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Covid-19: Crianças podem ser mais contagiosas que adultos, diz estudo da Harvard

Um estudo feito pela universidade americana de Harvard acrescenta mais informações para o debate sobre a reabertura das escolas. A pesquisa apontou que as crianças podem ter maior carga viral do novo coronavírus e serem mais contagiosas que os adultos. Segundo o UOL, principalmente nos primeiros dois dias de infecção, as crianças infectadas mostraram um nível significativamente mais alto do vírus em suas vias aéreas do que adultos hospitalizados em UTIs para tratamento com covid-19. As informações são do Massachusetts General Hospital (MGH), instituição afiliada à Harvard, e o hospital infantil Mass General (MGHfC). O estudo foi publicado hoje no "Journal of Pediatrics". Foram analisadas 192 pessoas com idades entre 0 e 22 anos. Dessas, 26% tiveram o diagnóstico de covid-19 e apenas 51% das infectadas apresentou algum sintoma do vírus, como a febre. Do total, 18 apresentaram sintomas da Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P).

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Exercício físico combate hipertensão em transplantados cardíacos

A hipertensão arterial é muito comum entre pacientes que passaram por um transplante de coração, ocorrendo em até 95% dos casos após os primeiros cinco anos de cirurgia. De acordo com um estudo conduzido na Universidade Estadual Paulista (Unesp) e na Universidade de São Paulo (USP), a prática regular de exercícios físicos pode ser uma forma de amenizar o problema. O estudo, apoiado pela FAPESP e publicado no European Journal of Preventive Cardiology, mostrou que a atividade física não apenas reduz a pressão arterial como aumenta a capacidade cardiorrespiratória de pessoas transplantadas. A melhora foi ainda mais significativa em pessoas com evidências de reinervação do músculo cardíaco, ou seja, aquelas cujos nervos voltaram a crescer em volta do novo órgão transplantado. “Durante a cirurgia, os nervos que fazem o controle dos batimentos cardíacos são cortados para a retirada do coração doente. Há indivíduos que apresentam boa reinervação do órgão transplantado após a cirurgia, principalmente durante o primeiro ano. Outros nem tanto, podendo até não apresentar nenhum sinal de reinervação”, explica Emmanuel Gomes Ciolac, professor da Faculdade de Ciências da Unesp, em Bauru, e coordenador do estudo. Segundo o pesquisador, mesmo tendo uma boa recuperação e melhora da qualidade de vida, boa parte dos pacientes operados apresenta alterações nos batimentos cardíacos, que ficam mais elevados no repouso e respondem mais lentamente ao esforço físico. “Esse prejuízo da inervação cardíaca, em conjunto com o uso de medicamentos para evitar a rejeição do órgão transplantado, está associado a um maior risco de desenvolver hipertensão arterial”, conta. No experimento descrito no artigo, um grupo de pacientes que havia recebido um novo coração há mais de um ano – período em que acontece a maior parte da reinervação do órgão transplantado – foi submetido a uma rotina de exercícios e avaliado segundo a capacidade cardiorrespiratória e a pressão arterial. Mesmo pacientes que não tinham evidências de reinervação obtiveram melhora nos dois quesitos. Porém, os benefícios foram maiores nos pacientes com sinais de reinervação. A pesquisa integra o projeto “Efeitos da atividade física em piscina aquecida versus atividade física em solo na densidade mineral óssea, capacidade física e composição corporal em transplantados cardíacos”, financiado pela FAPESP. De acordo com Ciolac, nos pacientes sem evidência de reinervação os batimentos cardíacos aumentam menos e mais lentamente durante as sessões de exercício. Tal fato pode explicar por que nesses indivíduos a prática de atividade física resultou em menor redução da pressão arterial. “Essa resposta cardíaca reduzida pode ter promovido menores adaptações cardiovasculares, incluindo a pressão arterial e a capacidade cardiorrespiratória”, afirma. Não existem ainda intervenções, sejam farmacológicas ou cirúrgicas, que possam aumentar a reinervação após o transplante. Voluntários Foram selecionados 33 pacientes para o estudo. Destes, 16 tinham evidência de reinervação cardíaca e 17 não tinham. Para saber quais voluntários se enquadravam em cada grupo, os pesquisadores usaram uma metodologia conhecida pela sigla CPX (acrônimo em inglês para teste de esforço cardiopulmonar). Para serem considerados com evidência de reinervação cardíaca, os pacientes caminhavam em uma esteira ergométrica e tinham de se enquadrar em pelo menos dois de três critérios. Nos primeiros 60 segundos de caminhada, a frequência cardíaca deveria subir pelo menos cinco batimentos por minuto (bpm). Em seguida, quando o voluntário atingisse o maior esforço possível, a frequência deveria chegar a 80% do máximo previsto para a sua idade. Por fim, no primeiro minuto após o término do esforço, a frequência cardíaca deveria diminuir ao menos um bpm. Quem não se enquadrasse em nenhum dos critérios era classificado como “sem evidência de reinervação”. Estes critérios foram baseados em estudos que analisaram a resposta cardiovascular ao CPX em pacientes com e sem reinervação. Para fazer parte do estudo, os voluntários tinham de ser considerados sedentários ou insuficientemente ativos, não tendo realizado atividade física ou exercício de forma regular nos seis meses anteriores. Além disso, não podiam ter nenhum tipo de doença que influenciasse os resultados. Depois da divisão em dois grupos, cada um dos 33 pacientes, com idades entre 20 e 60 anos, foi submetido por 12 semanas a uma rotina de treinamento. Duas vezes por semana, eles realizavam uma sequência composta de cinco minutos de aquecimento, 30 minutos de caminhada ou corrida leve numa esteira ergométrica, uma série de 10 a 15 repetições de cinco exercícios de musculação e, por fim, cinco minutos de alongamento. O treinamento era realizado no Laboratório de Estudos do Movimento do Instituto de Ortopedia e Traumatologia (IOT) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina (HC-FM) da USP ou no Centro de Práticas Esportivas da USP (Cepe-USP). Nos fins de semana, os voluntários realizavam uma terceira sessão de 30 minutos de caminhada ou corrida leve, sem supervisão, no local que preferissem (podia ser em casa, na rua, em praça ou parque público, por exemplo). Antes e ao fim das 12 semanas do estudo, os pacientes tiveram a pressão arterial medida por 24 horas seguidas com um aparelho de monitoração ambulatorial. Os dois grupos obtiveram melhora após o programa de exercícios, porém, os pacientes com evidência de reinervação obtiveram redução na pressão sistólica e diastólica, enquanto os pacientes sem evidência de reinervação reduziram apenas a pressão diastólica, que foi em menor magnitude e por um número menor de horas. Capacidade cardiorrespiratória Testes cardiorrespiratórios mostraram que os voluntários com evidência de reinervação aumentaram o consumo máximo de oxigênio em 10,8% e a tolerância ao exercício em 13,4%, enquanto os sem reinervação aumentaram apenas esse último item, em 9,9%. A chamada velocidade de onda de pulso não mudou em nenhum dos grupos. “Este é um teste que mede a rigidez arterial por meio de sensores colocados sobre a artéria carótida e femoral, calculando a velocidade que o pulso arterial demora para percorrer esse trajeto. Quanto mais veloz, mais rígida a artéria e pior o prognóstico. Quanto mais lento, mais elástica a artéria e melhor o prognóstico. Isso não melhorou em nenhum dos dois grupos”, conta Ciolac. Outros estudos já haviam demonstrado que a prática de atividade física beneficia pessoas com hipertensão arterial. O trabalho mostra que

