Arquivos Entrevistas - Página 13 De 31 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Entrevistas

jp cesar

"Os assistentes virtuais serão a próxima grande onda de aplicativos"

Como toda nova tecnologia que surge, o aplicativo ChatGPT tem suscitado muita discussão tanto sobre seus benefícios, quanto seus efeitos negativos. Há temor de que ela seja empregada para facilitar a divulgação de fake news, favorecer o plágio nas teses acadêmicas e até ser usada por hackers. Ao mesmo tempo, o ChatGPT abre uma série de possibilidades de usos para auxiliar o dia a dia de pessoas e empresas. “Assim como toda ferramenta com grandes potencialidades, essa tecnologia pode ser utilizada para o bem ou para o mal”, adverte João Paulo Magalhães, professor da CESAR School. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Magalhães afirma que o primeiro impacto do uso do aplicativo ocorrerá nas áreas de atendimento ao cliente e suporte técnico, proporcionando menos tempo de espera e menores custos. Ele acredita que assistentes virtuais, como Alexa, passarão a utilizar os modelos de linguagem semelhantes ao do ChatGPT para potencializar as suas funcionalidades e, em breve, ele prevê o surgimento de uma segunda onda desses aplicativos. “Todos nós aprenderemos e faremos o nos- so trabalho acompanhado de um assistente profissional digital”, projeta o professor. O que é o ChatGPT? Estritamente falando, ChatGPT é um aplicativo de mensageria, ou chat, no qual os usuários conversam não com uma pessoa, mas com uma inteligência artificial baseada em um grande mo- delo de linguagem natural, o GPT-3, que tem como objetivo che- gar o mais próximo possível de uma conversa com um humano. O seu grande diferencial é que esse modelo aprende a partir de uma quantidade gigantesca de dados, em sua maior parte oriun- da da internet, como notícias, livros, sites, artigos de revistas, etc. Isso faz com que o ChatGPT entenda perguntas complexas e gere respostas em uma linguagem muito natural para nós, humanos. Além disso, o ChatGPT é capaz de armazenar o contexto de uma conversa, então, se você estiver perguntando sobre um determi- nado assunto, o aplicativo manterá este assunto e tudo que foi perguntado em sua memória, assim como nós fazemos, o que torna a conversa muito mais fluida. De forma mais ampla, ChatGPT é a ponta de um iceberg de possíveis aplicações extraordinárias a partir dos grandes modelos de linguagem natural. Isso é possível porque a linguagem é, por si só, talvez a ferramenta mais poderosa já desenvolvida pois, por meio dela, podemos descrever e transmitir todos os outros co- nhecimentos, bem como imagens, vídeos e praticamente tudo o que existe. Se conseguirmos criar uma ferramenta que se aproxi- ma de nossa linguagem, muito provavelmente, os impactos em todas as áreas em que atuamos pode ser potencializado. Isto já está ocorrendo na criação de imagens e vídeos, bem como na programação de computadores, por exemplo. Você poderia dar exemplos de aplicações que essa nova tecnologia pode proporcionar? A primeira leva de aplicações vai ser um salto de melhorias nos assistentes digitais como o Alexa, a Siri e o Assistente do Google, além dos chatbots em geral, que encontramos em sites diversos. Uma segunda onda será marcada pelo que estou chamando de assistentes digitais profissionais e educacionais, um assistente digital que vai ajudar os profissionais e estudantes em suas tarefas do dia a dia, potencialmente em qualquer área, como por exem- plo, para fazer pesquisas em grandes bases de dados de conhecimento e conteúdo. Neste sentido, saem na frente as profissões que fazem uso maior da escrita, como o jornalismo, a escrita de livros ou criação de resumos e conteúdos diversos, bem como a programação de computadores, que poderá ser feita por meio de uma linguagem mais próxima do natural. A tradução entre idiomas também vai dar um salto de qualidade e rapidez, eventualmente chegando a ferramentas de tradução simultânea. O ChatGPT foi baseado em redes neurais e machine learning, o que isso significa para o público leigo em tecnologia? No geral, a parte mais técnica das tecnologias não deveria significar muito para o público leigo em geral. Assim como não precisamos nos preocupar em como a energia elétrica é produzida e transmitida para nossas casas, mas sim que a luz ligue quando tocamos no interruptor. O mais importante é entender os seus potenciais usos em nossas áreas de atuação, bem como os ris- cos decorrentes de toda ferramenta poderosa. Entre esses riscos, precisamos entender que toda ferramenta que tem como base machine learning é treinada a partir de dados e vai reproduzir e potencializar os conceitos e preconceitos ali presentes. Além disso, por não se tratar de uma ferramenta algorítmica, o seu comportamento pode se tornar catastrófico em situações limítrofes. Poderia nos exemplificar situações em que o Chat GPT usará machine learning? O ChatGPT é uma ferramenta baseada no modelo de Machi- ne Learning GPT-3, pois se caracteriza por aprender (fazer relações entre perguntas e respostas) a partir de grandes bases de dados, sem a necessidade de ser explicitamente programada para cada pergunta. Desta forma, o ChatGPT faz uso de machine learning desde o seu aprendizado (processo em que armazena essas relações), passando pela forma com que gera um texto fluido e também quando corrigimos alguma informação, que passa a fazer parte de sua base de conhecimentos, pelo menos para a conversa atual. Leia a entrevista completa na edição 205 da Algomais: assine.algomais.com

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Estevao Martins Palitot indigena

"Tudo aquilo que faz a alma pernambucana passa pela contribuição dos indígenas"

