Arquivos Francisco Cunha - Página 8 de 9 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Francisco Cunha

O sonho de uma cidade-parque

No lançamento da Agenda TGI 2017, no final de novembro, tive a oportunidade de falar, pelo 18º ano seguido, sobre a retrospectiva do ano que está terminando e as perspectivas relativas ao ano que vai se iniciar para o mundo, o Brasil, Pernambuco e o Recife, conforme reportado na matéria de capa desta edição. No que diz respeito ao Recife, dei destaque aos avanços conseguidos em relação ao projeto Parque Capibaribe: o Jardim do Baobá, a Avenida Beira-Rio das Graças, Ativação da Capunga e o Cais do Imperador. Sobre o Jardim do Baobá, considerado o marco zero do Parque Capibaribe, mostrei como uma intervenção relativamente simples conseguiu derrubar os muros que emparedavam a árvore na beira do rio, o monumento vegetal que é o portentoso baobá, resgatando-o para a cidade e chamando tanto a atenção da população que passou a frequentar em massa o local. Em relação à avenida Beira-Rio das Graças, relatei a luta da associação de moradores do bairro pela adequação da via às diretrizes do Parque Capibaribe, a vitória conseguida e a aprovação pela prefeitura do novo projeto de uma via-parque prestes a ser licitada. Relativamente à Ativação da Capunga, destaquei a ação de urbanismo tático realizada no trecho da beira do rio que fica na frente da faculdade Uninassau e vai quase até os fundos do Quartel do Derby onde foram instalados equipamentos provisórios, mas dentro do espírito do Parque. Já no que diz respeito à recuperação do Cais do Imperador, mostrei as fotos do local onde desembarcou D. Pedro II em 1859, na frente do antigo Grande Hotel, agora reintegrado à cidade com uma cafeteria, do outro lado do Cais da Alfândega. Essas intervenções inserem-se na concepção do Parque Capibaribe que, por sua vez, insere-se na concepção do Plano Recife 500 Anos, uma abordagem consistente de planejamento de longo prazo para a cidade, pela primeira vez em muitas décadas, com um bônus adicional: o potencial (o sonho) de, pela extrapolação dos conceitos do Parque Capibaribe, transformar o Recife numa cidade-parque até 2037. No final da palestra, citei novamente Victor Hugo: “Nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”. É com ele que finalizo este último artigo de 2016 desejando aos leitores um ano novo de sonhos realizados, inclusive o de uma cidade com um futuro melhor. Que venha 2017!

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O pedestre atravessa como? Voando?

Apesar de já ter percorrido uma boa parte do Recife a pé (cerca de 7 mil km nos últimos 10 anos dentro da cidade – o equivalente a ida e volta a Florianópolis), só outro dia me dei conta de uma coisa estranhíssima: praticamente não é possível ir da Zona Norte à Zona Sul, e vice-versa, a pé. A não ser que se vá caminhando até Afogados e, de lá, pela Imbiribeira até o cruzamento com a Antônio Falcão/General Mac Arthur, depois direto até a praia. A outra alternativa é ir até a Praça do Marco Zero, pegar um barco, atravessar até os arrecifes e ir por cima do molhe até o Pina. Existe uma terceira que é ir por dentro de Joana Bezerra até a Avenida Sul e cruzar por baixo da linha do metrô, numa passagem pra lá de esquisita, até o Cabanga. Fora isso, se a tentativa for pelo mesmo percurso dos carros, o infeliz pedestre terá que cruzar a pé o Viaduto Cinco Pontas e o Cais José Estelita até o Cabanga ou arriscar a vida por cima do Viaduto Capitão Temudo, disputando espaço com veículos motorizados que passam chutados. Neste último caso, se conseguir chegar vivo até a Ponte Paulo Guerra, terá que arriscar a vida mais uma vez, pulando a mureta de concreto e atravessar correndo a entrada da Via Mangue para alcançar, pulando outra mureta, o prosseguimento da calçada da ponte, literalmente arrancada neste trecho. O curioso é que no local picharam na mureta: “O pedestre atravessa como? Voando?” (e até para ter acesso ao shopping RioMar ele teria que voar porque a calçada é interrompida por outra mureta para além da qual projeta-se um precipício de uns dois andares de altura). A ficha dessa situação absurda de uma cidade que não se conecta para o pedestre só caiu recentemente quando me vi, mais uma vez, em meio a esse quadro absolutamente surrealista, muito mais quando me dei conta de que, tanto o alargamento do Capitão Temudo quanto a construção da Via Mangue, se deram praticamente um dia desses... Ambos sem calçada e sem preocupação com o pedestre (e com o ciclista também). Pelo que sei, a calçada e a ciclovia da Via Mangue foram acrescentadas depois do projeto pronto e aprovado quando alguém disse: “oi, cadê a calçada?” O que dizer da mobilidade de uma cidade na qual o pedestre só consegue ir da Zona Norte à Zona Sul voando? No mínimo, que muita coisa precisará mudar para que o conceito de caminhabilidade das cidades desenvolvidas seja, de fato, adotado entre nós.

