sangue, mas água também. A febre provoca uma dilatação nos vasos expulsando essa água para outras partes do corpo. “Hidratar-se é fundamental para evitar queda da pressão arterial”, explica Palmeira, alertando que a hipotensão pode levar ao choque, um estado potencialmente letal para o organismo. Crianças e idosos devem ter atenção especial quando são acometidos por infecção, porque não costumam tomar muita água. Cuidado redobrado também com pessoas com baixa resistência, como indivíduos em tratamento oncológico, com Aids ou grávidas devido à fragilidade do seu sistema de defesa. Também é muito importante estar atento aos sinais de alerta que podem indicar um quadro mais grave. Caso a pessoa com virose sinta dor abdominal intensa, alteração de comportamento (ficar desorientada ou até agressiva), alterar o nível de consciência e ficar muito sonolenta, apresentar queda de pressão, desidratação, falta de ar, desmaios, começar a suar frio ou vomitar com muita frequência deve ser levada imediatamente para a emergência. Mas na maioria das vezes as infecções virais que nos acometem não provocam grandes consequências e desaparecem depois de alguns dias. Durante a recuperação a dica fundamental é manter o repouso. E, agora, que você já sabe o quanto é difícil detectar um vírus, não precisa mais ficar irritado quando receber o diagnóstico de virose. Descanse, tome bastante água e tenha paciência que logo, logo o vírus vai embora.

Virose, um diagnóstico vago? Read More »