Muitos pernambucanos, que assistem estarrecidos as imagens da tragédia dos ianomâmis na Amazônia, desconhecem que Pernambuco possui uma das maiores populações indígenas do País. Elas têm sido essenciais para a formação do Estado e sempre estiveram presentes nos principais momentos históricos, como na invasão holandesa ou na Revolução de 1817. Com o intuito de contribuir para dissipar esse desconhecimento, os antropólogos Estêvão Martins Palitot e Lara Erendira de Andrade idealizaram o projeto Atlas do Pernambuco Indígena https://www.atlasindigena.org/, portal que reúne cartografias e textos com informações sobre as etnias indígenas pernambucanas e que teve o incentivo do Funcultura, Fundarpe, Secult, Governo de Pernambuco. Nesta conversa com Cláudia Santos, Estêvão Palitot, que é professor do Departamento de Ciências Sociais do Centro de Ciências Aplicadas e Educação da Universidade Federal da Paraíba, fala do projeto, da situação dos povos indígenas locais, da luta pela demarcação das terras no Estado e do processo de invisibilidade que foram vítimas. “Sabemos muito bem falar das contribuições dos portugueses, dos holandeses, dos franceses, dos judeus, mas quando chegamos nas contribuições dos povos negros e indígenas, isso é silenciado, demonizado, criminalizado”, analisa o antropólogo, que se diz esperançoso com a criação do Ministério dos Povos Indígenas. O que é o projeto Atlas do Pernambuco Indígena e quais seus objetivos? O projeto foi pensado por mim e por Lara Erendira de Andrade. Somos antropólogos, trabalhamos com povos indígenas e temos duas paixões: a história e a cartografia. Os trabalhos dos historiadores são fantásticos, o dos antropólogos também, mas terminam sendo lidos por nós, por quem está na academia. A ideia do projeto é tornar esse conhecimento mais acessível ao grande público. O Atlas é um site no formato de blog com dois tipos de postagem: artigos, que têm um caráter mais acadêmico, com uma densidade maior, e as cartografias, com textos menores em que procuramos explicar os mapas, que são muito interativos. Cada pontinho do mapa pode ser clicado e aparece uma informação, com referências a outros trabalhos para aprofundar os conhecimentos. Agora, pensamos nos próximos passos, inclusive convidando colegas que têm produções relevantes para trazer para o Atlas. Pretendemos fazer um trabalho que seja vivo, sendo alimentado e podendo ser utilizados por professores, estudantes, por outros pesquisadores, pelos próprios povos indígenas nas escolas das aldeias como ferramenta de conhecimento, de luta, de valorização, de afirmação, de direitos. Por que vocês escolheram o modelo de cartografia? Os mapas também são um discurso e ferramentas de poder. Quem sempre desenhou os mapas foram os poderosos e a finalidade era dizer: “o meu poder vai até aqui”, seja o poder do Estado, da empresa, do rei, de quem quer que seja. Nessa representação da realidade apenas alguns aspectos são enfatizados. Por exemplo, os mapas históricos sobre Pernambuco, sobre o Nordeste, sobre o Brasil, não revelavam a presença dos povos indígenas. Mesmo hoje, quando você pega os mapas rodoviários, eles vão mostrar na Amazônia as terras indígenas, mas no mapa de Pernambuco, não mostram. Fazer um mapa é fazer uma escolha entre o que vai ser visível e o que vai ser invisibilizado. A nossa contribuição é produzir ou reproduzir mapas nos quais os indígenas estejam presentes, queremos ser uma espécie de amplificador das vozes indígenas. Nunca vamos querer tomar o lugar das vozes indígenas. Eles lutam continuamente para não serem apagados, riscados do mapa, literalmente. Por falar em invisibilidade, Pernambuco conta com a quarta população indígena do País, um dado que pouca gente conhece. Como está a situação dessas etnias? Pernambuco tem uma das maiores populações indígenas do Brasil, mas que é invisibilizada, que vive principalmente no Agreste e no Sertão do Estado. Os xucurus têm em torno de 10 mil pessoas, os atikuns em torno de 8 mil, os fulniôs, trukás, pankararus, em torno de 5 mil. Se contabilizarmos os que migraram, esse número é muito maior. Temos uma estimativa que existam uns 2 mil pankararus em São Paulo, os atikuns têm aldeias na Amazônia, porque vivem numa região muito seca e muitos grupos familiares migraram para o Rio São Francisco, para os serrados da Bahia, para o Tocantins e para o Pará. Há também os processos de luta por recuperação territorial. O caso dos xucurus, dos trukás e dos pankararus são os mais conflituosos, com uma série de assassinatos. No caso dos pankararus, há uma série de ameaças de morte e atentados. Recentemente um posto de saúde indígena foi destruído em razão de conflitos fundiários que ainda não estão resolvidos, muitas vezes por omissão ou lentidão do Estado. Nos últimos 70 anos, houve um processo de lenta recuperação dos territórios indígenas porque eles nunca se calaram, nunca deixaram de reivindicar. Quando, desde o Século 19, se diz que “os índios estão misturados, miscigenados” a frase seguinte era: “logo, não precisam de terras, podem virar trabalhadores nas fazendas, nos engenhos ou nas periferias urbanas. Eles podem ser pobres, eles já são brasileiros”. E os indígenas dizem: “Alto lá! A gente é até brasileiro, mas somos os primeiros brasileiros, temos direito a um pedaço de terra”. Há uma luta histórica e o Atlas procura ser um registro dela para que reverbere as frases que os indígenas dizem: “nunca mais um Brasil sem nós. Sempre estivemos aqui”. Procuramos levar esses subsídios que registramos nas pesquisas históricas e antropológicas para um conhecimento público. O que tem sido feito com os ianomâmis, já foi feito em Pernambuco e em todo o Brasil: guerras, escravizações. Há um relato de um massacre na região de Juazeiro e Petrolina, o Massacre do Rio Salitre, em que um padre acompanhou uma expedição de guerra contra um grupo de indígenas. Mais de 500 foram capturados, desarmados e dois dias depois todos os homens foram degolados e as mulheres e crianças levadas como escravas. Em Pernambuco essa violência, nas últimas décadas, foi marcada por assassinatos, como o de Xicão Xucuru e de várias lideranças trukás. O preço para reconquistar parte do território indígena foi o sangue das lideranças, a criminalização, a difamação. A sociedade pernambucana precisa ter consciência disso

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marco alves iperid

Marco Alves: "Pernambuco peca em política externa"

