Arquivos Colunistas - Página 282 De 298 - Revista Algomais - A Revista De Pernambuco

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As sutilezas de Andrea

As sutilezas da escrita, de todas elas, estão no A sutileza do sangue, de Andréa Ferraz, (Editora Coqueiro - 2016): um livro absolutamente visual que, mesmo após a leitura, faz as imagens permanecerem nos olhos do leitor. Ela concebe fatos, os mostra nos cenários e cria personagens pulverizados como se fossem jatos multicoloridos de sprays aspergidos sobre a superfície das lembranças. A linguagem é pura, direta, como deve ser a linguagem fluida da natureza áspera. E é alegre, irreverente, quando sugere situações propícias: “o ar do quarto abafado misturava couro curtido com perfume de mulher recém-casada”. A autora tempera o texto com condimentos nativos, untando a prosa de sabor e cheiro, oferecendo as delícias de iguarias que nunca saboreamos. Dessa arte, mostra virtudes além do apego às receitas do mestre Raimundo Carrero (mestre de tantos discípulos), quando esconde habilmente as tramas e atiça a percepção do leitor. No começo do livro, ela apresenta o emprego de tempos verbais, indo e vindo com a imaginação do leitor de forma subliminar. Em seguida, constrói metáforas com o pó de terra árida, gado magro, soar de chocalhos, ardor da bebida: “os sábados tinham um cheiro de suor e de cachaça”. O texto nos seduz em continuados momentos, notadamente em construções de elogiável feitura estética: “Maria Zoião chega à porta da cozinha, os cabelos não param quietos, finos em pequenos cachos. Os olhos enormes e sobrancelhas erguem-se e se demoram no mundo, enquanto ela esfrega um pé no outro. Gosta de rir botando os dedos na boca, as duas mãos na cara, cheia de cócegas, se encolhendo, escondendo a falha do canino perdido quando, pela milésima vez, a mãe lhe esfregara nas fuças o lençol urinado”. Aqui, Andrea destaca o gestual e o movimento da personagem na cena. Ainda sobre essa personagem, compõe um trecho de puro encantamento quando refere Maria Zoião: “os homens nada lhe davam naquele mundo de pobreza, bastavam-lhe as pulsações”. A beleza se mantém noutras cenas, em uma delas que traduz saudade, leva ao leitor a imagem da chama do candeeiro, que dança a se exibir à brisa em evoluções das sombras provocadas pela tênue luz que pulam em busca do teto, e voltam pela parede em busca do chão: Chamam a atenção os trechos que resgatam significados, espaço e época, de palavras e frases esquecidas como botija num vocabulário remoto, que remete ao estilo de Gilvan Lemos: vejam a narrativa sobre os pendores do sanfoneiro: “Seu Elias era virado numa “pé de bode”, ou observando o panorama dos bichos: “As cabras levantando dos dormidouros, muitas enchocalhadas, outras de cabrito novo, tudo amusgado na mãe”. E ainda quando transporta o diálogo entre genro e sogro: “Dê um conselho a ela” (referindo à esposa), ao que responde o sogro: “Lilo, você já pelou o porco”. Ou ainda anunciando o anoitecer: “os passarinhos já haviam amenizado a futricagem”. A riqueza metafórica e a beleza das símiles vêm a cada página criada com o necessário esmero. Surgem das águas do Pajeú ao descrever o mato molhado “O verde enchendo a vista”, ou em um dos melhores momentos do livro, com Abel e Amapola numa tenda de ciganos: “numa cena com cheiro de tragédia”, ou ainda ao descrever o perfil físico de um dos personagens: “A pele morena parecia frita com banha de porco”. Fale de sua aldeia e estará falando do mundo, disse Leon Tolstoi e assim Andrea Ferraz procedeu. A sutileza do sangue traduz com fidelidade o que pediu o pensador.

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Monumento aos Mártires de 1710, 1817 e 1824 (Por Leonardo Dantas Silva)