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Acne é causada por herança genética, mas hábitos ruins agravam a doença

Uma das doenças de pele mais comuns, visto que atinge a maior parte da população em algum momento da vida, a acne acontece quando as glândulas sebáceas produzem uma quantidade excessiva de oleosidade que, ao se misturar com as células mortas da pele, acaba causando a obstrução dos poros, segundo a dermatologista Dra. Valéria Marcondes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. “Logo, as bactérias que fazem parte da flora cutânea promovem uma inflamação na região, o que culmina na formação das espinhas”, explica. Suas causas são as mais variadas possíveis, incluindo desde alterações hormonais até o excesso de gordura nos alimentos. Porém, uma pesquisa publicada em abril de 2018 no Journal of Drugs In Dermatology (JDD) apontou que, embora os fatores externos influenciem a gravidade dos sintomas da doença, a acne pode ser causada principalmente devido a herança genética. Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores analisaram a incidência de acne, o grau e os gatilhos para a doença em 139 pares de gêmeos idênticos e fraternos, além de um grupo de trigêmeos, levando em consideração dados como histórico médico, traços familiares, realização de exercícios físicos, endereço e altura e peso para cálculo do índice de massa corporal. “Com os dados coletados, os estudiosos procuraram identificar e separar qualitativamente fatores genéticos e ambientais que contribuem para a gravidade da acne, constatando que a quantidade de gêmeos idênticos com acne (64%) era significativamente maior do que em gêmeos fraternos (49%)”, destaca a dermatologista. Ao analisarem os gêmeos com acne em diferentes graus, os pesquisadores encontraram também fatores que podem servir como gatilhos para a doença, como uma dieta rica em açúcar, um IMC mais alto ou a prática reduzida de exercícios físicos. De acordo com a médica, a pesquisa mostra-se de extrema relevância pois promove uma compreensão maior dos motivos que podem piorar o quadro acneico, ajudando assim na prevenção, controle e tratamento da condição. “O estudo também auxilia no aconselhamento dos pacientes quanto as causas genéticas da condição. Dessa forma, os familiares podem agir na diminuição dos fatores que promovem a piora da acne, visto que, se um familiar sofre com a doença, há grandes chances de um parente próximo também vir a desenvolver a condição no futuro”, destaca a Dra. Valéria. Tratamento - O tratamento da doença consiste na higienização correta da área duas vezes por dia e no uso de cremes e loções receitados pelo dermatologista, com substâncias como o peróxido de benzoíla e ácido retinóico. “O dermatologista também pode recomendar secativos e cosméticos concentrados para o tratamento de áreas específicas. Estes normalmente contêm ingredientes que funcionam em nível celular profundo, absorvendo a oleosidade em excesso que causa as espinhas e comedões”, afirma a Dra. Valéria. Além disso, é essencial também o uso de hidratantes leves com ativos que atuem no controle da oleosidade e um fotoprotetor para evitar a formação de manchas e cicatrizes. “Em casos mais graves, o médico pode prescrever antibióticos orais e tópicos para o tratamento da condição, como a isotretinoína.” Por fim, é fundamental a ingestão de dois litros de água por dia e a adoção de uma alimentação saudável. Para quem sofre com quadro acneico, por exemplo, é importante evitar alimentos gordurosos, com farinha branca e derivados do leite, já que estes podem estimular as glândulas sebáceas a produzirem mais oleosidade e fazer om que sejam liberadas substâncias inflamatórias que podem estar relacionadas ao desencadeamento da acne. “O ideal então é apostar em alimentos que auxiliam no combate do quadro acneico e adotá-los em suas refeições. Agrião, espinafre, brócolis e couve, por exemplo, são ótimas opções, já que são ricos em clorofila, que ajuda a limpar bactérias e toxinas do trato digestivo e da corrente sanguínea. Além disso, alguns nutrientes são fundamentais no combate a acne, como o zinco, presente nos frutos do mar, frango, girassol e abóbora, nozes e leguminosas, e as vitaminas A, C e B5”, finaliza a especialista. Fonte: Dra. Valéria Marcondes – Dermatologista da Clínica de Dermatologia Valéria Marcondes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia com título de especialista e da Academia Americana de Dermatologia. Foi fundadora e é membro da Sociedade de Laser. Estudo: http://jddonline.com/articles/dermatology/S1545961618P0380X/1

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Cappuccino com semente de jaca tem aroma de chocolate

