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O avanço da economia circular: sem resíduos e sem desperdício

*Por Rafael Dantas Você já imaginou o dia em que o planeta já não terá mais petróleo, madeira ou mesmo água para atender as demandas globais? A velocidade e o modo tradicional de produção de mercadorias e bens caminha para esse fim, em razão do modelo que extrai da natureza mais do que ela consegue renovar. Para inverter essa lógica linear (de extrair, produzir e descartar), tem crescido no mundo, no País e em Pernambuco a economia circular. A partir de princípios sustentáveis, ela propõe o reúso e a reciclagem, além da própria redução do consumo de alguns itens que podem ser abandonados. Além dos benefícios ambientais, muitas empresas estão enxergando também o valor comercial de entrar nessa nova tendência. Quando um copo de vidro de um extrato de tomate é reaproveitado na sua residência, a economia circular ganha um ponto. Quando uma latinha é reciclada e volta à linha de produção para a mesma ou outras finalidades, outra vitória desse conceito. Práticas domésticas simples, como a compra de refil, evitando o consumo de novas embalagens plásticas, ou a opção por uma garrafa retornável de uma bebida, integram também essa cadeia que se propõe a ampliar o tempo de vida das mercadorias ou garantir o seu reaproveitamento por meio da reciclagem. Experiências exitosas de economia circular, que combinam o respeito aos recursos naturais e atividades sustentáveis economica e socialmente, têm brotado em vários setores. Seja na cadeia automotiva, na área de moda ou de embalagens, há projetos de sucesso de grandes empresas ou mesmo negócios que nasceram das sementes desse conceito. Entre as inúmeras ações de sustentabilidade da Stellantis, âncora do polo automotivo de Goiana, o trabalho em parceria com a Roda tem promovido o reaproveitamento de resíduos da linha de produção. Airbags reprovados nos testes, ao invés de irem para o lixo, viram bolsas ecológicas. Os refugos do corte dos “couros” sintéticos que cobrem os bancos dos veículos e mesmo os fardamentos que integram os equipamentos de proteção individual dos funcionários também ganham novos usos, a partir da manufatura de mulheres capacitadas para atuar com upcycling (reaproveitamento) e são vendidas com um valor agregado maior, devido a seu processo de responsabilidade socioambiental. “Recebemos os resíduos, os que são transformados e colocamos no mercado. Pessoas físicas e também algumas empresas compram nossos produtos em sites ou na loja física. São materiais bastante resistentes que usamos em mochilas, bolsas, necessaire, proteção de laptops. Já fizemos sandálias. Funcionamos em parceria com a indústria, procuramos entender os resíduos que eles têm para encontrar a destinação mais ecológica”, afirmou Mariana Amazonas, co-fundadora da Roda. Diante da tendência de crescimento das práticas da economia circular no mundo, Mariana acredita que esse movimento deve alcançar outros setores e deixar de ser algo apenas do futuro. “A economia circular surge como uma resposta à crise climática. Neste momento esse conceito vive um boom em todas as cadeiras produtivas, como uma resposta inteligente, viável economicamente e ao mesmo tempo faz muito sentido para uma lógica de produção. Às vezes, inclusive, entrega mais valor econômico para a empresa que é ambientalmente mais responsável”, afirma Mariana. REFERÊNCIA NA MODA E NA SUSTENTABILIDADE Caminhando no trajeto oposto da indústria rápida da moda, que descarta as peças da coleção anterior, a empresa pernambucana Refazenda tem uma trajetória longa e já reconhecida mundialmente na economia circular, desde a concepção dos seus produtos até os serviços oferecidos pela marca. A Refazenda oferta, por exemplo, peças dupla face que podem ser usadas em momentos diferentes. Algumas opções são de multiuso, como uma saia que vira vestido tomara-que-caia, ou um macacão que vira calça. A experiência de produção da empresa também tem um cuidado especial na escolha dos materiais, com matérias-primas de origem natural e certificadas. Com esses materiais, a marca consegue fazer o upcycling, desenvolvendo algum produto a partir daquele tecido, por menor que seja o tamanho, sem destruí-lo ou sem a necessidade de transformá-lo num processo tradicional de reciclagem. “A economia circular é o paradigma em que não existe um começo/meio/fim ou pelo menos ele não é tão rápido, principalmente com foco nos produtos. Tem uma extensão do tempo de vida útil, com soluções e design de criatividade que fazem com que os produtos não sejam tão efêmeros. Eles passam a ter, no mínimo, um segundo e terceiro uso a partir da própria matéria-prima. Essa é a principal mudança de paradigma, pensar soluções de design e criatividade em produtos que tenham multifuncionalidades e não sejam só fashionistas”, afirma Marcos Queiroz, diretor da Refazenda. Ele conta que o conceito de ter lixo zero, aproveitando todas as matérias-primas adquiridas vem desde a fundação da empresa. “Essa noção começou há 32 anos, quando Magna Coeli (fundadora) já era do ramo de confecções e estava pensando em criar a Refazenda. Ela queria fazer algo que não gerasse lixo. Ou seja, todo tecido novo que fosse comprado para ser cortado e confeccionado deixaria lixo zero. Ela começou prototipando com sobras de matéria-prima de outras confecções e logo conseguiu chegar a essa fórmula por conta própria”. Os retalhos dos tecidos, então, se tornaram bolsos, golas, punho, acabamentos internos ou mesmo acessórios das peças. Nos esforços da empresa de garantir maior vida útil dessas matérias-primas, a marca desenvolveu soluções de pós-consumo, com o Realce. Trata-se de um programa de upcycling para peças já usadas, em que a empresa cria um novo produto a partir do já existente, faz pequenas modificações ou até produz peças novas a partir da matéria-prima já existente. “O foco do Realce é no pós-consumo, naquelas peças que eventualmente iriam ficar abandonadas no armário, ou iriam para aterros sanitários, brechós e etc”. Tanto a Roda como a Refazenda têm no seu DNA a formação de comunidades, principalmente de mulheres, para atuar nesse segmento de negócios sustentáveis. CASE GLOBAL DA RECICLAGEM DAS LATINHAS Aproximadamente 99% de todas as latinhas de alumínio do Brasil em circulação voltam para a reciclagem e seguem para fabricação de novas latas ou até de produtos das cadeias produtivas de celulares ou mesmo de

