Arquivos Colunistas - Página 288 de 295 - Revista Algomais - a revista de Pernambuco

Colunistas

Após as emoções olímpicas, aplausos às artes cênicas...

Foram muitas as reflexões apontadas durante as Olimpíadas do Rio 2016, não só para o universo esportivo, mas especificamente para segmentos como educação e arte. Talvez poucas pessoas tenham percebido o recado cifrado do evento, tão tomada pela emoção estava a grande maioria dos espectadores e telespectadores da Rio 2016. – E não era pra menos, toda imprensa televisiva investiu nesse eixo deixando lividamente uma população às lágrimas, mesmo a que estava há muitos quilômetros de distância da capital fluminense. As poucas pessoas que apenas os olhos marejaram, refletiram sim, e puderam comparar (e teria que comparar mesmo), a quantidade de medalhas nas três categorias (ouro, prata e bronze) conquistadas pelos países participantes, perceberam de imediato e sem esforços, que a educação é o vetor dessas conquistas. Vejamos então os países que menos medalhas receberam nesta Olimpíada, todos têm um histórico remoto de ínfimo investimento na educação. Esta mesma reflexão se adéqua na questão das artes. Ao contrário, os Estados Unidos, a Alemanha, a Rússia, a Inglaterra, a França, a Itália, por exemplo, são países que tradicionalmente investem na educação como necessidade primeira, para que a sociedade desenvolva, com competência, suas culturas, suas artes e seus esportes. Daí, ao receber medalhas, risos. O Brasil conseguiu 19 medalhas, recorde em quantidade de aquisição olímpica até então. – Um parêntese aqui, me permitam: as medalhas brasileiras foram também banhadas por lágrimas, principalmente dos homens olímpicos. Isso aponta para uma coisa interessante de observar, relativa à cultura da masculinidade brasileira perdendo o vício mentiroso de dizer que homem não chora. Sempre chorou, escondido ou disfarçado, chorou e chora. Mas um legado da Olimpíada Rio 2016 que nos fica é a liberação do choro masculino (barbudos ou sem barbas, com topetes ou carecas, jovens, ou nem tanto, atletas ou fãs, já podem chorar em público como os nossos ídolos fizeram para o mundo ver. É obvio que entendemos no choro dos nossos “heróis” o filme que passa em suas cabeças de quantos dragões tiveram que vencer a cada dia para chegar ao pódio). – Voltando as 19 medalhas do Brasil, essa quantidade vai continuar num crescimento lento e gradual, porque assim é o investimento nacional na educação da sua população. E isso sim, é de fazer chorar. “É ouro, é ouro, é ouro!” – Esguelava-se Galvão Bueno na tela da TV, e as lágrimas rolavam. Porém, a televisão nada falou da programação artística e cultural destinada à Olimpíada, destacando-se a música, o teatro e a dança (que são as verdadeiras medalhas de ouro da diversidade e pluralidade da cultura brasileira), sabiamente ofertada pelo Ministério da Cultura, através da Funarte, no Bulevar Olímpico. Artistas de todas as regiões do país expostos a apreciação dos estrangeiros (a melhor forma de conhecer a alma do povo de um país é observar a arte que este povo produz), e a televisão silêncio total, como se os esportes não tivessem em suas expressões uma carga inseparável de arte e cultura advindas de uma educação. Como vimos na abertura dos jogos no Maracanã, o frisson que causou dentro e fora do Brasil, a nossa criatividade, a inventividade e a naturalidade de nossas expressões artísticas, usando como suporte tecnológico apenas câmeras cinematográficas, e isso não servir de foco para os veículos de comunicação de massa divulgar a programação da Olimpíada Rio 2016 contando com as artes nela inserida, é no mínimo um equívoco imperdoável. – Mesmo sem o alarde das Televisões, é gratificante saber que o público formado por brasileiros e estrangeiros prestigiou a programação cultural, e aplaudiu a arte que viu. Agora, pós-olimpíada, é tempo de aplaudirmos, ao vivo, os artistas locais em desenvolvimento de suas artes, e tenhamos todos bons espetáculos! DICAS DE ESPETÁCULOS EM CARTAZ NO RECIFE: - Puro Lixo, de Luiz Reis e direção de Antônio Cadengue, no Teatro Hermilo Borba Filho, aos sábados e domingos. Informações: 33553319. - Ossos, de Marcelino Freire, com direção de Marcondes Lima, no Teatro Barreto Jr. Tadas as sextas e sábados, às 20h. Informações: 33556399. - A Receita, texto e direção de Samuel Santos, com a atriz Naná Sodré, no Teatro Luiz Mendonça (Parque Dona Lindu), todas as quintas, às 20h. – Informações: 33559821. - Vento Forte Para Água e Sabão, de Giordano Castro, com direção de André Filho, no Teatro Barreto Jr. Aos sábados e domingos às 16:30h. - Duvido, espetáculo de dança com coreografias de Ana Emília Freire e Direção geral de Cecília Brennand, no Teatro Luiz Mendonça, toda sexta às 20h. – Informações: 33559821. - Aurora Em... Uma Bela Adormecida, concepção e direção artística de José Roberto Lira, no Teatro Luiz Mendonça, aos domingos às 17h. – Informações 33559821. - Zumba Sem Dente, de Hermilo Borba Filho, com direção de Carlos Carvalho, no Teatro Hermilo, as terças feiras, às 19h. Informações: 33553319. *Por Romildo Moreira é ator, autor e diretor teatral