Um intelectual a serviço do Reino de Deus

Jerônimo Gueiros, nasceu numa família de 12 filhos, sendo o filho homem mais novo, do casal Francisco de Carvalho Silva Gueiros e Rita Francisca Barbosa da Silva. Nasceu no dia 30 de setembro de 1880, dia esse, dedicado a “São Jerônimo”, na localidade de Queimadas de Santo Antônio (Jurema), município de Quipapá (PE). O pai de Jerônimo descendia de uma antiga família pernambucana com raízes na região de Garanhuns. O avô de Francisco, Manoel da Silva Gueiros, foi o primeiro a ter esse sobrenome, uma possível corruptela de Queiros. Jerônimo assim como todos da família não teve uma vida fácil, pelo contrário, os filhos mais novos de Francisco de Carvalho Silva Gueiros, após a abolição da escravatura, e a perda da mão-de-obra familiar, foram obrigados a trabalhar como marceneiros, para o sustento da família. Jerônimo também trabalhou de cigarreiro, chegando a fabricar 1,2 mil cigarros em um só dia. Além das condições humildes, Jerônimo assim como os seus irmãos, eram adeptos entusiastas das farras semanais e das bebidas alcoólicas. Na realidade, Jerônimo já no início da adolescência, tinha uma vida desregrada, entregando-se à bebida e aos jogos de azar. O historiador David Vieira lembrando dessa época, diz que, “sua frustração com a vida que levava, foi provavelmente o que levou ao vício das bebidas alcoólicas e a jogatina, tendo se tornado um jogador profissional, aos 13 anos de idade. Todavia, Jerônimo converteu-se ao Protestantismo, através dos esforços do trabalho realizado pelo Rev. George W. Butler e da sua esposa, Rena Butler, um casal de missionários norte-americano, os quais chegou em Garanhuns no final do século dezenove, mas especificamente, no ano de 1895. Na realidade, esses foram a primeira grande influência que Jerônimo Gueiros teve em sua vida, de evangélico e de intelectual. Após a sua conversão, Jerônimo passou a ter gosto pelos estudos e, foi aos pés dos Butlers que ele começou a sua carreira acadêmica. Vieira lembra que: “Nos três primeiros anos que estudou com D. Rena Butler, de 1895 a 1898, entre outras matérias, aprendeu o inglês. Isto o habilitou a consultar livros naquela língua, que lhe abriram um amplo leque de informações, não disponíveis a alguém que fosse apenas monoglota, especialmente em um Brasil daquela época, tão carente de livros didáticos, e de literatura erudita de todos os tipos. […] Mrs Butler recordava como Jerônimo, ainda menino e estudando com ela, constantemente vinha buscar auxílio na leitura dos textos em inglês, perguntando: Mama Butler, o que quer dizer isso? Em seguida, continuou os seus estudos na primeira escola paroquial, criada pelo pastor Martinho de Oliveira […].” A ordenação para o ministério pastoral, aconteceu no dia 15 de setembro de 1901, pelo presbitério de Pernambuco, como pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil. Dr. Butler em uma de suas correspondências chega a mencionar a aparência física do seu discípulo e da sua postura no púlpito, pois, segundo ele, Jerônimo era “alto, esbelto, de pele alva, de maneira autoritária no púlpito, porém humilde”. Devido a sua importância no mundo acadêmico, bem