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8 fotos e um pouco de história do Colégio Americano Batista Antigamente

*Por Rafael Dantas Na semana passada foi anunciada a desapropriação do terreno do Colégio Americano Batista, que fica no Bairro da Boa Vista. Uma das mais tradicionais instituições educacionais do Recife, foi a minha escola entre 1999 e 2003. Por lá passaram grandes nomes da sociedade pernambucana, como o sociólogo Gilberto Freyre, o escritor Ariano Suassuna e o jornalista Francisco José. Sua fundação remete ao ano de 1906. Em um período em que a educação brasileira estava longe de ser universalizada, o missionário norte americano W.H. Canadá fundou a escola para alfabetizar e educar crianças. Inicialmente, o público era justamente de estudantes que não tinham condições econômicas para financiar os estudos. De acordo com informações do site do CAB (sigla conhecida por todos que passaram por lá), sua primeira sede foi em uma casa ao lado da Primeira Igreja Batista do Recife, com apenas 13 alunos. Sobrado onde começou a funcionar o CAB e a foto do fundador William Canadá Fachada do Colégio Americano Batista Uma rara imagem aérea de todo o colégio O terreno adquirido pelos batistas 13 anos após o início das atividades da escola pertencia ao Barão da Soledade. Havia nele um sobrado (imagem abaixo) que chegou a hospedar o imperador D. Pedro II. De acordo com Perruci (2006), o Palacete do Barão da Soledade é onde fica o edifício central do CAB atualmente. De acordo com Francisco Bonato, historiador dos batistas em Pernambuco, os recursos para compra da chácara onde foi instalado o colégio vieram das mãos do missionário Salomão Ginsburg, um dos principais nomes da denominação no Estado, que foi aos Estados Unidos em busca de doações para a aquisição. "Ginsburg permaneceu em gozo de férias (1912-193), com a familia, nos Estados Unidos, enquanto fazia campanha promocional nas igrejas divulgando o trabalho missionário no Brasil. Ginsburg recebeu da Convenção Batista do Arkansas (USA) oferta de US$ 30.000,00 para construção de uma escola para o campo pernambucano. O valor foi destinado à compra da chácara do Barão da Soledade, onde foi instalado o Colégio Americano Batista em Pernambuco". Laboratório do Colégio Americano Batista Em 1923 chegaram equipamentos da França e dos Estados Unidos para funcionar laboratórios na escola de ciências, química, botânica, desenho, música e pintura. Registro das atividades físicas na instituição antigamente De acordo com Francisco Jean Carlos da Silva, na tese de doutorado Entre Cristo e o Diabo: o ideário do Colégio Americano Batista no Recife (1902 - 1942), "O CAB valorizava o exercício físico porque entendia que a eficiência física é um pilar essencial para o desenvolvimento do homem no enfrentamento das lutas da vida, pois, um bom condicionamento físico possibilitaria resistir às doenças e, por conseguinte, poderia ajudar a alcançar um excelente nível intelectual e moral" (p. 56). Em seu site, o colégio informa que foi o pioneiro na formação de uma equipe de vôlei. Com um passado glorioso, o CAB tem agora um futuro bastante incerto. A perspectiva de ao menos manter as atividades educacionais pode trazer algum alento, diferente de outros colégios que foram demolidos no Recife. Mas, há um inevitável sentimento de final de um ciclo que fica marcado nos ex-estudantes e em todos os batistas de Pernambuco que tinham no colégio um ícone da sua história. *Rafael Dantas é repórter da Revista Algomais, mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (UFRPE) e doutorando em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco (rafaeldantas.jornalista@gmail.com | rafael@algomais.com) Fontes: Tese Entre Cristo e o Diabo: o ideário do Colégio Americano Batista no Recife (1902 - 1942), https://www.museubatistadosertao.org/past_salomaoLuis.html PERRUCI, Glaucília; ABREU, Neide Sena; GUIMARÃES, José Almeida; MARTINS, Garibaldi Perruci Lopes. MARTINS FILHO, Gelson Lopes. História do CAB de Recife: eternamente nosso bem – uma linda história de amor com muitas histórias. Pernambuco: CEPE, 2006. História do Colégio (site institucional)

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Polêmicas à parte, o ChatGPT é um ponto de inflexão para a inteligência artificial

