Arquivos Colunistas - Página 114 De 298 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

Colunistas

Vencer o medo será o grande desafio de 2022

Desemprego em massa, aceleração da inflação, dólar em ascensão, previsão de recessão, déficit público crescente, ameaça de nova onda da pandemia, agravamento da desigualdade educacional, aumento da pobreza e da fome. Esses são apenas alguns elementos do cenário para o próximo ano. Se tudo isso não bastasse, ainda teremos eleições em clima ideológico desagregador, transformando 2022 em mais um ano decisivo para o futuro do Brasil. Já vivemos outras situações como a que se desenha para 2022. Em 1989, a disputa eleitoral Collor-Lula dividiu o Brasil. Em 1990, ocorreu o chamado “confisco”, quando cerca de 80% do dinheiro em contas bancárias foi retido como proposta de conter a inflação. Em 1992, foi a vez do processo de desgaste e, em seguida, do impeachment de Collor, que deixou o Brasil em compasso de espera por quase 12 meses. Em 2002, o medo voltou sob a expectativa da vitória de Lula (PT) nas eleições contra Serra (PSDB). A principal ameaça era a descontinuidade do Plano Real. O temor não se concretizou, mas gerou um ambiente de incerteza por todos os lados. Mais recentemente, tivemos o embate Dilma-Aécio, em 2014, seguido pelo impeachment de Dilma, em 2016, que provocou uma recessão nos anos seguintes. Em 2018, a eleição de Bolsonaro criou um clima permanente de “guerra ideológica” e, desde 2020, vivemos uma pandemia que matou mais de 615 mil pessoas. A questão é que viver sob o medo altera nossa forma de pensar e agir. O psicólogo William Von Hippel, autor do livro A Evolução Improvável (Editora Harper Collins, 2018), mostra que a dose certa de medo preserva a vida e estimula a busca por soluções inteligentes. Por outro lado, quando em excesso e de forma sistemática, nos deixa mais sujeitos à procrastinação das decisões, à paralisação da evolução e, principalmente, à manipulação. Sob o domínio do medo, a tendência é adiarmos nossas decisões. Somos tomados pelo clima do “tudo vai dar errado”. Desde sair de casa, para não contrair o coronavírus, até diminuir o consumo, pelo temor da perda do emprego. Esse comportamento atinge diretamente a economia: menor consumo leva ao baixo crescimento, que não gera emprego, diminui a renda e aumenta a pobreza. Um círculo vicioso difícil de ser quebrado em um ambiente de dúvidas. Mais grave que a procrastinação, o medo também leva à paralisação. Temas importantes que afetam o futuro são, com frequência, postos de lado, tanto no plano do indivíduo quanto no coletivo. Deixamos de construir o futuro para pensar apenas na sobrevivência do presente. Um exemplo é a paralisação de reformas — política, administrativa, tributária — no Congresso Nacional. Prisioneiros do medo da não renovação dos mandatos, os políticos atropelam o debate das pautas importantes para o Brasil com medidas e negociações eleitoreiras. Juntas, a procrastinação e a paralisação nos fazem ter a sensação de que estamos indo em direção ao caos. De que nada avança e que precisamos de ações firmes e imediatas para nos tirar dessa situação. Aí entra outra consequência de viver sob o medo: a porta aberta à manipulação. Nesse momento, estamos mais propensos a aceitar transgressões morais e legais em nome da “salvação”. De uma maneira geral, tais medidas — que em situação normal não seriam colocadas à mesa, nem mesmo aceitas — se tornam uma opção tentadora. Isso nos leva, mais uma vez, a priorizar o curto prazo e não enxergar as verdadeiras ações. Os nazistas, por exemplo, usaram a falsa ameaça de invasão pela Rússia e a grave crise econômica para corromper a democracia alemã e transformá-la em ditadura, que ocasionou a Segunda Guerra Mundial. Aqui no Brasil, em 1937 e em 1964, foi a manipulação política do medo da falsa Intentona Comunista e do apoio da União Soviética à Cuba que resultou no Estado Novo e no Golpe Militar, respectivamente. Para não repetirmos o lado negativo da nossa história, chegou a hora de permitir que nosso racional entre em ação para ajudar a definir o futuro. Como apontado por William Von Hippel, não devemos nos abater pelo cenário de incertezas e dar espaço à procrastinação, à paralisação, à manipulação. Devemos usar o medo na medida certa para estimular nossa capacidade de compreender, aprender e criar o futuro desejado. Até porque, como a história também mostrou, o medo passa e a vida continua.

