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joana florencio

"Acompanhar dados econômicos é importante para a tomada de decisão empresarial e da gestão pública"

Secretária de Desenvolvimento Econômico da capital pernambucana, Joana Florêncio, explica os benefícios da plataforma Observatório Econômico do Recife, que reúne num só local uma grande diversidade de indicadores. Segundo a titular da pasta, a iniciativa tem sido de grande valia para conhecer a realidade da economia do município, para elaborar políticas públicas e para as ações do empresariado. Indicadores econômicos são essenciais para entender e avaliar a situação da economia e as perspectivas de uma cidade, um Estado ou um País. Eles oferecem uma visão da realidade que é essencial para um gestor público formular políticas, ou para orientar o setor privado na tomada de decisão sobre onde alocar seus investimentos. Diante dessa relevância, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico lançou este ano a plataforma Observatório Econômico do Recife, que reúne num só local, no site do Conecta Recife, uma diversidade de indicadores. Antes, para obter esses dados era necessário recorrer a diversas fontes e, muitas vezes, eles estavam em planilhas ininteligíveis ou relatórios de mais de 100 páginas. Para falar sobre essa plataforma, Cláudia Santos conversou com a secretária Joana Portela Florêncio. Na entrevista, ela também analisou o momento econômico da capital pernambucana, suas perspectivas e desafios. O que é o Observatório Econômico do Recife? É uma plataforma de dados e macrodados econômicos do Recife apresentados de forma simples e integrada em um único lugar trazendo informações fáceis para quem precisa delas. Está inserido no Portal Conecta Recife. Nessa plataforma é possível acessar movimentação de porto e aeroporto, balança comercial, PIB per capita – fazendo comparativo com outros municípios, com o Nordeste e com o Brasil. Em relação ao mercado de trabalho, há dados de admissões, demissões, nosso saldo do Caged, (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), a Rais (Relação Anual de Informações Sociais), a capacidade de pagamentos, rankings de competitividade, ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis), IPTU e tudo que ajude a entender como o Recife está se comportando economicamente. Acompanhar esses dados é muito importante para a tomada de decisão, tanto empresarial, quanto por parte da gestão pública. Também estamos inserindo, no Observatório, os boletins econômicos da cidade, trazendo os dados de forma contextualizada, explicando economicamente como o Recife se comportou mensalmente. Hoje, o Observatório funciona para todo mundo, incluindo o cidadão. Entregamos a transparência em dados econômicos, que também é muito importante. E qual a importância de ter esses indicadores reunidos numa só plataforma que pode ser acessada pelo público em geral? A importância é essencial. Antes do Observatório, os dados federais, estaduais e municipais eram descentralizados. Como a pauta econômica é muito transversal, tudo importa e precisamos ter inteligência da leitura desses dados. Para se ter uma expectativa econômica da cidade para o Carnaval, por exemplo, era preciso coletar dados de anos anteriores, entender como tinham se comportado e fazer o cruzamento. Entretanto, às vezes, o resultado não representava a realidade por terem sido coletados dados de forma equivocada. Então, foi preciso automatizar. Quando começamos a fazer isso, entendi que precisávamos disponibilizar para o público, como os empresários, porque quem gera emprego e renda é o setor privado que, para fazer qualquer investimento, precisa de segurança para tomar decisões assertivas. Aos disponibilizarmos os dados, de forma clara e transparente, ajudamos em decisões, como trazer um investimento ou um plano de construção para a cidade. No ambiente público do Conecta Recife, outras instituições e entidades também podem acessar. Por exemplo, é importante para instituições de contabilidade que podem ver a quantidade, o tempo e o porte de empresas que estão sendo abertas no Recife. Com esse entendimento, abrimos o Observatório para todos, mas não estamos falando de uma política pública de acessibilidade para as pessoas em geral e, sim, de informações bem efetivas para os negócios. Lançamos em julho de 2024 e já temos mais de seis mil acessos. São acessos robustos, muitos deles, de pessoas em busca de informações adequadas para seus negócios, que estão olhando o Recife como um mercado atrativo na área econômica. Recebemos várias pessoas de universidades econômicas, tivemos acessos da TGI, da Amcham, e percebemos que as empresas de consultoria também precisavam desse ambiente para coletar esses dados que, em sua maioria, estavam decentralizados, cada site entregando de uma forma, muitas vezes em planilhas ininteligíveis ou relatórios de 100 páginas. E nós trazemos isso de forma direta na palma da mão do empreendedor pelo Conecta Recife. Estamos trabalhando, inclusive, a usabilidade desses dados. Então, atingimos desde o cidadão até a academia. Como foi concebida essa iniciativa? O Observatório nasceu de um domínio de gestão pública a fim de olhar o Recife economicamente. Surgiu de uma “dor” minha, da necessidade de acompanhar se as promessas de empregabilidade dos empresários que recebíamos aqui estavam sendo cumpridas. Como eu acompanharia essa empregabilidade? Como saberia quais são os maiores setores? Eu até poderia consultar o faturamento empresarial, mas não era possível identificar outras atividades econômicas do Recife que talvez precisassem de políticas públicas. Também é preciso acompanhar o PIB per capita, o IPCA, a taxa Selic, o nosso ranking de competitividade, o consumo, o que está pesando na balança comercial, checar a movimentação de portos e aeroportos em um evento ou momento específico do ano. Então, a ideia começou a partir de uma demanda da secretaria a fim de averiguar a necessidade de gestão de políticas públicas voltadas ao desenvolvimento econômico. Para criar isso de forma automatizada, fechamos uma parceria com a Faculdade Senac, em que os desenvolvedores foram os alunos da instituição. Participamos das aulas explicando o que os estudantes precisavam trazer como soluções e, ao final do curso, foram criados vários observatórios como trabalho de TCC. Nesse processo, nasceram duas startups, e uma foi contratada como servidor nosso. Então, quando o Observatório chegou, demos outra roupagem com mais características. Nós higienizamos alguns dados (atualizar e corrigir informações) para trazer de forma mais específica o que estamos querendo enquanto secretaria. Assim, o empreendedor também consegue fazer várias junções, dependendo da área de atuação que necessita consultar. São dados entregues com robustez. E como

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"Nossa proposta é aumentar em cerca de 9 mil hectares as áreas protegidas da Caatinga em Pernambuco"

