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Claudia Lima

Entrevista com Cláudia Lima: "A saída é a bioeconomia"

No ano passado, em entrevista a Algomais, Cláudia Lima, diretora do ITCBio (Instituto Tecnológico das Cadeias Biossustentáveis) defendeu ser possível aplacar a fome do País e ainda ganhar muito dinheiro com a biodiversidade do Brasil. E o melhor: deixando a floresta em pé. Em meio à atual crise econômica, que tem arrastado um grande contingente de brasileiros para a pobreza, Cláudia vive hoje a expectativa de o instituto começar a caminhar em direção a que ela idealiza e acredita. A organização foi selecionada em três editais para capacitar pequenas comunidades no sertão, na mata atlântica e no litoral do Nordeste para atuar na cadeia produtiva de bioinsumos. Está prevista a instalação de três biofábricas. As marisqueiras do litoral norte pernambucano também serão beneficiadas. Um dos projetos visa a implantar a qualidade no processo da pesca e lançar um novo produto no mercado para aumentar o valor agregado e a biossegurança. Exultante com as novas perspectivas, Cláudia, que também é professora da UFPE, crê na abertura de grandes oportunidades, já que a indústria brasileira importa boa parte dos bioinsumos produzidos em clima tropical. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela detalha os projetos e as possibilidades desse mercado. Quais ações deste ano do ICTbio? A indústria brasileira importa insumos originários de climas tropicais, mas nós também podemos produzi-los. Nós desconhecemos a riqueza que temos com a biodiversidade do Brasil, que é a maior do planeta. A nossa população nordestina, tão trabalhadora, está passando fome. Mais da metade da população brasileira está abaixo do limite de pobreza, uma boa parte morando na região do semiárido nordestino. É algo muito triste e a gente pode e deve fazer alguma coisa para reverter essa situação. A saída, que a gente vem defendendo há seis anos, é a bioeconomia. Numa outra entrevista, eu disse a você que com a bioeconomia dá para aplacar a fome e ganhar dinheiro. Essa é uma frase que não são espumas ao vento, é algo concreto. Demos um primeiro passo nesse sentido com a aprovação do nosso projeto num edital da Facepe (Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco) para instalação de fábricas de bioinsumos, ou seja, insumos biológicos, originados da natureza, para fornecermos para o setor industrial, nas áreas de alimentos, cosméticos e farmacêutica. A produção será realizada por pequenas comunidades que serão capacitadas por nós para profissionalizar os seus processos, que estão em nível artesanal, e estabelecer uma cadeia produtiva. A capacitação também abrangerá a gestão desses bionegócios. Estamos comprando os equipamentos, organizando toda a infraestrutura, para capacitarmos as comunidades. No final de 2019, concorremos com um projeto em um edital de pesquisa e desenvolvimento do Banco do Nordeste, com foco na cadeira de valor de mariscos e ostras. O objetivo é apoiar pescadoras artesanais (a maioria são mulheres) no litoral norte de Pernambuco, implantar a qualidade no processo e lançar um novo produto no mercado para aumentar o valor agregado e a biossegurança. Esse projeto também foi aprovado. E acabamos de aprovar um grande projeto na Sudene para implantação de fábricas de bioinsumos em três Estados do Nordeste. Foi um edital muito concorrido, com alto nível de exigência e tenho muita satisfação de dizer que fomos os únicos aprovados. Vamos capacitar, mas a palavra seria empoderar as comunidades, propor cooperativas, realizar um diagnóstico social para mostrar as potencialidades de cada região. Ao mesmo tempo, entramos em contato com indústrias que utilizam esses insumos. Perguntamos: se você tivesse um insumo produzido no Brasil, qualificado pelo ITCbio, que fará toda a parte de controle de qualidade, você tem interesse em comprar? Claro que eles têm interesse, porque vão deixar de importar esses ativos. Onde serão localizadas essas biofábricas? Uma delas será sediada na cidade de Crateús (na foto abaixo), no sertão do Ceará, que um tem um polo de desenvolvimento tecnológico e um trabalho muito interessante na produção do mel. As outras biofábricas serão na região de Caicó, no Rio Grande do Norte, e em Carpina, em Pernambuco. Vamos contar com o apoio da Universidade Federal do Ceará, do Instituto Federal do Ceará, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, da Universidade Federal de Pernambuco e da Universidade Federal Rural de Pernambuco, que foi a nossa primeira parceira. Inclusive a biofábrica daqui do Estado vai ser instalada numa estação experimental UFRPE, em Carpina. Quais os bioinsumos que serão produzidos? Levantamos quais os insumos que a indústria está precisando. Inicialmente não vamos colocar produtos novos, mas aqueles que o setor industrial brasileiro já importa. O objetivo é fortalecer a base dessa cadeia produtiva para essas comunidades terem o retorno financeiro e, a partir daí, poderemos ampliar. Faremos um manejo racional de produtos que já são utilizados, em especial na indústria alimentícia e cosmética, e que estão sendo importados. Selecionamos três insumos da caatinga, três da mata atlântica e dois do litoral do Nordeste. Um fator importante é que o ITCbio vai fornecer um selo de origem biotecnológica. Não se trata de indicação geográfica, mas um selo desenvolvido pelo ITCBio que irá atestar a qualidade e a origem dos insumos e dos produtos acabados. Quais os insumos que serão produzidos no sertão? Um dos insumos que selecionamos é o mel produzido na caatinga. O que ele tem de tão interessante? Essa é uma região muito árida, muito agressiva para as pessoas e para as plantas. Fazendo um comparativo, podemos imaginar que ao estar num ambiente hostil, a pessoa fica preparada para se defender a qualquer momento. Na caatinga, que tem alto estresse solar, baixa quantidade de água e competitividade por nutrientes no solo, as plantas também precisam se defender. E elas se defendem produzindo compostos para que possam se manter vivas por mais tempo, para ter uma reserva nutritiva necessária para crescer. Esses compostos apresentam maior índice de oxigenação nos seus componentes. Isso significa que eles têm um potencial antioxidante fantástico contra radicais livres. O Nordeste tem esse potencial em relação às outras regiões do Brasil. Por exemplo há um estudo mostrando que a pitanga nossa

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Lais Xavier 1 1

Laís Xavier: "Queremos ampliar o ecossistema de tecnologia para o interior do Estado"