como, o seu destaque no âmbito ministerial, Jerônimo, por esses motivos, passou a ganhar alguns adjetivos que refletiam o seu perfil. Esses adjetivos dependiam da localização geográfica, por exemplo, entre os evangélicos do Norte era conhecido como A Águia do Norte. Entre os do Sul, talvez por ser pernambucano, era conhecido como O Leão do Norte. Ambas essas denominações sublinhavam o grande poder de suas palavras, como pregador e orador, jornalista e polemista. Devido a sua grande influência e capacidade não tardou para que naturalmente, Jerônimo se destacasse e chamasse a atenção até mesmo do governador pernambucano. Em 1920, o então governador de Pernambuco, o Dr. José Bezerra Cavalcanti, o convida para dirigir a Escola Normal Oficial do Estado, da qual, além de diretor, foi docente de História da Civilização. Quando eleito para ocupar uma das cadeiras na Academia Pernambucana de Letras, ocupada anteriormente pelo patrono, o general Abreu e Lima, Jerônimo, no seu discurso de posse, demonstra ter total consciência da relevância do seu papel social, relembra as suas origens, mas, não se furta de externar publicamente a sua missão primordial, que segundo ele mesmo, era pregar o Evangelho: “[…] Senhores acadêmicos: Há alguma coisa que nos irmana e nos vincula nesta oficina de luz. Somos todos sonhadores de alguma coisa além da vida com seus pendores subalternos. Vivemos do ideal com que sonhamos. Pelo menos, minha vida tem sido uma urdidura de sonhos em que sobressai minha tendência associativa com escopo superior. E todos os meus sonhos objetivaram-se em doces realidades, tanto quanto o permitiram a contingência e relatividade das cousas humanas. Sonhei, primeiro, na obscuridade da minha vida sertaneja, no meio da pobreza extrema de rude operário, com ilustrar-me para fazer-me afanoso obreiro espiritual, de modo a poder levar a minha gente o influxo do Livro que inspirou a civilização das maiores potências do Velho e Novo Mundo. E o sonho foi realidade. Através de trinta anos, desdobro, ininterruptamente, minha atividade espiritual com a profunda convicção que me levará ao seio de Deus e com esse entusiasmo crescente e insopitável que a fé inspira e me faz exclamar com o apostolo dos gentios: “Ai de mim, se eu não evangelizar!”. Jerônimo Gueiros morrera no dia 07 de abril de 1953. A morte do Reverendo Jerônimo Gueiros foi sentida no meio intelectual pernambucano, não só porque pertencia à Academia Pernambucana de Letras, ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco, além de várias associações culturais brasileiras e estrangeiras e, assim, conseguira firmar, com sua personalidade, o caminho de uma obra literária de grande valor e que, vale salientar, expressava forte teor humanista. Após a notícia da sua morte, não custou para que todos os jornais locais, e ainda outros, até mesmo fora do estado de Pernambuco, lamentassem a sua triste partida. No Diário da Noite, datado em 7 de abril de 1953, encontramos a seguinte afirmação: “A sociedade do Recife está de luto. Faleceu o professor Jerônimo Gueiros, respeitável figura de homem de bem, espécie de

Um intelectual a serviço do Reino de Deus Read More »