Pedro Sena, Coordenador técnico do Cepan (Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste). fala sobre a iniciativa que vai criar seis novas unidades de conservação na Chapada do Araripe no Estado. A ideia é preservar até as áreas habitadas e capacitar moradores com atividades econômicas sustentáveis. Estudo realizado pela Fundação Holandesa IDH, com o apoio do Instituto WRI, identificou que há no mínimo meio milhão de hectares de Caatinga com potencial de restauração em três territórios: Sertão do Pajeú (PE), Cariri Ocidental (PB) e Sertão do Apodi (RN). Mas, de acordo com o Mapbiomas, apenas 9,1% está sob proteção de unidades de conservação. Diante da ameaça de desertificação do bioma frente às mudanças climáticas, várias instituições se unem para criar seis novas unidades de conservação (UCs) na Caatinga em Pernambuco. Isso representa mais nove mil hectares de áreas protegidas no bioma, e aumentaria de 28 para 34 o número de UCs existentes na região de Caatinga no Estado. Para tornar a proposta realidade, o Cepan (Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste), uma organização do terceiro setor, realiza uma série de estudos e conta com a parceria da Semas (Secretaria Estadual do Meio Ambiente e de Fernando de Noronha) da CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente), e com apoio do GEF Terrestre, gerido pelo Funbio (Fundo Brasileiro da Biodiversidade) e pelo Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima. Nesta entrevista concedida a Cláudia Santos, o coordenador Técnico do Cepan Pedro Sena detalha as ações para concretizar a instalação dessas unidades de conservação que incluem formas de conservar a Caatinga com presença dos moradores sertanejos que serão capacitados para exercerem atividades de gestão participativa dessas unidades. Para iniciar a nossa conversa, gostaria que você explicasse o que é o Cepan (Centro de Pesquisas Ambientais do Nordeste)? É uma instituição do terceiro setor especializada em soluções baseadas na natureza, no entendimento do capital natural e em políticas públicas. Criada há 24 anos, por um grupo de pesquisadores na UFPE, foi aumentando sua atuação até o momento em que desacoplou das pesquisas mas manteve essa raiz. Quanto às soluções baseadas na natureza, boa parte das ações do Cepan se concentra em restauração de florestas, plantio, recuperação de áreas degradadas e conservação. Hoje, atuamos no Brasil todo mas, basicamente, na Chapada do Araripe no Ceará, Pernambuco e Piauí. Temos muitos hectares de Mata Atlântica restaurados na Paraíba e de áreas indígenas no Espírito Santo. Também temos o projeto que abrange toda a região da Caatinga de Pernambuco, onde o que preservamos nesse bioma é adicionado à meta de conservação da Caatinga do Brasil. Em que consiste esse estudo sobre a restauração da Caatinga? Esse estudo não é de autoria do Cepan. É da fundação IDH junto com o Instituto WRI Brasil, que são parceiros nossos. Eles utilizam a metodologia Roam, idealizada pelo WRI, e o Cepan já a aplicou, em Pernambuco, em 2019. Nesse método, é feita uma avaliação multidisciplinar que envolve o mapeamento físico dos locais degradados, identificação de atores sociais, validação de números e diálogo com a sociedade em oficinas participativas. Então, visitam-se esses hectares avaliados como importantes para restauração, identificando formas de conservar e de restaurar, sobretudo, englobando as pessoas, pois a Caatinga é um sistema socioecológico, não há como desacoplar o ser humano desse bioma. Por isso, esse estudo promove a restauração ecológica: plantar árvores onde é necessário, colocando pessoas e animais nessa área a ser restaurada. Inclusive o bode, um animal que pode ser ruim para restauração do bioma, mas eles encontraram um jeito de incluí-lo. Além disso, usam-se sistemas agroflorestais que são meios de “ganhar dinheiro” com a floresta, deixando-a crescer de forma sustentável. A produção de mel é um exemplo. Hoje, há cerca de 10% da Caatinga no País protegida em unidades de conservação. Desses, apenas 2% são de proteção integral, uma categoria mais restritiva que garante que aquela floresta não vai ser derrubada, vai se manter ao longo da vida. Mas, essa porcentagem é muito pequena. Se essa situação se perpetuar, o que pode acontecer com o bioma? Se não aumentarem as áreas de conservação, não há como garantir a biodiversidade da Caatinga, que é única. Ela tem muitas espécies exclusivas, chamadas endêmicas, como certos tipos de peixes. Ou seja, há açudes, reservatórios de água, com peixes que só ocorrem na Caatinga. Se esses locais não forem protegidos, essas espécies podem se perder para sempre. Para além da biodiversidade, é preciso considerar também as pessoas. Se não conservarmos a Caatinga, que possui muitas áreas de serra, não teremos, por exemplo, a recarga hídrica, o reabastecimento dos lençóis freáticos tão importantes para quem vive na área e precisa de água. Além disso, há vários outros serviços ambientais, como o carbono que essas florestas retiram da atmosfera. Se essas áreas forem perdidas, haverá um débito nesse sentido. Assim, há muitas justificativas ecológicas e sociais para preservação desse bioma, inclusive a conexão psicológica e sentimental do povo sertanejo com a Caatinga. Por isso, ações de conservação são importantes. Nossa proposta é aumentar a conservação em cerca de nove mil hectares a mais de áreas protegidas da Caatinga em Pernambuco. E como essa proposta vem sendo colocada em prática? Quais instituições estão envolvidas? O Cepan é apenas o executor da proposta. Há outros atores: o Ministério do Meio Ambiente; a Semas (Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e de Fernando de Noronha de Pernambuco); a CPRH (Agência Estadual de Meio Ambiente), que é o órgão que vai cuidar dessas áreas de conservação quando forem criadas; o Global Environment Facility, em português, Fundo Global para o Meio Ambiente, que envia recursos para o Fundo Brasileiro para a Biodiversidade que, por sua vez, repassa esses recursos para o terceiro setor. Essa é a cadeia de governança da nossa proposta, que começa pela etapa de divulgação e apresentação do projeto para a sociedade, tanto de forma ampla, quanto específica nas áreas que vamos criar. Nesta etapa, conversamos com as prefeituras e com as pessoas nos municípios em que as áreas estão localizadas. São

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"Novos ciclos de investimentos com grandes empresas serão divulgados em breve"