Peter Moon/via Agência FAPESP Cappuccino com sementes de jaca no lugar do café. De acordo com um novo estudo, a farinha torrada de sementes do fruto pode substituir de 50% a 75% do chocolate em pó que costuma formar a mistura com leite e café usada para fazer um cappuccino, sem prejuízo no gosto e aroma. "A farinha torrada de sementes de jaca naturalmente exala um aroma suave de chocolate", disse a cientista de alimentos Fernanda Papa Spada, que realizou o estudo na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP), com Bolsa da FAPESP. O trabalho foi orientado pela professora Solange Guidolin Canniatti-Brazaca no Departamento de Agroindústria, Alimentos e Nutrição. Spada conta que investigar uma alternativa para o chocolate foi motivado pelo crescimento na demanda por cacau no mercado internacional. As causas são o consumo crescente de chocolate e a estabilização da oferta nos países produtores. Devido ao aumento de renda nos últimos anos, centenas de milhões de consumidores chineses e indianos passaram a comer mais chocolate. Como a produção mundial de cacau não tem acompanhado esse movimento, o resultado é a escassez crescente do produto. De acordo com a Organização Internacional do Cacau, na safra 2017-2018 foram processadas 4,568 milhões de toneladas de grãos de cacau. O volume foi praticamente o mesmo da produção total, de 4,645 milhões de toneladas. Os maiores países produtores, em 2017-2018, foram, pela ordem, Costa do Marfim (responsável por cerca de 40% do total), Gana, Indonésia, Equador, Camarões, Nigéria e Brasil. Produtos achocolatados, como bebidas lácteas de chocolate, contêm um mínimo de 25% de cacau em pó na sua composição, de acordo com a legislação brasileira. Já o percentual máximo de cacau em pó não ultrapassa os 30%, e assim mesmo nos produtos mais nobres, como os chocolates finos. Acima disso estão apenas o chocolate amargo e o semiamargo, que devem conter 35%, e o chocolate em pó, que varia entre 30% e 50% de cacau em pó e manteiga de cacau em sua composição. O restante são derivados do leite, como leite em pó ou manteiga, além de açúcares e aromatizantes. Canniatti-Brazaca destaca que, de modo a suprir o mercado mundial, a demanda crescente e a oferta estabilizada de cacau são grandes desafios para a indústria alimentícia, que responde investindo intensamente na busca de novas substâncias que possam, de alguma forma, substituir os preciosos pó e manteiga de cacau na composição de chocolate e achocolatados. Na Esalq, a semente de jaca foi identificada como ingrediente com aroma característico de chocolate em um projeto desenvolvido entre 2010 e 2013 pela equipe de Canniatti-Brazaca e Miriam Coelho de Souza, da Universidade Metodista de Piracicaba. “Os resultados obtidos demonstraram que as sementes de jaca dura, entre as variedades avaliadas, destacaram-se quanto à intensidade aromática de chocolate”, disse Canniatti-Brazaca. Spada lembra que a descoberta foi acidental, tendo ocorrido durante uma aula de Souza. “Estava sendo feito um trabalho de desenvolvimento de produtos alimentícios com base em resíduos do processamento de frutas diversas. Quando uma aluna assou um pão com farinha de sementes de jaca, esse produziu um aroma de chocolate", disse à Agência FAPESP. Após a constatação acidental, foram realizados alguns estudos na Esalq e o resultado está em artigo publicado na revista PLOS ONE, com a demonstração da viabilidade do uso de farinha torrada de sementes fermentadas ou acidificadas de jaca dura para obter aroma similar ao do chocolate no cappuccino. O cappuccino é basicamente um café com leite e um pouco de chocolate. A quantidade e a qualidade de pó de chocolate que entram na composição variam de acordo com o fabricante. "Os produtos mais nobres usam pó de chocolate. Já as marcas populares costumam utilizar aromatizantes artificiais”, disse Spada. Produtos como café e chocolate têm aroma e sabor singulares, devido à presença de compostos provenientes dos processos de torrefação e de fermentação aos quais foram submetidos. O desafio foi descobrir qual seria o grau ideal de torrefação e de fermentação das sementes de jaca para se obter uma farinha com o máximo de intensidade de aroma de chocolate, sem comprometer nem alterar o gosto do cappuccino. A jaca é um fruto grande com polpa e sementes comestíveis. As sementes são envolvidas individualmente por uma polpa (bago) amarela, viscosa, aromática, doce, de consistência mole a dura. Sua semente é um subproduto da agroindústria e pode ser consumida cozida, torrada ou assada. O trabalho de Spada consistiu na análise da composição química da farinha de semente de jaca. "A farinha de sementes de jaca não tem sabor, mas tem aroma de chocolate após ser torrada. Antes é preciso fermentá-la, pois sem fermentação a farinha de sementes de jaca não exala aroma de chocolate. Foram analisados 33 protótipos de sementes, com variados graus de torrefação, para descobrir quais exalavam mais aroma de chocolate”, disse Spada. Teste sensorial Uma parte fundamental do estudo consistiu na realização de testes com voluntários, de modo a verificar a identificação sensorial (olfativa) humana do aroma da substância. Os voluntários tiveram que julgar o aroma exalado pelos diversos protótipos feitos com quantidades diferentes de farinha de sementes de jaca adicionada ao cacau, com graus de torrefação e fermentação variados. "No início, empregamos no teste sensorial 20 voluntários, que contaram suas impressões do aroma, do gosto e da cor do cappuccino com farinha de sementes de jaca. Os participantes provaram protótipos de cappuccino com proporções de 25%, 50%, 75% e de 100% de farinha de sementes de jaca na substituição do pó de chocolate. A parte final do levantamento foi feita por 12 voluntários, que formaram consenso na hora de indicar quais protótipos eram os mais parecidos ou idênticos ao cappuccino convencional”, disse Spada. O resultado atestou que a farinha de semente de jaca seca pode ser incorporada como ingrediente em formulações de cappuccino. A substituição de 50% e 75% do pó de cacau por farinha seca de jaca foi considerada ideal, pois não alterou a aceitabilidade ou as características sensoriais. "De acordo com os participantes dos

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Grãos integrais diminuem risco de diabetes tipo 2, diz estudo