Em um mercado com predominância dos homens, Laís Xavier se tornou, há um ano e meio, a primeira mulher a presidir a Assespro PE/PB (Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação de Pernambuco e da Paraíba). A entidade é a segunda maior do País em número de associados no segmento de TIC. Apesar de o setor exibir um desempenho de fôlego, como a própria expansão do ecossistema do Porto Digital comprova, o momento em que Laís estreou na gestão da entidade, em janeiro de 2021, era extremamente desafiante. A pandemia forçava o mundo a se reinventar e o avanço exponencial do trabalho remoto aumentou ainda mais a grande dificuldade da área: a baixa oferta de mão de obra qualificada. Neste mês em que a associação anunciou uma parceria importante com a Prefeitura do Recife, conectando a Central de Estágios da Assespro ao Programa Embarque Digital, ela conversou com o jornalista Rafael Dantas sobre o papel da entidade e sobre os esforços de interiorização do ecossistema de tecnologia. Caruaru e Petrolina são os primeiros destinos da Assespro no Agreste e no Sertão. Atualmente com quantos associados a Assespro-PE/PB conta no Estado? Em Pernambuco e na Paraíba temos 173 empresas associadas. Houve um aumento de 13% do número de associados na atual gestão. Nós alcançamos o segundo lugar em número de associados de todo Brasil. Quais os principais segmentos representados entre os associados da Assespro-PE/PB? Os principais segmentos das empresas associadas são business intelligence, marketing & branding, educação, consultoria em TIC, e-commerce, AI (inteligência artificial), healthtech, HRtech, fintech, agrotech, lawtech, segurança, call center, data center, energia, entre outras. Como foi a sua trajetória profissional no setor de TIC até chegar à presidência da Assespro PE/PB? Sou formada em ciências da computação na UFPE. Assim que saí da faculdade, abri uma empresa e fui CEO dela durante 12 anos, a Mídias Educativas. Hoje estou no conselho dessa empresa, mas agora estou num desafio maravilhoso. Sou CTO (Chief Technology Officer ou diretora de tecnologia) e fundadora da Muda meu Mundo. Atuamos no setor agro, conectando pequenos agricultores e agricultoras familiares com empresas do setor de varejo. Mas durante esse percurso sempre participei ativamente de todas as discussões do ecossistema de tecnologia e inovação. Já fui vice-presidente da Assespro, já fui diretora e desde o começo de 2021 fui conduzida para a presidência. Como tem sido a experiência à frente da Assespro e quais os principais marcos desse período de gestão? Estou à frente da Assespro desde janeiro de 2021. Sou a primeira presidente mulher. Iniciamos o trabalho na associação em um momento difícil que foi a pandemia. Tivemos que transformar muita coisa que fazíamos de networking, que era presencial, para um formato virtual. Foram tempos difíceis no começo da gestão. Mas conseguimos evoluir muito na Central de Estágios, que é o braço de empregabilidade da Assespro. Conseguimos fazer com que os nossos associados tenham acesso a um banco de talentos muito legal. Esse foi um ponto superfavorável. Conseguimos também interiorizar parte das nossas ações. E voltamos recentemente com os almoços presenciais, num formato mais arrojado, ampliando networking e a quantidade de associados. Ainda é um momento desafiador, porque estamos na retomada da pandemia, mas tem sido muito bom. Como tem sido esse esforço de interiorização da Assespro? Estamos agora em Caruaru e em Petrolina. Estamos com presença, temos um ponto nessas cidades e alguns representantes que são embaixadores nossos nesses espaços. Que tipo de empresas estão nessas cidades? Começamos a fazer interiorização há três meses. O objetivo é que ampliemos essa ideia de ecossistema que temos na capital e no Porto Digital para o interior do Estado. Porque lá existem muitas indústrias pujantes. Temos uma indústria criativa fantástica no Agreste, em Caruaru, que precisa do suporte de tecnologia. E já existem muitas empresas de tecnologia lá. Em Petrolina temos um polo do agro muito grande e muitas empresas tecnológicas que conseguem ajudar no desenvolvimento da indústria local. Então, qual é a ideia? Ampliar a experiência que temos na capital para todo o Estado para que Pernambuco se transforme em um grande ecossistema de TIC. Leia a entrevista completa na edição 195.4 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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CREA PE

"População que mora em área de risco pode ser realocada ao longo do Metrô"