André Teixeira Filho, presidente da Adepe, explica as ações da agência para desenvolver o Estado, como os incentivos aos arranjos produtivos locais, fala dos gargalos na infraestrutura logística e no abastecimento hídrico, e afirma estar otimista com a perspectiva de aportes de players industriais em Pernambuco. Passado o imbróglio mais tenso da Reforma Tributária, em especial nas questões relativas aos incentivos fiscais, o presidente da Adepe (Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco) André Teixeira Filho está otimista com a chegada de novos investimentos ao Estado. Ele reconhece que existem gargalos de infraestrutura porém afirma que já estão sendo enfrentados pelo governo, como a condição das estradas. “A governadora vem anunciando rodovias que estão sendo revitalizadas ou duplicadas, como a BR-232 e a BR-104”, ressalta. Natural de Caruaru, onde foi secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Economia Criativa, ele também conhece de perto os problemas de abastecimento de água em Pernambuco. Uma situação corroborada, segundo ele, pelas dificuldades financeiras da Compesa. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele fala da perspectiva de reestruturar a empresa com um empréstimo de R$ 1,1 bilhão (já aprovado pelo Senado) e da possibilidade de uma parceria público-privada. Também informa sobre as ações da agência para incentivar os arranjos produtivos locais e dos planos de estimular o audiovisual no Estado. Quais são os planos da sua gestão à frente da Adepe e como as mudanças na Reforma Tributária impactaram o trabalho da agência que atua com incentivos fiscais para atrair investimentos? Um dos grandes pontos da nossa gestão é a atração de investimentos. Minha gestão iniciou em março de 2023, no acaloramento da Reforma Tributária, que impacta na chegada de novas indústrias e de ciclos de investimentos. Ou seja, um cenário de insegurança no Brasil em que muitas empresas não conseguem investir sem saber o que vai acontecer. Isso dificulta a tomada de decisão. Ainda assim, conseguimos fechar novas atrações de investi mento das empresas Solar Coca-Cola e Ball. Somando as duas, temos quase R$ 700 milhões de novos investimentos. Também teremos um novo ciclo de investimentos da Stellantis, com R$ 13 bilhões. A atração de investimentos é um processo capitaneado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico. Quando houve uma decisão em torno da Reforma Tributária, conseguimos destravar algumas negociações, que já estão em curso, com grandes fábricas. Isso vem sendo possível porque a governadora do Estado Raquel Lyra brigou pela reforma e pelo novo ciclo de incentivo fiscal das empresas automotivas que saíram de Pernambuco. Depois de tudo isso, eu vejo novos ciclos de investimentos com grandes empresas que serão divulgados em breve. A logística e a infraestrutura são gargalos na atração de investimentos. O que vem sendo feito, neste sentido? Para haver investimentos, é preciso ter estradas boas e uma boa logística. A governadora vem anunciando rodovias que es tão sendo revitalizadas ou duplicadas, como a BR-232 e a BR-104. Estamos fazendo investimento em pouco mais de R$ 2 bilhões para melhorar as estradas e trazer novas indústrias, pois sem es trada não existe logística. E, quando falamos da PE-60, falamos também da Solar que está sediada em Suape e se comprometeu a investir, sabendo que a gente vai fazer um grande investimento entre R$ 60 e R$ 80 mi lhões na estrada. Recentemente conseguimos, junto ao Governo Federal, mais de R$ 100 milhões para melhorar a dragagem inter na do Porto de Suape e conseguir receber navios maiores. Isso vai facilitar que novas rotas cheguem aqui. Eu estou extremamente animado para os próximos anos no Estado. Além das obras de infraestrutura feitas pelo governo para viabilizar melhorias logísticas, a própria Adepe realiza obras para apoiar a implantação de empreendimentos. A agência conduz a aplicação de R$ 52 milhões em obras de requalificação de distritos industriais, mercados públicos e centros comerciais em 13 cidades com o objetivo de proporcionar infraestrutura adequada para operação de empreendimentos em todo Estado. Entre os municípios beneficiados estão Exu, Vitória de Santo Antão, Escada, Canhotinho, Pesqueira, São Bento do Una, Lagoa Grande, Abreu e Lima, Caruaru e Taquaritinga do Norte. Outro fator de impacto na infraestrutura é o abastecimento de água. Como está essa questão, principalmente no interior? A situação da Compesa é que (salvo engano, na ordem de grandeza) a governadora já teve que colocar do caixa do Estado de R$ 300 a R$ 400 milhões só para manutenção da empresa. Não é investimento. Estamos fazendo uma reestruturação e, agora, para investimento estamos fazendo um empréstimo de R$ 1,1 bilhões para que a Compesa consiga prometer e entregar muita coisa que estava no papel há décadas. É o caso da Adutora do Agreste. A gente conseguiu também muita coisa com pequenos investimentos. Tanto a governadora quanto eu somos do Agreste de Pernambuco que é a região que tem mais gente e menos água no Brasil, nascemos com falta de água. Então, uma das cinco principais propostas da governadora é levar água para o Estado como um todo, começando com água encanada nas casas das pessoas. Por isso está se pensando o que fazer com a Compesa daqui para frente, ela tem que ser autossustentável e tem que voltar a fazer investimento em Pernambuco. Qual seria esse futuro? Está em vista a privatização da Compesa, como vem acontecendo na Sabesp? Não. Privatização a governadora já disse que não faz, mas ela está aberta a parcerias público-privadas. Uma concessão é uma parceria e, com ela, abre-se um novo ciclo de investimento. Então a gente está organizando a casa para que a conta seja de investimento e não de manutenção. O pagamento da dívida passada é obrigação do Estado, mas investimentos futuros podem ser feitos por meio de uma parceria com o setor privado. Em relação ao Polo de Confecções, que apesar de sua pujança, enfrenta ainda dois grandes gargalos: a informalidade e o uso de práticas que danificam o meio ambiente. Como a Adepe tem atuado nessas duas áreas? A gente vem trabalhando primeiro com capacitação e qualificação do Polo de Confecções. Rodamos agora uma qualificação para ajudá-los a exportar. Ou

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"A saúde emocional dos profissionais é um ponto que deve ter muita atenção das empresas"