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Um bolo para homenagear o Recife

Gilberto Freyre: “Pode-se falar de um paladar brasileiro histórico e é possível também tropical ou ecologicamente condicionados e como tal ao que parece predisposto a estimar o doce e até o abuso do doce (...) um doce o de preferência brasileira, como que barroco e até rococó (...) é a arte mais sensual da sobremesa.” Pode-se dizer que Pernambuco tem uma forte relação com a criação de bolos. Bolos que trazem memórias ancestrais ibéricas, e bolos que são reinventados para formarem novas memórias. O bolo sempre acompanhou a história de Pernambuco, pois recebe nomes de lugares, de engenhos de açúcar, de famílias; marcam datas históricas; e revelam assinaturas, de doceiras e doceiros, de famílias ilustres à época da criação da recita do bolo. Assim, os bolos marcam a vida de uma sociedade marcada pelos contextos dominantes da cana-de-açúcar enquanto verdadeiras marcas heráldicas. Os bolos são quase brasões feitos de trigo, mandioca, ovos, leite, açúcar, diga-se muito açúcar; frutas frescas e/ou secas; e especiarias do Oriente. O bolo no Nordeste é principalmente uma invenção para expressar os sabores e as estéticas dos trópicos. Bolos para exibirem o glacê “mármore”, feito à base de açúcar e cítricos. Bolos para serem apreciados no dia a dia. Bolos para as celebrações dos santos de junho, com receitas com muito milho e canela. Destaque para Gilberto Freyre que em 2020 celebrou 120 anos de nascimento, e assim, do seu livro “Açúcar” (1939), trago alguns dos muitos nomes de bolos que marcam um sentimento nativo pernambucano. Bolos nomeados como pessoas: bolo Cavalcanti, bolo de milho D. Sinhá, bolo padre João, bolo D. Luzia, bolo Souza Leão, bolo Souza Leão - Pontual, bolo D. Pedro II, bolo de mandioca à moda Dr. Gerôncio. Bolos nomeados como lugares: bolo Guararapes, bolo de bacia Pernambuco, bolo paraibano, bolo de rolo pernambucano, bolo brasileiro, bolo Souza Leão à moda da Noruega.Há outros bolos com nomes diversos como: bolo Divino, bolo de São Bartolomeu, bolo engorda-marido, bolo de São João, bolo Republicano, bolo treze de maio. Trago um estudo de caso que vai além do livro “Açúcar”. É o bolo Recife, um bolo-homenagem à capital pernambucana. Tradicionalmente mantém a forma circular, que é características dos bolos caseiros e das padarias. Ainda, pode ser apresentado no formato retangular ou de “caixa”, e com recheio de doce de ameixa. É um bolo para o cotidiano, para acompanhar o café ou chá, ou mesmo acompanhar um generoso pedaço de queijo. Sem dúvida, o bolo acompanha a vida pernambucana.  

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A “utopiazinha” de Darcy Ribeiro

Na apresentação anual de lançamento da Agenda TGI, que tive a satisfação de fazer pela 23ª vez na segunda-feira 29.11.21, citei o sociólogo Darcy Ribeiro para fazer uma espécie de contraponto com a crise de desesperança e baixa autoestima que vivemos no Brasil nos dias de hoje. Diz Darcy na introdução do seu livro Aos Trancos e Barrancos – Como o Brasil Deu no que Deu: No dia em que todo brasileiro comer todo dia, quando toda criança tiver um primeiro grau completo, quando cada homem e mulher encontrar um emprego estável em que possa progredir, se edificará aqui a civilização mais bela desse mundo. É tão fácil; estendo os braços no tempo, sinto na ponta dos dedos essa utopiazinha nossa se realizando. Pelo que ele chama de “utopiazinha” vemos como não é tão difícil assim criar as condições mínimas para termos um país decente. Dito assim, deste modo tão desconcertantemente simples, a pergunta imediatava que nos assalta é: por que então não conseguimos? Bem, aí necessário se faz lançar mão da vasta bibliografia que temos de história, sociologia, ciência política... para tentar entender. Confesso que já fui por aí e ainda não consegui. Inclusive por isso, é que me socorro de Darcy, um otimista incorrigível, um “enlouquecido de esperança” pelo Brasil, para tentar uma espécie de “prova pelo absurdo”, que é a luz que a utopia traz. Fugir do emaranhado de impossibilidades do presente para, lançando mão da utopia, do sonho possível, dizer: não percamos a esperança porque o que precisamos, queremos, almejamos, não é impossível como o horizonte turvado do presente pode fazer crer. Aproveitei e citei também a frase do ex-governador Eduardo Campos dita no Jornal Nacional na noite anterior ao seu trágico desaparecimento: “Não vamos desistir do Brasil!”. E para terminar, fui buscar a frase de Victor Hugo: “Nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã”. E é justamente isso que desejo àqueles que não perderam de todo a esperança, não obstante os desmantelos e os descaminhos que trilhamos e, infelizmente, provavelmente continuaremos trilhando em 2022, que não será um ano fácil: que possamos, tão logo quanto possível, retomar o caminho apontado pela “utopiazinha” de Darcy e transformar em “carne e osso” esse sonho realizável. Bom 2022!

