Arquivos Z_Destaque_entrevista - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Z_Destaque_entrevista

Sandro Prado

“Seguimos no ranking como o estado com o maior número de desemprego”

​​As causas que colocam o Estado com o maior percentual de desempregados no País são analisadas pelo economista Sandro Prado, da Fcap/UPE, que também aponta as possíveis soluções. Ele defende a qualificação da mão de obra e faz um alerta sobre os impactos da uberização no mercado de trabalho e a tendência de aumento de desocupados entre a população 50+.  Brasil, segundo o IBGE, atingiu no segundo trimestre deste ano, a menor taxa de desocupação desde o início da série histórica da PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), em 2012. O índice ficou em 5,8% e Pernambuco acompanhou a queda ao registrar o percentual de 10,4% contra a taxa de 11,6% aferida no primeiro trimestre de 2025. Apesar da boa notícia da recuperação, o Estado, porém, amarga a incômoda posição de ter o maior nível de desemprego em todo o País. Cláudia Santos conversou com o economista Sandro Prado, professor da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (UPE) para analisar os motivos que levam o Estado a figurar no indesejável topo desse ranking. Ele também apontou as políticas públicas necessárias para elevar o número de vagas no mercado de trabalho, em especial para os jovens – grupo mais afetado pelo desemprego – e também para população 50+. São pessoas que esperavam se aposentar, mas, surpreendidas pela Reforma da Previdência, terão de atuar por mais 10 anos num mercado de trabalho que as rejeitam devido ao etarismo. Resultado: recorrem ao Bolsa Família, sem perspectiva de sair do benefício.  Prado também analisou o impacto da uberização, que seduz homens jovens com a ilusão de um trabalho sem patrão, mas também sem sustentabilidade no longo prazo. Em consequência, muitas vagas destinadas à população masculina começam a ser preenchidas por mulheres.  “O deslocamento delas para atividades ocupadas culturalmente por homens pode ser um caminho sem volta”, estima o economista.  Embora tenha apresentado quedas ao longo dos meses, a taxa de desemprego em Pernambuco, segundo o IBGE, foi de 10,4% no segundo trimestre de 2025. É a maior do Brasil e a única com dois dígitos. O que vem ocasionando esse desempenho? O fato de Pernambuco liderar o ranking – sempre disputando com a Bahia – do maior índice de desemprego do Brasil, foi muito trabalhado por alguns candidatos oposicionistas ao Governo de Pernambuco. Com a entrada desse novo governo, houve esforços, como a criação de uma secretaria específica para empreendedorismo e empregabilidade. Já no âmbito nacional, considerando o recorte do Governo Lula, o desemprego, no Brasil, cai drasticamente, temos a menor taxa dos últimos tempos (5,8%) e isso fez com que o desemprego diminuísse também em Pernambuco.  Porém, nosso crescimento na diferença entre empregos de novos contratados e de pessoas demitidas não foi suficiente para Pernambuco sair dessa incômoda posição. O Governo do Estado, como todos os governos, tem trabalhado na redução, fez a lição de casa e evoluiu na criação de emprego, devido ao crescimento econômico do Brasil. Mas, além de sustentarmos o último lugar na taxa de emprego, estamos mais distantes da Bahia, que é o segundo colocado negativo, depois vem o Distrito Federal.  Por meio do nosso polo industrial, com Suape, Hemobrás, Stellantis, criamos e conseguimos atrair muitas vagas de empregos na indústria que pagam melhor. Mas hoje as plantas são muito enxutas, têm baixa empregabilidade e não temos ainda o número suficiente de fábricas. O agribusiness, uma agricultura com muita tecnologia, também cresceu muito com a irrigação do São Francisco, gerando uma boa empregabilidade a partir da produção de uva e manga que, embora elevada, é também sazonal. Mas o padrão típico aqui é viver muito de serviços por causa do turismo, das praias e das grandes festas, como São João e Carnaval. A maioria da população vive dessas vagas de emprego que são voláteis e pagam menos.  O setor não possibilita a criação de vagas sustentadas com média salarial mais elevada a ponto de termos um desempenho melhor do que o restante da Federação.  Portanto, por mais que tenham existido esforços do Governo do Estado e da Prefeitura do Recife, que é o município que cria o maior número de oportunidades com muitos postos de trabalho, ainda não há uma interiorização dessa empregabilidade. Essa interiorização poderia ter ocorrido se a Transnordestina tivesse evoluído, por exemplo. Porém, nosso Estado ainda é muito dependente da criação polarizada de postos de trabalho na Região Metropolitana do Recife e, infelizmente, seguimos no ranking como o estado com o maior número de desemprego.  Isso é horrível, porque não somos o estado mais pobre, nem com menor infraestrutura, pelo contrário, somos uma grande potência no Nordeste, mas não conseguimos fazer o básico que é dar emprego às pessoas. Esse ranking mostra que estamos muito mal em termos de emprego. Evoluímos, crescemos, mas cabe ao Governo do Estado e aos municípios a criação de postos de trabalho para que Pernambuco evolua e saia dessa horripilante posição. Um dos principais problemas seria a ausência de descentralização de oportunidades de emprego? Sim. Claro que há outros fatores. O comércio varejista sentiu muita dificuldade por causa do e-commerce, dos grandes marketplaces. Há também reconfigurações diante do avanço tecnológico, pois o emprego tem mudado de cara. Profissionais como porteiros de edifícios, por exemplo, são substituídos por portarias eletrônicas. Contudo, ao mesmo tempo, criam-se outras oportunidades, no serviço, como é o caso do turismo. Então, tem-se o desempenho estrutural do desemprego, que não é só em Pernambuco. Se outros estados brasileiros estão com números de desemprego muito menos incômodos do que os nossos, há sinalização de que realmente o poder público tem que fazer mais, o papel do estado é fomentar emprego e o empreendedorismo, é fomentar situação de renda para a população.  A partir do momento que se consegue isso, melhora-se, inclusive, a tributação, a receita, menos pessoas passam a depender de programas assistencialistas. Percebe-se que há um esforço, tivemos uma evolução, por exemplo, no número de creches, condição essencial para que as mulheres possam trabalhar fora.  Mas ainda é necessário haver preparação da mão

“Seguimos no ranking como o estado com o maior número de desemprego” Read More »

Catharina Machado Ferreira

“Nossas iniciativas de sustentabilidade não começaram com essas três letrinhas – ESG. Está na nossa ancestralidade”