Carolina Holanda, psicóloga e sócia da TGI analisa as transformações provocadas pela pandemia no trabalho, afirma que ficou ainda mais evidente a importância das habilidades socioemocionais dos funcionários e alerta para a necessidade de os gestores se preocuparem com a saúde mental de sua equipe. A pandemia trouxe grandes mudanças para as empresas e os profissionais. Ambos tiveram que se adequar à realidade do home office e, agora, com a possibilidade do retorno ao trabalho presencial, o regime híbrido tem sido adotado em muitos ambientes corporativos. Mas como a Covid-19 abalou a condição psicológica de boa parte da população do planeta, essa consequência, inevitavelmente impactou o mundo laboral. A psicóloga Carolina Holanda, sócia da TGI, ressalta que todas essas repercussões levaram a uma necessidade ainda maior dos gestores de cuidarem e se preocuparem com seus funcionários. O momento também deixou ainda mais notória a importância da inteligência emocional como uma das habilidades necessárias aos trabalhadores contemporâneos. “Ficou evidente que profissionais que tinham desenvolvido mais competências socioemocionais souberam lidar melhor nas situações de crise”, constata a consultora da TGI. Nesta entrevista à Cláudia Santos, Carolina analisa esses impactos da pandemia, fala da importância da diversidade nas equipes e fornece algumas dicas para entrar no mercado de trabalho. Passada a fase mais crítica da pandemia, podemos dizer que o trabalho híbrido veio para ficar? Por quê? O modelo de trabalho híbrido é realmente uma tendência que deve ficar cada vez mais forte nas empresas daqui pra frente. Isso porque durante o período de isolamento e do trabalho remoto, provocados pela pandemia, em muitas empresas se observou um aumento de produtividade, redução dos custos empresariais, além de um maior sentimento de bem-estar nos profissionais. Eles puderam no período de home office ficar mais próximos da família, não enfrentar o estresse do trânsito, reduzir os gastos pessoais. Porém, ao mesmo tempo, enfrentaram desafios ao tentar conciliar a rotina de casa com a do trabalho e dar conta das inúmeras demandas com a família. Se por um lado, teve ganhos, por outro lado, sentiram também a perda da troca de experiência com os colegas ou com seu gestor, de ter uma melhor definição do horário de trabalho (em casa, boa parte, trabalhava mais horas do que no escritório) e de poder sair do mesmo ambiente. Do mesmo modo, muitas empresas também sentiram o peso de ter toda a equipe distante, com perda da integração e das possibilidades de construção conjunta e até uma menor agilidade na tomada de decisão. Também com a pandemia, veio a necessidade de as empresas prestarem mais atenção a um ponto que impacta diretamente o desempenho das pessoas: a saúde emocional. Então, oferecer um modelo de trabalho mais flexível, com possibilidade de os profissionais alternarem idas ao escritório com dias de home office tem sido uma boa alternativa para os dois lados. Empresas com profissionais mais satisfeitos e produtivos terão melhor resultado e um clima de trabalho mais saudável. Porém, é importante ressaltar que o modelo de trabalho hibrido nem sempre é adequado para todas as empresas e segmentos, seja porque a empresa ainda não se sente preparada para lidar com esse modelo ou pela demanda de ter profissionais presentes integralmente na estrutura física. Não existe um modelo único que cabe para todas as empresas. Quais são as condições necessárias para as pessoas serem produtivas em home office? Primeiro passo é definir em qual local da casa você vai trabalhar, que além de ter as condições mínimas como uma boa internet, deve ser um espaço reservado livre de interrupções constantes e barulho. Não podemos esquecer de definir um horário para começar e terminar o expediente, levando em conta sua jornada de trabalho habitual. A segunda dica é se organizar. Definir uma rotina que contemple todas as suas obrigações profissionais e pessoais, sem permitir que uma prejudique a outra. É fundamental definir seu plano de atividades a cumprir no dia, elencadas por prioridade, e ter clareza de quais entregas do trabalho precisa realizar. Sem esquecer, inclusive, das reuniões remotas que podem estar programadas. O fato de estar em casa, muitas vezes, leva a um certo desleixo com esses agendamentos. Devemos nos comportar como se estivéssemos na empresa e nos mantermos prontos para fazer uma chamada por vídeo com um cliente ou gestor de última hora. Não vale ficar de pijama ou desarrumado só porque está em casa. Sozinhos e em casa pode ser mais difícil evitar as distrações e ter a disciplina necessária para não cair em algumas armadilhas como: “vou deixar para amanhã, quando chegar no escritório”, fazer uso excessivo das redes sociais ou envolver-se nas demandas do lar fora do horário previsto, principalmente quando se tem criança em casa. Esse, de fato, é um grande desafio e pode não parecer fácil porque, para algumas crianças, os pais estarem em casa significa que estão disponíveis para brincar ou dar atenção. Minha sugestão é sempre conversar, explicando que agora o modelo de trabalho está diferente e combinar minimamente alguns acordos para evitar as interferências. E, claro, sempre após o expediente de trabalho, dedicar-se a fazer alguma atividade com os filhos. Como tem sido o retorno ao trabalho presencial, mesmo que seja híbrido? Tenho percebido que agora está mais tranquilo e com menor receio com a redução expressiva do risco de contaminação. Além disso, como falei no início, muitos profissionais estavam sentindo falta da dinâmica que há nas empresas, das trocas, da possibilidade de voltar a ter mais integração. Muitos estão precisando reorganizar suas rotinas considerando o tempo de deslocamento novamente, a logística familiar e a saudade da comodidade de estar em casa. Há, também, os que estão passando por problemas emocionais, como ansiedade, depressão ou doenças psicossomáticas e doenças físicas, ambos impulsionados por tudo que viveram durante a pandemia. Tudo isso acaba impactando na produtividade, engajamento e motivação dos profissionais e fica cada vez mais evidente que saúde emocional é, sim, um ponto que deve ter muita atenção das empresas. Os gestores precisam ter sensibilidade para identificar os sinais de que

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DRA ANA ELIZABETH CRIANCA COMPORTAMENTO

"Depois da pandemia, as crianças estão desmotivadas e com dificuldade de acompanhar a aula"