Estudo publicado recentemente no Journal of Nutrition, da Oxford Academic, relacionou a redução do risco para diabetes tipo 2 com o maior consumo de grãos integrais. Os achados embasam a orientação para a troca farinha branca pela integral durante o aconselhamento dietético. Debora Bohnen Guimarães, nutricionista coordenadora do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), comenta o artigo e fala sobre como a dieta, inclusive a ingestão de grãos, contribui para prevenção e controle da doença. Confira abaixo a entrevista na íntegra! O estudo concluiu que uma dieta rica em grãos integrais pode reduzir os riscos para desenvolver diabetes tipo 2. Como eles agem no organismo e qual relação na prevenção da doença? Os grãos integrais são boas fontes de fibras, tanto solúveis quanto insolúveis. As solúveis, principalmente, favorecem o esvaziamento gástrico mais lento, fazendo com que o carboidrato ingerido na alimentação seja absorvido lentamente em forma de glicose. Tal processo reduz o índice glicêmico do alimento e o pico glicêmico após a refeição. Essa ação no organismo, por si só, já ajuda a controlar o peso, pois prolonga a sensação de saciedade após a refeição – além disso, uma dieta de menor índice glicêmico também pode favorecer o menor depósito de gorduras corporais, por não estimular grandes secreções de insulina. Os grãos integrais podem reduzir o risco de diabetes tipo 2 melhorando a sensibilidade à insulina, diminuindo a resposta pós-prandial à glicose e possivelmente também abaixando a inflamação no organismo. Existe uma quantidade mínima e máxima para a ingestão de grãos integrais a fim de prevenir o diabetes tipo 2? Não há uma quantidade mínima ou máxima de grãos recomendada. O que o estudo mostrou foi que quanto maior o consumo de grãos integrais (trigo, centeio, aveia) ou produtos feitos com esses grãos, menor foi o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Os indivíduos que consumiam maior quantidade diária de grãos integrais, comparados aos que consumiam menos, tiveram redução de 34% no risco para os homens e 22% para as mulheres. A cada porção (50g) a mais em grãos integrais diários, observou-se redução de 12% e 7% no risco para homens e mulheres, respectivamente. Há uma recomendação mínima de ingestão de fibras diárias, que é de 20g para adultos, podendo chegar até 35g. O limite máximo sugerido seria para não haver efeitos colaterais gastrointestinais, como excesso de gazes por grande quantidade de fibras na dieta. Cada pessoa deve avaliar sua tolerância individual. Após o diagnóstico da doença, grãos integrais podem ser usados para controle da glicemia? Sim e devem ser utilizados. A recomendação alimentar para quem tem diabetes é manter uma dieta rica em fibras, escolher carboidratos de fontes naturais, como cereais integrais, frutas, legumes, leguminosas e laticínios desnatados. Como já foi falado, a ingestão de fibras de cereais pode favorecer o controle da glicose pós-prandial e melhorar a sensibilidade à insulina. Além dos grãos, quais outras classes de alimentos pode contribuir para essa prevenção? A prevenção do diabetes tipo 2 está pautada principalmente a um estilo de vida saudável, e não necessariamente a ingestão única de classes de alimentos. Deve-se manter uma alimentação saudável, natural, variada e rica em fibras, manter um peso ideal e ser fisicamente ativo. Há estudos mostrando benefícios do uso de alimentos ricos em fibras em geral, gorduras monoinsaturadas (peixes, azeite de oliva extra virgem e oleaginosas), canela, etc. Apenas a dieta pode prevenir o diabetes? O diabetes tipo 2 é uma condição principalmente genética, mas que os fatores ambientais podem ajudar a desencadear ou não. Sabe-se que para indivíduos pré-dispostos, seguir uma alimentação saudável é prioridade, pois pode prevenir ou retardar o surgimento da doença. O que deve ser considerado ao estruturar uma dieta para combater e/ou controlar a doença? Primeiramente, deve-se manter um plano alimentar com total calórico adequado às necessidades do indivíduo para manter ou atingir o peso ideal. Depois estruturar um plano de horários adequados, com refeições fracionadas ao longo do dia conforme estilo de vida. Importante incluir alimentos de todos os grupos alimentares, com quantidades adequadas de carboidratos, proteínas e gorduras, favorecendo as fontes de boa qualidade, como as fibras e as gorduras monoinsaturadas, além de reduzir excesso de frituras, gorduras saturadas (carne vermelha, banha, bacon, manteiga, leite integral) e de sal. É importante manter uma meta adequada de carboidratos por refeições, pois refeições ricas em carboidratos podem aumentar as excursões glicêmicas. São fontes de carboidratos: açúcar, doces, frutas, leite, massas, grãos, cereais integrais, arroz, farinhas e tubérculos. A dieta muda para pacientes com diabetes tipo 1 e 2? A qualidade da dieta deve ser a mesma. O que pode diferir é que, o perfil de quem tem diabetes tipo 1 é mais magro, estando muitas vezes com peso adequado, o que faz com que a sua prioridade não seja tanto o peso e o total calórico, quanto para quem tem diabetes tipo 2, que o excesso de peso piora muito sua condição, pela maior resistência à insulina e inflamação. Pacientes com diabetes tipo 1 em regime de insulina flexível, podem variar a quantidade e qualidade de carboidratos ingerida, desde que façam os ajustes da dose de insulina para a refeição conforme a ingestão de carboidratos.

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Com o envelhecimento populacional, doença de Alzheimer deverá aumentar nas próximas décadas

Nesta sexta-feira, 21, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença de Alzheimer. Segundo estimativas da Alzheimer’s Disease International (ADI), federação que representa mundialmente 85 entidades, as demências afetam mais de 47 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, são estimados 55 mil novos casos de demências todos os anos, a maioria decorrentes do Alzheimer. O presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o geriatra Carlos André Uehara, chama a atenção para o fato da população brasileira estar envelhecendo de forma acelerada. “Na Europa, a transição demográfica foi um processo muito mais longo do que está acontecendo no Brasil. Em menos de 100 anos nós praticamente duplicamos a expectativa de vida”, explica. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, há 28 milhões de pessoas acima dos 60 anos em 2018. Até 2060 este número subirá para 73 milhões. A projeção da ADI é de que já foram gastos mais de 818 bilhões de dólares para o tratamento de demências no mundo, soma que deve chegar a 1 trilhão ainda em 2018. No Brasil, não há dados oficiais sobre quanto que é gasto para tratar o Alzheimer ou outras doenças cognitivas, porém a tendência é que os custos aumentem nos próximos anos, segundo o coordenador do programa de Residência Médica em Geriatria do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Renato Bandeira de Mello. “Pensando em saúde pública e otimização do manejo do transtorno cognitivo leve e da doença de Alzheimer, é fundamental que se mude o modelo de assistência atual para tratamento de doenças neurodegenerativas, desenvolvendo ações interprofissionais que melhorem a funcionalidade e qualidade de vida desses pacientes e seus familiares ”, diz Mello, que também é diretor científico da SBGG. “O Sistema Único de Saúde apresenta foco predominante na cura e controle de doenças depois de seus diagnósticos ao invés de evitá-las. Diante do rápido envelhecimento populacional e estimativas alarmantes a respeito das síndromes demenciais, urge incremento de ações preventivas”, complementa Uehara. Atendimento na rede pública O diagnóstico da Azheimer é clínico, ou seja, depende da análise de um médico geriatra ou neurologista para avaliar a capacidade cognitiva do indivíduo. Entretanto, a SBGG alerta para a falta de especialistas capacitados para o diagnóstico de demências em pacientes com 60 anos ou mais. Segundo a Demografia Médica, feito pelo Conselho Federal de Medicina, há 1.817 geriatras no país em 2018, sendo que 60% estão na região sudeste. Atualmente há um especialista para cada 15,4 mil idosos, número muito abaixo do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de um geriatra para cada mil idosos. No Brasil, mais de 14 milhões de idosos dependem exclusivamente do Sistema Único de Saúde, que neste mês completou 30 anos. “Não haverá exércitos de especialistas para atender esta demanda”, diz Mello. Uma das soluções será a capacitação de profissionais de saúde para identificar quais idosos possuem maior risco de adquirir algum tipo de demência. Treinamento que já existe, mas que é muito incipiente, segundo Renato. “Isso deveria ser um foco importante pensando em saúde pública e imaginando que o diagnóstico e prevalência da doença deverá aumentar nas próximas décadas”, diz. Se há poucos especialistas para diagnosticar a doença, há ainda menos profissionais para tratar o paciente de forma adequada. Apesar de não ter cura, os indivíduos com algum tipo de demência respondem de forma positiva quando há um trabalho multidisciplinar com psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e enfermeiros, entre outros, apontam os especialistas da SBGG. Segundo Renato, “o suporte de tratamento e reabilitação desses pacientes ainda é precário no sistema público, concentrado predominantemente em centros universitários.  Atualmente há poucos centros de referência que possuem este tipo de infraestrutura que ofereça tratamentos integrais à doença”. Uma doença desigual Apesar do Alzheimer afetar pessoas de diferentes classes sociais, a baixa escolaridade é um dos fatores de risco para o surgimento de demências após os 60 anos. Isso ocorre porque o ensino formal contribui para a criação de redes neurais mais complexas e estimula o cérebro a elaborar uma reserva funcional maior que será gasta ao longo da vida. Ou seja, um indivíduo que frequentou o ensino superior possui menos chances de adquirir de forma precoce Alzheimer ou outra doença neurodegenerativa do que o indivíduo que foi instruído apenas até no ciclo básico. Segundo o relatório Education at a Glance 2018, publicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a educação primária no Brasil é universal e atinge 100% das crianças acima dos 6 anos de idade.  Entretanto, a porcentagem de adolescentes (entre 15 e 19 anos) e jovens adultos (entre 20 e 24 anos) matriculados em qualquer nível de ensino cai para 69% e 29%, respectivamente. “O maior nível de escolaridade, assim como a maior prevenção e controle de outros fatores de risco, tem contribuído para estagnar a incidência dessa doença nos países desenvolvidos”, explica Mello. Nem todo esquecimento é Alzheimer Vários fatores podem influenciar na memória, como a visão, a audição, a atenção, a concentração, a motivação, o humor, a cultura e as aptidões natas como a facilidade que cada um tem para lembrar-se de rostos e nomes, por exemplo. O uso de medicamentos e algumas doenças clínicas, neurológicas e psiquiátricas podem prejudicar o funcionamento correto da memória. Alzheimer e outras patologias neurodegenerativas devem ser acompanhadas de perda funcional do cérebro, afetando tarefas rotineiras e progressivamente tornando o idoso mais dependente. Os exames clínicos são solicitados para comprovar ou excluir causas de demências secundárias, como lesões cranianas, isquemias, sinais de acidente vascular cerebral ou tumores cerebrais, além de analisar outros problemas de saúde que podem impactar na capacidade funcional do cérebro, como falta de vitamina B12, mau funcionamento da tireoide e doenças infecciosas. Sobre a SBGG A Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), fundada em 16 de maio de 1961, é uma associação civil sem fins lucrativos que tem como principal objetivo principal congregar médicos e outros profissionais de nível superior que se interessem pela Geriatria e Gerontologia, estimulando e apoiando o desenvolvimento e a

