Arquivos Entrevistas - Página 17 de 29 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Entrevistas

O ensino da matematica

"O ensino da matemática precisa fazer sentido para o estudante"

Difícil, complicada e chata. Muitas vezes, é desta forma que o estudante brasileiro encara a matemática. Mas para a professora associada da UFPE Rosinalda Aurora de Melo Teles, essa crítica não passa de um preconceito daqueles que não conseguem ver a beleza da disciplina. Rosinalda, que também é diretora da Sociedade Brasileira de Educação Matemática - Regional Pernambuco, reconhece, porém, que essa visão preconcebida não é culpa das pessoas, mas da forma como a matéria ainda é ensinada. “É preciso dar significado à matemática, ou seja, trazer para as aulas a própria história da matemática, porque ela foi criada, o porquê aqueles conteúdos, por que aqueles conceitos foram desenvolvidos, qual era a finalidade deles”, defende a professora, que atua ainda como pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica (Edumatec). Nesta conversa com Cláudia Santos, ela detalha as causas que levaram a disciplina a ser o “bicho papão” dos alunos e como torná-la mais atrativa. Afinal, entre outros motivos, a matemática faz parte do currículo de profissões com bastante demanda no mercado de trabalho. É o caso da área de tecnologia da informação, ou mesmo de professores de matemática, que já saem do curso de licenciatura praticamente com vaga garantida. O que as estatísticas mostram sobre o aprendizado da matemática no Brasil? No Brasil são três fontes que geram dados estatísticos sobre a aprendizagem de matemática: a nível internacional o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), o maior estudo sobre a educação no mundo. Já as avaliações em larga escala a nível nacional nós temos o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica), que foi empreendido no Brasil a partir de 1990, e a nível estadual temos o Saep (Sistema de Avaliação do Estado de Pernambuco). Infelizmente, as três avaliações mostram que o País apresenta resultados ruins em matemática. No histórico dessas avaliações, a maioria dos estudantes não demonstrou conhecimento necessário para ser proficiente nessa disciplina. Segundo o Pisa, por exemplo, o Brasil apresentou um crescimento na avaliação de 2000 até 2012. Em 2015, ele caiu alguns pontos, em 2018, volta a subir, mas não consegue ficar no patamar máximo que ele teve em 2012. O estudo apontou que o Brasil tem baixa proficiência em leitura, matemática e ciência, se comparado com outros 78 países que participaram da avaliação. Na edição de 2018, apesar de o Brasil ter subido um pouco em relação à avaliação de 2015, revela, porém, que 68,1% dos estudantes brasileiros com 15 anos, ou seja, estudantes do ensino médio, não possuem nível básico de matemática, o mínimo para o exercício pleno da cidadania. A senhora acha que a falta uma didática para ensinar a matemática que priorize aulas mais dinâmicas e exemplos da “vida cotidiana” para os “cálculos abstratos”? O ensino da matemática precisa ser contextualizado, ele precisa fazer sentido para o estudante. Agora, nem sempre vai possível fazer relações com o cotidiano porque, por exemplo, como é que eu vou associar um polinômio, um tema que é estudado no oitavo ano, com a vida cotidiana? Então, precisamos incluir outros recursos, outros aspectos lúdicos, estéticos e sensíveis. Como, por exemplo, para dar sentido e significado ao ensino da matemática, pode-se incluir jogos, brincadeiras, desafios, propor resolução de problemas e que podem estar relacionados à vida cotidiana, mas também podem ser relacionados à própria matemática. Outro aspecto importante que se que se discute para tirar essa dureza da matemática é utilizá-la como uma ferramenta para resolução de problemas interdisciplinares, ou seja, quando estudamos história, geografia, ciências, a matemática estar presente como uma ferramenta para resolver problemas daquelas áreas de conhecimento. É preciso também que os estudantes compreendam a importância da matemática, por isso deve-se fazer um resgate da sua história, para que eles compreendam a importância daquele conhecimento. A própria etimologia dos termos utilizados em matemática já diz muito sobre o seu significado e já tira esse aspecto da abstração, o qual, às vezes o professor frisa muito, por estar alicerçado apenas na técnica. Um outro lado de reflexão nessa sua pergunta é que a matemática vai além da técnica. O professor precisa explicar o porquê, o como, de onde vem, para que serve e não somente ficar na técnica de como fazer aquele cálculo. Pesquisa realizada na Faculdade de Educação da USP mostra que praticamente metade dos alunos de cursos superiores como pedagogia ou licenciaturas não se interessam em virar professores de educação básica. Isso contribui para reduzir a oferta de professores de matemática? As pesquisas mostram que a maioria dos estudantes que ingressam nos cursos de pedagogia faz a opção pelo curso por algumas razões. São geralmente os cursos que têm mais vagas na universidade pública federal. A outra opção é porque é considerado um curso que não vai ter matemática por ser mais ligado à área das ciências humanas. Então, geralmente, os estudantes que fazem a opção de cursar uma licenciatura em pedagogia não têm muita afinidade com matemática. Há uma outra questão: o investimento intelectual, cognitivo, financeiro, de tempo para cursar uma licenciatura em matemática, química ou física (as três áreas no Brasil com menos oferta de professores) é o mesmo investimento para fazer uma engenharia ou outro curso que tenha mais reconhecimento social, com melhores salários, embora não tenha mercado de trabalho como tem para o professor. Quando o estudante diz que não quer ser professor da educação básica, ele está se referindo a condições de trabalho que não são favoráveis, ao salário. Embora o professor seja importantíssimo para a sociedade, seja um formador de todas as outras profissões, ele não tem um reconhecimento social pela comunidade, pelas pessoas. Formam-se poucos professores de matemática, porque as pessoas estão fazendo a opção de cursar outros cursos. Entre investir para fazer uma licenciatura de matemática e investir para fazer um outro curso que está na moda, as pessoas fazem a opção de fazer outro curso que, muitas vezes, não garante acesso ao mercado de trabalho. A UPE por exemplo tem licenciatura em matemática em Garanhuns, em Petrolina e em Nazaré da

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"Temos que desenvolver atividades socioeconômicas compatíveis com o clima da caatinga".