Especialista em direito internacional e fellow do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia) analisa o impacto de uma recessão global e da guerra na Ucrânia e as perspectivas do Brasil no cenário internacional. Num mundo a caminho de uma recessão global, que vive o acirramento da disputa entre China e Estados Unidos pela hegemonia econômica mundial e o impacto da guerra na Ucrânia, o fortalecimento dos Brics e do Mercosul é um fator positivo para o Brasil, segundo Marco Alves. Mestre em Ciências Políticas, em Direito Internacional e Europeu e em Relações e Negócios Internacionais, Alves afirma que esses agrupamentos evitam a dependência econômica com outros países e cria novas oportunidades, como a possibilidade de os Brics formarem uma área de livre comércio. “Já pensou uma zona comercial de 3,2 bilhões de habitantes? Seria simplesmente a maior zona de livre comércio do mundo, com duas superpotências, líderes mundiais em matérias-primas e hidrocarbonetos e um dos celeiros do mundo”. Com a experiência de ter atuado em 27 países (incluindo o Brasil, onde trabalhou para o Governo de Pernambuco), Marco Alves é fellow do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia), mora na França e atua no continente africano como especialista na retomada econômica em zonas complexas para organizações humanitárias. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele analisou a redução da influência política e econômica da Europa, como consequência da guerra na Ucrânia, ressaltou a importância do presidente Lula para a inserção do Brasil no cenário internacional e lamentou que Pernambuco não aproveite a rede consular de que dispõe, como estratégia para se destacar no mercado externo. O mundo caminha para uma recessão global? Quais seus reflexos no Brasil e em Pernambuco? Muitas das agências internacionais anunciam o risco de recessão para boa parte do mundo. O Banco Central Europeu já fala [que pode atingir] metade dos países da Zona do Euro, incluindo Alemanha e Itália, duas principais potências industriais do conjunto. Nos Estados Unidos, esforços do Banco Central estão reduzindo o aumento da inflação, mas terá impactos na atividade econômica do país pela limitação do acesso ao crédito. Eles só vão se segurar graças a uma economia extremamente subvencionada em detrimento do resto do mundo. A União Europeia está disposta a ir pelo mesmo caminho e aceitar que empresas fechem e o desemprego suba para controlar a inflação. A grande diferença é que na Europa vamos pagar mais caro a energia do que os EUA e vamos importar o gás deles. Na China, vamos ver como o país se recupera da crise da Covid e a abertura total de todas as restrições, o que impactará a economia mundial. Ou seja, vamos todos pagar a conta dessa crise que é de vários níveis (econômica, energética, geopolítica), alguns mais do que outros. Penso no continente africano dependente das compras chinesas de matéria-prima e das ajudas internacionais ocidentais. No Burkina Faso, país que conheço bem, a inflação atingiu mais de 20% este ano, e teve falta de gasolina (tal como em outros países vizinhos). Isso, cumulado às situações de ataques terroristas, dois milhões de deslocados no território, secas e insegurança alimentar agregam dificuldades a uma situação já extremamente complicada. O Brasil vai sentir os impactos, mas, como é costume, um pouco depois dos demais. Não está garantido que haja crescimento para 2023, segundo dados oficiais. A inflação continua presente, apesar de a taxa Selic ter aumentado umas setes vezes (se não estou enganado). O País priorizou vender commodities – em detrimento de um desenvolvimento industrial consolidado – mas como vendê-las se a maioria dos compradores está limitando seus gastos? Qual vai ser a variação do valor das commodities neste contexto internacional? Qual será o valor do barril de petróleo que terá um impacto tremendo no custo das exportações e importações brasileiras? Como equilibrar os desafios externos e internos? São perguntas essenciais e tenho a sensação de que, devido à campanha presidencial, não estão em pauta ainda, mas têm que vir logo. A vantagem que o Brasil tem em relação a outros países é sua capacidade de resiliência e sua reatividade em termos macroeconômicos. Ē um país que reage muito rápido às políticas instauradas. Veremos rapidamente se o que será executado funciona ou não. Em relação a Pernambuco, o Estado tem uma vantagem geográfica tremenda que continua mal aproveitada. Existe, no meu ver, um déficit estratégico por parte do Governo Federal que não soube valorizar o território, mesmo com os investimentos recentes. Existe também uma falta de coerência entre Estados do Nordeste, cada um puxando para seu lado para se tornar hub regional, quando um ponto focal forte traria mais resultado e poderia se espalhar para os demais. E último ponto: Pernambuco peca em política externa, aliás, não há política externa. Nada é coordenado para atuar como um pivô comercial no panorama internacional. Quantos acordos firmados e efetivos temos com outros portos do mundo? Quantas rotas marítimas diretas estão em funcionamento? Acredito que poderíamos ter feito mais, apesar de ter reduzido um pouco essa desvantagem. Acho que os dirigentes sucessivos não dimensionam o quão importante seria colocar Pernambuco no mapa, de fato. Temos uma das maiores redes consulares do País e não sabemos fazer diplomacia econômica. Vamos ter que aprender e fazer. Nesse cenário global, como fica a polarização entre China e EUA pela hegemonia econômica mundial? A guerra na Ucrânia permitiu aos EUA revitalizar a Otan, que estava parada, e fazer com que a Europa queira estar submissa à defesa americana em detrimento de construir uma Europa da Defesa. O segundo impacto da guerra é e será a perda de força da Alemanha. Ela construiu seu modelo econômico com o gás russo barato, agora vai tentar manter sua indústria comprando um gás americano quatro vezes mais caro e sem real possibilidade de reatar com os antigos parceiros, se a situação geopolítica o permitisse, porque foram sabotados os dois gasodutos Nord Stream 1 e 2. Os vencedores deste conflito, do ponto de vista político e econômico, são os

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reitora upe socorro

"O desafio é garantir que o Estado olhe para a UPE como um equipamento com potencial enorme"

