Acreditando na máxima “Todo artista tem de ir aonde o povo está”, resultante da feliz parceria de Milton Nascimento e Fernando Brant, que gerou a canção “Bailes da vida”, diversos autores pernambucanos, ou aqui radicados, além de exercer a arte da escrita, vão às escolas em que seus livros são adotados para um contato direto com o leitor. Essa prática se impôs por aqui, nos meados de 1980, quando os lançamentos das Edições Bagaço tomaram corpo na missão de revelar e resgatar talentos literários e artistas dedicados à ilustração gráfica. E aqui vão os depoimentos de alguns desses Quixotes: A escritora Socorro Miranda revela: “Vou às salas de aula para concretizar uma verdadeira mediação de leitura, pois o autor chegar perto dos seus leitores não tem incentivo melhor, que essa quebra de distâncias, para um primeiro passo ao encantamento pela leitura. Lá somos recebidos sempre, com entusiasmo e curiosidade. Acredito que o leitor percebe que o escritor não é de outro mundo, é de carne e osso e está mais próximo que eles imaginam. E que eles (leitores), podem mudar de lado e serem escritores, também”. Perguntada sobre o que eles (alunos) mais questionam, disse: “Perguntam como se faz para criar uma história e de como é feito um livro”. Defensora da cultura regional e ecologia, temas principais de suas histórias. Socorro Miranda cita “Burrinha Manhosa”, “Lalá, a latinha de lixo”, “Contando, cantando e encantando” e “A viagem do velho Chico”, seus livros de maior aceitação. O escritor Valdir Oliveira garante que “estar na sala de aula é participar de um processo de construção de conhecimento. E alunos não são apenas aprendizes, são seres que refletem, questionam e também ensinam, numa troca frutífera. Isso provoca o autor a perceber a extrema responsabilidade naquilo que diz ou escreve. Ir às salas de aula é a oportunidade de presenciar a reação aos textos produzidos no ambiente solitário do escritor”. Sobre o acolhimento nas salas de aulas, revela: “Tenho as melhores respostas aos meus encontros. Quando já leram a obra, mostram-se muito curiosos tentando desvendar os segredos e verificando se nos parecemos com o personagem por eles imaginado. Quando ainda não leram, ficam curiosos querendo saber por que somos escritores, quais as motivações, se há técnicas específicas”. Questionado se a visita do autor contribui para o hábito da leitura, Valdir afirma. “Não tenho dúvida de que se sentem instigados. Falamos não apenas das obras, mas da importância da leitura para o desenvolvimento da capacidade de interpretar, tanto questões da educação formal quanto no sentido de tornar as pessoas mais críticas, mais atentas, mais cidadãs e humanas”. Perguntado quais seus trabalhos de maior aceitação para o público, detalha: “Tenho 10 livros publicados. Mas destaco, para o público infantil as experiências com “A Lagartinha Sapeca” e “Na Toca do Sapo”, publicados pela Bagaço. Mais recentemente, o “Lápis Apaixonado”, que inclusive tive oportunidade de fazer um trabalho de leitura com crianças em uma escola da Guiné Bissau, no continente africano, em 2015. Já os “Olhos de Ilberon”, voltado para adolescentes, tem sido trabalhado também em alunos EJA e por ter sido adquirido pela Secretaria de Educação de Pernambuco que comprou a segunda edição inteira, circula atualmente tanto pela rede pública quanto em escolas particulares. Já para o público adulto, destaco “Diário Diagonal”, lançado pela editora Chiado, de Lisboa. Já estive na Fafire, com estudantes de psicologia falando sobre o livro e o resultado foi fantástico. E em junho alunos de Programação Visual da UFPE fizeram adaptação de trechos do livro”, concluiu. Tanto quanto Valdir Oliveira e Socorro Miranda, o escritor Antônio Carlos do Espírito Santo, tem nome reconhecido nas salas de aula. Questionado sobre o que lhe motiva a visitar as escolas, resumiu: “Vou para saber de que forma sou lido pela clientela para a qual escrevo, pois não tenho parâmetros técnicos nem científicos para tanto. Hoje, depois de cinco livros escritos, me sinalizaram que meu trabalho alcança a faixa etária dos que têm entre oito e 12 anos. Dúvidas do tipo ‘será que o universo que vivi quando tinha a idade deles, como as férias no sítio, é capaz de interessá-los? ’, só podem ser respondidas em contato com eles. Descobri que gostam e não é pouco. Não sei por quê. Talvez este universo venha a soar para eles como um paraíso perdido, algo parecido com os reinos encantados dos contos de fada. Mas são apenas suposições. Estou lendo “Fadas no Divã” e quem sabe comece a compreender melhor estas coisas. Ou não”. Antônio Carlos assegura que é recebido com muitas reverências. “Às vezes são tantas que preciso criar um clima para a conversa fluir. Penso que preparam a recepção de modo a ter controle do que vai acontecer e o tempo disponibilizado para o encontro. Mas acho que não se perde a emoção de estar frente a frente com o escritor que leram, e a minha emoção de conhecer em que mãos e em que cabeças chegaram as minhas ideias, agora partilhadas, reinterpretadas e às vezes recriadas”. Perguntado sobre o que os leitores mais questionam, acrescenta: “Como ocorre o processo criativo. De onde vêm as ideias, como a trama se desenvolve, quanto tempo passamos para concluir a obra. Como se vê, não são perguntas que comportam respostas simples, até porque cada livro é resultado de uma experiência. Deixo claro que essa ideia me chega por diferentes fontes e que o desenvolvimento há um trabalho árduo que envolve consulta a pessoas e textos. Envolve releituras do texto em gestação, buscando torná-lo atraente (para mim, antes de mais nada), verossímil, bem articulado”. Sobre os livros de maior aceitação afirmou que ainda é o primeiro deles, 'A Farra dos Bonecos' é o campeão de indicações. "Difícil dizer a razão de esse livro cair na preferência dos leitores mais que os outros. De qualquer modo, creio que se os demais títulos fossem postos ao alcance dos leitores receberiam preferências. Um deles, 'O Gigante Papa-Léguas', foi recentemente adotado por um educandário (Curso Vencer) e a conversa que tive com os