Adriano Lucena, Presidente do Crea-PE, fala sobre o posicionamento da instituição de voltar-se mais para os problemas que afetam a sociedade, como os prejuízos causados pelas enchentes, a questão habitacional, os congestionamentos no trânsito, o transporte público e a seca no semiárido. R uas alagadas em dias de chuva, trânsito congestionado, agravamento das secas prejudicando a agricultura no semiárido, engarrafamentos na BR-101. As soluções para todos esses problemas envolvem a engenharia. Foi pensando no papel social dos engenheiros que a nova direção do Crea-PE (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco) decidiu voltar-se mais para a sociedade. Nesta conversa com Cláudia Santos, o presidente Adriano Lucena detalhou esse posicionamento e abordou problemas, como as enchentes, o sucateamento do Metrô Recife e a não conclusão das obras da Transnordestina. Ele também afirmou que há alternativas para realocar as pessoas residentes em áreas de risco, que correm perigo nas chuvas intensas. Elas poderiam ser transferidas para terrenos ao longo da via férrea do Metrô ou na Agamenon Magalhães, próximo ao Shopping Tacaruna. Confira a entrevista: Com as catástrofes ocorridas em razão das chuvas intensas, identificou-se que um dos problemas chaves é a moradia da população residente nos morros e nas margens dos rios. Como o Crea-PE analisa esse problema e qual a solução? Por muito tempo, o Crea vem desempenhando um papel muito voltado para dentro da casa e de sua burocracia. Talvez isso tenha sido um grande erro, porque a sociedade espera muito mais do Crea. Por que temos um dos piores trânsitos do mundo, não temos moradia digna, o escoamento da água não é feito de forma correta? Todas as soluções para essas situações passam pela engenharia. Ao longo do tempo o Crea não debateu com a sociedade, agora queremos implantar esse debate que obrigatoriamente envolve as políticas públicas que precisam estar voltadas para promover o bem-estar da população. Precisamos, por exemplo, cobrar o Plano Diretor de Drenagem que está pronto desde 2016. A partir do plano chegou-se à conclusão de que essas obras gerariam um impacto financeiro na casa de R$ 1 bilhão a R$ 1,5 bilhão. Não dá para implantar o plano em um ano, mas dá para fazer em 15. Qual é o cronograma das obras ao longo desses 15 anos? Precisamos cobrar e ser fiscal dessas intervenções para saber se elas foram feitas. Quanto à questão da moradia, não estou com o número exato da área e de quantas pessoas foram atingidas pelas chuvas, mas sabemos que somos 1,5 milhão de habitantes com 1/3 morando em áreas de risco. Então temos aproximadamente 500 mil pessoas morando nos morros. Cabem 500 mil nos morros? Não cabem. Mas talvez caibam 150 mil de forma digna. E onde a vamos colocar essas 350 mil pessoas? Podemos criar algumas alternativas. Essa população que mora em área de risco pode ser realocada ao longo da via férrea do metrô. Elas poderão se deslocar por meio desse transporte e nessa área há espaço onde podem ser construídas moradias para absorver parte dessa população. Existem também algumas a área na Agamenon Magalhães, nas proximidades do Tacaruna, em Santo Amaro, na Ilha de Joaneiro. Conseguimos ter algumas construções mais verticalizadas? Talvez sim. Se não conseguirmos verticalizar a moradia com 20 andares, conseguimos com três a quatro andares. Mas essa realocação não deve ser feita como nos anos 1980, quando colocaram pessoas em áreas muito distantes da cidade, como Muribeca e Maranguape. Naquela época havia uma dificuldade de deslocamento nessas áreas. Ao realocar as pessoas ao longo da via férrea do Metrô, elas poderão se deslocar por meio desse transporte e nessa área de Santo Amaro elas morariam próximo a um shopping, do centro, de padarias, de supermercados e com opção de transporte. Mas essas pessoas têm hábitos, costumes de não morar num espaço que é socializado. Ao residirem em edificações verticalizadas, elas precisam mudar a sua cultura. Como é que fica a questão do condomínio, de dividir o espaço, do pagamento de contas que não é só do indivíduo, mas que passa a ser coletiva? Então, mesmo que se encontre espaço para colocar as pessoas, tem que haver um monitoramento ao longo do tempo para adaptar essa mudança de cultura. Qual a viabilidade dessa proposta, como ter acesso a essas áreas, elas são valorizadas? São áreas que não são tão valorizadas quanto outras que tenham transporte fácil. A primeira coisa a fazer é identificar esses terrenos, segundo saber quais são os custos de investimentos. O que eu posso garantir é que hoje, economicamente, eles oferecem um custo menor do que colocar essas pessoas em outras áreas dentro da cidade que estão extremamente adensadas. Ao longo da linha férrea no mínimo 80% dos bairros podem ser voltados para essa realocação. Basta você olhar no Google ou pegar o metrô para identificar que não há área verticalizada, existem muitos espaços não ocupados, ou edificações ocupadas de forma desordenada. Então é a oportunidade para ocupar de forma organizada e planejada. O Crea tem atuado no debate sobre a privatização do Metrô do Recife. Qual o posicionamento da entidade e como resolver o crescente sucateamento desse importante meio de transporte? Parece que tudo virou uma questão simples que o setor privado resolve. O setor privado resolve problemas relativos à iniciativa privada, mas existem situações que pertencem ao setor público. Quando o Metrô recebia recursos, tínhamos um dos melhores metrôs do País, em termos de prestação de serviço. Mas houve a política de retirar recursos e prestar esse serviço com a mesma qualidade tornou-se impossível. Identificamos que precisávamos fazer um fórum permanente de discussão sobre o Metrô que envolve não só a sua não privatização, mas criar alternativas de investimento e também para a sua ampliação. Apenas uma parte da população é atendida por esse transporte. Fizemos um investimento no Metrô em 1985 e só viemos fazer novamente próximo do ano 2000. De lá para cá, não fizemos mais nada. O Metrô gera déficit do ponto de vista financeiro em qualquer lugar do mundo. Qual o empresário

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Paulo Sergio Ramos

"Existe um fator ambiental na disseminação das infecções"

Quem acompanha o noticiário deve estar espantado com a quantidade de notícias sobre doenças infecciosas que passaram a estampar as manchetes. Infecções até então desconhecidas do público, como a varíola dos macacos e a chamada “hepatite misteriosa” passaram a dividir espaço na mídia com a Covid-19 e sua repercussão na pandemia. Mas também velhas conhecidas dos pernambucanos, como a dengue, voltam a causar preocupações em razão do aumento no número de casos de até 800% no semiárido, quando se compara 2021 e 2022. Para explicar as possíveis causas do surgimento dessas infecções, seus sintomas e tratamentos, Cláudia Santos conversou com Paulo Sérgio Ramos, infectologista, professor associado de doenças infecciosas do HC/UFPE e pesquisador da Fiocruz-PE. Assistimos ao aumento de casos da Covid em algumas cidades, onde escolas orientaram alunos a voltarem a usar máscaras. A suspensão das medidas de proteção foi muito precoce ou o fato de haver pessoas que não completaram o esquema vacinal explicam esse aumento? Acho que existe um pouco de cada uma dessas variáveis. Possivelmente as autoridades governamentais podem ter sugerido o não uso das máscaras em ambientes fechados em um momento ainda não muito oportuno, quando havia um grande quantitativo de adultos sem tomar as doses de reforço, assim como há crianças em fases etárias em que as vacinas ainda não estão aprovadas, nem mesmo na forma emergencial. Acredito, e essa é a opinião da grande maioria dos meus colegas, que uso da máscara ainda é muito importante para ambientes fechados, onde haja aglomeração de pessoas, sobretudo transporte coletivo, shopping centers, escolas. Uma pessoa que tomou a dose de reforço, foi infectada pela Covid, pode se contaminar novamente? Acompanho de perto três casos de pessoas, em torno dos 60 anos, são adultos saudáveis e que, mesmo imunizados, estão agora no seu segundo episódio de Covid. São episódios leves, sem trazer nenhuma grande repercussão. Isso reforça aquilo que alertamos desde o início da pandemia: a vacina tem o objetivo de prevenir formas graves de Covid-19, evitar que os indivíduos sejam hospitalizados e internados em UTI, mas ela não tem o poder de impedir que as pessoas adquiram formas leves. E, ao adquirir formas leves, muitas vezes, contaminam indivíduos que não podem ter Covid, como os idosos de extrema idade, pessoas que fazem quimioterapia, com HIV/Aids. Essas populações, mesmo vacinadas, são mais vulneráveis do que as outras populações. Essa reinfecção seria por uma nova variante do coronavírus? Pode ser uma outra variante, mas não necessariamente, porque uma pessoa pode ter adquirido a Covid pela segunda vez pela mesma variante e apresentou outra vez a doença porque a vacina não tem a propriedade de impedir que haja uma nova infecção ou para aquela ou por outra variante do vírus. Em vários locais do mundo, inclusive em Pernambuco, têm surgido casos de hepatite de causa desconhecida que acomete crianças e adolescentes. O que já se sabe sobre a doença? O que chama a atenção da comunidade científica internacional é que os casos foram reportados à Organização Mundial de Saúde começando pela Europa, depois alguns países da América do Norte e também no Brasil, de crianças que apresentam hepatite aguda viral não A. Sabemos que a causa mais comum de hepatite viral é a causada pelo vírus da hepatite A, inclusive as crianças são vacinadas contra essa infecção quando completam um ano de idade e ficam protegidas por toda a vida de apresentar formas leves ou graves da doença. Existem outros vírus que também têm a característica de causar comprometimento das células hepáticas, provocando a hepatite, como os adenovírus e o vírus da dengue. Existem vários modelos teóricos que têm sido estudados para conseguir compreender qual é o agente (ou se é na verdade uma confluência de agentes infecciosos virais) que está causando, num mesmo momento, em locais diferentes, essas hepatites nessa faixa etária pediátrica. Leia a entrevista completa na edição 195.1 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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Ingrid Zanella Foto Andrea Rego Barros

