Arquivos Mudanças Climáticas - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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Hebert Tejo

"Temos duas novas propostas para a Escola de Sargentos do Exército com impacto ambiental muito menor"

Os danos ambientais provocados pela construção da Escola de Sargentos na APA Aldeia Beberibe são ressaltados pelo presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia, Herbert Tejo. Ele diz que a obra afetará o abastecimento hídrico e espécies de flora e fauna, muitas delas que só existem na região. Mas afirma ter alternativas sustentáveis para projeto. O Fórum Socioambiental de Aldeia, presidido por Herbert Tejo, tem sido uma das principais vozes da sociedade civil na defesa ambiental da região. Após o debate acerca do Arco Metropolitano, o novo ponto de preocupação é a instalação da ESA (Escola de Sargentos de Armas do Exército). Com quase 23 anos, a organização tem como foco o equilíbrio ecológico. A principal preocupação dos seus integrantes não está na criação da Escola, mas na escolha da localização, que impacta diretamente o maior fragmento de Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco.   Herbert Tejo, que é mestre em gestão ambiental, e os demais membros do Fórum têm participado ativamente de debates e negociações com o Exército, o Governo do Estado e demais entidades envolvidas. O debate público conseguiu avanços significativos, como a retirada das vilas militares da área de proteção e a redução do espaço ocupado pelo empreendimento. No entanto, ainda há pontos de desacordo, principalmente no que diz respeito ao cumprimento do Código Florestal e da Lei Estadual 9860/86. Agora, uma nova proposta surge no horizonte, prometendo minimizar os impactos ecológicos do projeto e reacendendo o debate sobre a viabilidade de alternativas de locais para instalar a ESA. O Fórum Socioambiental de Aldeia tem sido uma voz muito presente da sociedade nos debates sobre o Arco Metropolitano e acerca da Escola de Sargentos de Aldeia. Como funciona essa organização? O Fórum Socioambiental de Aldeia é uma organização comunitária, sem fins lucrativos, apartidária e em 2025 está completando 23 anos. A entidade tem como missão a defesa do território da APA Aldeia-Beberibe, o combate em todas as esferas, pública e privada, às agressões ambientais e ao descumprimento do que estabelece a legislação ambiental vigente no País. A instalação da Escola de Sargentos na APA é a principal preocupação dos moradores de Aldeia atualmente? As ameaças ao território de Aldeia são muitas e de toda ordem: da iniciativa privada, com a especulação imobiliária desenfreada que resulta em adensamento populacional incompatível para uma Unidade de Conservação, e do poder público, pelas ações e omissões dos gestores públicos. No campo das ações, todos os projetos lançados nos últimos 15 anos operam na direção de degradar o meio ambiente nesta região. No campo das omissões, falham em cumprir suas obrigações de zelar e fazer valer o arcabouço legal protetivo desse território.  Até então, a maior das lutas vinha sendo contra o traçado norte do Arco Metropolitano, defendida por todos os governos desde 2012. O traçado que corta a APA Aldeia-Beberibe ao meio, inviabilizando o território como Área de Proteção Ambiental. Criamos a campanha Arco Viário, Arrudeia!, ou seja, “arrudeia” a APA. Nós nos dedicamos a estudar alternativas que o viabilizassem, para garantir a obra que reconhecemos como uma das mais importantes para o desenvolvimento do Estado.  Mas aí, no meio da luta contra o traçado do Arco, surge uma ameaça ainda maior: a localização do Complexo Militar da ESA, patrocinada por uma aliança poderosa, uma vez que se soma ao Exército Brasileiro, o Governo do Estado e o Governo Federal. Todos juntos em defesa do desmatamento evitável. Respondendo objetivamente sua pergunta: sim, a ESA hoje é nossa maior preocupação, não o projeto em si, mas sua localização irracional. Com um agravante, a ESA, onde se projeta atualmente, atrai o Arco que o governo quer. Essa convergência de duas obras é desastrosa ambientalmente para a região. Determinará o fim de uma Área de Proteção Ambiental. Haveremos de chamar de Área de Destruição Ambiental – ADA! "A ESA, onde se projeta atualmente, atrai o Arco que o governo quer. Essa convergência de duas obras é desastrosa ambientalmente. Determinaremos o fim de uma Área de Proteção Ambiental. Haveremos de chamar de Área de Destruição Ambiental – ADA!" Como têm sido as tratativas com o poder público? Quando o tema é a defesa do meio ambiente, as tratativas com o poder público são sempre difíceis. O discurso político ambiental é esquizofrênico. O discurso e a prática de quem exerce o poder costumam estar totalmente dissociados. O Exército alardeia que seu projeto da ESA, com o desmatamento que propõe e os impactos ambientais irreversíveis, é um exemplo de sustentabilidade para o mundo. O Governo do Estado, por sua vez, se afirma defensor do meio ambiente e é omisso na defesa do território. Em nenhum momento se manifestou na defesa das alternativas locacionais apontadas pelo Fórum, nem para ser contra. O Governo Federal, que brada ao mundo combater o desmatamento e preservar as florestas tropicais, vem ao Estado para criticar os ambientalistas e enaltecer o projeto desmatador. Mas reconhecemos a importância da iniciativa da governadora Raquel Lyra quando criou um grupo de trabalho por meio de decreto, o GT-ESA. Ou seja, criou uma mesa formal de diálogo composta por representantes do poder público, do Exército, o Fórum Socioambiental de Aldeia, um representante da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e um da Alepe (Assembleia legislativa de Pernambuco). Foi importante porque até então não existia diálogo com o Exército. Nesse GT, tivemos a oportunidade de demonstrar as irregularidades legais, a desatenção com o arcabouço legal protetivo e dedicado ao território afetado, especialmente por se situar dentro de um local reconhecido pelo Estado como Área de Proteção de Mananciais e como Patrimônio Biológico de Pernambuco. Como resultado, o Exército promoveu três revisões do projeto original. Houve avanços. O desmatamento original defendido era de 188 hectares, depois foi revisado para 146 hectares, com o incremento de verticalização dos equipamentos. No final de 2023, o Exército retirou as duas vilas militares de dentro da Mata. Mas continua um desmatamento gigantesco de quase 100 hectares. Qual a principal preocupação do Fórum Socioambiental com esse projeto? Qualquer desmatamento em um bioma em extinção