As ações de ESG do Grupo Cornélio Brennand são abordadas por sua diretora de Pessoas & Sustentabilidade, Catharina Machado. Ela explica as iniciativas inovadoras na área de governança, os avanços e metas no uso de energias renováveis, além dos projetos sociais que incentivam a educação e auxiliam organizações a obterem recursos financeiros. Respeito à cultura ancestral da empresa. Conexão com as tendências e o futuro dos negócios. Cuidado socioambiental. Esse tem sido o segredo da trajetória de sucesso do GCB (Grupo Cornélio Brennand) nestes 108 anos de atuação no mercado.  O que começou como uma fábrica de cerâmica, expandiu-se em três grandes operações: Vivix, fábrica de vidros planos; Atiaia Renováveis, uma das pioneiras na geração de energia limpa no Brasil, e Iron House, empresa especializada na concepção, planejamento e gestão imobiliária, a partir de projetos urbanísticos que valorizam o território, o meio ambiente e a convivência humana. Essa preocupação do GCB com o social e a preservação ambiental, segundo Catharina Machado Ferreira, diretora de Pessoas & Sustentabilidade do grupo, esteve presente desde os seus fundadores. Ao longo do tempo, foi tomando uma dimensão maior. O que pode ser constatado no Relatório de Sustentabilidade que o GCB acaba de divulgar. O documento revela também os cuidados e as inovações destinadas à governança, de modo a manter os valores, como empresa familiar, afinados com uma gestão profissional. Na entrevista a seguir, concedida a Cláudia Santos, a diretora de Pessoas & Sustentabilidade detalha as ações de ESG (relativas a meio ambiente, ao social e à governança) do Grupo Cornélio Brennand. No relatório de sustentabilidade, vocês prestam homenagem a Cornélio Coimbra de Almeida Brennand. Qual a importância do empresário para o grupo? Ele faleceu este ano. Por isso, a homenagem. Nossas iniciativas de sustentabilidade não começaram com essas três letrinhas que vieram para o mercado (ESG). É algo que está na nossa ancestralidade, desde sempre, e Cornélio Coimbra teve influência fundamental na construção do nosso legado. Tinha visão empreendedora, coragem, ética e foco no longo prazo. O legado deixado por ele está muito forte na nossa cultura e decisões empresariais. Reconhecemos essa força da ancestralidade, da cultura, do que ele acreditava, como guia para a construção do nosso futuro.  A família Brennand está na quinta geração, e a nova geração mantém viva a missão de seu Cornélio, que é gerar valor econômico e social nos territórios onde atuamos. Nossas decisões equilibram-se no crescimento econômico com responsabilidade socioambiental. Talvez seja esse legado nosso maior aprendizado: o cuidado com a comunidade do nosso entorno, o equilíbrio econômico, o desenvolvimento dos nossos fornecedores, a integridade na relação com os nossos colaboradores. Tudo isso está ancorado no papel social da nossa governança. Nesse quesito governança, o grupo conta com um programa de formação de acionista. Como ele funciona? Chama-se Proa (Programa de Desenvolvimento dos Acionistas) e visa desenvolver os talentos de cada um dos familiares da melhor forma. Esse processo trabalha fortemente o dom de cada um porque alguns integrantes da família têm mais afinidade e conseguem contribuir melhor, por exemplo, com ações relacionadas ao legado familiar. Já outros podem contribuir mais para os negócios.  O programa existe para manter a família próxima do GBC, do entendimento do que é o grupo e do seu desenvolvimento. A ideia é obter o melhor de cada um e não encaixar todos no mesmo padrão. Em 2024, como consta no relatório, foi lançado o Proinha, que é esse mesmo programa mas voltado para os membros da família de até 15 anos.  O grupo também possui Comitês de Legado e de Formação e ainda conta com a Academia Governança. A senhora poderia explicar cada uma dessas iniciativas? A Academia de Governança é como se fosse a trilha de desenvolvimento, são os programas formais para desenvolver os membros da família e os executivos sêniores da organização, isto é, os presidentes e os diretores. São abordados diversos assuntos, como compliance, o impacto da inteligência artificial dos negócios etc. O Comitê de Formação é direcionado aos membros da família que estruturam as raias de desenvolvimento que o Proa vai oferecer, ou seja, quais os temas que os familiares terão que conhecer. No Comitê de Formação entram os processos dos critérios seletivos. Isto porque, para cada um dos fóruns de governança, há uma seleção, quase como um programa seletivo que uma pessoa participa quando vai trabalhar em alguma empresa, na qual ela tem que cumprir determinados requisitos. O Comitê de Legado funciona para não deixar a história da empresa morrer. É muito importante o grupo contar com membros da família de diversas gerações, inclusive dos mais novos, com esse papel, para que a empresa não se distancie da sua história e dos valores dos nossos fundadores. Temos que honrar nossa história, sem perder nossos valores, nossas raízes, mas olhando para o desenvolvimento, para o futuro, para o mercado, para as tendências. E é importante ressaltar que se cada novo membro da família quiser gerir o grupo do seu jeito, acaba fragilizando a organização por não ter governança, nem esse arcabouço de diretrizes, de acompanhamentos que fazem uma empresa que tem mais de 100 anos estar no mercado.  Inclusive, hoje na nossa estrutura organizacional, todas as posições de gestão, ou seja, diretoria e presidência, são ocupadas por executivos de mercado. Os membros da família integram as posições dos fóruns de governança que atualmente são ocupados por membros da terceira e da quarta geração.  Estamos num contexto de preocupação com a preservação ambiental. Como o grupo atua nesse sentido? A questão ambiental está consolidada na nossa cultura de sustentabilidade e, a cada relatório, isso vai amadurecendo. Ano passado, de forma transversal para todo o grupo, tivemos um plano de estratégia climática e o aperfeiçoamento dos inventários de emissão de gases de efeito estufa. Então, 100% das operações do grupo realizam esse inventário.  Na Vivix, em 2024, fizemos uma revisão do planejamento estratégico, incluindo um pilar climático que busca soluções de combustível mais limpo para nosso processo produtivo. Também aumentamos nossa circularidade, aproveitando mais os cacos de vidro

“Nossas iniciativas de sustentabilidade não começaram com essas três letrinhas – ESG. Está na nossa ancestralidade” Read More »

montezuma

“É preciso pensar a casa como parte da cidade e seus espaços públicos”

O atual modelo brasileiro de habitação destinado às populações mais pobres é contestado pelo arquiteto, professor da UFPE e coordenador-geral do Projeto Recife Cidade Parque, Roberto Montezuma. Ele defende que não basta oferecer a casa. É preciso integrá-la à cidade e promover o acesso dos moradores a infraestrutura, serviços, lazer e áreas verdes. O tema será debatido em seminário nesta semana. á décadas, o Brasil tenta resolver o problema da habitação para os mais pobres erguendo conjuntos habitacionais nas periferias das cidades. São casas com acesso deficitário a infraestruturas, distantes dos locais de trabalho dos moradores e de serviços como escolas, atendimento médico, e de áreas verdes e de lazer. Além de impactar a qualidade de vida dessas populações, esse modelo resulta em problemas na mobilidade e repercute em prejuízos para toda a cidade.  Para contrapor a visão de conceber a residência sem estar articulada ao meio ambiente, às infraestruturas e às maneiras adequadas de uso e ocupação do solo, surgiu o conceito de habitabilidade que defende uma concepção de moradia integrada à cidade.   Nos próximos dias 6 e 7 de agosto, arquitetos, urbanistas, gestores públicos, representantes de moradores de comunidades vulneráveis e agentes financeiros vão debater a habitação popular sob esse prisma durante o II Seminário Recife Cidade Parque – Os Desafios da Habitabilidade no Recife. Será no auditório do Espaço 235 e a realização é do Projeto de Pesquisa de Desenvolvimento e Inovação Recife Cidade Parque (fruto de um convênio entre a Universidade Federal de Pernambuco e a Prefeitura do Recife) em parceira com as Secretarias Municipais de Desenvolvimento Urbano e de Habitação. Nesta conversa com Cláudia Santos, o arquiteto, urbanista e coordenador geral do projeto, Roberto Montezuma, contou como serão as discussões do seminário que vai apresentar experiências exitosas de habitação popular no Recife, no Brasil e no exterior. Montezuma também defendeu na entrevista um planejamento habitacional inclusivo, que não seja apenas voltado para as classes mais favorecidas, e criticou os condomínios murados com cercas elétricas. “São uma anticidade, é uma cidade medieval, não uma cidade contemporânea”. O II Seminário Recife Cidade Parque vai debater os desafios da habitabilidade no Recife. De que se trata esse conceito? Habitabilidade é qualidade do habitar. O conceito não se restringe apenas à moradia, é perceber o habitar de forma mais complexa e ampla, que é a própria cidade. Para formular um Recife mais democrático, um projeto de toda a população, três campos são fundamentais: meio ambiente, uso e ocupação do solo – que é como as casas, os comércios e espaços públicos são organizados – e as infraestruturas (água, luz, saneamento etc.). Nessa perspectiva, as habitações  de interesse social precisam se reorganizar levando em consideração esses campos. É preciso também pensar a casa como parte da cidade e seus espaços públicos, próxima de serviços como escolas, comércio, parques, tudo isso articulando a cidade com um organismo vivo. O modelo em que se acreditava que o problema da habitação social era apenas a casa já foi descartado desde a época do BNH (Banco Nacional da Habitação, instituição financeira pública brasileira criada em 1964). Construía-se a casa na periferia, a quilômetros de distância do centro da cidade, sem infraestruturas necessárias, de água, luz, esgoto, coleta de lixo. Um modelo que interfere inclusive na mobilidade. Como é que as pessoas circulam nessa cidade, já que residem tão distante? Nesse padrão de se pensar a casa de forma isolada, muitas pessoas que foram transferidas para residências na periferia retornaram ao local onde moravam ou, então, ocuparam novos espaços próximos ao seu trabalho.  Por isso, não é mais possível pensar a cidade apenas como um planejamento da classe média e da classe mais privilegiada. Porque, para ela funcionar, tem que contemplar as várias classes sociais, a própria espacialização tem que responder a esse conjunto amplo que forma a cidade, sem excluir a habitação social.  Também não se pode simplesmente construir, na periferia, conjuntos habitacionais bloqueados por muros, cercas elétricas, como é comum no Minha Casa Minha Vida, por exemplo. Esse modelo de condomínio para classe mais vulnerável não resolve o problema porque foi pensado para a classe média, que segue a perspectiva de viver dentro de um muro lacrado, de isolar-se da cidade, do meio ambiente, criar uma bolha autônoma e isso é muito ruim para a cidade. É preciso interagir, a cidade é um tecido que tem que ser oxigenado de forma total, em seus diferentes pontos. Quais os problemas advindos desse modelo de cidade cercada por muros?  Essas muralhas urbanas, cercadas, fechadas, opacas e protegidas por cercas elétricas são uma anticidade, é uma cidade medieval, não uma cidade contemporânea. Quando esse tipo de condomínio cercado é construído para as classes mais vulneráveis, em vez de ser um elemento que interage com a cidade, passa a ser algo hostil a ela. Não há interação nem transparência interior e exterior, não há continuidade da malha urbana articulada aos espaços públicos. Isso é muito ruim. Ou seja, esse modelo comum para a classe média, que visa se isolar, vem sendo o modelo tradicional da habitação nas comunidades, nas ZEIS (zonas especiais de interesse social). É um grande engano pensar que o problema da habitação de interesse social é apenas a casa isolada. Se pudéssemos fazer um grande resumo da lógica urbana, poderíamos dizer que o meio ambiente, isto é, o sistema ambiental, tem que estar articulado ao sistema das infraestruturas e também ao sistema de como se ocupa a cidade, como é que se constrói nessa cidade, como se permite que a moradia seja articulada com o espaço público de qualidade.  Por isso, a habitação não pode estar simplesmente jogada no morro, porque pode sofrer deslizamentos, não pode estar nas margens dos rios sem nenhum tratamento de esgotamento sanitário e ficar vulnerável à elevação das águas. Mas, a necessidade faz com que essa população vá ocupar esses lugares com fragilidades ambientais, geralmente espaços públicos de matas, de frentes d’água, sem infraestrutura. A habitação de uma maneira geral, tanto social e quanto a das classes mais

