Wanderley Andrade, Autor Em Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Wanderley Andrade

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david corenswet como o protagonista de superman 2025

Novo Superman chega aos cinemas

Segundo Hegel, filósofo alemão do século XIX, a arte reflete o espírito de uma época, expressando ideias e valores de determinado período histórico. Vemos isso nas artes plásticas, na literatura e, claro, no cinema. No que tange à sétima arte, a ideia alcança tanto o cinema cult (daqueles pra crítico ver), quanto os barulhentos blockbusters. Incorporado desse espírito, chega aos cinemas o tão aguardado Superman de James Gunn, com muito bom humor e crítica certeira à atual política americana.   O Superman de James Gunn inspira bondade e esperança, bem diferente da vibe sombria proposta por Zack Snyder nos filmes anteriores. David Corenswet encarna muito bem esse papel. Nos minutos iniciais, nada de nave cruzando a tela e pousando com bebê kryptoniano sobre um milharal. Desnecessário revisitar em detalhes os primeiros anos de uma história tão conhecida quanto a do Superman. O filme começa com a celebrada cena em que o supercão, Krypto, aparece para resgatar o herói que se encontra bastante ferido em alguma região do Ártico.  Por sinal, o cão rouba a cena em boa parte do filme. Um Super bondoso, beirando o exagero, como na cena em que o herói, em meio ao combate, voa para resgatar um esquilo. Outro artifício do roteiro é contrapor as ações responsáveis do Superman às táticas nada cuidadosas da Gangue da Justiça. Formada por Guy Gardner (Nathan Fillion), a Mulher gavião (Isabela Merced), o Senhor Incrível (Edi Gathegi) e o Metamorfo (Anthony Carrigan), a equipe é responsável por boa parte dos momentos de alívio cômico. Destaque para Nathan Fillion na pele de Guy Gardner, o lanterna verde mais arrogante e mal-humorado do universo. Para quem, como eu, acompanhou as HQs da Liga da Justiça Internacional na década de 90, a presença do herói foi, sem dúvida, uma escolha acertada.   O novo trabalho do diretor de “Guardiões da Galáxia” e “Esquadrão Suicida” não se limita às sacadas engraçadas, tão comuns aos filmes que costuma dirigir. A crítica política aparece como fator que dá liga e consistência à trama. Na história, Lex Luthor, interpretado por Nicholas Hoult, acusa o Superman de interferir na política externa americana ao tomar partido no conflito entre as nações fictícias Borávia e Jarhanpur. Ao impedir a Borávia, aliada dos EUA, de invadir o país vizinho, o kryptoniano atrapalhou os negócios de Luthor, único fornecedor de armas à Borávia. Pergunto: viram algo semelhante na história recente de algum país do ocidente?   O roteiro também reflete sobre a atual política imigratória americana. Em entrevista ao jornal britânico The Times, James Gunn afirmou que “... Superman é a história da América. Um imigrante que veio de outro lugar e se instalou no país. (...) uma história sobre como perdemos noções básicas da gentileza humana”. Alfinetada certeira na política cruel de “tolerância zero” adotada por Donald Trump contra imigrantes. A arte imitando a vida.

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Universo da Fórmula 1 é tema de novo filme de Brad Pitt

