Afogados e seus porquês…
No Recife, a denominação da primitiva povoação dos Afogados é originária do Rio dos Afogados, afluente do Capibaribe, aonde, em 17 de fevereiro de 1531, sete marinheiros da expedição de Martin Afonso de Souza vieram a perecer em suas águas. O Rio dos Afogados, assim como outros afluentes do Capibaribe e do Beberibe, já aparece com a sua designação no Diário de Navegação de Pero Lopes de Souza (1532), e em mapa existente no Roteiro de todos os sinais etc., de Luís Teixeira (c. 1582-85), no qual, pela primeira vez, é assinalada, num documento cartográfico, essa primitiva povoação do Recife, distante uma légua da Vila de Olinda e de seus arredores. Cruzando a Ponte do Motocolombó, ingressamos em terras dos Afogados que ostenta, em sua praça central, um formidável cruzeiro esculpido em pedra, originário do Século 17, que fora ali fixado em 25 de novembro de 1868. O belo monumento, firmado em bonita peanha (pequeno pedestal onde se colocam imagem, estátua, cruz, busto etc.), foi transportado em procissão de penitência do primitivo Engenho Jiquiá (Século 16) para o Largo da Paz, quando das Santas Missões pregadas pelo capuchinho italiano Fidélis de Fognano. A praça é dominada pela Matriz de Nossa Senhora da Paz, originária de capela já existente em 1745. No ano de 1837, foi elevada à dignidade de matriz pela Lei Provincial nº 38, com o território de sua paróquia estendendo-se por toda a várzea do Capibaribe. A igreja passou por grandes obras em 1857, que conservaram sua estrutura primitiva bem como as imagens e alfaias, todas originárias do Século 18. No entanto, reformas realizadas em 1920 fizeram desaparecer todo o brilho do templo antigo que, em época recente, sofreu com o desabamento de sua nave central, restando de primitivo apenas seu austero frontispício. O termo dos Afogados só veio a ser incorporado ao Recife em dezembro de 1817, desmembrado de Olinda. De lá tinha início a estrada de rodagem para Vitória, inaugurada em 1836, com regular serviço de passageiros; daí a origem da Rua da Diligência, um pequeno beco existente à esquerda de quem cruza a ponte vindo da Rua Imperial. Até há pouco restava, em Afogados, na descida da ponte, o último dos nichos que outrora existiam nas ruas do Recife. Esse pequenino monumento, hoje transferido para o Largo da Paz, em frente ao cruzeiro, teve sua presença registrada pelo reverendo metodista Daniel Parrish Kidder, que aqui esteve em 1836: “Na extremidade oriental da ponte erguia-se o que Mr. Southey (referência ao historiador Robert Southey) chamaria de uma casa de ídolo. Suas dimensões não excediam a seis pés por quatro. Pela janela ou porta, quando aberta, o transeunte podia ver que continha uma pequena imagem, ricamente ornada, sobre um altar”. O bairro dos Afogados está ligado ao Centro do Recife pela Avenida Sul, com 2.500 metros, e pela Rua Imperial, com 2.300 metros, esta originária do “dique” construído ao tempo do conde João Maurício de Nassau (1637-1644) que servia de acesso ao forte holandês Príncipe Guilherme ali existente em área hoje ocupada pela antiga fábrica de Alimonda & Irmãos.
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