Maria do Socorro Mendonça Cavalcanti é a primeira reitora empossada na UPE (Universidade de Pernambuco). Filha de um pai semianalfabeto, que trabalhava nas usinas de cana-de- -açúcar, e de uma mãe que concluiu apenas o ensino primário, sua trajetória estudantil, até o doutorado, e profissional, até o comando da universidade mais capilarizada no Estado, foi marcada por muitos sacrifícios familiares e pessoais. À frente da universidade em um período de amplos desafios para o ensino superior do País, ela tem a missão de seguir expandindo a atuação da UPE, além de ofertar melhor estrutura nos campi da capital e do interior e aprovar um novo Plano de Cargos e Carreiras. Com a remuneração atual do quadro docente e de técnicos, a instituição tem encontrado dificuldade em fixar os profissionais no seu quadro. Desafios do tamanho de uma universidade que atende 22,6 mil estudantes em programas de graduação e pós-graduação, além de 5,7 mil servidores, entre professores e técnicos, 12 campi e 16 polos de educação a distância. Inicialmente, gostaria que a senhora contasse a sua trajetória até chegar à universidade. Sou filha de Leonice Ramos de Mendonça e Mário Lopes de Mendonça. Meu pai era um semianalfabeto e minha mãe concluiu o ensino primário. Mas meu pai sempre investiu muito para que os filhos estudassem. Eu nasci na Usina Jaboatão. Ele, inicialmente, trabalhava na cana, depois no adubo e chegou a trabalhar como caldeireiro na usina. Sou a primeira filha e logo aos 9 anos terminei o primário. Na época, já morávamos na Usina Ipojuca e eu não tinha como continuar os estudos pois só havia o ginásio à noite e não me aceitavam por causa da idade. Fui morar com meus avós na Usina Jaboatão, um pouco mais perto da cidade. Aí, iniciei o ginasial. Mas meu pai sentia muito a minha falta, pediu demissão e conseguiu um emprego numa usina de açúcar no Estado do Ceará, na cidade de Paracuru, que contava com um colégio e fomos morar lá. E como foi o início no ensino superior? No colégio da cidade havia apenas o curso normal naquela época, o curso pedagógico. Eu queria fazer faculdade mas meu pai não tinha condições financeiras de me manter em Fortaleza. Ele pediu demissão novamente e voltou para Pernambuco. Foi trabalhar na Usina Salgado, que fica em Ipojuca. Fomos morar na cidade de Nossa Senhora do Ó, comecei a estudar no Cabo de Santo Agostinho para terminar o ginasial. Mas naquela época havia muita enchente e eu não conseguia chegar no colégio. Foi quando o ensino público começou a ter muitas dificuldades, devido à falta de professores. Meu pai batalhou bastante e conseguimos uma vaga no Ginásio Pernambucano. Aí eu voltei a morar com meus avós na Usina Jaboatão e estudando no Ginásio Pernambucano. Após a minha avó falecer, meu pai comprou uma casa na Vila do Cabo em Cabo de Santo Agostinho e voltei para casa dos meus pais. Naquela época foi inaugurado o Colégio Contato e o diretor convidou alguns alunos para fazer seleção para conseguir bolsa. Não consegui mas meu pai fez um esforço para pagar o cursinho. Eu estudava no Ginásio Pernambucano e saía direto para o Contato. Foi um esforço enorme! A senhora vem de uma família bem humilde e de onde veio essa ideia de fazer faculdade? Alguém a inspirou? Primeiro, meu pai e, desde pequena, sempre gostei de estudar. Esqueci de dizer uma coisa: quando fui alfabetizada, meu pai na caldeira já tinha um cargo de chefia e precisava fazer a escala dos trabalhadores. Mas ele não conseguia. Era eu quem fazia e disse para ele: “vou lhe ensinar”. Eu alfabetizei meu pai. Sempre tive o desejo de estudar e ensinar e quando fui crescendo queria fazer universidade. Eu acreditava no que meus pais sempre me diziam: “estudar é a melhor forma de conseguir vencer na vida, de sair dessa situação”. Eles fizeram todos os esforços necessários para que eu e meus irmãos conseguíssemos estudar. Fui a primeira da família a fazer universidade. Sempre quis melhorar a minha condição de vida e a da minha família. A senhora é a primeira mulher reitora na universidade. Qual a importância desse marco para a universidade? Esse marco é importante para toda mulher porque elas sempre trabalharam bastante e acho que ocupar esses espaços de liderança é extremamente importante, principalmente neste momento em que a gente vive uma violência tão grande contra as mulheres. Ter mulheres em espaços de liderança só reforça essa luta que todas nós temos contra essa a discriminação e a violência. Acho que é muito importante para todas nós demarcarmos esses espaços e avançarmos nessa conquista para que mais mulheres possam ocupar esses espaços. Quais os principais desafios que vocês pretendem enfrentar e quais os planos para essa gestão? A UPE é uma universidade que se interiorizou não de forma muito planejada, com um orçamento que garantisse essa interiorização. Isso trouxe algumas dificuldades para que pudéssemos manter esses cursos funcionando. Não tínhamos prédio próprio em muitos lugares, sendo espaços emprestados ou alugados. Nem sempre tivemos concursos para professores para essas unidades. Então isso foi sendo levado como desafio. O professor Pedro Falcão (o reitor antecessor) foi uma das pessoas que abraçou este desafio. Ainda há algumas unidades que foram criadas e que ainda não têm sede própria, um dos desafios é construir o campus Palmares. O campus Caruaru, onde foi instalado um dos primeiros cursos do interior, ainda não tem sede própria também. De 2019 e durante a pandemia, a Faculdade de Odontologia foi desativada por questões de infraestrutura e hoje ainda não tem a sua sede. Os alunos estão distribuídos em três espaços: no ITEP, no Oswaldo Cruz e no CISAM. Um dos nossos desafios é conseguir a construção da FOP. O outro grande desafio é garantir que o Estado olhe para a universidade como um equipamento de governo que tem um potencial enorme. Somos a universidade que está mais capilarizada em Pernambuco. Hoje temos um alcance de chegar em 80 municípios

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jarbas opas saude

"A dependência de importação de produtos para a saúde é um problema a ser enfrentado"

Jarbas Barbosa, médico pernambucano eleito para dirigir a Organização Pan-Americana da Saúde, fala dos seus planos à frente da instituição, diz que atuará para ampliar o acesso das populações a vacinas e tratamentos e conta como a vivência em Pernambuco influenciou sua trajetória profissional.

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felipe almeida bita

"Espero que a gente consiga conquistar mais famílias estrangeiras e ver o Bita levando alegria pelo mundo afora"