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Afogados e seus porquês...

No Recife, a denominação da primitiva povoação dos Afogados é originária do Rio dos Afogados, afluente do Capibaribe, aonde, em 17 de fevereiro de 1531, sete marinheiros da expedição de Martin Afonso de Souza vieram a perecer em suas águas. O Rio dos Afogados, assim como outros afluentes do Capibaribe e do Beberibe, já aparece com a sua designação no Diário de Navegação de Pero Lopes de Souza (1532), e em mapa existente no Roteiro de todos os sinais etc., de Luís Teixeira (c. 1582-85), no qual, pela primeira vez, é assinalada, num documento cartográfico, essa primitiva povoação do Recife, distante uma légua da Vila de Olinda e de seus arredores. Cruzando a Ponte do Motocolombó, ingressamos em terras dos Afogados que ostenta, em sua praça central, um formidável cruzeiro esculpido em pedra, originário do Século 17, que fora ali fixado em 25 de novembro de 1868. O belo monumento, firmado em bonita peanha (pequeno pedestal onde se colocam imagem, estátua, cruz, busto etc.), foi transportado em procissão de penitência do primitivo Engenho Jiquiá (Século 16) para o Largo da Paz, quando das Santas Missões pregadas pelo capuchinho italiano Fidélis de Fognano. A praça é dominada pela Matriz de Nossa Senhora da Paz, originária de capela já existente em 1745. No ano de 1837, foi elevada à dignidade de matriz pela Lei Provincial nº 38, com o território de sua paróquia estendendo-se por toda a várzea do Capibaribe. A igreja passou por grandes obras em 1857, que conservaram sua estrutura primitiva bem como as imagens e alfaias, todas originárias do Século 18. No entanto, reformas realizadas em 1920 fizeram desaparecer todo o brilho do templo antigo que, em época recente, sofreu com o desabamento de sua nave central, restando de primitivo apenas seu austero frontispício. O termo dos Afogados só veio a ser incorporado ao Recife em dezembro de 1817, desmembrado de Olinda. De lá tinha início a estrada de rodagem para Vitória, inaugurada em 1836, com regular serviço de passageiros; daí a origem da Rua da Diligência, um pequeno beco existente à esquerda de quem cruza a ponte vindo da Rua Imperial. Até há pouco restava, em Afogados, na descida da ponte, o último dos nichos que outrora existiam nas ruas do Recife. Esse pequenino monumento, hoje transferido para o Largo da Paz, em frente ao cruzeiro, teve sua presença registrada pelo reverendo metodista Daniel Parrish Kidder, que aqui esteve em 1836: “Na extremidade oriental da ponte erguia-se o que Mr. Southey (referência ao historiador Robert Southey) chamaria de uma casa de ídolo. Suas dimensões não excediam a seis pés por quatro. Pela janela ou porta, quando aberta, o transeunte podia ver que continha uma pequena imagem, ricamente ornada, sobre um altar”. O bairro dos Afogados está ligado ao Centro do Recife pela Avenida Sul, com 2.500 metros, e pela Rua Imperial, com 2.300 metros, esta originária do “dique” construído ao tempo do conde João Maurício de Nassau (1637-1644) que servia de acesso ao forte holandês Príncipe Guilherme ali existente em área hoje ocupada pela antiga fábrica de Alimonda & Irmãos.