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Washington S. Ferreira Junior

Docente da UPE assume liderança da Resiclima para fortalecer pesquisa sobre mudanças climáticas

Washington S. Ferreira Júnior coordena rede global de cientistas dedicada ao impacto climático na sociedade e biodiversidade A partir de 1º de abril, o professor doutor Washington Soares Ferreira Júnior, da Universidade de Pernambuco (UPE), assume a Coordenação Geral da Rede Resiclima, um grupo interdisciplinar que reúne pesquisadores de mais de 20 instituições no Brasil e no exterior. A rede investiga a relação entre as mudanças climáticas e seus impactos socioambientais, contribuindo para a produção científica e a disseminação de informações sobre o tema. Ferreira Júnior sucede o professor Ulysses Paulino Albuquerque (UFPE), que agora lidera a Coordenação de Produção Científica da Resiclima. Com atuação em diversas frentes de pesquisa, a Resiclima busca compreender como as mudanças climáticas afetam tanto os ecossistemas quanto as populações humanas. Os estudos envolvem temas como percepção pública das mudanças climáticas, impactos na biodiversidade, saúde e nutrição, além da comunicação eficaz sobre os riscos ambientais. Segundo Ferreira Júnior, a rede trabalha de forma interdisciplinar, unindo especialistas de áreas como psicologia, ecologia e etnobiologia, com o objetivo de fornecer dados que possam embasar políticas públicas e estratégias de adaptação e mitigação. Em agosto de 2024, a Resiclima realizou no Recife sua I Reunião de Perspectivas Multidisciplinares sobre as Mudanças Climáticas. O evento resultou na divulgação de uma carta aberta à sociedade, reforçando a necessidade de ações coordenadas diante da crise climática. A capital pernambucana foi escolhida como sede do encontro por estar entre as cidades mais vulneráveis do mundo às mudanças climáticas. Sobre Washington Soares Ferreira JúniorDoutor em Botânica pela UFRPE e mestre em Biologia Vegetal pela UFPE, Ferreira Júnior é professor associado da UPE e docente permanente nos programas de pós-graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza e em Ciência e Tecnologia Ambiental. Suas pesquisas exploram as interações entre grupos humanos e o meio ambiente, com foco especial no uso de plantas medicinais e na evolução de sistemas médicos tradicionais.