Felipe Almeida, Sócio da Mr. Plot, fala dos percalços enfrentados até conquistar o retorno dos investimentos com o Mundo Bita, hoje sucesso em várias mídias. Também comenta a participação de artistas da MPB nos clipes do personagem bigodudo e os planos para chegar ao mercado internacional. Um simpático bigodudo conquistou os corações de crianças e suas famílias e até dos grandes medalhões da música popular brasileira. Bita surgiu como um personagem de aplicativos de jogos para tablets voltados para a garotada da primeira infância. Não demorou muito para ele, em companhias dos demais personagens do Mundo Bita, atuar em clipes, DVD, séries de TV e curta-metragem. Já há alguns anos, eles saíram das telas e encantam plateias em shows por todo o País. Mas esse sucesso é fruto de muita persistência e criatividade dos sócios da empresa Mr. Plot, criadora da figura sorridente de bigodes alaranjados. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele conta como o disco O Grande Circo Místico, de Edu Lobo e Chico Buarque, inspirou a criação do Mundo Bita, fala da sua adaptação para as diversas plataformas, a participação de artistas como Caetano Veloso, Milton Nascimento e Alceu Valença em animações musicais e os planos de internacionalizar o negócio e levar o Bita a encantar o público de vários países. Como surgiu a ideia do Mundo Bita? Tínhamos uma empresa de TI, fundada em 2008, a Quarta Dimensão, e, mais ou menos em 2010, vimos a chegada dos tablets como uma tecnologia promissora. Como os sócios eram pais recentes, percebemos que o conteúdo para crianças nesses dispositivos no mercado do Brasil era de baixíssima qualidade. Tivemos a ideia de criar uma unidade de negócio um pouco pretensiosa, a Mr. Plot, que nasceu com o objetivo de criar conteúdo para tablets voltado para famílias com crianças na primeira infância. Começamos sem nenhum conhecimento sobre essa tecnologia e ou sobre o mercado. Não havia muitos dados ou referências, estávamos naquela onda de startup, tentando criar algo que pudesse ser escalável e global. Na primeira reunião fomos apresentados ao Bita porque um dos sócios, Chaps, tinha desenhado esse personagem para ilustrar o quarto da filha recém-nascida. Além do Bita, havia um grupo de personagens, baseado na temática circense, já que ele e sua mulher escutavam muito o disco O Grande Circo Místico. Nós simpatizamos com o “bigodudo” e enveredamos a criar conteúdo em cima desse protagonista. O primeiro aplicativo se chamou O Circo Mágico do Bita, lançado em 2011 na Apple Store. Qual era o conteúdo? A estratégia inicial era fazer dois aplicativos, um gratuito para o público conhecer e, outro, pago. O primeiro foi um sucesso, ficou no Top 3 da categoria infantil, mesmo sem nenhuma publicidade. Mas o pago tinha pouquíssimos downloads porque, na época, para comprá-lo era preciso um cartão de crédito internacional. Também sentimos na pele que o brasileiro não tinha a cultura de pagar por software, mesmo que fosse 99 centavos de dólar, quando havia tantos de graça. Depois lançamos o aplicativo ABC do Bita, mais voltado para linha educacional. Usamos a mesma estratégia: lançamos o aplicativo gratuito e só com as letras A; B; C; D; E. Para ter acesso ao aplicativo completo, era preciso pagar. Ele era divertido, bem aceito, mas essa segunda tentativa também não nos trouxe resultados. Mas percebemos que a gente estava conseguindo construir uma propriedade intelectual, mesmo sem saber o que era exatamente isso. Aí, começaram a acontecer coisas positivas: fomos incubados no Porto Mídia, incubadora para projetos de economia criativa do Porto Digital, saímos na lista dos 100 melhores aplicativos brasileiros da revista Época, e nem tínhamos assessoria de imprensa. Fomos citados na CBN, a revista Crescer, ninchada no mercado infantil, fez referência à qualidade do conteúdo do aplicativo. Com isso, vimos um pico no gráfico de downloads, o que nos mostrava que o negócio tinha um potencial. Como surgiram as canções? Ao percebermos que apesar disso tudo, não estávamos conseguindo o engajamento. Então, miramos no YouTube, que começava a ganhar força. Foi quando Chaps sugeriu: “vamos fazer umas músicas?”. A ideia era usar os personagens do Bita para fazer animações que, de certa forma, é uma extensão do que a gente já fazia, o aplicativo de jogo é considerado um conteúdo audiovisual. Ele apareceu com Fazendinha, Fundo do Mar e Como é Verde na Floresta. Foi uma grande surpresa descobrir que esse sócio era um grande talento como compositor. Ele já teve banda de garagem, como um hobby, não como forma de negócio. As músicas foram para o YouTube e fizeram sucesso? Não. O número de views não era expressivo mas não era tão baixo. Foi aí que entendemos que podíamos apresentar o conteúdo em DVD. Nosso diferencial sempre foi fazer conteúdo original, inédito, o que é difícil, porque o mercado usava conteúdos de domínio público. A indústria fonográfica ainda era forte em 2012. Também visamos a televisão. Nessa época uma lei foi sancionada e obrigava a TV fechada a veicular uma cota mínima de conteúdos nacionais. Conseguimos fechar um contrato com a Discovery Kids e com a Sony Music. Percebemos que o negócio do Mr. Plot era diferente porque nosso primeiro contrato foi em inglês e recebemos em dólar, uma coisa que a outra empresa desde 2008 não tinha alcançado. Foi aí que a Mr. Plot foi fundada oficialmente como empresa do audiovisual. O sucesso se deu por meio da televisão e do DVD que gravamos com a Sony Music. Vocês estão no mercado internacional? Em 2018 começou o processo de internacionalização. Fomos induzidos a focar mais no mercado da América Latina, inicialmente, por ser uma região mais próxima e para ter uma melhor aceitação. Começamos traduzindo o conteúdo para o espanhol e fazendo o lançamento no YouTube. Mas, ainda não conseguimos tracionar como o esperado. A pandemia atrapalhou. Começamos no ano passado um trabalho de investimento de mídia um pouco maior, estamos com uma empresa argentina fazendo a divulgação desse conteúdo. Sabemos que tem muito potencial, o mercado latino é tão grande quanto o

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jose gualberto

"Vinhos estrangeiros são contrabandeados numa quantidade 4 vezes maior do que a produção de vinhos finos brasileiros"