Das antigas províncias formadoras do território nacional, nenhuma contribuiu com o maior número de mártires em favor da causa da liberdade do que Pernambuco, haja visto a imensa lista de condenados à pena capital nos movimentos emancipacionistas de 1710, 1817 e 1824. Numa consulta à História de Pernambuco, veremos que todos os movimentos emancipacionistas aqui originários estavam inspirados no orgulho nativista dos Restauradores de 1654. Uma mesma ideologia, a de que os antepassados pernambucanos conquistaram esta terra aos holandeses e que doaram a El-Rei de Portugal debaixo de certas condições, se repete ao longo de todas as revoluções e vem explicar o ideal republicano da gente de Pernambuco. Esse comportamento é uma constante em quase todos os movimentos revolucionários como bem observou Evaldo Cabral de Mello, “uma espécie de doutrina das relações entre a Capitania e a Coroa”. Falta a essa legião de mártires o reconhecimento da gente pernambucana que, até o momento, em que pesem às comemorações pelo transcurso do segundo centenário da Revolução de 1817, ainda não tiveram os seus nomes gravados em um grande bloco de granito a ser colocado na Praça da República. Assim sendo, estamos propondo a construção deste Monumentos aos Mártires da Pátria, constituído de um bloco de granito de cinco metros, inclinado sobre o jardim central da Praça da República, no qual, em sua face polida, sejam talhados os respectivos nomes dos que deram a vida pela causa da liberdade, de modo a ser conhecidos e reverenciados pelas gerações do presente e do futuro. O IDEÁRIO PERNAMBUCANO O sentimento de pernambucanidade que nos move ao longo dos séculos é derivado da doutrina formadora do sentimento nativista presente nas guerras que antecederam a Restauração Pernambucana de 1654: A gente da terra deveria à Coroa não a vassalagem ‘natural’ a que estariam obrigados os habitantes do Reino e os demais povoadores da América Portuguesa, mas uma vassalagem de cunho contratual, de vez que restaurada a capitania do domínio dos Países Baixos, haviam-na espontaneamente restituído à shttp://portal.idireto.com/wp-content/uploads/2016/11/img_85201463.jpgania portuguesa (Evaldo Cabral de Mello in Rubro Veio) Quando da revolta dos habitantes de Olinda contra os do Recife, em que se falou na criação de uma república nos moldes venezianos, proclamada em 7 de novembro de 1710, surgiu que veio a ser consagrada pela expressão do escritor José de Alencar (1829-1877) de Guerra dos Mascates; título inspirado na da publicação do romance publicado em 1873. Tratava-se pois de um movimento com um ideário separatista, defendido por alguns dos seus líderes de sentimentos antimonárquicos, falando-se em transformar Pernambuco em uma república, “ad instar a de Veneza”, ou em um governo autônomo “sob a proteção do Rei de França”. No dizer do conselheiro Antônio Rodrigues da Costa, em pronunciamento perante o Conselho Ultramarino (Lisboa), “uma sublevação formal e abominável, de que não há exemplo na Nação Portuguesa, sempre fiel e obediente aos seus legítimos Príncipes”. Temendo pela sua segurança o governador português Sebastião de Castro Caldas foge para Bahia, deixando no governo da capitania o bispo dom Manuel Álvares da Costa, que vem governar Pernambuco até 10 de outubro de 1711, quando é substituído por Felix José Machado de Mendonça Eça Castro e Vasconcelos. Este, nomeado pela Coroa portuguesa, aqui permanece até 1º de junho de 1715, quando retorna à Lisboa (Loreto Couto). No período do seu governo, Felix Machado, a propósito de um suposto plano para assassinar o governador, mandou prender e enviar ao Reino os principais responsáveis pelo primeiro levante, ao arrepio do perdão régio que lhes fora anteriormente concedido por D. João V, segundo bem esclarece Evaldo Cabral de Mello: “Pela portaria de 16 de fevereiro de 1712, o novo governador ordenou a João Marques Bacalhau que, com o auxílio dos oficiais da justiça e da milícia, procedesse à detenção de quinze indivíduos. A lista compreendia Leonardo Bezerra Cavalcanti; seus filhos Cosme e Manuel Bezerra Cavalcanti; seus irmãos Cosme Bezerra Monteiro, Manuel e Pedro Cavalcanti Bezerra; André Dias de Figueiredo e José Tavares de Holanda; João de Barros Rego; Bernardo Vieira de Melo e seu filho André; Matias Vidal de Negreiros; João de Barros Correia; Matias Coelho Barbosa; e Sebastião de Carvalho Andrade.” Recolhidos à cadeia do Limoeiro, em Lisboa, pouco se sabe do final do processo desses pernambucanos, mas tão somente o que nos informa Rocha Pitta, concluindo pela absolvição dos acusados, “fazendo embarcar só dois para a Índia em degredo perpétuo”. Ocorre, segundo pondera Evaldo Cabral de Mello (Fronda dos Mazombos; 1995), que quando a sentença absolutória vem a ser prolatada, “já havia poucos a perdoar, pois nada menos de oito presos haviam falecido no Limoeiro”. Graças às certidões de óbito fornecidas pelo vigário da paróquia de São Martinho, freguesia da Alfama, na qual localizava a cadeia do Limoeiro, “pode-se reconstituir esta intrigante sucessão de mortes”: Manuel Cavalcanti Bezerra (8.1.1714); Bernardo Vieira de Melo (10.1.1714); André Vieira de Melo (10.4.1715); Cosme Bezerra Monteiro (10.5.1715); João Luís Correia (9.6.1715); Matias Coelho Barbosa (13.4.1716); Manuel Bezerra Cavalcanti (11.9.1717); André Dias de Figueiredo (27.11.1718). Conclui José Antônio Gonsalves de Mello, que, pela interligação de um ideário de liberdade dos pernambucanos que remonta “à vitória sobre os holandeses e se renova não só em 1710, aqui referido, como ainda em 1817, 1824 e 1848. Dentro dessa linha de reivindicações, aqueles que pagaram então com a vida, nas celas do Limoeiro, seu ideal político de participação no governo de sua terra, estão na companhia de outros mártires pernambucanos como o padre João Ribeiro, frei Caneca e Nunes Machado”. Por conta da proclamação das República de 1817, treze presos foram condenados à morte. Quatro foram fuzilados em Salvador e nove foram enforcados no Recife, sendo depois seus corpos esquartejados, com as cabeças e mãos expostas em diferentes locais públicos de Pernambuco e da Paraíba, e os troncos amarrados e arrastados por cavalos até o cemitério. Morreram como consequência direta no envolvimento da revolução em 1817: No Largo do Erário (atual Praça da República), depois denominado de Campo da Honra, em 8 de julho de 1817, os capitães Domingos Teotônio Jorge Martins