Pesqueira do doce, da renda e dos caiporas

Ela já foi chamada de “A Terra das Chaminés”, “A Terra do Doce e da Renda” e, por último, “A Saída do Agreste”. O Sertão vem logo depois. Todos os títulos fazem jus. Os seus 135 anos parecem estar impressos nos vários casarões e sobrados, alguns do século 18, ainda conservados. Isso nos leva a imaginar o movimento da cidade no início do século 20. O cenário traz uma bela história de um passado glorioso. Vamos conhecer Pesqueira pelo roteiro de Carlos Sinésio Cavalcanti, jornalista, poeta e escritor nascido ali. A cidade fica a 215 km do Recife. Por ser um local de peregrinação religiosa, nosso ponto de partida começa no Centro da cidade, na Catedral de Santa Águeda, a padroeira , reformada recentemente. O templo recebe elogios dos visitantes. Em seguida, vamos até o Convento São Francisco, construído em 1908. Ali pertinho, temos o castelo de Edvonaldo, obra de estilo indefinido, inacabada, iniciada há mais de uma década. É vista de longe devido aos seus “minaretes” altos e extremamente coloridos. Virou uma curiosa atração turística. Sinésio nos leva à Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Rua Cardeal Arcoverde, onde encontramos o Palácio do Bispo e um museu. A igreja foi a primeira da cidade, erguida em 1802. Visitar o famoso Seminário de São José, por onde passou tanta gente famosa, é quase obrigatório. Vizinho, temos o imponente prédio da prefeitura, que já foi a casa do industrial Antonio Didier, fundador da tradicional fábrica de doces Rosa. Bem pertinho, também, está o Centro Comercial Rosa, onde funcionou a fábrica de derivados do tomate Rosa. O local abriga, atualmente, o Museu do Doce, com rico acervo em máquinas, fotos e tachos de cobre. O espaço é muito bom para comprar peças de renda renascença nos diversos boxes. Aliás, Pesqueira desenvolveu e deu fama a essa renda que teve na vizinha cidade de Poção o seu nascedouro. Hoje, a renda é exportada para o mundo todo, com sucesso, e até merece festa no mês de setembro. Um dos projetos do governo municipal é construir o Memorial da Renascença. TERRA SANTA. O Santuário da Graça passa a ser a parada seguinte. Fica em Cimbres, no Sítio Guarda, a 24 km de Pesqueira. Lugar místico e milagroso, onde Nossa Senhora das Graças apareceu às Marias – Conceição e da Luz – em agosto de 1936. Ambas adolescentes. O fato mereceu profundos estudos da Igreja Católica e a aparição da Virgem não foi imaginação infantil, atestam os religiosos. Desde então, o solo sagrado foi transformado em centro de peregrinações por todas as classes sociais. Artistas famosos, políticos e populares frequentam o santuário, com fé, pedindo ou agradecendo graças. Alcançar a imagem da santa (com dois metros de altura), protegida numa gruta, requer um razoável preparo físico, pois são 306 degraus, além de um percurso a pé. De lá, avista-se quase toda a cidade, e ninguém resiste à contemplação e admiração por tudo que o mirante oferece. E faz frio. A palavra cimbres significa “armação que suporta pesos em construção civil”, e o local que leva esse nome é o maior reduto indígena do Nordeste. Dista do Centro 18 km em estrada quase totalmente pavimentada, mas carece de alguns cuidados por ser estreita. A Vila de Cimbres já foi poderosa. Sendo zona de transição, sua extensão territorial abrangia todo o Sertão até o fim do Estado, atingindo o Norte de Minas Gerais, segundo o pesquisador José Florêncio Neto, que salvou a documentação comprobatória, durante uma inundação na prefeitura. O local começou a ser povoado em 1654, e rapidamente foram construídos os prédios da Câmara, Cadeia e Ouvidoria, além da Igreja de Nossa Senhora das Montanhas (a imagem primitiva está no altar), considerada a pioneira da região. Em pouco tempo, Cimbres era o centro político e administrativo, inclusive do Sertão. Por isso, chegou ser chamada de Atenas do Sertão. Esses prédios ainda estão de pé e são testemunhas daquela época. Entretanto, a cidade – conta Sinésio – remonta a 1800, na Fazenda Poço Pesqueiro (daí o nome Pesqueira), localizada no pé da serra, tendo progredido rapidamente. É tanto que, 36 anos depois, a fazenda produtiva passou à categoria de Vila. Mas, somente anos depois, a fazenda e Cimbres ficaram unidas geograficamente com o nome de Pesqueira. Do apogeu, Cimbres passou a mero distrito. Ainda nessa área, o visitante encontra reservas naturais, matas,trilhas e cachoeiras. O alpinismo não pode faltar diante de tantas serras. O local preferido é a Serra do Gavião, com 755 m. O local serviu de esconderijo para o bando de Lampião no final dos anos 30. A Serra do Ororubá, com suas 24 aldeias indígenas e uma população de 12 mil xucurus (civilizados), tem lagos, açudes, cachoeiras e uma rampa natural para voos livres, usada em campeonatos de asa-delta. “A paisagem ajuda a relaxar. O banho na Cachoeira do Vale das Cascatas, com uma queda de seis metros de altura, emociona”, descreve Sinésio. Ainda pode ser feito um passeio nas trilhas da Serra de Minas, sugere o nosso guia. Aí temos árvores centenárias, banho de bica e piscinas naturais. A poucos quilômetros, existe a Trilha do Gavião. São 15 km até o topo da montanha, onde moravam os índios pataxós. Uma lenda conta que em cima dessas árvores surgiam tochas sobrenaturais assustando os passantes. Essas assombrações ficaram conhecidas como caiporas – seres noturnos que amedrontavam pessoas e animais. Para acalmá-los, era costume colocar fumo e cachaça nos troncos das árvores. A lenda foi transformada em folclore. Hoje, os caiporas são atrações carnavalescas. Durante os três dias de folia, homens, mulheres e crianças saem às ruas vestidos com estopas e máscaras gigantes pintadas. Aliás, Pesqueira possui um dos mais animados carnavais do interior. DONA YAYÁ. No início do século 20, Pesqueira era o maior produtor de goiaba da região. A fabricação de doces era forte costume doméstico. Dona Maria da Conceição Cavalcanti de Britto, uma senhora doceira conhecida por dona Yayá, casada com Carlos Britto, resolveu desenvolver uma linha de produção industrial.