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Por que os escritores vão às salas de aula? (Por Paulo Caldas)

*Por Paulo Caldas Para a escritora Jussara Kouryh aproximar os autores do leitor, muitas vezes crianças e adolescentes, é fascinante. “Acham que somos pessoas distantes, que vivemos num mundo diferente, mas quando percebem que somos iguais, que possuímos os mesmos sonhos e inquietações, começa um processo de desmistificação. É muito interessante”. Ela acrescenta que outra motivação é constatar o quanto nossa presença nas salas de aula, além de provocar discussões produtivas sobre o texto, sua compreensão e interpretação, desperta interesse pela leitura, além de estimular a própria produção textual dos alunos. “Os estudantes e profissionais da educação, nos trazem elementos extraordinários para o enriquecimento de nossa escrita. São observações, exigências que acrescentam positivamente e abrem leques para nossas futuras produções. Em suma, é uma troca maravilhosa”. Garante. Perguntada sobre se a sua visita contribui para incentivar o hábito da leitura, Jussara Kouryh tem dúvidas. “Se os alunos são impulsionados cotidianamente à produção textual, nossa presença será mais um elemento motivador. Se, ao contrário, a nossa visita, ficará apenas a lembrança e sem maiores consequências. Nossa presença pontual não tem a força de operar um milagre que só acontece quando a escola compreende a importância do ato de ler”, afirma. Sobre os seus títulos mais indicados às escolas, ela detalha. “Alguns infantis como O Grande Festival das Cigarras, Biu – o passarinho maluco, Liberdade, o sonho dos Palmares... Os infantojuvenis como O dono dos pés, Desafio no asfalto, Jogo de máscaras... entre os romances Sophia e Na palma da mão”. Os livros de Jussara contemplam também outros temas. “Produzi duas coleções que estimulam discussões nas salas de aula: Conceitos sem preconceitos, em seis volumes nos quais podemos conversar com os adolescentes sobre uso de droga, internet e redes sociais, tráfico de pessoas, bullying, as doenças sexualmente transmissíveis e o HIV/aids. Na coleção Histórias do Brasil Afro-indígenas, formada por quatro volumes, atendendo exigências do Ministério da Educação, abordamos histórias e culturas afro-indígenas. O escritor Fernando Farias tem uma visão diferente dos seus colegas. “Faço um trabalho de militância literária, incentivando mais a arte de escrever do que motivando novos leitores. Tenho dito que lugar de escritor é nas escolas. São eles que podem falar sobre a importância da leitura e da arte de escrever. Mesmo que não sejam escritores de histórias infantis e para adolescentes”, define. O seu trabalho, praticamente, começou na Escola Estadual Rodolfo Aureliano, em Jaboatão, para fazer oficinas aos sábados, dentro do projeto Escola Aberta. “Isso sem qualquer remuneração; a experiência inicial não foi muito boa, pois eu apenas transferia o conteúdo das oficinas que eu assistia com Raimundo Carrero. A primeira turma durou mais de um ano e eles serviram como minhas cobaias. Tive que aprender empiricamente a fazer exercícios motivadores, buscar técnicas mais simples, textos leves e incentivar a leitura de livros da biblioteca. Tomei gosto e fiz proposta para a Prefeitura de Jaboatão, onde há mais de seis anos faço palestras e oficinas. Sou remunerado por este trabalho. Depois fui convidado pelo SESC onde já fiz oficinas e palestras em várias cidades. Também faço palestras em escolas do Recife e nas bibliotecas comunitárias”. Farias acrescenta que é bem recebido pelos alunos, “mas nem sempre pelos professores caretas que se incomodam com meu método descontraído que estimula a criatividade, a quebra de padrões e busca o pensamento livre. O aluno percebe que tudo é uma brincadeira, podem sair da sala, usar celulares e conversar. No estímulo à imaginação vem o debate de temas transversais: drogas, gravidez na adolescência, consciência da temporalidade e morte. O que sempre gera mote para os contos”, comenta. Ele observa que as oficinas e palestras só estimulam os alunos que possuem predisposição à leitura. “Não há mágica, é preciso um ambiente de leitura em casa. A experiência com adultos, das turmas do EJA, (Educação de Jovens e Adultos), durante dois anos, motivou mais retorno, criando-se até uma biblioteca no bairro de Barra de Jangada. Detectamos que houve um aumento de mais de 100 jovens inscritos na biblioteca quando as oficinas foram realizadas na Biblioteca Central de Jaboatão, ou seja, dentro do ambiente de livros. As escolas não têm bibliotecas, nunca vimos um professor de português que incentivasse a leitura, são poucos os que se aliam ao projeto das oficinas. A maioria aproveita para sair da sala nessas horas”, critica. “Há uma ideia falsa de que apenas quem escreve para crianças deve ir às escolas, na verdade, eles usam as escolas apenas para vender livros. Por outro lado, nem todos os escritores se comunicam com jovens, sabem escrever bem, mas são péssimos para falar com as turmas. Principalmente pela vaidade e egocentrismos, escritores que acham que são importantes e falam tudo de suas vidas e nada sobre a leitura e a arte”, conclui. *Paulo Caldas é escritor  

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As Imperial IPAs, o topo do amargor (por Rivaldo Neto)