"Sou a realidade de 70% da advocacia que começa ganhando R$ 1 mil"

Ingrid Zanella, vice-presidente da OAB-PE, analisa a participação de mulheres e negros no judiciário e o combate às fake news nas eleições, afirma que há muitos cursos cuja qualidade de ensino não garante ao aluno passar no exame da ordem, e conta como teve sucesso ao investir no direito marítimo. Todos os anos, as faculdades formam um grande número de advogados que encontram dificuldades para entrar no mercado de trabalho. A trajetória da vice-presidência da OAB Pernambuco, Ingrid Zanella chama a atenção por conseguir escapar dessa estatística, mesmo não tendo uma família de advogados, como é comum no setor. Nesta conversa com Cláudia Santos, ela conta como viu no direito marítimo uma oportunidade de ascensão, analisa as possibilidades para ampliar a representatividade de gênero e racial na área jurídica, e aponta as perspectivas do futuro da profissão diante da transformação digital das lawtechs e dos demais setores econômicos. Fale um pouco sobre sua trajetória profissional. É verdade que a senhora não vem de uma família de advogados? Costumo dividir minha carreira em três vieses: a carreira relacionada ao ensino, como advogada e como atuante na política da OAB. Quando me formei – e acredito que isso ocorre com 90% dos alunos de direito – fiquei um tanto perdida. Não tenho origem jurídica, não tinha ninguém para me dizer: “venha aqui trabalhar comigo, tem uma vaguinha te esperando e, se fizer tudo certo, você vira sócia”. Então decidi traçar minha trajetória na vida acadêmica e como advogada, porque eu teria duas chances de dar certo. Quando saí da faculdade fiz a seleção para o mestrado na UFPE e passei. Como não tinha muito dinheiro, estudei tanto que passei em primeiro lugar para poder ter bolsa. Recebi a bolsa durante três meses, até que o professor Sérgio Torres, que é desembargador do Tribunal do Trabalho e era coordenador da Faculdade Boa Viagem, me convidou para dar aula lá. Como não podia acumular os dois recebimentos, larguei a bolsa, que era de R$ 1.200, para ganhar um salário de R$ 700 na faculdade, porque eu não podia perder a chance de ser contratada. Não era o salário. Era começar. Antes disso, durante a graduação, fui tripulante de navio, trabalhei três meses embarcada e adorei a vida náutica. Como a senhora foi trabalhar num navio? Quando era estudante, morei um tempo os Estados Unidos e quando retornei mantive a relação com alguns amigos de lá e um deles era filho de um agente marítimo. Um dia ele disse: “meu pai está agenciando um navio de Cruzeiro que está indo pra aí. Estamos refazendo a tripulação, se você tiver interesse em ser, por exemplo, chefe da contabilidade, você faz um curso na Capitania dos Portos, tira seu certificado”. Eu era estudante 6º período, ia ter a chance de viajar, entender uma nova realidade, fazer novos amigos. Aceitei na hora. Aprendi um monte de coisas e me apaixonei pelo navio e decidi atuar nessa área como advogada. Como estava na graduação ainda e não existiam cursos ou palestras sobre o assunto em Pernambuco, comecei a estudar o tema. Meu projeto de mestrado foi sobre o direito marítimo. Depois que fui contratada pela Faculdade Boa Viagem – olha só como é o mundo! – o agente marítimo que havia me contratado naquela época, estava com um navio preso no Porto do Recife. Ele me ligou, dizendo que precisava de um advogado para entrar com ação judicial. Estava com 700 passageiros a bordo e não sabia o que fazer. E eu era bem novinha, nunca tinha feito um mandado de segurança. Mas ali era uma oportunidade. Eu disse: eu faço esse mandado. Eu não tinha nem blazer para vestir (risos). Na época não havia processo eletrônico, liguei para a juíza e expliquei a ela que a causa era urgente porque isso era de uma sexta para o sábado. Não dormi, passei a noite fazendo a ação, fui despachar com a juíza e consegui a liminar. O agente marítimo ficou tão satisfeito que me contratou para prestar um trabalho mensal. Nesse momento, abri meu escritório em 2010, no primeiro ano de formada, com um cliente, rezando para ter outro. Como eu disse, não tenho origem jurídica, ninguém me indicava cliente. Comecei a perceber que precisava rodar o ambiente. Procurei a OAB, pedi uma reunião com Henrique Mariano, o presidente, e Catarina Oliveira, sua vice. Eles foram muito acessíveis, porque eu era uma jovem estudante, ninguém me referenciou ou pediu para eles me receberem. Propus a criação de uma comissão de direito marítimo porque era uma área de advocacia que precisava ser estimulada em Pernambuco. Todos os escritórios eram do Rio e São Paulo e tínhamos que mostrar que aquela área podia crescer: temos Suape, Noronha, o turismo. Eles gostaram do projeto e me nomearam para ser presidente da comissão. Foi uma outra surpresa. Tinha um ano de formada! Comecei a fazer eventos, me comunicar com outros advogados, chamar os estaleiros para discutir como Pernambuco poderia crescer mais no âmbito marítimo e portuário, além de pensar e desenvolver projetos também para a jovem advocacia. Como eu não tinha escritório, pensei no Projeto Co-office, que começou há cinco anos, porque era minha principal necessidade. Precisava de um lugar para atender clientes, fazer audiência. O projeto cresceu e na gestão passada, eu e Bruno (Baptista, ex-presidente da OAB) inauguramos no 5º andar um espaço compartilhado, com computador para advogados trabalharem sem pagar nada, onde podem fazer audiências, reuniões. O projeto foi tão de bem-sucedido que está sendo copiado em outros Estados. Bem, meu escritório foi crescendo. Depois de 10 anos, eu tinha parceria com muitos escritórios e acabei negociando com o Queiroz Cavalcanti. Hoje sou sócia titular deles, toda a minha equipe foi para dentro do Queiroz. Não foi uma escolha aleatória, eles têm 60% do corpo formado por advogadas e um comitê de diversidade, voltado para pessoas que se autoidentificam não só em relação à questão de raça, mas também de gênero e LGBTQIA+, além de focar em pessoas com

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"Subfinanciamento da saúde pública levou hospitais filantrópicos a um endividamento de R$ 20 bilhões"