Pesqueira do doce, da renda e dos caiporas Read More »

Templo da música regional

Esses tempos pós-modernos têm provocado situações inusitadas. Se por um lado transforma videolocadoras, aparelhos de fax e máquinas de escrever em peças de museu, por outro, faz surgir os estilos vintage e retrô, inspirados nostalgicamente no passado. Fábio Cabral de Melo, dono da loja Passa Disco, percebeu a contradição dessa “sociedade líquida” e soube tirar proveito: quando todos decretavam a morte do CD e vida longa às ferramentas virtuais para ouvir música, ele inaugurou uma loja física para vender discos. “Isso foi em 2003”, conta Fábio. Tudo começou quando o cantor e compositor Silvério Pessoa o chamou para uma coletiva de imprensa do seu disco Micróbio do Frevo. “Saí de lá contaminado”, brinca. “Percebi que havia muita gente no Recife lançando CDs, com trabalhos bacanas, mas não existiam lugares para comercializar essa produção”, relembra. Começou então a entrar em contato com vários artistas que já conhecia graças ao bar Rei do Cangaço que abriu em meados dos anos 90, atividade que dividia com a de jardinagem (embora estivesse sempre ligado à cena musical da cidade, ele na verdade é agrônomo). Sete meses após a coletiva, Fábio abandonou os cuidados com as plantas, comprou o ponto numa galeria no bairro do Parnamirim e abriu a Passa Disco. A loja se tornou ao longo desses 12 anos de existência numa espécie de templo da música pernambucana. Quem entra na Passa Disco, logo sente que está num local diferente. O ambiente pequeno é decorado de forma criativa que instiga o cliente. O clima retrô fica por conta de rádios e máquinas fotográficas antigas e o regionalismo está presente em imagens de santos, como o Padre Cícero e o artesanato de barro. Tem até um boneco do próprio Fábio. Mas a grande atração são as paredes repletas de mensagens de artistas, clientes e amigos como o escritor Ariano Suassuna, o agitador cultural Roger de Renor, o artista plástico José Cláudio, além de muitos músicos e cantores. A loja é especializada em discos de música regional e aqui entenda-se todas as variantes musicais do Nordeste, especialmente de Pernambuco, que vai do baião de Gonzaga e Jackson do Pandeiro, passando pela MPB de Zé Manoel, até o rock psicodélico do Ave Sangria e as misturas rítmicas de Chico Science e Nação Zumbi. A diversidade visa atender o ecletismo do seu consumidor que abrange pessoas de 17 a 60 anos. E, sem perder viés pós-moderno, Fábio também está de olho na onda vintage, por isso, além de vender os saudosos LPs, promove ainda a Feira do Vinil, durante três a quatro sábados por ano. “Muitos colecionadores participam e o público é em sua maioria jovens. O curioso é que os pais deles não têm mais a cultura de comprar vinis”, salienta. Pois é: mais uma contradição da tal pos-modernidade. No entanto, o próprio Fábio mantém um pé na tradição e outro nas facilidades proporcionadas pelo mundo digital. Por isso também comercializa os produtos por meio da loja virtual no site www.passadisco.com.br. Não é apenas a venda de CD que faz o sucesso da loja. O local também ficou conhecido pelos lançamentos de discos e DVDs de artistas nordestinos, como Elba Ramalho, Dominguinhos, Maciel Melo entre muitos outros. São eventos que atraem um público médio de 80 a 100 pessoas que se espalham pelo pátio da galeria onde está a loja.E tem mais. Com o intuito de incentivar a música pernambucana Fábio criou o selo Passa Disco, que já lançou 8 CDs. “É também mais uma forma de divulgar a loja, porque nos lançamentos dos discos sempre são publicadas matérias na imprensa”, justifica. ACADEMIA. A loja é também a sede da Academia Passa Disco de Música Nordestina. Essa é outra ideia criativa de Fábio, originada quando ele quis homenagear o amigo, médico, compositor e fotógrafo Paulo Carvalho. “Desde quando comecei a vender os CDs ele me incentivou. Aí pensei que homenageá-lo com uma placa seria algo careta, então decidi fazer a academia”, conta. Em vez de tomar o chá da tarde, como na Academia Brasileira de Letras, os “imortais” da Passa Disco ganham um quadro em forma de vinil que fica exposto na loja. Nele constam o nome do homenageado e da personalidade que escolheu como patrono. Paulo Carvalho, por exemplo, escolheu Jackson do Pandeiro, e Santanna optou por Accioly Neto. “Os homenageados não precisam ser necessariamente da área musical – como é o caso de Ana Rios, que é designer, e Zelito Nunes, escritor – mas o patrono tem que ser um músico do Nordeste”, determina Fábio, que no entanto, concedeu uma exceção a Anselmo Alves que escolheu o famoso cangaceiro Lampião. Imortal da Passa Disco, Maciel Melo, aprovou a ideia da academia. “É bacana, mais um incentivo d e Fábio que sempre afaga o ego dos artistas”, elogia o cantor e compositor que já fez lançamentos na loja e destaca o papel que o local que representa em Pernambuco. “É uma das poucas lojas físicas onde se pode comprar um CD e Fábio zela muito pela qualidade do que vende. Além disso, ele mesmo atende as pessoas. É algo, digamos, mais artesanal”. Na verdade Fábio prefere ser do “bloco do eu sozinho”, isto é, não tem funcionários. “Assim posso oferecer um atendimento personalizado para quem vem comprar”, justifica. O volume de lançamentos de CDs no mercado fonográfico pernambucano mostra que a Passa Disco tem vida longa. No ano passado foram lançados 220, desempenho que deve ser ultrapassado este ano, mesmo com toda a crise, pois de janeiro a agosto já houve 166 lançamentos.Apesar desses números, Fábio, precavido, afirma que o futuro é incerto. Mas, se tudo que é sólido desmancha no ar, ele no entanto não teme as transformações e investe mais uma vez nas alternativas vintage “Se deixarem de fabricar CD, transformo a Passa Disco num sebo”, soluciona. (Por Cláudia Santos)

Templo da música regional Read More »