“É preciso pensar a casa como parte da cidade e seus espaços públicos” Read More »

ana elizabeth

Ana Elizabeth Cavalcanti: “Vivemos numa sociedade incompatível com a vida humana”

A psicanalista Ana Elizabeth Cavalcanti, sócia do CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem), faz uma análise contundente da crise de saúde mental no Brasil, apontando as raízes estruturais que adoecem o sujeito contemporâneo: hiperindividualismo, precarização do trabalho, colapso ambiental e culto à alta performance. Ansiedade, depressão, síndrome de burnout, compulsões, fobias. Esses sintomas têm se alastrado como uma epidemia silenciosa, atravessando faixas etárias, classes sociais e ocupações diversas. Mas o que há de comum nas causas desse adoecimento coletivo? Para a psicanalista Ana Elisabeth Cavalcanti, o problema não está nas pessoas, mas no sistema. “O capitalismo tardio, em sua versão neoliberal, criou um ambiente hostil à vida”, afirma. Na entrevista a seguir, Elizabeth traça conexões entre saúde mental, desigualdade, solidão, tecnologia e cultura da performance. E alerta: tratar os sintomas sem questionar o modelo de sociedade é como tentar conter um grande incêndio com baldes d’água. Com linguagem acessível e posicionamento firme, ela propõe que as saídas não sejam apenas individuais, mas comunitárias e políticas, pautadas no fortalecimento de vínculos, na solidariedade e na reconstrução de um ideal de bem-estar coletivo. Qual é o cenário base para explicar o avanço dos problemas de saúde mental que tem nos afetado com sintomas tão distintos? A gente está vivendo um capitalismo tardio que, do meu ponto de vista, é incompatível com a vida humana. Então, temos uma concentração de riqueza absurda e muitos em situação de vulnerabilidade extrema. Atualmente, o que importa é o lucro, é juntar muito dinheiro. Isso desfaz algumas condições que são indispensáveis para o ser humano, como a questão da solidariedade e das redes de apoio, que inclui família, amigos e também mecanismos sociais.  Hoje, infelizmente, nada é mais retrógrado do que pensar no estado de bem-estar social. Isso não significa que não haja pobres e ricos, mas significa que o estado deveria garantir o mínimo de bem-estar social, seja por meio de políticas públicas, seja por meio de políticas afirmativas ou de programas, como nós temos aqui com o Bolsa Família e o Pé de Meia. Por outro lado, dentro dessa mesma lógica, as pessoas foram “transformadas” em empreendedores de si mesmos. Muitas vezes, são pessoas em condições de miserabilidade, que vivem entregando coisas, atropelando-se nos sinais, voando com as motos e com as bicicletas, porque precisam produzir muito para ganhar pouco. Então, temos hoje esse fenômeno incrível que é o fato de 60% dos jovens abominarem a CLT [Consolidação das Leis do Trabalho]. Preferem ser empreendedores. É uma precarização absurda e que é englobada por esse discurso falacioso do neoliberalismo de que é mais importante empreender do que ter um trabalho com as suas garantias. Vivenciamos esse combate há muito tempo contra a CLT. Isso tem relação com o discurso de incentivo para o indivíduo “sair da zona de conforto”? A rigor, ninguém vive sem zona de conforto. Mas não estou falando de uma pessoa que é preguiçosa. É necessário ter sua zona de conforto, suas ilhas de conforto. Ninguém vive sem isso. É outra falácia.  É uma mensagem de que você não pode descansar, não pode ter seu momento de ócio criativo, nada disso é admitido. Aí, passam a existir apenas duas qualidades: consumidores e produtores. Duas coisas que estão interligadas porque para consumir é preciso ser produtivo.  Acho que a gente caminhou nesse sentido e chegará um momento em que vai surgir outra alternativa. Mas o que se desenvolveu é incompatível, vai surgir aí desse caldo alguma coisa diferente, mais compatível com a condição humana. Há um outro lado. A ideia de que é preciso dar sempre o máximo no trabalho. Quando a pessoa não suporta a pressão ou não atinge as metas incumpríveis, tudo isso é creditado ao indivíduo. Ninguém se pergunta se o que está ali em jogo é um sistema, uma exigência sobre-humana. Todo mundo vai dizer: “ah, isso aconteceu porque você não foi suficientemente competente, você não foi atrás dos seus objetivos; se você for atrás, se você fizer tudo, você vai alcançar os seus objetivos”.  Aliado a isso também, vivemos um período de exigência tecnológica que é imensa e que está corroendo a cabeça de muita gente, sobretudo das crianças, que não sabem mais esperar. Elas ficaram mais imediatistas, o mínimo de espera as torna completamente ansiosas. Não é uma patologia. Mas a criança vive pendurada numa tela, sendo bombardeada com informação de forma passiva, informações muitas vezes de que não dão conta. Daqui a pouco, elas não têm mais paciência de ler um texto de duas páginas porque estão habituadas a essas mensagens curtíssimas que você lê rapidamente. A gente tem o que poderia chamar de um ambiente extremamente hostil à vida humana. Quais são os efeitos no corpo de quem vive constantemente nessa situação de estresse? Existem as doenças chamadas psicossomáticas que são reumatológicas, alergias de todo tipo, gastrite, doenças autoimunes que têm tido um crescimento enorme. E há algo muito preocupante: o aumento exponencial do câncer que tem uma ligação com tudo isso, porque as pessoas não têm tempo de se alimentar, de fazer comida, só comem alimentos ultraprocessado porque são rápidos. Então, é muito contraditório porque a preocupação com a saúde e com o corpo ficou priorizada. Mas, acontece que a preocupação é com a performance, é produzir o máximo, é não envelhecer, é estar magro, é estar com o rosto todo harmonizado… É uma contradição estar se cuidando mas almejando um corpo performático, que não pode envelhecer, que não pode ter nenhum desvio.  É muito incrível porque a gente chama de cuidado, mas nisso entra a utilização de medicamentos, anabolizantes, ou seja, o que se chama de cuidado é voltado para a performance. É também fruto de muita angústia porque esses corpos que aparecem na internet com mil filtros são ideais inalcançáveis.  A exposição das redes sociais proporciona a comparação com esses modelos inalcançáveis? Eu acho que um dado dessa nossa cultura hoje é o oferecimento social de ideais que são inalcançáveis. Isso gera muita angústia. Ninguém vive sem ter ideais.

