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jacqueline queiroz

"O problema da violência de adolescentes na internet não é responsabilidade apenas dos pais, mas da sociedade"

Psicóloga e professora da UPE, Jacqueline Queiroz analisa a série Adolescência – que tem chocado o público – e a realidade de crianças e jovens impactados por conteúdos violentos nas redes sociais. Ela fornece dicas de como os pais podem lidar com essa geração conectada e defende que eles não são os únicos responsáveis pelo cuidado dos filhos, mas toda a sociedade. “Onde foi que eu errei?”, indaga-se, angustiado, o personagem Eddie Miller (interpretado por Stephen Graham) na minissérie Adolescência. Ele é pai de Jamie (Owen Cooper), que comete um brutal assassinato, influenciado por conteúdos misóginos da internet. Esse desconhecimento sobre por que teria falhado na educação do filho e também sobre o comportamento de Jamie – que ele imaginava estar seguro, sozinho no quarto com seu celular – tem mexido com o público em todo o mundo. A série tornou-se um fenômeno de audiência e é uma das mais assistidas da Netflix em vários países. Debatida na mídia, nas escolas e em conversas no cotidiano das pessoas, Adolescência abriu caminho para uma reflexão sobre a influência das redes sociais nos valores e na violência dos jovens. Também deixa um grande questionamento em relação a como impedir que a garotada nessa faixa etária esteja vulnerável e exposta a esses corrosivos conteúdos. Questões que foram analisadas pela psicóloga escolar Jacqueline Travassos de Queiroz, professora da Faculdade de Psicologia da UPE (Universidade de Pernambuco) nesta entrevista concedida a Cláudia Santos.  Ela fala da misoginia dentro e fora das redes sociais e de como estar próximo do adolescente e acompanhar sua atuação na internet.  Ao defender uma visão de que não se deve culpar mães e pais por essa impactante realidade, ela afirma que eles não são os únicos responsáveis pelo comportamento de crianças e adolescentes que é, também, de toda a sociedade, incluindo as big techs, que ganham bilhões de dólares com a propagação do discurso misógino, as escolas, os governantes. Ou seja: Eddie Miller não errou sozinho, mas junto com toda a sociedade. Há um intenso debate sobre a série Adolescência acerca da violência relacionada às redes sociais digitais. No Brasil, por exemplo, um jovem ateou fogo num morador de rua e transmitiu online. Como a senhora analisa essa influência do uso das redes pelos adolescentes?  Para entender como as tecnologias influenciam os adolescentes, é preciso alterar a forma de compreender as coisas. Há diferença entre o comportamento da geração que viveu adolescência há 10 anos para os adolescentes de hoje que usam tecnologias, como prints, áudios e compartilhamentos via redes digitais.  A grande contribuição da série é desmistificar a ideia que se tem de que o assassino ou o violento é o preto, periférico, que está num espaço de negligência parental. A série, pelo contrário, constrói o perfil de assassino em um menino branco, bem-cuidado, mostrando que a tecnologia insere todos nessa possibilidade de violência. Além disso, não acredito na ideia de que são apenas os conteúdos ou as tecnologias que causam violência ou morte, como a da menina de 11 anos que faleceu, em Pernambuco, após usar desodorante spray no rosto, debaixo de um lençol, sob influência de um desses desafios da internet. É claro que o compartilhamento direto influencia, principalmente crianças e adolescentes que estão sozinhos no quarto tendo acesso a esses conteúdos. Para além do excesso de telas, é importante refletir também sobre o esvaziamento das relações. Essa tecnologia é mais voltada à individualização. O adolescente está sentado, fechado, num quarto onde não é acompanhado, e traz a ideia de segurança para os pais por estar em casa, por ele não estar na rua.  Além disso, os conteúdos compartilhados na internet têm contribuído para a formação desses meninos, conforme a série mostra, em relação ao ódio para contra as meninas. E isso é grave.  Qual o papel da escola diante desse problema?  Na verdade, a escola tem contribuído para isso porque temos visto que ela é um espaço de guerra, de disputas na infância, mas principalmente na adolescência, com as pressões relacionadas à profissionalização, em que o adolescente pensa em que carreira seguir. É nessa pedagogia do exame, em que a escola é o lugar que aprova ou reprova, que a escolarização tem contribuído para o adoecimento, para dificultar essas relações. Antes, a importância de estar na escola era vista com mais tranquilidade, era a oportunidade de encontrar os amigos. Hoje, para além das violências no ambiente escolar, a própria escolarização e cobrança de aprovação, de ser melhor do que o outro, tem contribuído para esse adoecimento em geral. Deveríamos trabalhar para inverter essa lógica reforçando a ideia de que a escola seja um espaço de crescimento, de olhar para si, de descobrir seus interesses.  Uma dica que eu sempre oriento, é que nunca pergunte ao seu filho, depois da prova, qual nota ele vai tirar. O ideal é perguntar se ele teve dúvidas, qual a facilidade ou dificuldade que ele encontrou na avaliação. Porque a escola tem sido um lugar de buscar notas, alcançar metas, principalmente na adolescência, em meio a cobranças do Enem, por exemplo, com uma grande quantidade de conteúdos e uma pressão para tirar 1000 na redação que anula a criatividade.  E qual a responsabilidade das big techs? A responsabilidade com o cuidado é coletiva, e uma dessas responsabilidades é o papel do estado em regular essas empresas. Somos bombardeados por qualquer acesso, qualquer busca. Eu li uma pesquisa em que jovens criaram perfis fakes e, em um deles, uma jovem se colocou na plataforma como cristã. Em pouco tempo, começaram a aparecer discursos fascistas, de ódio contra as mulheres, uma exaltação à masculinidade.  Então, acredito, sim, que é preciso regular, não apenas punir. Também acho que as universidades têm que contribuir com pesquisas nesse sentido.  É papel de todo mundo interferir para que seja ofertado um serviço de melhor qualidade, de menos risco. Até mesmo em relação à fiscalização etária do conteúdo na internet. Ou seja, não é papel só da família fiscalizar se o conteúdo que as crianças acessam é

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Hebert Tejo

"Temos duas novas propostas para a Escola de Sargentos do Exército com impacto ambiental muito menor"