"Na plenitude das secas (os sertões) são positivamente o deserto. Ao sobrevir das chuvas, a terra (...) transfigura-se em mutações fantásticas, contrastando com a desolação anterior. Os vales secos fazem-se rios. (...) E o sertão é um vale fértil. É um pomar vastíssimo, sem dono. Depois tudo isso se acaba. Voltam os dias torturantes (...), o empedramento do solo, a nudez da flora; e nas ocasiões em que os estios se ligam sem a intermitência das chuvas – o espamo assombrador da seca.” O relato de Euclides da Cunha em Os Sertões já destacava, no início do século passado, o quanto são variáveis o clima, a vegetação e o solo da caatinga ao longo do ano. O engenheiro agrônomo e professor da UFPE, Rômulo Simões Cézar Menezes, defende ser fundamental entender essa variabilidade da região para desenvolver atividades econômicas adaptáveis às suas condições. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele ressalta que a estratégia é ainda mais essencial diante das mudanças climáticas que podem tornar o Nordeste mais seco e mais quente, diminuindo a produtividade das culturas agrícolas no semiárido, com menor disponibilidade de água, podendo causar a extinção de algumas espécies. Rômulo Menezes comenta ainda algumas iniciativas de sucesso, como o projeto das cisternas, e o OndaCBC, uma rede de pesquisa da qual é vice-coordenador, que visa a estudar a variabilidade desse bioma e identificar práticas agropecuárias mais sustentáveis, que possam trazer mais emprego e renda à população do semiárido. A caatinga está associada a um imaginário de uma terra de solo rachado e sem vida. Qual a real importância desse bioma para o planeta? Esse imaginário está construído numa imagem incompleta. A caatinga não é solo rachado e sem vida, ela é isso em boa parte do ano, mas quando chove, é um ecossistema riquíssimo em biodiversidade, em várias espécies endêmicas, que só existem no nosso País, e produz uma enormidade de riquezas, de vegetais, de fauna e que é a base do sustento para milhões de pessoas. Por ser muito grande, uma das maiores regiões de vegetação tropical florestal seca ainda remanescente no mundo, isso tem um impacto sobre o funcionamento dos ecossistemas do Brasil e do globo. Por isso, é um bioma que precisa ser preservado, pois tem muito a contribuir tanto do ponto de vista de suas espécies, do suporte da população local, do seu impacto no clima regional e eventualmente global. Por que a caatinga é assolada pela seca durante séculos? As secas são um fenômeno natural associado ao clima da caatinga. As chuvas que ocorrem na região semiárida do Nordeste do Brasil são influenciadas por, digamos assim, frentes climáticas que vêm de diversas direções, tanto da Amazônia, do Oceano Atlântico, como da parte norte da América do Sul. Muitas vezes a movimentação dessas condições climáticas funcionam de forma um pouco diferente, de maneira que as chuvas não chegam na mesma intensidade de outras regiões. É realmente fora do comum como o normal da variação do clima na caatinga é algo extremamente anormal e variável comparado a outras regiões onde chove mais e de forma mais regular. Faz parte do ecossistema essa variação climática de chover tanto de forma desordenada durante o ano quanto, de vez em quando, passar alguns anos chovendo muito pouco. É daí que vem a expressão de que devemos conviver com a seca e não combatê-la, por ser um fenômeno natural da região. Temos que desenvolver atividades socioeconômicas compatíveis com essa condição do clima, que nós não vamos conseguir mudar. Qual o impacto das mudanças climáticas na caatinga? Estudos conduzidos por diversos grupos no Brasil e por instituições internacionais mostram que a maior probabilidade é de termos um clima no futuro mais seco e mais quente no Nordeste, incluindo também a caatinga. E os estudos que temos feito indicam que, caso isso aconteça, haverá diminuição da produtividade das culturas agrícolas, um menor crescimento da própria caatinga e empobrecimento do solo, levando à degradação dos ecossistemas em alguns locais, com vegetação menor e menor disponibilidade de água, causando a extinção de algumas espécies ou, pelo menos, a diminuição da ocorrência dessas espécies. Isso é um efeito significativo, mas potencial, não se tem certeza de como vai acontecer ainda. Isso tudo vai impactar a economia e a população do semiárido, visto que muita gente ainda depende das atividades agropecuárias e florestais na região. É possível que no futuro haja uma diminuição da dependência da população à agropecuária e ao extrativismo e um aumento de nível de educação, de oportunidades em outros setores, como o comércio, e desenvolvimento de outras cadeias produtivas na região. Como a energia solar pode beneficiar a região? A incidência de energia solar na região semiárida do Nordeste do Brasil é excelente e se destaca do resto do País e até no mundo como uma área com grande abundância de disponibilidade de energia de radiação solar. Isso precisa ser aproveitado, como já vem sendo. A tendência é de que, cada vez mais, ela se torne mais viável com a contínua queda do preço dos módulos de geração fotovoltaica e com a diminuição do custo das outras formas de aproveitamento de energia solar como a energia solar térmica. Muito provavelmente veremos cada vez mais oportunidades de geração de emprego e renda na região semiárida advindas do aproveitamento de energia solar. Esperamos que isso possa se complementar com outras atividades que contribuam para sustentar e dar dignidade de vida à população local e mais oportunidades para que ela possa permanecer na região com empregos de boa remuneração e que isso traga desenvolvimento. A energia solar, assim como a eólica, tem trazido muitos dividendos para a região. Importante destacar que isso possa também acontecer de forma mais descentralizada e mais distribuída entre os diferentes extratos da população no futuro. Leia a entrevista completa na Edição 187.4 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"A sociedade precisa rever os seus valores em relação a descanso e sono."