O contrabando e a falsificação de vinhos estrangeiros têm sido uma dor de cabeça para os produtores da bebida no Brasil. Afinal, o produto contrabandeado não paga imposto, enquanto que mais de 50% do preço dos vinhos legalmente vendidos no País corresponde ao valor dos tributos, segundo o presidente do Vinhovast (Instituto do Vinho do Vale do São Francisco) José Gualberto de Almeida. Apesar do problema, os produtores pernambucanos também têm motivos para comemorar: depois de 20 anos de intensos trabalhos, eles conquistaram a Indicação Geográfica Vale do São Francisco, concedida pelo Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Intelectual). O registro de Indicação Geográfica (IG), segundo o Ministério da Agricultura, é conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria. São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais como solo, vegetação, clima e saber fazer (know how). José Gualberto – que também é presidente da Valexport (Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco) – conversou com Cláudia Santos sobre os benefícios que a IG trará para a vitinicultura da região (que produz 5 milhões de litros de vinho fino por ano), os problemas que o setor enfrenta, como o contrabando, e as perspectivas do enoturismo. Qual a importância da conquista da indicação geográfica para o setor vinícola do Vale do São Francisco? Com a conquista da indicação geográfica, o mundo da produção e dos negócios do vinho põe as suas vistas para a nossa região. Os grandes produtores de vinho do mundo procuram se instalar em regiões produtoras. A Miolo, da Serra Gaúcha, e a Global Wines, que produz os vinhos Rio Sol, já estão aqui e temos a certeza de que outros produtores internacionais virão. Temos um produto típico, único, feito com aquelas condições da região do São Francisco. Uma das características dos produtores e consumidores de vinhos é que eles gostam de tipicidades. Já se diz, inclusive, que a fidelidade não é uma característica dos tomadores de vinhos, porque eles se deslocam do consumo de vinho de uma região, vão para outra, comparam, trocam experiências. É isso que vai acontecer com o Vale do São Francisco. A responsabilidade é muito grande dos produtores, dos institutos e pesquisadores para que essa produção se consolide na qualidade e que essa “régua” vá sendo levantada cada vez mais para que tenhamos a possibilidade de nos firmarmos no grande teatro dos produtores de vinhos. Isso não significa que todos os vinhos e produtores vão alcançar em todos os instantes a indicação geográfica. O selo é concedido não ao produtor, mas aos produtos, e eventualmente, um produto que não se enquadre naqueles parâmetros não terá o selo. Isso não significa que não será um vinho a ser consumido. Teremos também outras vinícolas que irão se preparar para submeter seus vinhos a esse comitê permanente, dinâmico e variável que irá apreciar os vinhos e conceder essa indicação. Trata-se da primeira indicação geográfica de vinhos tropicais do mundo. É por isso que o selo demorou 20 anos para ser concedido? Exatamente. Porque não havia elementos de comparação. Existem vinhos tropicais em outros locais, mas nenhum conseguiu indicação geográfica. Uma grande questão, que será discutida ao longo dos próximos anos, é que o Vale do São Francisco produz uvas o ano todo. As pessoas dizem: “são duas safras”. Não são. São 52 safras porque podemos colher a uva na semana 1, na semana 2 até a semana 52. E serão produtos diferentes, porque no mundo clássico do vinho existe a figura da safra, que ocorre num determinado período do ano. Essa característica do Vale do São Francisco oferece uma amplitude enorme de produtos a serem conseguidos. Provavelmente, encontraremos empresas que se especializarão em vinhos de certos períodos do ano. Esses vinhos serão caracterizados, tipificados e o consumidor poderá fazer uma degustação horizontal, desde degustar, por exemplo, um Cabernet Sauvignon do primeiro trimestre e comparar com o do segundo, do terceiro, do quarto, do mesmo produtor. Ou uma degustação vertical, ao comparar vinhos produzidos no ano A, com o do ano B e com o do ano C, nos mesmos trimestres. Uma questão patente é que os vinhos produzidos na região são jovens, aromáticos, frutados e leves em razão dessa característica de poder elaborá-los o ano todo. Por isso, o produtor não está preocupado em fazer vinhos de guarda, como as regiões clássicas, que são estocados em barris de carvalho ou em aço inox por muito tempo. Além disso, os espumantes do Vale são altamente apreciados e procurados. Mas precisamos ter volume. Temos uma quantidade pequena de vinícolas (em torno de oito) mas, como eu disse, acreditamos que outras virão e atrairemos players da cadeia produtiva, como fabricantes de garrafas, rótulos etc. Isso leva a ganho de mercado, ganho de escala e ao barateamento e divulgação do produto. Haverá geração de postos de trabalho, de pesquisas, investimentos. O senhor acredita que o adensamento da cadeia produtiva do vinho vai demorar para acontecer? Acredito que vai se acelerar agora porque, além do vinho, temos a uva in natura que é um produto muito nobre, nossa região produz praticamente 100% da uva exportada pelo Brasil. Precisamos aumentar a cadeia de transporte, a logística etc. porque estamos numa região longe dos portos, o que aumenta nossos custos. Também precisamos muito de pesquisas. Para você ter ideia, para produzir uva de mesa importamos muitas variedades vindas dos EUA. A Embrapa conseguiu produzir algumas, mas o grande volume ainda é daquelas produzidas na Califórnia. Isso é um custo financeiro grande, pois pagamos royalties muito representativos, além do custo social, porque é um espaço de trabalho para pesquisa que não ocupamos. Se tivéssemos apoio massivo da pesquisa, poderíamos passar a ser exportadores de variedades ao invés de importadores. Leia a entrevista completa na edição 201.5: assine.algomais.com

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sheilla condepe

"Quero ressaltar a importância de retomar o olhar do território metropolitano como um todo".

Ao longo da série Desafios do Desenvolvimento de Pernambuco, os dados e as percepções da Condepe/Fidem (Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco) contribuíram para apontar algumas das macrotendências que deveriam nortear as políticas públicas dos próximos anos no Estado. O repórter Rafael Dantas conversou com a presidente da agência, Sheilla Pincovsky, sobre as prioridades de infraestrutura a serem encaradas pelo Governo do Estado, a importância da interiorização das universidades e a urgência de solucionar as dificuldades da população social e economicamente vulnerável. Uma questão, porém, recebeu especial destaque de Sheilla: a necessidade de implantar uma gestão da Região Metropolitana do Recife, que permitiria resolver de forma abrangente problemas como moradia, mobilidade, saúde, entre outros. Quais os principais desafios ao desenvolvimento do Estado de Pernambuco? Temos alguns desafios que eu diria que são estruturais. Demandam grandes investimentos e que não acontecem numa única gestão. Um deles, que a gente vem falando desde que eu me entendo por gente, é a Transnordestina. Ela já mudou de nome e ainda não se concretizou. Mas planejamento é assim mesmo, a gente defende, vai amadurecendo até que se concretize. O Estado abraçou essa causa da Transertaneja e ela será um importante pilar do desenvolvimento, ao lado da melhoria das estradas e rodovias, nas quais não podemos parar de investir. Temos um déficit muito grande dessa infraestrutura logística, que não é restrito às áreas mais isoladas do Estado. A manutenção dessas estradas, a duplicação em alguns trechos e triplicação em outros são fundamentais para consolidar o processo de interiorização do desenvolvimento. Isso vem avançando desde a década de 1990, mas precisa ser intensificado. Há algum outro destaque de infraestrutura? Ainda na questão viária, há grandes projetos que precisam ser enfrentados e concluídos. Um desses é o Arco Metropolitano. Essa iniciativa, apesar de abranger toda a região metropolitana, será um ativo útil para potencializar a economia de Pernambuco. Tivemos um grande avanço para conectar o Estado com os aeródromos. O que era um desafio passou a ser um ativo importante, com a chegada dessa malha aérea em Caruaru, Serra Talhada, Garanhuns e Araripina. Além de já termos o Aeroporto de Petrolina. É uma malha muito interessante que leva a um processo estruturante e permanente do desenvolvimento do interior. Temos visto também o surgimento de polos regionais educacionais e médicos no interior, como em Serra Talhada. São investimentos importantes para a manutenção da população local, evitando a migração para grandes cidades. Também são projetos que vêm lá da década de 1990 e foram parados. Mas se tornaram políticas de estado que vem perpassando vários governos. Toda política econômica desenvolvimentista deve ser uma política de estado e não de governo. Isso tem sido muito bom para Pernambuco. Como essas novas estruturas logísticas fomentam o desenvolvimento no Sertão e no Agreste? Essa infraestrutura vai facilitar muito o escoamento da produção e o deslocamento das pessoas. Isso é o que vai levar a uma maior facilidade, por exemplo, de escoamento da fruticultura do São Francisco. Uma estrada de ferro, como a Transertaneja, potencializa muito o Porto de Suape como centro de produção e de distribuição. Mas é ao mesmo tempo o caminho para integrar a produção do interior com o resto do mundo. É o grande meio para levar os nossos produtos para o mercado externo, diminuindo muito o custo logístico e o tempo, inclusive. E na via contrária, a via férrea contribui para levar os produtos e insumos para o interior. Estamos frente também a um conjunto de tendências irreversíveis, que são mais abrangentes que Pernambuco e que a gente não pode perder de vista. A Agência Condepe-Fidem tem uma longa história de planejamento junto à Região Metropolitana do Recife, na época em que era ainda apenas Fidem. Quais os principais desafios para que essa complexa metrópole se desenvolva? O plano de desenvolvimento Urbano Integrado da Região Metropolitana do Recife (PDUI-RMR) dá toda orientação das diretrizes, em que analisa a realidade, as carências e as potencialidades de cada município. O que eu queria ressaltar aqui é a importância de se retomar o olhar sobre a região do ponto de vista do território metropolitano, como um todo, sem se preocupar tanto com os limites dos municípios. Ou melhor, os limites têm que ser considerados, mas é preciso haver aquela solidariedade territorial. A gente não pode imaginar um Recife sem pensar em Jaboatão, sem pensar em Camaragibe, sem pensar em Olinda. Não se pode pensar numa Itapissuma sem pensar em Igarassu, sem pensar em Araçoiaba, sem pensar em Itamaracá. A gente não pode pensar em Suape sem pensar nos municípios do Cabo e Ipojuca ou até em municípios da Mata Sul. Não se pode deixar de pensar nos municípios como um todo, de forma solidária entre eles. Leia a entrevista completa na edição 201.2 da Algomais: assine.algomais.com