Ana Elizabeth Cavalcanti: “Vivemos numa sociedade incompatível com a vida humana” Read More »

Ana Paula Vilaca E

“O plano Centro Recife na Rota do Futuro é uma grande conquista”.

Secretária do Gabinete do Centro explica as diretrizes do planejamento que busca revitalizar a área central do Recife, focado no estímulo à moradia. Também visa melhorar a segurança, a mobilidade e impulsionar a economia do local. A ideia é tornar a região mais movimentada e atrativa para recifenses e turistas. Já faz algum tempo que a população se deu conta de que muitos projetos desenvolvidos por uma gestão governamental, mesmo que sejam eficazes, são descontinuados assim que começa o mandato de um novo governante. O motivo é a mera disputa política. Foi pensando em produzir um planejamento de longo para a região central do Recife, que pudesse ser abraçado pelos próximos governos municipais que o Gabinete do Centro do Recife, responsável pelo Programa Recentro, lançou o Centro do Recife na Rota do Futuro. Fruto de um intenso e amplo processo participativo – que envolveu de especialistas até empresários e o cidadão comum da cidade – o plano tem como foco o incentivo à moradia na região central, destinada a diferentes classes sociais. Mas também abrange medidas que dão qualidade a esse habitar no Centro, como a segurança, a mobilidade, a organização urbana e a preservação do patrimônio da área. Em consequência, a região vai recuperar a sua movimentação, impulsionar a sua economia e atrair visitantes locais e turistas. Empolgada com a conclusão do plano, a secretária do Gabinete do Centro, Ana Paula Vilaça, ressalta, nesta entrevista a Cláudia Santos, a importância do apoio da sociedade civil para colocá-lo em prática.  Ela também detalha  as suas diretrizes. O plano Centro do Recife na Rota do Futuro tem como um dos focos principais a habitabilidade na região, um conceito que extrapola o mero incentivo à moradia na área. A senhora poderia explicar essa visão presente no plano? A habitabilidade é entendida no sentido amplo de ocupar, de vivenciar o Centro do Recife. Então, isso é exercido por meio de múltiplas atividades, a moradia, que é o foco principal, é o nosso maior desafio, mas o plano também conta com outras atividades. O que nós queremos é o Centro da cidade ocupado, seja por moradores, por consumidores, por turistas, por visitantes, pelo próprio recifense, por meio de diversos usos e atividades.   O nosso desejo é que ele tenha um mix de atividades e atrativos, que seja frequentado em diferentes horários, todos os dias da semana, à noite, nos finais de semana, por diferentes públicos e por diferentes faixas etárias. Então, a gente acredita que o Centro da cidade tem esse potencial de atrair a diversidade, desde jovens, adultos, pessoas que vêm buscar os atrativos turísticos, consumir nas lojas, trabalhar. Ou seja, o que a gente entende como habitabilidade é esse conceito de vivenciar e ocupar o Centro da cidade por meio de diferentes atividades. Uma das ações que vem sendo noticiada sobre a moradia é o incentivo ao retrofit. Como está esse processo e qual é a sua expectativa dessa estratégia?  Desde que assumimos o Recentro, realizamos diagnósticos e percebemos que esse era o principal desafio: atrair moradores para a região central do Recife que, assim como todas as cidades do mundo, passou por um processo de esvaziamento, foi perdendo a sua importância. Isso porque a cidade começa a crescer para a sua periferia. A política habitacional do País constrói esses conjuntos habitacionais nas regiões periféricas e o Centro começa a sofrer esse esvaziamento.  Por consequência, acontece o esvaziamento da própria atividade econômica, com a concorrência com shopping centers, com as lojas nos bairros, com o comércio digital. Então, partimos para essa política de incentivar e atrair a moradia. Desde a criação do Recentro, a Prefeitura já concede benefícios fiscais de IPTU, ISS, ITBI, sobretudo para habitação de interesse social. Por exemplo, é possível chegar até a 10 anos de benefício, zerar o IPTU, aliado a outras medidas.  Isso porque, para atrair moradia, a gente precisa, por exemplo, ter um espaço público seguro, agradável, então começamos a investir também na questão do espaço público. Buscamos linhas de financiamento com os bancos porque havia uma dicotomia: não tem oferta de moradia, porque não tem demanda, se não tem demanda, dessa forma, não tem oferta. Não se sabia qual o problema que veio primeiro.  Diante disso, começamos várias tratativas com o mercado imobiliário para entender por que não existia essa oferta de moradia, porque não era atrativo fazer retrofit. Fomos identificando os gargalos, desde o processo burocrático de aprovação de um projeto na área central executado pelos órgãos de patrimônio, a questão dos custos e, assim, nós fomos tomando medidas para sanar esses obstáculos. Recentemente estamos revisando a Lei de Uso e Ocupação do Solo que concede benefício fiscal nessa transferência. Quem fizer o retrofit na região do Centro, vai ganhar potencial construtivo na Zona Sul, que é a área de maior interesse do mercado imobiliário. Fizemos também essas linhas de financiamento específicas, articulamos com o BNDES, com o Banco do Nordeste, com a Caixa Econômica Federal, para que tenhamos um Centro realmente atrativo.  A minha expectativa é que, dentro de quatro a cinco anos, nós teremos, sim, moradias sendo produzidas, sendo entregues. O programa Minha Casa, Minha Vida também tem uma linha para retrofit. A gente acredita nesse potencial de moradia para diversas classes sociais. Isso é importante frisar. Nós temos um mercado, por exemplo, com o Porto Digital que tem 18 mil pessoas trabalhando. Podem ser ofertadas moradias como flats, lofts para esse público.  Também existe a população de baixa renda que trabalha na área central e se desloca por cerca de duas horas vindo de outros municípios para trabalhar. Isso, inclusive, causa impacto na mobilidade. Acompanhamos estudos de retrofit que mostram também o impacto para o meio ambiente e a sustentabilidade, de poder reutilizar a estrutura construída. Isso é muito importante dentro desse contexto da pauta de desastres ecológicos. Nós estamos incentivando a ocupação do existente.  [O ex-secretário municipal de Planejamento Urbano do Rio de Janeiro] Washington Fajardo, que é o nosso consultor, diz que a melhor cidade é aquela  que

“O plano Centro Recife na Rota do Futuro é uma grande conquista”. Read More »

ricardo usina seguros

“Estamos entrando no mercado de franquias de seguros e iniciamos uma fusão”