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Quando a universidade vai à sala de cinema

O Cinema da Fundação Joaquim Nabuco, em parceria com a UFPE, lança este mês o projeto Lição de Cinema. A ideia é aproximar os espaços de exibição da Fundação aos espaços pedagógicos de ensino da sétima arte. As exibições acontecerão sempre nas primeiras sextas-feiras de cada mês no cinema da Fundação/Museu, em Casa Forte. Estudantes e professores terão entrada franca. O primeiro filme será exibido já nesta sexta (05), às 13h30: Gritos e Sussurros, do cineasta sueco Ingmar Bergman. Para falar sobre o projeto, conversei com o jornalista e professor Rodrigo Carreiro. Ele coordena atualmente o bacharelado em Cinema e Audiovisual da UFPE. Como surgiu a ideia? A ideia surgiu de Ana Farache, coordenadora do Cinema da Fundação. Ela assumiu o cargo há pouco tempo e um de seus objetivos é aproximar os espaços de exibição da Fundação Joaquim Nabuco dos cursos de Cinema de Pernambuco. Como a Fundação e a UFPE são instituições federais, a aproximação foi natural, e o interesse mútuo. O projeto foi delineado a partir de alguns encontros comigo, que ocupo atualmente a Chefia do Departamento de Comunicação Social. Qual a principal finalidade do projeto? A principal finalidade é aproximar os espaços de exibição da Fundação e os espaços pedagógicos de ensino do Cinema. Não há lugar melhor para se aprender a fruir e, em última instância, fazer cinema, do que as salas de exibição. Então pretendemos ajudar a estimular o interesse de estudantes e professores como ferramenta pedagógica, e estimular o desenvolvimento de um gosto estético pelo audiovisual. Qual critério de seleção foi utilizado para a escolha dos filmes que serão exibidos? Tem algum pernambucano na lista? Não existe uma lista pré-definida. Mês a mês, a coordenação do projeto (representantes do Cinema da Fundação e do DCOM) se reunirão para discutir as possibilidades. Os filmes exibidos poderão fazer parte da grade de programação ou partirem de sugestões que permitam enriquecer o cardápio de opções audiovisuais à disposição do público pernambucano. Naturalmente, filmes locais serão discutidos no projeto. Vocês pretendem ampliar o projeto, levando a proposta para outros cinemas do Recife? Num primeiro momento, a ideia é consolidar o projeto e estreitar os laços entre o Cinema da Fundação e os circuitos acadêmico e estudantil de Pernambuco. Se houver possibilidade de ampliar o projeto, faremos isso em uma segunda etapa. Como você avalia a formação em Cinema no Estado? Desde a segunda metade da década passada, surgiram múltiplos cursos de cinema em vários níveis (profissional, acadêmico, pós-graduação, técnico), e acredito que isso tem ajudado tanto a formar um olhar crítico aguçado no público quanto auxiliado na formação de profissionais mais cientes de suas responsabilidades artísticas e sociais. Serviço: Cinema da Fundação/Museu Endereço: Av. Dezessete de Agosto, 2187 - Casa Forte, Recife Telefone: (81) 3073-6272 Site: http://cinemadafundacao.blogspot.com.br/