N as últimas semanas, um dos assuntos mais falados é o ChatGPT, um aplicativo baseado em inteligência artificial, que é capaz de produzir textos que simulam a linguagem humana. Como sempre acontece com as novas tecnologias, as polêmicas se espalham rapidamente, misturando dúvidas e medos. O ChatGPT pode substituir os professores na sala de aula? Vai acabar com os jornalistas? O Google está com os dias contados? A proposta desse artigo é tentar esclarecer algumas dessas questões, em parceria com o próprio ChatGPT. Por que não? Antes de tudo, vamos deixar que o ChatGPT se apresente. Eu sou o ChatGPT, um grande modelo de linguagem desenvolvido pela OpenAI. Fui projetado para entender e gerar texto semelhante ao humano e ajudar os usuários em uma ampla gama de tarefas, como responder a perguntas, escrever, resumir e muito mais. Fui treinado em uma grande quantidade de dados de texto, o que me permite entender e gerar texto com alto grau de precisão. Meu limite de conhecimento é 2021 e meu objetivo é fornecer respostas úteis e precisas com o melhor de minhas habilidades. Por que o ChatGPT é revolucionário, como se diz por aí? ChatGPT, abreviação de "Conversational Generative Pre-training Transformer", é considerado revolucionário por causa de sua capacidade de gerar texto humano. Isso é possível graças à sua grande arquitetura de rede neural e ao uso de uma técnica chamada pré- -treinamento, que permite aprender padrões de um grande corpus de texto. Uma das principais razões pelas quais o ChatGPT é considerado revolucionário é sua capacidade de gerar texto virtualmente indistinguível do texto escrito por humanos. Isso abre uma ampla gama de possibilidades para aplicativos como tradução de idiomas, resumo de texto e conversão de texto em fala. Agora vamos às polêmicas: o ChatGPT pode substituir um professor? O ChatGPT não pretende substituir os professores humanos, mas sim auxiliá-los. Um professor humano traz qualidades únicas para a experiência de ensino, como interação pessoal, apoio emocional e orientação. Os professores são responsáveis por criar um ambiente de aprendizagem seguro e inclusivo e por fornecer orientação e apoio emocional para seus alunos. O ChatGPT e outras ferramentas baseadas em IA têm o potencial de auxiliar os professores em diversas tarefas, como planejamento de aulas, notas e avaliações, aprendizagem personalizada. Além disso, ferramentas baseadas em IA, como o ChatGPT, não podem substituir a criatividade, a flexibilidade e o pensamento crítico exigidos de um professor. Mais uma polêmica: o ChatGPT pode acabar com os jornalistas? É importante notar que, embora o ChatGPT possa tornar as tarefas do jornalista mais eficientes, ele não deve ser usado como um substituto para os jornalistas humanos, mas sim como uma ferramenta para auxiliá-los. O ChatGPT, como qualquer outra ferramenta baseada em IA, também pode ter algum impacto negativo nas tarefas dos jornalistas. Os jornalistas podem se tornar muito dependentes do ChatGPT e de outras ferramentas de IA, levando à falta de pensamento crítico e criatividade em seu trabalho. O conteúdo gerado pelo ChatGPT pode não ter o toque humano e a perspectiva pessoal que é importante no jornalismo. O ChatGPT pode ser treinado em um conjunto de dados que contém desinformação ou viés, que pode se espalhar pelo conteúdo gerado. O conteúdo gerado pelo ChatGPT pode conter erros ou imprecisões, o que pode comprometer a qualidade e a credibilidade das notícias relatadas. Vamos falar de negócios. O Google está com os dias contados? O ChatGPT é um modelo de geração de linguagem e não é um motor de busca como o Google. No entanto, pode ser integrado a mecanismos de pesquisa para melhorar a qualidade dos resultados e a experiência do usuário. A tecnologia ainda está em seus estágios iniciais e ainda está longe de igualar as capacidades do Google, que usa um algoritmo complexo que leva em conta muitos fatores e é capaz de retornar os resultados mais precisos e relevantes possíveis. De uma forma geral, dá para notar que as respostas geradas pelo ChatGPT são sempre polidas e políticas. Isso não é à toa. Como é explicado nas respostas geradas pelo próprio ChatGPT, houve um pré-treinamento realizado por humanos. De certa forma, essa técnica traz em si mesma um viés por eliminar o contraditório, tornando as respostas muito “limpinhas e bem-comportadas”. Apesar de ser uma grande evolução, a minha avaliação é que ainda tem um caráter artificial e robótico. Até porque seres humanos não escrevem assim na vida real. Ainda bem. Analisando as respostas, temos que levar em conta que são usadas fontes existentes sobre o tema pesquisado. Então, não há um novo pensamento. Sobre o Google, não dá para comparar ainda uma ferramenta de busca diretamente com uma IA de linguagem natural. O escopo de um buscador é muito maior. Mas o ChatGPT é uma ameaça real ao Google se for incorporada aos mecanismos concorrentes, porque facilita a vida dos usuários, que não precisam clicar em diversos links. Um diferencial que o Google terá que correr atrás. No caso dos professores, o problema não está apenas em uma possível substituição, mas também no uso inadequado do ChatGPT pelos alunos, podendo afetar o desenvolvimento do pensamento crítico e da criatividade. Na resposta sobre os jornalistas, diferentemente do que o chat GPT considerou, haverá um grande impacto na profissão, pois a automatização levará à necessidade de menos jornalistas (incluindo advogados também) para fazer o mesmo trabalho. Por outro lado, a IA não terá como fazer uma reportagem investigativa, pois ela só reproduz o que já foi escrito pelo ser humano. Essas foram apenas algumas questões que pudemos responder nesse artigo. Fato mesmo até agora é que quem se deu bem com o ChatGPT foi a Microsoft, principal financiadora da tecnologia desde o seu início, e que fechou um acordo no valor de US$10 bilhões para incorporar a inovação em vários de seus produtos, tais como Word, Powerpoint, Azure, Outlook e Bing. Considerando as informações até agora divulgadas, a adoção do ChatGPT no Word e no Outlook, auxiliando a produção de textos e de e-mails, parece ser a

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"Tudo aquilo que faz a alma pernambucana passa pela contribuição dos indígenas"