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Filtro colorido aumenta velocidade de leitura de crianças com dislexia

André Julião/via Agência FAPESP Uma das maiores dificuldades das crianças com dislexia, a leitura, pode ser melhorada com o uso de lentes verdes. Um estudo publicado por brasileiros e franceses mostrou que voluntários de 9 e 10 anos que usaram os filtros na cor verde tiveram um aumento da velocidade de leitura. Em crianças sem dislexia, os filtros não surtiram efeito. Esses filtros coloridos foram patenteados em 1983 e já foram indicados não só para crianças com dislexia como para portadores de autismo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). “No entanto, os estudos feitos sobre sua eficácia tinham deficiências metodológicas. Pela primeira vez foi usada uma metodologia bastante rigorosa”, disse Milena Razuk, primeira autora do artigo, publicado na Research in Developmental Disabilities. A falta de estudos sobre os filtros faz com que eles não sejam muito usados no Brasil, embora alguns países como a França o adotem. Razuk, que concluiu em abril o doutorado na Universidade Cruzeiro do Sul, realizou o experimento durante o período que passou na Université Paris Diderot-Paris 7, em estágio de pesquisa com apoio da FAPESP. Foram selecionadas 18 crianças com dislexia e outras 18 sem a condição, todas atendidas no Hospital Robert Debret, em Paris. Para o experimento, os cientistas escolheram os filtros amarelo e verde. “São 12 cores disponíveis, mas chegamos a essas duas porque seria uma dificuldade muito grande para os voluntários ficarem tanto tempo submetidos ao teste”, disse José Angelo Barela, professor do Instituto de Biociências da Unesp, em Rio Claro, e coordenador do projeto. Melhora na velocidade da leitura As 36 crianças foram postas para ler, em uma tela, trechos de livros infantis indicados para sua faixa etária. Diferentes trechos eram lidos sem filtro, com o amarelo e com o verde. Durante todo o tempo, elas usavam um aparelho apoiado na cabeça que mede os movimentos dos olhos, o Eye Tracker. Trata-se de óculos com duas câmeras que enviam sinais infravermelhos para os olhos e detectam onde o usuário está fixando o olhar e qual o tempo dessa fixação. “A criança com dislexia precisa fixar mais tempo o olhar nas palavras para conseguir compreender o texto, por isso a velocidade de leitura é menor”, disse Barela à Agência FAPESP. Enquanto em crianças sem dislexia não houve mudança na velocidade de leitura com os filtros, o Eye Tracker detectou que crianças com dislexia passaram a fixar trechos de palavras ou de frases por 500 milésimos de segundo usando o filtro verde. Com o amarelo e sem filtro, o tempo era de 600 milésimos de segundo. Ainda assim, o período é superior ao de crianças sem dislexia, cuja fixação é de 400 milésimos de segundo. Os autores do estudo enfatizam que não avaliaram se o filtro verde melhorou a compreensão do que foi lido. Condição pouco conhecida Não se sabe quais as causas da dislexia, que faz com que os portadores tenham uma integração sensório-motora menos acurada. “É como se houvesse algum ruído que atrapalha a comunicação do cérebro com o resto do corpo”, disse Razuk. No entanto, a condição não significa uma deficiência intelectual. “Para o diagnóstico de dislexia, o Q.I. tem de ser normal ou acima da média”, disse. No estudo, os autores apontam que a melhora no tempo de leitura com o filtro verde pode ser por conta de mudanças no estímulo visual disponível para processamento no sistema nervoso central. Outros estudos sugeriram que os filtros reduzem a excitabilidade do córtex cerebral, que pode ser maior nos disléxicos e por isso atrapalharia a leitura. Nessa hipótese, o filtro diminuiria o estímulo visual e, consequentemente, melhoraria a leitura. Essa possibilidade ganhou mais força depois que estudos com ressonância magnética funcional (fMRI), publicados em 2015, mostraram uma ativação significativa do córtex de voluntários durante a leitura com filtros coloridos (nesse caso, azul), comparada com a de outros que não usaram filtro algum. Essas lentes, portanto, diminuiriam o estresse visual e a distorção do texto, aumentando o processamento visual e a performance de leitura. O próximo passo da pesquisa será verificar a atividade cerebral das crianças disléxicas durante a leitura por meio de um aparelho de fMRI, já adquirido por Barela com apoio do CNPq. O artigo Effect of colored filters on reading capabilities in dyslexic children (doi: 10.1016/j.ridd.2018.07.006), de Milena Razuk, Faustine Perrin-Fievez, Christophe Loic Gerard, Hugo Peyre, José Angelo Barela e Maria Pia Bucci está publicado em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0891422218301677.