Os danos ambientais provocados pela construção da Escola de Sargentos na APA Aldeia Beberibe são ressaltados pelo presidente do Fórum Socioambiental de Aldeia, Herbert Tejo. Ele diz que a obra afetará o abastecimento hídrico e espécies de flora e fauna, muitas delas que só existem na região. Mas afirma ter alternativas sustentáveis para projeto. O Fórum Socioambiental de Aldeia, presidido por Herbert Tejo, tem sido uma das principais vozes da sociedade civil na defesa ambiental da região. Após o debate acerca do Arco Metropolitano, o novo ponto de preocupação é a instalação da ESA (Escola de Sargentos de Armas do Exército). Com quase 23 anos, a organização tem como foco o equilíbrio ecológico. A principal preocupação dos seus integrantes não está na criação da Escola, mas na escolha da localização, que impacta diretamente o maior fragmento de Mata Atlântica ao norte do Rio São Francisco.   Herbert Tejo, que é mestre em gestão ambiental, e os demais membros do Fórum têm participado ativamente de debates e negociações com o Exército, o Governo do Estado e demais entidades envolvidas. O debate público conseguiu avanços significativos, como a retirada das vilas militares da área de proteção e a redução do espaço ocupado pelo empreendimento. No entanto, ainda há pontos de desacordo, principalmente no que diz respeito ao cumprimento do Código Florestal e da Lei Estadual 9860/86. Agora, uma nova proposta surge no horizonte, prometendo minimizar os impactos ecológicos do projeto e reacendendo o debate sobre a viabilidade de alternativas de locais para instalar a ESA. O Fórum Socioambiental de Aldeia tem sido uma voz muito presente da sociedade nos debates sobre o Arco Metropolitano e acerca da Escola de Sargentos de Aldeia. Como funciona essa organização? O Fórum Socioambiental de Aldeia é uma organização comunitária, sem fins lucrativos, apartidária e em 2025 está completando 23 anos. A entidade tem como missão a defesa do território da APA Aldeia-Beberibe, o combate em todas as esferas, pública e privada, às agressões ambientais e ao descumprimento do que estabelece a legislação ambiental vigente no País. A instalação da Escola de Sargentos na APA é a principal preocupação dos moradores de Aldeia atualmente? As ameaças ao território de Aldeia são muitas e de toda ordem: da iniciativa privada, com a especulação imobiliária desenfreada que resulta em adensamento populacional incompatível para uma Unidade de Conservação, e do poder público, pelas ações e omissões dos gestores públicos. No campo das ações, todos os projetos lançados nos últimos 15 anos operam na direção de degradar o meio ambiente nesta região. No campo das omissões, falham em cumprir suas obrigações de zelar e fazer valer o arcabouço legal protetivo desse território.  Até então, a maior das lutas vinha sendo contra o traçado norte do Arco Metropolitano, defendida por todos os governos desde 2012. O traçado que corta a APA Aldeia-Beberibe ao meio, inviabilizando o território como Área de Proteção Ambiental. Criamos a campanha Arco Viário, Arrudeia!, ou seja, “arrudeia” a APA. Nós nos dedicamos a estudar alternativas que o viabilizassem, para garantir a obra que reconhecemos como uma das mais importantes para o desenvolvimento do Estado.  Mas aí, no meio da luta contra o traçado do Arco, surge uma ameaça ainda maior: a localização do Complexo Militar da ESA, patrocinada por uma aliança poderosa, uma vez que se soma ao Exército Brasileiro, o Governo do Estado e o Governo Federal. Todos juntos em defesa do desmatamento evitável. Respondendo objetivamente sua pergunta: sim, a ESA hoje é nossa maior preocupação, não o projeto em si, mas sua localização irracional. Com um agravante, a ESA, onde se projeta atualmente, atrai o Arco que o governo quer. Essa convergência de duas obras é desastrosa ambientalmente para a região. Determinará o fim de uma Área de Proteção Ambiental. Haveremos de chamar de Área de Destruição Ambiental – ADA! "A ESA, onde se projeta atualmente, atrai o Arco que o governo quer. Essa convergência de duas obras é desastrosa ambientalmente. Determinaremos o fim de uma Área de Proteção Ambiental. Haveremos de chamar de Área de Destruição Ambiental – ADA!" Como têm sido as tratativas com o poder público? Quando o tema é a defesa do meio ambiente, as tratativas com o poder público são sempre difíceis. O discurso político ambiental é esquizofrênico. O discurso e a prática de quem exerce o poder costumam estar totalmente dissociados. O Exército alardeia que seu projeto da ESA, com o desmatamento que propõe e os impactos ambientais irreversíveis, é um exemplo de sustentabilidade para o mundo. O Governo do Estado, por sua vez, se afirma defensor do meio ambiente e é omisso na defesa do território. Em nenhum momento se manifestou na defesa das alternativas locacionais apontadas pelo Fórum, nem para ser contra. O Governo Federal, que brada ao mundo combater o desmatamento e preservar as florestas tropicais, vem ao Estado para criticar os ambientalistas e enaltecer o projeto desmatador. Mas reconhecemos a importância da iniciativa da governadora Raquel Lyra quando criou um grupo de trabalho por meio de decreto, o GT-ESA. Ou seja, criou uma mesa formal de diálogo composta por representantes do poder público, do Exército, o Fórum Socioambiental de Aldeia, um representante da UFRPE (Universidade Federal Rural de Pernambuco) e um da Alepe (Assembleia legislativa de Pernambuco). Foi importante porque até então não existia diálogo com o Exército. Nesse GT, tivemos a oportunidade de demonstrar as irregularidades legais, a desatenção com o arcabouço legal protetivo e dedicado ao território afetado, especialmente por se situar dentro de um local reconhecido pelo Estado como Área de Proteção de Mananciais e como Patrimônio Biológico de Pernambuco. Como resultado, o Exército promoveu três revisões do projeto original. Houve avanços. O desmatamento original defendido era de 188 hectares, depois foi revisado para 146 hectares, com o incremento de verticalização dos equipamentos. No final de 2023, o Exército retirou as duas vilas militares de dentro da Mata. Mas continua um desmatamento gigantesco de quase 100 hectares. Qual a principal preocupação do Fórum Socioambiental com esse projeto? Qualquer desmatamento em um bioma em extinção

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Adriana Figueira

"Podemos produzir alimento na cidade, reduzindo a emissão de gás de efeito estufa"