Muitos pernambucanos, que assistem estarrecidos as imagens da tragédia dos ianomâmis na Amazônia, desconhecem que Pernambuco possui uma das maiores populações indígenas do País. Elas têm sido essenciais para a formação do Estado e sempre estiveram presentes nos principais momentos históricos, como na invasão holandesa ou na Revolução de 1817. Com o intuito de contribuir para dissipar esse desconhecimento, os antropólogos Estêvão Martins Palitot e Lara Erendira de Andrade idealizaram o projeto Atlas do Pernambuco Indígena https://www.atlasindigena.org/, portal que reúne cartografias e textos com informações sobre as etnias indígenas pernambucanas e que teve o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secult, Governo de Pernambuco. Nesta conversa com Cláudia Santos, Estêvão Palitot, que é professor do Departamento de Ciências Sociais do Centro de Ciências Aplicadas e Educação da Universidade Federal da Paraíba, fala do projeto, da situação dos povos indígenas locais, da luta pela demarcação das terras no Estado e do processo de invisibilidade que foram vítimas. “Sabemos muito bem falar das contribuições dos portugueses, dos holandeses, dos franceses, dos judeus, mas quando chegamos nas contribuições dos povos negros e indígenas, isso é silenciado, demonizado, criminalizado”, analisa o antropólogo, que se diz esperançoso com a criação do Ministério dos Povos Indígenas. O que é o projeto Atlas do Pernambuco Indígena e quais seus objetivos? O projeto foi pensado por mim e por Lara Erendira de Andrade. Somos antropólogos, trabalhamos com povos indígenas e temos duas paixões: a história e a cartografia. Os trabalhos dos historiadores são fantásticos, o dos antropólogos também, mas terminam sendo lidos por nós, por quem está na academia. A ideia do projeto é tornar esse conhecimento mais acessível ao grande público. O Atlas é um site no formato de blog com dois tipos de postagem: artigos, que têm um caráter mais acadêmico, com uma densidade maior, e as cartografias, com textos menores em que procuramos explicar os mapas, que são muito interativos. Cada pontinho do mapa pode ser clicado e aparece uma informação, com referências a outros trabalhos para aprofundar os conhecimentos. Agora, pensamos nos próximos passos, inclusive convidando colegas que têm produções relevantes para trazer para o Atlas. Pretendemos fazer um trabalho que seja vivo, sendo alimentado e podendo ser utilizados por professores, estudantes, por outros pesquisadores, pelos próprios povos indígenas nas escolas das aldeias como ferramenta de conhecimento, de luta, de valorização, de afirmação, de direitos. Por que vocês escolheram o modelo de cartografia? Os mapas também são um discurso e ferramentas de poder. Quem sempre desenhou os mapas foram os poderosos e a finalidade era dizer: “o meu poder vai até aqui”, seja o poder do Estado, da empresa, do rei, de quem quer que seja. Nessa representação da realidade apenas alguns aspectos são enfatizados. Por exemplo, os mapas históricos sobre Pernambuco, sobre o Nordeste, sobre o Brasil, não revelavam a presença dos povos indígenas. Mesmo hoje, quando você pega os mapas rodoviários, eles vão mostrar na Amazônia as terras indígenas, mas no mapa de Pernambuco, não mostram. Fazer um mapa é fazer uma escolha entre o que vai ser visível e o que vai ser invisibilizado. A nossa contribuição é produzir ou reproduzir mapas nos quais os indígenas estejam presentes, queremos ser uma espécie de amplificador das vozes indígenas. Nunca vamos querer tomar o lugar das vozes indígenas. Eles lutam continuamente para não serem apagados, riscados do mapa, literalmente. Por falar em invisibilidade, Pernambuco conta com a quarta população indígena do País, um dado que pouca gente conhece. Como está a situação dessas etnias? Pernambuco tem uma das maiores populações indígenas do Brasil, mas que é invisibilizada, que vive principalmente no Agreste e no Sertão do Estado. Os xucurus têm em torno de 10 mil pessoas, os atikuns em torno de 8 mil, os fulniôs, trukás, pankararus, em torno de 5 mil. Se contabilizarmos os que migraram, esse número é muito maior. Temos uma estimativa que existam uns 2 mil pankararus em São Paulo, os atikuns têm aldeias na Amazônia, porque vivem numa região muito seca e muitos grupos familiares migraram para o Rio São Francisco, para os serrados da Bahia, para o Tocantins e para o Pará. Há também os processos de luta por recuperação territorial. O caso dos xucurus, dos trukás e dos pankararus são os mais conflituosos, com uma série de assassinatos. No caso dos pankararus, há uma série de ameaças de morte e atentados. Recentemente um posto de saúde indígena foi destruído em razão de conflitos fundiários que ainda não estão resolvidos, muitas vezes por omissão ou lentidão do Estado. Nos últimos 70 anos, houve um processo de lenta recuperação dos territórios indígenas porque eles nunca se calaram, nunca deixaram de reivindicar. Quando, desde o Século 19, se diz que “os índios estão misturados, miscigenados” a frase seguinte era: “logo, não precisam de terras, podem virar trabalhadores nas fazendas, nos engenhos ou nas periferias urbanas. Eles podem ser pobres, eles já são brasileiros”. E os indígenas dizem: “Alto lá! A gente é até brasileiro, mas somos os primeiros brasileiros, temos direito a um pedaço de terra”. Há uma luta histórica e o Atlas procura ser um registro dela para que reverbere as frases que os indígenas dizem: “nunca mais um Brasil sem nós. Sempre estivemos aqui”. Procuramos levar esses subsídios que registramos nas pesquisas históricas e antropológicas para um conhecimento público. O que tem sido feito com os ianomâmis, já foi feito em Pernambuco e em todo o Brasil: guerras, escravizações. Há um relato de um massacre na região de Juazeiro e Petrolina, o Massacre do Rio Salitre, em que um padre acompanhou uma expedição de guerra contra um grupo de indígenas. Mais de 500 foram capturados, desarmados e dois dias depois todos os homens foram degolados e as mulheres e crianças levadas como escravas. Em Pernambuco essa violência, nas últimas décadas, foi marcada por assassinatos, como o de Xicão Xucuru e de várias lideranças trukás. O preço para reconquistar parte do território indígena foi o sangue das lideranças, a criminalização, a difamação. A sociedade pernambucana precisa ter consciência disso