A variação mais intensa das IPAs (Indian Pale Ale) são as Imperial IPAs, que possuem um consumidor extremamente segmentado deste estilo criado nos EUA. São cervejas com um grau potencialmente alto de amargor, fortes mesmo. O seu IBU - International Biterness Unit, medida que afere o grau de amargor – é alto. Porém essa medida não fornece informações sobre as sutilezas de sabor, mas serve como um guia geral e dá uma certa referência a quem se aventura em provar este estilo de cerveja, que têm como característica imediata ao experimentá-la a tônica de amá-la ou odiá-la. É bom dizer que o paladar humano é capaz de sentir até um determinado valor de IBU. Além desse valor a percepção é indiferente e isso fica em torno de 120/150 IBU, no máximo. Mas se você amar, isso se torna é um “casamento” sem crises. Essencial para o sabor da cerveja, o amargor é extremamente complexo, sendo decisivo para definir e caracterizar muitos estilos. E vai muito além do lúpulo, embora este ingrediente seja fundamental para sua existência, até porque são necessárias generosas quantidades para se chegar a uma Imperial IPA de respeito. Se você se enquadra no perfil dos hopmaniacs (lúpulomaníacos) é verdadeiramente amor ao primeiro gole. Infelizmente o clima no Brasil não é propício ao cultivo no lúpulo, por possuir em sua maioria o clima tropical. A planta se desenvolve melhor em climas frios. Mesmo assim já há sinais, estudos e experiências para que o cultivo de lúpulo vingue em solo nacional, talvez esteja aí um dos caminhos para a explosão definitiva da cena cervejeira brasileira, além de desonerar microcervejarias e cervejeiros em geral, já que ele é um insumo caro e importado. Mas vamos as cervejas. Se é pra falar das Imperial IPAs vamos com uma nacional produzida pela cervejaria Imigração de Campo Bom(RS), a Roleta Russa. Contendo 7,6%Vol e com 120 IBU é uma cerveja com notas cítricas e herbais. Retrogosto muito bom. Tem coloração alaranjada com reflexos âmbar e espuma branca com ótima persistência. É turva e um pouco adocicada no final. Para comer com uma linguiça alemã e mostarda de mel ou com um bom salame imperial. Tem uma garrafa bastante curiosa com uma tampa fliptop em forma de um tambor de revólver, contendo uma bala em alusão ao seu nome. Outra cerveja nacional que também vale muito a pena é a Vixnu, da cervejaria Colorado. Como não podia deixar de ser, a Colorado ousa em alguns dos seus rótulos com insumos diferentes como é o caso da Cauim, uma Lager que contém macaxeira. Mas na Imperial IPA foi posto rapadura. Isso deu um equilíbrio delicioso entre o malte e toques de caramelo e as notas cítricas de maracujá. Ela vem carregada de aromas cítricos de maracujá e no caso desta cerveja, contém os lúpulos Galena, Cascade, Simcoe, Amarillo e Citra. Os mesmos que são usados no seu Dry-hopping caracterizando este estilo. Com seus imponentes 9,5%Vol, 75 IBU, tem um tom acobreado, muito aromática e espuma persistente. É sem dúvida uma cerveja “extrema”. Experimente com um queijo gorgonzola. A cervejaria escocesa BrewDog é espetacular, e como não podia deixar de ser, fez uma Imperial IPA verdadeiramente sensacional. Realmente “Hard”, a BrewDog Hardcore IPA é um show de cerveja. Topando tomá-la com seus 9,2%Vol e 150 IBU (amargor nas alturas), frutada, com toque de caramelo. Ela realmente é “potente”. Os lúpulos Centennial, Columbus, Simcoe, dão um toque especial e único. Uma bebida para ser apreciada juntamente com sabores fortes e apimentados, queijos com cristais de sais, comida mexicana ou uma boa moqueca. É cerveja mais amarga produzida no Reino Unido. Momentos amargos nem sempre são ruins, no mundo da cerveja ela é tudo de bom! Pode apostar! MUNDO CERVEJEIRO A Amstel, quinta maior marca de cerveja do mundo, fez seu lançamento oficial no mercado pernambucano, com um evento no último dia 15 de agosto. A gigante holandesa, de propriedade da Heineken, vem com uma proposta de brigar com as cervejas comerciais mais populares com uma qualidade muito melhor que as que hoje se encontram no mercado. Feita com ingredientes naturais e sem conservantes, o produto realmente tem uma qualidade superior e com uma embalagem das mais bonitas. Segundo o gerente comercial da marca Luciano Gomes, a estratégia da cervejaria é bastante agressiva. “O preço é um diferencial, são realmente muito atrativos e competitivos”, afirma. A Amstel será comercializada em latas de 350ml, 473ml e garrafa de 600ml. O chope da marca já circula também em bares e restaurantes da capital pernambucana. *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas (rivaldoneto@outlook.com)  

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Salve o dia do ator! (por Romildo Moreira)