Na sede da Prefeitura do Recife há um terreno com mais de 70 espécies de plantas, onde é produzido adubo orgânico para cultivar alimentos em locais como escolas e unidades de saúde. A secretária executiva de Agricultura Urbana, Adriana Figueira, fala dessa e outras ações que visam à segurança alimentar, à preservação ambiental e à geração de renda aos produtores urbanos. Foto: Helia Scheppa Em várias regiões do Brasil é comum semear milho no Dia de São José, 19 de março, para que possa ser colhido no São João. E foi seguindo a tradição que, na semana passada, foram realizados mutirões para o plantio do cereal em diversas regiões do Recife. Os mutirões seguem até 1º de abril e incluem ainda a implantação do Primeiro Corredor Agroecológico da cidade, com o cultivo de sementes de arroz, crotalária, feijão, feijão-de-porco, gergelim, girassol e guandu. A iniciativa despertou o interesse de muita gente que tem participado da plantação coletiva. Essa foi uma das várias ações criativas da Seau (Secretaria Executiva de Agricultura Urbana do Recife), com o objetivo de disseminar o cultivo de alimentos na cidade. A atuação é bem diversificada e inclui parcerias com os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) para utilizar o trabalho com a terra como recurso terapêutico; com crianças em escolas e creches; com reeducandos do sistema prisional (alguns já cumpriram pena e geram renda comercializando adubo orgânico que aprenderam a produzir), e com terreiros de religiões de matriz africana para cultivar suas plantas sagradas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a secretária da Seau, Adriana Figueira, explica como tem promovido essas ações, fala dos desafios de encontrar áreas na cidade para plantar e para obter financiamentos que são voltados, exclusivamente, para a agricultura rural. Apesar das dificuldades, ela afirma que a agricultura urbana de base agroecológica (sem uso de agrotóxicos) é uma espécie de filosofia de vida e acredita no seu propósito de alimentar as pessoas, contribuir para o Recife se tornar mais resiliente às mudanças climáticas e gerar renda para os que mais necessitam. Secretária, muita gente desconhece o que seja agricultura urbana, então a senhora poderia explicar? A agricultura urbana é uma agricultura – como o próprio nome sugere – que não vai ser realizada na área rural, mas na área urbana. Na secretaria optamos pela agricultura de base agroecológica, ou seja, não usamos agrotóxicos. É uma filosofia de vida, que considera o mundo de uma forma mais holística. Não é só cultivar, mas cultivar sem afetar a natureza, sem destruir. Também visa ao benefício humano, ou seja, à segurança alimentar e nutricional, e ainda estabelece que a produção cultivada possa ofertar um retorno financeiro às pessoas que produzem. Então, é um conjunto equilibrado, em que a pessoa planta, produz, consume, tem a possibilidade de renda, e os resíduos dessa atividade são reutilizados para a compostagem, que vai produzir adubo orgânico e alimentar novas plantas. E, aí, completa o ciclo, sempre pensando nessa questão da economia circular. Quais os benefícios em relação às mudanças climáticas? A filosofia da agroecologia tem tudo a ver com a questão climática. Quando se está compostando, evita-se a necessidade de veículos transportarem resíduos orgânicos para o aterro sanitário e, portanto, evita-se o consumo de combustível fóssil que contribui para a emissão de gases de efeito estufa. Vale lembrar que o próprio aterro sanitário produz esses gases. Desde que iniciamos nosso trabalho, já evitamos que toneladas de resíduos fossem para aterros. O Plano Local de Ação Climática do Recife, lançado em 2020 por Geraldo Julio, já prevê a questão da agricultura urbana que é uma forma de plantio para reverter ou para minimizar a emissão dos gases de efeito estufa.  Quais são os desafios da agricultura urbana?  Um dos desafios é a falta de terrenos para plantar. Para resolver esse problema, colocamos hortas em muitas escolas e fomos ampliando com hortas comunitárias, no CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) e há muitas parceiras surgindo, inclusive, com os terreiros (de religiões de matriz africana). Algumas pessoas que trabalham com a gente são de terreiros e sugeriram esse trabalho que está sendo bem interessante também.  A nossa secretaria criou o Sistema Agroflorestal Urbano e Compostagem, situado num terreno dentro da sede da prefeitura, no térreo, que conta com mais de 70 espécies, combinando árvores com plantas de interesse agrícola, como frutíferas, leguminosas, hortaliças e PANCs (plantas alimentícias não convencionais) e medicinais. O espaço recebe visitas de alunos e servidores públicos. Em 2024, cerca de 300 pessoas, entre adultos, jovens e crianças, já visitaram o espaço, participando de vivências e oficinas voltadas para a conscientização ambiental. Quando terminou a pandemia, começamos a recolher, nas salas dos 15 andares do prédio da Prefeitura, pó de café para colocar na compostagem juntamente com outros resíduos orgânicos e as folhas da varrição do prédio. Além disso, criamos o projeto chamado Recolheita, em que coletamos resíduos orgânicos dos mercados da Encruzilhada e do Cais de Santa Rita. A perspectiva é fazer parcerias com mais outros mercados. Essa ação de recolhimento de alimentos orgânicos conta com a parceria da Secretaria de Saúde do Recife (Vigilância Sanitária, por exemplo), da Emlurb (Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife) e da Conviva Mercados e Feiras – Autarquia Municipal. O programa ainda não foi oficialmente lançado, mas já estamos realizando testes nesses dois mercados públicos para avaliar e aprimorar a iniciativa. Também planejamos colocar pontos de coleta de alimentos não perecíveis, como feijão e arroz, para destinar à doação.  O sonho da gente é colocar em cada Região Político-Administrativa da cidade um sistema agroflorestal junto com a compostagem, porque ele é perfeito:  existe a plantação e o aproveitamento desses resíduos para evitar a emissão de gás para o meio ambiente. No ano passado, o Sistema Agroflorestal Urbano e Compostagem converteu 138 toneladas de resíduos orgânicos em 76 toneladas de adubo, que são distribuídos para as unidades produtivas da secretaria, que engloba 30 hortas de escolas e creches, 15 Unidades de Saúde, 6 Terreiros, 8 hortas institucionais e 11 hortas comunitárias. Esses resíduos,

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Paulo Dantas agrodan

"Hoje somos o maior produtor e exportador de mangas do Brasil"

Diretor da empresa agrícola conta que iniciou os negócios sem conhecer agronomia, num período de hiperinflação e optou por cultivar uma fruta sem tradição na região do São Francisco. Mesmo assim, teve êxito ao exportar para a Europa. Também fala dos projetos sociais nas áreas de saúde e educação e dos planos para conquistar o mercado interno. "A Agrodan tinha tudo para dar errado”, conta o diretor-geral da empresa Paulo Dantas, num misto de orgulho e satisfação por ter construído, junto com os familiares, a maior produtora e exportadora de mangas do Brasil. Mas por que a empresa não daria certo? Engenheiro elétrico, funcionário da Chesf e professor da UPE, ele nada entendia dos negócios rurais, assim como seu pai, médico reconhecido em Belém de São Francisco, e seus outros irmãos. Mas a família possuía umas terras na cidade banhada pelo Velho Chico e o professor pensou que seria interessante cultivá-las com irrigação, para obter uma renda extra. Porém, além de desconhecer agronomia, a conjuntura era desfavorável, com a hiperinflação corroendo a economia brasileira e, para agravar, além de uva e banana, Dantas decidiu plantar mangas, uma cultura sem tradição na na região, outro fator desfavorável para o êxito do empreendimento. Mas foi justamente a manga que salvou o seu projeto, por ser comercializada com altos preços no mercado europeu. Hoje a empresa familiar possui sete fazendas, que produzem 30 mil toneladas de manga por ano e apresentou o faturamento em torno de R$ 168 milhões em 2024 e este ano a expectativa é ampliar para R$ 220 milhões.  Nesta entrevista a Cláudia Santos, Paulo Dantas conta a história de sucesso da Agrodan e destaca como esse êxito tem sido compartilhado com os 1.400 empregados, que recebem participação nos lucros, e com a população de Belém de São Francisco, beneficiada com ações de assistência de saúde. Preocupado com o analfabetismo na região, ele também ergueu a Escola Profª Olindina Roriz Dantas, que atualmente oferece educação de qualidade do maternal ao ensino médio. E os planos não param por aí. “Estou inclinado a fazer um curso técnico agrícola de alto nível usando tecnologias, ofertando um grande laboratório para aprender a cultivar”, arquiteta o ex-professor. Como surgiu a Agrodan? A Agrodan é uma empresa familiar que, em 2025, completa 38 anos, fundada por mim juntamente com meus pais e irmãos. Meu pai, Álvaro Dantas, tinha uma fazenda que havia comprado da herança dos cunhados, mas não realizava nenhum cultivo. Em 1987, eu estava como engenheiro da Chesf e dei a ideia aos meus irmãos de usar as terras plantando algo para ter um rendimento extra. Não sabíamos nem o que plantar. Nenhum de nós era da área agrícola. Meu pai era médico, meu irmão era recém-formado em engenharia mecânica, eu engenheiro elétrico, tive que aprender agronomia para ficar à frente do negócio junto com meu irmão e também outros irmãos que entraram como sócios.  Conversamos com pessoas do ramo, em Petrolina, e resolvemos plantar frutas numa parte das terras. Eram 41 hectares, escolhemos 8 para uva, porque uva já era uma cultura tradicional, 14 para banana, porque, em um ano, essa fruta começa a dar retorno, e em 19 hectares, o projetista sugeriu goiaba mas eu sugeri mudar para manga. Convencemos nossos pais a colocarem os bens como garantia de um financiamento bancário e começamos esse projeto, que era desacreditado devido a ingredientes desfavoráveis.  O primeiro deles era a hiperinflação brasileira, pois o financiamento que fizemos era indexado à inflação, naquela época, de 15 a 20% ao mês, e a dívida subia todos os dias. O segundo ingrediente desfavorável era a falta de conhecimento da família com agricultura. Na parte da produção, ficávamos meu irmão e eu, minha mãe ajudava muito no financeiro e meu pai ia todos os dias ao banco, para ver como estava a dívida, que subia sempre, mas ninguém tinha intimidade com agricultura.  Outro fator desfavorável era que, na época, ninguém produzia manga e não havia consultores que entendessem dessa fruta para ensinar ou implementar projetos, como há muitos hoje em Petrolina.  Então, a Agrodan tinha tudo para dar errado e foi sorte ter feito essa opção, porque, quando começou a produção, o preço da manga era muito alto. Os comentários sobre meu pai, na cidade, eram: “vai perder tudo, os filhos o colocaram num abismo”. Meu pai se assustava com o crescimento exponencial da dívida e chegou a dizer que só conseguiríamos pagar se a uva fosse de ouro. Não foi uva de ouro, mas foi manga com o preço de ouro (risos).  Um amigo me apresentou a um japonês chamado Victor Kikuti, que já havia começado a produzir manga,  nos ensinou sobre colheita e até a diferenciar os tipos, qual era a manga Tommy e a Haden.  Vitor também me apresentou a um cliente dele de São Paulo. Assim, em 1990, começamos a vender manga em São Paulo com um preço altíssimo e, apesar da hiperinflação, os anos de 1990 e 1991 foram suficientes para pagar toda dívida do financiamento.  Hoje, temos 1125 hectares de mangas próprias e mais 250 hectares de mangas de parceiros. Temos sete fazendas, essa primeira que é a principal, duas na Bahia e quatro nas ilhas que pertencem a Belém de São Francisco. Hoje nós somos os maiores exportadores do Brasil, principalmente para a Europa, que é nosso mercado principal. E o grande desafio é conquistar o mercado interno e gerar muitos empregos. Assim, queremos continuar crescendo na Europa, mas crescer mais no mercado interno, vendendo aqui as variedades novas que vêm surgindo. Começamos com Tommy e Haden. A manga Haden já se erradicou, ainda temos a Tommy e temos ainda a Kent e a Keitt, são mangas quase sem fibra, sem aquele fiapo. A que se deve o crescimento da Agrodan no mercado europeu e quais os desafios desse mercado atualmente? A Agrodan é forte no mercado da Europa. Nosso faturamento de 2024 foi 97% de exportação e apenas 3% de mercado interno. Por isso, um grande desafio é abrir