Trabalhe, enquanto eles dormem”. O mantra preconizado por blogueiros e cards nas redes sociais pode levar muita gente a ter sérios problemas de saúde. Existem nada menos de 34 doenças catalogadas que têm relação com a poucas horas de sono, como hipertensão arterial, obesidade e a ocorrência de testículos menores que causam infertilidade. Nesta conversa com Cláudia Santos, o fisiologista clínico, hebiatra e especialista em saúde do sono, Cláudio Barnabé, derruba o mito de que dormir é perda de tempo. “Hoje, o sono não é mais considerado um estado de inércia total, mas é um estado de semiconsciência com funções fisiológicas específicas, inclusive a remoção de toxinas, como as células beta-amiloides, que são uma das indutoras da doença de Alzheimer”. Barnabé, que é professor da UPE (Universidade de Pernambuco) e chefe do departamento de qualidade de vida e saúde da Fundação CAS da PMPE (Polícia Militar de Pernambuco), também alerta que indivíduos submetidos à privação de sono têm menos captação de conhecimento cognitivo, menor retenção de informações aprendidas durante o dia e tomam más decisões. Ou seja, ao contrário do que recomenda a máxima dos influencers, para trabalhar bem é preciso dormir bem. Confira a entrevista. Como a pandemia afetou o sono das pessoas? A pandemia nos deixou no estado de alerta. Todas as pessoas foram afetadas de alguma forma. Os casos de depressão, de ansiedade aumentaram por causa das notícias sobre a letalidade desse vírus e de tudo que aconteceu. Os noticiários anunciavam cada vez mais mortes, mais restrição, mais lockdown, as pessoas foram afastadas dos seus entes queridos. O medo foi a principal causa que afetou o sono das pessoas. A situação provocou uma ação neurológica na amígdala neuronal, que é uma parte do cérebro que nos prepara para a luta ou a fuga, deixando nosso sistema nervoso autônomo simpático em alerta, secretando hormônios de estresse como catecolaminas, adrenalina, noradrenalina, cortisol, que são contrarreguladores do sono. Isso impediu as pessoas de trabalharem o sistema nervoso parassimpático que é aquele que nos “desliga” de toda essa ação de luta ou fuga, que nos deixa em estado de bem-estar, de torpor, de relaxamento suficiente para pegarmos no sono. As pessoas permaneceram menos tempo expostas ao sol. A luz solar durante o dia aumenta de forma natural a produção de melatonina no período noturno, que é o hormônio que induz o sono à noite. Também se praticou menos exercício físico. Um dos substratos energéticos da atividade física é uma substância chamada adenosina, um estimulador da melatonina. Por que dormir bem é tão importante? Antigamente se achava que dormir era só uma questão de perda de tempo. Hoje a ciência é pródiga em mostrar influências nas mais variadas esferas do sono na saúde do ser humano. Existem mais de 34 doenças catalogadas que têm relação com noites mal dormidas, como hipertensão pulmonar, hipertensão arterial, distúrbio temporomandibular, bruxismo, morte súbita, obesidade, diabetes. Hoje, o sono não é mais considerado um estado de inércia total, mas é um estado de semiconsciência com funções fisiológicas específicas, inclusive a remoção de toxinas, como as células beta-amiloides que são uma das indutoras da doença de Alzheimer, por exemplo. A National Sleep Foundation recomenda que pessoas de 18 a 60 anos tenham um sono de sete a nove horas. O ser humano foi feito para dormir no período noturno. Os hominídeos são indivíduos diurnos e o melhor sono é aquele da noite, principalmente na chamada temperatura nadir, que é a menor temperatura do corpo que vai acontecer por volta das 3 a 5 horas da manhã. O sono é dividido em quatro partes, N1, N2, N3 (que abrangem o sono não REM) e o sono REM, uma sigla em inglês para movimento rápido dos olhos. Esse ciclo é repetido de quatro a seis vezes por noite. Essas são as fases de sono mais profundo e o indivíduo vai ter os sonhos oníricos na fase de sono REM. São aqueles sonhos nos quais, por exemplo, sonhamos que voamos ou que uma sereia anda no meio da rua. É exatamente nessa fase quando temos maior retenção de conhecimento, maior captação cognitiva, maior remoção de toxinas e de recuperação do cansaço. Pessoas que dizem que dormem, mas não descansam, acordam muito cansadas, são pessoas que num eletroencefalograma noturno de sono, chamado polissonografia (exame específico para determinar distúrbios do sono), encontramos uma má arquitetura de sono. Às vezes a pessoa dorme, mas ela tem uma latência muito grande para entrar em sono REM, ou seja, o tempo que ela dormiu até entrar no sono mais profundo. Um estudo de Matt Walker, considerado um dos “pais do sono” no mundo, mostrou que homens que dormem apenas cinco horas por noite têm testículos significativamente menores do que quem dorme sete horas ou mais. E aqueles que têm, com frequência, apenas quatro a cinco horas de sono, apresentam um nível de testosterona de alguém 10 vezes mais velho, o que traz implicações na reprodução. Outra coisa importante: esses blogueiros, esses vendedores de sucesso, que recomendam “produza enquanto eles dormem”, isso é de uma idiotice sem precedentes. Alimentação pode ajudar a ter um bom sono? Sim, existem alimentos, principalmente bebidas que são excitatórias, como chá preto, refrigerantes à base de cola, guaraná, café. Alimentos proteicos, por exemplo, que secretam o aminoácido triptofano, presente no leite, tem uma maior ação sobre a melatonina na indução do sono. Alimentos ultraprocessados, cheios de nitrito, nitrato, glutamato, são mais excitatórios do sistema nervoso central, promovem disbiose, um desequilíbrio entre as bactérias do bem e do mal no intestino, provocando um extravasamento de toxinas que ultrapassa a barreira hematoencefálica, lá no cérebro, causando mais excitação, irritabilidade e consequentemente, insônia. O sono é muitas vezes malvisto na contemporaneidade que exige alta produtividade dos profissionais. O senhor acredita ser necessária uma mudança no modo de vida da sociedade contemporânea? Indubitavelmente. Existem vários estudos na literatura nessa direção. Um deles, cito recorrentemente, mostra que indivíduos submetidos à privação de sono têm menos captação de conhecimento cognitivo, menor retenção de informações aprendidas durante o dia

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"Urbanismo tático ajudou a reduzir sinistros com vítimas no Recife"