Ao assumir a Usina do Seguro, o atual CEO da empresa, Ricardo Rodrigues, acreditava não ter aptidão para vendas, que é a principal atividade do setor. Ele investiu em conhecimento, consultorias e psicoterapia. Hoje a corretora apresenta um crescimento consistente, baseado numa gestão arrojada, que incorpora estratégias pouco usuais no mercado, como investir em franchising e iniciar um processo de fusão. Desde 2008, quando Ricardo Rodrigues passou a ser o CEO da corretora Usina do Seguro, a empresa familiar não para de crescer. Dois anos após assumir os negócios, o crescimento passou a ser de dois dígitos. Até 2018, esse percentual ficou entre 10 e 15% ao ano e, em 2020, 30%. No ano passado o faturamento alcançou os R$ 18 milhões, 8% a mais do que em 2023, performance que prevê repetir em 2025.  O número de clientes saltou de uma média de 500 para 3 mil e o de funcionários de 6 para 46. Antes a sede da empresa era alugada e hoje conta com duas unidades próprias. Para ampliar ainda mais o desempenho dos negócios, Ricardo Rodrigues resolveu inovar: entrou no mercado de franquias de seguro e iniciou uma fusão com outra corretora do mercado pernambucano. O mais surpreendente é ele afirmar que não tinha aptidão para vendas, uma atividade essencial no setor de seguros. “Comecei a estudar, a ler muitos livros sobre comportamento, empreendedorismo, gestão, pessoas. Contratei consultorias de RH. Entrei em psicoterapia. Por isso, viramos referência no mercado”, revela o empreendedor que, nesta entrevista a Cláudia Santos, aborda em detalhes a história dessa virada no comando da corretora.   Conte um pouco sobre trajetória da Usina do Seguro. Como surgiu a empresa? É uma longa história.  Nós temos 45 anos de história e resumidamente ela nasce lá em 1979 com minha mãe, Adeilda Júlia, vendendo plano de saúde. Nessa época eu tinha 2 anos. Entre os anos de 1983 e 1984, ela formaliza a empresa. Na época, chamava-se Nordeste Comercial e representava o plano de saúde Golden Cross. Então, ela e meu padrasto, Cícero, a quem chamo de pai, abrem a corretora e começam uma jornada para empreender de forma organizada, com CNPJ, contratando colaboradores, angariando vendedores.  Estudei administração de empresas, fiz cursos de pós-graduação e, em 2008, assumi a corretora. Em 2002, abri a corretora Usina do Seguro porque meu interesse era trabalhar com seguros de vida, de carro e residencial. Hoje, vendemos todos os tipos de seguro, mas os em que somos especialistas e estão entre os que mais vendemos são: plano de saúde, odontológico, seguro de automóvel, seguro residencial, seguro de vida e seguro de consórcio.  Em 2014, abri uma filial em Petrolina. Nossa empresa é familiar mas nenhum irmão quis tocar o negócio, então o processo de sucessão foi tranquilo, uma sucessão bem planejada. Hoje, o jurídico está a cargo do meu irmão. Nesse processo de sucessão, ele veio para dentro da empresa. Em relação à gestão, tenho uma tia que é supervisora de vendas, mas também já tivemos que desligar alguns familiares. Não é porque é uma empresa familiar que deixa de ser um negócio.  Na gestão da filial do Recife, meus pais não participam. Aqui e acolá, peço um conselho para eles, porque não vou desperdiçar essa sabedoria. Hoje eles comandam a filial de Petrolina desde 2018.  Em relação à gestão, quais competências o senhor teve que desenvolver para estar à frente da empresa?  A minha maior dificuldade é que minhas habilidades comportamentais eram muito voltadas para a parte financeira. Amo uma planilha, dados, e, de repente, fiquei à frente de uma corretora de seguros que tem que vender, uma empresa majoritariamente de venda. Precisei desenvolver outras habilidades comportamentais.  Em 2015 me foi sugerido procurar uma coach para desenvolvimento pessoal. Confesso que eu era resistente, mas fui. Fiz os testes e saiu o resultado de 72% inapto ao cargo de diretor de uma empresa de vendas. Fui um tanto quanto arrogante com a moça, confesso. Eu disse: “a empresa só vem crescendo, imagina se eu fosse apto”. Ela respondeu: “imagine, se você fosse apto, você poderia crescer e desperdiçaria menos energia, você poderia estar num patamar melhor”. Ela falou uns cinco minutos eu fiquei olhando e disse, “está contratada”.  Aí comecei um processo em novembro de 2015 que dura até hoje. Comecei a estudar diferente, a ler muitos livros, não mais sobre matemática, sobre física, mas sobre comportamento, empreendedorismo, gestão, sobre pessoas. Contratei consultorias de RH para a empresa, para desenvolver todas as pessoas, todas as lideranças. Com isso, comecei a dar uma virada em como me comportar como gestor. Entrei em psicoterapia e isso explodiu minha cabeça não só enquanto gestor, mas enquanto pessoa, cidadão, porque comecei a cuidar das pessoas de maneira natural.  Por isso, viramos referência no mercado e não planejei isso.  Hoje vários colegas e concorrentes me procuram para entender como transformei essa energia, esse clima da empresa e dou orientação sobre como eles também podem melhorar seus processos, suas relações humanas nas suas empresas. Acredito muito em pessoas, na educação, em Deus, acredito na fé.  Isso se reverte nos negócios? A empresa vem crescendo ao investir em gestão e cuidado com as pessoas?  Sim. O segredo do negócio é cuidar das pessoas, continuar estudando, buscando conhecimento e buscar Deus com todos os seus preceitos, valores e premissas. Quando assumi a empresa, em 2008, não estávamos num bom momento. O mercado estava bom, mas a corretora, não. Naquela época meu pai tinha uma operadora de saúde que estava faturando e a corretora passou a não ser mais o negócio principal da família, foi quando eu entrei. Ali, não vínhamos crescendo e, sim, diminuindo.  Dois anos após eu assumir, voltamos a crescer dois dígitos por ano. Até 2018, mantivemos um crescimento entre 10 e 15% ao ano. Em 2020, crescemos 30% ao ano. Em relação às pessoas, saímos de 6 funcionários, em 2008, e hoje estamos com 46. Tínhamos uma média de 400 novos clientes por mês, hoje essa média é de 3 mil novos clientes

“Estamos entrando no mercado de franquias de seguros e iniciamos uma fusão” Read More »

Daniela Levy Foto Leopoldo Conrado Nunes

“O conhecimento dos judeus influenciou Pernambuco nos ideais democráticos e humanistas”