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Brasil entra na Era dos Drones (Por Ivo Dantas)

Febre em boa parte do mundo, os drones terão seu uso comercial regulamentados em território nacional pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Anteriormente, somente era autorizado o uso para fins recreativos e competições. Divididos em três categorias, os aparelhos que pesem até 25 kg precisarão de um cadastro no site do órgão e somente poderão ser operados por pessoas maiores de 18 anos. Caso o drone tenha a capacidade de ultrapassar os 120 metros de altitude, uma documentação específica precisa ser entregue junto à Anac. Mas o que isso significa? A partir de agora, empresas poderão utilizar os aparelhos para realizar vigilância e entregas. Nos Estados Unidos, a Amazon possui um projeto de entregas de encomendas através do uso dos aparelhos.  Além disso, o crescimento da procura pode ajudar na queda dos preços, estimulando empresas a investirem na tecnologia e até aumentando o interesse para pessoas que utilizam os drones apenas para fins recreativos, como fotografias e filmagens. Afinal, o que é drone? Vamos entender por que esses aparelhos têm ganho tanto espaço. Um drone é um veículo aéreo não tripulado, normalmente comandado através de um controle remoto via rádio. As primeiras notícias que chamaram atenção sobre o uso dos drones estavam nos cadernos internacionais dos jornais. Governos utilizam esses aparelhos para vigilância de fronteiras e ataques aéreos. Hoje, apesar de terem tido seu uso militar cada vez mais recorrente, os drones ganharam destaque como uma forma inovadora de registrar momentos. Fazer um vídeo ou tirar fotos aéreas ficou muito mais fácil, ainda mais com a evolução tecnológica que reduziu o peso e aumentou a confiança nos drones. Provavelmente, você ainda terá uma encomenda recebida pelo ar ou a foto daquela festa tirada do céu. Se prepare para a Era dos Drones.

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Levedura, a mágica da cerveja! (por Rivaldo Neto)

Levedura ou levedo de cerveja são microorganismos utilizados no processo de fermentação. Ambas as palavras vem de um termo latino “Lavare”, que significa “fazer crescer”. As primeiras leveduras descobertas estavam associadas à fermentação de pães e mostos. Esses processos desencadeiam a liberação de gás carbônico das bebidas alcoólicas. Elas tem o papel de transformar açúcar em álcool, tais fungos possuem a capacidade de divisão celular, e assim se auto-reproduzem, leveduras de cerveja tem um apetite voraz por líquidos doces. Algumas cepas de fermento produzem também ésteres que dão um acabamento a bebida. Basicamente existem dois tipos de levedura cervejeira. As de alta fermentação (ALE) e as de baixa fermentação (Lagers). Em cada grupo existem diversas cepas que possuem características particulares. Elas possuem esta nomenclatura pela forma como atuam. O fermento de alta fermentação flocula na parte superior do fermentador, enquanto o de baixa fermentação age mais no fundo. A temperatura de operação de cada fermento também pode ser associada a nomenclatura, ficando os de alta fermentação trabalhando na faixa de 18ºC e 24ºC, já os de baixa fermentação operam na faixa dos 9º aos 13ºC. Claro que estas temperaturas são as consideradas ideais, onde o fermento está habituado e tem seu melhor rendimento. Quando operam fora destas faixas eles podem produzir subprodutos indesejados na cerveja. A grande maioria das cervejas contém entre 4% e 6% de graduação alcoólica. Mas ocasionalmente, quando se produz cervejas mais fortes, com 8% ou 10%, por exemplo, a levedura cai em estado de estupor (imóvel, sem reação), e nesse caso é o fim da fermentação.Se desejar uma cervejas com um grau ainda maior de álcool, alguns mestres cervejeiros usam levedura de espumante para chegar a esse objetivo. Além disso, a levedura é também responsável por aromatizar a bebida, podendo apresentar aspectos florais, frutados ou minerais que caracterizam cada estilo de cerveja. Nas cervejas de trigo, por exemplo, as leveduras produzem aromas mais frutados, que lembram a banana e o cravo. Muitas cervejarias consideram suas leveduras como um verdadeiro segredo de mercado. Desde o final dos anos 1800 foram descobertas 500 tipos diferentes. Essas cepas foram isoladas e cultivadas em bancos. Algumas cervejarias guardam sob seu poder, suas próprias culturas esterilizadas para produção futura. *Rivaldo Neto (rivaldoneto@outlook.com) é designer e apreciador de boas cervejas nas horas vagas