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angelo just

Angelo Just: "Na Tecomat, temos um pé na academia e outro na obra"

Diretor técnico da empresa conta como ela conquistou uma trajetória de sucesso ao realizar consultoria para construtoras e seguir a atuação do seu fundador, o professor de engenharia Joaquim Correia. Umas das suas marcas era apoiar a formação de profissionais e manter-se próximo da universidade. Unir o conhecimento acadêmico com a prática de uma atividade é o ideal de muitos profissionais e empresas, mas, em geral, essa comunhão dificilmente é observada no mundo real. A Tecomat é uma das exceções, talvez por ter sido fundada por um acadêmico, o engenheiro civil e professor da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) Joaquim Correia de Andrade, que formou várias gerações na área de engenharia no Recife.  Falecido em 2018, sua maneira de atuar deixou marcas no DNA da empresa que hoje possui uma equipe formada por muitos mestres, doutores e profissionais certificados e especializados. Com o uso de tecnologia, a empresa, assim como um laboratório, realiza ensaios para construtoras sobre a adequação de materiais usados na obra. Também oferece um levantamento preciso sobre a quantidade de material a ser utilizado na construção, o que torna o orçamento do empreendimento mais acurado. Seu mais recente serviço, é voltado para a pessoa física que vai construir uma grande obra, mas não tem expertise em construção. “Ela nos contrata e contratamos o projeto da arquitetura e de infraestrutura, contratamos ainda a construtora, ela executa a obra e nós acompanhamos”, resume Angelo Just, diretor técnico que mantém o perfil da empresa: é mestre, doutor e professor da UPE e da Unicap.  Com tantos professores no seu corpo de funcionários, não foi de estranhar a criação do Instituto Engenheiro Joaquim Correia, cuja principal atividade é a formação de profissionais, como pedreiro, servente, carpinteiro e pintor, além de capacitar engenheiros recém-formados. Mão de obra que está escassa, o que compromete a indústria de construção civil. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Angelo Just fala da trajetória da Tecomat, da influência de Joaquim Correia e os desafios desse mercado. A cultura empresarial da Tecomat tem forte influência do seu fundador, Joaquim Correia. Fale um pouco sobre ele e a história da empresa.  A Tecomat vai fazer 33 anos este ano e foi fundada pelo professor Joaquim Correia, junto com um sócio e seu filho Tibério, que atua conosco até hoje. Inicialmente, ele tinha uma participação como consultor de empresas na Odebrecht. Na década de 80, chegou a obra do Metrô do Recife, e a Odebrecht não precisava mais dele como consultor independente e, sim, com uma empresa. Então, ele fundou a Tecomat, inicialmente fazendo ensaios com uma prensa, depois ampliou os serviços para consultoria no mercado imobiliário.  A Tecomat hoje atua em quase todas as capitais do Nordeste, conta com 250 colaboradores, entre eles cerca de 50 engenheiros. Ela não executa obras mas presta consultoria para construtoras e faz ensaios na área de engenharia e material de construção.  O que são esses ensaios? Para a construção de uma coluna num prédio, por exemplo, é preciso saber se o concreto usado tem a resistência correta, então esse material tem que ser ensaiado para confirmar se o material está ok. O professor Joaquim faleceu em 2018, deu aula na UFPE por muitos anos, era muito generoso. Hoje, somos quatro sócios: eu, que cuido da gerência técnica, Sandra Carneiro Leão, que é a gestora financeira, José Maria da Cruz Neto, que é gestor comercial e operacional, e Tibério Wanderley Correia, que é consultor técnico. Detalhe, nenhum desses quatro veio do mercado, eu entrei na Tecomat assim que me formei, Sandra também e Neto foi estagiário. O professor Joaquim tinha essa característica, ele foi professor de muitos, inclusive meu.  É raro um engenheiro civil que trabalhe no mercado imobiliário em Pernambuco que não tenha sido aluno de alguma pessoa que faz parte da Tecomat, seja o professor Joaquim, Tibério, eu ou outros colaboradores nossos que são professores em outras faculdades. Tibério dá aula na UFPE, eu dou aula na UPE e na Unicap. Na Tecomat, formamos nossos craques em casa. A grande maioria dos nossos times foi formada na empresa. Se eu vejo uma pessoa com potencial, chamo para trabalhar, daqui a pouco ela está assumindo um cargo de coordenação e começa a dar aula também.  É muito marcante essa questão da docência pois muitos colaboradores seguem essa mesma linha, dando aulas em faculdades porque nos veem como espelhos. Na Tecomat, temos pilares como simplicidade, conhecimento, resiliência, conceitos que o professor Joaquim trazia consigo.  Além de muito generoso, ele sempre estava de porta aberta para conversar. Isso gera empatia, por isso o pessoal gosta da Tecomat. A gente carrega esse DNA dele, de ser legal com todo mundo, esse é nosso lema. Ter um time tão preparado e ligado à academia traz vantagens para a empresa, especialmente na questão da inovação? As vantagens são várias, uma delas é enxergar os talentos de maneira precoce, pois, quando estamos lecionando, conseguimos ver o perfil da pessoa pelo seu comportamento na sala de aula. Conseguimos enxergar esses potenciais e trazer para a empresa. Além dessa questão de recrutamento de equipe, a vantagem de sermos professores é que, na Tecomat, temos um pé na academia e outro na obra. Esse é o diferencial dos engenheiros da empresa, esse perfil é raríssimo em qualquer lugar no Brasil.  Além disso, ao participarmos de congressos, conseguimos lidar com a “nata” técnica do negócio, transitar com essa turma com maior facilidade, isso ajuda muito e proporciona respeito. Participar de congressos e palestras também facilita a busca por soluções e inovação. Esse é um dos papéis da diretoria técnica, buscar soluções inovadoras para que nossa equipe possa aplicar aos laudos, por exemplo.  Que tipo de tecnologias a Tecomat utiliza? São softwares, inteligência artificial? Utilizamos nos projetos uma tecnologia chamada BIM (Building Information Modeling). É a construção virtual, em que modelamos o projeto no software e conseguimos enxergar, com riqueza de detalhes, como a obra vai ficar depois de pronta. Basicamente é colocar todos os projetos num mesmo software com uma leitura que permite

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Paulo Dalla Nora Macedo

"Com Trump, a Europa terá que se aproximar da China e do Brasil. Criamos um programa para abrir mercados via Portugal".