Uma frase de Hermilo Borba Filho que encontramos em seu livro Diálogo do Encenador, diz: “O teatro é mais que uma arte de comunidade, é uma arte de comunhão”. Todas as vezes que o pano se abre começa o mistério. Nós nos damos ao público, “este monstro de mil cabeças”, que se integra conosco através da corrente dionisíaca”. – Entre esses mil monstros citados por Hermilo existe o mistério do ator, com seus monstros que também se manifestam de forma variada a cada representação. E esse mistério que conduz a arte da representação, ou o ofício do ator em cena, é o mais visível na arte de fazer teatro, visto que ele está física e energeticamente carregando toda uma criação comunitária diante de uma plateia e sendo veículo de uma comunhão; o espetáculo. Neste 19 de agosto, dia do ator, é bom lembrar de saudarmos, aplaudirmos e referenciarmos todos eles, homens e mulheres que dedicam as suas existências à arte da interpretação, contribuindo com a reflexão, a visão mais ampla do mundo e sobre a própria existência humana com seus conflitos e anseios, através dos seus corpos, de suas vozes e de suas verdades cênicas doadas generosamente (porque é vida) a uma plateia.   Ainda recorrendo a Hermilo Borba Filho na obra acima citada, encontro: “... uma coisa é a peça escrita, como obra literária, e outra o espetáculo resultante dessa obra. Já pensou por quantas transformações ela passa?...” – É disso que tratamos quando falamos no ator em cena, esse mostro sagrado e profano ao mesmo tempo, submisso às intemperes e fúrias de Dionísio e Baco, mas íntegro em sua condição de ator no palco.   – Aqui faço um chamado, como ator que também sou ao público em geral: vamos ao longo dessa semana aplaudir, ao vivo, esses artistas que contrariam, a cada entrada em cena, uma frase célebre de Bertolt Brecht que sabiamente sentencia em outro contexto: Infeliz a terra que precisa de herois. – Para estar em cena hoje, o ator precisa ser heroi. Lembremos então dos apelas de duas atrizes queridas para continuar trabalhando como atrizes, Joana Fomm e Augusta Ferraz. – Resta-nos então irmos ao teatro e aplaudir cada um deles, por isso sugiro as peças que estão em cartaz no Recife, coincidentemente duas delas são obras dos dramaturgos citados neste artigo. Vejamos então:   Puro Lixo, de Luiz Reis, com direção de Antônio Cadengue, no Teatro Hermilo Borba Filho, aos sábados e domingos. No elenco os atores: Eduardo Filho, gil Paz, Marinho Falcão, Paulo Castelo Branco, Samuel Lira e Stella Maris Saldanha. Zumba sem Dente, De Hermilo Borba Filho, com direção de Carlos Carvalho, no Teatro Hermilo Borba Filho, as terças-feiras, às 19h30. No elenco os atores: Mário Miranda, Daniel Barros, Flávio Renovato e Andrêzza Alves. O Mascate, a Pé Rapada e os Forasteiros, com texto e interpretação do ator Diógenes D. Lima, com supervisão artística de Marcondes Lima e Jaime Santos, no Teatro Hermilo Borba Filho, as quartas e quintas feiras, às 20h. Ossos, de Marcelino Freire, com direção de Marcondes Lima, no Teatro Barreto Jr, todas as sextas e sábados, às 20h e domingos às 19h. No elenco os atores: André Brasileiro, Arilson Lopes, Daniel Barros, Ivo Barreto, Marcondes Lima e Robério Lucado. A Receita – Texto e direção de Samuel Santos, com a atriz Naná Sodré, no Teatro Luiz Mendonça, todas as quintas, às 20h. Galileu Galilei, de Bertolt Brecht, com direção de Cibele Forjaz, no Teatro de Santa Isabel, nos dias 19, 20 e 21, às 20h. No elenco os atores: Denise Fraga, Ary França, Lúcia Romano, Théo Werneck, Maristela Chelala, Vanderlei Bernardino, Jackie Obrigon, Luíz Mármora, Silvio Restiffe e Daniel Warren. Então, viva os atores e vamos ao teatro e bom espetáculo!

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A crise de perto (por Joca Souza Leão)

Anos 50. O cronista Rubem Braga liga para o também cronista Otto Lara Resende e o convida para “ver a crise de perto”. Vão a um bar da Cinelândia, no centro do Rio. Tomam chope, comem salsichão com muita mostarda e dão a crise por vista. Por essa época, no Recife, meu pai tinha o que ele, bacharel em direito, chamava de “crise de coceira”, que não era outra coisa senão uma coceira danada nas mãos. “Histamina”, dizia ele sem medo de errar, apesar de a medicina nunca ter tido a chance de confirmar seu diagnóstico nem os anti-histamínicos, receitados por ele próprio, davam conta do recado. O jeito era coçar. E ele coçava com vigor com uma escova de cabelo que tinha sido de minha mãe, há muito tempo transformada em “escova-de-coçar”. Contei essa historinha, caro leitor, apenas para dizer que a palavra crise me é familiar desde que me entendo por gente. E que esta grande, enorme e profunda crise em que o Brasil se vê mergulhado foi, para mim, uma crise anunciada. Literalmente anunciada. Tanto quanto as crises do meu pai. Há três anos, duas palavras foram introduzidas nos manuais de redação de jornalismo dos veículos de comunicação de massa e, pela lei da gravidade, foram descendo e assentando nas redes sociais: “confiança” e “credibilidade”. Coisas do tipo: “resta saber se o governo tem credibilidade para implantar as medidas anunciadas” ou “no entanto, carece da necessária confiança dos agentes financeiros” ou “será que os professores confiam na proposta governamental?”. (Esses três fragmentos foram pinçados de dois noticiários de TV e um comentário de emissora de rádio.) A cobertura do Mensalão e, na sequência, da Lava Jato, veio para engrossar e dar consistência ao caldo que, agora, já tinha nome e sobrenome: “crise de confiança”. A grande imprensa nunca questionou o fato de o Mensalão Mineiro, do PSDB, o pai dos mensalões, por exemplo, ter sido anterior, muito anterior ao do PT e, enquanto um dava cadeia, julgamento e condenação, o outro não saía do lugar. No YouTube, um delator premiado disse (e repetiu) com todas as letras como funcionava o esquema de corrupção em Furnas, envolvendo os Neves (Aécio, mãe e irmã). “Não foi isso que lhe perguntei”, interrompeu a procuradora. “Eu perguntei sobre as relações do Sr. José Dirceu com a Petrobras.” Alguém viu isso no Jornal Nacional ou, mesmo, no noticiário da TV-U (com todo o respeito) às 7 da manhã? Claro que não. Caixa dois, financiamento de campanha, contribuição partidária, corrupção mesmo (com dinheiro vivo no bolso do pilantra) são velhos, velhíssimos conhecidos da política e do sistema eleitoral brasileiro. Quisessem a imprensa e a justiça acabar de uma vez por todas com os vícios eleitorais – e não apenas derrubar uma presidenta e aniquilar um partido –, teriam conseguido. A hora era essa. Com os esquemas das empreiteiras descobertos e escancarados, expostos à execração pública, não haveria quem tivesse peito para ficar contra as reformas políticas e eleitorais. Mas, como no verso de Camões, agora, Inês é morta. Enquanto os peritos do Senado concluem que a presidenta não pedalou coisíssima nenhuma (quer dizer, nada além das pedaladas em sua bicicleta, nas cercanias do Alvorada), os senhores senadores repetem o que dizem os meios de comunicação: a questão não é mais se houve ou não “crime de responsabilidade”, mas a “falta de confiança”. Se os índices econômicos não vão bem, “a credibilidade da população no governo e a confiança dos investidores privados continuam em alta”, dirá um Bonner qualquer, em rede nacional. O diabo é quem confia!