O Relatório Preliminar de Vítimas Fatais – Recife 2020 mostrou que entre 2015 e 2020 houve uma redução nos sinistros de trânsito de que resultaram em óbitos de 65% na capital pernambucana. Quando comparado 2019 a 2020, a redução foi de 8,5%. O número de mortos em 2020 no Recife chegou a 6,47 por 100 mil habitantes, metade da média nacional que foi de 14,25. Várias foram as ações que permitiram a boa performance, em especial as intervenções realizadas na estratégia do urbanismo tático. Nesta conversa com Cláudia Santos, o secretário de Política Urbana e Licenciamento do Recife Leonardo Bacelar detalha essa e outras ações que visam a priorizar o pedestre e o ciclista, as partes mais frágeis do trânsito. Apesar da redução de acidentes, Bacelar afirma que há um limite para o resultado dessas ações e que todos devem agir de forma responsável ao trafegar pela cidade. Ele também faz um apelo para que os moradores do Recife respondam a pesquisa origem-destino para que se possa conhecer as mudanças de hábitos provocadas pela pandemia e, assim, planejar melhor a mobilidade. O trânsito no Recife tem apresentado uma redução no número de vítimas fatais. Quais as causas dessa redução? Esse trabalho vem sendo realizado, junto com a CTTU (Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano de Recife), desde a gestão anterior e é focado na segurança viária principalmente para evitar o sinistro com vítima. Tentamos reduzir ao máximo esse tipo de sinistro, em especial os que envolvem vítimas fatais. A parte desse trabalho é mais visível nas ações de urbanismo tático, em que fazemos o mapeamento dos locais onde se tem o maior índice de acidentes e trabalhamos com resultados. Vou dar um exemplo: o binário, saindo do aeroporto. Ali, há um cruzamento onde aconteciam muitos acidentes e implantamos o urbanismo tático, colocando aquele cruzado amarelo no chão. Isso, por si só, faz com que o motorista veja a sinalização de forma mais intensa e ele, instintivamente, diminui a velocidade. Essa ação ajudou a diminuir o sinistro, principalmente com vítima. A velocidade é um fator importante na causa desses sinistros, principalmente, com óbitos. Recife já conseguiu uma grande marca. O Relatório Preliminar de Vítimas Fatais – Recife 2020 mostrou que entre 2015 e 2020 houve uma redução nesses sinistros de 65%. Quando comparado 2019 a 2020, a redução foi de 8,5%. O número de mortos em 2020 no Recife chegou a 6,47 por 100 mil habitantes, metade da média nacional que foi de 14,25. A orientação do prefeito João Campos é focar ainda mais na redução do sinistro com vítima e na mobilidade urbana. Designamos uma diretoria da CTTU para isso, que engloba ciclovias, pedestrianização (devolver o acesso às ruas aos pedestres), sempre focando no mais frágil do sistema viário que são os que andam a pé ou de bicicleta. Um dado muito interessante é o perfil de quem se acidenta: 80% são homens, pedestres (46%) e motociclistas (40%) e em idade economicamente ativa, 20 a 39 anos. Além das perdas das vidas, que é algo muito grave, quais as outras repercussões disso? Uma perda econômica para a sociedade porque são jovens economicamente ativos, e o aumento dos custos nos sistemas de saúde e previdenciário. Normalmente, quando não vêm a falecer, ficam com alguma sequela, entram no benefício, além da questão psicológica da pessoa, que deixa de estar empregada, desestabiliza a família e acaba afetando seu emocional. O senhor mencionou o urbanismo tático. Quais as vantagens que proporciona? Para fazer o urbanismo tático, primeiro verificamos os locais onde é possível fazer uma intervenção, sempre visando à melhoria do sistema viário, priorizando o pedestre e o ciclista, com foco sempre no mais frágil. Temos vários exemplos de sucesso, o último mais conhecido foi o da Rua da Palma, no bairro de São José. Conversamos com a Câmara de Diretores Lojistas sobre o projeto. Normalmente há uma restrição muito grande por parte dos comerciantes em razão da perda de vagas de estacionamento. É sempre uma luta desmistificar isso e a rua da Palma serviu de exemplo. Antes, 40% da via era dedicada ao pedestre e 60% para carros, hoje o trecho onde trabalhamos transformou-se no oposto: 60% para o pedestre e 40% para os carros. A vaga de estacionamento permaneceu, mas foi reduzida. O resultado foi tão bom que a parte da rua que não foi contemplada está pressionado para fazermos as mudanças lá também. É um bom sinal, acho que acertamos. Eles disseram que melhorou até o faturamento das lojas e houve melhoras em termos logísticos. Eles conseguem, agora, fazer carga e descarga com mais facilidade. A sensação de segurança também melhorou porque a rua fica mais ampla para o pedestre, o campo de visão dele fica maior. Os cadeirantes estão andando na rua com mais tranquilidade. Urbanismo tático tem uma grande vantagem porque a gente consegue desfazer a ação, por utilizar apenas tinta. Nós projetamos as intervenções e se a vida real mostrar que erramos, tem como voltar atrás. Mas até agora a gente não fez nenhuma reversão. A pandemia impactou a mobilidade na cidade? A gente tem um sentimento de que houve uma mudança, sim, mas para conhecer as reais mudanças que aconteceram, estamos fazendo a pesquisa de Origem-Destino. Lançamos a pesquisa na Semana da Mobilidade. Para respondê-la, basta entrar no portal da CTTU (cttu.recife.pe.gov.br) ou no aplicativo Conecta Recife. Quanto maior a quantidade de questionários respondidos, estatisticamente a pesquisa fica com a confiabilidade maior. Temos também a oportunidade de ajudar no planejamento futuro da cidade, entender como as pessoas se comportam e as questões relativas a mudanças de hábitos, de horários; muita gente saiu do transporte público e passou a usar a bicicleta. Muita gente está no home office, o trabalho que deixou de ser 100% físico. E há quem trabalhe uma parte da semana remoto, outra parte na empresa.. A pesquisa é rápida de ser respondida e agradecemos muito o apoio de quem respondê-la, porque vai nos ajudar muito a estudar e a entender melhor os hábitos pós-pandemia.

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"Para baixar os preços, é preciso um programa de estímulo à produção"

Ao abastecer o carro, cozinhar ou pagar a conta da luz, a constatação é a mesma: o temível dragão da inflação voltou. E, mais uma vez, a maior vítima da fera do aumento de preços são os pobres que amplificam o contingente de miseráveis do País. Para saber sobre os fatores que elevam os preços no Brasil, Cláudia Santos conversou com a economista Amanda Aires, professora de economia da UniFBV. Em meio às crises sanitária, hídrica e institucional, ela aponta um cenário ainda complicado para o País em 2022. Mas, por não querer ratificar a ideia de que os profissionais de economia são sempre portadores de má notícia, Amanda indica algumas saídas. Uma delas é pôr fim às pelejas institucionais que tanto prejudicam os investimentos no Brasil . “Essa briga da Presidência e do STF está cansando todo mundo”, constata a economista que, também, propõe um programa de estímulo à produção para combater a alta de preços. “O País precisa ter uma agenda de investimentos de longo prazo”, alerta Amanda. Confira as análises da especialista a seguir. Qual o impacto da crise climática nos preços no País? O impacto é imenso. Por exemplo, temos uma seca prolongada dentro das principais regiões produtoras de energia do Brasil e isso se reflete em todos os preços. A tendência é de uma expansão de preços ainda maior porque o Governo Federal atrasou a ligação das termelétricas. Ele ficou negando (a crise hídrica) e agora temos uma alta de preços de energia muito forte, que repercute em toda a sociedade: na conta de luz da pessoa física mas, também, no custo da indústria e do setor de serviços. É bem caótica a situação. Então, existe o fator climático sim, mas não houve um bom gerenciamento dessa questão hídrica. Os preços iriam aumentar de qualquer jeito mas o aumento poderia ser menor. E até o momento não há uma orientação para a população economizar energia... Economizar energia para o governo significa apagão. E acontecer um apagão agora, para um governo que está extremamente desgastado, é jogar uma pá de cal em qualquer possibilidade de haver reeleição. Como a recuperação da economia da China influencia no preço dos produtos no Brasil? A China já vem se recuperando há um tempo. As pessoas não confiam muito nos dados chineses mas o fato é que eles conseguiram controlar a Covid-19 de forma mais consistente e muito mais rápida. Aí, quando eles voltam a crescer, voltam a importar. E, quando eles voltam a importar, aumentam a demanda pelas nossas commodities. A tendência é que haja um aumento de preços no mercado interno. Teremos aumento de preços em todos os lugares do mundo pois a China influencia muito os mercados globais. Como a instabilidade política do País reverbera na inflação? Pense numa pessoa que vai investir no Brasil. Aí ela olha e fala: “minha nossa, isso aqui é bagunça! É uma treta em cima de treta!” Há uma crise institucional muito grave; existe um problema entre o executivo e o judiciário, você não sabe se Bolsonaro vai sofrer impeachment, a pauta econômica foi para o espaço há muito tempo. Então, a tendência é de que haja um agravamento da situação e as pessoas não querem investir. Mas, quando Bolsonaro, na semana passada, divulgou aquela carta foi ótimo porque dizia: vamos pacificar. Embora os bolsonaristas mais raiz tenham ficado com raiva, dizendo que ele “arregou”, a verdade é que é preciso pacificar, porque senão a gente vai entrar num ritmo de colapso. Os preços estão altos, a tendência é de aumento ainda maior. São 14 milhões de desempregados no País, há muito mais gente sendo levada para a miséria, há uma pandemia que ainda não é plenamente controlada e, além disso tudo, há uma crise institucional. Tudo isso é muito ruim. As pessoas não entendem que quanto mais caos político, menos a economia consegue progredir. Então é preciso pacificar para que consigamos ter uma agenda mínima de alguma reforma que passe no Congresso e a gente consiga ter um cenário positivo, não para 2022 mas para 2023. O ano de 2022 vai ser um ano muito ruim porque é um ano de eleição, em que há uma instabilidade maior. Leia mais na Edição 186.3 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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"O mercado de energia solar sairá fortalecido com o marco regulatório"

