Ao assumir a Usina do Seguro, o atual CEO da empresa, Ricardo Rodrigues, acreditava não ter aptidão para vendas, que é a principal atividade do setor. Ele investiu em conhecimento, consultorias e psicoterapia. Hoje a corretora apresenta um crescimento consistente, baseado numa gestão arrojada, que incorpora estratégias pouco usuais no mercado, como investir em franchising e iniciar um processo de fusão. Desde 2008, quando Ricardo Rodrigues passou a ser o CEO da corretora Usina do Seguro, a empresa familiar não para de crescer. Dois anos após assumir os negócios, o crescimento passou a ser de dois dígitos. Até 2018, esse percentual ficou entre 10 e 15% ao ano e, em 2020, 30%. No ano passado o faturamento alcançou os R$ 18 milhões, 8% a mais do que em 2023, performance que prevê repetir em 2025. O número de clientes saltou de uma média de 500 para 3 mil e o de funcionários de 6 para 46. Antes a sede da empresa era alugada e hoje conta com duas unidades próprias. Para ampliar ainda mais o desempenho dos negócios, Ricardo Rodrigues resolveu inovar: entrou no mercado de franquias de seguro e iniciou uma fusão com outra corretora do mercado pernambucano. O mais surpreendente é ele afirmar que não tinha aptidão para vendas, uma atividade essencial no setor de seguros. “Comecei a estudar, a ler muitos livros sobre comportamento, empreendedorismo, gestão, pessoas. Contratei consultorias de RH. Entrei em psicoterapia. Por isso, viramos referência no mercado”, revela o empreendedor que, nesta entrevista a Cláudia Santos, aborda em detalhes a história dessa virada no comando da corretora. Conte um pouco sobre trajetória da Usina do Seguro. Como surgiu a empresa? É uma longa história. Nós temos 45 anos de história e resumidamente ela nasce lá em 1979 com minha mãe, Adeilda Júlia, vendendo plano de saúde. Nessa época eu tinha 2 anos. Entre os anos de 1983 e 1984, ela formaliza a empresa. Na época, chamava-se Nordeste Comercial e representava o plano de saúde Golden Cross. Então, ela e meu padrasto, Cícero, a quem chamo de pai, abrem a corretora e começam uma jornada para empreender de forma organizada, com CNPJ, contratando colaboradores, angariando vendedores. Estudei administração de empresas, fiz cursos de pós-graduação e, em 2008, assumi a corretora. Em 2002, abri a corretora Usina do Seguro porque meu interesse era trabalhar com seguros de vida, de carro e residencial. Hoje, vendemos todos os tipos de seguro, mas os em que somos especialistas e estão entre os que mais vendemos são: plano de saúde, odontológico, seguro de automóvel, seguro residencial, seguro de vida e seguro de consórcio. Em 2014, abri uma filial em Petrolina. Nossa empresa é familiar mas nenhum irmão quis tocar o negócio, então o processo de sucessão foi tranquilo, uma sucessão bem planejada. Hoje, o jurídico está a cargo do meu irmão. Nesse processo de sucessão, ele veio para dentro da empresa. Em relação à gestão, tenho uma tia que é supervisora de vendas, mas também já tivemos que desligar alguns familiares. Não é porque é uma empresa familiar que deixa de ser um negócio. Na gestão da filial do Recife, meus pais não participam. Aqui e acolá, peço um conselho para eles, porque não vou desperdiçar essa sabedoria. Hoje eles comandam a filial de Petrolina desde 2018. Em relação à gestão, quais competências o senhor teve que desenvolver para estar à frente da empresa? A minha maior dificuldade é que minhas habilidades comportamentais eram muito voltadas para a parte financeira. Amo uma planilha, dados, e, de repente, fiquei à frente de uma corretora de seguros que tem que vender, uma empresa majoritariamente de venda. Precisei desenvolver outras habilidades comportamentais. Em 2015 me foi sugerido procurar uma coach para desenvolvimento pessoal. Confesso que eu era resistente, mas fui. Fiz os testes e saiu o resultado de 72% inapto ao cargo de diretor de uma empresa de vendas. Fui um tanto quanto arrogante com a moça, confesso. Eu disse: “a empresa só vem crescendo, imagina se eu fosse apto”. Ela respondeu: “imagine, se você fosse apto, você poderia crescer e desperdiçaria menos energia, você poderia estar num patamar melhor”. Ela falou uns cinco minutos eu fiquei olhando e disse, “está contratada”. Aí comecei um processo em novembro de 2015 que dura até hoje. Comecei a estudar diferente, a ler muitos livros, não mais sobre matemática, sobre física, mas sobre comportamento, empreendedorismo, gestão, sobre pessoas. Contratei consultorias de RH para a empresa, para desenvolver todas as pessoas, todas as lideranças. Com isso, comecei a dar uma virada em como me comportar como gestor. Entrei em psicoterapia e isso explodiu minha cabeça não só enquanto gestor, mas enquanto pessoa, cidadão, porque comecei a cuidar das pessoas de maneira natural. Por isso, viramos referência no mercado e não planejei isso. Hoje vários colegas e concorrentes me procuram para entender como transformei essa energia, esse clima da empresa e dou orientação sobre como eles também podem melhorar seus processos, suas relações humanas nas suas empresas. Acredito muito em pessoas, na educação, em Deus, acredito na fé. Isso se reverte nos negócios? A empresa vem crescendo ao investir em gestão e cuidado com as pessoas? Sim. O segredo do negócio é cuidar das pessoas, continuar estudando, buscando conhecimento e buscar Deus com todos os seus preceitos, valores e premissas. Quando assumi a empresa, em 2008, não estávamos num bom momento. O mercado estava bom, mas a corretora, não. Naquela época meu pai tinha uma operadora de saúde que estava faturando e a corretora passou a não ser mais o negócio principal da família, foi quando eu entrei. Ali, não vínhamos crescendo e, sim, diminuindo. Dois anos após eu assumir, voltamos a crescer dois dígitos por ano. Até 2018, mantivemos um crescimento entre 10 e 15% ao ano. Em 2020, crescemos 30% ao ano. Em relação às pessoas, saímos de 6 funcionários, em 2008, e hoje estamos com 46. Tínhamos uma média de 400 novos clientes por mês, hoje essa média é de 3 mil novos clientes