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Em 12 horas, Recife registra 158 mm de chuvas

Volume representa mais de 128% do total de precipitação previsto para o mês de fevereiro, que é de 122,90mm. A Defesa Civil recebeu 207 chamados, sem gravidade. Equipes da Emlurb e CTTU também estão nas ruas para garantir desobstrução e fluidez das vias (Da Prefeitura do Recife) A Defesa Civil do Recife informa que, nas últimas 12h, foram registradas chuvas que chegaram a 158 mm em algumas partes da cidade, o equivalente a mais de 125% do total previsto para o mês, que é de 122,90 mm. A Apac emitiu um novo alerta de chuva na manhã desta segunda-feira (6), elevando de Estado de Observação (amarelo) para Estado de Atenção (laranja). A Defesa Civil recebeu 207 chamados da população no período citado, referentes a solicitações de lonas e pedidos de vistorias, nenhuma delas com gravidade. A Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) destaca que, nas últimas horas, foram registradas nove ocorrências com de árvores na cidade, sendo queda total ou parcial. Até o momento, quatro já foram concluídas. A população deve acionar a Defesa Civil pelo telefone 0800-081-3400, que é gratuito e funciona 24h. A Rede Municipal de Ensino do Recife não suspendeu as aulas. Apenas as unidades que ficam em áreas de alagamento e não puderam receber os estudantes estão sem atividades no momento. As escolas que ficam em localidades que não estão alagadas seguem com aulas normais. Para o turno da tarde, a Secretaria de Educação irá avaliar durante o dia, a depender da intensidade da chuva, para tomar a decisão sobre suspender ou não. Equipes formadas por 150 agentes e 165 orientadores de trânsito da Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) trabalham em áreas que foram afetadas pelas chuvas. Além disso, equipes técnicas trabalham com o intuito de realizar os ajustes necessários na rede semafórica da cidade. Entre as 0h e 12h da segunda-feira (6), não foram registrados sinistros de trânsito com vítimas. No período, a CTTU registrou ocorrências em 27 semáforos, 7 já atendidas e 20 em atendimento. A Central de Operações de Trânsito (COT) da CTTU, que funciona 24 horas por dia, também realiza o trabalho de monitoramento das vias, identificando os pontos mais críticos, através de 162 câmeras de videomonitoramento. O Twitter da @CTTU_Recife e as redes da Prefeitura do Recife atualizam em tempo real as informações para os cidadãos. - Pontos de alagamentos registradas pelas câmeras da CTTU: -Av. Norte / Rua 48, Encruzilhada: -Rua Dom Bosco / Colégio Americano Batista, Boa Vista -Av. Gov. Agamenon Magalhães / TRE, Graças -Av. Antônio de Góes / Av. Conselheiro Aguiar, Pina -Av. Marechal Mascarenhas de Morais nº 2525 (Sentido Afogados), Imbiribeira -Av. Marechal Mascarenhas de Morais, no trecho entre os nº 2557 a 2349 (sentido Afogados), Imbiribeira -Av. Marechal Mascarenha de Morais, no trecho entre os nº 2100 a 3000 (sentido Prazeres), Imbiribeira -Rua Imperial / Rua Cabo Eutrópio, São José -Av. Sul / Sob Viaduto Papa João Paulo II, São José -Av. Dois Rios / Entrada da Vila do SESI, Ibura -Av. Recife / Entrada do Ibura, Ipsep -Av. Recife / Rua João Cabral de Melo Neto, Jardim São Paulo/Estância -Estrada dos Remédios nº 1190, próximo ao cruzamento com a Estrada do Bongi, Afogados -Av. Engenheiro Abdias de Carvalho / Faculdade Estácio, Prado

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Quais as expectativa pela reforma tributária?

Os reparos dos prédios dos três poderes, pós-ataques do dia 8 de janeiro, ainda são tema dos noticiários, mas a reforma tributária deve drenar a atenção do Governo Federal, dos Estados e do parlamento. De interesse direto da classe empresarial, ao menos a simplificação da legislação atual poderá colocar um ponto final no que os especialistas chamam de “manicômio tributário”. Os mais otimistas estimam que apenas essa reforma tem a capacidade de elevar em 1% o PIB do País em 2023. Além da alta carga fiscal, uma das angústias dos empresários em relação aos tributos é a sua complexidade. São vários impostos, com regras e percentuais diferentes, a depender de cada ente da Federação, que estão em mutação constante. Há um investimento das corporações para verificar e auditar se tudo está atendendo à legislação. Simplificar esse emaranhado tributário, que muda de acordo com o setor e com a região em que se produz e a que se destina a mercadoria ou serviço, é a grande aspiração dos empresários em relação à da reforma em discussão. *Assine a Revista Algomais para ler a reportagem completa na edição 203: assine.algomais.com