Hospitais filantrópicos e Santas Casas do País enfrentam séria crise financeira porque os recursos repassados pelo SUS são insuficientes para manter esses centros hospitalares. Tereza Campos, a presidente do Fehospe que congrega essas instituições no Estado, fala sobre o problema. A pandemia evidenciou para os brasileiros a importância do SUS (Sistema Único de Saúde). Sem ele, certamente a tragédia provocada pela Covid-19 teria uma dimensão ainda maior no Brasil. O que talvez algumas pessoas não saibam é que os hospitais filantrópicos e as Santas Casas têm um papel estratégico para o sistema. Só para se ter uma ideia, em 824 municípios do Brasil, essas instituições são o único equipamento de acesso ao cuidado e à assistência em saúde, com uma representatividade no SUS de 70% do volume assistencial da alta complexidade e 51% da média complexidade. Apesar de toda essa importância para a saúde pública do País, os hospitais filantrópicos e as Santas Casas passam por uma situação muito difícil. Os recursos que o SUS destina a essas instituições são insuficientes para financiar as suas atividades, um descompasso que perdura há décadas, levando os hospitais a acumularem um endividamento de R$ 20 bilhões, sucateamento das suas estruturas físicas e tecnológicas. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a presidente da Fehospe (Federação dos Hospitais Filantrópicos de Pernambuco) e superintendente-geral do Imip, Tereza Campos detalha o problema e fala das reivindicações do movimento Chega de Silêncio encampado pela CMB (Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas) com adesão da Fehospe. Qual é a situação hoje dos hospitais filantrópicos e das Santas Casas? Os hospitais filantrópicos e Santas Casas, que têm participação efetiva no atendimento e na contribuição de formulação de políticas públicas de saúde, são essenciais para o sistema público, nas esferas públicas e privadas. No entanto, enfrentam um descompasso gigantesco que representa R$ 10,9 bilhões por ano de desequilíbrio econômico e financeiro na prestação de serviço ao SUS, de todo o segmento. O que levou os hospitais a essa situação? O subfinanciamento crônico do sistema público de saúde levou as instituições a um alto endividamento, com o acúmulo de valores na ordem de R$ 20 bilhões, sucateamento das suas estruturas físicas e tecnológicas. Esta situação foi agravada durante a pandemia da Covid-19, principalmente no abastecimento de materiais, medicamentos e insumos com preços elevadíssimos, além da inflação que atinge os custos dos nossos hospitais. Qual a importância desses hospitais no atendimento à população que utiliza o SUS e qual o tamanho da sua estrutura? O setor hospitalar filantrópico tem papel estratégico para o SUS. Nos serviços oferecidos pelo SUS, muitas vezes são únicos prestadores em municípios do interior do Brasil e, também, nos serviços de maior complexidade hospitalar em capitais e cidades de maior porte. A CMB (Confederação das Santas Casas, Hospitais e Entidades Filantrópicas) representa 1.824 hospitais filantrópicos brasileiros, são 169 mil leitos hospitalares e 26 mil leitos de UTI. Em 824 municípios do Brasil, a Santa Casa ou hospital filantrópico é o único equipamento de acesso ao cuidado e à assistência em saúde, com uma representatividade no SUS de 70% do volume assistencial da alta complexidade e 51% da média complexidade. Anualmente faz mais de 5 milhões de internações, 1,7 milhão de cirurgias e mais de 280 milhões de atendimentos ambulatoriais. Dependem economicamente destas instituições mais de 3 milhões de trabalhadores, com vínculo direto e/ou indireto. Em Pernambuco, os hospitais filantrópicos têm atuação igualmente relevante, em consonância com a sua condição na história nacional. Composto por estrutura assistencial de 35 unidades hospitalares que estão presentes em todas as regiões, do Sertão do Pajeú à capital, essa rede filantrópica representa uma atividade imprescindível e exitosa, assegurando uma cobertura na atenção à saúde eficaz, possuindo, inclusive, uma grande representatividade na assistência em alta complexidade. A Fehospe (Federação dos Hospitais Filantrópicos de Pernambuco) é uma instituição com sede no município de Recife, que congrega 24 Santas Casas e hospitais filantrópicos, que ofertam quase 4 mil leitos de internação e 705 leitos de UTI em assistência à nossa população, protagonizando o SUS em todo o Estado de Pernambuco. É evidente o patrimônio histórico e compromisso social dos hospitais filantrópicos no Brasil, que têm uma expressiva capilaridade e interiorização no território nacional. Qual é a reivindicação dos hospitais e das Santas Casas? Alocação de recursos na ordem de R$ 17,2 bilhões, anualmente, em caráter de urgência, em simultaneidade à aprovação do PL nº 2.564/20, como única alternativa de assunção das obrigações trabalhistas decorrentes do PL, assim como para a imprescindível adequação do equilíbrio econômico e financeiro da relação das instituições filantrópicas com o SUS. O que determina o Projeto de Lei 2564/20? A Fehospe está na defesa para a aprovação do relevante Projeto de Lei 2564/20 que altera a Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986, para instituir o piso salarial nacional do enfermeiro, do técnico de enfermagem, do auxiliar de enfermagem e da parteira. A proposta, o valor mínimo inicial para os enfermeiros será de R$ 4.750, a ser pago nacionalmente pelos serviços de saúde públicos e privados. Nos demais casos, haverá proporcionalidade: 70% do piso dos enfermeiros para os técnicos de enfermagem; e 50% para os auxiliares de enfermagem e as parteiras. O PL 2564/20 originário e aprovado no Senado, tramita na Câmara Federal e está com regime de urgência aprovado. O impacto deste PL para os hospitais filantrópicos que prestam serviços ao SUS é estimado em R$ 6,3 bilhões por ano. *Leia a entrevista completa na edição 193.4 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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Ana Brito Fiocruz

"Máscara é uma peça do nosso indumentário sem prazo de validade para acabar"