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Cervejas e Queijos, dupla imbatível! (Por Rivaldo Neto)

Cerveja e vinhos são bebidas fermentadas. Para vinhos sabemos que sua harmonização com queijos é um casamento dos mais perfeitos. E a cerveja? Igualmente como o vinho, as cervejas e suas muitas variações abrem uma grande possibilidade de tornar a combinação dos dois, uma espetacular explosão de sabores. Vamos ver que possibilidades são essas e como podemos obter os melhores resultados. Pode ter certeza que os paladares mais exigentes vão se surpreender. Alguns pequenos conceitos podem ser seguidos, tipo, cerveja leve com queijos suaves e cervejas mais encorpadas com queijos mais fortes. Mas é interessante arriscar-se também, sair da vala comum desses conceitos que estão certos, mas que engessam o paladar, impedindo de nos aventurarmos em outros sabores e sensações. Primeiramente algumas coisas têm de ser levadas em consideração. Aconselha-se tirar o queijo da geladeira um pouco antes. Queijos gelados mascaram o sabor e o ideal é servi-lo quase em temperatura ambiente. Não corte os queijos muito antes de servir, pois ele irá perder um pouco o aroma e o sabor. Primeiramente prove o queijo, depois a cervejas. Uma observação interessante é que a harmonização por contraste tem um resultado melhor com vinhos, cerveja não funciona assim, é mais por semelhanças como dito acima. Uma boa combinação para as cervejas Pilsens e Weiss são os queijos Brie ou Camembert, ambos possuem características semelhantes. São queijos com casca branca e aveludados, seu interior é cremoso o que faz a diferença entre ambos é seu tempo de maturação (4 semanas no caso do Brie e de 2 a 8 semanas para o Camembert), inclusive os dois são pulverizados por fungos do gênero penicillium candidum, este responsável pelo aroma e sabor leve que possuem. Pode ser combinado com a cerveja Pilsen da cervejaria Schornstein, com 4,5% leve, clara, bom malte, e refrescante ou uma Primator Weizenbier, da república Tcheca, com 5,0% vol, dourada, turva e refrescante. Os queijos semiduros, ou macios, tem uma média maturação, tem um sabor leve, suave a adocicado. Como por exemplo o queijo gouda,o emmental, e o gruyère. São tenros e mais indicados para serem apreciados com as Ales, Strong Ales bem aos estilos das bitters inglesas ou as Belgian Golden Strong Ales. Uma excelente pedida é a inglesa ESB da Fullers, com 5,9%vol, dessa tradicional cervejaria. Ou a belga Duvel, com seus imponentes 8,5%vol, esta é uma das mais clássicas , embora muito limitada à Bélgica. Sua cor clara sugere uma Lager leve, mas não é. São bebidas fortes, muito frutadas, com bastante lúpulo (amargas) e de alto teor alcoólico. Já os queijos duros, com longa maturação e que contém cristais de sais como o parmesão, grana padano, pecorino, ou até indo mais longe com um bom primma donna faixa azul, o ideal é juntar essa intensidade de uma Weizenbock com personalidade como uma Schneider Weisse TAP 6, com 8,2% vol, um pouco picante e com toque de caramelo ou a Dunkel da Erdinger igualmente picante, bem malteada e com seus 5,2%vol. Queijos e cervejas dão uma porção de possibilidades e fazem realmente a satisfação de que comer e beber bem dão um enorme prazer e alegram a vida. Sintam-se a vontade para criar, cada paladar tem suas particularidades, não perca tempo e descubra o seu. Aposto que vale a pena! MUNDO CERVEJEIRO A cervejaria DeBron Bier, que inicialmente seus estilos só eram encontrados como chope, agora será envasada, o lançamento das garrafas da marca será no próximo dia 23 de agosto no Chalé 92, e promete ter um design diferenciado e com preservação das qualidades do líquido conforme o estilo, vamos aguardar! *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas rivaldoneto@outlook.com