Entrevista com Daniela Levy: A saga dos judeus que chegaram ao Recife com os holandeses é abordada em livro lançado pela historiadora. Ela conta como eles influenciaram o Estado em vários aspectos e ajudaram a difundir aqui ideias democráticas e diz que a saída deles da cidade foi digna de um enredo de novela, com ataque de piratas, naufrágios e enfrentamento da Inquisição até chegarem em Manhattan. Foto: Leopoldo Conrado Nunes Para a historiadora Daniela Levy, a saída dos judeus do Recife, no final do governo do Brasil Holandês, é comparável a um roteiro de novela. A pesquisadora não está exagerando. Ao embarcarem no navio Valk, rumo a Amsterdã, um grupo de 23 pessoas lutaram contra piratas, sobreviveram a um naufrágio, foram parar na Jamaica – à época colônia espanhola – onde enfrentaram a Inquisição. A única alternativa viável para sair de lá seria rumar para Nova Amsterdã, na América do Norte, a colônia holandesa mais próxima. Tempos depois, a cidade passa a se chamar Nova York e abrigar a maior comunidade judaica da diáspora. Doutora em história social pela USP (Universidade de São Paulo) e autora de vários textos sobre esse período histórico, Daniela é paulista, esteve no Recife para participar de um congresso e lançar o livro Do Recife para Manhattan – Os Judeus na Formação de Nova York, editado pela Cepe. Na ocasião conversou com Cláudia Santos sobre a participação dos judeus no Brasil Holandês, a influência que tiveram na implantação dos ideais democráticos em Pernambuco e no surgimento do capitalismo. A historiadora também detalhou a saga que realizaram para ajudar a construir uma das maiores metrópoles do mundo. A história dos judeus que saíram do Recife para Nova York ainda é pouco estudada. O que a levou a realizar essa pesquisa?   Sou judia e paulista. Morei uns anos em Nova York e, ao voltar, entrei no mestrado na USP.  Na busca por um tema de pesquisa, aceitei a sugestão da professora Anita Novinsky de estudar a história de judeus que saíram do Recife para Nova York. Aí, juntei a história dos judeus, que era algo do meu interesse, com Nova York, uma cidade que tenho apego emocional.  Mergulhei nos arquivos na Jewish Historical Society, na parte de manuscrito da New York Library. Pesquisei, conheci descendentes de judeus que viveram no Recife. Ou seja, as coisas foram acontecendo para que eu desenvolvesse a pesquisa. A missão de contar essa história foi um presente na minha vida. Ela havia sido levantada a primeira vez por um historiador norte-americano chamado Jacob Rader Marcus. Depois dele, ninguém estudou mais o assunto.  Eu usei a bibliografia dele, fui levantando documentos e, assim, descobri essa história. Há outros historiadores norte-americanos, como [Leo] Hershkowitz, que estudou sobre Asser Levy, um dos principais pioneiros que saíram do Recife, mas, ainda assim, é uma história pouco estudada. Entretanto, é muito intrigante, parece um enredo de novela, tem ataque de piratas, naufrágio, revolta dos indígenas norte-americanos, tem um pouco de tudo.  O que levou os holandeses, predominantemente protestantes, a firmarem parceria com os judeus? Que interesses tinham em comum? Quando o reino português passou a ser domínio da Espanha (período conhecido como União Ibérica),a Holanda era inimiga da Coroa Espanhola. Por isso, o rei da Espanha proibiu os holandeses de comercializarem o açúcar, que era enviado de Portugal para ser refinado e distribuído pela Holanda. Em resposta, os holandeses montaram a Companhia das Índias Ocidentais – que era uma companhia de expansão comercial das colônias do além-mar – e resolveram vir para o Brasil. Mas precisavam de mão de obra, pessoas que conhecessem a língua portuguesa e o território brasileiro.  A primeira vez que vieram para o Brasil, foram para a Bahia, mas não deu muito certo porque tinham poucos aliados que nem conheciam o território e nem falavam português. Na segunda vez, precisavam de soldados e contrataram mercenários de todas as nacionalidades: escoceses, ingleses e judeus portugueses que haviam fugido para Amsterdam, na Holanda, em 1536, para não serem presos pela Inquisição e poderem retornar ao judaísmo naquele momento. Isso porque no governo holandês havia liberdade religiosa. Então, a questão da língua foi importante para os negócios.  No livro, a senhora conta que os judeus sofreram muita discriminação no Recife por parte de protestantes e cristãos. Além das diferenças religiosas, esse comportamento também envolveu interesses econômicos, o temor da concorrência? Quando os judeus chegaram aqui, o governo holandês prometia a liberdade religiosa, mas veio também um grupo de protestantes conservadores que tinham certa reticência em aceitar judeus. No início, era algo mais ligado a questões religiosas, depois começou a haver uma rivalidade, não só desse grupo religioso, mas dos holandeses em geral.  No começo, os holandeses precisavam dos judeus, que conheciam a língua portuguesa e faziam a intermediação. Com o passar do tempo, eles começaram a falar português e não precisavam mais pagar comissão aos judeus para intermediar os negócios. Além disso, havia os portugueses católicos, que também tinham uma questão religiosa com os judeus. Isso porque os judeus falavam tanto com os luso-brasileiros, quanto com os holandeses que viviam aqui, tinham facilidade nos negócios devido a essa rede comercial que estabeleceram. Então, para os católicos e para os protestantes, era uma concorrência desfavorável, eles achavam que era injusto e, assim, criou-se essa rivalidade.  Apesar das diferenças, muitos senhores de engenho, num primeiro momento, aliaram-se aos holandeses. Por quê? Os senhores de engenho acabaram negociando com os holandeses por uma questão de sobrevivência. Além disso, muitos deles eram parentes desses judeus e, por isso, tinham facilidade de negociar melhor o seu açúcar e tiveram um bom relacionamento com o governo holandês, principalmente na época de Nassau. Ele era um homem de grande tolerância, um grande humanista, entendia que a boa convivência era importante para o desenvolvimento.  Com o passar do tempo, uma das promessas da Companhia das Índias Ocidentais era a de que quem viesse com eles poderia adquirir terras no Brasil. Isso era proibido aos judeus na Europa desde a Idade Média. Então,

“O conhecimento dos judeus influenciou Pernambuco nos ideais democráticos e humanistas” Read More »

Foto de abertura fotor 20250602201817 Easy Resize.com

“A filosofia que nos guia é investir nas pessoas, nos profissionais e no próprio negócio”