Ana Brito, epidemiologista e pesquisadora da Fiocruz/PE, analisa o atual estágio da pandemia e as possibilidades do surgimento de novas variantes do coronavírus. Também critica o Conselho Federal de Medicina que segundo ela “assumiu um papel de negação da ciência” Com a crescente redução dos casos de Covid-19 no Brasil, a evolução da atual pandemia para uma situação de endemia tem sido tema de debates e destaques no noticiário. Até o presidente Jair Bolsonaro chegou a anunciar que pediria ao Ministério da Saúde para decretar que o País estaria agora num processo endêmico da infecção pelo novo coronavírus. Entretanto, para Ana Brito, pesquisadora médica do Instituto Aggeu Magalhães-IAM, Fiocruz, está havendo uma grande confusão sobre esses termos. Ana, que é epidemiologista e professora aposentada da Faculdade de Ciências Médicas da UPE, ressalta que apenas a Organização Mundial da Saúde pode decretar o fim da pandemia. Alerta também que um cenário de endemia não deva ser o desejável e sim o fim da transmissão do SARS-CoV-2. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ela analisa a situação atual da crise sanitária no Brasil e no mundo, comenta as sequelas da Covid longa e critica o que ela chama de “postura negacionista” do Conselho Federal de Medicina. A pandemia da Covid-19 no Brasil caminha para uma situação de endemia? Há uma grande incompreensão na determinação dos termos. Esses dados de pandemia, epidemia, surto são todos baseados em estatísticas. A classificação de uma doença como endêmica ocorre quando ela acontece com muita frequência num local. A dengue, por exemplo, é uma doença endêmica em Pernambuco. Desde os anos 1940 que nós não tínhamos caso de dengue no Brasil, o Aedes aegypt tinha sido praticamente eliminado das zonas urbanas do País. Mas em 1984, com a urbanização acelerada, com condições subumanas de habitações das populações, com a contaminação de rios e riachos e assoreamentos etc., ocorre a reintrodução do vetor, o Aedes aegypti. Desde então seus casos são monitorados e durante os anos foi construída uma média do número de casos esperados. Quando as doenças endêmicas, como a dengue, extrapolam o limite máximo esperado, ocorre um surto, se os casos estão circunscritos a uma área geográfica (como um município ou bairro), ou uma epidemia quando ela se dissemina em várias regiões. A pandemia é uma situação de ameaça à saúde da população que extrapola as fronteiras de países e de continentes. Se o problema já existia, é quando esse problema ultrapassa os limites esperados de tolerância. A denominação de pandemia é feita apenas pela Organização Mundial da Saúde, que reúne informações de mais de 190 países membros da Organização das Nações Unidas. Só a OMS pode classificar se a situação é de pandemia ou não. Ninguém mais. Não é correto que o ministro da Saúde diga que o Brasil está caminhando para uma endemia, ele não tem elementos, nem capacidade, nem foram deliberados poderes mundiais para que ele dissesse isso. Se a pandemia da Covid-19 vai evoluir para uma endemia, essa chave aí ainda não disseram para a gente. O desejável não é caminharmos para uma endemia, que não significa uma situação mais simples, significa a permanência do problema, só que a Covid-19 não estaria em níveis que extrapolam todos os continentes. O que a gente espera, como epidemiologista, é que haja uma homogeneidade na distribuição de vacina em todo o mundo, para que possamos caminhar para interromper a transmissão do vírus SARS-CoV-2, como aconteceu com a varíola, nos anos 1970. Se vamos para uma endemia, teremos que conviver com essa doença por várias gerações e fazer vacinas de reforço. Uma endemia custa muito caro a um país, porque a vacina é cara e temos mais de 20 vacinas no nosso calendário normal, que é bancado pelo SUS. Mas enquanto existir a circulação livre do vírus, vai existir a possibilidade de produção de novas variantes com escape tanto para a doença natural como para a vacina. Essa é a última onda? Não sei, ninguém sabe. Até agora a gente não sabe porque existe circulação livre do vírus na África, onde menos de 20% da população está vacinada no continente inteiro e, em outros países, mais de 30% da população não adere à vacina, o que é um crime contra a humanidade. Acho que lidar com essa questão é urgente. Não é possível que os países convivam com o negacionismo sem que essas pessoas sofram qualquer punição, seja punindo sua circulação livre ou pagando cotas altas. Mas nem dinheiro paga o adoecimento pela Covid. Como você analisa o atual momento da Covid-19 no Brasil? O que eu posso dizer hoje é que estamos entrando num processo de diminuição da taxa de transmissão do SARS-CoV-2, causador da Covid-19 e que este momento pode não ser de uma emergência sanitária para o Brasil. A denominação de emergência sanitária implica em questões sobre autorizações emergenciais de compras públicas etc. Existe um arcabouço jurídico que está por trás das definições dessas situações. Em relação à pandemia, posso dizer que ela persiste, porque a Covid-19 está em expansão, inclusive em países gigantescos como é o caso da China que tem um programa de tolerância zero à Covid-19. Eles têm uma forma de abordagem de enfrentamento baseado no diagnóstico, no isolamento, na quarentena e testes massivos para a população. Mas nas duas últimas semanas houve um crescimento em cidades com 17 milhões de habitantes que neste momento estão em lockdown. Taiwan, que é uma área muito próxima da China, que tem coberturas vacinais altas, também assiste a uma nova onda de Covid pela Ômicron. Portanto temos ainda o processo pandêmico porque a doença está em expansão no mundo. Mas alguns países, como o Brasil, já começam a vivenciar este momento que a gente chama de lua de mel da Covid, que significa um arrefecimento de casos e óbitos, com a população bem vacinada. Mas, é preciso correr para vacinar as crianças e particularmente as de 3 a 5 anos, que provavelmente vão começar a ser vacinadas, depende das liberações da Anvisa. Também

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ricardo leitao

"Apesar da pandemia, a Cepe continua sendo a maior editora pública do País"