Vox promove empreendedorismo social

A Conferência Vox 2015, que é o maior evento sobre empreendedorismo social do Nordeste, acontecerá no dia 14 de novembro, no Recife. Com o objetivo de inspirar a sociedade a compartilhar e desenvolver práticas do bem, o congresso que está sendo realizado pela ONG Novo Jeito e pelo grupo Padrão Carvalheira, espera receber 800 pessoas. A grande expectativa dessa edição é para a vinda do senador Cristóvão Buarque, um dos principais nomes do País na defesa da educação. O evento receberá também o pastor Sérgio Queiroz, fundador do projeto Cidade Viva, de João Pessoa. Oito profissionais voltados para as áreas de voluntariado, direitos humanos, esportes, cultura, corporativa, espiritual, tecnologia e inclusão social vão dividir experiências e mostrar como suas iniciativas em cada área de atuação tem contribuído com um mundo melhor. Entre os palestrantes estarão o CEO da multinacional finlandesa Wärtsilä Brasil, Robson Campos; a cineasta pernambucana Maria Clara; e o deputador estadual de São Paulo, Carlos Bezerra Júnior. O público é formado por pessoas de todas as idades, mas, principalmente, jovens adultos, de 25 a 35 anos. No local do evento também haverá demonstração de atividades de ONGs locais e alimentação, para que o participante tenha toda a estrutura necessária para permanecer no evento das 9h às 19h. A ideia é compartilhar experiências para inspirar novos projetos. “Teremos aqui pessoas de idades diferentes, áreas de atuação diferentes e classes sociais diferentes, mas com as mesmas perspectivas: mudar o mundo com as ferramentas que tem nas mãos. As experiências que veremos aqui podem ser adaptadas e transformadas a muitas outras realidades para levar esperança a novas pessoas. Nosso objetivo é criar uma onda do bem”, afirma Fábio Silva, idealizador da ONG Novo Jeito.

Vox promove empreendedorismo social Read More »