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O Engenho Poço Comprido

O engenho de açúcar foi, desde os primórdios da colonização, uma espécie de célula formadora da civilização que se implantou com a cultura do açúcar em terras brasileiras. Confirma Antonil, in Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas (1711), a existência de dois tipos de engenho: o engenho real, para agricultores de grandes cabedais (posses) e as engenhocas, um tipo de fábrica de menor proporção, necessitando o primeiro de cerca de 150 a 200 escravos. O engenho real, tão bem representado em quadros e desenhos assinados por Frans Post (1612-1680), era movido a água e sua produção chegava a 4000 pães (formas) de açúcar, incluindo as canas moídas de sua propriedade e as dos lavradores sem engenho. Num só engenho real estariam reunidos os mais diferentes profissionais, todos indispensáveis para o sucesso do empreendimento. Daí se fazer necessário: escravos de enxada e foice, no campo e na moenda; os mulatos, mulatas, negros e negras do serviço da casa ou em outras partes, barqueiros, canoeiros, calafates, carpinas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores; um mestre de açúcar, um banqueiro (seu substituto), um contra banqueiro, um purgador, um caixeiro (no engenho e outro na cidade), feitores, um feitor-mor e o capelão. Para Antonil, “ser senhor de engenho é título a que muitos aspiram, porque traz consigo ser servido, obedecido e respeitado por muitos. E se for, qual deve ser, homem de cabedal e governo, bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho quanto proporcionadamente se estimam os títulos entre os fidalgos do reino. Porque engenhos há na Bahia que dão ao senhor quatro mil pães de açúcar e outros pouco menos com açúcar obrigado à moenda, e cujo rendimento logram o engenho ao menos a metade, como de qualquer outra que nele livremente se mói, e em algumas partes ainda mais que a metade”. Poucos engenhos de açúcar de Pernambuco conservam os traços dos tempos áureos da indústria do açúcar como o Engenho Poço Comprido, de propriedade da Usina Laranjeiras, aberto à visitação no município de Vicência, situado no Vale do Siriji, próximo à Nazaré da Mata. Esse exemplar dos primitivos engenhos pernambucanos aparece dominando a várzea. Sua casa-grande com o telhado disposto em quatro águas, é estruturada em madeira sobre colunas de alvenaria, em forma de edificação longa, cujo acesso à varanda é feito por duas escadas. Trata-se de uma construção mista, reunindo no mesmo edifício a casa-grande e sua capela. Segundo Silva Telles, “o avarandado que corre a frontaria, com estrutura de madeira, e a aparente irregularidade com que se distribuem os vãos podem sugerir certa ingenuidade na composição; entretanto, a construção é bem proporcionada e de extrema elegância”. ¹ O professor Geraldo Gomes, em seu Engenho & arquitetura, classifica as casas-grandes em nove tipos, de acordo com as linhas mestras de concepção e composição arquitetônicas. A casa-grande do Engenho Poço Comprido integra-se ao grupo I, subdivisão C, sendo conhecidas como nortenhas, por sua semelhança com as casas rurais do norte de Portugal: dois pavimentos, o superior sustentado por esteios de madeira ou por colunas de alvenaria de tijolos; paredes em pau-a-pique, alvenaria ou adobe; planta retangular; coberta de telha de barro, em quatro águas, sobre estrutura de madeira, prolongamentos eventuais de uma ou mais águas para cobrir cômodos salientes; o piso do pavimento superior em pranchas de madeira apoiadas sobre vigas, também, de madeira. A subdivisão C tem como marca a escada externa, dando acesso à pequena varanda da fachada principal e coberta por prolongamento de uma das águas do telhado da casa. Bastante notada por viajantes estrangeiros no século 19, o que pode sugerir sua frequência naquele século e no anterior. O pavimento térreo do Engenho Poço Comprido é atualmente fechado, mas é possível que tenha sido originalmente aberto e as paredes que ligam os pilares que sustentam o pavimento superior sejam de construção recente. Uma das características do tipo é a versatilidade de uso do espaço rés-do-chão.² As capelas são divididas por Geraldo Gomes em três tipos de partidos arquitetônicos. No primeiro grupo aparecem dispostas, obedecendo à disposição da nave, capela-mor e sacristia dispostas em três volumes distintos, conforme aparecem nas telas de Frans Post. No segundo grupo, ao qual se filia a capela do Engenho Poço Comprido, a nave central é ladeada por galerias laterais, onde se localizam as escadas de acesso ao coro e ao púlpito. No caso em questão, a capela aparece no mesmo paramento da casa-grande, estando ligada a esta por galerias de dois pavimentos. O pavimento superior da lateral da capela é ligado ao pavimento do mesmo nível da casa-grande contígua. Dessa forma, garantia-se o privilégio do isolamento para os familiares dos senhores de engenho que tinham acesso a cômodos no pavimento superior, nos quais assistiam os ofícios religiosos através de tribunas na nave e na capela-mor. Localizada à direita da casa, a capela “apresenta fachada vazada por uma porta de verga reta e sobreverga de pedra com óculo lobulado ao centro. O cornijamento ondulante é encimado por frontão em volutas, cruz e pináculos. Cobertura em duas águas. Há puxadas laterais com telhado escondido e, à direita, uma porta de verga reta. À esquerda, na altura das janelas do coro, vê-se uma pequena janela retangular”. ³ Trata-se, pois, de um dos raros resquícios das casas-grandes do século 18, complementada pela capela contígua e pelo edifício da fábrica com a sua chaminé. O conjunto encontra-se inscrito como Monumento Nacional, no livro das Belas Artes, v. 1, sob o n.º 468, em 21 de maio de 1962 (Processo n.º 358-T/46). 1 - TELLES, Augusto Carlos da Silva. Atlas dos monumentos históricos e artísticos do Brasil. Rio de Janeiro: MEC/Fename, 1975. p. 43. 2 - GOMES, Geraldo. Engenho & arquitetura. Recife: Fundação Gilberto Freyre, 1997 p. 47-51. 3 - CARRAZZONI, Maria Elisa (Coord.) Guia dos bens tombados. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1980.