Conta de luz cada vez mais salgada, crise hídrica esvaziando os reservatórios das hidrelétricas e o impacto das termelétricas no meio ambiente. Eis o cenário que tem levado muitos conumidores a gerar a sua própria eletricidade a partir da energia do sol, que é abundante no Brasil e em especial no Nordeste. Segundo dados da Absolar (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), a chamada energia distribuída solar fotovoltaica atingiu 4 GW de capacidade instalada em 2020 e este ano tende a duplicar o potencial. Os consumidores, porém, ficaram apreensivos com a notícia da promulgação de um marco regulatório do setor. Afinal, hoje eles contam com um subsídio, principalmente em razão de que precisam arcar com os custos de implantação das placas fotovoltaicas para gerar a energia. A preocupação desses usuários estaria na suspensão desse subsídio. Assim eles passariam a pagar as tarifas pelo uso da rede de distribuição de energia. Acontece que apesar de gerar a sua própria energia, esses consumidores consomem uma parte dela e jogam o excedente na rede de distribuição. Além disso, a fonte solar é intermitente, isto é, nem sempre ela é produzida de forma contínua, como à noite por exemplo. Por isso, no fim do mês há uma compensação na qual o usuário paga ou recebe (por meio de créditos) da concessionária a diferença entre o que ele colocou de energia na rede e o que ele usou. Mas, até então, ele não pagava a tarifa pelo uso desse sistema de distribuição como os demais usuários. Para saber as consequências desse marco regulatório, que foi aprovado pela Câmara Federal e está em tramitação no Senado, Cláudia Santos conversou com Luis Arturo Gómez Malagón, cientista-chefe do Instituto de Inovação Tecnológica da UPE (Universidade de Pernambuco). Ele também analisou as perspectivas de expansão da energia solar no País. Caso o projeto de lei PL 5829/19, que institui o marco regulatório da geração própria de energia solar, seja aprovado no Senado, o que muda no País nesta área da energia solar distribuída? A geração distribuída no Brasil está regulamentada pela resolução ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) 482 de 2012 que forneceu a estrutura para seu funcionamento no sistema elétrico nacional. Tal resolução foi revisada pela resolução ANEEL 687 de 2015, em que foram modificados os limites de geração para microgeração e minigeração, assim como o prazo de compensação de créditos. Desde então o crescimento na geração distribuída tem aumentado vertiginosamente, chegando a passar os 4 GW instalados em 2020 e com expectativas de dobrar esse valor em 2021. Neste cenário, a indústria fotovoltaica foi consolidando sua cadeia de valor desde 2012 fazendo com que a energia solar apareça no mercado não somente como uma fonte de energia renovável e confiável mas, também, como um investimento atrativo para alguns setores. O PL 5829/19 é uma inciativa que visa, entre outros aspectos, mudar o sistema de compensação de energia elétrica para o sistema de tarifação estabelecido pela ANEEL. Essa mudança é proposta para aprimorar a regulamentação existente de tal forma que seja dada maior segurança jurídica e regulatória para os investimentos em energia renovável. O PL estabelece que, para os consumidores que façam uso da geração distribuída até a publicação da lei, ou para quem solicitar acesso até 12 meses após a divulgação da lei, os direitos de compensar a energia elétrica da forma atual serão mantidos até 2045. Para estes usuários a lei vai dar segurança e estabilidade jurídica sobre o investimento realizado. Após 2045, esses consumidores passarão a pagar uma tarifa dada pelas diretrizes para valoração dos custos e benefícios da microgeração e minigeração distribuída. Para os consumidores que solicitarem acesso após o primeiro ano de divulgação da lei, será estabelecida uma regra de transição que vai demorar seis anos. Durante este período, o consumidor terá cobrança gradual de uma taxa proporcional à energia injetada na rede. Após a finalização desse período, o consumidor ficará sujeito às regras tarifárias estabelecidas pela ANEEL. O PL também abordou diferentes aspectos sociais e ambientais, dentre os quais cabe destacar a criação do PERS (Programa de Energia Renovável Social) voltado ao investimento em energias renováveis para consumidores de baixa renda, assim como a diminuição de 50% no valor mínimo faturável para microgeradores que compensem no mesmo local da geração com potência do gerador de até 1,2 kW. Esta medida abre um novo mercado com foco em pequenos consumidores. O senhor acredita que o pagamento pelo uso das redes de distribuição de energia elétrica, como prevê o projeto de lei, poderá desestimular novos consumidores a adquirirem placas fotovoltaicas ou adotar a energia solar distribuída continuará sendo economicamente viável para os consumidores? O investimento em energia solar ou em qualquer outro empreendimento requer análise do valor do dinheiro no tempo. Desta forma, a análise da TIR (taxa interna de retorno), o payback (tempo de retorno de um investimento inicial) ou o VPL (métrica que tem como objetivo calcular o valor presente de uma sucessão de pagamentos futuros) deve ser realizada para tomar a decisão mais lucrativa. Para novos consumidores que vão realizar a conexão até um ano após a divulgação da lei, a regra de compensação é a regra atual. Para consumidores novos, a cobrança será proporcional à energia injetada na rede. Tipicamente para consumidores comerciais e industriais a quantidade de energia injetada na rede é aproximadamente de 20% enquanto que para consumidores residenciais a energia injetada é de aproximadamente 50%. Isto mostra que a geração distribuída terá mais vantagens para o setor comercial e industrial em comparação com o setor residencial. De qualquer forma, independentemente do consumo de energia, o micro e mini gerador ainda terá uma tarifa mínima na conta. Cabe destacar que o PL estabelece uma cobrança gradual até 2028 de um percentual sobre os custos dos ativos de distribuição, e os custos de operação e manutenção do serviço de distribuição, sendo o percentual cobrado no final do período de aproximadamente 27%. Após esse período, entra o sistema de tarifação estabelecido pela ANEEL. Perante esse cenário, acredito que o mercado de energia

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"Há empresas interessadas no trajeto Custódia-Suape da Transnordestina."