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embrapa 1

Agroecologia pode retardar efeitos da crise climática nas lavouras

(Da Agência Brasil) O excesso de calor dos últimos dias está afetando lavouras de soja, milho e arroz na Região Sul do Brasil e também plantações de café e de frutas na Região Sudeste. A cada ano aumentam os impactos causados pelas mudanças climáticas sobre a produção de alimentos. De acordo com a climatologista Francis Lacerda, pesquisadora do Instituto Agronômico de Pernambuco, estratégias de agroecologia podem retardar esses efeitos e diminuir a ameaça de insegurança alimentar. Pelo menos por enquanto. "Existem práticas que podem ainda reduzir esses efeitos. Eu digo ainda porque daqui a pouco não vai poder mais", alerta a especialista. A primeira missão é reflorestar. "Uma prática que se faz muito na agroecologia é o consórcio. Você planta uma árvore frutífera e, do lado, você planta uma leguminosa, feijão, milho, faz esse plantio todo junto... E essas plantas vão interagir de uma forma que vão beneficiar umas às outras. Tem uma que vai buscar água lá no fundo, porque a raiz dela é pivotante, mas outra que não consegue. Aquelas plantas que não aguentam muita incidência de radiação ficam melhores [quando] associadas a árvores grandes, que fazem sombra para elas. A gente precisa fazer um reflorestamento e implementar esse modelo do sistema agroflorestal," diz a especialista. Ela acrescenta que a diversificação de culturas favorece a fertilidade e proteção dos solos, além de reduzir os riscos de pragas e doenças, "contribuindo para a não utilização de agrotóxicos e garantindo ao agricultor vantagens ambientais e financeiras, tais como investimentos mais baixos e colheita de produtos diversificados, evitando riscos econômicos provenientes de condições climáticas extremas". Mudanças surpreendem agricultores  A climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco Francis Lacerda. Foto: IPA/Divulgação A climatologista lembra que a grande maioria dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras é produzida por agricultores familiares, que se veem cada vez mais surpreendidos com as mudanças no clima. "Porque eles não conseguem mais ter as práticas que  tinham de plantar em tal período, de colher em outro. E geralmente quando a gente tem essas ondas de calor, [o total] de alguns organismos no ecossistema que são mais resilientes - insetos, fungos e bactérias - aumenta muito e eles arrasam com a produção", acentua. Por isso, Francis defende também políticas públicas de implementação de tecnologias para que as comunidades consigam captar e armazenar a própria água e gerar a energia consumida, ficando menos vulneráveis aos efeitos climáticos. Deve-se "dar autonomia a essas comunidades para produzir o próprio alimento dentro dessas condições, e ainda fazer o reflorestamento da sua propriedade, é possível, é barato e os agricultores querem", salienta. Enquanto isso não é feito em larga escala, a incidência de algumas espécies vegetais endêmicas dos biomas brasileiros está diminuindo, de acordo com a climatologista, "inclusive espécies adaptadas para se desenvolver em áreas secas e quentes". Água nas raízes "O umbuzeiro, por exemplo, uma planta que é uma referência para o semiárido. Ela é muito resiliente e guarda água nas suas raízes porque está acostumada a lidar com as secas. Os umbuzeiros estão sumindo da paisagem porque eles não conseguem mais se adaptar a essas variáveis climáticas atuais", avalia. A climatologista do Instituto Agronômico de Pernambuco diz também que essas lições podem ser aplicadas ao meio urbano, “reservando espaços na cidade que possam servir para o cultivo de alimento, como quintais produtivos e farmácias vivas. Mas é preciso ter uma política pública que oriente e que financie. Porque quem tem dinheiro manda buscar a comida, mas sem justiça social não se combate as mudanças climáticas. É preciso pensar em formas inovadoras de produzir e garantir a segurança hídrica, energética e alimentar para as populações do campo e da cidade", finaliza.

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Recife Chuvas

É a economia... e o meio ambiente: a inevitável conexão com as mudanças climáticas