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Curiosidades da estátua do David de Michelangelo

Diz a lenda que Michelangelo Buonarronti (1475-1564), ao concluir a escultura do Moysés, hoje na igreja de São Pedro Advíncola, em Roma, batendo com um cinzel na testa de sua escultura exclamou: “Parla!” A mesma cena poderia ter se repetindo em 8 de setembro de 1504, quando da conclusão da mais famosa estátua do mundo: O David de Florença. Com seus 515 centímetros de altura e 200 centímetros de base, da qual o Instituto Ricardo Brennand possui uma réplica nos seus jardins, trata-se da mais famosa escultura daquele artista renascentista, feita sob encomenda para a cidade de Florença (Itália), retratando com todo realismo anatômico o herói bíblico minutos antes de enfrentar o gigante Golias (Samuel, 17.1). A obra original permaneceu em frente ao Palazzo Vecchio, na Piazza della Signoria, até o ano de 1873, quando veio a ser transferida para a Galleria dell’Accademia em Florença, onde pode ser admirada. A réplica do David de Michelangelo existente nos jardins do Instituto Ricardo Brennand (Recife) é obra dos estatuário Cervietti Franco & Cia., de Pietrasanta, cidade localizada na Toscana, nas proximidades de Carrara, aqui instalado no mês de janeiro de 2011. Recentemente a imprensa noticiou que a Universidade de Florença moldou a estátua original e a montou em uma Exposição nos Emirados Árabes, em Dubai. Os italianos, ao lado de um grupo sueco, usaram uma impressora 3D para imprimir a estátua. Pelo enorme tamanho, a peça foi dividida em 14 partes para ser montada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde acontece uma grande exposição mundial até março de 2022. Confessa no site da Revista IstoÉ, a jornalista Keka Consiglio, artista plástica, jornalista e empresária do setor de comunicação, que “cerca de 25 milhões de pessoas poderão ver naquela exposição a réplica, feita com tecnologia de impressão 3D, usando o conceito de Digital Twins (gêmeo virtual idêntico ao original). Michelangelo demorou três anos de trabalho ininterrupto para esculpir David a partir do zero e, mesmo com a mais moderna tecnologia, a versão digital precisou de 120 dias para ser produzida mesmo tendo disponível o original para cópia. Realmente, impressionante”. Estudos recentes vêm algumas singularidades na escultura original do David de Michelangelo: Até os dias de hoje é difícil imaginar a ginástica necessária para transformar aquele enorme bloco maciço de mármore, em uma das esculturas mais belas do mundo. O David está nu e segura uma tipoia sobre o ombro esquerdo e uma pedra na mão direita. Seu olhar transmite emoção, sua pose é imponente e suas mãos parecem que acabaram de se movimentar. Está apoiado na perna direita, tem a perna esquerda levemente dobrada e sua mão direita acompanha seu corpo, ao cair na altura da coxa. Sua mão esquerda mostra um movimento e seu rosto é pensativo e enigmático, parecendo desafiar o adversário. Toda a anatomia de David exprime tensão e apreensão, mas também ousadia. Suas veias chamam a atenção por estarem dilatadas, sua testa está franzida e o olhar é agressivo e sereno simultaneamente. Os estudos continuam e hoje apresentam observações originárias das mais diversas fontes: Canhoto ou destro - A escultura sugere que David é canhoto, porque segura um estilingue com essa mão, mas seu corpo demonstra que ele é destro. Esse é um enigma talvez causado pelas limitações da peça de mármore antes de ser esculpida. Olhar defeituoso – Durantes séculos, quase ninguém percebeu a sutileza do olhar de David. Foram os especialistas da Universidade de Stanford que conseguiram mostrar com a ajuda de computadores que o olho esquerdo de David enxerga para a frente enquanto o olho direito está focado em algum ponto distante. Definitivamente, os americanos não entenderam que é justamente esse movimento que faz com que o olhar da escultura seja um dos mais enigmáticos e interessantes da história da arte. Além disso, dizem que o olhar propositalmente estava direcionado para Roma, longe dos conflitos políticos da época e que envolviam os Médicis (família que por séculos dominou a Cidade de Florença). Todas essas observações poderão ser por nós comprovadas numa visita ao Instituto Ricardo Brennand (Recife), onde nos aguarda a réplica em mármore de Carrara, confeccionada pelo estúdio de Franco Cervietti, também responsável por cinco outras cópias, existentes uma no Cemitério de Los Angeles; a segunda para Austrália; a terceira para o Museu de Taiwan; a quarta para uma fundação de arte de Taiwan e esta quinta cópia concluída em 2000 que teve como destino o Brasil. *Por Leonardo Dantas Silva