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5 fotos do Galo da Madrugada Antigamente

Apontado pelo Guinness World Records como o maior Bloco de Carnaval do Mundo, o Galo da Madrugada promoveu o seu primeiro festejo no ano de 1978. O crescimento da quantidade de foliões fez o bloco e o percurso irem mudando ao longo dos anos. Consolidado com o maior destaque do Carnaval pernambucano, este ano, o Galo - que já foi homenageado em alguns desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro - desfilará até pelas ruas em São Paulo. "Com o objetivo de reviver antigos carnavais de rua, ajudando a manter a tradição e contrabalançando o predomínio dos bailes carnavalescos dos clubes sociais do Recife, um grupo de amigos, liderados pelo empresário Enéas Freire, resolveu criar, em dezembro de 1977, o Clube de Máscaras O Galo da Madrugada. O nome surgiu porque O Galo deveria sair no sábado de Carnaval, de madrugada, antes da abertura do comércio no centro da cidade", afirmou Virgínia Barbosa, da Fundaj, no artigo O Galo da Madrugada. Confira as fotos abaixo e um vídeo do bloco no ano de 1986. . Primeiro desfile do Galo, em 1978 (Acervo Galo da Madrugada) Relato do site do Galo da Madrugada sobre o primeiro ano da folia do bloco mais famoso do mundo: "Em 4 de fevereiro de 1978, cerca de 75 pessoas fantasiadas de almas penadas percorreram as ruas do bairro de São José, área central do Recife. Com seus sacos de confetes e serpentinas, elas foram acompanhadas por uma orquestra de Frevo composta por 22 músicos. Nascia assim o Clube das Máscaras o Galo da Madrugada, que despertava antes do comércio, ao nascer do sol". . Desfile do Galo, em 1978, em frente ao Cinema Moderno De acordo com o historiador Marcelo Martins Ianino, "o objetivo principal dos fundadores do bloco era o de reviver as tradições dos antigos carnavais de rua da cidade do Recife, através de manifestações espontâneas e populares, unindo clubes de frevo e grupos de mascarados. (...) O bloco de carnaval caiu no gosto popular e preencheu uma lacuna importante no carnaval de rua do Recife no final da década de 1970.5 Ano após ano, muitos foliões foram aderindo ao desfile do Galo da Madrugada, que ocorre sempre aos sábados de Zé Pereira, abrindo oficialmente o carnaval Pernambucano". . Foto do primeiro desfile do Galo da Madrugada . Registro de Katarina Real da folia do bloco em 1989 . Folia na Rua da Concórdia, em 1986 . No vídeo abaixo, disponível no Canal do Galo da Madrugada, é possível ver o desfile no ano de 1986 . *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais (rafael@algomais.com) (Primeira versão do post publicada em 20 de fevereiro de 2020) LEIA TAMBEM Pernambuco Antigamente: 8 fotos para visitar o Carnaval do Recife nos anos 60

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Pacheco (no Senado), Lira (na Câmara) e Álvaro Porto (na Alepe) vencem eleições no parlamento