A novela da construção da Transnordestina – que já dura inacreditáveis 16 anos – apresentou semanas atrás um capítulo que provocou indignação em Pernambuco: foi quando o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, anunciou que a TLSA, concessionária da ferrovia, desistira de construir o trajeto até Suape. A saída de criar uma nova concessão para concluir a obra é encarada pelo secretário de Desenvolvimento Econômico, Geraldo Julio, como uma maneira de viabilizar o trajeto, sem ter que envolver o Estado no enredo da concessão da TLSA. Uma concessão que, entre outros imbróglios, enfrenta a recomendação da caducidade do seu contrato pelo Tribunal de Contas da União e pela ANTT (Agência Nacional de TransportesTerrestres). Nesta entrevista a Cláudia Santos, o secretário aborda detalhes dessa nova concessão e fala também sobre como está sendo executado o Plano de Retomada para que a economia pernambucana volte a crescer. Após a reunião do governador Paulo Câmara com o ministro Tarcísio Freitas, como ficou o destravamento para a conclusão das obras da Transnordestina? A Transnordestina, como a concessão, tem três desafios grandes para o Governo Federal. Primeiro, é uma obra que tem um contrato assinado há muitos anos – a autorização para essa obra ser realizada foi feita em 2005, portanto há um contrato de 16 anos com a obra autorizada para acontecer e não aconteceu. Segundo, há uma série de apontamentos do TCU (Tribunal de Contas da União) e uma decisão colegiada da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) pela caducidade do contrato atual. Terceiro, o empreendedor pede R$ 11,9 bilhões de orçamento geral da obra e a ANTT só aprova R$ 8,9 bilhões, são R$ 3 bilhões de diferença. São três problemas principais de execução. O ministro apresentou a possibilidade de tentar superar essas questões para fazer o ramal que liga a ferrovia ao outro porto e viabilizar o ramal que liga Suape por meio de uma nova concessão. O que me parece vantajoso para Pernambuco porque o contrato atual tem desafios que podem não ser vencidos durante o tempo. Em Pernambuco só precisamos dos 300 km de Custódia até Suape. Espero que os próximos passos para essa nova concessão aconteçam o mais cedo possível para que possamos ver a Transnordestina chegando logo no Porto de Suape. Acho que isso tem uma chance muito grande de ser viabilizado, antes mesmo de resolver os problemas tão graves que o contrato atual tem. O trajeto de Eliseu Martins, no Piauí, até Custódia ficaria com a concessionária atual. O fato do novo concessionário da Transnordestina (do trecho Custódia a Suape) ter que pagar uma taxa para trafegar de Eliseu Martins até Custódia, não aumenta os custos do transporte até Suape? O trajeto até Custódia já está pronto. Ferrovia é uma atividade concessionada e, portanto, regulada. Se alguém tem uma carga que tem a necessidade de usar aquela ferrovia, a tarifa é definida por meio do contrato de concessão e da regulação da ANTT. O proprietário da ferrovia, na realidade é um concessionário e, portanto, submetido a regras que são do marco regulatório nacional sobre a questão das ferrovias. É uma infraestrutura pública concedida a um privado. O senhor acredita que esta solução seja favorável a Suape? Veja, a situação atual da Transnordestina é de muito desconforto para todos: para os estados envolvidos, para os empreendedores que pretendem usá-la para transportar suas cargas, além de ser uma situação complexa para o Governo Federal, como concedente, e para a empresa concessionária porque são 16 anos de obra autorizada, contratada. Existem projetos que duram até mais do que 16 anos, mas esses não são 16 anos de projeto, de ideia, esses são 16 anos de contrato assinado para a obra acontecer, com a diferença de R$ 3 bilhões sendo discutida entre o concessionário e o Governo Federal e uma série de questionamentos do TCU que recomendou a caducidade e a ANTT, numa decisão colegiada, também recomendou a caducidade. Em vez de ficarmos numa confusão dessa, é muito melhor partirmos para uma concessão nova que não tenha nenhum obstáculo e que se consegue até fazer a obra mais rapidamente. Essa é a expectativa que temos. Porque, se fizermos essa concessão curta, não precisamos que o contrato anterior seja resolvido porque a ferrovia está pronta. Existem empresas interessadas nesse trajeto Custódia/Suape? Certamente, há mais de uma interessada, porque é um empreendimento que abrange um trecho muito importante de integração do Nordeste, que já está pronto, faltando apenas a concessão menor para fazer a ligação com um porto importante, como Suape. Vários investidores, seja de operação logística, de ferrovia ou mesmo de quem tem carga, terão interesse em fazer esse empreendimento. Não tenho dúvida nenhuma, ainda mais sendo uma construção nova que inicia sem nenhum obstáculo. Como está a implantação do Plano de Retomada? O que tem nos animado é a projeção de que este é um momento de retomada: os números na pandemia continuam controlados, a vacina avança cada vez mais, criamos o anúncio da terceira dose, feita pelo Ministério da Saúde, para pessoas acima de 70 anos e imunodeprimidos. Isso mostra que a pandemia está com os números controlados e a vacina tem um papel importante nisso e que realmente este é o momento da retomada. Outros estados lançaram, em março e abril, seus planos de retomada que foram totalmente “engolidos”. Estamos acompanhando o desempenho da economia nacional. O consumo em junho não foi tão bom quanto era esperado. Agora, vamos esperar os números de julho, quando forem divulgados. Mas estamos muito confiantes de que vai ter, sim, essa retomada, que que os empregos vão acontecer. O Governo do Estado tem um conjunto de obras importantes que, inclusive, estão sendo lançadas em agendas do governador pelo interior. Ocorreram anúncios de empreendimentos privados e há fábricas com obras sendo concluídas. Estamos com a expectativa de que realmente o Plano de Retomada tenha sido uma conjunção de esforços da sociedade como um todo para que Pernambuco aproveite melhor essa oportunidade do crescimento do consumo que está ocorrendo e que deve permanecer pelo

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"Queremos a universalização do direito à cultura"