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Lanche Verde (por Bruno Moury Fernandes)

Casal de amigos foi chamado pelo colégio onde a filha estuda para uma reunião. A curiosidade era enorme, mas estranharam o convite, já que a pré-adolescente em questão é comportadíssima. Um doce de menina. Incapaz, até então, de uma trela no ambiente escolar. O constrangimento logo povoou a sala da diretoria. A escola descobriu que a filha desse casal havia levado cerveja na sua lancheira. Os pais estranharam o fato, mas prometeram apurar. No mesmo dia, descobriram que as latinhas de Heineken na geladeira foram confundidas com as latinhas de Sprite que se acotovelam no andar logo abaixo, no mesmo refrigerador. A cachaça sempre acompanhou as gerações dessa família. Não tem jeito. Esse é o tipo de história que esses adolescentes irão carregar para o resto da vida. Daquelas que se contam para os netos, em festa de família, quando o velhinho é arrodeado por pessoas para contar suas peripécias infantis. Se for rico, então, todos prestarão atenção. Se for pobre, poderão dar alguma risada, e depois algum moleque vai chutar sua canela e sair correndo, murmurando: velho safado! Bom mesmo era o lanche raiz. Aquele que levávamos para a escola. Aliás, faz falta todas as coisas que estão a faltar por toda a parte. Se me permitem, ouso enaltecer o cuscuz de rua. Esse ia para a escola. Dormia na geladeira e no outro dia estava na minha lancheira. Saudade até do próprio apito do vendedor. Daquele que se houve a três quilômetros de distância. Porque é som de final de tarde, de volta para casa, de final de expediente. É a sonoridade de um Recife que desaparece lentamente. O pequeno fragmento de coco equilibrando-se sobre aquela circunferência amarela e encharcada no leite e açúcar nos dá água na boca, mesmo estando, pelo menos eu, a anos de distância do último que prazerosamente comi. Não podemos esquecer do japonês. O doce. A iguaria. Aquela que agarra nos dentes e impedia o aluno de falar com o professor, no pós-recreio, de tanto doce agarrado aos dentes. Pelo menos é mais saudável do que as latinhas da loirinha gelada e os dentistas agradeciam. Bom, mas voltando às latinhas da filha do casal amigo, eles voltaram à escola no dia seguinte e esclareceram tudo. Não deu para esconder o fato de que os meninos, a filha do casal e seus coleguinhas, todos pré-adolescentes, passaram três dias dividindo cerveja no recreio, com gaitadas homéricas, comportamento esse que se estendia pelas aulas pós-recreio, o que fez saltar aos olhos dos professores as atitudes anormais e o andar trôpego da meninada. A cor verde – que me perdoem os palmeirenses – sempre nos confunde. Verde claro, verde escuro, verde musgo, verde oliva, verde mar. Enfim, a culpa não é do casal amigo. Tem verde demais no mundo a confundir pais distraídos, especialmente os cachaceiros.

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Paulo Dalla Nora Macêdo traça perpectivas para 2022