Ricardo Leitão, presidente da Cepe, analisa a influência da crise da Covid-19 na venda de livros, e fala sobre a retomada e as tendências do setor. Também informa os projetos da editora, como a Coleção Recife 500 Anos, a produção de audiolivros e a realização da feira Miolos, dedicada aos editores independentes. Com o isolamento social, seria razoável supor que um número maior de pessoas no País aproveitasse esse tempo em casa para ler mais livros. Não foi, porém, o que aconteceu. O faturamento do mercado das editoras apresentou uma queda de 10% em termos reais em 2020, quando comparado ao desempenho de 2019, segundo a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro realizada pela Nielsen Book. Em Pernambuco, as vendas da Cepe caíram em torno de 20%. Resultado dos períodos em que suas livrarias permaneceram fechadas e eventos como feiras literárias e lançamentos de livros foram suspensos ou adiados. A retomada do setor, segundo seu presidente Ricardo Leitão, já começa a acontecer guiada por algumas mudanças. “A tendência é que não haja mais megalivrarias, mas livrarias de bairros, pequenas, segmentadas”, prevê. Otimista, mas cauteloso com esse novo momento, Leitão, nesta conversa com Cláudia Santos, fala sobre as dificuldades da venda de livros no País, o avanço do e-commerce, a importância das editoras independentes e os projetos da Cepe. Entre eles o lançamento da Coleção Recife 500 Anos e a produção de audiolivros. O primeiro a contar com a narração de atores será o clássico pernambucano A Emparedada da Rua Nova. Qual o impacto da pandemia no setor editorial? O impacto no mercado editorial daqui foi grande. Temos quatro livrarias próprias que ficaram fechadas durante a pandemia. Elas respondem por uma boa venda do varejo da Cepe. Além disso, o Circuito Cultural Cepe, que é uma série de feiras realizadas no interior, também não aconteceu em 2020 e 2021. São dois pontos de venda que a Cepe tem. O Circuito não aconteceu na forma presencial, mas digitalmente, o que perde muito porque o contato estimula muitas pessoas a comparecerem às feiras. Por outro lado, aumentaram as nossas vendas digitais, mas não na proporção para compensar as perdas dos eventos adiados ou cancelados. Qual foi o percentual de redução das vendas? As vendas no varejo caíram em torno de 20% e a receita da Cepe, que é em torno de R$ 50 milhões, reduziu em R$ 10 milhões. Chegamos no final de 2021 com esforço grande. Mas não deixamos de cumprir nenhum compromisso com pessoal e fornecedores. Reduzimos os custos no que foi possível, mantendo a atividade principal, que não é nem venda de livros: a Cepe foi fundada para editar o Diário Oficial que dá publicidade aos atos do governador e das prefeituras. Isso foi mantido rigorosamente todos os dias. Nossa receita caiu também porque não lançamos livro presencialmente. Um livro vende até 30% de sua tiragem num dia de lançamento de autógrafo. Agora estamos melhor, mas reduzindo um pouco a expectativa de lançamentos e o tamanho dos Circuitos Cepe de Cultura, com o objetivo de reequilibrar financeiramente a Cepe e crescer gradualmente as atividades. Nossa meta este ano é chegar a lançar em torno de 80 livros, porque é um bom tamanho. Quantos lançamentos a Cepe fazia antes da pandemia? Chegamos a lançar 100 livros e a Cepe se transformou na maior editora pública do Brasil, e está situada no Nordeste fora do circuito literário principal que é o Sudeste. Publicamos desde títulos infantis até livros baseados em teses acadêmicas. Isso também nos deu sustentação: se um segmento estava ruim, a gente investia no outro, se o livro físico estava ruim, a gente puxava o livro digital. Como estão as vendas do livro impresso? Um tempo atrás se dizia que ele ia acabar e ser substituído pelo e-book, mas não foi o que aconteceu. A expectativa era que a venda de e-book chegasse a 12% do mercado. Chegou, mas depois não cresceu, ficou estabilizada neste patamar. Acho que o gosto pelo livro imprenso se mantém. Também existe livro impresso que não serve para ser transformado em digital, como o livro de arte. Lançamos agora um livro que é uma retrospectiva do trabalho de Tereza Costa Rego, com 300 fotografias. A reprodução daquelas fotos no meio digital perde muito, não dá para ver uma tela de 13 metros de comprimento no visor do celular ou do computador. Existem outros tipos de livros que têm mapas e tabelas em que a leitura digital fica comprometida. Por isso é que eu acho que o livro impresso permanecerá. A televisão não matou o cinema, o livro digital não vai matar o imprenso. Mas o importante é que as pessoas leiam, a mídia é secundária. Leia a entrevista completa na edição 192.3 da Revista Algomais: assine.algomais.com

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victor lamenha cerveja artesanal

"O dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais numa situação delicada"

Victor Lamenha, Presidente da Associação Pernambucana de Cervejas Artesanais, fala do impacto da pandemia no setor, que nos últimos dois anos sofreu com a redução do número de cervejarias e com o consumidor preferindo produtos com menores preços. Mas ele se diz otimista com a retomada este ano. Q uem é apreciador de bebidas certamente observou que nos últimos cinco anos as gôndolas de supermercados e os cardápios de alguns bares locais passaram a exibir uma variedade de cervejas artesanais made in Pernambuco. Um setor que ostentava crescimento em termos de demanda, produção e de players. Mas, assim como outros segmentos da indústria, sofreu impacto da pandemia, da alta do dólar e da inflação. Das 26 marcas associadas à Apecerva (Associação Pernambucana de Cervejarias Artesanais) apenas 9 continuam afiliadas à entidade. Mas apesar das adversidades, o presidente da associação Victor Lamenha está otimista. “Entendemos que 2022 é o ano em que as coisas vão melhorar, no sentido de haver um controle maior da pandemia”. Nesta entrevista a Cláudia Santos, ele também detalha outras razões para o seu otimismo como a inauguração neste semestre da Loja de Bebidas Pernambucanas no Marco Zero do Recife e o fato de o pernambucano dar valor ao que é da terra. A pandemia afetou o mercado de cervejas artesanais em Pernambuco? O mercado de cerveja artesanal é composto por indústrias e cervejarias ciganas, que são aquelas que não possuem fábrica própria e produzem nas indústrias de outras cervejarias. Elas compram insumos e uma indústria vai produzir para elas. O número que levantamos até agora é que havia 26 marcas – entre indústrias e ciganas – associadas à Apecerva e esse número caiu para 9 marcas. A redução do número de players foi muito grande e muitas empresas que fazem parte da cadeia indireta do mercado de cerveja artesanal, como PDV (ponto de venda), loja especializada em cerveja artesanal etc. também foram prejudicadas. Muita gente que montava evento diminuiu suas estruturas e entendemos que 2022 é o ano que as coisas vão melhorar, no sentido de haver um controle maior da pandemia. Já observamos um movimento de algumas marcas ciganas que podem voltar a produzir. Quais as causas que provocaram essa queda no número de produtores? O fator mais preponderante é que o consumidor na pandemia ficou muito sensível a preço e a maioria das indústrias de cerveja artesanal não consegue competir com as grandes marcas em termos de preço. Outro fator foi a pressão da inflação. A gente teve uma pressão muito grande no custo de produção dos insumos, das matérias-primas. Os insumos são importados e seus preços tiveram influência do câmbio alto? Existe malte produzido e comercializado no Brasil, mas trata-se de uma commodity que também é regida pelo mercado internacional. O lúpulo é outro item essencial das cervejas que sofreu muito impacto do dólar e esse, sim, é 99,9% importado. Além disso, o dólar pressionou o valor do vidro. Durante a pandemia enfrentamos a escassez de embalagens. O dólar também pressiona a economia como um todo, influencia no combustível, no lúpulo, no malte, nas embalagens. O meu entendimento é que o dólar e a inflação deixaram as cervejarias artesanais e a indústria de quase todos os segmentos numa situação muito delicada porque a gente não consegue repassar tudo para a ponta, porque o consumidor está muito sensível a preço, ele está buscando o melhor custo-benefício. A produção da cerveja artesanal começava com um hobby, que vai ganhando corpo, até se profissionalizar como um negócio? As cervejarias que permaneceram são as que estão mais estruturadas? As cervejarias ciganas, muitas vezes começam como um hobby, mas depois que ela vira cigana não tem mais como ser um hobby, porque agora ela assumiu um contrato com a indústria, comprou insumo, investiu num tanque de fermentação e maturação, comprou garrafa e rótulo. Tem que ir em frente, não tem mais alternativa. Muitas vezes, um advogado, por exemplo, resolveu abrir uma cervejaria para realizar o sonho dele. Isso é muito nobre, porque muita gente surgiu nesse contexto e veio com uma cerveja muito boa, veio para agregar, para somar no mercado e participou dos eventos do calendário da cerveja artesanal de Pernambuco que a gente tentou construir desde o primeiro ano da fundação da Apecerva. Eu vi cervejarias estruturadas, geridas por gente inteligente, fazendo cerveja muito boa que decidiu parar. Também há um detalhe: é mais fácil de fechar uma cervejaria cigana do que uma indústria. Acredito que, do mesmo jeito que foi fácil para eles pararem, pode ser que com a retomada, agora em 2022, seja fácil retornar. Entendo que não é porque eram mais desestruturados, acho que era porque eles tinham uma opção de pausar ou até desistir, porque o mercado de cerveja não é fácil, é muito competitivo. Brigamos com duas das maiores empresas do mundo, temos um market share de 2% (um pouco mais, um pouco menos). Assine a Revista Algomais para ler a entrevista completa: assine.algomais.com