Paulo Dalla Nora Macedo, economista e restaurateur, lançou, com o jornalista Guilherme Amado, o projeto Lisboa Connection, que estreia em junho um videocast e terá outros produtos com o intuito de fazer conexões do empresariado brasileiro com o mercado europeu a partir de Portugal. Ele afirma que a conjuntura atual, com os EUA se distanciando do Velho Continente, é propícia para esses negócios. Quando o economista Paulo Dalla Nora Macedo abriu o restaurante Cícero, na capital portuguesa, além de surpreender na decoração – composta por várias obras de artistas modernistas, a maioria pernambucanos – ele também inovou ao promover no bistrô debates com personalidades da cena política, artística e econômica. Agora, em parceria com o jornalista Guilherme Amado, ele leva essas conversas, a partir de junho, para o YouTube no videocast Lisboa Connection. Entretanto, ele inovou mais uma vez porque não se trata de um mero programa de entrevistas. “O videocast é a âncora do projeto”, distingue Macedo. Foram estruturados também outros produtos com objetivo de contribuir com negócios que desejam atuar na Europa. A ideia é fazer de Portugal uma conexão para o Velho Mundo. Haverá entrevistas mais curtas para o LinkedIn, abordando o ecossistema de inovação e, numa outra vertente, será realizado um seminário imersivo, para um grupo de empresários interessados em se posicionar no mercado europeu. Antes mesmo de o videocast estrear, o projeto foi lançado na residência do advogado Kakay (Antônio Carlos de Almeida Castro) e contou com convidados estrelados, como os ministros do STF Gilmar Mendes e Dias Toffoli; o presidente da Câmara dos Deputados Hugo Mota; os ministros José Múcio e Ricardo Lewandowski; e o presidente da Embratur, Marcelo Freixo, entre outros. O Lisboa Connection chega num momento oportuno, quando o presidente Donald Trump se distancia da Europa, num movimento que, segundo Macedo, levará o continente a buscar novos parceiros. Nesta entrevista a Cláudia Santos o empresário explica o seu novo projeto e analisa a conjuntura internacional. Qual a proposta do projeto Lisboa Connection? Esse projeto surgiu a partir do restaurante que tenho em Lisboa, o Cícero, onde já organizamos debates com a participação da imprensa brasileira e portuguesa e convidados do meio político, cultural e empresarial de Portugal e do Brasil. Chegamos a fazer mais de 15 debates com convidados como José Manuel Durão Barroso, ex-presidente da Comunidade Europeia; Gilmar Mendes (juiz do STF), Antônio Grassi (ator), enfim, muitos artistas, políticos e empresários já participaram e isso foi ganhando maturidade. Então, fui procurado por Guilherme Amado, jornalista de política brasileiro, que estava com a ideia de lançar um canal no YouTube, e eu disse a ele que já tinha um projeto desenhado e com nome registrado. Assim, surge o Lisboa Connection, que tem esse nome porque pensamos em Lisboa como um ponto de conexão para negócios do Brasil na Europa, mas não é o destino final, porque Portugal é uma economia muito pequena. O projeto não trata apenas das relações Brasil/Portugal. Eu disse a Guilherme: “tem que ser um programa que faça conexão para abrir mercados via Portugal para a comunidade europeia, ainda mais porque, nos próximos dois anos, o presidente do Conselho da Europa (o segundo cargo mais importante da instituição) é o antigo primeiro-ministro de Portugal, o Antônio Costa”. Ele topou a ideia e fomos buscar patrocinador para o programa. Em dezembro, conseguimos o patrocínio da Embraer, que é empresa brasileira que mais exporta tecnologia e tem presença forte e crescente na Europa, principalmente com aviões na área de defesa e de carga. Anunciamos o videocast recentemente e ele vai ao ar em junho. A âncora do projeto será o videocast que, na primeira temporada de um ano, terá 14 episódios, que são entrevistas de 25 minutos com personagens fundamentais da relação Brasil/Europa, não só políticos, mas também empresariais, culturais, etc. Além do videocast, haverá produtos específicos segmentados como entrevistas mais curtas para o LinkedIn, abordando negócios e o ecossistema de inovação, que tem uma conexão forte com a Europa, especialmente com Portugal, que virou um hub de inovação por causa do Web Summit, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo que acontece em Lisboa há mais de 10 anos. Teremos entrevistas, por exemplo, sobre desafios e oportunidades proporcionadas pela inteligência artificial. Na área de cultura, também teremos conteúdo para o Instagram, com novos serviços e produtos voltados para essa área, desde seminários e conversas no Brasil, como, por exemplo, para pessoas do setor de cultura e inovação que queiram vir para Portugal. Quando eu digo cultura é TIC (tecnologia, inovação, comunicação). Outra vertente é um seminário imersivo em que montamos um roteiro de viagem para um grupo de empresários interessados em se posicionar no mercado da Europa. Isso será articulado com entidades, como Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimento) e Sebrae, e será setorizado, ou seja, empresários do segmento de moda e inovação, por exemplo, que possam investir numa viagem de cinco dias vão conhecer um pouco o ecossistema, conversar com interlocutores do setor público e futuros parceiros. Como o projeto se encaixa neste momento de posicionamento unilateral do Governo Trump, com novas configurações geopolíticas com a Rússia e alijamento da Europa? Encaixa-se muito bem, porque a Europa está precisando fortalecer amizades. O Brasil já é amigo da Europa, mas precisa estar mais próximo ainda porque ela está numa fase de extrema solitude. Ela contava sempre com os Estados Unidos na defesa da soberania e da garantia de segurança e isso acabou. Agora, países europeus precisam urgentemente se aproximar mais de outros blocos. Isso é uma das coisas que ajudou, inclusive, a conclusão do acordo com o Mercosul. Vamos assistir a uma aproximação da China com a Europa porque a Europa está sozinha, neste momento, e não tem capacidade de bancar, por exemplo, a estrutura de defesa de que precisa porque passou 80 anos confiando nos Estados Unidos. O único país que tem exército de verdade, na Europa, é a França, por incrível que pareça. Nos outros países, a estrutura militar de defesa é muito

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"Junto com as obras do terminal antigo do Aeroporto, temos um projeto de renovação urbana e vamos restaurar a Praça Salgado Filho"