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O Baobá e o urbanismo-Lego

No mês passado, foi aberto ao público o Jardim do Baobá em Ponte D’Uchoa, “marco zero” do Parque Capibaribe, um projeto urbanístico desenvolvido em convênio entre a Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Recife e o InCiti – Instituto de Pesquisa e Inovação para as Cidades da Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Seu objetivo é transformar as margens do Capibaribe dentro do Recife num enorme parque urbano em meio ao qual venha a ser implantada uma via mista para pedestres e ciclistas, da Várzea ao Centro da cidade. Com isso, a área verde por habitante pode passar de 0,7 m² para 20 m² até 2037 quando o Recife completa 500 anos. Imediatamente o Jardim se transformou num sucesso de público e crítica com milhares de pessoas visitando diariamente, em especial nos finais de semana, seus espaços para relaxamento e meditação, seus balanços que podem ser usados por adultos, sua grande mesa para piqueniques e/ou jogos, seu pier flutuante com vista ímpar de dentro do rio, seus barcos para passeios fluviais... Do ponto de vista urbanístico, não é descabido dizer que o Jardim é uma experiência bem sucedida de “urbanismo-lego”. Ou seja, aquele baseado num plano geral cuidadosamente bem conceituado e esboçado que começa a implantar-se com a colocação de uma primeira “peça”, sem necessidade de seguir a via crucis tradicional e interminável de um extenso projeto básico acoplado a um plano de financiamento orçamentário milionário, ainda mais numa época como a nossa de recursos públicos mais do que escassos... Tecnicamente pode-se enquadrar essa experiência como parte do urbanismo emergente ou tático, um conceito contemporâneo acerca do modo de desenhar, construir e viver as cidades. Diferente do conceito tradicional do urbanismo top-down planning, de cima para baixo (hoje, da fotografia do satélite para a planta), o urbanismo emergente considera a experimentação do tipo botton-up planning, de baixo para cima, como componente essencial do sucesso da implantação e do próprio aperfeiçoamento da solução macro. Com o “urbanismo-lego”, o Jardim do Baboá e mais especificamente o Parque Capibaribe, colocam o Recife no centro do debate mundial que tem cidades como Barcelona, Medellin, Copenhage e Nova York na condição de campos de experimentação avançada do urbanismo up to date.