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13 ANA CAROLINA PESSOA Foto Bernardo Dantas Easy Resize.com

"Portadores de hipertensão e diabetes são os mais propensos a ter doença renal crônica"

No mês em que é realizada a campanha do Dia Nacional do Rim, a nefrologista Ana Carolina Pessoa alerta para a importância do diagnóstico precoce da doença renal crônica que só apresenta sintomas numa fase avançada e que pode levar o paciente à necessidade de hemodiálise ou de transplante. É comum algumas pessoas percorrerem vários consultórios médicos com queixas de cansaço, fadiga, falta de apetite, náuseas e vômitos, sem ter um diagnóstico preciso e um tratamento para eliminar os sintomas. Até o momento em que recebem de um nefrologista a notícia de de serem portadoras da doença renal crônica (DRC). Esse desconhecimento da enfermidade levou a Sociedade Brasileira de Nefrologia a focar a Campanha do Dia Mundial do Rim (que ocorre neste mês de março) em ações de educação sobre a DRC. Nesta entrevista a Cláudia Santos, a nefrologista Ana Carolina Pessoa, dos hospitais da Restauração e Infantil Maria Lucinda, explica as causas da doença, que tem levado 140 mil brasileiros a serem submetidos à hemodiálise. A boa notícia é que ao se adotar hábitos saudáveis e fazer check ups frequentes, é possível prevenir ou retardar por muitos anos o desenvolvimento e a progressão da doença renal crônica. Este ano a Sociedade Brasileira de Nefrologia decidiu focar a campanha do Dia Nacional do Rim na educação sobre a doença renal crônica. Por quê? A doença renal crônica é a lesão irreversível da função dos dois rins – quando mantida por três meses ou mais – e suas causas mais frequentes no Brasil e no mundo são a hipertensão arterial sistêmica e a diabetes mellitus, doenças muito prevalentes na população. A doença renal crônica é silenciosa, ou seja, não causa sinais ou sintomas que levem os pacientes ao médico por causa dela. A grande maioria não sabe que apresenta problemas nos rins. Quando a doença já está muito avançada e a taxa de filtração de ambos os rins, muito reduzida, alguns pacientes podem procurar um serviço de saúde com queixas de cansaço, fadiga, falta de apetite, náuseas e vômitos. E apenas nos exames de sangue, muitas vezes numa UPA ou serviço de emergência, é que é flagrado o aumento da creatinina, o mais utilizado marcador da função dos rins. Não é incomum que o paciente procure um médico por essas mesmas queixas e acabe recebendo medicações para o estômago, vitaminas etc. e o diagnóstico de doença renal crônica não é realizado, mesmo após o paciente procurar diversos médicos. Infelizmente, muitas vezes, ele já chega ao hospital com doença renal crônica terminal, com necessidade de diálise de urgência, sem nunca ter antes recebido o diagnóstico de doença renal. Este ano a Campanha da Sociedade Brasileira de Nefrologia foca na educação sobre a doença em três pilares: educação para a comunidade – para que saiba mais sobre as doenças renais numa linguagem mais coloquial – educação para os profissionais de saúde, informando que na atenção básica, mesmo fora da população de risco, deve-se solicitar a dosagem da creatinina e o sumário de urina para fazer um check-up, uma triagem dos pacientes. Outro ponto: a função renal do paciente pode estar alterada mesmo com a creatinina dentro do valor normal para o laboratório de análise – isto porque o valor da creatinina depende da massa muscular do paciente. Exemplo: uma senhora idosa de 85 anos com 50 Kg com uma creatinina de 1,2 mg/dL tem a taxa de filtração dos rins bem menor que um jovem de 24 anos com 90 Kg com o mesmo valor de creatinina. O médico pode achar que a creatinina esteja dentro da faixa do valor de referência do laboratório e não deva encaminhar o paciente para o nefrologista. Por isso, é importante utilizar as calculadoras nefrológicas disponíveis no site da Sociedade Brasileira de Nefrologia e a mais utilizada é a CKD-EPI. A campanha deste ano também foca na educação dos formuladores de políticas em saúde pública, uma vez que a doença renal crônica é uma ameaça global à saúde pública, mas nunca priorizada nas agendas governamentais de saúde. Do ponto de vista populacional, programas de detecção de rastreamento precoce da doença deveriam ser incentivados. Quanto mais precocemente a doença renal crônica for detectada, melhor será a qualidade de vida para os pacientes, menores as taxas de mortalidade e sem contar a menor necessidade das terapias renais substitutivas (hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal) que mudam a vida do paciente e são muito caras para o Estado. Repetindo: o ideal é o diagnóstico precoce para que nós, nefrologistas, possamos atuar no sentido de diminuir a progressão da doença renal, talvez estabilizá-la por longos períodos e, caso o paciente necessite de uma terapia renal substitutiva, que ele chegue a esta terapia com boa qualidade de vida e bem-preparado – não precise iniciar hemodiálise de urgência nas grandes emergências como acontece atualmente. Qual a prevalência na população e qual o número de mortes que a doença renal crônica causa? Existem cerca de 140 mil pacientes em hemodiálise no Brasil. Mas esse número representa apenas os pacientes no estágio V, ou terminal. Muitos outros pacientes apresentam os estágios I, II, IIIa, IIIb e IV e nem sabem que são portadores de doença renal crônica. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia, a prevalência da doença renal crônica no mundo é de 28% a 46% em indivíduos acima dos 64 anos de idade. De acordo com KDOQI (Kidney Disease Outcomes Quality Initiative) nos Estados Unidos, a doença renal crônica atinge cerca de 15% de toda a população adulta (acima de 18 anos de idade). Estima-se que em 2040 a doença renal crônica poderá ser a quinta maior causa de morte no mundo. A prevalência aumenta em todo o mundo junto com o envelhecimento da população e os maus hábitos de vida: quanto mais pessoas com diabetes e hipertensão sobreviventes, maiores as chances dessas populações começarem a apresentar complicações, incluindo a doença renal crônica. Outra causa pouco comentada é a presença de lesões renais agudas de repetição, que acomete, por exemplo, um idoso

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