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Algomais para além da crise

Participo do projeto da Revista Algomais desde a sua pré-história. Desde quando não era mais do que uma mera ideia daquelas que correm o sério risco de não passar de um simples sonho de uma noite de verão, até hoje, mais de 10 anos depois, quando da decisão de Sérgio Moury Fernandes e Luciano Moura que resolveram concluir suas participações no projeto para cuidar integralmente da Engenho de Mídia, a empresa deles. Já disse aqui nesta Última Página, na condição de colunista mais antigo, que tenho um enorme orgulho de ter contribuído muito de perto desta construção que envolveu muita dedicação, trabalho e seriedade de todos os envolvidos sobretudo de Sérgio e Luciano que tocaram executivamente a publicação ao longo da década passada. Com a saída deles, nós da TGI assumimos a responsabilidade de dar continuidade ao trabalho realizado e de seguir mantendo a publicação com o mesmo nível de qualidade alcançado. Não será tarefa fácil, sabemos disso, mas estamos decididos a fazê-lo. E como dizia o empresário paraibano, radicado em Campina Grande, Dão Silveira: “quem tem a vontade já tem a metade”. Fazemos isso num momento especial: uma crise econômica devastadora, que assolou o País e atingiu duramente Pernambuco. A Algomais começou reportando o novo momento de desenvolvimento do Estado que levaria a economia local a crescer mais do que a do Brasil por muitos anos seguidos. Agora, a rebordosa é grande, mas começou o período de reversão. A crise cumpre o seu ciclo: depois de uma queda recorde da atividade econômica que em dois anos provocará uma recessão de algo em torno de -9,0% do PIB, pelo menos tudo faz crer que o pior está passando. Paramos então de piorar, essa é a notícia boa. Temos, todavia, ainda um exigente tempo de recuperação pela frente. Mal comparando é como se o trem da economia (o PIB do País) tivesse parado, começado a andar para trás e parado de novo. Agora, temos todo esse percurso de marcha ré a recuperar para chegar de novo no ponto de onde paramos de avançar e, daí, continuar em frente no terreno positivo. Em Pernambuco isso também vai acontecer. Será, portanto, neste cenário de recuperação, que se dará a nova fase da Algomais – a Revista de Pernambuco. No cenário para além da crise. Continuamos contamos para isso com o apoio e o prestígio que sempre tivemos dos leitores e anunciantes. Vamos lá!

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Conexão Recife-Hoorn

Horácio, amigo querido, foi passar as férias com as crianças na Holanda. Hospedou-se na casa da cunhada brasileira, casada com um holandês de nome russo, Kiril. Filho de mãe francesa – que criou-se na Venezuela –, de pai holandês e neto de russos. Enfim, Kiril é fruto da globalização. Uma mistureba danada. Apaixonado pelo Brasil, treina capoeira, gosta de samba-rock, bossa-nova e fala português fluente com sotaque nordestino. A estadia de Horácio nos Países Baixos serviu para obter informações e matar a curiosidade acerca da imagem que o Brasil possui por lá. Horácio é curioso e gosta de saber o que pensam sobre nós. Conversou com holandeses, amigos do Kiril, e com brasileiros que lá tentam a vida. Sua “pesquisa” in loco se concentrou em cidade do “interior”, Hoorn. Com grande importância histórica, não é cosmopolita como Amsterdam e Roterdam. Mas estar lá nas entranhas interioranas de um país pitoresco permitiu a Horácio compreender, por alguns dias, como o típico holandês vive e pensa. Mas o meu amigo descobriu, para a sua decepção, que os loiros estão pouco se lixando para a terra brasilis. A maior decepção foi saber que eles desconhecem o período holandês em Pernambuco. “Meu Deus!”, abismou-se Horácio. Como podem não saber que estiveram a construir pontes sobre os rios que formam o oceano atlântico? Como podem ignorar a terra que possui a maior avenida em linha reta do mundo? Abatido esteve quando soube que sequer somos mencionados nos livros laranjas de história. Quem é do Recife sabe como a indiferença fere. Kiril tentou consolá-lo oferecendo uma cerveja belga. Horácio aceitou e resolveu ouvir mais dos amigos que conhecera há pouco. Alguns disseram-lhe que as brasileiras andavam nas ruas de biquíni. Outros tinham a certeza que falávamos espanhol. Demonstraram paixão pela nossa natureza e disseram estar curiosos em saber como se constrói cidades em meio às selvas. Afirmaram que merengue e salsa eram nossas danças típicas. Unanimemente elogiaram a beleza da nossa capital federal, o Rio de Janeiro. Ouviram na televisão que nosso país é corrupto e que ladrão julga ladrão, afastando uns aos outros do poder. Também ficaram abismados com um palhaço ter sido eleito ao parlamento, sendo o mais votado. Lamentaram a morte de um jovem líder em queda de avião, no último ano, notícia também veiculada na imprensa local. Foram veementes em dizer terem receio em fazer negócios com brasileiros, ante notícias de corrupção. Foram categóricos em afirmar que o nosso futebol não é mais o mesmo, e que o maior jogador estrangeiro que já vestiu uma camisa de time holandês foi Romário, no PSV. Horácio passou o resto das férias com raiva daquele lugar. Pelas mentiras e verdades que ouvira. Ora, mas quem mandou abrir boca e ouvidos? Saber que o mundo não gira em torno do seu umbigo foi mesmo uma paulada. Isso não está nos planos de um recifense. “Como esses branquelos ousam não saber tudo de nós?”, perguntava-se Horácio. Satisfeito mesmo só quando viu, nas prateleiras do supermercado, mangas do Vale do São Francisco e melões de Mossoró. Quem salvou a viagem foi Kiril que, apesar de pensar que as frutas eram da Indonésia e de dizer que a impontualidade de Horácio era tipicamente brasileira, não parava de falar do Recife e do Brasil um só segundo, fazendo perguntas como: “É verdade que Vinícius e Toquinho tinham um caso?”. “Sim”, respondeu Horácio já puto, “um caso de amor com o Brasil”. E Kiril, com a alma mais brasileira do que muitos brasileiros, mais nordestina do que muitos nordestinos e mais pernambucana do que muitos pernambucanos, tentou acalmar o pobre Horácio, adaptando com rara presença de espírito, frase de Vinícius: “amigo, morar no Brasil é ruim, mas é bom demais...especialmente se for no Recife”.