Sefarditas com direito à cidadania europeia

Em outubro, começou a valer uma lei que permite aos descendentes de judeus sefarditas espalhados pelo mundo adquirir a nacionalidade espanhola. A medida, que já havia sido adotada pelo governo de Portugal, significa uma reparação histórica pela expulsão dessa comunidade no século 15. Uma resolução que afeta inclusive a população de Pernambuco, afinal, a memória do Estado se confunde com a dos judeus. Com uma poderosa economia açucareira no período colonial, a Terra dos Altos Coqueiros foi destino de milhares desses cristãos-novos que precisavam escapar da Inquisição na Península Ibérica. Tal relação é hoje “denunciada” pela vasta quantidade, aqui encontrada, de sobrenomes originários de plantas e animais, supostamente adotados para disfarçar a descendência judaica. É bem verdade que não faltam Pereiras, Oliveiras e Coelhos em solo pernambucano. Os nomes de família são justamente o ponto de partida para conseguir a dupla cidadania, no entanto, não são via de prova exclusiva da descendência sefardita. Antes mesmo da aprovação das leis, uma lista com mais de 5 mil sobrenomes (incluindo os já citados) que dariam direito ao benefício começou a circular. Mas, de acordo com a embaixada espanhola no Brasil, essa listagem é falsa. Não sendo, então, um item obrigatório. Para conceder a nacionalidade, cada um dos países que aderiu à regra tem suas próprias exigências (veja quadro), todavia, um item é básico: um certificado emitido pela comunidade judaica que comprove os laços consanguíneos com os cristãos-novos. Alguns dos marranos, como também são denominados, já têm os documentos que os legitimam como tal. No entanto, ao longo dos anos, muitos perderam o contato com a cultura judaica e nem sequer sabem de sua ancestralidade. A alternativa para os que desconfiam de sua origem é fazer uma investigação genealógica dos seus antepassados. Em Pernambuco, o estudo pode ser realizado pelo Arquivo Judaico. Segundo a coordenadora científica da instituição, Tânia Kaufman, algumas informações sobre os pais, avós e bisavós são fundamentais para iniciar a pesquisa. Contudo, ela enfatiza que o trabalho não é simples, pois o material de busca é escasso. “Até pouco tempo, nem todos conheciam a existência da comunidade sefardita no século 17, muito menos, sabiam do eixo de ligação entre aquela congregação e a atual comunidade formada no século 20 pelos judeus de origem ashkenazita, que vieram da Europa Ocidental e Oriental.” Mais minucioso do que o governo português, o Ministério da Justiça espanhol solicita, além do certificado, a realização de testes. “Entre os diversos requisitos exigidos, um deles é a comprovação da vinculação especial com a Espanha, o que exigirá a superação de duas provas”, esclarece o diretor do Instituto Cervantes do Recife, Isidoro Castellanos Vega, responsável pela aplicação das provas. Na primeira etapa, o candidato precisa comprovar o conhecimento básico do idioma. A segunda avaliação, por sua vez, contém questões sobre a Constituição e cultura espanhola. Já com a resolução em vigor, Portugal recebeu cerca de 900 solicitações de cidadania. No vice-consulado no Recife, entretanto, apenas três pessoas buscaram se informar sobre como ocorre o processo, sem que nenhuma delas tenha entrado com o pedido. Um dado que vai de encontro aos laços históricos dos judeus sefarditas com o Estado. “Como a lei é recente, é provável que muita gente ainda não saiba”, acredita o vice-cônsul Adriano José da Fonte Moutinho. A nacionalidade portuguesa, aos sefarditas, é concedida por naturalização. Logo, o requerente só poderá transmitir a cidadania aos filhos nascidos após a data de deferimento. De acordo com Moutinho, encaminhado ao Conservatório dos Registros Centrais em Lisboa, o processo dem ra, em média, seis meses para ser concluído. Para ele, a medida representa o pagamento de uma dívida que Portugal tinha com os judeus. “Eles tiveram que sair por causa da perseguição religiosa. Então, eu acho que não se fez mais do que justiça.” Também chamados de sefaradim, os sefarditas têm sua nomenclatura originária de uma palavra em hebraico que se refere aqueles oriundos da Península Ibérica. Perseguidos pela Inquisição em 1492, os judeus foram expulsos pelo governo Espanhol e boa parte deles migrou para Portugal. Mas a estadia no país não durou muito tempo. Cumprindo uma cláusula de seu casamento com a princesa espanhola Maria de Aragão, o rei português D. Manuel I promulgou um novo Édito de Expulsão. Sem poder permanecer na região, cerca de 100 mil judeus se dispersaram pela Europa, Oriente Médio e África. É provável que os sefarditas tenham sido os primeiros judeus a pisar em solo brasileiro, chegando ainda na época do descobrimento. “Na esquadra de Pedro Álvares Cabral, grande parte era de cristãos-novos. Hoje, supõe-se, que a tripulação era selecionada entre aqueles que precisavam deixar Portugal”, afirma Kaufman. Essa mesma lógica foi seguida para ocupação da costa da, então, colônia lusa. Desse modo, com o objetivo proteger o litoral de possíveis invasões, a Coroa doava amplas faixas de terras para a implantação de engenhos. “Mas os nobres não tinham o interesse de vir para uma terra despovoada e desabitada. Então, Portugal fechava um pouco os olhos e deixava que os judeus partissem”, explica a coordenadora científica do Arquivo Judaico de Pernambuco. Na capitania hereditária instalada em Pernambuco, não foi diferente. Aliás, o seu primeiro donatário, Duarte Coelho, trouxe vários cristãos novos para desenvolver a indústria açucareira. Para se ter ideia da influência judaica, dos cinco principais engenhos que existiram em 1550, ao menos um, pertencia a judeus. Era o de Diogo Fernandes, casado com a lendária Branca Dias. Mas, um levantamento demográfico e genealógico dos engenhos no Estado realizado pelo Núcleo de Pesquisa do Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, aponta que o número de propriedades dedicadas ao cultivo da cana é ainda maior do que se imaginava. Apesar dos diversos indícios que apontam para a presença dos sefarditas no Estado, não é possível precisar quantitativamente. “O que se pode inferir é que foi tão forte que os costumes deles atravessaram os séculos e aparecem até hoje”, coloca Kaufman. A tradição de acender velas na segunda e sexta-feira é um desses vestígios. “Assim, era possível disfarçar o acendimento da vela na

Sefarditas com direito à cidadania europeia Read More »