O mundo automobilístico continua encantando Hollywood, que de tempos em tempos lança algum filme ligado ao esporte. Desde produções de sucesso, como "Rush: No Limite da Emoção (2013)" e "Ford vs Ferrari (2019)" até àquelas de bilheteria modesta como "Ferrari (2023)". Este ano, mais um longa guiado pelo ronco dos motores chega aos cinemas: F1.  "F1" acompanha os passos do experiente piloto de corrida Sonny Hayes, interpretado pelo astro Brad Pitt. Trinta anos após sofrer um grave acidente que quase acabou com sua carreira, Sonny é convidado por Ruben (Javier Bardem), amigo de longas datas e dono da escuderia fictícia ApexGP, a retornar à Fórmula 1. A missão: ser mentor do jovem e inexperiente piloto Joshua Pierce (Damson Ideia).  O bom roteiro escrito por Ehren Kruger exibe a dicotomia entre a velocidade nas pistas e a falta de pressa em trabalhar a evolução dos personagens. Sonny e Joshua se completam, ainda que no início não suportem um ao outro. Suas jornadas individuais aos poucos vão se entrelaçando em benefício da equipe. Sonny, antes um piloto talentoso, porém individualista, começa a trabalhar para que o companheiro de escuderia se aproxime dos primeiros colocados. Joshua, outrora um piloto egocêntrico e arrogante, passa a reconhecer a importância de Sonny no caminho até à primeira vitória.  "F1" é filme para ser visto nos cinemas, na tela grande e com som de qualidade. A fotografia e edição acelerada, somada ao bom trabalho de som e trilha sonora, dão ao espectador a sensação de estar dentro de um cockpit de um carro de corrida. Aliada aos roncos dos motores, a trilha sonora eleva ao topo a emoção, principalmente nas cenas mais tensas. Destaque para “Lose My Mind”, música carregada de sintetizadores, colaboração entre os rappers Doja Cat e Don Toliver. Nomes como Ed Sheeran, Tiësto e Chris Stapleton também estão na lista.  O longa teve cenas gravadas no GP da Inglaterra e de Abu Dhabi durante a temporada de 2023. Nomes conhecidos da Fórmula 1 aparecem no filme, como Günther Steiner, ex-chefe de equipe da escuderia americana Haas, e Fernando Alonso. O maior piloto de todos os tempos, nosso Ayrton Senna, é citado e tem forte relação (ainda que fictícia) com o acidente sofrido por Sonny no início da carreira.   "F1" é dirigido por Joseph Kosinski, mesmo diretor de “Top Gun: Maverick”. Tem produção de Jerry Bruckheimer, conhecido pela franquia ‘Piratas do Caribe” e “Top Gun”. Outro nome bem conhecido, não do cinema, mas das pistas, está na lista de produtores: Lewis Hamilton. O heptacampeão da Fórmula 1 também atuou como consultor da história.  “F1” chega aos cinemas na próxima quinta (26/06).

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Luis Enrique: série acompanha trajetória do técnico campeão da Champions League

O ano era 2015 quando o Barcelona, comandado por Luis Enrique, conquistava o primeiro título da Liga dos Campeões. Era também o primeiro título do treinador na competição. Porém, outro fato emocionou os torcedores do clube catalão naquela noite. A filha de Luis Enrique, Xana, na época com 5 anos, entrou em campo e fincou uma enorme bandeira do Barcelona no gramado. Nos anos seguintes, Xana lutou contra um câncer ósseo, falecendo em 2019. A história ganhou destaque outra vez após mais um título do treinador na Liga, agora liderando o PSG. Depois da goleada por 5x0 sobre o Inter de Milão, no sábado 31/05, o treinador homenageou a filha vestindo uma camisa que reproduzia o gesto dela com a bandeira. Essa e outras histórias são contadas na série documental Você Não Sabe P*** Nenhuma, que estreou recentemente no Max. Sim, é esse mesmo o título da série: “Você Não Sabe P*** Nenhuma”. O nome, sugerido pelo próprio Luis Enrique, remete ao que pensa das diversas críticas que costuma receber da imprensa. Críticas que se repetiram na ausência de vitórias nos primeiros jogos liderando o PSG. O gênio forte e o excesso de, digamos, sinceridade aparecem como marca inconfundível do técnico. No segundo episódio, ao ser questionado numa coletiva sobre quem, ele ou Xavi, representaria melhor o espírito futebolístico catalão, não pensou muito: “eu”.  E tem brasileiro na série, ainda que numa rápida citação. Neymar aparece ao lado de Verrati como astros dispensados por Luis, que prefere priorizar o coletivo, ainda que tenha armado o time por um tempo em função de Mbappé. “Tomara que eu possa ter o melhor do mundo por muitos anos, mas se eu não puder ter ele, não tem problema. Se ter o melhor do mundo conquistasse Champions, o PSG já teria oito”, declara.  A série tem uma edição ágil, costurada por uma trilha contagiante construída ora pelo som de bateria, ora por cordas, o que dá bom ritmo e empolgação às cenas. Ao todo, são três episódios que acompanham desde a contratação pelo PSG e a relação com o Barcelona, passando pelos conflitos com Kylian Mbappé e encerrando nas ações envolvendo a fundação inaugurada em homenagem à Xana.   Os três episódios de “Você Não Sabe P*** Nenhuma” já estão disponíveis no catálogo do Max.