Rodrigo Pacheco é reeleito presidente do Senado (Da Agência Brasil) O senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) foi reeleito presidente do Senado pelos próximos dois anos. A eleição ocorreu na segunda reunião preparatória desta quarta-feira, dia que marcou também a posse dos senadores eleitos em outubro de 2022 e o início do ano legislativo na Casa. Pacheco derrotou Rogério Marinho (PL-RN) e Eduardo Girão (Podemos-CE). Esse último chegou a discursar como candidato, mas retirou sua candidatura em seguida para apoiar Marinho. Pacheco venceu por 49 votos contra 32. Não houve votos em branco. O resultado não trouxe grandes surpresas em relação às estimativas prévias. Pacheco tinha apoio da maioria dos partidos da Casa, inclusive o PT, MDB e seu partido, o PSD, duas das maiores bancadas. Do outro lado, Marinho tinha apoio do PL. Há cerca de uma semana, esperava-se uma vitória do senador do PSD por 55 votos, uma margem bem maior do que a obtida. Marinho contava com “traições” para virar o jogo. As traições, senadores que contrariam a orientação de apoio do seu partido, ocorreram, mas não foram suficientes. Em seu pronunciamento após a recondução ao cargo, Pacheco condenou o que chamou de “polarização tóxica” vigente no Brasil. Atribuiu a ela os atos terroristas na Esplanada dos Ministérios em 8 de janeiro e afirmou que tais acontecimentos “não podem e não vão se repetir”. “Os brasileiros precisam voltar a divergir civilizadamente, precisam reconhecer com absoluta sobriedade quando derrotados e precisam respeitar a autoridade das instituições públicas. Só há ordem se assim o fizerem. Só há patriotismo se assim o fizerem. Só há humanidade se assim o fizerem”, disse presidente reeleito. Em seguida, Pacheco atribuiu à classe política a responsabilidade de combater práticas antidemocráticas. “O discurso de ódio, o discurso mentiroso, o discurso golpista deve ser desestimulado, desmentido e combatido. Lideranças políticas que possuem compromisso com o Brasil sabem disso. Lideranças políticas que possuem compromisso com o futuro do Brasil não podem se omitir nesse momento”, disse. “E o recado que o Senado Federal dá ao Brasil agora é que manteremos a defesa intransigente da democracia”. Arthur Lira é reeleito para presidência da Câmara dos Deputados Em uma votação recorde, o deputado Arthur Lira (PP-AL) foi reeleito nesta quarta-feira (1º) para o cargo de presidente da Câmara dos Deputados por 464 votos. O parlamentar ficará no comando da Casa pelos próximos dois anos. Arthur Lira está em seu quarto mandato e foi o candidato a deputado federal mais votado de Alagoas nas eleições do ano passado. O parlamentar afirmou que, entre as prioridades de sua gestão, está a aprovação da reforma tributária. No início do discurso após confirmação da vitória, ele se emocionou ao falar do pai, o ex-senador Benedito de Lira, de 80 anos, que desmaiou durante a cerimônia de posse na manhã desta quarta. O ex-congressista e prefeito de Barra de São Miguel (AL) foi imediatamente atendido por socorristas da Câmara dos Deputados e está hospitalizado para realização de exames. Lira afirmou que buscará construir uma relação com o Poder Executivo sem relação de subordinação, mas um pacto para aprimorar e avançar nas políticas públicas, “a partir da escuta cuidadosa de opiniões e sugestões de nossas comissões”. “Podemos ter adversários, mas não somos inimigos uns dos outros. Essa vai ser a tônica da Câmara nos próximos anos”, disse. Lira também afirmou que, se eleito, não concordará “passivamente” com a invalidação dos atos, por recursos da minoria, em Tribunais Superiores. O parlamentar contou com apoio de 20 partidos: PT, PCdoB, PV PL, União Brasil, PP, MDB, PSD, Republicanos, PSDB, Cidadania, Podemos, PSC, PDT, PSB, Avante, Solidariedade, Pros, Patriota e PTB. Álvaro Porto comandará a Alepe Após a posse dos 49 parlamentares da 20ª Legislatura (2023-2027), a Alepe definiu, nesta quarta (1°), a Mesa Diretora que comandará as atividades legislativas e administrativas entre 1º de fevereiro de 2023 e 31 de janeiro de 2025. Eleitos por unanimidade, o deputado Álvaro Porto (PSDB) foi proclamado presidente da Casa e o deputado Gustavo Gouveia (Solidariedade), primeiro-secretário. Também foram escolhidos dois vice-presidentes, três secretários e sete suplentes. A eleição foi realizada por voto secreto e impresso, em sessão presidida pelo deputado Romero Albuquerque (União). A mesa dos trabalhos foi completada por João Paulo (PT) e Antônio Moraes (PP), que atuaram, respectivamente, como primeiro e segundo secretários. Os deputados Débora Almeida (PSDB) e Lula Cabral (Solidariedade) foram os observadores, enquanto Izaias Regis (PSDB) auxiliou na contagem dos votos. Antes da votação, Álvaro Porto ressaltou o “sentimento de unidade, conseguido com diálogo e entendimento” na construção da chapa única. Também defendeu a autonomia como “imprescindível para uma atuação legislativa firme, produtiva e sintonizada com a sociedade e os demais Poderes”. “A Assembleia permanecerá empenhada em cumprir o papel de legislar, fiscalizar, representar e, sobretudo, servir ao povo de Pernambuco”, pactuou. “Seguiremos comprometidos com a defesa e o fortalecimento cotidiano da democracia.”

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Quem tem medo do pensamento estratégico?

Lido diariamente com o planejamento desde que comecei a cursar Arquitetura e Urbanismo na UFPE em 1976. Portanto, já lá se vão quase 50 anos. Depois, quando iniciei na consultoria (há quase 40 anos), passei a me dedicar ao planejamento estratégico e à sua aplicação à realidade empresarial. Em meio a esta militância logo percebi que, muito mais importante do que planejamento propriamente dito, é o desenvolvimento do pensamento estratégico, do qual o planejamento é um caminho para alcançar. Ou seja, dito de outra maneira: o planejamento estratégico é uma ferramenta para o desenvolvimento e a prática do pensamento estratégico. E, outra descoberta: quanto mais gente numa organização desenvolver o pensamento estratégico melhor para ela. Todavia, tem gente (muito mais do que seria razoável), sobretudo nos escalões superiores da estrutura de gestão, que não acredita na importância da disseminação do pensamento estratégico pela organização toda. O argumento é que as pessoas não teriam capacidade de compreender os conteúdos estratégicos tratados… A prática, no entanto, tem demonstrado que o problema é mais de “tradução” do que de capacidade. Com os conteúdos estratégicos adequadamente “traduzidos”, é possível disseminá-los até mesmo ao que se convencionou chamar de “chão de fábrica”. Afinal de contas, com a concorrência a cada dia mais disseminada, com a informação cada vez mais massificada (para o bem e para o mal) e com o ambiente cada vez mais conturbado, quanto mais gente estiver sintonizada com os objetivos estratégicos da empresa e, mais do que isso, quanto mais gente tiver desenvolvido a capacidade de pensar estrategicamente, processando as informações captadas, selecionar as que são relevantes para o negócio, agregando formulações relevantes para a competitividade, mais “ancorada” do ponto de vista estratégico estará a organização. Para isso, necessário se faz desenvolver a capacidade coletiva de manter viva uma conversação estratégica, periodicamente estimulada pela ferramenta eficaz do planejamento estratégico. Se feita de forma competente, é importante não se deixar paralisar pelo medo e acionar a coragem de ir em frente e tentar. Afinal, como disse Nelson Mandela: “Aprendi que a coragem não é a ausência de medo mas o triunfo sobre ele”. Triunfemos, pois, sobre o medo do pensamento estratégico. Isso é essencial para a competitividade nos dias que correm!