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Cinema Pernambucano: Camilo Cavalcante

Sua filmografia é composta por 14 curtas e um longa-metragem. Além de dirigir e produzir filmes, realizou o projeto “Cinema Volante Luar do Sertão”, levando sessões gratuitas de cinema para municípios do semiárido. Também é de sua autoria a série de TV “Olhar”, exibida pelo canal Brasil. O Cinema Pernambucano é destaque mais uma vez na Coluna Cinema e Conversa. Hoje, falo sobre um dos grandes nomes da sétima arte no Estado: Camilo Cavalcante. Atualmente, Camilo está produzindo o curta “Beco”, documentário sobre pessoas comuns que costumam passar pelo Beco do Inferno, localizado no mercado de Afogados, no Recife. No último dia 7, seguiu para a Bolívia para o início das gravações de seu segundo longa de ficção,“King Kong En Asunción”. O filme narra a história de um velho matador de aluguel que segue viajem para o Paraguai em busca de notícias de sua única filha. Compartilho agora com vocês minha impressão sobre dois curtas-metragens de sua filmografia. A História da Eternidade (2003) Curta - 35mm - 10 min.   Em 2014, Camilo lançou “A História da Eternidade”, seu primeiro longa-metragem. O filme conquistou diversos prêmios nos festivais por onde passou, não apenas no Brasil, mas também no exterior. Participou, inclusive, em 2014, do International Film Festival Rotterdam, Holanda. Mas antes de produzir o longa, o diretor havia realizado em 2003 um curta homônimo, também bastante premiado. A história é toda contada em um plano-sequência que se inicia com o registro de um parto em uma casa humilde do sertão e termina com a mesma cena, assistida na TV por um idoso. É uma história de ciclos, que passa pela vida e a morte. O curta é um misto de sonho e pesadelo. Trouxe a minha mente lampejos de alguns filmes de Fellini, conhecidos por sua poesia e mergulho no mundo dos sonhos.   Prêmios: Melhor Direção - 36o. Festival de Cinema de Brasília Melhor Direção de Arte - CINE PE Melhor Fotografia e Melhor Curta (Júri Popular) - Festival de Cinema de Cuiabá Melhor Direção - Festival de Cinema de Belém Prêmio Banco do Nordeste de Cinema e Prêmio Aquisição do Canal Brasil - Cine Ceará Prêmio da Crítica - Mostra Internacional de Curtas de Belo Horizonte Prêmio da Crítica - Festival de Cinema de Vitória Melhor Ficção - Grande Prêmio TAM do Cinema Brasileiro Rapsódia Para Um Homem Comum (2005) Curta - 35mm - 35 min. A história acontece no período da ditadura, mais especificamente na década de 70. Conhecemos Epaminondas, um funcionário público de classe média baixa, cuja vida é dominada pelo amargor da rotina. Como se tivesse bolas de ferro atadas aos tornozelos, ele se arrasta em direção ao ciclo diário casa-trabalho, trabalho-casa. A caminhada marcada pela presença do tédio e desânimo chega ao fim quando, sentado à sombra de uma árvore, ouve na residência a sua frente o som de uma bela canção. Através da janela, vê uma mulher tocando piano. Desde então, sua agenda diária ganha mais um compromisso: sentar à sombra da árvore e apreciar as belas melodias extraídas do piano por aquela desconhecida. Mas a alegria de Epaminondas dura pouco. Certo dia, presencia a mulher sendo espancada pelo marido. A cena que viu plantará em seu coração uma semente de ódio que o levará a tomar uma dura decisão. Considero este um dos melhores curtas realizados por Camilo. Uma história simples, é verdade, sem muitas surpresas, mas bem amarrada, sem pontas soltas, guiada por uma bela trilha sonora. O elenco é composto por atores da região, como os recifenses Cláudio Jaborandy (Velho Chico, Sete Vidas) e Magdale Alves (Justiça, Amores Roubados), além do já falecido ator, natural de Cortês, Jones Melo, que além de trabalhar em filmes como Amarelo Manga e Baile Perfumado, é também lembrado por sua atuação em comerciais de uma grande rede de farmácias. Prêmios Melhor Curta-metragem (Prêmio da Crítica), Melhor Direção, Melhor Ator e Prêmio Canal Brasil - Festival de Cinema de Brasília Melhor Ficção - Mostra Curta Cinema Melhor Direção de Arte – CINE PE Melhor Ator, Melhor Direção, Melhor Ficção e Melhor Curta-metragem – FAM (Festival Audiovisual Mercosul) Melhor Curta-metragem, Prêmio BNB de Cinema, Melhor Ator, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Trilha Sonora Adaptada – 29º. Guarnicê de Cine e Vídeo Melhor Curta-metragem – Amazonas Film Festival Melhor Ator, Melhor Ficção e Melhor Curta-metragem – Cineamazônia 2006 Melhor Curta do Festival dos Festivais – 10° Festival de Curitiba Melhor Curta-metragem – 9° Mostra Brasil Plural *os curtas podem ser vistos no site da produtora Aurora Cinema. http://auroracinema.com.br/tags/curta *Por Wanderley Andrade é jornalista e crítico de cinema