Ana Elizabeth Cavalcanti, psicanalista integrante do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem), avalia o impacto da pandemia no desenvolvimento e na saúde mental das crianças e adolescentes, o estresse sofrido pelos pais e analisa os problemas provocados pelo retorno às aulas presenciais nas escolas. Passado o período mais intenso de isolamento e das aulas 100% online (medidas adotadas no auge da pandemia) ob- serva-se nos estudantes a dificuldade do convívio social, um comprometimento do aprendizado e, sobretudo na população adolescente, um aumento nos índices de depressão. Para conversar sobre esse impacto da crise sanitária da Covid-19 nas vi- das dos alunos, Cláudia Santos conversou, por videoconferência, com a psicanalista Ana Elizabeth Cavalcanti, integrante do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem). Ela abordou a culpa dos pais por não corresponderem a um “ideal de família feliz” impossível de alcançar durante a situação de confinamento (como dar conta do trabalho remoto, da assistência ao ensino online dos filhos e do cuidado com a casa). A psicanalista tam- bém ressalta a dificuldade de crianças e adolescentes de se rea- daptarem às aulas presenciais e orienta como ajudá-los. Qual o impacto da pandemia no desenvolvimento da criança? O impacto é inquestionável e varia com a idade, a classe social, as condições que as crianças tiveram durante a pandemia. Uma pesquisa mundial da Unicef, na qual entrevistaram os pais, mostra que 63% deles tiveram perda financeira na pandemia e 6%, não tiveram o que comer. Aqui as pesquisas também apontam nessa direção. Isso gera insegurança, desespero, violência. Algo fundamental para ser levado em consideração é o confinamento, que implicava em você estar em casa com as crianças (aquelas que puderam ter essa condição). Algumas crianças ficavam em situações deploráveis, a violência doméstica explodia, em razão da convivência demasiada. Outro ponto crucial é a privação da escola. O Brasil foi o país que teve mais semanas sem aulas presenciais do mundo. Enquanto a média mundial foi de 20 semanas, nós chegamos a 70 semanas. Ficou muito visível o que representa a escola que, além da evidente função da educação formal, implica também, desde questões básicas de um espaço onde as crianças podem comer melhor, até a sua importância no desenvolvimento do contato social, da transmissão dos valores. De repente, elas se viram privadas de tudo isso. A escola é o espaço onde a criança vai aprender a lidar com as vicissitudes do seu desejo. Ela quer sempre fazer o que quer, objetalizar o outro. O que faz com que isso não se exacerbe é o exercício do convívio social. Somos todos agressivos? Sim. O que faz com que não nos matemos uns aos outros – até que se mata, mas não no nível de nos exterminarmos? É justamente esse exercício de relação entre as pessoas. Na escola acontece muito de um coleguinha morder o outro. O coleguinha chora, dizemos para a criança pedir desculpas. Depois, morde novamente e fazemos a mesma coisa. Esse é o exercício. A privação disso é expressa pela tendência ao isolamento. As depressões e as crises de ansiedade, sobretudo nos adolescentes, estouraram, assim como os índices de automutilação e suicídio. Para as crianças mais precoces, que estavam no infantil e na alfabetização, foi um desastre completo do ponto de vista afetivo emocional, porque sabemos a importância da escola nessa faixa etária. Existem crianças, por exemplo, que não falam e quando entram na escola começam a falar, em dois meses. Nas crianças com mais idade, vimos que todos esses componentes da sociabilidade da escola estavam lá presentes, mas houve também o comprometimento da educação formal. Os efeitos já são visíveis, mas serão ainda mais à proporção que o tempo passa. Do ponto de vista da saúde mental, pessoas de todas as idades foram atingidas. As mães que foram para a maternidade no auge da pandemia, não puderam ser visitadas, não contaram com o apoio dos familiares ou de outras pessoas, porque todos estavam confinados. Nas classes médias não tinha quem ajudasse na manutenção da casa. Tudo sobrou para os pais, que muitas vezes já tinham outra criança. Uma situação adversa para a chegada de um bebê. Os bebês que estavam confinados junto com os pais passaram a ver todas as outras pessoas que não estavam em casa – avós, tios, os primos, os amigos dos pais – mascarados. O rosto é uma referência importante porque é por ele que passam as mensagens afetivas. Esse foi um dos motivos que aumentou o número de diagnóstico equivocado de autismo. Se a criança está nesse contexto, privada de estimulação, sem conviver, sem ter acesso aos rostos humanos, é claro que farão uma sintomatologia como atraso de linguagem, irritabilidade, dificuldade de convivência, tendência a isolamento. Do meu ponto de vista fazer um diagnóstico de autismo nesse caso é um equívoco enorme. Outro componente fundamental é a presença das telas inclusive para bebês, numa situação muito especial porque os pais precisavam trabalhar, cuidar da casa, não havia maldade nisso. Qual o impacto da tela nas crianças? Sabemos que a exposição excessiva à tela coloca a pessoa numa situação de passividade. A criança desenvolve a linguagem e a capacidade de pensar na interação ativa, responsiva com outro. Na medida em que grande parte do seu tempo é ocupado pela tela, em que ela se coloca de forma passiva, com pouca capacidade de reagir a isso, é uma questão que preocupa. Outra consequência é a pouca aptidão para desenvolver relações na presença do outro, porque há uma tendência, não só nas crianças muito pequenas, mas também nas maiores e nos adolescentes, de ficarem naquele isolamento que a tela permite. No caso de crianças maiores, outra preocupação é a exposição a conteúdos que não são adequados. Temos visto muito na clínica o acesso a conteúdos difíceis, como pornografia e violência, que são acessados pela criança e absorvido por ela sem nenhuma mediação. A pandemia sobrecarregou os pais, que ficaram mais estressados, com home office, e por ajudar no ensino online dos filhos. Esse estado emocional dos

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Roberto Gusmão: "Nós vamos ter a Transnordestina aqui"

O presidente de Suape Roberto Gusmão está atento à votação de dois projetos de lei que estão próximo de serem votados no Congresso. Um deles é a lei chamada BR do Mar, que incentiva a navegação de cabotagem, feita nos portos dentro do País. Atualmente, só empresas brasileiras com navios próprios podem operar o serviço no Brasil. Pela BR do Mar, o mercado seria aberto a companhias sem frota própria, que poderiam alugar embarcações estrangeiras, desde que 2/3 da tripulação seja de brasileiros. O outro projeto é a PL 261, de autoria do senador José Serra (SP), que permite a uma empresa privada concluir obras de ferrovias, como a Transnordestina. Seria a oportunidade para Pernambuco concluir o trecho de Salgueiro a Suape, que está parado há anos. Grupos, como os que detêm as jazidas de minério de ferro, no sul do Piauí, que seriam transportadas pela Transnordestina, poderiam se interessar. Nesta entrevista a Cláudia Santos, no último dia 16, Roberto Gusmão comenta como essas novas legislações podem beneficiar o porto pernambucano. Gusmão também apontou soluções para tornar a movimentação de contêineres mais competitiva, a atração de players do setor metalmecânico para o complexo e a perspectiva de o Estado se tornar o principal produtor ensavador de gás de cozinha do Nordeste. Suape obteve o aval da Capitania dos Portos para receber navios de 366 metros de comprimento. De que forma essa autorização vai estimular a movimentação do porto? Esses navios apresentam um comprimento que é fundamental para que se tenha o maior número de contêineres carregados. São navios como o que interrompeu o Canal de Suez. Eles serão o futuro. O Panamá gastou US$ 3 bilhões para fazer uma outra passagem no seu canal que contemplasse o comprimento e a largura desses navios, que não estão ainda operando no Brasil. Um dos portos que primeiro conseguiu a autorização foi o de Santos, que é o maior da América Latina. Pela nossa estratégia de médio a longo prazos, precisamos já estar habilitados para quando houver essa demanda. Além disso, conseguimos, em março, do Ministério da Justiça e da Segurança a deliberação de que o Complexo de Suape está habilitado também quanto à segurança, no grau de risco dos portos. Muitos poucos portos têm essa certificação. O senhor mencionou o Canal do Panamá, e há uma expectativa que com a sua ampliação, Suape se consolidaria como um hub portuário. Os navios cargueiros provenientes principalmente da Ásia, trafegariam pelo canal e, em Pernambuco, passariam a carga para navios menores que a distribuiriam para outras localidades. Qual a perspectiva disso se tornar realidade? É uma perspectiva muito intensa. Hoje temos absoluta certeza que somos líder no Nordeste, principalmente nessa parte de cabotagem, que é a navegação no nosso próprio litoral. Existe uma lei que está sendo estabelecida que é a BR do Mar. Ela regulamenta essa questão da cabotagem, estabelecendo-a como prioridade, inclusive com uso de embarcações internacionais, salvaguardando a questão da mão de obra. Como somos líder em cabotagem, acreditamos, não só pelo Porto do Panamá, mas mesmo nas diversas rotas que há no mundo, que estamos habilitados e em condição de ser um hub. Já somos um hub de granéis líquidos, na parte de combustível, e nos habilitamos a ser também hub em todos os tipos de carga do Nordeste, pela localização privilegiada, pela profundidade do nosso canal (que tem quase 15,60 m e chegará em 20m), pela estrutura e infraestrutura do porto e do Complexo de Suape como um todo, mas principalmente pelo mercado. Estamos rodeados por cinco grandes capitais do Nordeste com 45 milhões de consumidores, num raio de até 800 km, o que faz com que Suape seja extremamente competitivo na parte logística, tanto do transbordo como você falou – isto é, os navios vêm carregados, deixam uma parte aqui e vai distribuindo em outros portos – como também a questão da carga completa aqui em Suape e a distribuição em caminhões para pequenas distâncias. Qual a sua expectativa para a votação no Senado do projeto BR do Mar? Acredito que serão aprovados agora neste primeiro semestre não só o BR do Mar, mas também o projeto de lei do senador José Serra (PL 261), que permite a um ente privado concluir os trechos que ainda estão faltando de ferrovias, como a Transnordestina. Hoje, se a decisão da conclusão da Transnordestina for técnica, não tenho dúvida de que Suape será o beneficiado (entre os trechos da obra que estão incompletos estão: de Salgueiro a Suape, que beneficiaria o escoamento de cargas pelo porto pernambucano, e da cidade de Missão Velha ao Porto de Pecém, que favorece o porto cearense). Mas, mesmo que a decisão não for técnica, nós nos habilitaríamos a fazer o trecho que está faltando de Salgueiro até Suape, por meio da iniciativa privada, com a chamada outorga autorizativa. Um ente privado, em vez de esperar que o governo faça uma concessão e essa concessão passe por uma licitação, ele faz uma proposição ao Governo Federal para autorizar fazer aquele trecho que ainda não foi feito. Hoje a concessão da Transnordestina está se arrastando há mais de 15 anos com um grupo que não tem uma estratégia muito bem definida como negócio. Agora, estamos falando de grupos que têm diversas jazidas de minério de ferro extremamente competitivos e que precisam de ferrovia para poderem se integrar a portos no Brasil como um todo, mas que hoje precisam de uma concessão, o que demanda um prazo muito grande, e agora vão poder fazer por meio de uma outorga de autorização. Assim, vamos conseguir ter a nossa Transnordestina para que possamos fazer um escoamento de cargas não só do Piauí, que tem diversas jazidas, principalmente de minério de ferro, mas também das outras mercadorias que Pernambuco também é líder nacional, como a gipsita (o gesso do Araripe) e as frutas do São Francisco. Será que finalmente a Transnordestina será concluída? ANTT (Agência Nacional do Transporte Terrestre) e o Tribunal de Contas sugeriram a caducidade da atual concessão da