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Marco Alves: "Pernambuco peca em política externa"

Especialista em direito internacional e fellow do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia) analisa o impacto de uma recessão global e da guerra na Ucrânia e as perspectivas do Brasil no cenário internacional. Num mundo a caminho de uma recessão global, que vive o acirramento da disputa entre China e Estados Unidos pela hegemonia econômica mundial e o impacto da guerra na Ucrânia, o fortalecimento dos Brics e do Mercosul é um fator positivo para o Brasil, segundo Marco Alves. Mestre em Ciências Políticas, em Direito Internacional e Europeu e em Relações e Negócios Internacionais, Alves afirma que esses agrupamentos evitam a dependência econômica com outros países e cria novas oportunidades, como a possibilidade de os Brics formarem uma área de livre comércio. “Já pensou uma zona comercial de 3,2 bilhões de habitantes? Seria simplesmente a maior zona de livre comércio do mundo, com duas superpotências, líderes mundiais em matérias-primas e hidrocarbonetos e um dos celeiros do mundo”. Com a experiência de ter atuado em 27 países (incluindo o Brasil, onde trabalhou para o Governo de Pernambuco), Marco Alves é fellow do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia), mora na França e atua no continente africano como especialista na retomada econômica em zonas complexas para organizações humanitárias. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele analisou a redução da influência política e econômica da Europa, como consequência da guerra na Ucrânia, ressaltou a importância do presidente Lula para a inserção do Brasil no cenário internacional e lamentou que Pernambuco não aproveite a rede consular de que dispõe, como estratégia para se destacar no mercado externo. O mundo caminha para uma recessão global? Quais seus reflexos no Brasil e em Pernambuco? Muitas das agências internacionais anunciam o risco de recessão para boa parte do mundo. O Banco Central Europeu já fala [que pode atingir] metade dos países da Zona do Euro, incluindo Alemanha e Itália, duas principais potências industriais do conjunto. Nos Estados Unidos, esforços do Banco Central estão reduzindo o aumento da inflação, mas terá impactos na atividade econômica do país pela limitação do acesso ao crédito. Eles só vão se segurar graças a uma economia extremamente subvencionada em detrimento do resto do mundo. A União Europeia está disposta a ir pelo mesmo caminho e aceitar que empresas fechem e o desemprego suba para controlar a inflação. A grande diferença é que na Europa vamos pagar mais caro a energia do que os EUA e vamos importar o gás deles. Na China, vamos ver como o país se recupera da crise da Covid e a abertura total de todas as restrições, o que impactará a economia mundial. Ou seja, vamos todos pagar a conta dessa crise que é de vários níveis (econômica, energética, geopolítica), alguns mais do que outros. Penso no continente africano dependente das compras chinesas de matéria-prima e das ajudas internacionais ocidentais. No Burkina Faso, país que conheço bem, a inflação atingiu mais de 20% este ano, e teve falta de gasolina (tal como em outros países vizinhos). Isso, cumulado às situações de ataques terroristas, dois milhões de deslocados no território, secas e insegurança alimentar agregam dificuldades a uma situação já extremamente complicada. O Brasil vai sentir os impactos, mas, como é costume, um pouco depois dos demais. Não está garantido que haja crescimento para 2023, segundo dados oficiais. A inflação continua presente, apesar de a taxa Selic ter aumentado umas setes vezes (se não estou enganado). O País priorizou vender commodities – em detrimento de um desenvolvimento industrial consolidado – mas como vendê-las se a maioria dos compradores está limitando seus gastos? Qual vai ser a variação do valor das commodities neste contexto internacional? Qual será o valor do barril de petróleo que terá um impacto tremendo no custo das exportações e importações brasileiras? Como equilibrar os desafios externos e internos? São perguntas essenciais e tenho a sensação de que, devido à campanha presidencial, não estão em pauta ainda, mas têm que vir logo. A vantagem que o Brasil tem em relação a outros países é sua capacidade de resiliência e sua reatividade em termos macroeconômicos. Ē um país que reage muito rápido às políticas instauradas. Veremos rapidamente se o que será executado funciona ou não. Em relação a Pernambuco, o Estado tem uma vantagem geográfica tremenda que continua mal aproveitada. Existe, no meu ver, um déficit estratégico por parte do Governo Federal que não soube valorizar o território, mesmo com os investimentos recentes. Existe também uma falta de coerência entre Estados do Nordeste, cada um puxando para seu lado para se tornar hub regional, quando um ponto focal forte traria mais resultado e poderia se espalhar para os demais. E último ponto: Pernambuco peca em política externa, aliás, não há política externa. Nada é coordenado para atuar como um pivô comercial no panorama internacional. Quantos acordos firmados e efetivos temos com outros portos do mundo? Quantas rotas marítimas diretas estão em funcionamento? Acredito que poderíamos ter feito mais, apesar de ter reduzido um pouco essa desvantagem. Acho que os dirigentes sucessivos não dimensionam o quão importante seria colocar Pernambuco no mapa, de fato. Temos uma das maiores redes consulares do País e não sabemos fazer diplomacia econômica. Vamos ter que aprender e fazer. Nesse cenário global, como fica a polarização entre China e EUA pela hegemonia econômica mundial? A guerra na Ucrânia permitiu aos EUA revitalizar a Otan, que estava parada, e fazer com que a Europa queira estar submissa à defesa americana em detrimento de construir uma Europa da Defesa. O segundo impacto da guerra é e será a perda de força da Alemanha. Ela construiu seu modelo econômico com o gás russo barato, agora vai tentar manter sua indústria comprando um gás americano quatro vezes mais caro e sem real possibilidade de reatar com os antigos parceiros, se a situação geopolítica o permitisse, porque foram sabotados os dois gasodutos Nord Stream 1 e 2. Os vencedores deste conflito, do ponto de vista político e econômico, são os

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