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Cervejas frutadas, as mulheres adoram! (Por Rivaldo Neto)

Com o mercado de cervejas em plena ebulição, novos tipos de consumidores começam a surgir . Até um tempo atrás ficávamos restritos a poucas opções em relação às variações de cervejas que encontrávamos, isso causava um engessamento no consumo da bebida. Não é novidade que a grande maioria dos amantes de cervejas é o público masculino, não que não tivesse no feminino uma boa parcela de apreciadoras cativas, mas  agora com o leque bem mais ampliado e com a invasão de estilos, as mulheres passaram a consumir mais e a se interessar e apreciar novos rótulos. Dessa forma, com maior ou menor teor  alcóolico, leves ou encorpadas, e com aromas frutados e outros insumos mais comuns, pode-se arriscar a dizer que umas cervejas mais específicas podem sim agradar mais ao paladar das mulheres. Cervejas com mais um pouco de dulçor e frutadas  são muito consumidas. Não que as mulheres não gostem de cervejas amargas, mas é notória a preferência por novas experiências que hoje se permite ter. Esse público consumidor feminino é o plus que faltava para que o mercado cervejeiro investisse cada vez para atingi-lo. Alguns dados refletem isso: 47% consomem bebidas alcóolicas, desses 88% bebem cerveja. E nesse contexto a mulher é responsável por 63% na escolha da marca a ser comprada quando se tem como local de venda um supermercado. Dessas cervejas frutadas, com aromas muitos interessantes  e um pouco mais doces eu sugiro três que valem a pena uma experiência diferente e gratificante. A cerveja belga Liefmans Fruitesse tem 4,2%Vol, essa bebida fica por aproximadamente 18 meses com cerejas amadurecendo nas adegas da Liefmans, é meio rosada, avermelhada mesmo, tem notas de frutas vermelhas, com o morango em destaque, é adocicada e um pouco ácida, mas bem equilibrada. Ela tem uma indicação de pôr um pouco de gelo para bebê-la, confesso que não senti necessidade, mas que pode ser interessante para alguns paladares.Tem uma espuma densa e aromática. Para harmonização com o bom e velho chocolate amargo torna-se uma combinação imbatível. A  inglesa Badger Poachers Choice, produzida  pela cervejaria Hall & Woodhouse, é uma cerveja que realmente vale a pena. Ela tem aroma natural de ameixa bem definido. Uma Ale com uma coloração rubi intensa e com 5,7%Vol. Tem um leve dulçor, nada muito latente, retrogosto muito bom. Podemos dizer que é uma cerveja robusta e que combina bem com carnes e queijos que tenham cristais de sais, ao estilo Prima Donna Faixa azul, ou um bom Asiago. O melhor ainda é que ela em nenhum momento se torna enjoativa, qualidade indispensável quando se trata de cervejas frutadas. A Amazon Beer tem uma proposta interessante e exótica. Não se tem uma regra de quais frutas deve-se usar na cerveja para dar um toque no estilo fruit beer. Que tal uma com aroma de taperebá? Não sabe o que é? Bem, o taperebá é nosso popular cajá. Isso mesmo! É simplesmente deliciosa. Trata-se de uma witbier (cerveja de trigo branca), com 4,2%Vol, leve acidez, com um toque cítrico muito agradável, com uma coloração amarelo claro e um pouco seco no final. Harmoniza perfeitamente com peixes ou um bom camarão. É muito refrescante e com toda certeza vai agradar em cheio aos paladares mais exigentes. Não é pra menos que uma das primeiras divindades inventadas pelo imaginário humano chamava-se Ninkasi, a deusa cervejeira da cultura Suméria, as mulheres que partiram para dominar o mundo, agora focaram no mercado de cervejas. Isso é ótimo! *Rivaldo Neto é designer e cervejeiro gourmet nas horas vagas rivaldoneto@outlook.com

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