P rofissionais do setor cultural constataram que eles são os últimos a retomar às atividades dentro do esquema de flexibilização imposta pela pandemia. E, não poderia ser diferente, afinal, as apresentações artísticas e culturais envolvem o encontro de pessoas, a aglomeração. Por isso, uma das primeiras ações da atual gestão da Secretaria de Cultura do Recife foi socorrer as pessoas envolvidas na cadeia produtiva do Carnaval e do São João. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o secretário Ricardo Mello comenta os planos para expandir essa estratégia e garantir a sustentabilidade do setor cultural, seja por meio de políticas públicas, como a Lei Aldir Blanc, seja com a participação da iniciativa privada. Ricardo Mello também contou algumas novidades projetadas para um futuro breve como a escolha do Recife para integrar a Rede de Cidades Criativas da Unesco. A validação oficial deve acontecer até outubro. “Isso nos garante o ingresso numa rede de intercâmbio internacional para troca de experiência”, comemora o secretário, que também anuncia projetos que abrangem o espaço público, como a requalificação do Pátio de São Pedro e o emprego da arte urbana para revitalizar o Centro. Ricardo Mello também comenta a proposta elaborada pelo Porto Digital, pela Associação Pernambucana de Ópera, Dança Cênica e Música de Concerto e pela UFPE para transformar a gestão do Teatro Santa Isabel numa OS (organização social), o que envolveria também a Orquestra Sinfônica do Recife. O assunto foi tratado na edição 184.4 da Algomais e causou muitas controvérsias nas redes sociais. Qual o impacto da pandemia na cultura do Recife? Um dos compromissos que assumimos com o setor da cultura, ainda no ano passado, quando João Campos era candidato, foi que se aprofundasse uma escuta com o meio cultural para procurar os caminhos para enfrentar a situação. O primeiro movimento realizado foi o Chama a Cultura, no qual ouvimos as pessoas do setor cultural. Tínhamos que criar novos caminhos porque enfrentávamos um padrão desconhecido como, por exemplo, o fato de não acontecer o Carnaval. Começamos trabalhar nos primeiros dias de janeiro e em 9 de fevereiro enviamos para a Câmara o projeto de lei do AME Carnaval do Recife, que é o auxílio municipal emergencial, um projeto estimado em cerca de R$ 4 milhões. O objetivo era dar um socorro a todo mundo que ia ficar sem remuneração por não poder atuar na festa. A ausência da atividade cultural não mexe só com a vida de quem vive da cultura mas, também, com a vida da cidade e não apenas do ponto de vista do impacto socioeconômico mas inclusive sobre a saúde mental das pessoas. Precisamos da fruição da cultura, do contato com a arte. Tínhamos a expectativa de que poderia acontecer o ciclo junino mas acabamos editando um novo auxílio municipal emergencial, o AME São João do Recife. Com as atividades culturais suspensas, o que a secretaria tem realizado? Como os equipamentos culturais estão fechados, decidimos cuidar deles. Lançamos o Move, Movimento de Valorização dos Equipamentos Culturais, para prepará-los para a volta das atividades. Anunciamos a requalificação da Casa do Carnaval, no Pátio de São Pedro, e da Escola de Frevo, que completou 25 anos, e tem um valor afetivo e uma importância cultural muito fortes para várias gerações. Pouco tempo depois de inaugurada, a escultura de Reginaldo Rossi foi vandalizada. Eu disse: não é possível que a gente não crie uma relação de afeto com essas pessoas que são representações da nossa relação de amor com a cidade. A Secretaria e a Fundação de Cultura do Recife organizaram discussões com segmentos culturais e, daí, o projeto Circuito da Poesia virou o Recife Poesia Viva. Agora, junto às estátuas, há um QRCode que permite acessar um vídeo com atores e atrizes declamando trechos das obras desses homenageados. É uma maneira de criar uma relação de aproximação, mesmo com os protocolos necessários. A ideia foi recebida de uma forma muito emocionada. O Sesc foi parceiro e garantiu o cachê dos artistas porque a priorização das verbas da prefeitura é para a vacinação. E quais os planos para a retomada? Temos alguns caminhos possíveis. Neste ano, teve o caminho do socorro, agora tem que ter o caminho do fomento. Onde apareceu edital, a gente foi atrás para viabilizar projetos. Foi o caso do edital da Rede de Cidades Criativas, da Unesco, que não concede recursos, mas garante o ingresso numa rede de intercâmbio internacional para troca de experiência e oferece um selo reconhecido mundialmente de cidade criativa em uma determinada área. Optamos pela área da música. Montamos um grupo de trabalho com músicos, artistas e produtores. Entrevistamos cerca de 20 artistas que atuam na música, desde o brega, o maracatu, até a nova cena, como o coletivo Reverbo (na foto abaixo). Reunimos essas informações num relatório que foi enviado ao Ministério do Turismo e ao Itamaraty, para chancelar a indicação ao título de Cidade Criativa da Unesco, na categoria Música. No final, só duas cidades são escolhidas para ter um processo remetido à Unesco, na França. No caso, foram o Recife e Campina Grande. O que falta agora é a validação oficial da Unesco, dizendo que aceitou aindicação, o que deve acontecer até outubro. Vamos ter Carnaval em 2022? O Carnaval do Recife precisa de um tempo para se preparar. Então, precisamos começar a preparar o Carnaval, mesmo sem saber se ele vai acontecer, porque não se faz um Carnaval em 15 dias. O que pode acontecer – e a gente espera que não aconteça – é não poder efetivar o que foi projetado. Mas a discussão sobre Carnaval já começou, já temos grupos de trabalho atuando, voltados para a festa. O que você achou do projeto que propõe uma nova gestão para o Teatro Santa Isabel e a Orquestra Sinfônica do Recife apresentado pelo Porto Digital e pela UFPE? É um projeto com muitos méritos, inclusive pela ousadia de propor um modelo de gestão. Agora, o que conversei com Geber e Wendell (integrantes que estão à frente do projeto, confira na edição

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“Até setembro, 70% da população elegível terá acesso à 1ª dose.”

Com o gradual aumento da oferta de vacina contra a Covid no Brasil, Eduardo Jorge da Fonseca, integrante dos Comitês de Vacinação contra o Coronavírus no Recife e em Pernambuco, acredita que até setembro, 70% da população brasileira candidata a receber a vacina contra Covid poderá imunizar-se. Outra boa notícia é a tendência de aumentar a variedade de vacinas eficazes e seguras para crianças. “O uso das vacinas em maiores de 12 anos já é autorizado para os imunizantes de plataforma RNA, como a vacina da Pfizer e da Moderna. Já existem estudos em conclusão, com resultados bem promissores em idades menores, inclusive com a CoronaVac”, informa o médico que é tutor de Medicina da FPS (Faculdade Pernambucana de Saúde) e médico do Imip. Mas essas boas notícias não significam que estamos prestes a vencer a batalha contra o coronavírus. Nesta entrevista à Cláudia Santos, Eduardo Jorge da Fonseca, que também é representante regional da Sociedade Brasileira de Imunizações, alerta para o risco da variante Delta, a possibilidade de surgirem novas mutações do vírus e a importância de continuarmos com as medidas de proteção contra a Covid-19. Como o senhor avalia a velocidade da vacinação em Pernambuco e no Brasil? Acreditamos que nos próximos meses haverá um incremento importante na cobertura vacinal com a garantia de um quantitativo de doses considerável. Tenho certeza de que até setembro, 70% da população elegível deverá ter tido acesso à primeira dose da vacina. No contexto dessa nossa realidade, qual o perigo que a variante Delta pode apresentar em termos de aumento de casos, de óbitos e de pacientes hospitalizados por Covid-19 no Estado e no País? A variante Delta apresenta maior transmissibilidade e isso é sempre um risco maior. Associado ao fato que para as vacinas atuais, a proteção para a variante Delta só acontece de forma adequada após a segunda dose. Entretanto, se continuar neste ritmo mais acelerado da vacinação, poderemos impedir uma nova onda. Quem está vacinado pode propagar a variante Delta? Para qualquer variante, a maioria das vacinas tem demostrado efetividade para as formas graves, porém não temos certeza se impede a transmissão da doença para outras pessoas. E qual o risco de surgimento de novas variantes? Este risco haverá sempre, enquanto a população não estiver vacinada com duas doses. Por isso que é tão relevante acelerar o processo de vacinação. Como estão os estudos para investigar a eficácia e a segurança das vacinas em crianças? O uso das vacinas em maiores de 12 anos já é autorizado para os imunizantes de plataforma RNA, como a vacina da Pfizer e da Moderna. Já existem estudos em conclusão, com resultados bem promissores em idades menores, inclusive com a CoronaVac.   Leia a entrevista completa na edição 185.2 da Revista Algomais: assine.algomais.com  