Diretor de comunicação, relações institucionais e ESG da Aena, Marcelo Bento Ribeiro, analisa o impacto da escassez de aeronaves no setor aeroportuário e explica os planos da concessionária para requalificar as antigas instalações do Guararapes que foram demolidas. A revitalização inclui a área externa, que será transformada em local de convivência para a população. A té o final deste ano, o recifense ganhará um novo espaço de convivência na movimentada Avenida Mascarenhas de Moraes. A empresa Aena, que administra o Aeroporto dos Guararapes/Gilberto Freyre, está erguendo na área do antigo terminal de passageiros um Terminal Intermodal, que vai concentrar serviços de transporte, como veículos por aplicativos e de turismo, exposição artística, cafés e lanchonetes. Esse terminal será integrado à Praça Salgado Filho, projetada por Burle Marx, e que também será requalificada. “Aquela região, em razão de o terminal antigo ter ficado fechado muitos anos, foi se degradando, a Praça Salgado Filho perdeu movimentação. Com esse projeto, ofertamos de volta para cidade uma área que está perdida e que passará a ter movimento e convivência”, assegura Marcelo Bento Ribeiro, diretor de comunicação, relações institucionais e ESG da Aena. O projeto é realizado em consonância com a Prefeitura do Recife e o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e inclui ainda a restauração dos dois painéis de Lula Cardoso Ayres, que ficarão num espaço acessível a população. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Marcelo Bento também analisou a conjuntura do setor aéreo, que enfrenta escassez de aeronaves e sofre com a elevação do câmbio. Ele também falou do bom desempenho do Aeroporto do Recife, que ostenta a maior movimentação do Nordeste. Informa ainda sobre os planos da Aena, considerada o maior operador aeroportuário do mundo. Para começar a nossa conversa, o senhor poderia falar um pouco sobre a Aena? Ela é uma estatal espanhola? Ela é uma empresa cuja origem é uma sociedade de economia mista. É controlada pelo Estado espanhol, mas grande parte das ações está na bolsa de valores de Madri. Está entre as 30 maiores empresas da Espanha no índice IBEX 30, tem controle estatal, mas toda a governança é orientada como uma empresa privada. A Aena faz a gestão de aeroportos de vários países e a principal base é a Espanha, onde tem 46 aeroportos e dois heliportos. Fora da Espanha tem mais 33 aeroportos: 17 no Brasil e os demais no México, Jamaica, Colômbia e Reino Unido. Ela vem expandindo no exterior porque, originalmente, participava como sócia de outras empresas parceiras. Em alguns casos, como no Reino Unido, ela é controladora, tem a maioria das ações. Em outros casos, como no México, não. Mas, ao longo dos últimos anos, a Aena vem sendo mais protagonista, buscando operações em que ela controle efetivamente. A operação do Brasil é a única que pertence 100% a Aena. Assim, o Brasil é a principal operação da empresa fora da Espanha em tamanho e em proeminência. Somos o maior operador aeroportuário do mundo, hoje o maior operador aeroportuário do Brasil em quantidade de aeroportos e temos um compromisso com esse negócio. Nem na Espanha, nem no Brasil, somos um fundo de investimento, não somos um grupo que investe em várias coisas, nós nos dedicamos 100% à administração aeroportuária. Isso é relevante pois traduz nosso compromisso com o que fazemos. Temos altíssimos padrões de governança por ter essa origem estatal, somos uma empresa muito transparente. Temos um compromisso severo com o meio ambiente. Na Europa, é o operador aeroportuário que tem as metas mais ambiciosas de redução de impacto ambiental e, este ano, vamos anunciar nosso plano de ação climática no Brasil para ter uma redução severa da pegada ambiental nos próximos 10 anos. Guararapes é o aeroporto de maior movimento no Nordeste? O Aeroporto do Recife tem capacidade para mais de 15 milhões de passageiros por ano e, com crescimento bem acentuado, fechou o ano passado com cerca de 9,5 milhões de passageiros. É o sétimo maior aeroporto do País em movimento de passageiros, o segundo maior aeroporto da Rede Aena e o maior aeroporto do Nordeste. É o maior aeroporto fora do eixo das cidades de São Paulo, Belo Horizonte e Brasília, também é maior que Porto Alegre, Curitiba, Manaus, enfim, é um dos principais aeroportos nacionais e é o quarto maior em cargas também. Então, é um aeroporto muito proeminente. Tem quase o dobro de passageiros que Fortaleza, cerca de 25% a mais de passageiros que Salvador e muito mais destinos que essas duas cidades, que são concorrentes mais imediatas. O do Recife foi o único aeroporto que já superou os números de movimento pré-pandemia. Em 2024, o número de passageiros aumentou 10% em relação a 2019 e 7% em relação a 2023. Ou seja, o ano de 2023 recuperou o nível pré-pandemia e segue num crescimento consistente. Salvador, por exemplo, está quase nos mesmos níveis pré-pandemia e Fortaleza está abaixo do número de passageiros embarcados em 2019, então o Recife segue se destacando. Além disso, recentemente, houve muitos anúncios com novos voos internacionais, como Córdoba, pela GOL, Porto e Madri, pela Azul e, recentemente, a Latam inaugurou um voo para Santiago no Chile. Além disso, a Azul vai retomar um voo de temporada para Assunção, no Paraguai. Assim, é um aeroporto que ainda tem uma capacidade de crescimento e vem passando por intervenções. Como estão as obras de requalificação do Guararapes? Completamos, em 2023, um enorme investimento de quase R$ 2 bilhões no Nordeste, entre obras e equipamentos. O Aeroporto do Recife é o principal dessa rede na região, que foi a nossa primeira concessão no Brasil, em 2020. Em 2023 assumimos a concessão de mais 11 aeroportos no Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará e São Paulo. Então, começamos as obras nos aeroportos do Nordeste e, em 2023, entregamos o Aeroporto do Recife com o dobro de capacidade que tinha antes. Demolimos o terminal antigo e começaremos a construir um novo espaço de integração de transportes, que é uma área dedicada a Uber, táxi, vans

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Marcelo Carneiro Leao

"Precisamos transformar a ciência em algo concreto para que as pessoas entendam que ela faz sentido no seu dia a dia"