Eventos extremos, como as chuvas da semana passada, mostram que a resiliência urbana e políticas ambientais são essenciais para o desenvolvimento econômico Todo final de ano fazemos matérias de perspectivas econômicas para analisar o que vem pela frente. Para um dos especialistas nacionais que entrevistei, perguntei sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas na economia. Ele sugeriu que eu entrevistasse um ambientalista. Ele falava de PIB, inflação, desemprego… não de meio ambiente. Além de todos os transtornos e até vítimas, as chuvas desta semana, mais uma vez, fecharam comércios, cancelaram aulas e deixaram casas inundadas e vários bairros sem energia. Vidas perdidas, patrimônios destruídos e cidades paradas esperando a chuva parar. Mais uma demonstração de que não dá para falar de economia sem tratar de meio ambiente. Os investimentos para tornar as cidades mais resilientes não são baixos. Em uma região com tantas famílias vivendo às margens dos rios e nos morros, a necessidade de políticas robustas de moradia ganham outra dimensão. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DO RECIFE NO EVENTO DA FIEPE O novo secretário de Desenvolvimento Econômico do Recife, Carlos Andrade Lima, é um dos convidados da mesa de abertura do IV Seminário Brasil de Economia. O seminário, que acontece na próxima quarta-feira (12.02), é promovido pela Fiepe e o Conselho Regional de Economia de Pernambuco. Em 2024, o Recife foi responsável pela criação de um a cada três empregos com carteira assinada em Pernambuco. O número ratifica a posição da capital como principal cidade geradora de empregos formais do Estado. INVESTIMENTOS IMOBILIÁRIOS EM JABOATÃO DOS GUARARAPES A Direcional Engenharia expande sua presença em Jaboatão dos Guararapes com o lançamento dos empreendimentos Viva Vida Jardim Botânico e Direcional Conquista Jaboatão, que integram os programas Minha Casa, Minha Vida e Morar Bem Pernambuco. Os projetos somam 720 unidades habitacionais e incluem infraestrutura de lazer completa, além de obras de contrapartida social, como pavimentação de ruas e melhorias no abastecimento de água. “Com o lançamento de dois empreendimentos em Jaboatão dos Guararapes, reforçamos nossa atuação estratégica em uma cidade onde temos alcançado resultados expressivos”, afirma Renato Bezerra, superintendente comercial e de incorporação da Direcional em Pernambuco. NISSIN LANÇA PRODUTO DE OLHO NO MERCADO DO NORDESTE A Nissin Foods amplia sua conexão com o público do Norte e Nordeste ao lançar o Nissin Lámen sabor Cuscuz com Calabresa, um tributo à culinária regional. Com embalagem assinada pelo xilogravurista J. Borges, o produto não só celebra um dos pratos mais emblemáticos do Nordeste, mas também reforça a estratégia da empresa de valorizar a cultura local. “O cuscuz é uma verdadeira paixão no Nordeste, e trazer essa combinação em um lámen é nossa forma de celebrar a energia, os sabores e as histórias dessa terra tão vibrante”, afirma Danielle Ximenes, gerente da marca. A empresa, que é líder no segmento de macarrão instantâneo, possui uma das suas fábricas em Pernambuco, na cidade de Glória de Goitá. A outra unidade fica no interior de São Paulo. SETOR DE BARES E RESTAURANTES BATE RECORDE DE EMPREGOS EM 2024 NO PAÍS O setor de alimentação fora do lar criou 230 mil novas vagas em 2024, atingindo 5,74 milhões de trabalhadores, o maior número da série histórica iniciada em 2016, segundo a PNAD do IBGE. Com um crescimento de 4,2%, bem acima da média nacional de 0,8%, bares e restaurantes reforçam sua importância para o mercado de trabalho. Além disso, o salário médio no setor subiu 5,8%, chegando a R$ 2.190. Para que esse crescimento continue, empresários defendem medidas como a desoneração da folha de pagamento e o fortalecimento do trabalho intermitente.

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Acidificação dos oceanos deve se intensificar nas próximas décadas