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Pernambuco depois da crise

A julgar pelos indicadores que vão sendo publicados pela imprensa nacional, a crise está começando a ficar para trás embora muito ainda precisará ser feito para que se dê a retomada do crescimento econômico. O governo federal tem diante de si a tarefa gigante de promover o ajuste fiscal indispensável à retomada da confiança dos agentes econômicos para que se disponham a voltar a investir e a consumir, fazendo com que a roda da economia volte a girar novamente. Acredito que mais cedo ou mais tarde esse ajuste fiscal se fará e o ciclo virtuoso do crescimento será retomado. A análise da série histórica dos índices de desempenho do PIB no País, desde 1900 quando as medições começaram a ser feitas, evidencia isso: após cada recessão há uma retomada do crescimento que atinge os patamares de antes da crise (no caso recente, de 2,5 a 3% de crescimento ao ano). No que diz respeito a Pernambuco, após o ciclo de investimentos estruturadores do início do Século 21, a desaceleração já estava de certa forma contratada. Acontece que, junto com essa queda projetada, veio o coice da crise nacional que terminou por afetar o Estado de maneira muito forte. Tão forte que nós da TGI entendemos ser necessário retomar a Pesquisa Empresas & Empresários realizada desde 1990 com inúmeros levantamentos, seminários, relatórios e três livros básicos publicados: Pernambuco Afortunado (passado), Pernambuco Competitivo (presente) e Pernambuco Desafiado (futuro). Acontece que depois da dupla crise (do final dos investimentos estruturadores e da recessão da economia nacional) o futuro de Pernambuco mudou e precisa ser revisitado. Daí, a necessidade de dar prosseguimento ao estudo dos setores dinâmicos da economia pernambucana pesquisados e publicados no livro Pernambuco Competitivo: (1) Sucroalcooleiro; (2) Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC); (3) Turismo e Cultura; (4) Metalmecânico; (5) Varejo Moderno; (6) Moda e Confecção; (7) Logística; (8) Construção Civil; (9) Fruticultura e Vitivinicultura; e (10) Serviços Modernos. Além do Automotivo e do Petroquímico que vieram depois. Ao caso atual de Pernambuco aplica-se com propriedade a frase do poeta francês Paul Valéry: “O problema do nosso tempo é que o futuro não é mais o que costumava ser”.

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Algomais para além da crise

Participo do projeto da Revista Algomais desde a sua pré-história. Desde quando não era mais do que uma mera ideia daquelas que correm o sério risco de não passar de um simples sonho de uma noite de verão, até hoje, mais de 10 anos depois, quando da decisão de Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura que resolveram concluir suas participações no projeto para cuidar integralmente da Engenho de Mídia, a empresa deles. Já disse aqui nesta Última Página, na condição de colunista mais antigo, que tenho um enorme orgulho de ter contribuído muito de perto desta construção que envolveu muita dedicação, trabalho e seriedade de todos os envolvidos sobretudo de Sérgio e Luciano que tocaram executivamente a publicação ao longo da década passada. Com a saída deles, nós da TGI assumimos a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho realizado e de seguir mantendo a publicação com o mesmo nível de qualidade alcançado. Não será tarefa fácil, sabemos disso, mas estamos decididos a fazê-lo. E como dizia o empresário paraibano, radicado em Campina Grande, Dão Silveira: “quem tem a vontade já tem a metade”. Fazemos isso num momento especial: uma crise econômica devastadora, que assolou o País e atingiu duramente Pernambuco. A Algomais começou reportando o novo momento de desenvolvimento do Estado que levaria a economia local a crescer mais do que a do Brasil por muitos anos seguidos. Agora, a rebordosa é grande, mas começou o período de reversão. A crise cumpre o seu ciclo: depois de uma queda recorde da atividade econômica que em dois anos provocará uma recessão de algo em torno de -9,0% do PIB, pelo menos tudo faz crer que o pior está passando. Paramos então de piorar, essa é a notícia boa. Temos, todavia, ainda um exigente tempo de recuperação pela frente. Mal comparando é como se o trem da economia (o PIB do País) tivesse parado, começado a andar para trás e parado de novo. Agora, temos todo esse percurso de marcha ré a recuperar para chegar de novo no ponto de onde paramos de avançar e, daí, continuar em frente no terreno positivo. Em Pernambuco isso também vai acontecer. Será, portanto, neste cenário de recuperação, que se dará a nova fase da Algomais – a Revista de Pernambuco. No cenário para além da crise. Continuamos contamos para isso com o apoio e o prestígio que sempre tivemos dos leitores e anunciantes. Vamos lá!