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Albinismo é tema de curta que estreia este mês em festival no Rio

Joselito, negro, 65, descobriu que era albino aos 20 anos quando fora usado como exemplo numa aula por sua professora de Biologia. Laís, negra, 7, albina, com a ajuda da mãe entendeu desde nova que o albinismo não é uma condição limitante. Joselito mora em Salvador, Laís, no Rio de Janeiro. Distantes geograficamente, dividem os desafios de uma condição e uma complexa rede ancestral. O curta observacional, À Flor da Pele, acompanha os dois personagens em sua jornada diária com o albinismo.  Joselito é filho de mãe indígena e de pai negro. Descobrir-se albino tardiamente custou ao baiano sérios problemas de pele. Foi submetido a mais de 100 procedimentos cirúrgicos para remover lesões pré-cancerígenas. Apesar disso, costuma manter otimismo e bom humor. Numa das cenas, diverte-se com a enfermeira durante o procedimento de remoção de uma das lesões nas costas. Diferente de Joselito, Laís é acompanhada desde que nasceu, quando fora diagnosticada como albina. Patrícia, a mãe, conta que a princípio tomou um susto, mas logo em seguida entendeu que a filha veio para lhe dar coragem e mudar a forma de pensar sobre a condição. O entrelaçar das histórias é visível também na montagem realizada por Natara Ney. Numa das cenas, Laís está à mesa com os pais. Em off, ouvimos a voz de Joselito, que conta a história do nascimento do irmão que também é albino. Momentos distintos quanto ao contexto, porém interligados pela condição dos personagens.  À Flor da Pele tem direção e roteiro da carioca Danielle Villanova. Danielle foi produtora executiva do documentário Fico Te Devendo Uma Carta Sobre o Brasil, que conquistou Menção Honrosa do Júri Oficial no IDFA em 2019 e no Festival É Tudo Verdade em 2020. Também foi coordenadora de produção do documentário Divinas Divinas, de Leandra Leal. À Flor da Pele é sua estreia na direção. O curta irá estrear no Festival Curta Cinema no Rio de Janeiro, que acontece de 23 a 30 de abril.  Sobre o doc: https://www.aflordapelefilme.com/

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Aláfia: ancestralidade e sagrado são tema de curta-metragem

De origem Yorubá, a palavra “Aláfia” é traduzida como paz, harmonia, equilíbrio. Título perfeito para o curta homônimo dirigido pela pernambucana Cecília Fontenele. Aláfia (2025) acompanha um dia na vida de Sandra, mulher negra, de 28 anos, cujo cotidiano é fortemente marcado pela presença de três homens: o filho, o marido e o pai, e entrelaçado pela força da ancestralidade e do sagrado.  Na história, Sandra pretende fazer uma oferenda a favor da saúde do pai, que está muito doente. Sai logo cedo com o filho, sacola nas mãos. Nessa pequena jornada até a mata, local onde fará a oferenda, tem alguns momentos de transes. Vê-se no mercado, comprando os materiais para a oferenda, em casa, com o marido e, logo em seguida, visitando o pai.  O curta tem uma estética realista reforçada pelas atuações. Manoa Meliza, que interpreta Sandra, é bom exemplo disso. A atriz pernambucana transmite essa naturalidade que por vezes nos faz enxergar essa pegada quase documental. De grande talento, Manoa encarna essa força ancestral necessária à protagonista para o mover da história.  Aláfia foi exibido em março deste ano no Cine Deburu, em Planaltina (DF). O festival celebra e preserva as memórias dos povos de terreiro por meio da sétima arte. Participou também da mostra competitiva do Festival de Cinema Tela Cariri na cidade de Crato na última semana de março.  