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Pesquisa investiga uso de canabidiol para reduzir sintomas de depressão

Peter Moon/via Agência FAPESP Os antidepressivos comerciais costumam demorar de duas a quatro semanas para promover efeitos significativos em pacientes deprimidos. Além disso, tais drogas são ineficazes em boa parte dos casos. Encontrar novos antidepressivos de ação rápida e duradoura é o objetivo de uma investigação colaborativa conduzida por cientistas do Estado de São Paulo e da Dinamarca. Eles observaram em estudo que uma única aplicação de canabidiol em ratos com sintomas depressivos apresentou efeitos muito significativos, com remissão de sintomas de depressão no mesmo dia e a manutenção dos efeitos benéficos por uma semana. O trabalho reforça estudos anteriores de que o canabidiol, um componente da maconha (Cannabis sativa), tem potencial terapêutico promissor no tratamento da depressão de amplo espectro em modelos pré-clínicos e humanos. Resultados foram publicados em artigo na revista Molecular Neurobiology por pesquisadores do grupo liderado por Sâmia Regiane Lourenço Joca, professora na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FCFRP-USP). A pesquisa, que teve como primeira autora Amanda Juliana Sales, bolsista de doutorado da FAPESP, também contou com o apoio da Fundação por meio de um Projeto Temático, do CNPq e da dinamarquesa Aarhus University Research Foundation. As pesquisas com canabidiol estão ligadas ao grupo do professor Francisco Silveira Guimarães, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. Participa ainda Gregers Wegener, professor no Departamento de Clínica Médica da Aarhus University. "O Brasil é pioneiro no estudo do canabidiol e hoje é muito diferente do que há 30 anos, quando começamos a investigar essa substância. Na época, enfrentávamos preconceito por causa da associação com a maconha", disse Guimarães à Agência FAPESP. Apesar de extraído da maconha, Guimarães ressalta que o canabidiol não produz dependência nem efeitos psicotrópicos. “A substância na maconha responsável por tais efeitos é o tetraidrocanabinol (THC) e com o canabidiol ocorre o oposto, ele exerce ação bloqueadora sobre alguns efeitos do THC”, disse. A investigação dos efeitos do canabidiol visa encontrar fármacos com potencial antidepressivo que atuem mais rapidamente no tratamento, diminuindo o período de latência observado nos antidepressivos convencionais. Guimarães observa que os antidepressivos disponíveis obtêm resultados em cerca de 60% dos pacientes, de modo que cerca de 40% dos pacientes permanecem sem receber o tratamento adequado, mesmo após tentarem diversas opções por vários meses. “Isso revela a necessidade de encontrarmos novos tratamentos, com melhor potencial terapêutico”, disse. O experimento foi feito com linhagens de ratos e camundongos selecionadas por cruzamento para desenvolver sintomas de depressão. Foram feitos testes e analisado o comportamento de 367 animais. “Submetemos os animais a situações de estresse, como o teste de nado forçado”, disse Joca, que também é professora visitante na Aarhus University. Antes do teste, uma parte dos animais recebeu uma injeção de canabidiol (com dosagens de 7, 10 e 30 mg/kg) em solução salina, enquanto outra parte dos animais, o grupo de controle, recebeu apenas a solução salina. Após 30 minutos, os animais foram colocados por 5 minutos em cilindros (25 cm de altura por 17 cm de diâmetro) com 30 cm de água (no caso dos ratos) ou 10 cm de água (camundongos). “Essas alturas impedem que eles apoiem a cauda no chão, forçando-os a nadar. No entanto, os animais aprendem a boiar após um tempo de nado e não se afogam. Quando estão boiando, os movimentos são mínimos, apenas para manter a cabeça fora da água e garantir que não se afoguem. É justamente isso que consideramos imobilidade, ou seja, quando param de nadar e boiam”, disse Joca. “O teste de nado forçado é utilizado para avaliar o efeito de drogas antidepressivas, uma vez que todos os antidepressivos conhecidos diminuem o tempo de imobilidade durante o teste (aumentam o tempo de nado). Portanto, a diminuição do tempo de imobilidade nesse teste é interpretada como efeito ‘tipo antidepressivo’”, disse. Os cientistas constataram que o canabidiol induziu efeitos semelhantes a antidepressivos agudos e sustentados nos camundongos submetidos ao teste de nado forçado. "No entanto, de modo a assegurar que esse resultado não seria decorrente apenas do aumento da atividade locomotora devido a um efeito psicoestimulante que levaria, por exemplo, os animais a nadarem mais, tivemos que realizar um controle de atividade locomotora”, disse Joca. "Fizemos o teste do campo aberto, que consiste em colocar o animal para explorar livremente um ambiente novo, enquanto registramos sua atividade locomotora e exploratória. Para dizer que uma droga tem potencial efeito antidepressivo, ela deve ser capaz de reduzir o tempo de imobilidade (aumentar o tempo de nado) no teste do nado forçado, sem aumentar a atividade locomotora no campo aberto, pois isso indicaria que os efeitos no teste do nado forçado não seriam secundários a alterações inespecíficas de atividade locomotora”, disse. Recuperação de circuitos neurais A conclusão do trabalho foi que o tratamento com canabidiol induz efeitos rápidos e sustentados, que permanecem por até sete dias após uma única administração, em animais submetidos a diferentes modelos de depressão (incluindo modelos de estresse e modelos de susceptibilidade genética). Os dados encontrados foram reproduzidos em três modelos animais diferentes, em laboratórios na FCFRP, na FMRP, ambos na USP, e na Aarhus University. "Ao estudar os mecanismos envolvidos nesses efeitos, observamos que o tratamento com canabidiol induz rápido aumento dos níveis de BDNF [fator neurotrófico derivado do cérebro], uma neurotrofina importante para a sobrevivência neuronal e neurogênese, que é o processo de formação de novos neurônios no cérebro. Também foi observado no córtex pré-frontal dos animais o aumento da sinaptogênese, que é o processo de formação de sinapses entre os neurônios do sistema nervoso central”, disse Sâmia Joca. Sete dias após o tratamento, foi possível observar aumento do número de proteínas sinápticas no córtex pré-frontal, que está intimamente relacionado à depressão em humanos. "Diante disso, acreditamos que o canabidiol inicie rapidamente mecanismos neuroplásticos que contribuem para recuperar circuitos neurais que estão prejudicados na depressão”, disse. Mas a atuação benéfica do canabidiol não se restringe ao córtex pré-frontal. "Em outro trabalho, demonstramos que o efeito do canabidiol também envolve mecanismos neuroplásticos que ocorrem no hipocampo, outra estrutura envolvida na neurobiologia da depressão”,