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Pedestre, a medida de todas as coisas (Por Francisco Cunha)

Na palestra que fiz mês passado no seminário A Mobilidade a Pé e o Futuro do Recife, organizado pelo INTG – Instituto da Gestão e apoiado pelo Cesar, pela Urbana/PE e pela Fiepe, tive oportunidade de falar sobre a importância crucial do pedestre para o urbanismo contemporâneo. Esse seminário regional foi um desdobramento no Recife do seminário internacional Cidades A Pé, realizado em São Paulo no mês de novembro do ano passado. Disse que, embora graduado em Arquitetura e Urbanismo pela UFPE, só fui entender o que considero vital na questão urbana atual depois que andei milhares de quilômetros no Recife. Depois, portanto, que, na prática, me “pós-graduei” pelos pés. O essencial do que aprendi foi que se o pedestre se sente mal no solo é porque o urbanismo é ruim e o planejamento urbano, se houve, falhou. O planejamento urbano tradicional, o que se aprende na escola e amiúde se aplica por aí, começa olhando o espaço pelo satélite (ainda mais agora com a proliferação das tecnologias de internet...), depois “desce” para o mapa, para a planta, para o detalhe e termina por não chegar ao nível do chão, de quem está andando na rua. Depois de gastar muita sola de sapato por aí, defendo que haja uma inversão de sentido, que o planejamento comece pelo chão, por onde anda o pedestre e, aí, vá “subindo” até chegar ao satélite. Se isso fosse feito, com certeza, não teríamos muitas das atrocidades que suportamos nas cidades brasileiras andando por elas... Na Grécia antiga, a filosofia pré-socrática defendia que “o homem é a medida de todas as coisas”. Na cidade, a medida de todas as coisas, sem a menor sombra de dúvida, é o pedestre! Não entender isso é ficar na contramão da história contemporânea do urbanismo. Que o digam Jan Gerl com seu consagrado livro “Cidade para as Pessoas” e Jeff Speck com o seu excelente livro “Cidade Caminhável”. Que o digam as cidades da Europa e, já, muitas dos EUA, além de praticamente todas as capitais latino-americanas... Já existem, inclusive, um conceito e um conjunto de indicadores que ajudam a materializar essa tendência. Trata-se, o conceito, do Walkability e o conjunto de indicadores, do Walk Score que medem o quanto “caminhável” é determinado local, bairro ou cidade. Temos que seguir por aí. Afinal, como repete aquele complemento de comercial de rádio e TV, independente do meio de transporte que utilizemos, “na cidade, todos somos pedestres”.

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O início do fim da crise (junho)

Com a divulgação dos números do IBGE para o primeiro trimestre do ano, uma esperança se acendeu no painel da crise: a queda do PIB parece ter batido no fundo do poço no quarto trimestre de 2015 (-5,9% em relação ao mesmo trimestre do ano anterior) e a recuperação parece ter-se iniciado no primeiro trimestre de 2016 (-5,4%). É pouca coisa, mas é a primeira vez que há uma redução da queda em relação ao trimestre anterior desde o final de 2014. Se essa tendência vier mesmo a se confirmar no segundo trimestre de 2016, será uma evidência de que a recessão purgativa que tivemos que sofrer por conta do descontrole da inflação terá surtido seu efeito (a taxa que em 2016 superou os dois dígitos, já começou a recuar em direção ao teto da meta que é 6,5% ao ano). Isso, acrescido da sinalização dada pelo novo governo de início do controle do desarranjo fiscal de curto prazo, pode ser a senha do retorno da confiança dos agentes econômicos (que consomem e que investem), sem a qual nenhuma recuperação econômica é possível. A esse respeito, o ICC (Índice de Confiança do Consumidor) da FGV parece também já ter saído do fundo do poço em maio passado (subiu de 64,4 em abril – o menor da série histórica cujo máximo foi 127,8 em abril/2012 – para 67,9 em maio). O sentimento de uma boa parcela dos analistas econômicos é o de que, se essa tendência de recuperação se firma, teremos um segundo semestre melhor e um final do ano superior ao do ano passado. Vamos torcer, então, por este cenário econômico de curto prazo e, do ponto de vista empresarial, continuar aguentando o tranco desta recessão que já se configura como a pior desde 1930. Uma coisa é certa: quando essa crise, de fato, passar, do ponto de vista econômico, teremos tanto um País quanto empresas melhores e mais eficientes. O desafio é superar a crise e conseguir sair no fim do túnel em melhor estado geral do que quando entramos... No médio prazo, todavia, uma questão avulta como crucial para o futuro do País: a reforma política. Segundo o cientista político Murillo de Aragão, “a Lava-Jato tem o condão de simplesmente destroçar o sistema político brasileiro”. Ela veio deixar meridianamente claro que o sistema político-partidário-eleitoral do País está falido. Se não conseguirmos reformá-lo a tempo, a crise conjuntural pode até ser ultrapassada, mas a estrutural, não. Mais cedo do que tarde vamos nos ver às voltas com novos dissabores...