Os Arrais se apresentam no Recife

Os Arrais trazem para o Recife neste sábado (31/10) a turné “As Paisagens Conhecidas”. A Ponte (na Rua Cais do Apolo, Recife) será o local escolhido para a apresentação, que começa às 18h. Hoje (30/10), a dupla fará uma tarde de autógrafos na livraria Luz e Vida, do Centro do Recife. Os Arrais é o nome dado pelo irmãos Tiago e André Arrais para o seu trabalho musical. Arrais no dicionário da língua portuguesa significa “condutores de embarcações pequenas.” E de fato, esta é a conotação que mais se encaixa com o trabalho e a visão dos irmãos. Esse é o terceiro álbum de Os Arrais, sendo o segundo distribuído pela Sony Music. O site da dupla disponibiliza o EP para ser comprado através do link: http://www.osarrais.net/#!em-branco/c1exf Para a apresentação no Recife, os ingressos custam R$ 30 pelo site: http://www.gorockbee.com/os-arrais—recife        

Os Arrais se apresentam no Recife Read More »

Paulista North Way inaugura nesta sexta (30)

O Paulista North Way Shopping inicia suas operações nesta sexta-feira (30/10). O empreendimento, com investimento da ordem de R$ 600 milhões, contará, na sua primeira etapa, com 11 lojas âncoras, sete megalojas, 121 satélites, 24 de alimentação, nove salas de cinema, 1500 vagas de estacionamento e uma faculdade, distribuídos em 35 mil metros quadrados de área bruta locável (ABL), gerando cerca de cinco mil empregos diretos e indiretos. Amanhã serão inauguradas 50 lojas. Apesar da crise que afeta a economia brasileira, 85% das lojas já foram contratadas, e a expectativa de público no dia da inauguração é de 50 mil consumidores. O Shopping chega para suprir uma demanda de aproximadamente 700 mil pessoas num raio de até 15 minutos da sua localização e tem como um dos principais diferenciais trazer marcas inéditas para a cidade. É o caso de algumas âncoras – Riachuelo, Le Biscuit, C&A – e de lojas de alimentação – Bob’s, Burguer King, Giraffas, Donatário, Bonaparte e Pizzaria Atlântico. A área de games do centro de compras também já tem dono. O grupo Parks & Games será o locatário de quase 1000m². O grupo tem 29 lojas em todo o país equipadas com atrações de última geração e uma média de 1,5 milhão de visitantes por ano. “Além disso, trata-se de um dos shoppings mais modernos do país cujas lojas estão apostando seus projetos mais novos”, explicou Marco Motta, superintendente do Paulista North Way Shopping. A expectativa é de trinta mil visitantes por dia, chegando a quarenta mil nos finais de semana. “O perfil do nosso público é B e C que buscava por um lugar que concentrasse serviços com conforto, sem precisar fazer grandes deslocamentos”, completou. “Estamos numa localização privilegiada. Um local de passagem para um importante polo automotivo e no centro de uma área em grande expansão urbana e econômica. O shopping vem como motor desse desenvolvimento”, avaliou Avelar Loureiro Filho, diretor da ACLF Empreendimentos, empreendedora do shopping. “Temos toda infraestrutura necessária prevista desde a elaboração do plano diretor da cidade. Transporte público na porta, vias de acesso, entre outras coisas. Só faltava mesmo um local que agrupasse serviços, comércio e lazer de qualidade”, explicou. O Shopping já realizou uma primeira expansão para integrar uma nova unidade da Faculdade Joaquim Nabuco, com capacidade para receber 3 mil alunos, ampliando, assim, a área Bruta locável do empreendimento em 5 mil m², passando para 35 mil metros. O projeto do shopping sinaliza para três novas ampliações para o futuro. Além do mall, a ACLF já iniciou obras para construção de um empresarial moderno, ao lado do North Way, além de torres residenciais. PATRIMÔNIO HISTÓRICO – O Paulista North Way Shopping tomou como símbolo as chaminés das antigas fábricas Arthur e Aurora e acrescentou fumaça simbolizando o ressurgimento do desenvolvimento na região. Além disso, recuperou integralmente a chaminé da Fábrica Arthur, o cruzeiro e o antigo prédio administrativo, patrimônio histórico e cultural do povo pernambucano tombado pelo conselho estadual de cultura.

Paulista North Way inaugura nesta sexta (30) Read More »