Marcelo Carneiro Leão, Diretor do Cetene, afirma que o setor empresarial brasileiro não tem cultura de investir em pesquisa e pretende aproximar a ciência da indústria. Ao cunhar a expressão “do paper ao PIB”, defende que a produção científica vá além dos artigos acadêmicos e impacte o cotidiano da sociedade. Nesta entrevista ele também revela seus planos à frente do centro tecnológico. Quando em outubro do ano passado, o químico e ex-reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Marcelo Carneiro Leão assumiu a diretoria do Cetene (Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste), anunciou que atuaria na conexão entre ciência e indústria. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele analisa a ausência de cultura do setor privado brasileiro em investir na pesquisa, ao contrário de países da Europa e os EUA. Com uma carreira marcada pela inovação e pela pesquisa aplicada, Leão também comentou a distância entre a ciência e a sociedade que, para ele, é fruto da formação educacional e do fato de que os resultados dos temas pesquisados, muitas vezes, não se revertem em benefícios concretos para a população. A maioria acaba transformada em artigos para revistas científicas. “É preciso sair do paper para o PIB”, conclama o diretor do Cetene que também aborda as atividades realizadas no centro tecnológico e as perspectivas para ampliar a sua atuação para todo o Nordeste. Observamos uma distância entre a ciência e a sociedade, algo que ficou evidente na pandemia. Para agravar, uma pesquisa da OCDE revelou que o Brasil é o país onde as pessoas mais acreditam em fake news. Como o senhor avalia essa realidade? Sobre a crença nas fake news, acho que a primeira questão está nos processos educacionais no País. Primeiro, a ausência deles em algumas situações. Segundo, há uma desconexão do que é de fato a ciência e o que os conceitos científicos trazem para a sociedade. Fomos formados com a preocupação na construção de conceitos, definições, decorar datas, ou seja, um conhecimento desconectado do que poderia trazer de importância para a vida cotidiana. É preciso corrigir esse problema de formação, fazer com que as pessoas compreendam que a ciência, o conhecimento, é uma ferramenta fundamental para que possamos construir uma sociedade melhor, seja no desenvolvimento industrial, médico, enfim, todos os campos da ciência. Outro aspecto está no nível superior, em relação às pesquisas, à ciência mais aprofundada, que muitas vezes não chegam na ponta para resolver os problemas concretos da sociedade. Quando assumi a reitoria da Universidade Rural, em 2020, criamos o instituto IPÊ (Instituto de Inovação, Pesquisa e Empreendedorismo), cujo lema é tentar trabalhar os projetos e as pesquisas na perspectiva de uma hélice quádrupla, envolvendo o governo, a academia, a iniciativa privada e o terceiro setor. E o outro eixo, sobre o qual, inclusive, cunhamos a expressão do "paper ao PIB", ou seja, da pesquisa ao PIB, que é concebido num sentido amplo, não somente na questão de geração de renda per capita, mas melhoria de qualidade de vida das pessoas, da sociedade, geração de emprego, de renda etc. Precisamos transformar ciência em algo concreto para que as pessoas entendam que ela faz sentido no seu dia a dia, está presente nas roupas que usam, nos remédios, nos carros. O celular é um exemplo: 60% do iPhone foi desenvolvido com dinheiro público americano, é ciência pura, levou anos de pesquisa, de investimento do estado americano. Depois a Apple comprou a patente. Então, precisamos melhorar o sistema educacional, dar sentido ao conhecimento e integrá-lo às coisas concretas do cotidiano. Na sua posse, o senhor anunciou que atuaria na conexão entre ciência e indústria. Na verdade, observamos a falta de integração entre academia e o setor empresarial. Como o senhor analisa essa situação? Existem diferenças entre o Brasil e outros países. Nos Estados Unidos e na Europa, a pesquisa também acontece na iniciativa privada. Lá as indústrias, as grandes empresas, têm centros de pesquisas dentro do seus parques, porque entendem a sua importância para melhoria do produto que fabricam e para a atividade da empresa. No Brasil, não há essa cultura. Hoje mais de 90% da pesquisa brasileira é feita no setor público, fundamentalmente nas universidades federais e estaduais públicas e alguns centros de pesquisa. O grande desafio é aproximar pesquisas, governo, iniciativa privada e terceiro setor. Vou citar um exemplo de uma pesquisa que desenvolvemos no Cetene sobre o lúpulo, usado em cosméticos e cerveja. Hoje, 90% das cervejeiras brasileiras compram lúpulo da Inglaterra, dos EUA ou da Holanda. Estamos tentando desenvolver um produto que seja adequado ao nosso clima, para que possa ajudar a diminuir tal dependência. Os pesquisadores me apresentaram a proposta dizendo que haviam publicado em revistas científicas. Mas é preciso sair do paper para o PIB e transferir essa tecnologia para as empresas produtoras. Perguntei se eles haviam conversado com o ecossistema cervejeiro, inclusive, temos aqui a Heineken, a Itaipava. Eles disseram que não. Eu disse, “então, a pesquisa começou errada”. E isso acontece muito. Os pesquisadores desenvolvem uma pesquisa, alguns geram patentes, mas param por aí. O Brasil avançou, mas parou nas patentes. O País, hoje, é o 13º em produção científica do mundo, mas é apenas o 49º em inovação. Inovação é diferente de invenção. Algo que eu invento e patenteei é invenção, mas inovação, de fato, é quando transformo essa invenção em algo concreto e real que impacta na vida das pessoas e dos animais. No ecossistema de inovação, é preciso transformar a pesquisa mais básica, que acontece nas instituições públicas, em produto real e, para isso, é necessária a parceria da iniciativa privada, que é quem está lidando com o dia a dia desse produto. Assim, é possível direcionar a pesquisa a fim de encontrar uma solução para o problema da importação de lúpulo. Estamos reformatando a nossa lógica, vamos conversar com o ecossistema, desenvolver um lúpulo e, em seguida, reunir os governos dos estados do Nordeste, cooperativas de pequenos produtores, para os quais o Cetene vai fornecer as mudas de lúpulo. Esse pequeno produtor vai produzir

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Demetrius Montenegro

"Em época de férias, com aglomerações e confraternizações, a transmissão dos vírus da Covid aumenta"

Chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Oswaldo Cruz, Demetrius Montenegro diz que, graças à vacina, a Covid deixou de ser uma doença grave, mas apresenta grande capacidade de transmissão. Ele também avalia a possibilidade de aumentar os casos de dengue hemorrágica em Pernambuco, as perspectivas da nova vacina contra a dengue e as chances de ocorrer uma nova pandemia. Dados compilados por pesquisadores da USP (Universidade de São Paulo) e da Unesp (Universidade Estadual Paulista) revelam que o Brasil contabilizou 57.713 casos de Covid-19 nas três primeiras semanas de 2025, o maior registro dos últimos 10 meses. O número representa um aumento de 151% nos diagnósticos da doença em comparação com as três últimas semanas do mês passado que somaram 23.018 infecções. Mas de acordo com o infectologista Demetrius Montenegro, chefe do Serviço de Infectologia do Hospital Oswaldo Cruz, esse aumento ainda é bem menor do que foi registrado no período do final de 2023 para o início de 2024. Nesta entrevista a Cláudia Santos, Montenegro, que também é infectologista do Hospital Português, explica que o SARS-CoV-2, o vírus da Covid, tem uma capacidade de transmissão muito grande mas, graças à vacina, a maioria dos casos não apresenta gravidade. Ele também analisou a possibilidade de aumentar a prevalência do sorotipo 3 da dengue em Pernambuco, o que provocaria um aumento de casos com sintomas graves, como a hemorragia. O infectologista abordou ainda o impacto das mudanças climáticas no aumento das infecções e não descartou a hipótese de o mundo enfrentar outra pandemia. No verão, o número de casos de algumas viroses tende a aumentar. Por que isso acontece? Alguns vírus têm um comportamento sazonal. Ou seja, dependendo da época ou estação do ano, determinado vírus pode ter uma circulação maior. A característica da sazonalidade do vírus da Influenza é vir principalmente em épocas mais chuvosas ou na época de inverno, porque favorece a aglomeração das pessoas. Há, por exemplo, um vírus respiratório que acomete muito crianças no período de abril a maio. No caso do SARS-CoV-2, que é o vírus da Covid, em duas épocas do ano, mais ou menos, haverá um aumento do número de casos. Estamos observando que, em época de férias, aglomeração e confraternizações, a transmissão dos vírus aumenta. Em janeiro de 2024, também houve um aumento dos casos de Covid, como em janeiro de 2025. No entanto, este ano, o aumento ainda é um número bem menor do que foi o período do final de 2023 para o início de 2024. Ou seja, o vírus da Covid mudou muito sua genética. Antes, era um vírus devastador, muito grave, agora, com essas novas variantes, ele se transformou num vírus que tem uma capacidade de transmissão muito maior, porém uma gravidade menor. Vírus respiratórios podem circular ao longo do ano todo mas, em alguns períodos, pode aumentar sua transmissão. Então a capacidade de transmissão do vírus da Covid é maior que a da Influenza? Sim. Na influenza, mesmo que as pessoas não se isolem em casa, às vezes, apenas uma ou duas pessoas se contaminam, mas, na Covid, muito mais gente vai se contaminar. Outra diferença é que a vacina da gripe tem uma eficácia maior para proteger contra a doença. Então, a grande vantagem da vacina da Covid não é a pessoa não pegar a doença, lógico que diminui a chance de contaminação, mas o grande ganho é prevenir a evolução para casos mais graves. Por isso, a história da Covid hoje é outra, passamos de um conto de terror para praticamente um conto de fadas, a realidade hoje é totalmente diferente. Nas regiões Sul e Sudeste, principalmente no litoral, há relatos de contaminação por norovírus, que causa sintomas como diarreia. O número foi maior que nos anos anteriores. No Nordeste, também houve aumento dos casos? Existem vírus cuja característica é de transmissão respiratória e causam doenças respiratórias, e outros que podem até ter transmissão respiratória mas seu local de proliferação é o trato gastrointestinal, causando doenças gastrointestinais e também podem ser transmitidos por meio da ingestão de alimentos contaminados. Esse tipo de vírus é realmente mais comum nesta época do verão, como aconteceu no litoral do Sudeste, principalmente de São Paulo onde houve uma epidemia desse vírus. Ou seja, há relação com a água contaminada, praia contaminada, principalmente nessas grandes cidades, onde, por mais que haja cuidados, é mais comum a água do mar ser contaminada pelo esgoto. Então, as pessoas podem adoecer e também transmitir. Já aqui no Nordeste, não observamos. Se houve, foram casos bem pontuais de diarreia, mas que não se caracterizavam como uma transmissão viral em massa, como uma epidemia. Ficou restrito realmente no Sul e Sudeste. Além das vacinas, há alguma forma de prevenção contra essas infecções, tanto as respiratórias quanto as do trato gastrointestinal? Sim, o afastamento social. Não me refiro ao isolamento, que tem o estigma da doença infecciosa como a Covid no momento crítico quando a pessoa tinha que ficar trancada no quarto. Mas o recomendado é você se afastar de outras pessoas, principalmente no ambiente de trabalho, ou usar máscaras. É sabedoria dos povos orientais que, antes mesmo da existência do vírus da Covid, usam máscaras quando estão com sintomas respiratórios. Isso já seria uma quebra muito grande da transmissão. Associado a isso, a vacina vem se mostrando, cada vez mais, a grande ferramenta e foi o que girou a chave em relação à pandemia. E não só a pandemia da Covid mas, também, a pandemia do H1N1 que foi uma variante da Influenza totalmente desconhecida do nosso sistema imunológico e, assim como a Covid, pegou o mundo desprotegido. Rapidamente, quando a população começou a se vacinar, o número de casos diminuiu. Então, a vacina é fundamental, assim como a lavagem das mãos e aquela etiqueta respiratória de cobrir o nariz ao espirrar para diminuir a quantidade de partículas e do vírus no ambiente e nas superfícies. Em relação à Covid, os testes de farmácia são válidos ou o recomendável é fazer em laboratório? Eles