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O Brasil pós-impeachment (maio/2016)

O desafio do próximo governo é imenso. Tanto do ponto de vista da economia, quanto da política, quanto do restabelecimento da confiança cuja ausência impede os agentes econômicos de consumirem e de investirem, contribuindo decisivamente para o esfriamento da demanda e, em última análise, para a recessão que atormenta o País há pelo menos dois anos seguidos. Do ponto de vista da economia, uma condição indispensável para recolocação do País nos trilhos é a recuperação das contas públicas que passaram durante anos por uma desarrumação que se traduz nos dias que correm na inflação de dois dígitos, na recessão renitente e no desemprego recorde. Do ponto de vista da política, o desafio se traduz na montagem de um ministério e de uma maioria parlamentar os menos fisiológicos possíveis, capazes de formular e executar o ajuste fiscal conjuntural que permita destravar a economia e refazer o caminho da saída da recessão e da retomada do crescimento, ainda que em bases modestas. Um crescimento mais vigoroso só será possível com a realização das reformas e do ajuste fiscal estrutural que só o governo eleito em 2018 terá condições de fazer. Do ponto de vista da confiança, cujos indicadores apontam os níveis mais baixos da história, a retomada só ocorrerá se tanto a parte econômica quanto a política do desafio forem superadas. De um modo geral, pode-se dizer que o próximo governo será de transição e seu sucesso dependerá criticamente de dar certo logo no início. Não resistirá ao rame-rame tradicional da política brasileira. Se for mais do mesmo ou cai logo ou potencializará a nível inimaginável a incerteza e a desconfiança e cairá mais na frente. Se for bem sucedido, como precisamos, sua missão será arrumar a casa para entregar o governo minimamente organizado para o(a) próximo(a) presidente eleito em 2018. Curiosamente, nas especulações da imprensa sobre o novo ministério, nada menos do que 10 pernambucanos foram cogitados: Jarbas Vasconcelos, Romero Jucá, Mendonça Filho, Bruno Araújo, Raul Jungmann, Cristovam Buarque, Roberto Freire, Augusto Coutinho, Raul Henry, Fernando Coelho Filho. O que não deixa de ser uma evidência da nossa densidade política, muito necessária para o enfrentamento do cenário adverso que também nos aflige de forma muito intensa e do qual só vamos sair junto com o País.