Paulo Dalla Nora Macedo é economista e vice-presidente do política viva. Integrante e articulador de vários movimentos que discutem a gestão pública e o futuro do País, ele responde três perguntas sobre as perspectivas para 2022 no Brasil, em meio às eleições presidenciais e às previsões nada otimistas para a economia nacional. Quais as suas perspectivas para o País no cenário de travessia da Pandemia em 2022? Quais os principais desafios você apontaria? O governo federal já demonstrou ser insensível às recomendações da ciência e que prefere se guiar por crendices, porque isso faz parte do ethos do Presidente. Algumas pessoas chamam isso equivocadamente de “ser autêntico”, mas, na verdade, é escolha pela ignorância, e isso coloco o Brasil em risco constante de descontrole com novas variantes. Desde o início da pandemia todos os cientistas veem alertando que controlar a COVID-19 será uma luta de logo prazo e o nosso governo atual não entendeu e não vai entender isso. O próximo ano promete um processo eleitoral decisivo para os rumos do País. A polarização se mantém? O cenário de antipolítica das eleições 2018 permanece ou será abandonado?  Espero que em 2022 tenhamos a verdadeira polarização que, no buraco civilizatório que nos metemos, é necessária: uma frente contra o obscurantismo. Só com um amplo acordo político que envolva todas as forças políticas fora desse espectro vamos começar a deixar esse lapso histórico para trás. E para isso, a política vai ser muito importante para firmar um amplo acordo de governabilidade evitando que o obscurantismo não continue a ser relevante no Brasil mesmo com a derrota. Eu estou muito empenhado nisso, e vejo muita gente empenhada, como o grupo Derrubando Muros que reúne grandes empresários, executivos e importantes lideranças da sociedade civil. Quais as prioridades da população brasileira para o ano de 2022 e para as eleições do próximo ano? As pesquisas indicam que a maior preocupação é de ordem econômica: inflação, emprego, renda representam mais de 50% nas pesquisas quando somados. A vida das pessoas está muito pior em 2021 e estará pior em 2022 do que qualquer outro período nos últimos 30 anos. Às duas democracias mais importantes do ocidente, EUA e Alemanha, elegeram governos que estão tentando desenhar um novo pacto social, com um audacioso projeto de maior rede de apoio social e forte investimento em transição para uma economia verde. Qual o programa econômico desse governo? Ninguém sabe dizer, são frases soltas do ministro que mais parecem uma palestra de um economista-show para elevar os espíritos dos contratantes. Nossa imagem externa foi arrasada e com isso a nossa capacidade de atração de investimentos é uma das mais baixas da história. O FMI projeta que o Brasil seja o lanterna na lista de crescimento entre os emergentes em 2022. Ano que vem será um dos piores dos últimos tempos.

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Chegada da Escola de Sargentos estimula o mercado imobiliário

A decisão do Exército de instalar na região de Aldeia (Camaragibe) a nova Escola de Graduação e Formação de Sargentos de Carreira e a contribuição que o complexo militar pode gerar para destravar o Arco Metropolitano – eixo logístico estratégico que vai integrar a Zona da Mata Norte ao Complexo de Suape - animam a cadeia da construção civil e mercado imobiliário em Pernambuco. A expectativa é de que esses dois empreendimentos tenham impacto  sobre a região que é tradicionalmente procurada pelo consumidor das classes A e B que deseja moradia fora dos grandes centros urbanos e com a qualidade de vida de uma casa de campo. “A busca de moradia com mais espaço e conexão com a sustentabilidade aumentou no cenário da pandemia, principalmente no caso de quem trabalha remotamente ou num modelo híbrido. E Aldeia, numa área de Mata Atlântica preservada, oferece uma alternativa interessante para quem procura essas condições sem precisar se mudar para uma cidade do interior”, avalia o CEO da proptech Marta Inteligência Imobiliária, Sand Coutinho. “Com a melhoria da mobilidade, serviços e principalmente segurança, a região tende a atrair muito mais interesse do consumidor com esse perfil”, ressalta. . . “Os produtos imobiliários na região são diferenciados, bem nichados, basicamente condomínios horizontais, com excelente estrutura e onde se pode morar com disponibilidade grande de terreno, conforto, privacidade, tranquilidade e cercado por muito verde. A procura e oferta por esse produto tende a crescer a partir de empreendimentos que vão incrementar a região sem descaracterizá-la, aspectos fundamentais do Arco e da Escola de Sargentos”, analisa o CEO do portal Expoimóvel Thiago Donato. O presidente do Sindicato da Habitação de Pernambuco (Secovi-PE), Elísio Cruz Júnior, afirma que “os moradores serão beneficiados com esses projetos” e acredita numa valorização de 30% a 40% dos imóveis na região, nos próximos cinco anos. “O metro quadrado ainda é relativamente barato em Aldeia. Com a implantação da escola e do Arco, o viés é de alta”, destaca. Lançamentos Na expectativa de aquecimento do mercado, algumas empresas estão apostando em lançamentos em Aldeia e otimistas com a velocidade de vendas. É o caso da FC Andrade Empreendimentos Imobiliários, que iniciou as vendas do Lago de Aldeia Residence, com 380 lotes a partir de 500 m² e 600 mil m² totais, dos quais 300 mil de Mata Atlântica preservada. “A previsão é de que as 100 primeiras unidades sejam comercializadas em apenas 45 dias”, estima o proprietário da incorporadora, Francisco Andrade. A Marta é responsável pela estratégia e gestão dos corretores, com o uso de recursos de inteligência de mercado (BI) e artificial (IA). Percepção de segurança Sand Coutinho destaca que a Escola de Sargentos – que terá um centro de formação com 2,4 mil alunos e uma vila militar com 576 apartamentos – vai trazer dois impactos principais para a região: atração de serviços (uma das principais lacunas de Aldeia) e prevenção da violência. “Há um movimento, ainda em ritmo lento, de instalação de galerias, minishoppings, bares, restaurantes e outros estabelecimentos, que tende a acelerar. Além disso, em áreas próximas a instalações militares a percepção de segurança é um fator importante”, acrescenta. Quanto ao Trecho Sul do Arco Metropolitano, Elísio Cruz Júnior frisa que a obra vai contribuir para desafogar o trânsito na região, que sofre com engarrafamentos crônicos em horários de pico. “A mobilidade é um dos principais desafios de Aldeia e o Arco, embora tenha sido concebido como uma ligação com Suape, será importante, junto com outras intervenções, para a solução desse gargalo”, defende. Esse é o lote da obra que passa na localidade e depende do lançamento de nova edital pelo Governo do Estado após o cancelamento recente do processo licitatório anterior. O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário de Pernambuco (Ademi-PE), Avelar Loureiro Filho, considera o Arco, na prática, a criação de um novo eixo de desenvolvimento. “O Arco é fundamental para viabilizar a quarta perimetral do Grande Recife, criando um corredor da Mata Norte até Suape e que vai expandir a atividade industrial para Vitória, Igarassu e Itapissuma, descomprimindo assim o emprego na Região Metropolitana da capital”, ressalta.