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“A cúpula militar da ativa tem se mostrado preocupada com a forma de ação de Bolsonaro.”

A democracia brasileira corre perigo? Declarações de duas figuras próximas ao presidente Jair Bolsonaro, feitas na semana passada, levaram muitos brasileiros a fazer essa pergunta. O deputado Daniel Silveira divulgou um vídeo defendo o fechamento do Superior Tribunal Federal e fez apologias ao AI-5. Já o general Eduardo Dias da Costa Villas Bôas lançou um livro no qual conta em detalhes o tuíte que fez em nome do Exército pressionando o Supremo, às vésperas do julgamento de um pedido para evitar a prisão do ex-presidente Lula. Para Ricardo Sennes, economista e doutor em ciência política, porém, não há sinais de um alinhamento dos oficiais da ativa das Forças Armadas com intenções golpistas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele analisa as consequências dessas declarações, o posicionamento de Bolsonaro e as ações do STF. A prisão de Daniel Silveira pode ser uma limitação da imunidade parlamentar e do uso das mídias digitais pelos políticos? Aqui é necessário separar conteúdo/mérito e forma/procedimento. No conteúdo acho que é bastante defensável que o deputado cruzou a linha do aceitável em termos de atentado contra a ordem democrática. Se sua fala fosse isolada e em tempos de menos tensão institucional, acho que não teria o tratamento que teve. Porém, no contexto atual, foi claramente um chamado à ação dos grupos políticos mais radicais do País contra as instituições. Ademais, ele não é um cidadão qualquer. Ele é um deputado federal, uma autoridade constituída, portanto, com responsabilidades públicas evidentes. Nesse sentido, acho que claramente cometeu um crime contra a ordem democrática e a paz social. No que tange à forma, aos procedimentos, acho que novamente o STF errou. Acho que existem instituições com funções precípuas para abrir inquéritos, fazer acusações e investigações. Acho que seria função dessas instituições, com destaque para a PGR, que poderia iniciar esse processo investigativo e mesmo solicitar prisão preventiva. Acho bastante preocupante a forma pela qual o STF chamou a si esse tipo de autoridade que constitucionalmente não tem. A omissão de instituições como o Congresso em outros casos de ataques ao STF e a apologia à volta do AI 5 – alguns vindos do próprio clã Bolsonaro – incentivam outras pessoas a seguirem esse comportamento? Creio que o deputado cometeu um crime, portanto, não cabe ao Congresso agir no campo criminal ou judicial. Cabe às instâncias judiciais. Ao Congresso caberia tratar de forma exemplar esse tipo de ação. A essência do parlamento é a tolerância, o respeito à Constituição e ao jogo democrático. Todas as ações de membros que atentam contra isso estão fora do decoro e do juramento que seus membros estão obrigados a seguir. O deputado Daniel Silveira claramente atentou contra esses fundamentos e me parece óbvio que deveria ter seu mandato cassado. Declarações como as de Daniel Silveira e do general Villas Bôas – sobre o posicionamento do Alto Comando do Exército em favor da prisão de Lula – colocam em xeque a democracia brasileira? Acho que esses eventos são de ordem bastante distintas. Obviamente nenhuma das declarações contribue para a normalidade democrática no País. Mas são eventos que correm em raias diferentes. As posturas dos militares na ativa e os da reserva têm sido muito diferentes. Até onde acompanho, a postura da cúpula militar da ativa tem se mostrado bastante preocupada com a forma de ação do presidente Bolsonaro e seu grupo. Já deram recados sobre isso. Talvez menos enfáticos do que gostaríamos, mas têm sido dados. O histórico do deputado Daniel é completamente em outro sentido. É uma pessoa claramente perturbada. Sua passagem pela PM do Rio de Janeiro foi completamente atribulada. Recebeu centenas de punições, processos, foi preso várias vezes. Vejo-o como uma figura menor buscando achar um espaço dentro dos grupos mais radicais da base bolsonarista. É grave, mas faz parte de outra dinâmica política que, infelizmente, está presente no País. LEIA A ENTREVISTA COMPLETA NA EDIÇÃO 179.4 DA REVISTA ALGOMAIS: assine.algomais.com

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Gustavo Escobar: “Se sua empresa sequer começou a implantar a LGPD, então corra!”