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A vitória do acaso

Por formação, desde pelo menos o primeiro dia de faculdade, e também por dever de ofício da consultoria, tenho lidado a cada dia com planejamento há mais de 40 anos, seja de projetos, seja de clientes e parceiros, seja da TGI e, como não poderia deixar de ser, seja de minha própria trajetória pessoal e profissional. Ao longo desse tempo, muitas coisas aconteceram como resultado do planejado, outras não aconteceram e algumas mais aconteceram mesmo sem terem sido planejadas. Dentre essas últimas, do ponto de vista pessoal, nunca me passou pela cabeça, como algo planejado com antecedência, nem fazer exposição nem publicar um livro de fotografias, bem como nunca me passou pela cabeça participar do projeto de uma revista, menos ainda de um projeto vitorioso que hoje completa 10 anos como o da Algomais. Da emergência das coisas não planejadas mas bem sucedidas, tirei o ensinamento que passei a adotar no meu dia a dia de planejamento e pode ser enunciado do seguinte modo: “planeje o mais que puder, mas deixe sempre a porta aberta para o acaso”. Em não poucas situações ele se impõe de forma avassaladora. No que diz respeito à Algomais, foi um acaso e tanto que terminou se transformando num projeto de absoluto sucesso. Uma revista que, desde o seu número zero, se pauta pela defesa do nosso Estado e que, de fato, pratica a missão que definiu para si: “Prover com pautas ousadas, inovadoras e imparciais, informações de qualidade para os leitores, sempre priorizando os interesses, fatos e personagens relevantes de Pernambuco, sem louvações descabidas nem afiliações de qualquer natureza, com garantia do contraditório, pontualidade de circulação e identificação inequívoca dos conteúdos editorial e comercial publicados.” Além dessa fidelidade absoluta à missão, outro fator distingue a Algomais no meio jornalístico pernambucano: o funcionamento ininterrupto, desde o seu primeiro número em 2006, do Conselho Editorial que, de fato, pautou, avaliou e qualificou, com suas reuniões mensais, cada uma das 120 edições que hoje se completam. Na condição de colunista mais antigo da revista (desde o número zero), nesta mesma Última Página, presidente licenciado do Conselho Editorial e sócio da SMF/TGI, editora da Algomais, só tenho que me congratular orgulhosamente com o acaso. Não fora ele, eu não estaria participando desta experiência fantástica.

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A calçada do Panamá

Aproveitei o Carnaval para conhecer a Cidade do Panamá e o famoso canal sobre os quais já tinha ouvido muito boas referências. ­Com a facilidade do voo direto pela Copa Airlines, do Recife para lá, e do roteiro cuidadosamente elaborado pelo companheiro do Observatório do Recife e do INTG, o panamenho Rubén Pecchio, desembarcamos na cidade mais imponente da América Central. Considerada a “Dubai latino-americana” pela quantidade e pelo tamanho dos seus edifícios à beira mar, os mais altos do subcontinente, a Cidade do Panamá, de fato, impressiona. Antes do colosso de engenharia que é o canal interoceânico que completou 100 anos em 2014, chama logo a atenção do visitante a Cinta Costeira, um parque linear na Av. Balboa, na costa do Pacífico, recém-inaugurado, com calçadão, ciclovia de 3,5 km, jardins, playgrounds, áreas para eventos ao ar livre, obras de arte etc., muito bem frequentado no final da tarde, quando a temperatura ambiente reduz-se para abaixo dos 30 graus (chega aos 35 graus durante o dia nesta época do ano). Trata-se, de fato, de algo que se pode chamar, sem problemas, “de primeiro mundo”. Todavia, o que logo me chamou a atenção, depois desta boa primeira impressão, foi o deplorável estado das calçadas locais. Na própria Avenida Balboa, do outro lado do parque linear Cinta Costeira, logo à frente dos grandes e modernos edifícios, as calçadas chegam a ser piores do que os piores trechos da nossa Av. Conselheiro Aguiar, que são bem ruins pelos padrões civilizados. E o que é mais grave, como uma espécie de maldição que me persegue, cheias de carros estacionados em cima... Confesso que fiquei triste. Não compreendo como as pessoas não entendem que civilização e desenvolvimento não são apenas edifícios modernos e avenidas largas e bem cuidadas (a Av. Balboa, na frente das calçadas deploráveis, tem 10 pistas para veículos automotores). Mas também, e principalmente, a relação que se estabelece com a via pública, na área de contato com ela (em muitos casos, na frente dos prédios, existem enormes estacionamentos que, não raro, invadem as calçadas), e a atenção que se dá ao pedestre, o agente mais frágil do trânsito. É por isso que somos considerados subdesenvolvidos já que não entendemos um óbvio deste tipo. Infelizmente, o Panamá e o Recife ainda têm muito a avançar para virem a ser consideradas cidades minimamente desenvolvidas.

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