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Stellantis/Jeep e a Roda transformam resíduos da produção de automóveis em moda

A Stellantis/Jeep e a empresa pernambucana Roda, que atua no segmento de upcycling de produtos têxteis, apresentam na próxima terça-feira (07) o lançamento de uma parceria que transforma os resíduos da indústria automotiva de Goiana em moda. A Roda é comandada por Mariana Amazonas, Manu Moreira e a designer Joana Lira. O projeto fabrica mochilas, bolsas, sandálias, entre muitos outros itens, com design inovador a partir da produção com couro, borrachas, cintos de segurança e até airbags como matérias-primas. As peças mostradas estarão disponíveis no site de e-commerce da RODA (roda.eco.br), a partir do dia 08/12. De acordo com as organizadoras, 50% dos lucros de cada produto será destinado às costureiras, do município de Igarassu, que participaram do projeto. Além da apresentação da parceria, o público vai conferir um bate-papo sobre economia e moda circular, economia afetiva, formas de conscientização de consumo e sustentabilidade. Participam do evento Jackson Araújo, Consultor de Inovação em Moda Sustentável da Fundação Hermann Hering, Mariana Amazonas, Ecodesigner e cofundadora da Roda, e Fabricio Biondo, Diretor da Comunicação Corporativa da Stellantis para a América Latina. A transmissão será feita pelo canal (youtube.com/c/StellantisLatam), a partir das 19h.

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Willian Rigon: "Uma cidade que atrai negócios, atrai empregos e movimenta a economia"