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fernanda torres ira receber premio do critics choice awards por ainda estou aqui

Ainda Estou Aqui: as chances no Oscar

Há pouco mais de um mês, quando o Brasil entrou em festa pelas três indicações de “Ainda Estou Aqui” ao Oscar, quem apostaria numa mudança tão forte de cenário? Mudanças relacionadas à polêmica envolvendo “Emilia Pérez”, nossa principal concorrente. Verdade que o filme da Netflix abocanhou grande parte dos prêmios pelos quais passou. Porém, Karla Sofía Gascón, atriz que protagoniza a história dirigida pelo francês Jacques Audiard, resolveu polemizar perto do período de votação da academia, o que pode, sim, ter influenciado a escolha dos votantes. Veículos da imprensa internacional lançaram suas apostas quanto ao êxito de “Ainda Estou Aqui”. Para Tom Phillips, do jornal inglês, The Guardian, o longa de Walter Salles dialoga com o avanço do autoritarismo no mundo: “O filme se impôs, no Brasil e no mundo, durante uma nova onda de autoritarismo, como um alerta contra os homens poderosos e egocêntricos que em nada diferem daqueles que governaram o Brasil durante o regime militar…”. O The New York Times acredita que o filme brasileiro trará na bagagem os prêmios de Melhor Filme Internacional e de Fernanda Torres como Melhor Atriz. Fernanda terá pela frente a dura missão de desbancar Demi Moore (A Substância) e Mickey Madison (Anora). Moore venceu o SAG Awards, premiação do Sindicato dos Atores, e Madison, o Bafta, considerado o Oscar britânico. As duas premiações servem de termômetro para a categoria. Historicamente, quem ganhou alguma das duas, levou o Oscar de Melhor Atriz. Claro que isso não é regra esculpida em rocha. Fernanda Torres corre forte por fora, e pode surpreender. É óbvio que torcemos muito para que "Ainda Estou Aqui" volte ao Brasil com alguma estatueta. E as chances são reais. Porém, melhor que isso, é saber que a jornada de Eunice Paiva rompeu os limites territoriais brasileiros e lançou-se aos olhos do mundo como denúncia de um período sombrio de nossa história, em memória não apenas de Rubens Paiva, mas de tantos outros que foram mortos pela ditadura militar.   Aposta: "Ainda Estou Aqui" ganha o prêmio de Melhor Filme Internacional e Fernanda Torres o de Melhor Atriz.

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Netflix: O Que Tiver Que Ser (Crítica)

A base sólida de uma relação é a comunicação. Quando o único som que persiste é o do silêncio, o fim pode ser inevitável. Caso não aconteça, serão dois estranhos dividindo o mesmo teto. Essa é a base da trama de "O Que Tiver Que Ser", produção sueca lançada na Netflix. O longa foi escrito, dirigido e protagonizado por Josephine Bornebusch. A atriz sueca encarna Stella, uma mulher que enfrenta um casamento desgastado pela rotina e recente caso extraconjugal do companheiro, Gustav. A história muda de rumo quando o casal parte em uma viagem com o filho mais novo Manne (Olle Jacobssone) e filha adolescente Anna (Sigrid Johnson), que participará de um concurso de pole dance. O que seria um fardo, torna-se oportunidade ímpar de, quem sabe, reconciliarem e unirem outra vez a família. A trama parte da premissa de que uma relação começa a ruir no momento em que o interesse por tudo o que o outro representa se esvai. Quando a convivência teima em resistir ainda que suportada como um mero e amargo ato burocrático. Josephine está muito bem no papel de Stella, mulher marcada pela traição do marido e por carregar sozinha a responsabilidade de cuidar dos filhos e da casa. O ator norueguês Pål Sverre Valheim Hagen interpreta Gustav, terapeuta que vive a ironia de aconselhar casais em crise enquanto ele mesmo passa por uma muito pior no próprio casamento. "O Que Tiver Que Ser" não procura por culpados, nem pinta uma crise conjugal da monocromia rasa do preto ou do branco. Explora os possíveis tons de cinza que descrevem bem a complexidade de uma relação. Mergulha fundo na dor, sem perder a esperança.