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Terceirização: muita calma nessa hora! (por Bruno Moury Fernandes)

É momento de dar uma pausa nas croniquinhas metidas a engraçadas que escrevo aqui na coluna para falar de um assunto sério: a terceirização. A imprensa anda a propagar que com o advento da Lei 13.429/17, sancionada pelo presidente Temer, passamos a ter no Brasil a possibilidade da terceirização irrestrita. Não é bem assim! Empresários e empreendedores em geral: devagar com o andor! A norma não diz ser possível a terceirização da atividade-fim. Afirma tão somente que não se configura vínculo empregatício entre trabalhadores da empresa prestadora de serviços e a empresa contratante. Talvez alguém entenda que isto acabe por significar a mesma coisa (tenho cá minhas dúvidas), mas a própria norma traz no seu bojo uma série de requisitos de validade para que a terceirização seja considerada válida e, portanto, se pelo menos um desses requisitos não estiverem cumpridos, evidentemente que a Justiça do Trabalho poderá reconhecer o vínculo sim! Notadamente quando estiverem presentes os elementos caracterizadores da relação empregatícia, tais como subordinação, pessoalidade, onerosidade. Em outras palavras: a regra da impossibilidade de reconhecimento de vínculo cai por terra quando os requisitos para a terceirização, previstos nessa mesma norma, não forem atendidos. Ou tentando ser mais claro: é falsa a afirmativa de que a partir de agora “poderei terceirizar tudo o que bem entender, da forma que eu quiser, pois jamais o trabalhador será considerado meu empregado”. Para que a terceirização seja considerada lícita, de acordo com a norma, devem ser cumpridos os seguintes requisitos: a) os serviços contratados devem ser determinados e específicos; b) a empresa deve ser uma prestadora de serviços determinados e específicos, ou seja, não pode ser a famosa empresa “faz tudo”; c) a empresa prestadora de serviços a terceiros deve ter capital social compatível com o número de empregados; d) deverá existir um contrato de prestação de serviços contendo qualificação das partes, especificação do serviço a ser prestado, prazo para realização do serviço e o valor; e) a empresa prestadora de serviços é quem dirige o trabalho realizado por seus trabalhadores, não podendo a tomadora fazê-lo diretamente. Aliado a tudo isso, há uma inegável carga ideológica por parte de alguns magistrados trabalhistas contrários à terceirização. A Associação Nacional dos Magistrados Trabalhistas posiciona-se veementemente contra a terceirização irrestrita. O ativismo está mais vivo do que nunca e a ideologia de alguns se fará presente nas decisões a serem proferidas em casos concretos. Tenho conversado com doutrinadores e magistrados e pude ver e ouvir: não é bem assim como esse governo quer. Enfim, estou convencido de que quem definirá o quão (ir)restrita será a terceirização, será a Justiça do Trabalho. Assim, tenho opinado, a todos os nossos clientes, quando me perguntam: posso, a partir de agora, adotar a terceirização largamente na minha empresa? Respondo, sem titubear: muita calma nessa hora! Por enquanto, apenas aguarde e observe! *Bruno Moury Fernandes é advogado, cronista e colunista da Revista Algomais

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Empregos: a disrupção digital vai fechar muitos e criar poucos. De que lado você estará?