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Mutações não hereditárias são principal causa de câncer de mama em mulheres jovens

Maria Fernanda Ziegler/via Agência FAPESP Cerca de 80% dos casos de câncer de mama em mulheres jovens, com idades entre 20 e 35 anos, podem ser causados por mutações somáticas – alterações genéticas nas células da mama que não têm origem hereditária. Foi o que constatou um estudo feito no Centro de Investigação Translacional em Oncologia (LIM 24) do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) com apoio da FAPESP. O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum em mulheres – a estimativa é de 59 mil novos casos no Brasil em 2018 – e ocorre principalmente naquelas que têm mais de 50 anos e já se encontram na menopausa. No entanto, 4,5% dos casos da doença acometem mulheres jovens, entre 20 e 35 anos de idade. Por ter diagnóstico mais difícil e ser pouco esperado, normalmente o tratamento nesses casos é iniciado quando a doença já está em estágio mais avançado e apresenta maior taxa de mortalidade que em mulheres mais idosas. Nos resultados do estudo, publicado na revista Oncotarget, são destacados os dois fatores mais importantes para o câncer de mama: o hereditário, quando a pessoa herda uma mutação genética dos pais, que predispõe ao câncer; e as mutações somáticas, que ocorrem na célula da mama ao longo do tempo. “Estudamos esse segundo fator, que descobrimos ser também o mais comum em mulheres jovens com câncer de mama e do qual pouco se sabe”, disse Maria Aparecida Koike Folgueira, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e uma das autoras do artigo, resultado do trabalho de doutorado de Giselly Encinas, com Bolsa da FAPESP. O trabalho teve colaboração de pesquisadores do Icesp, da FMUSP, do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), do Ontario Institute for Cancer Research (Canadá) e da University of Toronto (Canadá). No estudo, foram analisados os casos de 79 pacientes do Icesp e IBCC com menos de 36 anos e diagnosticadas com câncer de mama. Treze pacientes (16,4%) apresentavam mutações germinativas nos genes BRCA1 e 2, que são alterações que têm a hereditariedade como base. O estudo identificou ainda outros genes herdados, que são menos comuns que o BRCA1 e 2. Dos tumores não hereditários, oito (com expressão positiva de receptores de estrogênio, ou seja, subtipo luminal) foram submetidos ao sequenciamento do exoma – parte do genoma onde estão os genes que codificam proteínas – e integrados para análise a outras 29 amostras luminais existentes em outros bancos de dados. “Dentre todos os tumores que acometem pacientes jovens, 25% são câncer de mama. É também o tipo mais comum em jovens. Há poucos estudos nessa área. Enquanto existem 2 mil tumores de mama sequenciados e disponíveis em bancos de dados, apenas 29 tumores (subtipo luminal) que acometem mulheres jovens tinham sido caracterizados. Nosso grupo sequenciou outros oito e analisamos os dados conjuntamente com os outros 29 já existentes”, disse Folgueira à Agência FAPESP. Com a análise dos dados, a equipe estabeleceu informações importantes sobre a ocorrência de câncer de mama causado por mutações somáticas em mulheres jovens. Folgueira explica que as células da mama, em especial, proliferam a cada ciclo ovulatório – proliferam e entram em apoptose (morte celular) –, o que faz com que elas tenham maior chance de uma mutação ao acaso. “Mais de 40% dos casos estudados apresentaram mutação somática em gene que codifica proteína de reparo de DNA, ou seja, o surgimento do câncer veio de um problema em algum sistema de reparo de DNA, que se originou na própria célula da mama e não foi herdado”, disse Folgueira. BRCA1 e BRCA2 Mutações ocorrem o tempo todo, seja por metabolismo celular ou duplicação das células (replicação do DNA), entre outras causas. Tanto que cabe a uma enzima específica – DNA polimerase – criar duas cadeias de DNA idênticas, a partir de uma única molécula de DNA original. Porém, ela pode não ser muito fiel à cópia, gerando erros nessas replicações. Para que o erro do DNA polimerase não passe adiante, existe ainda um sistema de reparos de DNA e, de acordo com o estudo feito no Icesp, 43% dos casos de câncer de mama em mulheres jovens estão relacionados a mutações em genes desse sistema. “Se a célula prolifera bastante ela tem mais chance de ter uma mutação ao acaso e é isso que parece ocorrer nos casos que estudamos”, disse Folgueira. O problema se assemelha aos casos de mutações genéticas hereditárias, onde o mais comum são alterações nos genes BRCA1 e BRCA2. Eles ficaram mundialmente conhecidos em 2013, quando a atriz norte-americana Angelina Jolie anunciou ter se submetido à mastectomia bilateral após ter descoberto, a partir de um exame com base no sequenciamento genético, que teria risco elevado de desenvolver câncer de mama. “Os genes BRCA1 e BRCA2 codificam proteínas importantes que participam do reparo do DNA. Quando esse sistema não funciona, esse DNA fica mais propício a sofrer mutações, e o acúmulo delas gera uma célula alterada, neoplásica, que pode desencadear o câncer”, disse Folgueira. Além de verificar que a hereditariedade não é a causa principal de câncer de mama em mulheres jovens, o estudo constatou que em torno de 50% dos tumores apresentam mutações somáticas patogênicas em genes que controlam a transcrição gênica e consequentemente a síntese proteica – mais problemática por ser uma função em que é mais difícil dizer se está associada à doença ou não. “No estudo, encontramos também mutações patogênicas em genes associados à regulação positiva da transcrição gênica em 54% dos tumores”, disse. Para a pesquisadora, embora a descoberta não altere momentaneamente o tratamento e atenção à população de mulheres jovens, ela surge como uma indicação. “Reparo de DNA é muito importante e um dos tratamentos no câncer de mama metastático, os inibidores da enzima PARP, por exemplo, é direcionado a pacientes com mutação germinativa em BRCA1 e BRCA2. Existem estudos clínicos em andamento para avaliar se este tratamento pode também beneficiar pacientes que apresentam mutações somáticas em outros genes de reparo, além de BRCA1 e BRCA2. Este