Vivemos, no cotidiano, informando nossos dados pessoais a todo momento: quando entramos num prédio empresarial e nos identificamos, quando fazemos uma compra online, ou quando nos cadastramos numa rede social, só para ficar em alguns exemplos. Com a instituição da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que entrou em vigência semanas atrás, as empresas passaram a ter uma série de obrigações para preservar a privacidade dessas informações das pessoas, sejam clientes, fornecedores e até empregados. Muitos empresários, porém, segundo o advogado Gustavo Escobar, ainda não atentaram para a urgência da sua adequação às exigências da nova lei. O que é temerário: entre as penalidades previstas está a multa de até R$ 50 milhões. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Escobar, que é especialista em propriedade intelectual e proteção de dados, explica detalhes da LGPD, o que é necessário para se adaptar às suas determinações e alerta que essa adequação já deveria ter sido feita pelas empresas. Você poderia dizer, em linhas gerais, o que estabelece a Lei Geral de Proteção de Dados? A LGPD cria um sistema de proteção e regula o uso dos dados pessoais pelas empresas. Até hoje, o tratamento desses nossos dados não tinha uma proteção mais robusta. Com a vigência da lei, há uma mudança de cultura que coloca as pessoas (titulares dos dados), ou seja, todos nós, no centro da atenção e no controle das nossas informações. A legislação, em síntese, determina que o consentimento para uso dos dados pessoais deve ser a regra e cria todo um sistema legal para fazer valer essa previsão, inclusive com multas pesadas. A lei considera dados pessoais toda informação que identifique ou possa identificar uma pessoa física. Ela se aplica a todos que fazem tratamento de dados de clientes, funcionários, fornecedores etc. Na verdade, na prática, todas as empresas serão impactadas e precisarão se adequar à LGPD. Usando o teor da própria legislação, podemos dizer que a lei tem como fundamentos: “o respeito à privacidade; a autodeterminação informativa; a liberdade de expressão, de informação, de comunicação e de opinião; a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem; o desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; os direitos humanos, o livre desenvolvimento da personalidade, a dignidade e o exercício da cidadania pelas pessoas naturais”. Por que a lei foi criada? Desde a década de 90, na Europa, existem iniciativas que visam a preservar a privacidade e a proteção aos dados pessoais. À medida que o uso desses dados foi crescendo por parte das empresas, também aumentou a preocupação de todo o mundo civilizado com a necessidade de impor limites e regras. Com o crescimento exponencial do tratamento de dados, a partir do desenvolvimento tecnológico e da velocidade da internet, com o surgimento do chamado big data, redes sociais e depois dos escândalos envolvendo o Facebook e a empresa Cambridge Analytica, que foi acusada de usar massivamente os dados de usuários daquela rede social para manipular a opinião política e influenciar no resultado de eleições, houve praticamente um consenso de que era necessário se fazer algo para impor limites a esse uso indiscriminado de nossos dados pessoais. É nesse cenário que, na Europa, surgiu o RGPD (Regulamento Geral de Proteção de Dados), criando as bases para várias legislações nacionais, inclusive, para a nossa LGPD. É preciso compreender que no cenário de globalização e interconectividade, os dados transitam sem fronteiras entre servidores e computadores que estão localizados em países e mesmo continentes diferentes. Dessa forma, para preservação de tratados internacionais e reciprocidade entre as nações, o Brasil foi induzido a se adequar ao status quo que regula a proteção de dados pessoais. É assim que temos a atual legislação. Os países mais avançados impõem essa regra aos demais, as empresas multinacionais se adequam e passam a pressionar a sua cadeia de fornecedores a se adequar para poderem continuar a fazer negócios e, desta forma, de cima pra baixo, vai surgindo um movimento que passa pela legislação até às cláusulas dos contratos e obrigações de compliance, chegando às pequenas e médias empresas. O que é ANPD (Autoridade Nacional de Proteção de Dados)? A Autoridade Nacional de Proteção de Dados é o órgão criado pela LGPD que, com autonomia técnica, tem várias funções associadas à implementação, cumprimento e eficácia da proteção de dados no Brasil. A ANPD tem funções que vão desde “elaborar diretrizes para a Política Nacional de Proteção de Dados Pessoais e da Privacidade”, passando por “editar regulamentos e procedimentos sobre proteção de dados pessoais e privacidade”, como também “editar normas, orientações e procedimentos simplificados e diferenciados, inclusive quanto aos prazos, para que microempresas e empresas de pequeno porte, bem como iniciativas empresariais de caráter incremental ou disruptivo que se autodeclarem startups ou empresas de inovação, possam adequar-se a esta Lei”, até à imposição de pesadas sanções em casos de violações à lei, vazamento de dados, etc. Quais as consequências da LGPD para as pessoas físicas? O que acontece se os dados de alguma pessoa vazar? Na verdade, para as pessoas físicas, desde que não sejam responsáveis por tratamento de dados, a lei não tem consequências, mas sim, proteção. A LGPD protege os dados pessoais das pessoas naturais (pessoas físicas) e regula como e quando esses dados podem ser usados. Dessa forma, havendo vazamentos por parte de empresas que façam tratamento de dados pessoais (atualmente praticamente todas empresas), surge a possibilidade de que os titulares dos dados (pessoas físicas) possam acionar as empresas pedindo uma reparação moral pelo uso ou exposição indevida de seus dados. Assine a Revista Algomais e leia a entrevista completa na edição 174.4

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"As crianças têm demonstrado cansaço, ansiedade e desânimo com as obrigações online".