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sergio ramos

"É razoável dizer às pessoas que corram para tomar a vacina contra Covid"

Quando pensávamos que finalmente a pandemia da Covid-19 estava chegando ao fim, com a redução do número de pessoas contaminadas, eis que na segunda quinzena de outubro a quantidade de casos da doença voltou a crescer em todo o País. É certo, porém, que estamos agora, num outro patamar, com uma grande parte da população vacinada, embora o percentual que tomou as doses de reforço esteja aquém do desejado. Também temos a expectativa da chegada das vacinas capazes de fornecer proteção contra as subvariantes da Ômicron e a chegada de novos recursos terapêuticos. Para analisar essa nova conjuntura da Covid-19, Cláudia Santos conversou com o infectologista Paulo Sérgio Ramos, que é professor associado da Faculdade de Medicina da UFPE e pesquisador da Fiocruz-PE. Ele destacou avanços, como a aprovação do medicamento Paxlovid pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para tratar a Covid, uma boa notícia principalmente, para os idosos que são mais vulneráveis ao coronavírus. Mas lamentou que o antiviral não ter sido ainda incorporado ao SUS, já que seu valor ficaria entre R$ 2 mil a R$ 3 mil. Também se mostrou pouco otimista com a possibilidade de todos os brasileiros serem vacinados no curto prazo, com as chamadas vacinas bivalentes que têm ação contra as novas subvariantes. E, para que o número de casos não cresça ainda mais neste fim de ano, quando ocorre o aumento de aglomerações provocadas pelas festas, ele é taxativo: “A solução é as pessoas procurarem os serviços de saúde para tomar aquelas doses que estão pendentes.” Por que os casos de Covid voltaram a crescer no Brasil? O principal fator é que a velocidade de vacinação das diversas faixas etárias das populações ditas alvos estão em níveis insatisfatórios. Em todas as faixas etárias existe ainda o delay, muitos não estão respondendo ao chamamento para tomar as doses de reforço, isso faz com que haja um gap muito grande de pessoas não vacinadas. E quanto mais pessoas não vacinadas, maior a facilidade de o vírus da Covid-19 circular entre elas e ocorrerem as mutações genéticas. Por isso que ouvimos falar, desde o início da pandemia, das variantes e agora das subvariantes da Ômicron que estão circulando com muita força, inclusive no Nordeste do Brasil. O vírus começa a sofrer mutações genéticas, a escapar dos mecanismos nos quais as vacinas foram inicialmente concebidas e calculadas. Esse é o principal motivo de estarmos, neste momento, com a recirculação do vírus, não na forma selvagem, mas na forma modificada, e de termos saído do momento de relativa calmaria e voltar a ter este aumento do número de casos de pessoas infectadas e mesmo de pessoas graves, inclusive de óbitos. A solução é as pessoas procurarem os serviços de saúde para tomar aquelas doses que estão pendentes. Além disso, as unidades de saúde sanitárias já vêm reforçando, inclusive em Pernambuco, que as pessoas retomem uso das máscaras nos ambientes coletivos. Como está a situação em Pernambuco? Tanto o laboratório central na rede pública, como os laboratórios da rede privada, todos têm reportado o aumento da demanda pelos testes de Covid – os testes rápidos ou os testes moleculares (aqueles chamados PCR). Não só ocorreu o aumento da procura por esses testes como também da positivação deles. Verdadeiramente, estamos mais uma vez sofrendo uma nova onda de casos de infecção da Covid-19. E como estão as internações? Existem dois fenômenos. Tínhamos uma situação de relativo conforto até meados de outubro, quando ainda havia leitos reservados para pacientes infectados pela Covid. Geralmente eram quadros leves e, na maioria das vezes, não eram pacientes que precisavam ir para UTI. Havia também aquele cenário de pacientes que estavam internados por qualquer outro motivo e durante o internamento se infectaram ao serem entubados e desenvolviam sintomas gripais. Mas da segunda semana de outubro para cá, sentimos novamente a necessidade de aumentar a disponibilidade de leitos para a Covid, para desafogar o serviço público. E, por esse motivo, mais uma vez tivemos que estrangular o número de leitos para outras patologias. E qual a gravidade desses casos que vão para hospitalização? O que temos visto é que a grande maioria que já foi vacinada – mesmo aqueles que foram vacinados parcialmente, que não completaram todas as doses de reforço – apresenta quadros mais leves mas, muitas vezes, é internada pela descompensação de uma doença de base como câncer, diabetes ou alguma doença pulmonar ou cardíaca. Mas os idosos, esses sim, têm a necessidade de internação hospitalar, muitas vezes requerendo cuidados da unidade de terapia intensiva e com desfechos desfavoráveis, inclusive mortes. Mesmo tendo todas as quatro doses da vacina da Covid realizadas, eles correm o risco de serem internados porque existe um mecanismo chamado imunossenescência, em que há um envelhecimento do sistema imunológico. Leia a entrevista complena na edição 201.1: assine.algomais.com