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O Auto da Compadecida 2 (Crítica)

Sequências sempre enfrentam a pressão de ter de superar ou, pelo menos, igualar o sucesso do filme anterior. A situação ganha intensidade quando o longa em questão é um clássico nacional do porte de "O Auto da Compadecida". As presepadas de Chicó e João Grilo estão de volta à tela grande em "O Auto da Compadecida 2", vinte e cinco anos após a estreia do primeiro filme. Na história, Chicó segue a vida na mítica cidade de Taperoá, no sertão nordestino. Agora, vive da venda de santinhos esculpidos em madeira e da contação de causos para turistas, como a história do milagre da ressurreição de João Grilo. Para surpresa e alegria de Chicó, o amigo reaparece e passa a ser tratado como celebridade pelos habitantes de Taperoá. A fama de João Grilo chama a atenção de dois adversários políticos: o Coronel Ernani (Humberto Martins), um poderoso fazendeiro da região, e Arlindo (Eduardo Sterblitch), dono da única rádio da cidade. Ainda que se desenrole na década de 50, a trama traz como pano de fundo temas bem atuais. Os conflitos entre os personagens interpretados por Humberto Martins e Eduardo Sterblitch servem de mote a discussões sobre fakenews e adoração à celebridades. Além do Coronel Ernani e de Arlindo, outros personagens marcam estreia na franquia. Fabíula Nascimento interpreta Clarabela, filha do Coronel e novo par de chamego de Chicó. Luis Miranda encarna o trapaceiro e amigo de longas datas de João Grilo, o carioca Antônio do Amor. Outra personagem importante retorna: Rosinha (Virgínia Cavendish), par romântico de Chicó. Agora, uma mulher madura, independente, que trabalha como caminhoneira, bem diferente da jovem do primeiro longa, ingênua e subserviente ao pai, o Major Antônio Morais. Dirigido pelos pernambucanos Flávia Lacerda e Guel Arraes, "O Auto da Compadecida 2" mantém-se fiel à obra de Ariano, desde a caracterização e motivações das personagens até a construção do universo em que transitam. Taperoá é alçada ao nível de Macondo e Ítaca, famosas cidades míticas, como citou Flávia Lacerda em entrevista recente. Erguida em estúdio e finalizada em CGI, a cidade transpira fábula. Fazer comparações deste com o filme anterior pode macular a experiência com a nova proposta. Ainda que entrelaçadas pelo mesmo universo e personagens, cada obra, em parte, reflete o período em que fora lançada. No final, "O Auto da Compadecida 2" revela-se uma bela e divertida homenagem à criação do mestre Ariano. O filme estreia nos cinemas no próximo dia 25.

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Influência da religião na política é tema de novo documentário de Petra Costa

Pessoas oram de mãos dadas vociferando numa língua difícil de entender, conhecida no meio evangélico como "língua estranha". Outros de mãos erguidas abençoam bancadas e objetos, enquanto alguém, de Bíblia na mão, discursa em alta voz. Não, elas não estão dentro de um templo. Tudo acontece em um lugar nada comum à tal prática: a câmara dos deputados. A cena que aparece logo nos primeiros minutos de "Apocalipse nos Trópicos", documentário de Petra Costa, serve de prenúncio ao que está por vir. Registros de bastidores revelam nuances que não costumam aparecer em palavras e gestos de figuras públicas quando orientadas por uma assessoria em entrevistas para a imprensa. É o que mostra o novo trabalho de Petra. A diretora teve acesso privilegiado a conhecidos nomes da política como Sóstenes Cavalcante, líder da bancada evangélica, e o presidente Lula, da mesma forma que em "Democracia em Vertigem", filme indicado ao Oscar em 2020. De todos os personagens, um chama a atenção por sua influência na política brasileira nos últimos anos: Silas Malafaia. A câmera acompanha o pastor em situações longe dos púlpitos e palanques. Uma cena inusitada mostra Malafaia dirigindo e batendo boca com um motoqueiro. O religioso justifica a atitude lembrando que Jesus também foi duro ao chicotear pessoas que faziam comércio na frente do templo. Em outro momento, Malafaia orgulha-se da liberdade que tinha na relação com Jair Bolsonaro e da influência que exercia nas decisões do ex-presidente, como aconteceu na escolha do pastor presbiteriano André Mendonça para o STF, o ministro "terrivelmente evangélico". O documentário é apresentado em capítulos, costurado por reflexões em off da diretora, ilustradas por pinturas de temáticas apocalípticas que exibem inferno e morte, obras de artistas como o holandês Hieronymus Bosch. Inferno e morte representados da mesma forma nas sequências seguintes por áudios de profissionais da saúde de Manaus desesperados por falta de oxigênio e cenas de tratores cobrindo de terra centenas de covas em enterros coletivos durante a pandemia de Covid. "Apocalipse nos Trópicos" expõe a contradição de um discurso dominador e excludente que clama por liberdade na ânsia por um governo teocrático. Tipo de discurso que culminou na tentativa de golpe no fatídico 8 de janeiro. A história mostra quão sombrios foram os períodos em que religião e política decidiram marchar juntas. Para o bem da democracia, que esse cálice seja afastado da política brasileira. "Apocalipse nos Trópicos" foi exibido no Janela Internacional de Cinema do Recife. Ainda sem previsão de estreia no circuito comercial.