As grandes mudanças no ambiente de negócios causadas pelo rápido avanço da tecnologia e pela popularização da internet, chamada de disrupção digital, vai impactar não somente as empresas, mas principalmente os empregos como conhecemos hoje. Muitos deles tendem a desaparecer e outros vão surgir. De que lado você estará? Desde a revolução industrial no final do século 19 que as máquinas fecharam muitos postos de trabalho, sobretudo aqueles de repetição. Essa tendência ainda é crescente com o avanço dos softwares embarcados em robôs capazes de realizar tarefas altamente especializadas em fábricas e armazéns. Inclusive, Bill Gates, fundador da Microsoft (vejam só), está propondo cobrar imposto de renda desse tipo de máquina inteligente. Ele defende que, se a inteligência artificial vai roubar um emprego, ela também deveria pagar impostos. Uma questão polêmica, pois o ganho de produtividade obtido pelo uso das máquinas pode não valer a pena quando comparado ao custo da taxação proposta. Tem que esperar para ver. Mas o problema é maior do que parece. O estudo O Futuro do Emprego, do pesquisador Carl Frey, da Universidade de Oxford, realizado em 702 ocupações do mercado americano de trabalho, concluiu que 47% delas corriam alto risco de serem automatizadas nos próximos 20 anos. E o grande impacto dessa vez estará fora das fábricas e vai atingir uma quantidade maior de profissões, em especial aquelas de baixa qualificação e mais ligadas ao setor de serviços. E o que fazer diante desse novo cenário? Um caminho é entender o funcionamento da Gig Economy, uma tendência na qual um profissional pode ter vários trabalhos complementares. Com o uso de aplicativos, será cada vez mais possível prestar vários serviços ao longo do dia, principalmente aqueles que podem ser contratados sob demanda: motorista (Uber), fotógrafo, cuidador de idosos e de crianças, professor particular, fisioterapeuta, esteticista, recreação, guia turístico, personal trainer, serviços de manutenção em geral, entre outros. Em outras palavras, o emprego está em risco, mas “trabalho” parece que não vai faltar. MAIS VALORIZADAS As profissões que ganharão força com a disrupção digital serão aquelas que exigem habilidades sociais e criativas, tomadas de decisão e desenvolvimento de novas ideias, tais como: médicos, psicólogos, analistas de sistema, engenheiros, arquitetos, pesquisadores universitários, entre outras. Por outro lado, a ideia de que as profissões intelectuais estariam mais protegidas também está caindo por terra. A inteligência artificial cada vez mais presente nos softwares já é capaz de redigir peças jurídicas básicas e até mesmo notícias simples, baseados em reações automáticas. Portanto, jornalistas e advogados não estão imunes ao impacto dos algorítimos. MAIS AMEAÇADAS Entre as profissões mais ameaçadas pela disrupção digital estão aquelas que realizam atividades de intermediação e que a tecnologia faz de modo mais barato e eficiente do que a mão-de-obra humana (em alguns casos até muito melhor), tais como: corretor, vendedor externo, secretária, porteiros, árbitros esportivos, fiscais de trânsito, operadores de caixa, operadores de telemarketing, entre outras. Esses empregos serão substituídos em grande parte pelo uso de aplicativos (Zap, Webmotors, OLX, Americanas, Amazon Go, Uber, Internet Banking), assistentes virtuais (SIRI, Cortana), câmeras de vídeo, leitores e sensores (IoT - Internet das Coisas). *Por Bruno Queiroz, presidente da Abradi

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Mandamentos do Pedestre (por Francisco Cunha)

O encarte Os Mandamentos do Pedestre Recifense que está circulando junto com este número da Revista Algomais é a publicação de lançamento do Movimento Olhe Pelo Recife – Cidadania a Pé que conta, nesta atividade pioneira, com o apoio da Prefeitura do Recife. O Olhe Pelo Recife – Cidadania a Pé foi constituído no final do ano passado como um movimento, a partir da experiência bem sucedida das Caminhadas Olhe Pelo Recife do Observatório do Recife que tive a satisfação de guiar, desde 2010, em 14 edições percorrendo mais de 100 km e mobilizando centenas de pessoas. Nessas caminhadas, tivemos a oportunidade de observar, além das peculiaridades históricas, paisagísticas, arquitetônicas que fazem de nossa capital, nas palavras do historiador Leonardo Dantas Silva, “um museu vivo da história de Pernambuco”, as enormes dificuldades impostas aos pedestres, seja por conta das péssimas condições das nossas calçadas, seja devido à falta de respeito por parte dos condutores de veículos, em especial os motorizados. Justamente para se constituir num porta-voz dos pedestres, acompanhando inclusive uma tendência mundial de protagonismo do modo de deslocamento a pé nas cidades, é que o Movimento Olhe Pelo Recife foi formalizado. O propósito do Movimento é: “Chamar a atenção sobre a importância da mobilidade a pé para a qualidade de vida urbana, propor soluções para o seu aperfeiçoamento, mobilizar a opinião pública e realizar parcerias (com o poder público, as empresas privadas e as entidades da sociedade civil) que facilitem a execução de ações capazes de contribuir para a melhoria substancial da caminhabilidade no Recife.” Em reunião de apresentação do Movimento à Prefeitura do Recife, foram combinados os seguintes encaminhamentos: (1) ação redobrada da prefeitura para retirada dos carros das calçadas da cidade (começando pelos corredores de maior fluxo); (2) estabelecimento de um interlocutor do Poder Executivo Municipal para o tema das calçadas; (3) realização conjunta do 1º Congresso das Calçadas do Recife (para a produção da Carta das Calçadas do Recife). A publicação dos Mandamentos do Pedestre Recifense se insere no âmbito deste movimento de cooperação, afinal como diz o anúncio do rádio: “na cidade todos somos pedestres”. Caminhar é preciso! Melhor ainda com pedestres conscientes! Baixe o arquivo completo no link abaixo: 10 Mandamentos do Pedestre Recifense  