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antonio miranda

"A atual situação hídrica em Pernambuco é grave"

Antonio Miranda, Engenheiro do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE, analisa o impacto da escassez de chuvas no abastecimento hídrico no Estado e as perspectivas com a influência das mudanças climáticas. Também alerta para possibilidade de salinização da água de poços em bairros como Boa Viagem e levanta preocupações com o modelo de concessão da Compesa. Nesta semana o Governo do Estado decretou situação de emergência em 118 dos 184 municípios pernambucanos em razão da escassez de chuvas. Especialista em gestão de serviços de saneamento, o engenheiro civil Antonio da Costa Miranda Neto alerta que a situação do abastecimento hídrico em Pernambuco é grave, com 18 reservatórios em colapso, segundo dados da Apac (Agência Pernambucana de Águas e Clima). Nesta entrevista a Cláudia Santos, Miranda, que é integrante do Comitê Tecnológico Permanente do Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco), analisa esse cenário e o impacto futuro das mudanças climáticas no agravamento da redução das chuvas. Para enfrentar a crise, ele afirma ser necessário atualizar, com maior frequência, o planejamento da gestão hídrica, principalmente em relação à elevação média da temperatura e da quantidade de ondas de calor em Pernambuco. “Essa elevação traz duas consequências ruins, simultaneamente: o aumento da evaporação dos mananciais superficiais e do consumo hídrico, combinação que agrava a escassez de água de abastecimento”, alerta. Diante da gravidade da situação, o engenheiro afirma que medidas, como o reuso da água e um melhor armazenamento de águas de chuva, passaram de recomendáveis a imperativas. O especialista enfatizou ainda sua preocupação com o modelo de concessão da Compesa, no qual a estatal permanece responsável pela produção de água tratada e a distribuição fica a cargo de concessionárias. “A depender de como ficará a modelagem, caso a Compesa não produza em quantidade suficiente, as empresas privadas poderão acioná-la no sentido de serem indenizadas pela falta de água para venda. Nesta hipótese, teríamos sérios problemas econômicos”, adverte. No início de janeiro, a Compesa divulgou um calendário emergencial de abastecimento de água diante da ausência de chuvas e das altas temperaturas no Estado. E, nesta semana, foi decretada situação de emergência. Como o senhor avalia a situação hídrica em Pernambuco e o impacto no abastecimento de água? A atual situação é grave, com 18 reservatórios em colapso, segundo a Apac. Desses, 14 ficam no Sertão, zona mais atingida pela estiagem, mas há também reservatórios vazios no Agreste, Mata Norte e até na Região Metropolitana do Recife. Sabemos que o Agreste pernambucano é a região de menor disponibilidade de água por habitante do Brasil, o que já por si só mostra o tamanho da nossa vulnerabilidade e justifica todos os investimentos na transposição do São Francisco, fazendo com que uma parte dessa água chegue nessa região. Também não é novidade para ninguém que as secas são cíclicas, então o que enfrentamos hoje é o agravamento desses ciclos. A tendência é o aumento de temperatura e das ondas de calor. O ano de 2024 esteve 1,5°C acima da média da Terra em relação aos níveis pré-industriais, o que é uma tragédia. Estamos, portanto, com uma frequência maior na ocorrência desses problemas. É óbvio que isso tudo repercute no abastecimento de água. É também verdade que a Compesa, historicamente, não conseguiu eliminar os seus problemas de produção e de distribuição de água. Salvo engano, foi em 1982 que a empresa institucionalizou os rodízios de abastecimento, para nunca mais deixar de tê-los. Por isso a Região Metropolitana já foi, e talvez continue sendo, a que apresenta maior consumo per capita de água mineral engarrafada no País. Outro reflexo disso é a quantidade de poços perfurados para abastecer os prédios, em diversos bairros, para não ficar dependendo da Compesa. Com a perspectiva de acirramento dos períodos de estiagem, em razão das mudanças climáticas, essas dificuldades no abastecimento de água em Pernambuco tendem a aumentar? A mudança climática está agravando a situação. Entretanto, as projeções neste momento são muito imprecisas, não conseguimos estimar ainda aonde isso vai parar. Se você perguntar hoje aos maiores especialistas da hidrologia, da climatologia, sobre uma perspectiva para 2030, eles não são capazes de informar com segurança, porque estamos ainda em processo de transformação. Por isso, é necessário elaborar revisões frequentes do planejamento da gestão de recursos hídricos que levem em conta as últimas atualizações científicas. Os estudos de hoje não indicam para Pernambuco nenhuma situação calamitosa. Haverá o agravamento das secas e das chuvas, mas não temos razões objetivas para esperar a transformação de zonas do semiárido em áridas, como já existem no Norte da Bahia. Da mesma forma não há previsão de que aconteçam em Pernambuco as tragédias que assolaram o Rio Grande do Sul. Agora, provavelmente, teremos uma frequência maior de ondas de calor. O aquecimento geral do planeta, que causa a elevação do nível do mar, também é uma preocupação muito grande que todos nós devemos ter, principalmente no Recife. O que poderia ser feito para enfrentar os impactos do aumento da temperatura e da escassez hídrica no abastecimento de água? É necessário passar a atualizar, com maior frequência, o planejamento da gestão hídrica, com especial atenção ao aumento médio da temperatura e da quantidade de ondas de calor em Pernambuco. Esses aumentos trazem duas consequências ruins, simultaneamente: o aumento da evaporação dos mananciais superficiais e do consumo hídrico, combinação que agrava a escassez de água de abastecimento. É igualmente prudente considerar a ocorrência de períodos mais severos e prolongados de estiagem no Estado. Mas insisto, será indispensável realizar atualizações frequentes dos cenários, utilizando o que de melhor se dispõe em termos científicos, para estabelecer as medidas necessárias à gestão hídrica, muitas delas urgentes, desde o manejo dos mananciais até medidas de redução das perdas de água e do consumo médio em todas as categorias de consumidores. Nesse contexto, o reuso da água e o melhor aproveitamento de águas de chuva passaram de recomendáveis a imperativos. Em relação à situação dos bairros situados na faixa litorânea do Recife, a grande quantidade de poços aliada à impermeabilidade do

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