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eduarda entrevista

"Repensar a cultura da empresa dentro da perspectiva da ODS agrega valor ao empresário"

Neste mês foi instalado em Pernambuco o HUB ODS do Pacto Global da Organização das Nações Unidas. A chegada dessa iniciativa acontece no momento em que há um debate em vários setores da sociedade sobre as mudanças climáticas, as questões de gênero e raciais e também sobre a ESG, as melhores práticas ambientais, sociais e de governança dentro das organizações. O HUB chega com a missão de envolver o empresariado com os ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) estabelecidos na Agenda 2030 da ONU. Cláudia Santos conversou com a coordenadora do HUB Eduarda Chaves a respeito de como pretende atuar para conquistar a adesão dos empresários pernambucanos. “Vamos conversar com o poder público e o setor privado para entender e definir junto com eles as métricas que possam estabelecer quais são os principais ODS críticos no nosso Estado”, planeja. Formada em administração, com 32 anos e experiência no terceiro setor, nos movimentos sociais e na iniciativa privada (na área de tecnologia e inovação), Eduarda acredita que um dos maiores desafios que vai enfrentar serão as resistências para modificar a mentalidade dos empresários mais conservadores. Porém, acredita que poderá mostrar aos gestores que eles têm muito a ganhar ao fazer mudanças na sua cultura organizacional. “Um grande exemplo é Luíza Helena Trajano, que implementou políticas para mulheres negras dentro da própria organização e, por isso, o valor do capital humano dela cresceu drasticamente”. Confira a seguir a entrevista. O que é o HUB ODS Pernambuco? O HUB é parte da iniciativa do Pacto Global, criado por Kofi Annan, então Secretário Geral da Organização das Nações Unidas, no início dos anos 2000. O intuito era convocar as empresas a alinharem suas estratégias e operações aos Dez Princípios Universais nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e anticorrupção. O Pacto Global entende que os países signatários devem convocar a iniciativa privada a aderir a esses conceitos universais que na Conferência da ONU de 2015 (COP 21) passa- ram a ser os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O Pacto Global atua nos países por meio de redes e a Rede Brasil do Pacto Global é a segunda maior do mundo. O Programa HUB ODS da Rede Brasil do Pacto Global tem como objetivo acelerar, por meio de parcerias regionais, o envolvimento do setor empresarial com a Agenda de Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030 e os 17 ODS. O Brasil é um país de dimensões continentais e cada região apresenta culturas e realidades econômicas e sociais diferentes. Por isso, a Rede Brasil do Pacto Global percebeu que seria mais efetivo criar iniciativas em cada Estado, a partir dos HUBs, que pudessem entender e abranger o contexto de cada local, com suas nuances, dificuldades e potencialidades. Além disso, trabalhar com o empresariado daquele estado com o intuito de promover o incentivo para que as práticas empresariais sejam norteadas pelos ODS. O HUB foi criado pela Rede Brasil mas pode ser que outros países venham a incorporar essa ideia também. As empresas que fazem parte desse HUB não são necessariamente signatárias do Pacto Global. Mas o intuito é que todas, em algum momento, venham fazer parte do Pacto por ser uma iniciativa que colabora com a transformação social. Quais são as primeiras ações do HUB aqui em Pernambuco? Ainda estou montando o plano de ação. Assinamos a parceria com o IATI (Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação), que será a empresa receptora do Pacto e que vai alocar o HUB dentro dela. Mas a gente começou gigante, como foi dito por Carlo Pereira, o CEO da Rede Brasil do Pacto Global, durante o lançamento do HUB ODS Pernambuco. Fomos o primeiro HUB que já começou, no primeiro dia, com mais de 30 adesões, entre organizações, secretarias e iniciativa privada. Então houve, de fato, um sucesso nesse lançamento. Os próximos passos são: conversar com o poder público e o setor privado para entender e definir junto com eles as métricas que possam estabelecer quais são os principais ODS críticos no nosso Estado. Com certeza, a erradicação da fome é um deles. Em seguida, vamos entender dentro de cada perspectiva empresarial, dentro de cada setor da economia e até das organizações, das universidades, do terceiro setor também, quais são as ODS que eles precisam praticar mais, onde está o ponto crítico deles. Acredito que esses sejam os primeiros passos para definirmos as ações a se- rem realizadas e as temáticas que serão mais estimuladas. Durante o lançamento, a vice-prefeita Isabella de Roldão trouxe a temática da questão de gênero para o nosso Estado. Trata-se de tema forte, que pode ser mensurado pelos índices de violência contra a mulher que são muito altos em Pernambuco. Já a questão da saúde mental foi trazida na ocasião do lançamento pelo CEO da Rede Brasil do Pacto da ONU, Carlo Pereira, principalmente as psicopatologias do trabalho. É um problema muito discutido e antigo, existe desde quando começaram as primeiras indústrias, o filme Tempos Modernos já abordava isso. A síndrome de burnout já está enquadrada na CID (Classificação Internacional de Doenças) de número 11. Então essa temática da saúde mental acho que deve entrar também em pauta. Essas 30 empresas que já fazem parte do HUB pertencem a quais setores? É bem variado. Existem organizações do terceiro setor, secretarias do Governo do Estado e do município que aderiram ao Pacto, como a Secretaria de Meio Ambiente estadual, a Secretaria Municipal de Tecnologia e Inovação, além da Prefeitura de Vitória de Santo Antão, que já entrou em contato comigo e solicitou uma reunião. A iniciativa é voltada, de fato, para criar um link intersetorial, do primeiro, segundo e terceiro setor, mas ela foi criada, a princípio, nos anos 2000, para a iniciativa privada, para que esses líderes enxerguem e tragam os ODS para fazerem parte da cultura organizacional da sua empresa. Com relação ao setor privado, temos a adesão da Baterias Moura, empresas da construção civil, do setor de óleo e gás, do setor de energia elétrica que é a Neoenergia, do setor

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