Marta Gama, Ranulfo Queiroz e Roberta Queiroz: Família empresária conta sua trajetória de sucesso ao atuar em setores tão diferentes como o agro e a revenda de automóveis. O ponto em comum na gestão das empresas é o nível de inovação tecnológica, seja nas técnicas de cultivo nas fazendas, seja por comercializarem veículos com alto grau de tecnologia embarcada. Uma família empresária que atua com êxito em duas áreas muito distintas: o setor agrícola e o de revenda de automóveis de luxo. Talvez o segredo desse sucesso seja a capacidade de ser versátil e de não temer as mudanças, quando são necessárias. O patriarca, José Ranulfo Queiroz, vem de uma estirpe de mais de 100 anos de atuação no tradicional setor de cana-de açúcar, com a Usina Salgado, próximo a Porto de Galinhas. Mas quando percebeu que a mão de obra ficou escassa com a ascensão de Suape, do turismo e do movimento imobiliário, arrendou as terras e foi ser um dos pioneiros a cultivar no Oeste da Bahia, numa sociedade com os cunhados. Ao mesmo tempo não se furtou a pegar a oportunidade surgida de entrar numa sociedade para revenda de automóveis Land Rover e Jaguar. O negócio cresceu, teve unidades em outros estados, mas quando observou que estava dispersando energia em muitas atividades, se desfez das concessionárias e ficou apenas com a Rota Premium, hoje revendedora da Volvo. Seus três filhos também entraram no negócio e mantêm a herança da inovação. Marta Gama é responsável pela parte comercial da revenda Volvo, Roberta Queiroz, pela área financeira da concessionária e das empresas agropecuárias. E Paula Queiroz, faz o marketing, além do filho Marcelo, que também atua nas empresas. Durante a pandemia, que proporcionou um período de reflexão, surge uma nova mudança: José Ranulfo e as filhas decidiram dissolver a parceria com os tios/cunhados nas fazendas, já que eles também tinham filhos e a sociedade começou a crescer muito. Hoje, a família exporta soja e algodão, cultivados no Oeste baiano, onde também plantam milho para produzir etanol.  Na Paraíba eles contam com uma fazenda de coco, mesma cultura que produzem numa outra fazenda no Rio Grande do Norte, onde também plantam cana, além de manterem a Rota Premium no Recife.  Nesta entrevista a Cláudia Santos, José Ranulfo e as filhas, Marta e Roberta, falam da gestão das empresas, dos investimentos em inovação e contam como conseguiram diversificar os negócios com bons resultados.  Além do mercado automobilístico, vocês atuam no agrícola. Como foi a trajetória das empresas da família? José Ranulfo – Minha família tem mais de 100 anos na área de cana-de-açúcar. Em Pernambuco, no ramo agrícola, temos a Usina Salgado, em Ipojuca, próximo a Nossa Senhora do Ó e Porto de Galinhas, que resolvemos fechar, mas arrendamos as terras a outras usinas. Em função do projeto do Suape e das atividades do turismo e imobiliária, que passaram a ficar muito fortes na região, a mão de obra ficou escassa para o serviço na agricultura. Eu ainda trabalho no agronegócio. Hoje, no Rio Grande do Norte, temos uma área de 5.500 hectares onde planto e beneficio cana para duas usinas, além de plantar coco.  Na Paraíba, também temos plantio e fornecimento de coco. Produzimos 700 toneladas por ano.  No Oeste da Bahia, trabalhamos com soja, algodão e vamos começar a produzir milho. Na Bahia, temos uma área grande, de 16 mil hectares. Há três anos, compramos outra fazenda lá e estamos ampliando. Esta da Bahia é uma empresa que criei, mas que não é mais minha, é das minhas filhas.  E o que o levou a empreender no Oeste da Bahia? José Ranulfo – Eu sou agrônomo. O que me levou para lá foi um projeto de muitos anos atrás chamado Proálcool. Eu tinha a ideia de produzir álcool lá. Mas alguns tentaram e não deram certo, não havia mão de obra. Quando fui para lá, em 1984, havia muitos gaúchos que foram arriscar plantar soja. Quando saí da cana e fui para lá, não entendia direito dessa cultura de soja, os gaúchos entendiam mais do que eu. Então, a gente se juntava e colaborávamos uns com os outros.  O gaúcho que plantava melhor tirava 30 sacos por hectare. Fizemos um grupo e criamos um projeto chamado Soja 100, “vamos tirar 100 sacos”. É difícil? É. É impossível? Não sei. Na verdade, na vida a gente tem que ter uma meta. Mas, agora, com irrigação, é possível tirar esses 100 sacos. A gente agora vai partir para os projetos de irrigação lá. É uma região que tem muita água. Tem o maior aquífero do Nordeste do Brasil. Um poço na região pode oferecer 500 mil litros por hora. Meus cunhados eram meus sócios nesses negócios, mas fizemos uma cisão na época da pandemia. A pandemia nos fez pensar em algumas coisas. Eles também já tinham filhos e achamos melhor fazer a cisão. Aí, fiquei só com meus filhos e o Rodrigo, marido de Marta, que trabalha com a gente também, de três anos para cá.  Como entrou no ramo de concessionária de automóveis? José Ranulfo – No mercado de venda de automóveis, entramos em 1994. Na época, um amigo meu queria montar uma revenda Land Rover, mas não tinha todo o capital necessário. Então, entrei com 50%, ele entrou com 30% e uma outra pessoa do Rio de Janeiro, com 20%. Abrimos a Rota Premium. Em seguida, comprei esses 20%, porque esse sócio teve dificuldades. No início, não era um negócio rentável, eram aqueles carros quadrados, pesados. Era um mercado muito restrito.  Depois, a Land Rover passou a fazer carros de luxo, Discovery, Freelander, o que fez o mercado crescer muito. As marcas Jaguar, Land Rover e Volvo eram da Ford. Então, a fábrica da montadora na Bahia nos procurou e, como já tínhamos uma concessionária em Barreiras, abrimos outra em Salvador. Depois, abri em João Pessoa. O negócio de concessionárias foi ficando muito grande, muito espalhado e resolvi diminuir. Então, vendi minha operação Land Rover dos três estados

“A filosofia que nos guia é investir nas pessoas, nos profissionais e no próprio negócio” Read More »

Gilberto Freyre Neto

“Pernambuco deveria pensar em exportar para a Costa Ocidental Africana”

Novo presidente do Iperid, Gilberto Freyre Neto, fala dos seus planos à frente da entidade, analisa a conjuntura internacional e destaca as mudanças no comércio mundial com a Nova Rota da Seda. O megaprojeto da China prevê uma conexão entre os oceanos Atlântico e Pacífico na América do Sul, e o especialista defende que empresários locais atentem para as oportunidades criadas com essa transformação logística. Uma profunda transformação no comércio internacional está em curso com a Nova Rota da Seda, protagonizada pela China e que pode beneficiar o Brasil nas suas relações comerciais com outros países. Num dos percursos dessa rota, o Gigante Asiático planeja criar uma conexão entre os oceanos Pacífico e o Atlântico na América do Sul, numa alternativa logística mais rápida para suas importações e exportações.  Como parte da estratégia foi construído o Porto de Chancay, no Peru, um megaprojeto chinês inaugurado no ano passado. O trajeto seria completado por estruturas ferroviárias e hidroviárias que atravessariam o País até chegar a um porto no litoral brasileiro. Mas ainda não existem definições a respeito, embora os governos de Brasília e Pequim estejam em intensas conversas sobre o assunto. Para o novo presidente do Iperid (Instituto de Pesquisas Estratégicas em Relações Internacionais e Diplomacia), Gilberto Freyre Neto, a rota bioceânica traz boas perspectivas para Pernambuco. Mesmo que num primeiro momento sejam beneficiados apenas os estados no Brasil que forneçam proteína animal, minério e grãos à China, a tendência é que novas linhas ferroviárias sejam conectadas a esse percurso. Assim, Suape poderia escoar mercadorias chinesas e também produzidas no Estado para países do outro lado do Atlântico, em especial os situados na Costa Ocidental Africana. A região, segundo Freyre Neto, terá um expressivo crescimento populacional nas próximas décadas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, o presidente do Iperid detalha as consequências desse superlativo projeto logístico chinês, reforça a importância da Transnordestina para que Pernambuco possa usufruir desse novo cenário do comércio mundial e fala dos planos à frente da entidade. Quais são seus planos à frente do Iperid?  Temos dois eventos, que promovemos anualmente, e vamos realizá-los também em 2025. O Iperid Global Trends, uma abordagem que traz as tendências do mundo para Pernambuco. Estamos no tempo quente das tendências globais, vivemos um ciclo de guerras entre Ucrânia e Rússia, Paquistão e Índia, Israel e Palestina, além da participação americana nesses conflitos e a presença da China dentro dessa nova equação de poder global, uma guerra comercial sendo travada entre China e Estados Unidos. São tendências globais com um grau de complexidade talvez nunca visto nessa civilização moderna, são debates muito desafiadores para todos nós. Temos também a Conferência Guararapes, que é um mergulho em temas estratégicos, com os quais debatemos com instituições como as Forças Armadas, órgãos de planejamento do Estado, governos federais, estaduais e municipais, sociedade civil e universidades. São temas em campos estratégicos como energia, clima, e tudo isso hoje dentro de um escopo que causa guerra, causa conflito, movimentos que precisamos conhecer e entender. São assuntos que fazem parte das estratégias das instituições que se representam dentro desse colegiado das relações internacionais que têm Pernambuco como polo consular, por ser parte desse Saliente Nordestino (a parte da América do Sul mais próxima da África e relativamente próxima da Europa que abrange cidades como as capitais Maceió, Recife, João Pessoa e Natal). Não utilizamos adequadamente essa projeção de Pernambuco como polo consular. São 42 consulados, se eu não me engano, que se representam aqui. Isso é um número considerável. Essa projeção de Pernambuco oferta para a diplomacia no seu espectro mais amplo – diplomacia econômica, científica, cultural, educacional – um soft power, uma cultura rica, uma identidade forte, uma condição de trocas culturais muito interessante com os países amigos. Isso precisa ser melhor utilizado pelos próprios governos mas, acima de tudo, pela sociedade para impulsionar investimentos estrangeiros como, por exemplo, a atração de empresas do exterior que queiram instalar aqui uma fábrica. Disso decorre a necessidade de se traduzir a cultura brasileira empresarial para esse estrangeiro.  “Um colegiado das relações internacionais tem Pernambuco como polo consular, por ser parte desse Saliente Nordestino. Não utilizamos adequadamente essa projeção do Estado.” Temos uma diversidade de representações diplomáticas que oferta essas relações que começam sempre no debate sobre cultura. As pessoas primeiro querem se conhecer para, depois, estratificar seus próprios interesses, e isso vai sendo organicamente absorvido por instituições, empresas, pelo turismo, pela sociedade. É dentro desse conceito que o Iperid se impõe. O Iperid é um espaço de catálise para isso acontecer da melhor maneira. Temos condições de ser o elo com o estrangeiro que de nós conhece pouco ou conhece só o estereótipo.  Além disso, vamos fomentar o debate em outros temas como realização da COP 30, em Belém. Outros assuntos pelos quais transitaremos também são mais soft power, dizem respeito à relação do Brasil com nações que reconheceram a independência do País, há 200 anos, que estão nos ofertando possibilidades de cooperações internacionais em campos da ciência, tecnologia e meio ambiente.  O que está sendo programado? Está sendo debatida a realização, no segundo semestre de 2025 e no primeiro semestre de 2026, de uma série de atividades como forma de marcar esses 200 anos de reconhecimento das relações internacionais. Volto a falar da projeção de Pernambuco, do Saliente Nordestino, nessa dinâmica. Devido ao ciclo de independência ocorrido aqui (antes de o Brasil se tornar independente em 1822) temos relações diplomáticas construídas, por exemplo, com os EUA desde 1815, é a representação diplomática americana mais antiga nas Américas. Isso demonstra o apreço de Pernambuco por seus interesses democráticos, representativos e pelas relações com países que tinham, nas suas dinâmicas liberais, modelos a serem seguidos. Esse apreço aconteceu com França, Reino Unido e vem sendo construído com todos os povos que, por identidade, se fazem representar aqui.  No Iperid, fazemos as traduções adequadas de Pernambuco para o mundo, seja o mundo ocidental, ibérico, anglo-saxão, europeu, sul-americano, latino, Costa Ocidental Africana ou para o mundo asiático, que faz parte do