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"A informação para evitar ataques de tubarão não é mais eficaz. Temos que mudar!"

O comportamento humano tem as suas contradições. Nem sempre informar às pessoas que determinada atitude pode provocar riscos às suas vidas é suficiente para que elas adotem uma postura de segurança. É o que observamos, por exemplo, com indivíduos que insistem em não usar máscara em ambientes aglomerados em plena pandemia. Ou com os banhistas das praias pernambucanas que desconsideram os avisos das placas ou o alerta de bombeiros sobre as precauções para evitar ataques de tubarão. O resultado é que em dois finais de semanas seguidos, no final de julho passado, duas pessoas foram atacadas pelo animal em frente à igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes. A solução para a esse problema, segundo a oceanóloga Rosangela Lessa, professora da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco), é encontrar uma nova maneira de alertar à população sobre como evitar o encontro com tubarões. “Acontece que as placas passaram a ser algo que os banhistas já se acostumaram e não estão mais interiorizando o que está exposto nelas. Se isso ocorre é porque essa informação não é mais eficaz e precisamos de uma nova maneira de informar”, propõe a especialista, que desde 1979 atua em dinâmica de populações e conservação de raias e tubarões. Ex-presidente do Cemit (Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões) e da Sociedade Brasileira para o Estudo de Elasmobrânquios, Rosângela, nesta conversa com Cláudia Santos, explica os motivos da existência dos tubarões nas praias de Pernambuco, relata como outros países convivem com essa questão e esclarece se é mito ou verdade a ideia, muito difundida entre pernambucanos, de que cheiro de melancia no mar é um indicativo da presença de tubarões. Por que há tantos tubarões no litoral pernambucano? Não tem tanto tubarão assim nas nossas praias. O que existe são muitos encontros de pessoas com os tubarões devido a um conjunto de características que coloca os indivíduos próximos aos tubarões. E, por isso, ocorrem os ataques. É uma questão de circunstância, de oportunidade, não é que ele anda procurando pessoas para atacar e nem que sejam muitos, pelo contrário, a gente se preocupa porque várias espécies que eram muito frequentes agora não são mais. E isso para sustentabilidade do grupo é bastante preocupante. Quais foram essas condições que propiciaram a um encontro maior entre humanos e os tubarões? Até os anos 50 do século passado, o hábito de frequentar a praia do jeito como é hoje era muito mais raro. Com o tempo, o ambiente de praia foi sendo cada vez mais utilizado pelos humanos e existem determinados trechos da nossa praia que são frequentados por muita gente e que apresentam feições que facilitam a aproximação dos tubarões que sempre estiveram ali. O ambiente oceânico onde não há recifes é o habitat de tubarões e agora esse local está cheio de gente, o que propicia o encontro dos tubarões com as pessoas. Existem outras feições também. Os incidentes não são provocados por um fator apenas, mas parecem ser por um conjunto de outros como, por exemplo, as modificações no ambiente devido a grandes empreendimentos feitos na nossa costa. Temos também a presença de um canal bem próximo à praia a partir de Candeias até o Pina. Frequentemente os tubarões utilizam esse canal como passagem e, em alguns trechos, ele é muito próximo da praia, como na altura da igrejinha de Piedade e em Boa Viagem na frente do edifício Acaiaca. Esses dois pontos também não apresentam recifes e, por isso, são locais onde ocorre o maior número de incidentes. Isso já é algo histórico. Cerca de 20% dos incidentes ocorreram em frente à igrejinha de Piedade. Qual a maneira mais adequada de lidar com a realidade de convivermos com tubarões nas nossas praias? Durante bastante tempo foi acrescida uma série de informação sobre os tubarões e que está contida naquelas placas instaladas nas praias. Elas reunem informações sobre medidas para evitar os ataques. Essas placas faziam parte da nossa estratégia que estava funcionando, as taxas de incidentes vinham baixando. Ficamos três anos sem incidentes e agora tivemos esse infortúnio: dois incidentes. Acontece que as placas passaram a ser algo que os banhistas já se acostumaram e não estão mais interiorizando o que está exposto nelas. Se isso ocorre é porque essa informação não é mais eficaz e precisamos de uma nova maneira de informar. Por isso, temos a proposta de retomar os estudos, investir em educação ambiental e reforçar aquelas medidas que julgamos que deram certo e que, nos últimos três anos, não estavam sendo seguidas em função do fato de que não ocorriam incidentes e as pessoas se acostumaram com a não ocorrência dos ataques. Há um número grande de incidentes, ao longo do tempo, listado e disponível, no site do Cemit (Comitê de Monitoramento de Incidentes com Tubarões), da SDS (Secretaria de Defesa Social). Então, já temos um histórico para fazer uma estatística, sabemos quais são os pontos mais perigosos e os menos perigosos. Na minha opinião, assim como na opinião de um grupo que participou do workshop internacional que tivemos aqui em 2014, é que a praia precisa ter essa informação clara. Precisamos, por exemplo, informar à população: este é um ponto seguro, sem registro de incidentes. Nos pontos que têm registro de incidentes muito frequentes temos que dizer isso para a população de maneira a que as pessoas possam escolher se elas vão ficar num ponto mais perigoso ou se querem ficar num local mais abrigado pelos recifes. Acho que a informação que não está chegando ao povo – porque ele já não a leva mais em consideração – precisa ser reformada e transmitida de uma maneira que chame a sua atenção. Eu acho as placas muito lindas, eu gosto muito delas mas, evidentemente, se as pessoas estão preferindo não seguir o que elas dizem, temos que apresentar essa informação de outra maneira. A senhora achou correta a interdição da Praia de Piedade na localização onde ocorreram os ataques? Acho que foi uma boa medida interditar esse trecho até que se reúnam

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