O isolamento social, em especial para crianças e adolescentes, já atravessa mais de um semestre. Com a mudança para as aulas online, as privações de várias atividades de lazer e dos contatos presenciais, os estudantes de diferentes idades vivem um fenômeno semelhante ao dos adultos que estão no home office: sensação de cansaço, fadiga, ansiedade e desânimo. Conversamos com a psicóloga do Colégio Equipe, Suzi Moura, sobre os efeitos colaterais da maior exposição das telas no desenvolvimento e no aprendizado das crianças e adolescentes. Como essa vida mais digital pode afetar a saúde e a qualidade de vida das crianças e adolescentes? Ela pode afetar de várias maneiras, mas, quando substitui as relações do mundo presencial pelo virtual, isso se torna mais grave. Precisamos considerar questões fundamentais no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes que envolvem o uso da tecnologia. Uma delas refere-se à educação digital, que ajudará as famílias a lidar com essa realidade que está posta, que é real e em que todos estamos imersos, que é o mundo digital. Todavia, tem outros fatores para os quais precisamos atentar, como, por exemplo, a relação da criança com o brincar, fator estruturante para seu desenvolvimento. A partir do momento em que as crianças substituem esse tempo de brincar para ficar por um período muito longo expostas às telas, elas perdem um tempo que é importantíssimo no mundo real e concreto, onde conseguem, por meio da brincadeira, transitar para o mundo da imaginação, e construir suas fantasias e significados para o seu viver. Do ponto de vista psíquico, essa experiência pode ajudar na prevenção de transtornos mentais futuros. Quando se retira isso e se coloca apenas a experiência digital, torna-se complicado, pois a criança vai deixando de adquirir habilidades estruturantes e socioemocionais. Para os adolescentes isso também é problemático? Sim. Quando o tempo é demasiado e o adolescente não consegue permanecer distante das telas, poderá haver risco quanto à dependência tecnológica, comprometendo a qualidade de vida e a saúde física e mental. Temos visto muitos adolescentes com dificuldade de estabelecer relações interpessoais e para fazer amigos presenciais, bem como aumento de sintomas de ansiedade e de fobias sociais. Hoje, vemos o "desligamento de pessoas" acontecendo de forma corriqueira no mundo digital. Existe um mundo muito aberto, há muitas oportunidades, tem muitas coisas boas, mas muitas inapropriadas para determinadas faixas etárias. O acompanhamento dos pais é imprescindível nesse cenário. As referências identificatórias para os adolescentes, tão importantes nessa fase, precisam acontecer no mundo real, com pessoas reais, pois no mundo virtual há facilidade das coisas acontecerem de forma instantânea e serem desfeitas com a mesma velocidade. Muitos adultos tem reclamado de muito cansaço e de maior carga de trabalho no home office. Na experiência escolar, os estudantes têm demonstrado a fadiga diante de tantas vídeoconferências e obrigações online? Sim, eles têm demonstrado fadiga, cansaço, ansiedade, desânimo e muita falta do contato físico, do olho no olho e da interação com professores e colegas. Antes pensávamos que o tempo de distanciamento social seria menor, mas já estamos com 6 meses de aulas em casa e on-line, e isso tudo contribui para um esforço cada vez maior para se manterem ativos e atentos. Fica mais difícil para eles corresponderem, uma vez que estão expostos às aulas remotas por um longo período. O corpo se movimenta menos, as pessoas estão no mesmo espaço fazendo tudo ao mesmo tempo, os intervalos ou pausas das atividades se tornam menores. Se estabelece uma relação limítrofe entre o tempo que se dispõe e o que precisa ser feito. Sendo assim, é necessário se organizar, criar uma rotina para que as coisas funcionem melhor. Quanto mais estruturado e organizado for, melhor será esse processo. Como é possível atender as necessidades temporárias desse novo normal (antes da volta completa das aulas) de uma maneira mais saudável e menos dolorosa? Incluir na rotina atividades relaxantes, que não sejam necessariamente produtivas, mas que sejam reestuturadoras, é muito importante, bem como se abrir espaço para se fazer o que se gosta, mesmo que esse tempo seja um pouco menor. Também se deve atentar para o tempo e a qualidade do sono. Sabemos que o sono fica mais difícil e artificial porque o corpo se movimenta menos. É o movimento do corpo, a atividade física, que dá aquele sono mais gostoso, mais profundo. Dessa forma, para administrar esse período de turbulências com menos prejuízo, torna-se necessário reconhecer e expressar os sentimentos, falando das angústias, dos medos, das perdas e da dor. A desatenção às atividades virtuais e o desempenho dos alunos são fatores que preocupam os sistemas de educação? Com certeza. Já é possível é perceber algumas vunerabilidades na construção do conhecimento e no desenvolvimento sociemocional dos nossos estudantes. Desse modo, serão necessárias atividades de avaliação diagnóstica para identificar as lacunas de aprendizagem e construir estratégias que ajudem a superá-las, assim como promover um tempo de acolhimento e acompanhamento voltados para as questões do cuidado com a saúde mental de toda comunidade escolar.

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Clélia Franco: "Pandemia trouxe grande prejuízo à qualidade do sono"

Se você está com dificuldades de dormir nesta quarentena, saiba que não é o único. Relatos sobre noites mal dormidas têm chegado com mais frequência nos consultórios médicos. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a neurologista especialista em medicina do sono e coordenadora do Departamento Científico de Sono da Academia Brasileira de Neurologia, Clélia Franco, explica os vários motivos que têm deixado as pessoas insones nesta pandemia. Clélia, que também atua no Hospital das Clínicas da UFPE, no Hospital Oswaldo Cruz da UPE e na Real Neuro do Hospital Português, também orienta como não passar as noites em claro, apensar dos problemas provocados pela Covid-19. Muitas pessoas têm reclamado da dificuldade de dormir na pandemia. Existem pesquisas revelando um aumento dos distúrbios do sono depois da decretação do isolamento social? O que elas mostram? Os estudos já publicados sobre o impacto da pandemia no sono das pessoas mostram que houve grande prejuízo na qualidade do sono em grande parte dos adultos e também nas crianças, com surgimento de transtornos como a insônia e os transtornos do ritmo circadiano (que determina as funções do ciclo biológico dos seres vivos num período de 24 horas, dentre elas o estabelecimento do sono e da vigília). Nesse caso, as pessoas passam a ter dificuldades para iniciar ou manter o sono. No caso da insônia, passam a ter ter vontade de dormir em horários irregulares do dia e falta de sono noturno. Quais os fatores que estão relacionados aos distúrbios do sono na pandemia? O estresse agudo, o medo, a insegurança relativos ao risco de adoecimento e morte pela Covid-19, às mudanças súbitas na rotina e contextos de vida, ao isolamento social, a perdas financeiras e emocionais relacionadas ao desemprego e afastamento entre pessoas, às dificuldades inúmeras de acessibilidade aos serviços pelo isolamento, o agravamento de doenças físicas e mentais preexistentes por dificuldades no acompanhamento durante a pandemia. Foram muitas restrições e mudanças súbitas gerando alta carga de estresse para a maioria das pessoas. Pessoas relatam também que, embora tenham mais tempo para dormir, a qualidade do sono piorou. Por que isso acontece? Porque quando a mente está intranquila ou em estado de alarme diante de uma ameaça ou problema (que foram ou são muitos durante a pandemia), os mecanismos neurais que mantêm a vigília – o alerta – ficam hiperativados. O eixo neuro-hormonal hipotálamo - hipófise - adrenal está hiperativo nessas situações de estresse e alarme, no estado hiperalerta. Com isso, maiores níveis de substâncias pró-vigilância estão atuantes no âmbito cerebral e sistêmico, tais como noradrenalina, adrenalina e cortisol, que prejudicam a atividade dos sistemas pró-sono ou de relaxamento, dificultando o início do sono ou deixando-o mais superficial e não reparador. Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa: http://assine.algomais.com/

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