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Economia compartilhada deixa 89% de seus usuários satisfeitos

Novos modelos de negócios em que a experiência de consumo vale mais do que a propriedade sobre um determinado bem. Essa é a lógica da economia compartilhada, também conhecida como ‘Consumo Colaborativo’. Um levantamento feito em todas as capitais pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) revela que 89% dos brasileiros que já experimentaram alguma modalidade de consumo colaborativo ficaram satisfeitos após a experiência vivenciada. Apenas 2% dos entrevistados ficaram insatisfeitos, enquanto 9% estão indiferentes. De modo geral, em cada dez consumidores brasileiros, nove (87%) acreditam que a economia compartilhada é uma prática que vem ganhando mais espaço na vida das pessoas e 68% creem que, em até dois anos, podem incorporar esta nova forma de consumir no seu dia a dia. Além disso, para 81% das pessoas, a economia colaborativa torna a vida mais fácil e funcional e 71% acham que possuir muitas coisas em casa mais atrapalha do que ajuda. Na avaliação do educador financeiro do portal ‘Meu Bolso Feliz’, José Vignoli, a economia compartilhada nasce da necessidade de tornar acessível aos consumidores os benefícios de determinados produtos ou serviços, sem que, necessariamente, eles se tornem proprietários sobre aquilo que consomem. “O objetivo é dar utilidade às coisas. Trata-se de uma mudança de paradigma em que o verbo ‘possuir’ é substituído pelo verbo ’compartilhar’. Assim, ao invés de simplesmente adquirir, a pessoa escolhe desfrutar de um produto ou serviço de forma coletiva. É como se a pessoa se perguntasse: será que eu preciso mesmo de um carro na garagem e de todos os custos associados a esse bem ou meu objetivo real é apenas me deslocar rapidamente pela cidade de forma barata?”, afirma Vignoli. Caronas, aluguel para temporadas e compartilhamento de roupas são práticas colaborativas mais adotadas; internet é principal meio para unir consumidores De acordo com o levantamento, as modalidades de consumo colaborativo mais utilizadas pelos brasileiros são as caronas para locais como trabalho, faculdades e viagens (41%), aluguel de casas ou apartamentos de terceiros para pequenas temporadas (38%) e aluguel ou compartilhamento de roupas (33%). Outras atividades já utilizadas são as bicicletas compartilhadas em vias públicas (21%), financiamentos coletivos (16%), compartilhamento de espaço de trabalho, como coworking (15%), aluguel de brinquedos (15%) e compartilhamento de moradias, também conhecido como república ou cohousing (15%). A CNDL e o SPC Brasil também procuraram descobrir quais são os tipos de economia compartilhada que os brasileiros nunca experimentaram, mas conhecem e estão propensos a vivenciar. Nesse caso, o aluguel de bicicletas (48%) e o compartilhamento de espaço de trabalho (47%) ocuparam as primeiras colocações. Por outro lado, ainda há modelos de negócios colaborativos pouco conhecidos, mas que já demonstram alguma rejeição por parte do público, como o aluguel de itens para casa e utensílios da cozinha (15%) e o compartilhamento de moradias (14%). A pesquisa demonstra que embora a revenda, troca e aluguel já existissem há tempos, as novas tecnologias impulsionaram as práticas existentes e viabilizaram o surgimento de novas. Exemplo disso, é que a maioria das modalidades de consumo compartilhado foram conhecidas pela internet, especialmente os financiamentos coletivos (43%), aluguel de itens esportivos (43%) e compartilhamento do espaço de trabalho (43%). Entre a recomendação de amigos ou conhecidos, se destacam as modalidades de caronas (47%), aluguel de casas para temporadas curtas (36%) e aluguel ou compartilhamento de roupas (33%). Nas redes sociais, as modalidades de aluguel ou troca de brinquedo (31%), compartilhamento do local de moradia (31%) e hospedagem de animais de estimação (29%) ganham força. “As pessoas sempre viveram inseridas em redes de relacionamento. Os laços comunitários estão na origem das sociedades e sempre exerceram papel importante. A inovação, contudo, é a potencialização das relações que se estabelecem com ajuda da tecnologia e da internet. Para a economia compartilhada, isso significa que as pessoas podem estar em contato mais rapidamente e de forma ampla, rompendo distâncias e aproximando interesses em comum, inclusive entre desconhecidos”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Para 61% dos usuários, consumo colaborativo foi estratégia para economizar; 88% acham que quantia poupada é significativa Outra constatação do estudo é que a maioria dos entrevistados enxerga a economia compartilhada como um meio capaz de ajudar a lidar melhor com as próprias finanças. Desse modo, economizar dinheiro foi a principal finalidade daqueles que se utilizaram de algum tipo de consumo colaborativo, com 61% de menções. Outras motivações foram contribuir para a sustentabilidade do meio ambiente (39%), ajudar terceiros (30%), economizar tempo (26%) e até mesmo conhecer outras pessoas (21%). Há ainda 11% de entrevistados que resolveram adotar práticas de consumo colaborativo para ganhar renda extra e 10% que foram influenciadas por conhecidos. No geral, para 88% dos entrevistados, a economia proporcionada pelo consumo colaborativo é significativa para o bolso. Apenas 9% afirmam que ela é pequena ou irrelevante. Sobre esse assunto, as modalidades com melhor nota de avaliação dos entrevistados sobre os aspectos da economia de dinheiro, comodidade e facilitar a vida das pessoas são as caronas (7,85), o aluguel de casas para curtas temporadas (7,84) e o aluguel de bicicletas (7,66). As que obtiveram notas menores são o compartilhamento do local de moradia (6,74) e o aluguel de itens da casa, eletrônicos e ferramentas (6,55). Para 51%, falta de confiança nas pessoas é principal entrave para economia compartilhada O crescimento do consumo colaborativo no Brasil, contudo, ainda enfrenta barreiras. De acordo com a pesquisa, ainda há caminho a percorrer para tornar essas relações de consumo mais transparentes e confiáveis. Na opinião dos entrevistados, as principais barreiras para a economia compartilhada estão ligadas ao desconhecimento sobre quem está do outro lado. Mais da metade (51%) das pessoas ouvidas relataram a falta de confiança nas pessoas e o medo de ‘serem passados para trás’ e 43% falaram do perigo de lidar com estranhos. Outros temores são a falta de garantias no caso de não cumprimento do acordo (42%), falta de informação (37%) e desconfiança com relação a qualidade daquilo que está sendo dividido (30%). “A economia

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