“Pernambuco deveria pensar em exportar para a Costa Ocidental Africana” Read More »

cdl direcao

“O Centro do Recife precisa ser um novo bairro para o seu comércio prosperar”

A CDL Recife chega aos 65 anos de atividade, reconhecida pelas ações na operação do SPC (Sistema de Proteção ao Crédito) e pela defesa da revitalização do Centro da cidade. O presidente, Fred Leal, e o diretor institucional da organização, Paulo Monteiro, falam da história da entidade e das conquistas e desafios para restaurar o movimento da região central e impulsionar o varejo local. A CDL Recife (Câmara de Dirigentes Lojistas do Recife) comemora 65 anos e seu presidente, Frederico Leal, e o diretor institucional, Paulo Monteiro, fazem um balanço sobre a atuação da entidade nesta conversa com Cláudia Santos. Conhecida por seu pioneirismo, foi a primeira CDL do País a criar um sistema centralizado do SPC. Ao longo dos anos, a organização também tem uma atuação constante em prol da revitalização do Centro da cidade.  Ambos os assuntos são tratados na entrevista pelos dois empresários que defendem transformações estruturais na área central do Recife, como o incentivo à moradia, instalação de serviços, recuperação urbana das áreas e segurança para que o varejo volte a ser pujante na região. A ideia baseia-se também no conceito da “cidade de 15 minutos”, em que moradores tenham acesso a serviços, comércio, cultura e lazer, a uma distância máxima de 15 minutos a pé ou de bicicleta.   Que balanço vocês fazem dos 65 anos da CDL Recife? Fred Leal – O balanço é muito bom. Hoje são quase duas mil CDLs em todo o Brasil e a do Recife foi uma das primeiras que surgiram. Sempre tivemos grande atuação, principalmente na relação com os poderes institucionais, federais, estaduais e municipais, logicamente mais fortemente na instância municipal. Em relação aos 65 anos, é importante frisar a questão da credibilidade da CDL Recife enquanto uma instituição apolítica. Tivemos, pelo menos, 40 anos de relações com o poder público independentemente do partido que estivesse no poder. Ou seja, o partido da CDL é o lojista, é a cidade do Recife. A grande preocupação nossa não é somente com o comércio mas, também, com a cidade como um todo, pois se o cidadão recifense está bem, se tem sensação de segurança, vai comprar com mais tranquilidade e isso, consequentemente, favorece o comércio.  A ascensão da CDL Recife se deu a partir do SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) que começou no Rio Grande do Sul e, depois, chegou ao Recife, mas temos orgulho de dizer que foi aqui que virou a chave para o SPC Brasil. Antes, cada cidade tinha seu sistema de SPC. Nós fomos o primeiro que interligou os dados de todas as cidades de Pernambuco e unificou no CDL Recife sendo os primeiros a migrar para o processamento central do SPC Brasil. Qual a importância do Serviço de Proteção ao Crédito para o desenvolvimento da CDL e do comércio brasileiro? Paulo Monteiro – Antigamente, a forma de saber se um consumidor pagava bem era ligando para outra empresa onde a pessoa comprava e perguntar: “fulano é bom pagador?” Não havia um banco de dados. Um dos fatores mais importantes para o crescimento de qualquer atividade de compra e venda, no Brasil, é o crédito. Ele é o grande impulsionador em todos os setores no mundo todo. A importância maior do SPC é que alguém chegou e disse: “vamos criar um sistema de ficha, para anotar: ‘fulano’ é bom pagador’”.  Diferente de outros países europeus, no Brasil vende-se muito de forma parcelada. O SPC entrou com muita força e, antigamente, era um sistema para cada estado. Então, há 20 anos, começamos a centralizar e hoje o SPC Brasil é uma empresa nacional (a CDL Recife é cotista dessa empresa), que faz mais de 400 milhões de consultas por ano. Somos um dos maiores bancos de dados de consumo da América Latina.  Por isso temos um convênio com a Serasa, que não é concorrente, na realidade é uma parceira. Hoje há cinco bancos de dados no Brasil, nós somos um deles. Esse negócio é regulamentado pelo Banco Central, são necessárias algumas premissas para existir um banco de dados, não é qualquer um que pode ser porque é necessária uma confiabilidade técnica.  Nós tínhamos três grandes linhas de atuação: a de negócio, a institucional e a linha social. A linha social era a Fundação de Amparo ao Menor, fundada há 30 anos para tirar os meninos da rua, foi evoluindo e hoje extinguiu-se.  Ainda temos algumas ações sociais, mas ficamos mais com o institucional e com o negócio, pois a CDL é um birô de crédito que faz consulta, faz a garantia de cheque, enfim, uma série de outras coisas, inerentes ao negócio da CDL. Mas vale ressaltar a importância da CDL, nesses 65 anos, em questões como a revitalização do Centro do Recife.  Como tem sido a participação da CDL Recife na revitalização do Centro?  Fred Leal – Começou com o projeto Reviver Recife Centro da CDL, que surgiu para promover a revitalização e a recuperação da região central da cidade. Mas, antes desse projeto, o então prefeito Gilberto Marques Paulo queria fechar a Rua da Imperatriz. Os lojistas queriam tirar os camelôs da Rua Nova, da Imperatriz e da Duque de Caxias. Nós nos reunimos com os lojistas e montamos uma operação com o secretário na época e dissemos: “vocês vão ter que passar quatro dias com as lojas fechadas”. Montamos um esquema, instalamos grades, ajeitamos a rua. Depois, esse projeto começou a ser implementado, passando máquinas, trocando pedra portuguesa por tijolo intertravado e evoluiu.  A partir daí, começamos a fazer uma série de ações, e quem deu o apoio muito grande foi João Paulo, como prefeito, depois veio o João da Costa, que foi um desastre, em seguida, Geraldo Júlio, foi um bom prefeito, mas não deu aquele apoio que queríamos. Porque, na realidade, não é só tirar camelôs e pedras, era preciso dar continuidade em outros processos, ter alguém ou um órgão que cuide do Centro, que olhe a região 24 horas. Assim, no fim do primeiro ano de mandato de João Campos,

“O Centro do Recife precisa ser um novo bairro para o seu comércio prosperar” Read More »