Três cidades pernambucanas surgiram en destaque no ranking da Urban Systems entre os melhores destinos para se fazer negócios. Na reportagem de capa desta semana da Revista Algomais tratamos sobre a competitividade municipal e um pouco da experiência do Recife, de Igarassu e de Petrolina. Publicamos hoje a conversa com Willian Rigon, sócio e diretor de marketing da Urban Systems, que fala sobre o que torna uma cidade competitiva e comenta sobre o que levou Recife, Igarassu e Petrolina a se destacarem. Quais os principais critérios que tornam uma cidade competitiva para atrair negócios? Consideramos que as cidades precisam ter um ambiente favorável: confiança no consumo, crescimento econômico, um setor em estudo competitivo e demanda... assim, avaliamos estes critérios, direta ou indiretamente. E claro é importante entender também o impacto da pandemia e da vacinação nas nossas cidades, pois esta questão influencia as demais.   O Recife se destacou no ranking dos serviços, crescendo 40 posições na pesquisa deste ano. O que foi responsável por uma mudança tão grande da capital pernambucana nesse ranking? Diante dos critérios que vocês adotam, onde é possível melhorar ainda? O estudo anterior foi realizado em um momento em que a maioria das cidades brasileiras era impactada negativamente pela crise sanitária e pela crise econômica. A edição atual reflete um momento diferente para algumas cidades que fizeram sua “lição de casa” e ponderaram vacinação com segurança na abertura econômica. Recife já conta com mais de 55% de toda a população vacinada com o primeiro ciclo de vacinação, e dessa forma, sua reabertura econômica impactou positivamente o setor de serviços. Em 2020 constatamos a perda de 5,5 mil empregos no setor, em 2021 o crescimento no período foi de 11,8 mil empregos, não apenas repôs a queda, como apresentou crescimento, com a retomada de muitas atividades, dentre elas o turismo. (Os dados de vacinação são referentes a data de fechamento da pesquisa, o Recife possui atualmente uma taxa de vacinação completa de 73%).   Petrolina, no sertão, foi apontada como a principal cidade do País para se fazer negócios na agropecuária. Quais os principais indicadores que colocam Petrolina nessa posição de tanto destaque nacional? Mesmo liderando, há alguns indicadores que podem melhorar? Petrolina é uma cidade que já é destaque no setor agropecuário. Em 2021 notamos que a cidade registrou o dobro do saldo de empregos de 2020, 4,2 e 2,1 mil empregos, respectivamente. Os grandes destaques da cidade estão na produção associada a lavoura permanente e temporária, que são culturas diferentes, mas que apresentaram grande crescimento no último período analisado, e já vinham (no caso da lavoura permanente) de um crescimento no período anterior. A exportação de produtos Agro também teve um grande crescimento no último período analisado, fruto do aumento da produtividade e também da flutuação do câmbio. Apesar de analisar 3 eixos do setor agropecuário, não é necessário que a cidade tenha destaques nos 3 eixos, pois cada cidade tem sua vocação e oportunidade no setor.   Igarassu, que fica na região metropolitana do Recife, se destacou no setor industrial. O que torna essa cidade tão destacada na atração de negócios na indústria? Quais os pontos a serem melhorados? Igarassu se beneficia pela proximidade com a capital, sendo uma oportunidade para empresas e indústrias se instalarem em locais mais baratos, porém próximo do mercado consumidor final (fenômeno comum as demais regiões metropolitanas do país), além é claro do benefício em relação a proximidade do Porto de Suape. Alias, em termos de infraestrutura, este é um ponto positivo para a cidade, proximidades com Porto e Aeroporto. A cidade também registrou crescimento de 22,8% da exportação de itens industriais e saldo positivo de empregos no setor neste ano, próximo a 600 empregos, que para seu porte é bem representativo. Ponto positivo, em relação ao enfrentamento da pandemia esta na redução da Taxa de letalidade (mortos/infectados) da COVID-19 que passou para 5,61% e no ano anterior era de 13,85%. (Esses dados são do momento da pesquisa. De acordo com os dados da Prefeitura Municipal de Igarassu, a cidade não registra novos óbitos por Covid-19 há 3 meses). Como ser uma das melhores cidades do País para atrair negócios contribui para o desenvolvimento municipal, melhorando a qualidade de vida da população? Uma cidade que atrai negócios, atrai empregos e consequentemente movimenta a economia de uma cidade... é importante pensar o negócio, como algo que gira a economia como um todo e trabalha as sustentabilidades econômicas e sociais. Claro que o município precisa fazer a sua parte, oferecendo infraestrutura adequada e providenciando um ambiente legal confiável e desburocratizado. Para um gestor público que deseja fazer melhorar o seu desempenho na atração de negócios, qual o primeiro passo a ser dado? Primeiramente o gestor público precisa identificar sua vocações e potencializadas, para bem servir seus investidores, sem faltar com as questões básicas... Um bom gestor público, além dos itens acima mencionados, também pode trabalhar na atração de empresas dos clusters potenciais, na formação da mão de obra, por meio de convênios com escolas técnicas e universidades públicas, tornar o ambiente legal da sua cidade mais rápido, dinâmico e eficiente, e claro, trabalhar questões fiscais favoráveis, no caso de setores onde haja muita competitividade. . *Por Rafael Dantas, repórter da Revista Algomais, especialista em Gestão Pública e mestre em Extensão Rural e Desenvolvimento Local (rafael@algomais.com | rafaeldantas.jornalista@gmail.com)

Willian Rigon: "Uma cidade que atrai negócios, atrai empregos e movimenta a economia" Read More »