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Indicado do Brasil ao Oscar emociona público em noite de exibição no Cinema São Luiz

Primeiro domingo pós reabertura do Cinema São Luiz chegou ao fim em grande estilo: com exibição de filme indicado ao Oscar pelo Brasil. "Ainda estou aqui", longa de Walter Salles, arrancou aplausos emocionados no terceiro dia do Janela Internacional de Cinema. Noite de sala lotada, com direito a praia de espectadores (nomeada assim por Kleber Mendonça Filho) sentados abaixo da tela e dos famosos vitrais de Aurora de Lima. "Ainda Estou Aqui" é baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, obra que relembra a dor enfrentada por sua família ao ter o pai, Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello), sequestrado e morto pela Ditadura Militar. Acompanha a luta de Eunice (Fernanda Torres), mãe do escritor, à procura de respostas em meio ao martírio de ter de encarar o sofrimento nos olhos dos filhos. Após a exibição, o Janela promoveu um bate-papo entre Kleber Mendonça e Walter Salles. "Quando saiu o livro, fiquei completamente transtornado durante dias, decantando a obra e pensando se haveria uma forma de adaptação possível", comentou o diretor, que costumava frequentar a casa de Rubens Paiva. Salles era amigo dos filhos do ex-deputado. Fernanda Torres em grande atuação A dor do silêncio é maior que a dor da perda. Silêncio que arrasta o peso do talvez, que machuca tanto quanto o vazio que fica após a morte de um ente querido. Esse é o dilema de Eunice Paiva. Para onde levaram seu marido? Ainda estaria vivo? O sofrimento psicológico lançado sobre os familiares das vítimas era uma especialidade do regime militar. Em essência, "Ainda Estou Aqui" reflete sobre um tipo de dor que não pode ser curada, mas aceita. Aceitação costurada pelo correr dos anos, ou por algum fato que sirva de marco. A venda da casa, a mudança para outra cidade, fatos que apontam e confirmam que nada será como antes. Fernanda Torres encarna o papel de Eunice. Atuação soberba, cheia de nuances, marcada por silêncios e olhares mais profundos em significado do que qualquer palavra que poderia ter sido dita. Os resultados do bom trabalho estão surgindo. A atriz recentemente foi homenageada por sua atuação no Critics Choice Awards e está cotada ao prêmio de Melhor Atriz na próxima edição do Oscar. Aclamação Desde que estreou no Festival de Veneza, "Ainda Estou Aqui" vem arrancando elogios e longos aplausos de crítica e público. Até o momento, já conquistou oito prêmios: Melhor Roteiro e Prêmio SIGNIS no Festival de Veneza, Prêmio do Público no Festival de Cinema da Filadélfia e no Festival Internacional de Cinema de Vancouver, Melhor Filme Global no Festival de Cinema de Mill Valley, Melhor Ficção Brasileira na 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, além de Melhor Atriz de Filme Internacional para Fernanda Torres no Critics Choice Awards.

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