Elton Alisson/via Agência FAPESP Considerado um dos fenômenos que mais afetam os oceanos atualmente, a acidificação oceânica só foi mencionada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) em seu quinto relatório de avaliação (AR5), publicado em 2013 – o primeiro relatório é de 1990. O órgão da ONU destaca no Sumário para formuladores de políticas públicas do AR5 que o oceano tem absorvido cerca de 30% do dióxido do carbono atmosférico (CO2) emitido pela ação humana (antropogênico). O aumento da concentração e da dissolução de CO2 tem diminuído o pH da água superficial dos oceanos desde o início da era industrial e aumentado sua acidez, afirmaram os autores do relatório. A partir de então, a acidificação dos oceanos passou a integrar todos os cenários de mudanças futuras do clima do AR. O tema deve ganhar ainda mais destaque no AR6 – previsto para ser finalizado em 2021 – e no Relatório Especial sobre o Oceano e a Criosfera em um Cenário de Mudanças Climáticas, que deve ser finalizado pelo IPCC em setembro de 2019, estimou Jake Rice, membro do grupo de especialistas da Avaliação Mundial dos Oceanos da ONU. Especialista em ecologia e biologia marinha, conselheiro e cientista-chefe do Departamento de Pesca e Oceanos do Canadá, Rice é um dos pesquisadores convidados da São Paulo School of Advanced Science on Ocean Interdisciplinary Research and Governance. O evento, realizado pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IO-USP), com apoio da FAPESP, ocorre até 25 de agosto no Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. “Há uma confiança muito alta de que a acidificação dos oceanos tem aumentado e têm sido bastante documentado os efeitos desse fenômeno em organismos marinhos que dependem de carbonato de cálcio para seus processos de calcificação”, disse Rice. “As séries temporais de observação dos oceanos, que permitiriam estimar a taxa e a trajetória desse fenômeno ao longo das últimas décadas, contudo, são muito curtas. As de acidez oceânica em águas costeiras, por exemplo, datam de pouco antes de 2005”, disse. De acordo com o pesquisador, os modelos de sistemas terrestres projetam um aumento global na acidificação e diminuição no pH oceânico em todos os cenários de emissão e concentração de gases de efeito estufa, mas com grandes e incertas variações regionais e locais. Os países em desenvolvimento e as pequenas ilhas dos trópicos, que dependem de recursos marinhos, serão os mais afetados diretamente ou indiretamente pelo fenômeno. Os impactos negativos da acidificação oceânica devem variar de mudanças na fisiologia e comportamento dos organismos (como moluscos) e na dinâmica populacional e afetarão os ecossistemas marinhos (como os recifes de corais), durante séculos se as emissões de CO2 continuarem no ritmo atual. Mas há uma série de outros impactos, muitos dos quais ainda não compreendidos, ponderou Rice. “A acidificação dos oceanos ilustra vários dos desafios que temos enfrentado em ciência do oceano. É preciso mais dados que nos permitam estabelecer relações entre as propriedades físicas de sistemas dinâmicos, com impactos biológicos nos ecossistemas e na sociedade”, disse. Na opinião do canadense, um dos fatores que tornam mais difícil fazer ciência dos oceanos em comparação com as ciências da terra é a maior facilidade em entender a dinâmica terrestre porque vivemos em terra. Dessa forma, é possível ver e analisar diretamente como o sistema terrestre funciona. “Nossa compreensão do oceano precisa prestar mais atenção às evidências e menos à percepção de que é possível entendê-lo por analogia ou inferência do conhecimento sobre a terra e seus sistemas biofísicos”, disse Rice. Mais informações sobre a São Paulo School of Advanced Science on Ocean Interdisciplinary Research and Governance: http://espca.fapesp.br/escola/72.

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Soluções para a escassez hídrica