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Cinema Pernambucano: Gabriel Mascaro

Ele já recebeu das mãos do diretor americano Francis Ford Coppola (trilogia O Poderoso Chefão) o prêmio de melhor direção. Seus filmes acumularam prêmios em festivais no Brasil e no exterior. Sua filmografia abrange curtas e longas-metragens, passando por documentários e filmes de ficção. Alguns deles suscitaram polêmicas e discussões. Outros, encantaram o grande público com suas belas imagens. Na coluna Cinema e Conversa desta semana, relembro dois importantes filmes do cineasta pernambucano Gabriel Mascaro. Um Lugar ao Sol 2009 ‧ Documentário ‧ 1h 11m Mascaro leva o espectador ao mundo dos moradores de coberturas de três grandes cidades brasileiras: Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Incrível como os discursos se repetem no filme, não importa em qual cidade tenham sido pronunciados. Discurso presente nas imagens que se intercalam entre os depoimentos: as sombras dos edifícios invadindo a praia e furtando os raios de sol dos banhistas. Prédios que, filmados de dentro de um elevador panorâmico, ficam cada vez menores. Espanta a arrogância destilada em cada palavra, a ânsia por estar acima das pessoas, tal qual sua cobertura. “É uma sensação de domínio. Parece que estou dominando o espaço. É muito interessante essa relação. Você vai para um plano mais elevado. É gostoso, pois você sente que está dominando todo o ambiente”, assim declarou uma das pessoas entrevistadas. Outra, considera que, morar numa cobertura, proporciona o privilégio de estar mais perto de Deus. E assim segue o documentário, escancarando uma realidade comum apenas a uma ínfima parcela do povo brasileiro. Boi Neon 2015 ‧ Drama ‧ 1h 41m Ele integrou a lista dos dez melhores filmes de 2016 do The New York Times. Acumulou prêmios por onde passou, entre eles, o Prêmio Especial do Júri Orizzonti no Festival de Veneza, a Menção Honrosa no Toronto International Film Festival, o prêmio especial do júri no Festival de Havana, o prêmio de Melhor Direção no Festival Internacional de Cinema de Marrakech (entregue pelo diretor Francis Ford Coppola, então presidente do juri) e quatro prêmios no Festival do Rio. No filme, o ator Juliano Cazarré interpreta Iremar, um vaqueiro que divide o trabalho braçal nas vaquejadas com o sonho de um dia se tornar estilista. Mascaro usa os currais e as vaquejadas como pano de fundo para tratar da questão de gênero, retratando um ambiente social que um dia fora marcado por papeis bem definidos e que hoje passa por grandes mudanças. Além de Iremar, outros personagens dão voz a esse discurso: a caminhoneira Galega (Maeve Jinkins), que trabalha com o transporte de gado e Júnior (Vinicius de Oliveira), um vaqueiro bem vaidoso que tem o hábito de fazer chapinha nos longos cabelos. Difícil não falar também da cena de sexo protagonizada por Cazarré e Samia de Lavor. A atriz estava grávida na época das gravações, o que gerou certa polêmica, dividindo opiniões por onde o filme passou. A cena é um plano-sequência de aproximadamente 10 minutos. Filmografia Boi Neon (2015) Ventos de Agosto (2014) Doméstica (2012) Avenida Brasília Formosa (2010) Um Lugar ao Sol (2009) KFZ - 1348 (2008) Site oficial: http://pt.gabrielmascaro.com *Por Wanderley Andrade, jornalista e crítico de cinema

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