Pesquisas apontam uma piora da seca nas próximas décadas, para enfrentar o futuro com menos água é necessário recorrer às novas tecnologias e melhorar o abastecimento   Pernambuco é um dos Estados do Brasil com pior potencial hídrico, de acordo com pesquisa da Agência Nacional de Águas (ANA). As imagens do gado morrendo de sede e da vegetação da caatinga no solo rachado, no entanto, contrastam com a vasta produção de manga e uva nos perímetros irrigados ou mesmo com o verde dos canaviais da Zona da Mata. Além de uma precipitação média muito abaixo da média nacional, ela é concentrada em parte do território estadual. Uma terra de realidades extremas quando assunto é disponibilidade de água. Mas, com a redução das chuvas nos últimos anos, ambos os lados desse cenário sofreram. Como as previsões pluviométricas para os próximos anos não são das melhores – e ainda são agravadas pelas mudanças climáticas – o caminho para um futuro com maior produtividade e menor sofrimento para a população humana e animal passa por infraestrutura e pelo uso de soluções tecnológicas. O balanço de chuvas da Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) em 2015 mostra o impacto da seca na produção agrícola e na qualidade de vida da população. Na região sertaneja, a precipitação média foi de 323,3 milímetros, o que é 47% menor que a média histórica. Agreste, Zona da Mata e Região Metropolitana do Recife tiveram redução na média de chuvas respectivamente de 31%, 17% e 24%. “Identificamos um ciclo natural das chuvas do Nordeste que em um período de 10 anos, seis estão abaixo do normal e apenas um ou dois anos há chuvas acima da média. Frente a esse cenário, o ideal é que sejam tomadas providências para minimizar os efeitos dos períodos mais secos. A seca no Estado sempre ocorreu e sempre irá ocorrer”, afirma o doutor em meteorologia Roberto Pereira. Ele alerta ainda que em oposição ao decréscimo da precipitação há um aumento populacional. Uma fórmula matemática que provoca a cada ano uma diminuição da disponibilidade de água. Outro problema apontado é a grande diferença na ocupação espacial do território pernambucano que desafia a gestão do consumo da água. “Na verdade temos situações e realidades completamente diferentes ao longo do Estado. Áreas com pouca gente e pouca água, com muita gente e pouca água, lugares com pouca gente e muita água e de muita gente e muita água. Cada situação precisa de formas de lidar diferentes, além de possuírem vocação para atividades produtivas distintas”, aponta o professor da Faculdade Guararapes, Alexandre Ramos, que é especialista em saneamento e recursos hídricos e mestre em tecnologia ambiental. Ele lembra que a RMR e a Zona da Mata dispõem de água suficiente, mas precisam de infraestrutura para acumulação e distribuição. Na Mata Norte há muita água, mas não possui reservatórios, tendo o desempenho da sua produção agrícola vulnerável à intensidade das chuvas. No relato do professor, o Sertão, apesar das baixas precipitações, possui grandes reservatórios e está com novas infraestruturas de distribuição hídrica em andamento, além de possuir uma população reduzida. No Vale do Ipojuca, com uma grande população, a situação é mais crítica. Se o lençol é curto, cada um puxa para um lado. O uso dos recursos hídricos em geral são divididos entre a irrigação agrícola, o consumo humano e animal, o uso industrial e a produção de energia. Em Pernambuco, 63% da água vai para a irrigação e outros 9% para a indústria. Os consumos urbanos, rural e animal juntos somam 28% do uso da água no Estado. Para o diretor-presidente da Apac, Marcelo Asfora, sempre a prioridade deve ser o consumo humano e a dessedentação (consumo de água) animal . “Pelas características do nosso clima nós enfrentamos esse dilema. É necessário priorizar esses usos e incentivar o desenvolvimento agrícola, industrial e de produção de energia do Estado com tecnologia. É urgente partir para uma produção agricícola com maior eficiência do uso de água, além de optar por culturas com maior valor agregado, como é o caso da frutivinicultura no Vale do São Francisco”. Os especialistas são unânimes em relação à urgência de garantir um uso mais eficiente da água na produção agrícola. Os investimentos que aconteceram nas últimas décadas no Estado focaram mais na infraestrutura para disponibilidade da água para essa produção, como acontece nos perímetros irrigados. “Se é a agricultura que consome aproximadamente dois terços do volume de água do planeta, isso nos dá uma orientação de que se conseguirmos reduzir 5% disso com sistemas eficientes, já faremos uma grande economia. Temos uma agricultura irrigada que usa ainda processos muito perdulários. O desafio é aprender a produzir ocupando menos áreas, com maior produtividade por hectare”, afirma Asfora. O presidente da Apac lembra ainda que a atividade rural que mais ocupa pessoas é a de sequeiro, que depende apenas das chuvas, correndo um grande risco de colapso nos períodos de maior escassez. Um case para inspirar o desenvolvimento de sistemas mais eficientes de produção no campo é o de Israel. Mesmo tendo metade do seu território tomado por regiões desérticas, o País do Oriente Médio produz 90% da demanda interna de alimentos e ainda gera excedentes para exportar. “Israel enfrentou o desafio de transformar o deserto em área cultivável. Para enfrentar a situação natural adversa, os dois carros-chefes foram o desenvolvimento de tecnologia para geração de recursos hídricos aproveitáveis e para geração de energia, além da criação de sistemas para economia e reúso de água”, explica Ramiro Becker, diretor regional da Câmara Brasil-Israel de Comercio e Industria. No país, onde a situação de disponibilidade hídrica é muito mais complicada que em Pernambuco, uma das tecnologias usadas é a de dessalinização da água do Mar Mediterrâneo. A maior usina do mundo de dessalinização está localizada na cidade de Hadera, gerando 130 milhões de litros de água potável por ano. Só o volume desse equipamento, que foi instalado em 2010, é capaz de abastecer um a cada seis israelenses. “Isso tornou possível a Israel ser

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